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BRASIL

O impulso veio da MP 927/2020 que, ao flexibilizar a normatização do


teletrabalho, definiu em seu art. 4º, § 5º, que "o tempo de uso de aplicativos e
programas de comunicação fora da jornada de trabalho normal do empregado
não constitui tempo à disposição, regime de prontidão ou de sobreaviso, exceto
se houver previsão em acordo individual ou coletivo".O direito à desconexão e
à livre utilização do tempo não tem legislação específica vigente, apesar da
existência do Projeto de Lei nº 6038/2016, que pretende acrescentar o art. 72-A
na CLT, determinando que: "É vedado ao empregador exigir ou incentivar que,
fora do período de cumprimento de sua jornada de trabalho, o empregado
permaneça conectado a quaisquer instrumentos telemáticos ou informatizados
para verificar ou responder a solicitações relacionadas ao trabalho". 1

na Constituição Federal, mais precisamente no artigo 7º, do capítulo


que cuida de direitos sociais, nos incisos XIII, XV e XVII, se vê a
preocupação com o direito a se “desconectar”: duração normal do
trabalho, repouso semanal remunerado e férias, respectivamente.
Lazer e trabalho estão na mesma categoria de direitos sociais e
possuem a mesma importância. Na Consolidação das Leis
Trabalhistas, em seu artigo 6º, não distingue trabalho realizado no
estabelecimento do empregador daquele executado no domicílio do
empregado ou mesmo em qualquer outro lugar, quando presente os
pressupostos da relação de emprego.Ainda sem previsão expressa
nesse sentido, conforme já mencionado inicialmente, os Tribunais
pátrios recorrentemente tratam do assunto quando se valem da
súmula 428 do TST, que versa a respeito do sobreaviso e a
importância da tecnologia para a sua caracterização.Todavia, é certa a
dificuldade ante a ausência de uma delimitação exata no
ordenamento brasileiro acerca de como esse ato se configura, uma
vez que são muitas minúcias para configurar ou não horas extras,
como o limite diário da jornada de trabalho e o uso dos meios
eletrônicos como prova. É certo, porém, que um valioso instrumento
nessa batalha está presente nas negociações coletivas, ainda pouco
explorado e também comprometido com as últimas alterações
trazidas pela lei 13.467/2017.2
1
https://analise.com/covid-19/opiniao-o-direito-a-desconexao-nos-tempos-em-que-a-pandemia-fundiu-
lares-e-ambiente-de-trabalho
2
https://www.megajuridico.com/direto-a-desconexao-e-a-importancia-dos-limites-da-jornada-de-
trabalho-com-uma-visao-pos-reforma-trabalhista/
URISPRUDÊNCIAS

Apesar da ausência de positivação do direito à desconexão o tema já


é pauta de debate nos tribunais brasileiros que analisam a complexa
discussão da jornada de trabalho e os direitos fundamentais sociais,
nota clara da importância do assunto e da preocupação em
acompanhar as tendências mundiais. No processo AIRR-2058-
43.2012.5.02.0464 do TRT 2ª região, em que a 7ª Turma do TST, por
unanimidade, desproveu o agravo e um analista de suporte da
empresa reclamada obteve o direito de ser indenizado por ofensa ao
“direito à desconexão”. O relator do agravo, ministro Claudio
Brandão, afirmou que a evolução tecnológica incuti diretamente nas
relações de trabalho, no entanto, é imprescindível que o trabalhador
se desconecte a fim de preservar sua integridade física e mental,
destacando que “o avanço tecnológico e o aprimoramento das
ferramentas de comunicação devem servir para a melhoria das
relações de trabalho e otimização das atividades, jamais para
escravizar o trabalhador”. Acrescentou que, trabalhos à distância,
onde há permanente conexão por meio do uso da comunicação
instantânea, podem configurar uma precarização dos direitos
trabalhistas, uma vez que o excesso de jornada é apontado em
estudos como uma das razões de doenças ocupacionais relacionadas
à depressão e ao transtorno de ansiedade. Nesse contexto, a conexão
excessiva concorre para a privação de uma vida saudável e prazerosa
pelo empregado. Em outro processo o Tribunal Superior do Trabalho
confirmou decisão do Tribunal da 15ª Região, nos seguintes termos:
“A concessão de telefone celular ao trabalhador não lhe retira o
direito ao percebimento das horas de sobreaviso, pois a possibilidade
de ser chamado em caso de urgência por certo limita a sua liberdade
de locomoção e lhe retira o direito à desconexão do trabalho.”
(processo 64600-20.2008.5.15.0127). No Tribunal Regional do
Trabalho da 4ª Região, por exemplo, são mais frequentes as menções
ao direito à desconexão quando o intervalo intrajornada é suprimido
ou substituído por horas extras. Em decisão exarada em sede de
Recurso Ordinário, o relator entendeu que a substituição do intervalo
supramencionado pelo respectivo pagamento, além de ferir normas
que dizem respeito à higiene e segurança do trabalhador, viola o
direito à desconexão, na medida em que o obreiro permanece à
disposição do empregador no período destinado ao repouso e
alimentação. Já no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, as
decisões mais frequentes relacionam o direito à desconexão com as
horas de sobreaviso. Nesse sentido, o entendimento do Tribunal é de
que a desconexão do trabalho, se impedida pelo empregador, obsta
que o obreiro aproveite seu tempo livre da forma que bem entender,
alheio aos encargos do seu trabalho, e preservado a sua vida íntima,
separada da sua vida profissional. Não obstante os Tribunais
Regionais relacionarem o direito à desconexão com institutos
próximos e já normatizados, muito há que se fazer, não somente para
garantir o acesso a tão importante direito, mas, sobretudo, viabilizar a
desconexão do empregado ao trabalho nos períodos destinados ao
seu repouso e lazer.

O Tribunal Superior do Trabalho (TST), através de sua 7ª Turma, no julgamento do


Agravo de Instrumento no Recurso de Revista, AIRR nº 2058-43.2012.5.02.0464, por
unanimidade, desproveu o agravo interposto, e reconheceu o direito de um analista de
suporte da empresa reclamada de obter indenizaçã o por ofensa ao “direito à
desconexã o”. No caso em tela, o relator, Ministro Claudio Brandã o, afirmou que o
avanço tecnoló gico e o aprimoramento das ferramentas de comunicaçã o devem servir
para a melhoria das relaçõ es de trabalho e para a otimizaçã o das atividades
desempenhadas, jamais para escravizar o trabalhador.
Acompanhe trecho da ementa do julgado:
RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR. DANOS MORAIS CAUSADOS AO
EMPREGADO. CARACTERIZAÇÃO. DIREITO À DESCONEXÃO. HORAS DE SOBREAVISO.
PLANTÕES HABITUAIS LONGOS E DESGASTANTES. DIREITO AO LAZER ASSEGURADO NA
CONSTITUIÇÃO E EM NORMAS INTERNACIONAIS. COMPROMETIMENTO DIANTE DA
AUSÊNCIA DE DESCONEXÃO DO TRABALHO. [...] A precarização de direitos trabalhistas em
relação aos trabalhos à distância, pela exclusão do tempo à disposição, em situações
corriqueiras relacionadas à permanente conexão por meio do uso da comunicação
telemática após o expediente, ou mesmo regimes de plantão, como é o caso do regime de
sobreaviso, é uma triste realidade que se avilta na prática judiciária. A exigência para que o
empregado esteja conectado por meio de smartphone, notebook ou BIP, após a jornada de
trabalho ordinária, é o que caracteriza ofensa ao direito à desconexão (grifos no original)
(TST. 7ª Turma. Relator: Ministro Cláudio Brandão, AIRR nº 2058-43.2012.5.02.0464.
Publicação: 27/10/2017).

Os teletrabalhadores necessitam de proteção e, sobre a temática, o


Desembargador do TRT/15 e Professor, Dr. Jorge Luiz Souto Maior, publicou
artigo sobre o direito à desconexão, suscitando que este não seria somente um
direito individual do trabalhador, mas da sociedade e também da família.

O direito a desconexão também já foi objeto de estudo na OIT (Organização


Internacional do Trabalho) que publicou relatório destacando as vantagens do
teletrabalho, como, por exemplo, a maior autonomia no tempo de trabalho,
além da redução no tempo de deslocamento; e, em sentido contrário, também
fez uma análise acerca das desvantagens, a exemplo da tendência de o
empregado trabalhar por longas horas, o que pode elevar os níveis de
estresse.

Ainda sobre o tema, há o projeto de lei 4.044, de 2020, em tramitação no


Senado Federal, citando novas teorias jurídicas sobre a regulamentação do
teletrabalho e decisões judiciais a favor da imposição de limites a fim de
preservar a vida privada e a saúde do trabalhador.

O referido projeto de lei tem como objetivo alterar o § 2º do art. 244 da CLT,
para acrescentar o § 7º ao art. 59 e os arts. 65-A, 72-A e 133-A ao decreto-lei
5.452, de 1º de maio de 1943, de modo a dispor sobre o direito à desconexão
do trabalho, disciplinando o teletrabalho quanto às regras da jornada de
trabalho, períodos de descanso e férias.

Segundo o texto do PL 4.044/2020, o empregador não poderá solicitar


normalmente a atenção de um empregado em regime de teletrabalho, por
telefone ou por qualquer ferramenta de comunicação eletrônica, fora do horário
de expediente.

Além disso, o empregado em gozo de férias deverá ser excluído dos grupos de
mensagens do trabalho e removerá de seus dispositivos eletrônicos privados
quaisquer aplicativos de internet (sem excluir outras ferramentas tecnológicas
que vierem a ser criadas) voltados exclusivamente para uso no trabalho.

Desta forma, concluímos que a legislação trabalhista não protege de forma


eficiente essa nova realidade vivenciada sobretudo em tempos de pandemia,
havendo a necessidade de regulamentação acerca do tema.

Em arremate, o uso de novas tecnologias de informação e comunicação no


âmbito do ambiente de trabalho vem sendo pauta de debate nos Tribunais. Ao
analisar a complexa discussão da jornada de trabalho e os direitos
fundamentais, verifica-se que existe a preocupação em acompanhar as
tendências do mundo atual e na forma como o Direito do Trabalho deve tratar a
rotina dos trabalhadores, em particular num mundo cada vez mais conectado,
garantindo-se o direito à desconexão do trabalho para que seja garantida
qualidade de vida ao trabalhador.

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Apesar de o direito à desconexão não possuir previsão legal específica na legislação


brasileira, ele possui amparo nos artigos 6º e 7º da CF. E é por meio da análise destes
que se percebe que o trabalhador possui direitos em múltiplas dimensões (individual,
familiar, social, comunitária) e o direito à desconexão garante todos os outros!
➡️Mas como garantir ao empregado o direito à desconexão?
✅ respeite os intervalos intra e interjornada
✅ garanta o gozo das férias, descansos remunerados e folgas
✅ fique atento às horas extras habituais e em excesso
✅ respeite os limites da jornada de trabalho
✅ não incomode o empregado fora do horário de trabalho
➡️E como o empregado pode ter certeza de que está usufruindo corretamente de seu
direito?
Nos períodos de descanso, o empregado não deve estar sobre qualquer poder de
comando, deve dispor de seu próprio tempo e não deve receber ou atender qualquer
demanda.
As consequências negativas da violação do direito à desconexão existem tanto para
empregado quanto para empresa. Tendo em vista que o empregado fica sujeito a
desenvolver distúrbios psiquicos e a empresa corre o risco de enfrentar ações
trabalhistas pleiteando danos extrapatrimoniais, morais ou danos existenciais.

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