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EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ(A) DA VARA DO TRABALHO DE CURITIBA / PR

Processo n. 0002244-30.2022.5.09.0002.

EXPERT TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO LTDA., inscrita no CNPJ sob n. xxxxxxxxx,


estabelecida na rua das Araucárias , nº. 30, 7º andar, bairro Batel , Curitiba/PR,, CEP xxxxx,
por meio de seu advogado regularmente constituído, cujos dados constam na procuração
anexa, nos autos da Reclamação Trabalhista ajuizada por TERESA SILVA, já qualificada na
inicial, vem apresentar CONTESTAÇÃO pelos seguintes fatos e fundamentos jurídicos.

DOS FATOS

Ajuizou a reclamante a presente reclamatória, alegando, em síntese, ter sido admitido para
prestar serviços na função de programadora de software, na empresa Expert Tecnologia da
Informação Ltda., localizada na cidade de Curitiba/PR.

Que, cumpria jornada das 8:oo min às 19:00 min, com intervalo de 1 hora para refeição e
descanso, de segunda a sexta-feira. Entretanto, não recebeu o correspondente à ausência da
concessão do intervalo previsto no artigo 71 da CLT. Ainda mais, que, laborando em dias de
feriados, recebeu-os de forma simples.

Alega ainda, que foi contratada em 04/10/2021 e foi dispensada em 29/08/2022, mediante
aviso prévio indenizado, tendo recebido todas as verbas rescisórias a que fazia jus, no prazo
legal.

Durante todo o pacto laboral, Teresa optou por realizar suas atividades de maneira remota,
isto é, ela trabalhava todo o tempo em sua casa. Esse foi um pedido da trabalhadora no
momento da sua contratação, pois isso lhe permitiria administrar a rotina dos seus filhos.
Diariamente, Teresa conectava seu notebook na rede de informática da empregadora a fim
de que pudesse ter acesso à plataforma e aos arquivos necessários para sua prestação de
serviços. Para tanto, ela inseria seu login e senha no sistema da empresa e ao fim do
expediente fazia o logout (desconexão).

Sua rotina de trabalho começava, pontualmente, às 08h00min, pois tinha reunião diária com
sua equipe todas as manhãs, no mencionado horário. Teresa fazia uma pausa de 1 hora para
almoçar com os filhos e prepará-los para irem à escola, depois voltava para a frente do
computador, de onde saía somente por volta de 19h00min. Essa era sua rotina de segunda a
sexta-feira.

Durante todo o pacto laboral, Teresa recebeu salário base de R$ 7.000,00 (sete mil reais), não
auferindo qualquer valor a título de horas extras, de outro adicional, de ajuda de custo ou
reembolso.

Tendo em vista que o seu trabalho era relativo à tecnologia da informação, exigindo
computador de última geração, optou por usar o notebook que já era de sua propriedade,
recusando o que foi colocado à disposição pela empresa.

Na contratação, Teresa adaptou um cômodo de sua residência para a prestação de serviços,


tendo adquirido cadeira e mesa no valor total de R$ 3.000,00 (três mil reais). Além disso, ela
usava a internet de banda larga, por ela contratada, no valor mensal de R$ 150,00 (cento e
cinquenta reais), assim como assumia os gastos com energia elétrica decorrente do uso do
seu notebook. Antes de ser contratada pela Expert Tecnologia da Informação Ltda., a internet
de Teresa podia ser menos veloz, o que representava uma economia de R$ 50,00 (cinquenta
reais). No que diz respeito à conta de luz, houve incremento de cerca de R$ 15,00 (quinze
reais) por mês.

A autora muito incomodada com o excesso de trabalho, sem o pagamento de qualquer hora
extra. Ela também acredita que não é justo ter que arcar com os gastos decorrentes de
teletrabalho.
A autora tem um Termo de Rescisão do Contrato de Trabalho (TRCT), em que constam os
seguintes dados:

• Empregadora: Expert Tecnologia da Informação Ltda., inscrita no CNPJ sob o n°


00.000.111/0001-11, estabelecida na rua das Araucárias, n° 30, 7º andar, bairro Batel,
Curitiba/PR, CEP 13484-000.

• Empregada: Teresa Silva, brasileira, divorciada, inscrita no CPF sob o n° 555.222.666-34,


residente e domiciliada na rua Lages, n° 30, apt. 301, bairro Cabral, Curitiba/PR, CEP 13484-
000.

Ela também lhe entrega uma cópia do contrato de trabalho, no qual consta que ela foi
contratada para o labor em regime de teletrabalho por unidade de tempo, isto é, para laborar
por 44 (quarenta e quatro) horas semanais, de maneira remota, mediante pagamento do
salário ajustado.

Por fim, autora tem a nota fiscal referente à aquisição da cadeira e da mesa, assim como as
contas de consumo de energia elétrica e de internet, tanto do período anterior ao contrato de
trabalho quanto dos meses em que perdurou o pacto laboral.

A autora deseja resolver logo essa pendência e pensa até na possibilidade de firmar acordo
judicial, caso seja feita alguma proposta pela empresa.

REGIME DE TRABALHO

O teletrabalho, também conhecido como trabalho remoto ou trabalho à distância, é


uma modalidade onde a jornada de trabalho é exercida preponderantemente fora do
ambiente empresarial, isto é, da sede do empregador. Ele foi regulamentado pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) após a Reforma Trabalhista (lei nº
13.467/17).

Trata-se de uma modalidade de trabalho que tem crescido em diferentes setores da


economia brasileira, com ênfase no crescimento em 2020, principalmente por conta
da pandemia do novo coronavírus (Covid-19)
Num modelo de teletrabalho, o trabalhador realiza as funções que estão atreladas à
sua função dentro da empresa em um ambiente externo ao da empresa, podendo ser
em casa, na rua, em um espaço colaborativo, entre outras opções.

O que comprova que nem sempre Teresa estava prestando teletrabalho,

JORNADA DE TRABALHO

Teresa está postulando o recebimento de horas extras ao fundamento de que trabalhava de


segunda à sexta-feira, das 08h00min às 19h00min, com intervalo intrajornada de 1h00min.

O sócio da reclamada confirmou que, de fato, ela fazia login no sistema da empresa no início
de suas atividades e fazia logout ao término da prestação de serviços diária. A jornada que ela
declina na petição inicial também é a que a empresa acredita que ela realizava.

O cerne do debate, portanto, é acerca do teletrabalhador ter direito ou não às horas extras.
Assim, devem ser analisadas as disposições contidas no art. 62 da CLT.

A Lei nº 13.467/17 introduziu o seu inciso III, cuja redação somente foi modificada por meio
da Medida Provisória Medida Provisória nº 1.108, de 25 de março de 2022, posteriormente
convertida na Lei nº 14.442/22. A redação original era genérica e era a vigente no momento
da assinatura do contrato de trabalho.

A jurisprudência atua como norteadora nesse processo, sobretudo em casos como esse.

Apesar de escassa quanto ao tema proposto, sugere-se a leitura do acórdão a seguir, da lavra
do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região:

DESPESAS COM TELETRABALHO. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços


preponderantemente fora da dependência da empresa ré, coma utilização de
tecnologias de informação e de comunicação. Em regra, nos termos do art. 2º da
CLT, os riscos da atividade econômica devem ser suportados pelo empregador, uma
vez que é de responsabilidade exclusiva da empresa os prejuízos do
empreendimento, consoante preceitua o princípio da alteridade. Todavia, há
permissivo no art. 75 D Da CLT para que as partes percutem livremente, em contrato
individual escrito, a responsabilidade pelas despesas com aquisição, manutenção pi
fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e
adequada á prestação de trabalho remeto.

Cabendo ressaltar que na petição inicial a parte autora dizia ter 1 hora de almoço da qual
conseguia cuidar dos seus filhos e deixá-los na escola, o que não condiz com a sua jornada.
GASTOS COM INSTRUMENTOS DE TRABALHO

A reclamada não nega que os custos com o mobiliário e com uso de internet e energia tenham
ficado a cargo da trabalhadora.

Em conjugação, é fundamental a assunção da responsabilidade sobre tais custos.


Mais uma vez, a jurisprudência é muito importante para balizar os argumentos que podem ser
utilizados na peça processual a ser desenvolvida. A leitura do julgado a seguir, proferido pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, é de grande valia:

DESPESAS COM TELETRABALHO. Considera-se teletrabalho a prestação de serviços


preponderantemente fora da dependência da empresa ré, coma utilização de
tecnologias de informação e de comunicação. Em regra, nos termos do art. 2º da
CLT, os riscos da atividade econômica devem ser suportados pelo empregador, uma
vez que é de responsabilidade exclusiva da empresa os prejuízos do
empreendimento, consoante preceitua o princípio da alteridade. Todavia, há
permissivo no art. 75 D Da CLT para que as partes percutem livremente, em contrato
individual escrito, a responsabilidade pelas despesas com aquisição, manutenção pi
fornecimento dos equipamentos tecnológicos e da infraestrutura necessária e
adequada á prestação de trabalho remeto.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Tratando-se de litígio decorrente da relação de emprego, nos termos da Instrução Normativa


n.º 27/2005 do TST, nesta Justiça Especializada, os honorários advocatícios são disciplinados
na Lei n. ª 5.584/70.
Não preenchidos os requisitos do art. 14 da referida lei, uma vez que não consta dos autos
credenciais sindical, não faz jus o Reclamante ao pagamento de honorários advocatícios.
Aplicação ao caso do entendimento consubstanciado nas Súmulas n.º 219 e 329 do TST.
Assim, requer seja indeferida a condenação de honorários advocatícios.

DA COMPENSAÇÃO

A reclamada requer a possibilidade de compensar os valores pagos para a reclamante,


conforme previsão legal, caso for deferido algum pedido.
Requer, inclusive, a compensação de xxxxxxxxxxxxxx, caso ocorra a procedência de algum
pedido, o que se admite apenas para argumentar.
HORAS IN ITINERE

Repita-se, o reclamante não faz jus às horas extras, nem muito menos às famigeradas “in
itinere”, no que o pedido vestibular é até mesmo inepto e malicioso.

No caso específico dos autos, afirma-se que a casa – reclamada situa-se em local de fácil
acesso é servida de linhas de ônibus, podendo a parte autora chegar ao local de trabalho até
mesmo a pé.

Não se encontra, portanto, de lugar desprovido de condução, não se trata de lugar de difícil
acesso, demandando menos de 15 minutos para cada percurso, não se aplicando, em
consequência, o disposto na Súmula nº 90 do E. TST.

De outra banda, para argumentar apenas, a mudança de interpretação da referida Súmula é


patente e se faz necessária e imperiosa, consoante já expressamente reconhecido e decidido
pela MM. Vara xxxx em outros processos, inclusive feitos de colheita de café em cidades
circunvizinhas.

“-Não se cogita de horas “in itinere” quando o fornecimento da condução pelo


empregador constitui condição mais benéfica aos empregados para a prestação dos
serviços, não se configurando a hipótese de intermediação de mão-de-obra”. (Ac. da
2ª T. do TRT da 12ªR. – mv no mérito – RO 0712/92 – Rel. Juiz Etelvino Baron – j.
12.04.93 – DJ SC – 14.05.93, p. 35 – in “Repertório IOB de Jurisp.”, 2ª quinzena de
junho/93 – nº 12, pág. 208, nº 2/7611).

Somente em casos excepcionais e excepcionalíssimos, hoje, serão deferidas horas “in


itinere”, sob pena de desestímulo a que os empregadores beneficiem os empregados, tudo
na senda da mais nova e mais justa orientação jurisprudencial sobre o tema e que se erigiu,
inclusive e felizmente, nos novos Enunciados específicos do C. TST sobre o assunto e com a
modificação do Enunciado nº 90.

Portanto, não se reconhece o período de trabalho lançado e pretendido na exordial, bem


como haja horas extras e horas “in itinere” devidas, porquanto a Reclamante laborou em
todo período de vínculo, nas jornadas acima declinadas.

Também não faz jus o reclamante ao reconhecimento da rescisão indireta, uma vez que o
reclamado nenhum ato lesivo à continuidade do contrato de trabalho praticou. Muito pelo
contrário pois que, se algum ato prejudicial existir, esse haverá, certamente, que ser
carreado à conta do reclamante, e não do reclamado.

Nessa sequência, também resta indevido o pleito do reclamante quanto ao recebimento de


reflexos sobre aviso prévio, eis que não foi dispensado de suas funções e não faz jus à
rescisão indireta de seu contrato de trabalho.
Finalmente, pelo princípio da eventualidade e especificidade, contesta-se todo o pedido
meritório, especialmente o deferimento da tutela antecipada, para que seja determinado a
reclamada que deposite em Juízo a quantia de R$ …… (salários do período de afastamento não
deferido, 13º salário, férias + 1/3 e FGTS), além da condenação ao pagamento dos demais
valores, sob a forma de verbas indevidas: a condenação da reclamada nos seguintes
pagamentos: INSS referente aos períodos laborados; salários e 13º salário, férias + 1/3 e FGTS,
enquanto perdurar a impossibilidade laboral, a ser apurado em liquidação de sentença; horas
extras acrescidas de 50% e reflexos de referidas horas no aviso prévio, 13º salário, férias + 1/3,
nos DSR´s, no recolhimento do FGTS + 40% e no recolhimento do INSS, referentes ao todos os
contratos, num total de R$ ……; alternativamente, pretende a condenação no pagamento do
adicional de horas extras e seus reflexos sobre as mesmas verbas, no valor de R$ ……; horas in
itinere e reflexos no aviso prévio, 13º salário, férias + 1/3, nos DSR´s, no recolhimento do FGTS
+ 40% e no recolhimento do INSS, referente a todos os contratos, no valor de R$ ……; ……h
diária, pelo descumprimento do artigo 71 da CLT, no valor de R$ ……; indenização por danos
morais equivalente a 300 (trezentas) vezes o salário base; aplicação do artigo 467 da CLT.,
além da expedição de ofício ao INSS, requerendo, sob as penas do artigo 359, I e II do CPC., a
apresentação em Juízo das cópias dos holerites de pagamento, cartões ou livro de ponto,
recibos de férias, 13° salário, recibos de entrega de EPI, cópia do TRCT, da guia do Seguro
Desemprego e demais documentos especificados.

Por fim, inaplicável na espécie sub judice o quanto disposto no artigo 467, parte final, da
Consolidação das Leis do Trabalho. Mesmo que, a final, sejam apuradas verbas devidas ao
reclamante, o que não admite a reclamada, mas que aduz a título de cautela processual,
inexistem verbas devidas ao reclamante, sendo que aquelas pleiteadas restaram devida
oportunamente impugnadas, posto que contraditórias.

Ainda por cautela processual, deixa a reclamada impugnados os cálculos e valores constantes
da peça inaugural, por retratarem fatos totalmente em desacordo com a realidade havida, e
que serão fartamente demonstrados no curso da presente.

Ponto finalizando, cumpre ressaltar que o reclamante é, diante dos fatos que serão
fartamente comprovados, um litigante de má-fé posto que se atreve a buscar amparo judicial
utilizando-se de fatos totalmente inverídicos e claramente inverossímeis, literalmente
alterando a verdade dos fatos em benefício próprio e com vistas ao locupletamento ilícito.

Portanto, resta evidente o intuito de malícia, erro proposital e má-fé, porque a parte não pode
jamais ignorar o direito que exige. Por isso age de má-fé. E não foi por menos que o Código de
Processo Civil tem previsão, em seu artigo 16 e seguintes: ” responde por perdas e danos
aquele que pleitear de má fé como autor, réu ou interveniente”.
Ainda, conforme preceitua o artigo 17, inciso 1º, do mesmo Estatuto Processual, aplicado
subsidiariamente pelos artigos 8º e 869, da Consolidação das Leis do Trabalho: “reputa-se
litigante de má-fé quem deduzir pretensão. cuja falta de fundamento não possa
razoavelmente desconhecer”.

Por isso, restando cabalmente demonstrada a pretensão do reclamante em alterar de forma


substancial a verdade dos fatos, mister que seja declarado litigante de má-fé, conforme o
disposto no artigo 17, do Código de Processo Civil, e, invocando a aplicação do artigo 18,
também do mesmo Diploma legal, de aplicação subsidiária nesta Justiça Especializada, requer
que seja condenado no pagamento de multa indenizatória, cujo valor seja suficiente à
cobertura dos honorários advocatícios que despendeu para a defesa, além de todas as
despesas que efetuar, a ser fixada por Vossa Excelência, de acordo com a legislação em vigor,
alcançando-se esses valores quando da liquidação por arbitramento na execução sentencial.

Isto posto, requer o acolhimento da presente peça defensiva, para o fim de ser julgada
totalmente improcedente, tudo de acordo com as assertivas da presente peça de defesa, e,
ante o princípio consagrado da sucumbência, que seja o reclamante condenado no pagamento
das custas e despesas processuais e honorários advocatícios.

Protesta e requer lhe seja permitido provar o alegado por todos os meios de provas em direito
admitidos, mesmo que não expressamente previstos na legislação em vigor, desde que não
contrários à moral e aos bons costumes, e, em especial, pelo depoimento pessoal do
reclamante, sob pena de confesso, juntada de novos documentos, oitiva de testemunhas,
perícias, vistorias e tudo mais que se fizer necessário.
Nestes termos, esperando pelo acolhimento e juntada da presente peça defensiva com os
documentos que a acompanha,

Respeitosamente,

Nesses Termos,

Pede Deferimento.

[Local], [dia] de [mês] de [ano].

[Assinatura do Advogado]
[Número de Inscrição na OAB]

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