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Unidade 2

Introdução
Até agora, já desenvolvemos uma série de habilidades frutos do conhecimento do
constitucionalismo, da Constituição e de todo o arcabouço de conhecimento adquirido até aqui.
Nesta unidade, falaremos sobre os direitos e as garantias fundamentais, suas diferenças
doutrinárias e históricas, além de outros temas muito importantes para a sua formação.

Os direitos humanos e os direitos fundamentais, como veremos, possuem algumas características


que os diferenciam, no entanto são braços que caminham juntos para um mesmo fim: a proteção do
homem, aqui entendido como membro da humanidade, ou seja, homens, mulheres, crianças, sem
distinção de raça, cor ou qualquer outra.

Estudaremos a teoria dos direitos fundamentais, a importância da distinção de direitos humanos e


direitos fundamentais, a sua evolução histórica, as constituições que primeiro positivaram os
direitos fundamentais. Também veremos os limites dos direitos fundamentais e os motivos para
tratarmos os direitos fundamentais em nível internacional. Estudaremos, do mesmo modo, a
classificação dos direitos fundamentais, gerações/dimensões e, por fim, um tema bem atual: os
animais como sujeitos de direitos humanos. Vamos lá?
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05:18

Direitos e Garantias Fundamentais


O que são os direitos fundamentais? Tomemos emprestado o belo conceito de Uadi Lammêgo
Bulos:

Direitos fundamentais são o conjunto de normas, princípios, prerrogativas, deveres e


institutos, inerentes à soberania popular, que garantem a convivência pacífica, digna, livre e
igualitária, independentemente de credo, raça, origem, cor, condição econômica ou status
social (BULOS, 2019, p. 526).

Segundo Barcellos:

A expressão direitos fundamentais designa o conjunto de direitos que a ordem jurídica,


tendo em seu topo a Constituição, reconhece e/ou consagra. O uso dos dois verbos –
reconhecer/consagrar – é proposital, já que, embora não se vá entrar aqui nesse debate, é
possível visualizar os direitos, ou alguns deles pelo menos, como preexistentes à ordem
jurídica, sendo por ela apenas reconhecidos. Para outras concepções, os direitos não seriam
preexistentes, mas a ordem jurídica de cada país é que os consagraria a partir de
determinado momento histórico. Seja como for, a eventual invocação da preexistência de um
direito é, em geral, um importante argumento filosófico e/ou político que visa obter seu
reconhecimento jurídico, de modo que as duas posições não são estanques (2018, p. 534).
Assim como os direitos humanos, os direitos fundamentais têm o condão de defender uma
preocupação antiga: a dignidade da pessoa humana, aqui, em relação ao Estado. De certo que, para
entendermos bem o conceito dos direitos fundamentais, precisaremos mergulhar em outras
construções constitucionais. Comecemos, então, pela teoria dos direitos fundamentais.
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Teoria dos Direitos Fundamentais
O que são os chamados direitos fundamentais? São as posições jurídicas necessárias para a A-
satisfação e concretização do valor dignidade. Há, contudo, uma diversidade terminológica do tema
na doutrina, que utiliza vários termos para tratar do tema, conforme Bulos (2017, p. 527): “[...]
direitos humanos fundamentais, direitos humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos
públicos subjetivos, direitos naturais, liberdades fundamentais, liberdades públicas etc.”.

Algumas dessas expressões têm significados específicos (por exemplo, direitos políticos), mas a
maioria delas pode ser utilizada como sinônimo.

Segundo Barcellos:

Existe uma certa distinção terminológica entre a expressão direitos fundamentais – em


geral, utilizada no Brasil para descrever o conjunto de direitos reconhecidos pela ordem
jurídica de um país – e os direitos reconhecidos pela ordem internacional, categoria que é
comumente identificada como “direitos humanos”. A Constituição de 1988 utiliza a
expressão “direitos fundamentais da pessoa humana” apenas uma vez (art. 17) e “direitos e
garantias fundamentais” uma outra (art. 5º, § 1º), ocupando-se mais das espécies de direitos
que integram o gênero dos direitos fundamentais e dos quais ela cuida de forma específica, a
saber: direitos individuais, trabalhistas, políticos e sociais, além de direitos coletivos e
difusos. A expressão direitos humanos é utilizada algumas vezes no texto constitucional, em
geral no contexto das relações internacionais do País (art. 4º, II) e de tratados internacionais
de direitos humanos (art. 5º, § 3º; art. 109, § 5º) (2018, p. 534).

Iniciada a discussão acerca da terminologia, faremos um breve paralelo entre os nomes utilizados
para discutir a proteção dos direitos do homem.

Direitos Fundamentais X Direitos Humanos X Liberdades Públicas X Direito Público Subjetivo


(Classificação Baseada em Ingo Wolfgang Sarlet)
Direitos fundamentais são os direitos humanos positivados em uma determinada ordem jurídica.
Os direitos humanos não dependem de previsão normativa. Liberdades públicas são o conjunto de
direitos fundamentais ligado à noção de direito de defesa. A primeira dimensão dos direitos
fundamentais limitava-se à noção de liberdades públicas (por exemplo, liberdade de expressão,
liberdade de religião). A expressão direito público subjetivo surgiu na Teoria Geral de Direito sob a
influência de uma concepção positivista na qual os direitos públicos subjetivos representam uma
autolimitação do Estado. Esse, o Estado, embora soberano, quando cria direitos objetivos faz com
que os cidadãos sejam investidos de direitos públicos subjetivos. Daniel Sarmento discorda desse
posicionamento e afirma que esses direitos antecedem ao surgimento do Estado (SILVA, 2005).
SAIBA MAIS
Conceito de Direitos e Garantias A+

Na Edição 1, abril de 2017, no Tomo de Direito Administrativo e Constitucional da Enciclopédia


A-
Jurídica da PUCSP, Ingo Wolfgsang Sarlet se debruça sobre o conceito de direitos e garantias
fundamentais e na sua diversidade terminológica.

Para saber mais, indicamos a leitura do artigo a seguir.

https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/67/edicao-1/conceito-de-direitos-e-garantias-
fundamentais

Distinção entre Direitos Humanos e Fundamentais


Direitos humanos e direitos fundamentais são expressões técnicas utilizadas para expressar
realidades distintas. Direitos humanos podem ser entendidos como o conjunto de direitos
reconhecidos no plano internacional, como as declarações, os tratados, os convênios etc.

Por sua vez, direitos fundamentais são o conjunto de direitos positivados em um ordenamento
jurídico. São os direitos humanos positivados no plano interno de cada Estado, especialmente no
texto constitucional.

A tendência é entender que o direito internacional tem influência direta no sistema interno, e,
nesse sentido, a distinção acima apontada perderia relevância. Há uma necessidade de se entender
o direito internacional dos direitos humanos como direito positivo dentro do ordenamento
brasileiro (por exemplo, reconhecimento do caráter supralegal das convenções internacionais
sobre direitos humanos, ainda que não internalizados).

Os direitos fundamentais não se limitam àqueles previstos no texto constitucional. A constituição


não esgota o rol dos direitos considerados como fundamentais. Ela traz um núcleo fundamental
não exaustivo.

Direitos Fundamentais do Homem


Direitos fundamentais do homem é a expressão usada por José Afonso da Silva (2005, p. 248) para
se referir aos direitos fundamentais. “São as prerrogativas e instituições que o direito positivo
concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas, como vimos,
proporcionada pelo Constitucionalismo e a Constituição”. A análise do conceito trazido por Silva
(2005) é importante porque identifica os principais elementos da teoria dos direitos fundamentais:

PRINCIPAIS ELEMENTOS DA
TEORIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS
POSITIVAÇÃO

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CONCRETIZAÇÃO
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GARANTIAS

DIGNIDADE

LIBERDADE

IGUALDADE

CONVIVÊNCIA

A Convivência, a Revolução Francesa e os Direitos Fundamentais


No lema da Revolução Francesa (“Liberdade, igualdade e fraternidade”), é possível refletir a
questão da convivência. Há três elementos básicos no conceito: uma reflexão sobre direitos, uma
reflexão sobre o caráter fundamental desses direitos e uma reflexão sobre o direcionamento
desses direitos ao homem.

A definição de direito se dá por serem direitos que podem ser exigíveis. A exigibilidade é a nota
caracterizadora do direito. Os direitos fundamentais restam como uma relação obrigacional. Não
há, portanto, a ideia de aviso ou conselho ou ainda pretensão. Há sim a exigibilidade. A relação
jurídica obrigacional dos direitos fundamentais acontece por meio do credor: ser humano/pessoa;
objeto: todos os direitos relacionados com a dignidade; e devedor: o estado e os particulares.

O Direito Fundamental não é qualquer direito, mas apenas aqueles tidos como fundamentais.
Serão considerados fundamentais os direitos que tiverem vinculação direta com a dignidade da
pessoa humana. Sem tais direitos, a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, não
sobrevive.

O Direito do Homem são direitos do ser humano. São inerentes à pessoa humana.

Evolução Histórica dos Direitos Fundamentais e dos Direitos Humanos


A formatação dos direitos fundamentais está diretamente ligada à evolução do constitucionalismo.
Não há como dissociar a evolução dos direitos fundamentais da evolução do constitucionalismo. A
adoção dos direitos fundamentais pela Constituição é uma das características do Estado
democrático de direito. Se não há direitos fundamentais concretizados, o nome Estado
democrático de direito é pura retórica. Canotilho (2013) nos apresenta as dimensões do princípio
do Estado democrático de direito: juridicidade, constitucionalidade e direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais são fruto de um processo evolutivo lento, gradual e constante da


humanidade. Hannah Arendt (apud PIOVESAN, 2018, p. 187) dizia que “[...] os direitos
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fundamentais não são um dado, mas um construído”. Albert Einstein, em discurso realizado em
1954, um ano antes de seu falecimento, afirmou que “[...] os direitos humanos não estão nas
estrelas, cabem aos homens construí-los” (EINSTEIN apud PIOVESAN, 2018, p. 187). A-

Os principais documentos acerca da evolução histórica dos direitos fundamentais e dos direitos
humanos é basicamente o mesmo rol de documentos da evolução do constitucionalismo.

MAGNA CARTA LIBERTATUM (1215).


PETITION OF RIGHTS (1628).
HABEAS CORPUS AMENDMENT ACT (1679).
BILL OF RIGHTS (1689) (Inglaterra).
DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO BOM POVO DA VIRGÍNIA (16.06.1776).
DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS EUA (04.07.1776).
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO (FRANÇA – 26.08.1789).
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM (ONU – 10.12.1948).

Entendida a diferença entre os direitos fundamentais e os direitos humanos, além de estudarmos a


teoria dos direitos fundamentais e sua evolução histórica, passemos à análise de grandes
documentos que consagraram os direitos fundamentais, tornando-os essenciais para o convívio
humano.

Declaração de Independência dos Estados


Unidos (4 de julho de 1776)
Vejamos o preâmbulo da Declaração de Independência dos Estados Unidos:

Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo dissolver laços
políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e
separada, as que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito
digno às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa
separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram
criadas iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes
estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando
seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de
governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e
instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizado-lhes os poderes pela
forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.
[...] governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do
consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne
destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo,
baseando-o em tais princípios e organizado-lhes os poderes pela forma que lhe pareça mais A+
conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade (NATIONAL ARCHIVES, 2019, on-
line). A-

Passemos à análise da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, importante documento


histórico.

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


(26 de agosto 1789)
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é um importante documento histórico, fruto da
Revolução Francesa, que buscou definir direitos individuais e coletivos. Vejamos o preâmbulo
desse documento:

Os representantes do povo francês, reunidos em Assembléia Nacional, tendo em vista que a


ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos
males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar solenemente os direitos
naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente
em todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus direitos e seus
deveres; a fim de que os atos do Poder Legislativo e do Poder Executivo, podendo ser a
qualquer momento comparados com a finalidade de toda a instituição política, sejam por
isso mais respeitados; a fim de que as reivindicações dos cidadãos, doravante fundadas em
princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à
felicidade geral (ACQUA apud FERREIRA FILHO, 1978, p. 147).

A declaração tem sua conotação universal, não se reportando apenas ao Estado e povo franceses.
Apesar de a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão não integrar o sistema internacional,
ela é a fonte histórica para os direitos fundamentais previstos na CF. Thomas Jefferson, um dos
principais elaboradores da Declaração de Independência dos Estados Unidos, era embaixador dos
Estados Unidos na França (cargo que ocupou entre os anos de 1.784 a 1.789) e influenciou, de
forma direta, a elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Primeira Constituição a Positivar a Proteção dos


Direitos Humanos
A discussão doutrinária referente à identificação da primeira constituição a positivar os direitos
humanos abrange: Constituição da Bélgica de 1831; Constituição do Império do Brasil (art. 179) de
1824 (BRASIL, 1824, on-line); e Bill of Rights da Constituição Americana.

Características dos Direitos Fundamentais A+

Na doutrina, é possível identificar uma variedade de sistematizações das características dos


direitos fundamentais. São elas: A-

A historicidade, que representa o processo histórico dos quais os direitos fundamentais são fruto.
Em decorrência da historicidade, é possível que alguns direitos reconhecidos como essenciais à
dignidade da pessoa humana em um determinado momento da história possam não ser
reconhecidos como tal em um momento histórico diverso. O reconhecimento do que é ou não
diretamente ligado à dignidade da pessoa humana depende da incidência de variáveis culturais,
históricas etc. (por exemplo, direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado não era
reconhecido como um direito fundamental).

O princípio da vedação do retrocesso não é uma proteção absoluta (caráter histórico dos direitos
fundamentais; direitos fundamentais são um construído). Há discussão quanto à possibilidade de
uma nova constituição estabelecer situações que violem os direitos humanos (por exemplo,
previsão de penas cruéis). Adotando-se o conceito tradicional de poder constituinte originário,
haverá o reconhecimento da possibilidade de tal procedimento. Posicionamento diferente é
adotado por aqueles que reconhecem os direitos humanos como conceito filosófico; nesse caso, é
necessário o reconhecimento de limitações ao exercício do poder constituinte originário. É preciso
reconhecer que a vedação do retrocesso é importante, mas ela não se apresenta como algo que
garanta proteção a todas as situações.

Os direitos fundamentais são coisas fora do comércio. A inalienabilidade do direito fundamental


não é possível. O que será possível é a exploração econômica do seu reflexo patrimonial. Não se
deve confundir direito fundamental com o objeto de proteção. Uma coisa é o direito à propriedade,
outra coisa é o bem sobre o qual recai a propriedade; o que não se pode alienar é a capacidade de
ser proprietário. A compra e venda é uma situação diferente, que incide sobre o objeto do direito
de propriedade.

O desuso do direito não gera a sua perda. Não podemos confundir a imprescritibilidade do direito
fundamental com o objeto de proteção desse direito. Com a usucapião, ocorre a perda do objeto, e
não a perda da capacidade de ser proprietário.

A característica da irrenunciabilidade define que os direitos fundamentais não podem ser


renunciados. Uma das implicações que podemos citar é a vedação à eutanásia em diversas
legislações no mundo, inclusive no Brasil. Aquele que auxilia alguém a tirar sobre própria vida
responde pelo crime, vez que a vida não é um direito renunciável.
REFLITA
Reality Shows e os Direitos Fundamentais A+

Os reality shows não são inconstitucionais. Não há renúncia nem alienação de direitos. A
A-
disposição sobre a liberdade não está com a empresa organizadora; as pessoas podem sair se
quiserem. Pense sobre isso! Reflita sobre o assunto acessando o link a seguir.

http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/52203/reality-show-a-indisponibilidade-
dos-direitos-fundamentais-e-a-dignidade-da-pessoa-humana.

A personalidade define que os direitos fundamentais são personalíssimos, ou seja, pertencem a


uma só pessoa e, por isso, não podem ser transmitidos, se encerram com a morte do titular.

Os direitos fundamentais, segundo a limitabilidade/relatividade, não são absolutos. Todos os


direitos são relativos (por exemplo, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal).

Limitabilidade/relatividade dos Direitos Fundamentais e a Vedação à Tortura


Muitos doutrinadores afirmam que a vedação à tortura seria um direito absoluto. A vedação à
tortura está relacionada com a proteção das integridades física, moral e psicológica (é uma das
projeções desse direito). O direito à integridade física pode ser relativizado (por exemplo, prisão
representa uma restrição à integridade psicológica). Há teses em contrário e autores que
defendem ser possível a tortura em situações excepcionais.

Limites à Incidência dos Direitos Fundamentais


Os direitos fundamentais não podem ser utilizados para justificar a prática de ilícito, sustentar a
irresponsabilidade civil ou anular outros direitos constitucionais. O choque entre direitos
fundamentais é diferente do choque de regras.

Outra garantia dos direitos se dá por meio da indivisibilidade e interdependência, e o que garante
os direitos civis e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e
culturais e vice-versa (PIOVESAN, 2018, p. 60).

Segundo Ricardo Lewandowski, a proibição de retrocesso:

Independentemente da geração a que pertençam, milita a favor dos direitos fundamentais,


em especial dos sociais, o princípio da proibição do retrocesso, plasmado no art. 30 da
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, da ONU, cuja redação é a seguinte:
“Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o
reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer
atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e
liberdades aqui estabelecidos” (LEWANDOWSKI, 2018, on-line).

A proibição de retrocesso é parte da proteção que se deve dar aos direitos fundamentais. Cada vez
que um direito fundamental é conquistado e reconhecido como tal precisa de proteção para que
não se volte aos tempos quando ele não era garantido. O exemplo da tortura é importante por isso.
Durante muito tempo, acreditou-se que a tortura era meio válido para se conseguir informações,
mas depois foi percebido que sob tortura qualquer pessoa admite qualquer coisa. Logo, ela não era
útil; ao contrário, era condenável.

A+

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Aspectos da Vedação do Retrocesso


A vedação do retrocesso impede a revogação das normas que tratam dos direitos sociais. É possível
a redução do grau de concretização, o que não pode ocorrer é a revogação da concretização de
forma arbitrária (MIRANDA, 2018).

Além disso, não pode reduzir o grau de abrangência. A vedação ao retrocesso impede a redução da
abrangência do direito social previsto (ZAGREBELSKY, 2011). Esse posicionamento diminui o grau
de liberdade da atuação do poder público.

A universalidade é afirmada desde a Antiguidade, e foi impulsionada pelos constitucionalismos


norte-americano e francês. A ideia de universalidade é muito presente desde a Antiguidade, mas o
constitucionalismo impulsiona tal característica. Historicamente, o reconhecimento dessa
universalidade sofre vários ataques, sendo o maior deles o holocausto (diferenciação de raças).

Tratamentos dispensados ao índio e questões de escravidão são exemplos de comprometimento da


universalidade no Brasil, sendo possível identificá-los em: plano de titularidade – todos os seres
humanos são titulares direitos fundamentais –; plano temporal – os direitos fundamentais estão
presentes em todas as épocas da história –; e plano cultural – os direitos fundamentais estão
presentes em todas as culturas do globo.

A chamada universalidade tem previsão em diversos documentos internacionais, mas, segundo


Flávia Piovesan, é contestada pelos adeptos do relativismo cultural, pois, para esses,

[...] a noção de direito está estritamente relacionada ao sistema político, econômico, cultural,
social e moral vigente em determinada sociedade. Sob esse prisma, cada cultura possui seu
próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, que está relacionado às específicas
circunstâncias culturais e históricas de cada sociedade. Nesse sentido, acreditam os
relativistas, o pluralismo cultural impede a formação de uma moral universal, tornando-se
necessário que se respeitem as diferenças culturais apresentadas por cada sociedade, bem
como seu peculiar sistema moral. A título de exemplo, bastaria citar as diferenças de padrões
morais e culturais entre o islamismo e o hinduísmo e o mundo ocidental, no que tange ao
movimento de direitos humanos. Como ilustração, caberia mencionar a adoção da prática
da clitorectomia e da mutilação feminina por muitas sociedades da cultura não ocidental
(PIOVESAN, 2018, p. 62-64).

E quais seriam os limites nessa busca pelo não retrocesso? É importante lembrar que existem
algumas vedações, como as apresentadas a seguir:

i. Vedação do direito de escolha: não seria possível uma cultura que vedasse a escolha.

Por exemplo: vedação ao direito de escolha das mulheres.


ii. Vedação do direito de ser igual ou a ser diferente: não seria possível uma cultura que vedasse o
direito de ser igual ou o direito de ser diferente.

A universalidade dos direitos humanos é reforçada pela recente construção do jus cogens em
matéria do direito internacional. O jus cogens é formado por normas cogentes e imperativas. A ideia
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de existência de normas internacionais superiores reafirma a questão da universalidade

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REFLITA
O Impacto do Terrorismo nos Direitos Humanos

Podemos afirmar que os direitos humanos, assim como os direitos fundamentais, nasceram para
a proteção do homem, entendido como gênero neutro para humanidade. Contudo,
recentemente a ONU autorizou o combate ao terrorismo. Não seria isso um contrassenso?
Autorizar que se mate para proteger outras pessoas não seria uma violação aos direitos
humanos?

Guilherme Berger Schmitt, em seu artigo “O impacto do terrorismo nos direitos humanos: uma
análise crítica das medidas internacionais de combate ao terrorismo à luz dos direitos humanos”,
discute essa incongruência, entre outras. Reflita sobre o assunto acessando o link a seguir.

https://periodicos.ufms.br/index.php/revdir/article/view/766.

Motivo para Internacionalização dos Direitos


Humanos
Direitos humanos, diferentemente do direito ambiental, não é um tema internacional por si mesmo.
Questiona-se, então, qual a justificativa para a sua internacionalização. O que justifica a
internacionalização é o repúdio aos horrores da Segunda Guerra Mundial e as barbáries nazistas.
Outras explicações: há estados recém-independentes que não foram sensibilizados, mas há outros
motivos. Os Estados reconhecem a internacionalização, ratificando tais pactos, para que
demonstrem, pelo menos na retórica, não compactuar com práticas violadoras. Dessa forma,
garante-se legitimidade dos direitos humanos no plano internacional.

Perspectivas dos Direitos Fundamentais


Existem duas perspectivas dos direitos fundamentais, que são divididas em: perspectiva subjetiva e
perspectiva objetiva.

A perspectiva subjetiva dos direitos fundamentais (dimensão clássica) realiza a análise dos direitos
fundamentais na perspectiva dos seus titulares. Reconhece-se a existência de uma relação jurídica
obrigacional de forma que os indivíduos (credores) possam exigir em face do Estado (devedor –
visão clássica) a preservação desses direitos. Enquanto direitos, eles apresentam uma relação que
não se apresenta claramente e uma relação jurídica obrigacional. Junto com o direito, surge o dever
de todos em respeitá-lo.

A dimensão subjetiva corresponde ao modelo histórico ou clássico dos direitos fundamentais. “A


teoria liberal concebia os direitos fundamentais como limites impostos ao poder do Estado, que
A+
impunham a este um dever jurídico de abstenção” (SARMENTO, 2010, p. 128). Os direitos
fundamentais são entendidos como verdadeiros direitos dos indivíduos, exigíveis juridicamente do
Estado. A-

Já a perspectiva (ou dimensão) objetiva dos direitos fundamentais se trata de uma análise não sob a
perspectiva dos titulares do direito fundamental, mas sob a dimensão da obrigação positiva do
Estado na efetiva proteção dos direitos fundamentais, ainda que essa atuação incida em face de
terceiros ou mesmo em face do próprio titular do direito.

É necessário levarmos em consideração o reconhecimento de que as violações aos direitos


humanos não ocorrem apenas por parte do estado, sendo possível a violação por parte dos
particulares.

Como consequência, por ser obrigação do Estado a efetiva preservação dos direitos fundamentais,
sua atuação também deverá incidir sobre os particulares. Essa situação está relacionada à eficácia
horizontal dos direitos fundamentais. É preciso haver o reconhecimento de que os direitos
fundamentais representam os valores mais importantes de uma determinada sociedade, por
exemplo a vida. O direito fundamental à vida não é, tão somente, um direito de titularidade de cada
indivíduo, sendo necessário o seu reconhecimento como um valor importante para todo o meio
social. A proteção da vida de um determinado indivíduo não é de interesse apenas desse, mas de
toda a sociedade.

O titular do direito também tem a obrigação de tomar precauções para preservar tal bem, já que
esse seria de interesse de toda a sociedade. Além de titular do direito, o indivíduo tem a obrigação
de tutelar tal bem.

A perspectiva objetiva não exclui a perspectiva subjetiva, mas a ela se agrega. Os direitos
fundamentais são também valores ou finalidades que dirigem todo Poder Público e que traduzem
condicionamentos impostos também aos particulares e mesmo aos outros Estados (a violação de
um Estado aos direitos fundamentais de seus integrantes atinge a todos da comunidade
internacional).

É necessário o reconhecimento de que não é apenas o Estado que ocupa o polo passivo da relação
jurídica obrigacional nos direitos humanos. Mesmo os particulares e outros Estados podem ser
reconhecidos como devedores, ou seja, também têm a obrigação de respeitar tais direitos.

A dimensão objetiva dos “[...] direitos fundamentais liga-se ao reconhecimento de que tais direitos,
além de importarem certas prestações aos poderes estatais, consagram também os valores mais
importantes em comunidade política” (SARMENTO, 2010).

Planos de Eficácia dos Direitos Fundamentais


O plano de eficácia pode ser dividido em dois segmentos: eficácia vertical e eficácia horizontal ou
eficácia privada.

Segundo Savazzoni, em relação à eficácia vertical:

Os adeptos desta teoria justificam a eficácia direta dos direitos fundamentais nas relações
privadas com base na constatação de que os perigos que espreitam os direitos
fundamentais, no mundo contemporâneo, não provêm apenas do Estado, mas também dos
poderes sociais e de terceiros em geral. Ressalte-se que não se trata de uma doutrina radical,
vez que não se nega a necessidade de ponderar o direito fundamental em jogo com a
autonomia privada dos particulares envolvidos no caso, ou seja, essa teoria está longe de
pregar a desconsideração da liberdade individual nas relações jurídicas privadas, como
asseveram alguns (2009, p. 2). A+

Ainda para Savazzoni, em relação à eficácia horizontal ou eficácia privada: A-

Para os adeptos desta teoria, os valores constitucionais, incorporados nas normas


consagradoras de direitos fundamentais, “aplicam-se ao direito privado por meio das
cláusulas gerais oferecidas pela legislação civil” e continua que deve [...] ser interpretada
conforme seus ditames (2009, p. 2).

Diz Sarmento:

[...] teoria da eficácia mediata nega a possibilidade de aplicação direta dos direitos
fundamentais nas relações privadas porque, segundo seus adeptos, esta incidência acabaria
exterminando a autonomia da vontade, e desfigurando o Direito Privado, ao convertê-lo
numa mera concretização do Direito Constitucional (2010, p. 143).

Possibilidade de ser devedor em face de um direito subjetivo próprio – decorre do


reconhecimento dos direitos fundamentais como valores essenciais à sociedade (dimensão
objetiva dos direitos fundamentais).

Por exemplo: proibição do uso de drogas; obrigatoriedade do uso do cinto de segurança.

Possibilidade de ser devedor em face de um direito subjetivo de um terceiro – decorre do


reconhecimento de que as violações aos direitos fundamentais podem ser praticadas tanto pelo
Estado como pelos particulares.

“O direito de um termina onde começa o do outro” (Autor desconhecido, ditado popular.)

Os particulares podem se apresentar como credores e devedores na relação jurídica obrigacional


dos direitos fundamentais.

Deveres Fundamentais
O reconhecimento da eficácia horizontal é ratificado pelo fato de que, paralelamente aos direitos
fundamentais, existem os deveres fundamentais. Acompanhe a seguir quais são:

‍Manifestações da existência de deveres fundamentais:

a) O art. 10 da Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que “toda pessoa tem deveres
para com a comunidade”.

b) O capítulo I do título II da CF é denominado “Dos direitos e deveres individuais e coletivos”.

c) O art. 205 da CF (BRASIL, 1988, on-line) prevê a educação como um dever do Estado e da família,
devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade.

NCC:
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988, on-line).

Relação jurídica obrigacional prevista pelo texto constitucional:


A+
Reconhecimento expresso da eficácia horizontal nas relações privadas. Família e sociedade são
colocadas como devedoras na relação obrigacional, envolvendo o direito fundamental da educação. A-

Atenção: Educação é uma expressão mais ampla que a ensino. O dispositivo não está tratando do
ensino, mas da educação.

Por exemplo: jogar lixo para fora do carro – violação do direito de educação (desvirtua a educação
das demais gerações).

d) O art. 225 da CF (BRASIL, 1988, on-line) prevê a defesa e a preservação do meio ambiente
ecologicamente equilibrado como um dever do poder público e da coletividade.

CF:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, on-line).

e) O art. 227 da CF (BRASIL, 1988, on-line) prevê o dever da família, da sociedade e do Estado de
assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.

CF:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão” (BRASIL, 1988, on-line).

Eficácia irradiante dos direitos fundamentais – os direitos e garantias fundamentais são dotados
de uma especial força expansiva, projetando-se por todo o universo constitucional e servindo como
critério interpretativo de todas as normas do ordenamento jurídico.

Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas – as teorias sobre a eficácia horizontal
dos direitos fundamentais são:

Teoria da ineficácia horizontal (teoria adotada nos EUA).


Teoria da eficácia indireta (teoria adotada na Alemanha).
Teoria da eficácia direta (teoria adotada em Portugal, Espanha e na Itália).

Segundo a teoria da ineficácia horizontal (teoria adotada nos EUA), os direitos fundamentais não se
aplicam às relações entre particulares, sendo exigíveis apenas contra o Estado.

A jurisprudência norte-americana aceita a aplicação de direitos fundamentais em uma relação


entre indivíduos, desde que determinada ação privada possa ser equiparada a uma ação estatal.

Também é possível que determinado direito tido como fundamental seja aplicado nas relações
entre particulares quando uma lei ordinária preveja tal possibilidade. Nesse caso, a aplicação ou
não desse direito seria uma decisão puramente do âmbito ordinário (diferente do que ocorre com a
teoria da eficácia indireta).

De acordo com a teoria da eficácia indireta (teoria adotada na Alemanha), os direitos fundamentais
não se aplicam diretamente na relação entre particulares, sob pena de violar a autonomia da
A+
vontade, o que comprometeria todo o direito privado. A solução adotada para que os direitos
fundamentais sejam aplicados nas relações privadas é propiciar uma intermediação da legislação
constitucional com a legislação de direito privado. O juiz aplicaria a norma de direito civil e A-
indiretamente os direitos fundamentais.

É diferentemente do que ocorre com a teoria da ineficácia horizontal. Na teoria da eficácia indireta,
a decisão de aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas está no âmbito
constitucional, mas depende do legislador ordinário para garantir a sua efetividade. O direito
fundamental é aplicado por meio da lei (haveria obrigatoriedade de o legislador ordinário legislar).

É exemplo da manifestação dessa teoria a utilização das cláusulas gerais pelo direito privado.
Assim, os direitos fundamentais seriam utilizados para interpretar as normas privadas.

Segundo a teoria da eficácia mediata, os direitos fundamentais não são imediata e diretamente
aplicáveis às relações interprivadas. A eficácia é mediata e indireta, porque é tarefa (dever-
competência), em primeira linha, do Poder Legislativo ao criar normas de direito privado, e, na
omissão ou insuficiência legislativa, do Poder Judiciário, ao aplicar e desenvolver o direito privado,
sobretudo ao recurso “preenchimento” das cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados
com conteúdos axiológicos que subjazem (aos) ou informam os direitos fundamentais.

Segundo a teoria da eficácia direta (teoria adotada em Portugal, Espanha e na Itália), os direitos
fundamentais podem ser aplicados diretamente, sendo prescindível a intermediação de norma
privada. O ideal é que o legislador edite norma para que sejam estabelecidos critérios objetivos
para a atuação do judiciário, mas, havendo omissão do legislativo, o juiz aplica diretamente.

Sobre a corrente adotada no Brasil, as decisões do STF sempre adotaram a eficácia direta, mas só
recentemente é que os julgados do supremo têm levantado a discussão das teorias existentes.

Funções dos Direitos Fundamentais (Canotilho)


Segundo Canotilho (2003), são funções dos direitos fundamentais:

Função de defesa ou de liberdade.


Função de prestação.
Função de proteção perante terceiros.
Função de não discriminação.

A função de defesa ou de liberdade dá os direitos fundamentais que evitam abusos do estado,


exigindo um não fazer, uma atuação negativa. “Essa função está relacionada à 1ª dimensão dos
direitos fundamentais” (CANOTILHO, 2003, p. 165).

A função de prestação é quando, no desempenho dessas funções, os direitos fundamentais exigem


uma atuação positiva do estado, corporificada em prestações normativas (legislativas) e materiais,
que, muitas vezes, devem ser traduzidas em políticas públicas.

A seguir, a função relacionada à 2ª dimensão dos direitos fundamentais:

As demandas decorrentes do exercício da função de prestação impõem uma atuação mais


complexa por parte do Poder Público. A implementação de uma função de prestação é mais difícil
que a implementação de uma função de defesa.
A função de proteção perante terceiros é quando o Estado fica na posição de garantidor da não
violação, por parte de terceiros, do direito fundamental.

“[...] muitos dos direitos impõem um dever ao Estado (poderes públicos) no sentido de proteger
perante terceiros os titulares de direitos fundamentais” (CANOTILHO, 2003, p. 166).
A+

A-

Classificação dos Direitos Fundamentais


A classificação dos direitos fundamentais está dividida em duas: direitos fundamentais meramente
formais e direitos fundamentais materiais.

a) Direitos fundamentais meramente formais são aqueles que a CF (BRASIL, 1988, on-line) rotula
como sendo fundamentais (TÍTULO II).

b) Direitos fundamentais materiais são os direitos vinculados à vida humana digna.

São posições jurídicas essenciais que concretizam a dignidade da pessoa humana. Nem todos os
direitos previstos no art. 5º (BRASIL, 1988, on-line) estão protegidos pela cláusula pétrea. Somente
aqueles que estiverem vinculados à dignidade humana serão considerados como direitos
fundamentais em sentido material e serão protegidos pela cláusula pétrea.

Há quem diga que essa classificação não se sustenta.

STF – Min. Moreira Alves – “a leitura do art. 60, § 4º, deveria ser literal” (MENDES, 2004, p. 221).

Seria possível a revogação de algum dispositivo do art. 5º da CF (BRASIL, 1988, on-line)?


(Divergência).

i. Sim – a proteção do art. 60, § 4º, abrangeria, apenas, os direitos fundamentais diretamente
relacionados à dignidade da pessoa humana. Os dispositivos que não sustentassem tal situação
(direitos considerados formalmente, mas não materialmente constitucionais) poderiam ser
revogados.
ii. Não – a leitura do art. 60, § 4º, deve ser literal. Todos os dispositivos estariam protegidos, ainda
que o direito nele refletido seja, tão somente, formalmente fundamental.

Classificação de Ruy Barbosa


A classificação de Ruy Barbosa está dividida em direitos e garantias. Veja a seguir sobre o que elas
tratam.

a) Direitos – disposições meramente declaratórias, que imprimem existência legal aos direitos
reconhecidos.

Norma de conteúdo declaratório.

b) Garantias – disposições assecuratórias, que limitam o poder em defesa do direito.

Norma de conteúdo assecuratório.

Por exemplo: MS pode ser considerado como uma garantia e como um direito.
Como é feita a classificação na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, on-line)? O
constituinte originário fez a opção de separar os direitos em blocos, nada impedindo, contudo, que
se encontrem alguns em capítulos diferentes. É importante lembrar que basta que o texto esteja
previsto na Constituição para que assim o seja considerado. Vejamos como foi feito:
A+
a) Direitos individuais.

b) Direitos coletivos. A-

c) Direitos sociais.

d) Direitos à nacionalidade.

e) Direitos políticos.

Tratamento Constitucional
Entendida essa classificação, pôs-se o legislador constituinte a inserir em títulos e capítulos os
assuntos dispostos na Constituição (BRASIL, 1988, on-line). Assim ficou organizada a nossa
Constituição:

Título II. Dos Direitos e Garantias Fundamentais.


Capítulo I Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5º, CF).}
Capítulo II Direitos Sociais (art. 6º, 7º, 8º, 9º, CF).
Capítulo III Da Nacionalidade (art. 12 e 13, CF).
Capítulo IV Dos Direitos Políticos (art. 14, 15, 16, CF).
Capítulo V Dos Partidos Políticos (art. 17, CF).

Direitos Fundamentais
Assim, existe uma fórmula para caracterizar os direitos fundamentais: direitos individuais +
direitos coletivos + direitos sociais + direitos da nacionalidade + direitos políticos.

A Constituição estabelece a dignidade da pessoa humana como um dos seus fundamentos, ou seja,
nessa concepção, a pessoa é tida como fundamento e fim da sociedade e do Estado.

- Classificação de Georg Jellinek (2000, p. 5).

i. Direitos de defesa.

Direitos envolvidos: direitos civis e direitos políticos.


Objetivo: proteger o indivíduo em face do Estado.
Caráter: negativo (exigem uma abstenção por parte do Estado).
Nomenclatura: direitos de defesa.

ii. Direitos à prestação.

Direitos envolvidos: direitos sociais.


Objetivo: garantir a efetividade dos direitos fundamentais.
Caráter: positivo (exigem prestações jurídicas e materiais por parte do Estado).
○ Nomenclatura: direitos prestacionais.
○ Possuem maior dificuldade para sua implementação.

A+
Lembrar da reserva do possível – limitações orçamentárias limitam a implementação dos direitos
prestacionais.
A-
iii. Direito de participação.

Direitos envolvidos: direitos de nacionalidade (art. 12, CF) e direitos políticos (art. 14, CF)
(BRASIL, 1988, on-line).
Objetivo: garantir uma maior participação do indivíduo na vida do Estado.

○ Caráter: positivo e negativo.


○ Nomenclatura: direitos de participação.

Críticas Doutrinárias feitas à Expressão “Geração” de Direitos


As críticas à expressão “Geração” de Direitos residem em duas ideias equivocadas: a primeira de
que existiria a substituição gradativa de uma geração por outra. O processo é de acumulação e não
de sucessão. A segunda de que a existência de uma geração posterior depende da maturação da
geração anterior. Vários direitos sociais (tidos como de 2ª geração) surgiram antes da efetivação de
direitos civis (tidos como de 1ª geração), fato ocorrido com os direitos trabalhistas da Era Vargas.

Ideia equivocada de considerar os direitos de 1ª geração como negativos e não onerosos enquanto
os de 2ª geração como positivos e onerosos.
Consequência: enfraquecimento da normatividade dos direitos sociais.
É necessário o reconhecimento de uma afinidade estrutural entre os direitos fundamentais.

○ Por exemplo: dificuldade de desvincular. A+

A-
i´. Direitos fundamentais de primeira dimensão.

Valor: liberdade.
Objetivo: proteger o indivíduo em face da atuação do Estado.
Direitos envolvidos: direitos civis e direitos políticos.

Por exemplo: direito à vida, à liberdade, à propriedade, à manifestação, à expressão, à associação,


ao voto, ao devido processo legal e à igualdade perante a lei (igualdade formal).

Titularidade: direitos individuais.


Direitos de defesa (cunho negativo) (abstenção do Estado – obrigação de não fazer).
Está relacionada às liberdades clássicas, negativas ou formais.
Momento histórico.
Surgimento das primeiras constituições escritas.
Surgimento do estado liberal a (estado mínimo).

No modelo de Estado liberal, a atuação do Estado deve ser mínima. Ele deve se abster de interferir
na vida dos cidadãos. Seu papel é o de garantir direitos, e suas obrigações perante a sociedade têm
caráter negativo, estando ligadas às obrigações de não fazer (os chamados deveres negativos).

No campo econômico, Smith (1983, p. 10) fazia referência à “mão invisível do mercado”.

ii. Direitos fundamentais de segunda dimensão.

Valor: igualdade.
Objetivo: reduzir as desigualdades existentes.
Direitos envolvidos: direitos sociais, direitos econômicos e direitos culturais. Envolve também
direitos sem conteúdo contraprestacional (aqueles em que não há obrigatoriedade de prestação
pelo Estado. não há a necessidade de um fazer, como, por exemplo, as liberdades sociais, a
liberdade de sindicalização, o direito de greve, o direito a férias e o direito ao repouso semanal
remunerado.
Titularidade: direitos coletivos.
Direitos prestacionais (cunho positivo).

Os Direitos Fundamentais de Segunda Dimensão demandam atuação do Estado; há uma obrigação


de fazer (por exemplo: saúde, trabalho, assistência social, educação).

Está relacionada às liberdades positivas, reais ou concretas.

○ Previsão constitucional: art. 6° e ss.


○ Momento histórico: crise do modelo capitalista.

Revolução Industrial
A alteração da realidade social faz surgir novas demandas perante o Estado. O século XIX foi
marcado por uma profunda exploração do operário (luta do proletariado).

Primavera dos Povos (1848).


Manifesto Comunista (1848). A+

Constituição francesa (1848).


A-
A Constituição francesa é a precursora do Estado do Bem-Estar Social.

Geralmente, são mencionadas a Constituição do México (1917) e a Constituição alemã (1919),


sendo esquecida a Constituição francesa de 1848.

Criação da organização internacional do trabalho.


Surgimento do Estado do bem-estar social (welfare state ou estado providência).

iii. Direitos fundamentais de terceira dimensão.

Valor: fraternidade.
Direitos envolvidos: direito ao meio ambiente. Segundo Bonavides:

[...] a globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os direitos de quarta


geração, que, aliás, correspondem à derradeira fase de institucionalização do Estado Social.
São direitos de quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao
pluralismo. Deles dependem a concretização da sociedade aberta para o futuro, em sua
dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de
todas as relações de convivência (2019, p. 321).

Titularidade: direitos difusos (família, grupo, nação).


Momento histórico.
Constatação da divisão entre países ricos e países pobres, desenvolvidos e subdesenvolvidos.
Doutrina discute quanto à existência de outras dimensões.
Direitos fundamentais de quarta dimensão (BONAVIDES, 2019, p. 322).
Direitos envolvidos: direito à democracia, direito de informação e pluralismo político.

Para alguns autores, a 4ª dimensão seria integrada pelos direitos das minorias, direitos vinculados à
biotecnologia e direitos intergeracionais.

Questão da Diferença Cultural


A questão atual é a diferença cultural e a dificuldade da sociedade em viver com o diferente.
Bobbio (2004, p. 37), em A era dos direitos, trata da tolerância e da intolerância e reconhece que
ambas podem ora ser benéficas, ora prejudiciais.

Por exemplo: intolerância às violações aos direitos humanos – intolerância boa. Não aceitação do
diferente – intolerância má.

O direito à verdade e o direito à memória envolvem o direito de proteção da cultura histórica do


diferente (por exemplo, índios, imigrantes etc.).
A intolerância decorrente do choque de culturas e de religiões e caracteriza uma violação ao
direito ao pluralismo. A superação dessa situação está necessariamente ligada à questão do
direito de informação. O diferente (por questão cultural ou religiosa) somente será respeitado
quando for conhecido.

Pluralismo Político
A+
Pluralismo político não se limita ao pluralismo político partidário (por exemplo, pluralismo de
ideias).
A-
Direitos Fundamentais e as Questões Territoriais
As ameaças aos direitos fundamentais não se limitam aos limites territoriais, e as questões que
envolvem tais direitos extrapolam esses limites. As ameaças são globais. Os direitos fundamentais
precisam trabalhar essas ameaças globais.

Direitos fundamentais de quinta dimensão (BONAVIDES, 2019, p. 322).

Direito envolvido: direito à paz mundial (a paz mundial interessa a todos).

Outros autores apontam para outras realidades:

Patrimônio da humanidade – Unesco. Nesses casos, o Estado tem um dever a mais de proteger
esses patrimônios. São patrimônios que não pertencem ao Estado ou a uma determinada pessoa, e
sim de interesse de todos.

Direitos da natureza (visão ecocêntrica): reconhecimento da natureza como sujeito de direito.

Direitos dos animais (visão ecocêntrica): reconhecimento dos animais como sujeito de direito.
SAIBA MAIS
Animais como Sujeitos de Direito A+

Os animais, no ordenamento jurídico brasileiro, não são protegidos pelos Direitos Fundamentais.
A-
Esses, como já vimos, são direcionados à Pessoa Humana. Contudo, é importante a leitura do
Artigo 225, § 1º da Constituição Federal de 1988:

(art. 225, § 1º, VII, CF) (BRASIL, 1988, on-line) vedação de práticas que
submetam os animais à crueldade.
CF
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
“VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies
ou submetam os animais a crueldade (Regulamento)”.
Quem seria o titular desse direito? No trecho “todos têm direito”, o direcionamento é para a
espécie humana. Ela tem o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e, para que
isso possa tornar-se realidade há o dever de proteção. Assim, no ordenamento brasileiro, não é
possível defender que os animais seriam sujeitos de direito, mas o dispositivo constitucional
representa uma aproximação dessa concepção.

Para saber mais, consulte o link:


https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_26.06.2019/art_225_.asp.
SAIBA MAIS
A+

DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS A-

  1ª DIMENSÃO 2ª DIMENSÃO 3ª DIMENSÃO 4ª DIMENSÃO

Valor - Liberdade. - Igualdade. - Fraternidade.  

- Surgimento das
- Constatação da
primeiras - Revolução
divisão dos países em
Momento constituições Industrial.
ricos e pobres;  
histórico escritas. - Luta do
desenvolvidos e
- Revoluções proletariado.
subdesenvolvidos
liberais.

- Direito ao meio
- Direitos ambiente. - Direito à
sociais. - Direito à paz. democracia.
- Direitos civis.
Direitos - Direitos - Direito ao - Direito de
- Direitos
envolvidos econômicos. desenvolvimento. informação.
políticos.
- Direitos - Direito à - Pluralismo
culturais. autodeterminação político.
dos povos.

- Direitos - Direitos
Titularidade - Direitos difusos.  
individuais. coletivos.

Quadro 2.1 - Dimensões dos direitos humanos


Fonte: Bonavides (2018, p. 345).

Dimensões dos Valores Constitucionais


Piovesan (2018) trabalha com as dimensões que os valores constitucionalmente previstos podem
ter.

a) Dimensão fundamentadora: os valores constitucionalmente previstos representam o núcleo


básico e informador de todo o sistema jurídico-positivo.

b) Dimensão orientadora: os valores constitucionalmente previstos representam metas e fins


predeterminados que fazem ilegítima toda e qualquer disposição normativa que persiga fins
distintos.

c) Dimensão crítica: os valores constitucionalmente previstos servem como critério ou parâmetro


de valoração de atos e condutas.
ATIVISMO JUDICIAL – RESERVA DO POSSÍVEL – MÍNIMO EXISTENCIAL.

Teoria da reserva do possível – a efetivação de direitos encontra obstáculos nos limites


orçamentários existentes. A Administração Pública é, por definição, a gestão de meios escassos
para atender a necessidades ilimitadas.
A+

Limites à implementação de políticas públicas pelo Poder Judiciário:


A-
a) Aspectos fáticos.

b) Aspectos jurídicos:

i. Separação dos poderes.


ii. Gasto deve ter previsão em leis orçamentárias.
iii. Falta de legitimação dos membros do poder legislativo.

a) Aspectos fáticos: a possibilidade de implementação de políticas públicas encontra obstáculo nos


limites do orçamento do Estado. O limite material seria a disponibilidade de recursos da
administração.

Entre os direitos fundamentais, aqueles classificados como pertencentes à 2ª dimensão de


direitos fundamentais demandam uma prestação positiva do Estado. Se esse deixa de adotar as
medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da constituição, se deixa de cumprir o
dever de prestação que a constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto
constitucional.
De qualquer forma, o judiciário não pode, sob o pretexto de uma garantia de máxima efetividade
das normas constitucionais, imputar ao Estado responsabilidade irrestrita na garantia de todos os
direitos, dados os limites fáticos à sua implementação.

Teoria do Núcleo Essencial do Direito Fundamental – Mínimo Existencial


O mínimo existencial se caracteriza como subconjunto menor e mais preciso de direitos sociais
indispensáveis a uma existência digna. A administração não pode deixar de cumprir o núcleo
essencial de um direito à prestação se esse se qualifica como direito fundamental.

Compreende-se como núcleo essencial de um direito fundamental o mínimo necessário a ser


realizado pelo Estado para o reconhecimento do próprio valor que se almejou resguardar
juridicamente. O Estado deve garantir as condições materiais mínimas.

É um conceito trabalhado pela doutrina para garantir uma eficácia mínima aos direitos sociais. O
texto constitucional consagra um grande número de direitos, mas nem todos podem ser efetivados
frente à limitação orçamentária existente. Assim, a doutrina/jurisprudência identifica um grupo
diretamente ligado ao mínimo para uma existência digna. Frente a esse, não é possível a alegação
do princípio da reserva do possível.
A+

A-

04:38

INDICAÇÃO DE LEITURA

Teoria Geral dos Direitos Fundamentais


Autores: Dimitri Dimoulis e Leonardo Martins

Ano: 2019

Editora: Atlas

ISBN: 9788522487219

Sinopse: Uma pesquisa séria e profunda acerca dos direitos e garantias fundamentais. Os
autores Dimitri Dimoulis e Leonardo Martins mergulham no ordenamento jurídico-
constitucional brasileiro por meio de um excelente estudo. De forma bem didática, eles
buscam relacionar os problemas enfrentados por todos nós brasileiros e a proteção
constitucional adquirida. Leitura recomendada para quem quer se aprofundar no tema.

Considerações Finais
Trabalhamos, nesta unidade, os direitos fundamentais e verificamos sua proximidade e suas
diferenças com os direitos humanos. Além disso, estudamos o tratamento constitucional dos
direitos fundamentais e as gerações e dimensões desses.

É importante agora que o(a) aluno(a) se questione: qual a importância dos direitos fundamentais
A+
em minha vida? Pergunta complexa, não é mesmo? Ao falarmos de dimensões dos direitos
fundamentais, falamos sobre a primeira delas, que é a liberdade. Você já refletiu sobre como a
liberdade é importante para cada um de nós. O fato de você ter ido à padaria, ao shopping ou A-
mesmo ficado em casa é um ato de liberdade garantido constitucionalmente.

E ao pensar nas mazelas da vida, nas oportunidades de emprego, de viajar, de passear, você já se
imaginou igual aos demais? Já teve seu direito perseguido e clamou por igualdade?

Por fim, por várias vezes nos pegamos pensando no futuro e no mundo que deixaremos para
aqueles que chegarão depois de nós. Você agora sabe que isso é um direito de terceira dimensão
ligado à fraternidade. Como é bom estudar, não é mesmo? Passemos agora, na próxima unidade, a
tratar dos direitos humanos propriamente ditos.

Atividade
Weiss e Kroetz estão conversando sobre suas vidas e suas conquistas. Em determinado momento, Weiss diz que o fato de
pagar boletos o faz ser extremamente infeliz e propõe a Kroetz que ele pague suas contas, e, em troca, se tornaria seu
escravo, suportando, inclusive, penas corporais pelos seus erros. Kroetz aceita sem pensar duas vezes. Com base na
narrativa apresentada, assinale a alternativa correta.

Weiss pode abrir mão de seu direito fundamental à liberdade, contudo Kroetz deve antes pagar um valor por ele para
caracterizar o contrato de escravidão.

O Contrato de Escravidão é válido e foi previsto na Lei Áurea, vigente nos dias atuais.

Não é possível que Weiss abra mão de seu direito fundamental de liberdade em favor de Kroetz. Ele deve antes oferecer tal
direito ao Estado, que, recusando, garante a quem pediu o direito de vender-se livremente.

A doutrina defende que há uma proibição de retrocesso nos direitos fundamentais, ou seja, não é possível alguém abrir mão
de sua própria liberdade em troca da escravidão.

Não é possível, nesse caso, Weiss se tornar escravo de Kroetz.

Atividade
A frase “Direitos humanos para humanos direitos” esconde vários preconceitos, um deles a tentativa de construção de dois
tipos de humanidades, os que estão certos e os que estão errados. Essa não é uma característica dos direitos fundamentais
ou dos direitos humanos. Essa dualidade não foi abarcada pela luta e construção de tais direitos. A respeito da eficácia dos
direitos fundamentais, assinale a alternativa correta.

A eficácia vertical traduz a noção clássica, na qual os direitos fundamentais visam proteger o cidadão em face do Estado
opressor. Todos eles. Sem distinção.
A+

A eficácia horizontal traduz a noção clássica na qual os direitos fundamentais visam proteger o cidadão em face do Estado
A-
opressor. Todos eles.

Não é possível a aplicação de direitos fundamentais nas relações entre particulares. Assim, o Estado pode tratar de forma
diferente pessoas de situações semelhantes, ainda que sem justificativa.

O direito fundamental dos bandidos deve ser diminuído sempre, ou seja, quem comete crimes perde o direito a ter direitos.

Eficácia horizontal e eficácia vertical dizem respeito, respectivamente, à proteção do cidadão contra o Estado e à proteção do
cidadão contra outro cidadão.

Atividade
A doutrina costuma usar as expressões “geração de direitos” e “dimensões de direitos” fundamentais. Qual a diferença entre
esses dois termos?

Geração é gênero do qual as dimensões são espécies.

Dimensão é gênero, e gerações são espécies de direitos fundamentais.

Geração dá a ideia de momentos que serão superados (uma geração supera ou substitui a outra), enquanto dimensão dá a
ideia de continuidade de todas as conquistas.

A liberdade é considerada pela doutrina direito de 2ª dimensão, enquanto a igualdade é considerada de 1ª geração.

A liberdade é considerada pela doutrina direito de 1ª dimensão, enquanto a igualdade é considerada de 3ª geração.

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