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FACULDADE PITÁGORAS BACABAL

PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE E A FUNÇÃO SOCIAL DA


PROPRIEDADE RURAL

Autora: Jaqueane de França da Silva1


Orientadora: Me. Tácita Rios2

RESUMO
O presente estudo traz uma análise da função social da propriedade rural, sob uma
ótica constitucional, que evidencia a necessidade do uso adequado e racional das propriedades
rurais, como fator indispensável para que seja cumprida a devida função social a que está
sujeita. O objetivo deste estudo é analisar o sistema de propriedades rurais sob o aspecto
constitucional da função social para mostrar a relevância da propriedade para a sociedade
como um todo. Foi utilizada a metodologia de revisão de literatura e a questão norteadora da
pesquisa foi: Quais são os benefícios sociais que podem ser obtidos com o efetivo
desempenho da função social das propriedades rurais?

Palavras-chave: Função social; Propriedade rural; Constitucional.

1 INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 garante os direitos de


propriedade, mas ao mesmo tempo impõe a obrigação de que sejam desempenhadas as suas
devidas funções sociais. A nossa Constituição rege as funções específicas atribuídas à
propriedade, tais como as funções sociais e funções direcionadas para interesses individuais e
coletivos.
No caso da propriedade rural, a importância dessa finalidade social é ainda mais
evidente, pois a terra produz bens indispensáveis para a sobrevivência humana. Assim,
embora a terra seja um excelente bem produtivo e uma inegável fonte de riqueza, ela também
possui seus limites de exploração, sendo assim, a racionalidade e o bom senso são necessários
à preservação e utilização da terra.

1
Acadêmica do 4º período do curso de Direito da Faculdade Pitágoras Bacabal – E-mail:
Jaqueanne.fran@gmail.com
2
Advogada especialista em Direito Civil, Direito Médico e da Saúde.
Coordenadora do Curso de Direito Faculdade Pitágoras de Bacabal
Professora Mestre em Direito- Pitágoras e Universidade Estadual do Maranhão-UEMA campus Bacabal.
A conservação dos recursos naturais é uma questão fundamental para a sobrevivência
humana neste planeta. Assim, o objetivo deste estudo é analisar o sistema de propriedades
rurais sob o aspecto constitucional da função social para mostrar a relevância da propriedade
para a sociedade como um todo
Quanto ao problema da presente pesquisa, temos: Quais são os benefícios sociais que
podem ser obtidos com o efetivo desempenho da função social das propriedades rurais?

2 METODOLOGIA

A metodologia utilizada, foi uma revisão de literatura com base na Constituição


Federal de 1988 com aprofundamento no seu artigo 186 e incisos, além de um levantamento
de referenciais teóricos que foram analisadas e publicadas por meio de mídia escrita e
eletrônica, como monografias, publicações, artigos científicos, etc.
O estudo foi dividido em três tópicos para a análise detalhada e para a justificação dos
requisitos estabelecidos no artigo 186 da CF/88 que trata especificamente da função social da
propriedade rural.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como forma de respeitar o princípio da dignidade da pessoa humana, a Constituição


Federal de 1988 apresenta a concretização positiva do princípio de função social como
garantia fundamental e como elemento da política agrícola e fundiária.
O princípio da função social está presente na Constituição de 1988, entre o rol de
Garantias e Direitos Fundamentais, mais precisamente no artigo 5º, XXIII.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social.

A Constituição Federal de 1988 garante aos cidadãos o direito individual à


propriedade, protegido contra abusos de terceiros e do Estado, ao mesmo tempo em que
garante que a propriedade privada atenda aos interesses da sociedade. Nota-se que o poder
constituinte reconhece que a propriedade rural dotada do princípio da função social, é um
instrumento estatal para a consecução dos objetivos básicos da República. Portanto, a
necessidade de distribuição de terras através da reforma agrária, tornou-se uma forma de
promoção da dignidade da pessoa humana, além dos devidos objetivos fundamentais da
Republica.
No entanto, seria insensato se o Estado fizesse a desapropriação de propriedades rurais
que cumprem funções sociais, para fazer reforma agrária. Não há, por óbvio, razões para
desapropriação de propriedades rurais que cumprem as suas devidas funções sociais,
contribuindo para o bem-estar social e auxiliando o Estado, pois a República não é capaz de
prestar um serviço mais significativo do que aquele realizado pelo proprietário que faz com
que a propriedade rural cumpra sua função social, tal qual é devidamente disciplinada no
artigo 186 da CF/88, onde são elencados os requisitos que devem ser preenchidos de forma
simultânea:
Art. 186 - A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I - Aproveitamento racional e adequado;
II - Utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - Exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

Com isso, o artigo supracitado, deve ser utilizado como norte para todo e qualquer
jurista interprete quaisquer outros dispositivos infraconstitucionais.
Segundo Barros (2017, p. 69):

[...] em níveis de idêntica importância na busca de seus objetivos fundamentais,


jamais podendo ser aceita qualquer ideia tridimensional. E por estarem no mesmo
nível de importância os requisitos do Artigo 186 da Constituição Federal de 1988,
possuem três as finalidades expressas: uma finalidade de ordem econômica; uma
outra finalidade de ordem social; e uma finalidade de ordem ecológica.

3.1 APROVEITAMENTO RACIONAL E ADEQUADO

A propriedade agrícola é um bem de produção e tem como finalidade a produção de


matérias-primas e alimentos. É impossível imaginar terras agrícolas que não produzam de
acordo com sua capacidade natural.
A propriedade abandonada é um meio de criar instabilidade social e é prejudicial aos
objetivos fundamentais da República, pois impede o desenvolvimento adequado e seguro da
sociedade. Somente quando houver produção e distribuição de alimentos para todos é que o
Estado poderá garantir os direitos básicos dos cidadãos. A propriedade rural privada é,
portanto, vital para a segurança alimentar do nosso país e não pode ser um instrumento de
especulação econômica em detrimento da penúria social.
De acordo com a Constituição, a produção deve ser conduzida de forma razoável e
adequada, utilizando métodos que reflitam a dignidade do trabalho e o respeito ao meio
ambiente. Por esta razão, a produtividade deve ser razoável e suficiente.
Nesse sentido, Marques (2018, p. 39) afirma que:
Com efeito, tome-se o requisito do aproveitamento racional e adequado, que, no
Estatuto da Terra, corresponde ao requisito níveis satisfatórios de produtividade,
que é mensurado pelos graus de utilização e de eficiência na exploração, fixados em
80% para o primeiro e 100% ou mais para o segundo.

3.2 UTILIZAÇÃO ADEQUADA DOS RECURSOS NATURAIS DISPONÍVEIS E


PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Para Revers e Shaedler (2019), este requisito estabelece o respeito pela propensão
natural do meio ambiente, objetivando a manutenção do potencial produtivo da terra, a
qualidade do ambiente natural e seus recursos, o controle ecológico da propriedade e a
qualidade de vida da sociedade.
A Constituição Federal de 1988, evidencia a importância do destaque ao tema relacionado ao
meio ambiente, uma vez que, para isso, o poder constituinte reservou um capítulo inteiro, no
título que dispões sobre a Ordem Social (art. 225 e parágrafos do capítulo VI). Observa-se
que o dispositivo em questão, traz diversos princípios do próprio direito ambiental.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

Para a aplicação da equidade no uso de recursos naturais, o princípio do poluidor


pagador, pode ser utilizado como um princípio norteador para o aproveitamento ou uso da
água, do ar e da terra (SANTOS, 2019).
Atualmente, é impossível descrever o uso da propriedade rural sem considerar a
preservação do meio ambiente. Uma vez que ambos se alinham de modo incontestável, e o
futuro da humanidade depende de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, para uma
qualidade de vida saudável a todos.

3.3 AS RELAÇÕES DE TRABALHO E O BEM-ESTAR DOS PROPRIETÁRIOS E


TRABALHADORES

É notável a preocupação do legislador constituinte com o trabalhador agrário e não


somente com os recursos naturais e a segurança alimentar. Uma vez que positivou os
dispositivos reguladores das relações de trabalho no art. 186, III.
A necessidade do cumprimento do terceiro e quarto requisito estabelecido no artigo
186 e incisos da Constituição Federal, é justificado pelo fato de que a falta de condições de
prosperidade e progresso socioeconômico, obriga as populações rurais a migrarem para as
áreas urbanas em busca de melhores condições. Com a falta do bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores, não há produção e, portanto, não haverá o efetivo cumprimento dos
requisitos da função social (SANTOS, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desempenho das funções sociais das propriedades rurais, proporcionam diversos


benefícios sociais, porque coopera com a permanência do homem nas áreas rurais, com a
distribuição equitativa da terra rural, com o direito humano ao acesso à produção de alimentos
e à alimentação adequada, garante o direito das gerações futuras a um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, devidamente alindado ao desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

BARROS, Ricardo Maravalhas de Carvalho. As funções sociais das propriedades rurais


como vetor da promoção da dignidade do trabalhador do campo. Monografia (Mestrado)
Universidade de Marília. 2017. Disponível em
<http://www.unimar.br/trabalhos/arquivos/d2f4c7036947f9a7d790c21a47365fac.pdf> Acesso
em: 17 mar. 2023.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1998. Senado


Federal, 2003. Brasília, DF. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 17 mar.
2023.

MARQUES, Benedito Ferreira. Direito agrário brasileiro. São Paulo: Atlas, 2018.

REVERS, Marcieli; SCHAEDLER, Peterson Fernando. Utilização adequada dos recursos


naturais e preservação do meio ambiente à luz do princípio da função social da propriedade.
Anuário Pesquisa e Extensão Unoesc São Miguel do Oeste, v. 4, p. e23488-e23488, 2019.
SANTOS, Emanuela Gonçalves dos et al. Utilização de recursos vegetais em áreas de
quintais em uma comunidade rural localizada no entorno do Parque Nacional de Sete
Cidades, Piauí, Nordeste do Brasil. 2019.

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