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Direito Ambiental
Direito Agrario
Capítulo 3
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
A
ORIGEM E O FUNDAMENTO JU-
RÍDICO do princípio da função social da
propriedade da terra têm por marco inicial a
Emenda Constitucional nº 10, de Novembro de 1964,
à Constituição Federal de 1946, sendo que logo depois
adveio a legislação ordinária “Estatuto da Terra”, regula-
mentando a alteração constitucional.
Além do ordenamento jurídico, os fatores
sociais e econômicos contribuiriam na evolução
do direito de propriedade, assim, a Constituição de
1988 adotou o novo critério, que era reclamado pe-
los setores mais evolvidos da sociedade, e também
adicionou direito de propriedade e a sua função so-
cial, conforme previsto no artigo 5º, incisos XXII,
XXIII e XXIV, como seguem:
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à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a proprie-
dade, nos termos seguintes:
XXII- é garantido o direito de propriedade;
XXIII- A propriedade atenderá a sua função social;
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.
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• foi estabelecida, no caso de desapropria-
ção, a prévia indenização em dinheiro.
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Comparando o texto constitucional de 1988
com o artigo 2º, parágrafo 1º, do Estatuto da Terra,
não se pode negar alguma similaridade, apenas in-
dicando uma derivação ou influência decorrente de
experiências da legislação ordinária do regime ante-
rior que restou repristinada na nova ordem, como
vemos a seguir:
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nas demonstrar níveis satisfatórios de produtividade,
pois esta pode existir e o aproveitamento não ser ra-
cional nem adequado.
Mencionar meio ambiente é, de longe, mais
abrangente do que apenas recursos naturais. Embo-
ra a disposição anterior fosse mais conservacionista
que a da Constituição Federal de 1988, o sentido é o
de utilizar adequadamente os recursos naturais ainda
disponíveis, o que pode gerar dúbias interpretações.
Citar apenas “relação de trabalho” é fla-
grante avanço de mentalidade diante da equivoca-
da expressão “justas relações de trabalho”, a qual
implicava num forçado juízo de valor. O favoreci-
mento do bem-estar referido pelo inciso IV do ar-
tigo 186 da Constituição Federal é bem mais amplo
que a expressão contida no artigo 2º do Estatuto
da Terra, a qual se referia apenas aos trabalhadores
daquela propriedade concretamente considerada
“que nela labutam”; essa limitação caiu por terra,
pois agora a referência é aos trabalhadores em ge-
ral, inclusive os que nela labutam.
A Lei 8.629/93, em seus artigos 6º e 9º, re-
gulamentou os critérios e graus de exigência relati-
vos à utilização e eficiência na exploração da terra,
para que se cumpra sua função social, em face dos
requisitos do artigo 186º da Constituição Federal de
1988, como seguem:
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Artigo 6º- Considera-se propriedade produtiva
aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,
simultaneamente, graus de utilização da terra e de efici-
ência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão
federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito
do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percen-
tual entre a área efetivamente utilizada e a área apro-
veitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra
deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e
será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I - para os produtos vegetais, divide-se a quanti-
dade colhida de cada produto pelos respectivos índices de
rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder
Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
II - para a exploração pecuária, divide-se o nú-
mero total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo
índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do
Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos
incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente
utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau
de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:
I - as áreas plantadas com produtos vegetais;
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas,
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observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixa-
do pelo Poder Executivo;
III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou
florestal, observados os índices de rendimento estabeleci-
dos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental;
IV - as áreas de exploração de florestas nativas,
de acordo com plano de exploração e nas condições estabe-
lecidas pelo órgão federal competente;
V - as áreas sob processos técnicos de formação
ou recuperação de pastagens ou de culturas permanen-
tes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas,
mediante documentação e Anotação de Responsabilida-
de Técnica. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.183-56, de 2001
§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de cul-
turas, considera-se efetivamente utilizada a área total do
consórcio ou intercalação.
§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com
um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efeti-
vamente utilizada a maior área usada no ano considerado.
§ 6º Para os produtos que não tenham índices de
rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com
esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso
I do § 2º deste artigo.
§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade
produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso
fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente con-
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duzida, devidamente comprovados pelo órgão competente,
deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de efici-
ência na exploração, exigidos para a espécie.
§ 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes
ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus
de utilização e de eficiência na exploração, conforme o
disposto no artigo 49º da Lei nº 4.504, de 30 de novem-
bro de 1964.
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§ 3º Considera-se preservação do meio am-
biente a manutenção das características próprias do
meio natural e da qualidade dos recursos ambientais,
na medida adequada à manutenção do equilíbrio eco-
lógico da propriedade e da saúde e qualidade de vida
das comunidades vizinhas.
§ 4º A observância das disposições que regulam
as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis
trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às
disposições que disciplinam os contratos de arrendamento
e parceria rurais.
§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos
proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o
atendimento das necessidades básicas dos que trabalham
a terra, observa as normas de segurança do trabalho e
não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.
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3.1. TERRAS PÚBLICAS E TERRAS
PARTICULARES
56
a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser
alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos
a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legal-
mente pela entidade a cuja administração pertencerem.
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oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que conte-
nham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afeta-
das ao serviço público e a unidade ambiental federal, e
as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continen-
tal e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios
arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Es-
tados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a
órgãos da administração direta da União, participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica
e de outros recursos minerais no respectivo território, pla-
taforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
§ 2º - A faixa de até cento e cinqüenta quilôme-
tros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, desig-
nada como faixa de fronteira, é considerada fundamental
para defesa do território nacional, e sua ocupação e utili-
zação serão reguladas em lei.
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
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I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na for-
ma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que
estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio
da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes
à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
as da União.
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e interesse social (art. 5º, XXV, da Constituição
Federal); jazidas, minas e demais recursos minerais
(art. 176); desapropriação de imóvel rural para Re-
forma Agrária (art. 184, d);
b) Restrições Administrativas, como proteção ao
patrimônio histórico e artístico nacional, através de tom-
bamentos; leis edilícias que limitam o direito à construção
(plano diretor das cidades); etc;
c) Restrições de Natureza Militar, por exem-
plo: requisição de bens móveis e imóveis necessários às
Forças Armadas e à defesa da população (Dec.- lei nº
5.451/43); restrições às transações de imóveis nas faixas
de fronteira (Dec.- lei nº 6.430/44), etc;
d) Restrições destinadas a proteger a lavoura, co-
mércio ou indústria;
e) Limitações decorrentes das leis eleitorais, como
requisições de prédios para instalação de locais de vota-
ção; e limitações baseadas no interesse privado, tais como:
direitos de vizinhança; restrições quanto ao uso da pro-
priedade (arts. 186 e 188 do Código Civil);
f) Limitações similares às servidões; passagem for-
çada; passagem de cabos elétricos e tubulações (art. 1.286
do Código Civil); águas; limites entre prédios; direito de
tapagem (art. 1.297 do CC) e; direito de construir.
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justamente em resposta aos clamores do mo-
mento histórico vivido no país.
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situasse dentro dos limites territoriais do Império,
sem cultura, aproveitamento, sem exploração, não
possuída e desabitada.
As demais terras apossadas e não tituladas,
deveriam obter regularização pela forma fixada na
Lei e no Regulamento, sempre provada a exigência
dupla da cultura efetiva e morada habitual.
Um instituto genuinamente brasileiro onde
a definição é por exclusão; Na Constituição de 1891
transferiu aos Estados as terras devolutas, ficando
reservadas à União apenas as áreas destinadas à defe-
sa das fronteiras, fortificações, construções militares
e estradas de ferro, e terrenos de marinha.
O Decreto-lei nº 2.375/87 trouxe o con-
ceito de não serem devolutas as terras que even-
tualmente tenham sido arrecadadas ou discrimina-
das e matriculadas em nome da União por força
do Decreto-Lei nº 1.164 /71 (faixa de 100 km às
margens das rodovias citadas).
Constatamos na atualidade em nossa Cons-
tituição Federal de 1988 em seus artigos 20º e 225º,
parágrafo 5º, o que segue:
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Art. 188. A destinação de terras públicas e de-
volutas será compatibilizada com a política agrícola e com
o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer
título, de terras públicas com área superior a dois mil e
quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que
por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.
§ 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo an-
terior as alienações ou as concessões de terras públicas
para fins de reforma agrária
Art. 225 § 5º - São indisponíveis as terras de-
volutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discrimi-
natórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
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habitual, bem como para incorporar ao patrimônio pú-
blico as terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e
as que se encontrarem desocupadas
§ 1º Através de convênios, celebrados com os Es-
tados e Municípios, iguais poderes poderão ser atribuídos
ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, quanto às
terras devolutas estaduais e municipais, respeitada a le-
gislação local, o regime jurídico próprio das terras situa-
das na faixa da fronteira nacional bem como a atividade
dos órgãos de valorização regional.
§ 2º Tanto quanto possível, o Instituto Brasileiro
de Reforma Agrária imprimirá ao instituto das terras
devolutas orientação tendente a harmonizar as peculiari-
dades regionais com os altos interesses do desbravamento
através da colonização racional visando a erradicar os
males do minifúndio e do latifúndio.
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3.3 REGISTROS PÚBLICOS
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de agosto de 2001, com seus dispositivos, e, conse-
quentemente, os efeitos modificativos ocorridos na
matrícula do imóvel rural.
Dentro de um breve histórico sobre a matrí-
cula, seu conceito e sua natureza jurídica no direito
brasileiro, um paralelo da matrícula do imóvel rural
antes e depois da Lei nº 10.267/01 e, obviamente, as
conclusões finais.
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tularidade da propriedade, pois, apesar de o imóvel
estar matriculado, o registro poderá ser retificado ou
anulado, conforme artigo 216º da Lei nº 6.015/73,
como segue:
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Imóveis por via reflexa, uma vez que os lançamentos
feitos por ordem cronológica e os índices eram orga-
nizados tendo em consideração mais os nomes das
pessoas do que propriamente os imóveis.
Assim, se houvesse em um mesmo título a
transmissão de vários imóveis, o lançamento efetua-
do no registro “a transcrição” era uma só, em nome
da pessoa adquirente, então, efetuava-se um só as-
sentamento, um só registro, apesar de serem vários
imóveis, objeto da transmissão ou da alienação.
Evidentemente, a mudança na técnica regis-
tral teria que ser efetuada tendo por base o imóvel,
daí a razão do princípio da unitariedade, consagra-
do no artigo 176º, parágrafo 1º, inciso I, da Lei nº
6.015/73, de Registros Públicos, como segue: “I -
cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por oca-
sião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;”
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O ilustre professor Afrânio de Carvalho nos
diz o seguinte:
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sua natureza jurídica, podemos nos perguntar se a
matrícula seria apenas um ato puramente cadastral,
pois individualiza, caracteriza e representa minucio-
samente o imóvel ou um ato jurídico.
Novamente, o ilustre professor Afrânio de Car-
valho, em sua obra Registro de Imóveis, definiu a nature-
za jurídica da matrícula, nos dando a seguinte lição:
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ser ato jurídico de aquisição da propriedade.
[...]
Ao entender a matrícula como primeira inscri-
ção, ao invés de deixá-la solta no mundo da irrelevância,
dá-se-lhe o único significado que ela pode assumir para
tornar útil todo o contexto da lei registral. Não há motivo
para duvidar do seu caráter jurídico, porque é ela que de-
fine, em toda a sua extensão, modalidades e limitações, a
situação jurídica do imóvel. Sendo, na essência, a mesma
transcrição, evolvida e atualizada sob nova forma para
adaptação ao livro estruturado pelo sistema real, conserva
a natureza jurídica com que surgiu.
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Podemos verificar que os possíveis registros
e averbações terão como sustentação a matrícula.
Certamente, não foi por acaso que o legislador a
mencionou no caput do artigo ora comentado.
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ção: (Redação dada pela Lei n. 10.267, de 2001)
a - se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR, da denominação e de suas característi-
cas, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei
n. 10.267, de 2001)
b – [...]
4) o nome, domicílio e nacionalidade do proprie-
tário, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
5) o número do registro anterior;
III - são requisitos do registro no Livro nº 2:
a data;
o nome, domicílio e nacionalidade do transmiten-
te, ou do devedor, e do adquirente, ou credor, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou, à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
3) o título da transmissão ou do ônus;
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4) a forma do título, sua procedência e caracterização;
5) o valor do contrato, da coisa ou da dívida,
prazo desta, condições e mais especificações, inclusive os
juros, se houver.
§ 2º [...]
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcela-
mento ou remembramento de imóveis rurais, a identifi-
cação prevista na alínea a do item 3 do inciso II do §
1o será obtida a partir de memorial descritivo, assinado
por profissional habilitado e com a devida Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordena-
das dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais,
geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com
precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida
a isenção de custos financeiros aos proprietários de imó-
veis rurais cuja somatória da área não exceda a quatro
módulos fiscais. (Incluído pela Lei nº 10.267, de 2001)
§ 4o A identificação de que trata o § 3o tornar-
-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fi-
xados por ato do Poder Executivo. (Incluído pela Lei n.
10.267, de 2001)
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registro; conterá o número de ordem, que seguirá ao
infinito; a data; a identificação do imóvel; o nome,
domicílio e nacionalidade do proprietário e o núme-
ro do registro anterior.
Também no livro nº 2, os requisitos do re-
gistro são: a data; o nome, domicílio e nacionalidade
do transmitente, ou do devedor, e do adquirente, ou
credor; o título de transmissão ou do ônus; a forma
do título, sua procedência e caracterização; o valor do
contrato, da coisa ou da dívida, prazo desta, condições
e mais especificações, inclusive juros, se houver.
A redação que foi acrescentada ao artigo 176º
da Lei nº 6.015/73, com o advento da Lei nº 10.267/01.
Como requisitos da matrícula, o número 3, letra “a” do
artigo 176º, tratou da identificação do imóvel, que será
feita com indicação:“a) se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural), da denominação
e de suas características, confrontações, localização e área; [...]”
A redação acima nos remete às cautelas que
devem ser tomadas quanto à identificação do imóvel
rural na matrícula, constando código próprio do re-
ferido bem, dados do CCIR, denominação, caracte-
rísticas e confrontações, localização por município,
comarca e a área em hectares e seus submúltiplos.
No parágrafo abaixo, a situação fica ain-
da mais complexa quando trata da identificação do
imóvel rural nos casos de desmembramento, parce-
lamento ou remembramento:
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§ 3o Nos casos de desmembramento, parcelamento
ou remembramento de imóveis rurais, a identificação pre-
vista na alínea a do item 3 do inciso II do § 1o será obtida
a partir de memorial descritivo, assinado por profissional
habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices de-
finidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas
ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional
a ser fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos
financeiros aos proprietários de imóveis rurais cuja somató-
ria da área não exceda a quatro módulos fiscais.
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Os dados são do INCRA, conforme pode ser
verificado no endereço eletrônico www.incra.gov.br (Sis-
tema Público de Registro de Terras - Lei 10.267/01),
demonstrando que o estado do Mato Grosso é o pio-
neiro em quantidade de imóveis já certificados pelo
novo sistema, seguido de São Paulo e Bahia. Em Mi-
nas Gerais, não consta nenhum lançamento georrefe-
renciado na base de dados do Incra.
Outro dado importante é que se o sistema
visa ao confronto exato dos imóveis certificados e
suas respectivas matrículas, contudo, nos dados infor-
mados pelo Incra, o código correspondente à matrí-
cula encontra-se sem o devido preenchimento, cau-
sando insegurança quanto ao objetivo do sistema.
Quanto à garantia de isenção de custos fi-
nanceiros aos proprietários de imóveis rurais, cuja
somatória da área não exceda a quatro módulos fis-
cais, o legislador, data vênia, não estipulou quem ar-
cará com os custos advindos de tal procedimento.
No parágrafo 4º, quando se atrelou o geore-
ferenciamento a qualquer situação de transferência
do direito real sobre o imóvel rural, a obrigatorie-
dade de sua identificação, com os prazos fixados no
artigo 10 do Decreto Federal nº 4.449/2002, sendo
que o último prazo, previsto no inciso IV, expiraria
em outubro de 2005, obviamente, concluímos que
todos os imóveis deveriam, até tal data, estar devida-
mente identificados pelo novo sistema, sob pena do
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total engessamento dos negócios jurídicos imobiliá-
rios, junto ao registro competente.
Tal afirmativa pode ser confirmada pela leitura
do texto legal abaixo: “§ 4o A identificação de que trata o §
3o tornar-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fixados por
ato do Poder Executivo”
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Capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA
A
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA de imóveis
passíveis de intervenção para correção do re-
gime de uso e posse da terra veio regularizada
pela Lei n.º 4.504, de 1964, identificando: Minifúndio,
Empresa Rural, Latifúndio por Exploração, Latifúndio
por Dimensão. E o que se observa na atualidade com a
Lei n.º 8.629, de 1993, é a definição de pequena proprie-
dade; média propriedade; propriedade produtiva.
O Estatuto da Terra Lei n.º 4.504/64 em
seu artigo 4.º, inciso II, define como “Propriedade
Familiar” o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva
toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistên-
cia e o progresso social e econômico, com área má-
xima fixada para cada região e tipo de exploração e,
eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros.
Nesse contexto, temos o conceito de mó-
dulo rural que é derivado do conceito de pro-
priedade familiar, e, é uma unidade de medida
79
expressa em hectares, que busca exprimir a in-
terdependência entre a dimensão, a situação geo-
gráfica dos imóveis rurais e a forma e condições
do seu aproveitamento econômico.
O Módulo Rural, atualmente, é utilizado para
definir os limites da dimensão dos imóveis rurais no
caso de aquisição por pessoa física estrangeira, resi-
dente no País. Neste caso, utiliza-se como unidade
de medida o módulo de exploração indefinida.
O Módulo Fiscal é uma unidade de medida
expressa em hectares, fixada para cada município,
considerando os seguintes fatores: tipo de explora-
ção predominante no município; renda obtida com
a exploração predominante; outras explorações exis-
tentes no município que, embora não predominan-
tes, sejam significativas em função da renda ou da
área utilizada; e conceito de propriedade familiar.
Em sua aplicação, serve de parâmetro para
classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na
forma da Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Pe-
quena Propriedade – o imóvel rural de área compre-
endida entre 1(um) e 4(quatro) módulos fiscais; Média
Propriedade - o imóvel rural de área de área superior
a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. Serve
também de parâmetro para definir os beneficiários do
PRONAF (pequenos agricultores de economia fami-
liar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou ar-
rendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais).
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A diferença entre Módulo Rural e Módulo
Fiscal, esta que no Módulo Rural é calculado para
cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o
tipo de exploração predominante no imóvel rural,
segundo sua região de localização e já no Módulo
Fiscal por sua vez é estabelecido para cada municí-
pio, e procura refletir a área mediana dos Módulos
Rurais dos imóveis rurais do município.
As normas que estabelecem procedimentos
para atualização cadastral de imóveis rurais sob Pro-
cesso de Fiscalização Cadastral são as seguintes:
81
especial seus artigos 1.º e 2.º, que determinam
o cancelamento seguido de recadastramento no
SNCR dos imóveis rurais com área igual ou supe-
rior a 10.000,0 ha. As normas citadas nos itens a),
e e) encontram-se disponíveis no site do INCRA.
Aquelas citadas nos itens b) e c) tratam de pro-
cedimentos internos da Autarquia e possuem dis-
ponibilizadas no site as informações de interesse
direto do público externo sob o título do “Livro
Branco da Grilagem de Terras no Brasil”, onde
se encontra a documentação necessária para reca-
dastramento dos imóveis rurais no SNCR, com as
“Instruções para comprovação de dados” e “Ins-
truções para elaboração do Laudo Técnico”.
82
4.1. CADASTRO RURAL
83
O Estatuto da Terra que deu ensejo a
criação do Cadastro de Imóveis Rurais, onde o
primeiro levantamento foi feito em 1966 com
foco no zoneamento agrário, Políticas de Refor-
ma e desenvolvimento agrário visualizando a tri-
butação da terra.
Diante das necessidades que foram surgindo
para o controle agrário, surge ainda a Lei n.º. 5.868,
de 12 de dezembro de 1972 que cria o Sistema Na-
cional Cadastro Rural, sendo seus primeiros recadas-
tramentos feitos em 1972, 1978 e 1992 e o ponto
primordial Focado na Tributação da Terra até 1990,
seguido das implementações nas políticas de Refor-
ma Agrária, após 1984.
A Lei n.º. 10.267, de 28 de agosto de 2001,
cria a integração entre Cadastros Públicos de Imó-
veis Rurais – CNIR, com vinculação ao Serviço
de Registro Imobiliário, onde há troca de infor-
mações entre o Incra e Cartórios para o controle
sobre os imóveis públicos e privados, observando
a sobreposição e legalidade dos documentos ini-
bindo os fraudadores (grilagem).
A Lei citada que cria o Sistema Público de
Registro de Terras, estreitando o vínculo entre o ca-
dastro nacional de imóveis rurais (Incra) e o registro
imobiliário (sistema cartório), exige a apresentação
de planta georreferenciada do imóvel rural, para que
qualquer transação imobiliária possa ser efetivada
84
pelo sistema cartorário, plantas essas elaboradas se-
gundo padrão estabelecido pelo Incra.
Os objetivos sempre foram os de caracteri-
zação do domínio e uso da terra, incluindo títulos
de domínio, natureza da posse, localização geográfi-
ca, área com descrição das linhas de divisas e nome
dos respectivos confrontantes, dentre outras medi-
das necessárias para a demarcação, identificando, em
alguns casos, grupamento dos vários imóveis rurais
que pertenciam a um único proprietário. Este Cer-
tificado de Cadastro de Imóveis Rurais (documento
expedido pelo INCRA e que não faz prova de pro-
priedade ou de direitos a ela relativos).
85
Cabe ao Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária, atualmente Instituto Nacional de Colo-
nização e Reforma Agrária – INCRA, promover
estudos para o zoneamento do Brasil, em regiões
homogêneas, precisamente quanto às caracterís-
ticas da estrutura agrária e socioeconômica, onde
o Estatuto da Terra, em seu artigo 43.º, vem vi-
sando definir como segue:
86
4.3. ELEMENTOS DO ZONEAMENTO
RURAL
87
I - estabelecer as diretrizes da política agrária a
ser adotada em cada tipo de região;
II - programar a ação dos órgãos governamentais,
para desenvolvimento do setor rural, nas regiões delimita-
das como de maior significação econômica e social.
88
a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e
da forma de administração;
c) da localização geográfica;
d) da área com descrição das linhas de divisas e
nome dos respectivos confrontantes;
e) das dimensões das testadas para vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equi-
pamentos e das instalações existentes discriminadamente;
[...]
III - condições da exploração e do uso da ter-
ra, indicando:
a) as percentagens da superfície total em cerrados,
matas, pastagens, glebas de cultivo (especificadamente em
exploração e inexplorados) e em áreas inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de
proteção e comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com
discriminação de arrendatários, parceiros e traba-
lhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o
grau de mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à pro-
dução obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos pro-
dutos agropecuários.
89
Lembrando que se deve observar a forma
indicada no regulamento (Decreto n.º 55.891/65).
A obrigatoriedade da atualização do cadas-
tro se dá pela inclusão de novos imóveis rurais e pela
alteração das condições físicas e de exploração dos
referidos imóveis rurais a cada 5 anos.
Os certificados serão emitidos com a de-
claração de “Provisório” ou “ Definitivo”, res-
pectivamente nos casos em que tenha ou não
havido exigência de documentação adicional aos
dados fornecidos.
Aquele que se utilizar, de forma fraudulen-
ta do certificado de cadastro expedido pelo INCRA
será punido, segundo a Lei n.º 4.947/66, que em seu
artigo 19.º defini o que segue:
90
4.5. - TRIBUTAÇÃO RURAL
91
50.º do referido Estatuto e foi regulamentada pelo
Decreto n.º 84.685/80, como segue:
92
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas
de forma a desestimular a manutenção de propriedades
improdutivas; (Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003)
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais,
definidas em lei, quando as explore o proprietário que
não possua outro imóvel; (Incluído pela Emenda Consti-
tucional n.º 42, de 19.12.2003)
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios
que assim optarem, na forma da lei, desde que não im-
plique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal.(Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003) (Regulamento)
93
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo
Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158
e 159, efetivamente realizado no exercício anterior. (Incluído
pela Emenda Constitucional n.º 25, de 2000)
94
Retroagindo, quando o lançamento e a arre-
cadação do ITR estavam a cargo do INCRA, o re-
passe aos municípios da situação do imóvel era de
80%, sendo que o órgão arrecadador retinha 20% do
produto para ressarcir as despesas.
95
cumentos que expede se a tributação sobre a terra
esta sendo feita a título de propriedade, ou domínio
útil, ou posse a qualquer título e face ao interesse
público e social subjacente decorrente dos seus efei-
tos extrafiscais e fazer incidir em todas as suas con-
sequências as normas contidas na Lei n.º 4.947/66,
artigo 22.º e do Decreto n.º 56.792/65, artigo 55.º.
É contribuinte do Imposto Territorial Ru-
ral “elemento pessoal, subjetivo”, o proprietário do
imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu pos-
suidor a qualquer título.
Para que se estabeleça a relação jurídica tri-
butária é necessário que ocorram todos os aspectos
ou elementos objetivos ou subjetivos que a lei define
de forma expressa ou implícita.
Quanto ao direito tributário e financeiro, há
institutos com os quais o agrarista trabalha, o capítulo
sobre tributação da terra, estabelecido no artigo 47.º
do Estatuto, o lançamento e cobrança dos tributos.
O Imposto Territorial Rural (ITR), de com-
petência da União, incidente sobre imóvel, por natu-
reza, fora da zona urbana do município, tem como
base de cálculo o valor fundiário. Este tributo cons-
titui objeto de estudo do tributarista e do estudioso
do Direito Agrário, visto como as normas para a sua
fixação estão previstas no Estatuto da Terra.
A propósito, preceitua o artigo 49.º caput e
seus incisos, I, II, III, IV, V, VI, VII, como segue:
96
Art. 49 - As normas gerais para a fixação do
imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão
a critérios de progressividade e regressividade, levando-se
em conta os seguintes fatores:
I - os valores da terra e das benfeitorias do imóvel;
II - a área e dimensões do imóvel e das glebas de
diferentes usos;
III - a situação do imóvel em relação aos elemen-
tos do inciso II do art. 46;
IV - as condições técnicas e econômicas de explo-
ração agropecuária industrial;
V - a natureza de posse e as condições de contra-
tos e arrendatários, parceiros e assalariados;
VI - a classificação das aterras e suas formas de
uso e rentabilidade;
VII - a área total agricultável do conjunto de
imóveis rurais de um mesmo proprietário no País.
97
fato gerador a propriedade, o domínio útil ou
a posse de imóvel por natureza, localizado fora da
zona urbana do município, em 1.º de janeiro de cada ano.
98
Da mesma forma, existem situações que di-
zem respeito não à imunidade, mas à isenção tribu-
tária do Imposto Territorial Rural (ITR). Essas situa-
ções encontram-se relacionadas nos incisos I e II do
artigo 3.º da Lei n.º 9.393 /96, como segue:
99
incisos do artigo 10.º da referida Lei, que se consti-
tuem em condições relativas à exclusão da base de
cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR).
Nesse sentido, as alíneas “a”, “b”, “c”, “d”,
e “e”, do inciso II, do art. 10 da Lei n.º 9.393/96 di-
zem respeito à proteção ambiental. Como pode ser
observado, apenas uma das alíneas, ou seja, a alínea
“f ”, não diz respeito, diretamente, à proteção am-
biental. Tudo, em consonância com o que dispõe o
inciso II, do artigo 186.º da Constituição Federal.
Considerando a referida exclusão da base de
cálculo, podemos observar que se trata de um pri-
vilégio aos contribuintes desse tributo. Trata-se de
um direito não apenas do contribuinte, mas de todos
os brasileiros, uma vez que, efetivamente cumprida
a destinação dessas áreas, o meio ambiente poderá
ser protegido.
Exemplos referentes a esse tema são as deno-
minadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e
da denominada Reserva Legal Florestal (RLF).
Da mesma forma que para as Áreas de Pre-
servação Permanente (APPs), basta existir a proprie-
dade rural para que se tenha a Reserva Legal Flores-
tal; muito embora exista, nesse caso, a necessidade
de que o proprietário rural faça a respectiva averba-
ção dessa RLF na matrícula do imóvel.
Qualquer que seja a situação, Área de Pre-
servação Permanente (APP) ou Reserva Legal Flo-
100
restal (RLF), tem-se uma limitação ao direito de pro-
priedade ditada única e tão somente pela Lei.
Assim, uma vez que o proprietário não
terá condições de se utilizar de tais áreas, o legisla-
dor os isenta da incidência do Imposto Territorial
Rural (ITR), tanto para não onerá-lo, como para
ser efetivamente possível proteger os recursos
ambientais lá existentes.
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