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Selma Freitas

Direito Ambiental

Direito Agrario
Capítulo 3
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

A
ORIGEM E O FUNDAMENTO JU-
RÍDICO do princípio da função social da
propriedade da terra têm por marco inicial a
Emenda Constitucional nº 10, de Novembro de 1964,
à Constituição Federal de 1946, sendo que logo depois
adveio a legislação ordinária “Estatuto da Terra”, regula-
mentando a alteração constitucional.
Além do ordenamento jurídico, os fatores
sociais e econômicos contribuiriam na evolução
do direito de propriedade, assim, a Constituição de
1988 adotou o novo critério, que era reclamado pe-
los setores mais evolvidos da sociedade, e também
adicionou direito de propriedade e a sua função so-
cial, conforme previsto no artigo 5º, incisos XXII,
XXIII e XXIV, como seguem:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito

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à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a proprie-
dade, nos termos seguintes:
XXII- é garantido o direito de propriedade;
XXIII- A propriedade atenderá a sua função social;
XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou
por interesse social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição.

Entre outros; artigo 170º, inciso III o con-


ceito de justiça social foi inserido no conteúdo da
ordem econômica:

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na


valorização do trabalho humano e na livre iniciati-
va, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:
III - função social da propriedade.

Em se tratando de matéria constitucional,


cabe registrar que se exteriorizaram os limites da
matéria, como segue:
• ficou mantida a função social da propriedade;
• direito de propriedade passou a direito e
garantia individual a direito e garantia fundamental;

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• foi estabelecida, no caso de desapropria-
ção, a prévia indenização em dinheiro.

Devemos deixar evidente que o inciso XXIV


trouxe a garantia do instituto tradicional do “Bem
de família ao imóvel rural”, ocupado pelo produtor,
onde ele reside com seus familiares e esteja explo-
rando em regime de economia familiar:
• ficou estabelecida a impenhorabilidade da
pequena propriedade rural.

Os requisitos, para o efetivo cumprimento


da função social da propriedade, encontram-se es-
tabelecidos na Constituição Federal, em seu artigo
186º que dispõe:

Art. 186. A função social é cumprida quando a


propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e
graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as
relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.

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Comparando o texto constitucional de 1988
com o artigo 2º, parágrafo 1º, do Estatuto da Terra,
não se pode negar alguma similaridade, apenas in-
dicando uma derivação ou influência decorrente de
experiências da legislação ordinária do regime ante-
rior que restou repristinada na nova ordem, como
vemos a seguir:

Artigo 2º, E.T.- É assegurada a todos a opor-


tunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada
pela sua função social, na forma prevista nesta Lei
§ 1º A propriedade da terra desempenha inte-
gralmente a sua função social quando, simultaneamente
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos tra-
balhadores que nela labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as jus-
tas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.

A nova visão jurídica redigida é tenua-


mente mais vantajosa em relação à anterior. A
inversão da ordem não implica reordenação da
relevância, porque o requisito da simultaneidade
continua presente.
Referir-se ao aproveitamento racional e ade-
quado se apresenta como mais razoável do que ape-

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nas demonstrar níveis satisfatórios de produtividade,
pois esta pode existir e o aproveitamento não ser ra-
cional nem adequado.
Mencionar meio ambiente é, de longe, mais
abrangente do que apenas recursos naturais. Embo-
ra a disposição anterior fosse mais conservacionista
que a da Constituição Federal de 1988, o sentido é o
de utilizar adequadamente os recursos naturais ainda
disponíveis, o que pode gerar dúbias interpretações.
Citar apenas “relação de trabalho” é fla-
grante avanço de mentalidade diante da equivoca-
da expressão “justas relações de trabalho”, a qual
implicava num forçado juízo de valor. O favoreci-
mento do bem-estar referido pelo inciso IV do ar-
tigo 186 da Constituição Federal é bem mais amplo
que a expressão contida no artigo 2º do Estatuto
da Terra, a qual se referia apenas aos trabalhadores
daquela propriedade concretamente considerada
“que nela labutam”; essa limitação caiu por terra,
pois agora a referência é aos trabalhadores em ge-
ral, inclusive os que nela labutam.
A Lei 8.629/93, em seus artigos 6º e 9º, re-
gulamentou os critérios e graus de exigência relati-
vos à utilização e eficiência na exploração da terra,
para que se cumpra sua função social, em face dos
requisitos do artigo 186º da Constituição Federal de
1988, como seguem:

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Artigo 6º- Considera-se propriedade produtiva
aquela que, explorada econômica e racionalmente, atinge,
simultaneamente, graus de utilização da terra e de efici-
ência na exploração, segundo índices fixados pelo órgão
federal competente.
§ 1º O grau de utilização da terra, para efeito
do caput deste artigo, deverá ser igual ou superior a
80% (oitenta por cento), calculado pela relação percen-
tual entre a área efetivamente utilizada e a área apro-
veitável total do imóvel.
§ 2º O grau de eficiência na exploração da terra
deverá ser igual ou superior a 100% (cem por cento), e
será obtido de acordo com a seguinte sistemática:
I - para os produtos vegetais, divide-se a quanti-
dade colhida de cada produto pelos respectivos índices de
rendimento estabelecidos pelo órgão competente do Poder
Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
II - para a exploração pecuária, divide-se o nú-
mero total de Unidades Animais (UA) do rebanho, pelo
índice de lotação estabelecido pelo órgão competente do
Poder Executivo, para cada Microrregião Homogênea;
III - a soma dos resultados obtidos na forma dos
incisos I e II deste artigo, dividida pela área efetivamente
utilizada e multiplicada por 100 (cem), determina o grau
de eficiência na exploração.
§ 3º Considera-se efetivamente utilizadas:
I - as áreas plantadas com produtos vegetais;
II - as áreas de pastagens nativas e plantadas,

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observado o índice de lotação por zona de pecuária, fixa-
do pelo Poder Executivo;
III - as áreas de exploração extrativa vegetal ou
florestal, observados os índices de rendimento estabeleci-
dos pelo órgão competente do Poder Executivo, para cada
Microrregião Homogênea, e a legislação ambiental;
IV - as áreas de exploração de florestas nativas,
de acordo com plano de exploração e nas condições estabe-
lecidas pelo órgão federal competente;
V - as áreas sob processos técnicos de formação
ou recuperação de pastagens ou de culturas permanen-
tes, tecnicamente conduzidas e devidamente comprovadas,
mediante documentação e Anotação de Responsabilida-
de Técnica. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.183-56, de 2001
§ 4º No caso de consórcio ou intercalação de cul-
turas, considera-se efetivamente utilizada a área total do
consórcio ou intercalação.
§ 5º No caso de mais de um cultivo no ano, com
um ou mais produtos, no mesmo espaço, considera-se efeti-
vamente utilizada a maior área usada no ano considerado.
§ 6º Para os produtos que não tenham índices de
rendimentos fixados, adotar-se-á a área utilizada com
esses produtos, com resultado do cálculo previsto no inciso
I do § 2º deste artigo.
§ 7º Não perderá a qualificação de propriedade
produtiva o imóvel que, por razões de força maior, caso
fortuito ou de renovação de pastagens tecnicamente con-

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duzida, devidamente comprovados pelo órgão competente,
deixar de apresentar, no ano respectivo, os graus de efici-
ência na exploração, exigidos para a espécie.
§ 8º São garantidos os incentivos fiscais referentes
ao Imposto Territorial Rural relacionados com os graus
de utilização e de eficiência na exploração, conforme o
disposto no artigo 49º da Lei nº 4.504, de 30 de novem-
bro de 1964.

Artigo 9º - A função social é cumprida


quando a propriedade rural atende, simultaneamen-
te, segundo graus e critérios estabelecidos nesta lei, os
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais
disponíveis e preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as
relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos
proprietários e dos trabalhadores.
§ 1º Considera-se racional e adequado o aprovei-
tamento que atinja os graus de utilização da terra e de
eficiência na exploração especificados nos §§ 1º a 7º do
art. 6º desta lei.
§ 2º Considera-se adequada a utilização dos re-
cursos naturais disponíveis quando a exploração se faz
respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter
o potencial produtivo da propriedade.

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§ 3º Considera-se preservação do meio am-
biente a manutenção das características próprias do
meio natural e da qualidade dos recursos ambientais,
na medida adequada à manutenção do equilíbrio eco-
lógico da propriedade e da saúde e qualidade de vida
das comunidades vizinhas.
§ 4º A observância das disposições que regulam
as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis
trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às
disposições que disciplinam os contratos de arrendamento
e parceria rurais.
§ 5º A exploração que favorece o bem-estar dos
proprietários e trabalhadores rurais é a que objetiva o
atendimento das necessidades básicas dos que trabalham
a terra, observa as normas de segurança do trabalho e
não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

Ressalta-se que o descumprimento aos


requisitos dos artigos 186º da Constituição Fe-
deral de 1988 ensejará a aplicação da sanção pre-
vista no artigo 184º da referida Carta Magna e do
artigo 2º, da Lei nº 8.629/93, isto é, a desapro-
priação do imóvel rural que não esteja cumprin-
do sua função social.

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3.1. TERRAS PÚBLICAS E TERRAS
PARTICULARES

O Código Civil brasileiro conceitua, diferen-


cia e estabelece em seus artigos 98º, caput e incisos
ao artigo 103º, respectivamente, os bens públicos
dos particulares, conforme segue:

Art. 98. São públicos os bens do domínio na-


cional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
interno; todos os outros são particulares, seja qual for a
pessoa a que pertencerem.
Art. 99. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, ma-
res, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou
terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da ad-
ministração federal, estadual, territorial ou municipal,
inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio
das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de
direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em con-
trário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado
estrutura de direito privado.
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo
e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem

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a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser
alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos
a usucapião.
Art. 103. O uso comum dos bens públicos pode
ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legal-
mente pela entidade a cuja administração pertencerem.

A Constituição Federal de 1988 estabelece


quais são os bens da União e dos Estados em seus
artigos 20º e 26º, respectivamente, como segue:

Art. 20. São bens da União:


I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe
vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa
das fronteiras, das fortificações e construções militares,
das vias federais de comunicação e à preservação ambien-
tal, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água
em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se es-
tendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limí-
trofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas

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oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que conte-
nham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afeta-
das ao serviço público e a unidade ambiental federal, e
as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continen-
tal e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios
arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Es-
tados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a
órgãos da administração direta da União, participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica
e de outros recursos minerais no respectivo território, pla-
taforma continental, mar territorial ou zona econômica
exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.
§ 2º - A faixa de até cento e cinqüenta quilôme-
tros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, desig-
nada como faixa de fronteira, é considerada fundamental
para defesa do território nacional, e sua ocupação e utili-
zação serão reguladas em lei.
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:

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I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na for-
ma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que
estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio
da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes
à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre
as da União.

Como vimos, as terras públicas pertencem ao


patrimônio público, que se constitui em terras pró-
prias e devolutas. Já as terras particulares são estabele-
cidas por exclusão, como trata o próprio Código Civil.
Não é suficiente o preenchimento de qual-
quer um dos requisitos para que a Propriedade Rural
cumpra a sua Função Social. É imprescindível que
todos os requisitos sejam satisfatoriamente preen-
chidos. Nessa esteira, segue o Código Civil, que em
seu artigo 1.228º e seus parágrafos, disseca os casos
de limitação do direito de propriedade.
Enumerando-se as limitações decorrentes
do interesse social, é possível classificá-las em:

a)Limitações Constitucionais, tais como: de-


sapropriações por necessidade ou utilidade públicas

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e interesse social (art. 5º, XXV, da Constituição
Federal); jazidas, minas e demais recursos minerais
(art. 176); desapropriação de imóvel rural para Re-
forma Agrária (art. 184, d);
b) Restrições Administrativas, como proteção ao
patrimônio histórico e artístico nacional, através de tom-
bamentos; leis edilícias que limitam o direito à construção
(plano diretor das cidades); etc;
c) Restrições de Natureza Militar, por exem-
plo: requisição de bens móveis e imóveis necessários às
Forças Armadas e à defesa da população (Dec.- lei nº
5.451/43); restrições às transações de imóveis nas faixas
de fronteira (Dec.- lei nº 6.430/44), etc;
d) Restrições destinadas a proteger a lavoura, co-
mércio ou indústria;
e) Limitações decorrentes das leis eleitorais, como
requisições de prédios para instalação de locais de vota-
ção; e limitações baseadas no interesse privado, tais como:
direitos de vizinhança; restrições quanto ao uso da pro-
priedade (arts. 186 e 188 do Código Civil);
f) Limitações similares às servidões; passagem for-
çada; passagem de cabos elétricos e tubulações (art. 1.286
do Código Civil); águas; limites entre prédios; direito de
tapagem (art. 1.297 do CC) e; direito de construir.

Em resumo, as leis já são abundantes e


bastante abrangentes sobre o tema e surgiram

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justamente em resposta aos clamores do mo-
mento histórico vivido no país.

3.2. TERRAS DEVOLUTAS

No ano de 1822, termina no Brasil o re-


gime das sesmarias, conforme Resolução de 17
de Julho, confirmada por previsão de D. Pedro I,
de 22 de outubro do ano seguinte, e iniciava se o
“regime de posses”.
No primeiro, o sesmeiro recebia o título
para depois trabalhar a terra; pela posse, o pos-
seiro iniciava a exploração da terra e, depois de
fazer as benfeitorias, legalizava a sua ação pelo
reconhecimento estatal da situação. Neste se-
gundo caso, com grande vantagem de conduzir
a exploração agrícola para a propriedade familiar
e não para latifúndio, pois o posseiro cultivava a
terra com seu próprio esforço e o de seus descen-
dentes pudesse realizar. E isto, não por virtude,
mas imposto pela necessidade e falta de recursos.
Essa forma de uso e possessão da terra vi-
gorou até 1850, quando foi promulgada, em 18 de
setembro, a Lei nº 601, a primeira lei de terras do
Brasil e nela veio especificado o que fossem as “ter-
ras devolutas”, deixando bem claro todas as que se

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situasse dentro dos limites territoriais do Império,
sem cultura, aproveitamento, sem exploração, não
possuída e desabitada.
As demais terras apossadas e não tituladas,
deveriam obter regularização pela forma fixada na
Lei e no Regulamento, sempre provada a exigência
dupla da cultura efetiva e morada habitual.
Um instituto genuinamente brasileiro onde
a definição é por exclusão; Na Constituição de 1891
transferiu aos Estados as terras devolutas, ficando
reservadas à União apenas as áreas destinadas à defe-
sa das fronteiras, fortificações, construções militares
e estradas de ferro, e terrenos de marinha.
O Decreto-lei nº 2.375/87 trouxe o con-
ceito de não serem devolutas as terras que even-
tualmente tenham sido arrecadadas ou discrimina-
das e matriculadas em nome da União por força
do Decreto-Lei nº 1.164 /71 (faixa de 100 km às
margens das rodovias citadas).
Constatamos na atualidade em nossa Cons-
tituição Federal de 1988 em seus artigos 20º e 225º,
parágrafo 5º, o que segue:

Art. 20. São bens da União:


II - as terras devolutas indispensáveis à defesa
das fronteiras, das fortificações e construções militares,
das vias federais de comunicação e à preservação ambien-
tal, definidas em lei;

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Art. 188. A destinação de terras públicas e de-
volutas será compatibilizada com a política agrícola e com
o plano nacional de reforma agrária.
§ 1º - A alienação ou a concessão, a qualquer
título, de terras públicas com área superior a dois mil e
quinhentos hectares a pessoa física ou jurídica, ainda que
por interposta pessoa, dependerá de prévia aprovação do
Congresso Nacional.
§ 2º - Excetuam-se do disposto no parágrafo an-
terior as alienações ou as concessões de terras públicas
para fins de reforma agrária
Art. 225 § 5º - São indisponíveis as terras de-
volutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discrimi-
natórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

No conceito da Lei nº 601/1850, pretendeu-


-se estremar o domínio público do particular; o IN-
CRA é o representante da União conforme constata-
mos no artigo 11º do Estatuto da Terra) como segue:

Artigo 11º - O Instituto Brasileiro de Reforma


Agrária fica investido de poderes de representação da
União, para promover a discriminação das terras devo-
lutas federais, restabelecida a instância administrativa
disciplinada pelo Decreto-Lei nº 9.760, de 5 de setembro
de 1946, e com autoridade para reconhecer as posses le-
gítimas manifestadas através de cultura efetiva e morada

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habitual, bem como para incorporar ao patrimônio pú-
blico as terras devolutas federais ilegalmente ocupadas e
as que se encontrarem desocupadas
§ 1º Através de convênios, celebrados com os Es-
tados e Municípios, iguais poderes poderão ser atribuídos
ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, quanto às
terras devolutas estaduais e municipais, respeitada a le-
gislação local, o regime jurídico próprio das terras situa-
das na faixa da fronteira nacional bem como a atividade
dos órgãos de valorização regional.
§ 2º Tanto quanto possível, o Instituto Brasileiro
de Reforma Agrária imprimirá ao instituto das terras
devolutas orientação tendente a harmonizar as peculiari-
dades regionais com os altos interesses do desbravamento
através da colonização racional visando a erradicar os
males do minifúndio e do latifúndio.

A Lei nº 6.383/76 prevê o procedimento


administrativo e procedimento judicial; sentença ho-
mologatória serve de título de proprietário para o re-
gistro imobiliário competente; tem caráter preferen-
cial e prejudicial em relação às ações em andamento,
que se refiram ao domínio ou à posse de imóveis
situados no todo, ou em parte, na área discriminada.

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3.3 REGISTROS PÚBLICOS

Em um primeiro momento, na história dos


registros públicos no Brasil, os registros das terras
passaram a ser efetuados no Vigário ou Registro Pa-
roquial, tendo valor até os dias atuais como prova da
posse e não como título de domínio.
A partir daí a aquisição da terra se fazia por
compra e registro. Pela mesma lei foi instituída a
ação discriminatória que trata do processo de sepa-
ração de terras públicas e particulares, que existe até
os dias atuais.
A partir da Lei de terras passamos a ter vá-
rias denominações para os proprietários e possuido-
res de terras, a saber:
• Proprietários legítimos, com seus direitos
oriundos de títulos de sesmarias cedidas e confirmadas;
• Possuidores com títulos de sesmarias, mas
sem confirmação, por inadimplência;
• Possuidores sem título hábil, que eram as
posses anteriores à lei de terras;
• E terras devolutas (devolvidas).

Acerca da criação da matrícula no registro


de imóveis, constatamos com o advento da chamada
Lei de Registros Públicos, Lei Federal nº 6.015, de
31 de dezembro de 1973, e ainda, recentemente, da
entrada em vigor da Lei Federal nº 10.267, de 28

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de agosto de 2001, com seus dispositivos, e, conse-
quentemente, os efeitos modificativos ocorridos na
matrícula do imóvel rural.
Dentro de um breve histórico sobre a matrí-
cula, seu conceito e sua natureza jurídica no direito
brasileiro, um paralelo da matrícula do imóvel rural
antes e depois da Lei nº 10.267/01 e, obviamente, as
conclusões finais.

3.4. HISTÓRICO DOS REGISTROS


PÚBLICOS

A matrícula nasceu do regime alemão, consi-


derado um sistema seguro, pois os imóveis são todos
cadastrados. Na Alemanha, existe a presunção iuris
et de iure do registro de propriedade do imóvel. No
sistema alemão, uma vez registrada a propriedade,
não se admite prova em contrário.
Tal afirmativa é perfeitamente compreensí-
vel, vez que a segurança no registro já se encontra
perfeitamente adaptada, oferecendo ao usuário dos
serviços a certeza de que quem adquirir um imóvel,
devidamente cadastrado, estará efetivando um negó-
cio insuscetível de ser invalidado posteriormente.
No sistema brasileiro a presunção é iuris
tantum, ou seja, admite-se prova em contrário da ti-

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tularidade da propriedade, pois, apesar de o imóvel
estar matriculado, o registro poderá ser retificado ou
anulado, conforme artigo 216º da Lei nº 6.015/73,
como segue:

Art. 216 - O registro poderá também ser retificado ou


anulado por sentença em processo contencioso, ou por efeito do
julgado em ação de anulação ou de declaração de nulidade de
ato jurídico, ou de julgado sobre fraude à execução. (Renumera-
do do art. 217 com nova redação pela Lei nº 6.216, de 1975).

No Brasil, antes do advento da Lei nº


6.015/73, não existia a figura da matrícula no Servi-
ço de Registro Imobiliário. Os registros eram feitos
no fólio pessoal, ou seja, todas as transações eram
registradas em nome da pessoa, não havendo separa-
ção quanto à unidade imobiliária em livro de registro
manuscrito por folha. O foco era a pessoa, e não o
imóvel, junto ao Registro Imobiliário.
Depois da Lei de Registros Públicos, passou-
-se a realizar os atos imobiliários no fólio real, que é a
matrícula como sinônimo de fólio real, que encerra as
inscrições a ele endereçadas à unidade predial. O foco
passou a ser o patrimônio devidamente individualizado.
No sistema vigente anterior à Lei nº
6.015/73, transcrevia-se o título e não propriamente
os imóveis. Estes só eram inseridos no Registro de

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Imóveis por via reflexa, uma vez que os lançamentos
feitos por ordem cronológica e os índices eram orga-
nizados tendo em consideração mais os nomes das
pessoas do que propriamente os imóveis.
Assim, se houvesse em um mesmo título a
transmissão de vários imóveis, o lançamento efetua-
do no registro “a transcrição” era uma só, em nome
da pessoa adquirente, então, efetuava-se um só as-
sentamento, um só registro, apesar de serem vários
imóveis, objeto da transmissão ou da alienação.
Evidentemente, a mudança na técnica regis-
tral teria que ser efetuada tendo por base o imóvel,
daí a razão do princípio da unitariedade, consagra-
do no artigo 176º, parágrafo 1º, inciso I, da Lei nº
6.015/73, de Registros Públicos, como segue: “I -
cada imóvel terá matrícula própria, que será aberta por oca-
sião do primeiro registro a ser feito na vigência desta Lei;”

3.5. CONCEITO DE MATRÍCULA NO


DIREITO BRASILEIRO

Para Walter Ceneviva, em sua obra Lei dos


Registros Públicos a matrícula é: “A inscrição numerada
seqüencialmente do imóvel, praticada sob responsabilidade do
oficial do serviço de registro imobiliário, que o identifica e espe-
cifica, situado no território de sua atribuição legal”.

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O ilustre professor Afrânio de Carvalho nos
diz o seguinte:

A matrícula recebe um número, correspondente à


sua posição cronológica, com o qual se distingue de qualquer
outra, e deve ter um teor em forma narrativa, mas abreviada,
que satisfaça sua finalidade, que é individualizar o imóvel e
o seu proprietário. Tendo por estremas o objeto e o titular do
direito real, abrange dados individualizadores de um e de
outro. Tanto o imóvel como o proprietário hão de ser descritos
precisamente, sem que reste dúvida sobre a sua identidade,
declinando-se, por fim, o vínculo ou título que prende o pri-
meiro ao segundo, vale dizer, o número de registro anterior.

Deste modo, a matrícula é a representação


minuciosa do imóvel nos livros do Registro de Imó-
veis, descrita de maneira que não se confunda com
nenhuma outra. É ato individualizado com todos os
seus caracteres.

3.6. NATUREZA JURÍDICA DA MATRÍCULA

Sobre o conceito de matrícula nos depara-


mos com as expressões: individualização, caracteres,
representação minuciosa etc. Daí, para verificarmos

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sua natureza jurídica, podemos nos perguntar se a
matrícula seria apenas um ato puramente cadastral,
pois individualiza, caracteriza e representa minucio-
samente o imóvel ou um ato jurídico.
Novamente, o ilustre professor Afrânio de Car-
valho, em sua obra Registro de Imóveis, definiu a nature-
za jurídica da matrícula, nos dando a seguinte lição:

Como se sabe, a matrícula se transfere do antigo


livro de transmissões (livro nº. 3), onde existe de certo
modo com o nome de transcrição, para o novo livro de
registro geral, onde passa a existir de modo diverso com o
nome de matrícula. Ali o ato se apresentava numa folha
coletiva, destinada a uma pluralidade de imóveis, sendo
os seus dados destacados em colunas, ao passo que aqui
se exibe numa folha individual, dedicada a um só imóvel,
sendo os seus dados reunidos num todo compacto. Ali o
ato se consignava por extrato, aqui em narrativa.

Prosseguindo o mesmo autor:

O ato, que tinha na transcrição certa forma,


assume na matrícula forma diversa. A troca do antigo
sistema de registro pelo sistema do fólio real impôs essa
mudança do feitio externo, sem atingir o cerne ou essência
do ato. Nessa conformidade, a matrícula, como transfe-
rência da transcrição de um para outro livro, continua a

70
ser ato jurídico de aquisição da propriedade.
[...]
Ao entender a matrícula como primeira inscri-
ção, ao invés de deixá-la solta no mundo da irrelevância,
dá-se-lhe o único significado que ela pode assumir para
tornar útil todo o contexto da lei registral. Não há motivo
para duvidar do seu caráter jurídico, porque é ela que de-
fine, em toda a sua extensão, modalidades e limitações, a
situação jurídica do imóvel. Sendo, na essência, a mesma
transcrição, evolvida e atualizada sob nova forma para
adaptação ao livro estruturado pelo sistema real, conserva
a natureza jurídica com que surgiu.

Evidentemente, não podemos negar que, atra-


vés do fólio real, a matrícula seja o primeiro ato jurídico
de aquisição da propriedade, confirmando sua natureza
jurídica e não simplesmente uma forma cadastral, pois
o cadastro é ato puramente administrativo.
O caput do artigo 167º, da Lei nº 6.015/73,
nos confirma a relevância da matrícula,como segue:

Art. 167. No Registro de Imóveis, além da ma-


trícula, serão feitos:
I – o registro:
[...]
II – a averbação:
[...]

71
Podemos verificar que os possíveis registros
e averbações terão como sustentação a matrícula.
Certamente, não foi por acaso que o legislador a
mencionou no caput do artigo ora comentado.

3.7. MATRÍCULA DO IMÓVEL RURAL


DEPOIS DA LEI Nº 10.267/01

Neste ponto já podemos transcrever o arti-


go 176º da Lei nº 6.015/73, com as alterações advin-
das da Lei nº 10.267/01, como segue:

Art. 176 - O Livro nº 2 - Registro Geral - será


destinado, à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação
dos atos relacionados no art. 167 e não atribuídos ao Livro
nº 3 (Renumerado de art. 173 com nova redação, pela Lei nº
6.216, de 30.6.1975)
§ 1º - A escrituração do Livro nº 2 obedecerá às se-
guintes normas: (Parágrafo renumerado do parágrafo único
pela Lei nº6.688, de 1979) I - cada imóvel terá matrícula
própria, que será aberta por ocasião do primeiro registro a ser
feito na vigência desta Lei;
II - são requisitos da matrícula:
1) o número de ordem, que seguirá ao infinito;
2) a data;
3) a identificação do imóvel, que será feita com indica-

72
ção: (Redação dada pela Lei n. 10.267, de 2001)
a - se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR, da denominação e de suas característi-
cas, confrontações, localização e área; (Incluída pela Lei
n. 10.267, de 2001)
b – [...]
4) o nome, domicílio e nacionalidade do proprie-
tário, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
5) o número do registro anterior;
III - são requisitos do registro no Livro nº 2:
a data;
o nome, domicílio e nacionalidade do transmiten-
te, ou do devedor, e do adquirente, ou credor, bem como:
a) tratando-se de pessoa física, o estado civil, a
profissão e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas do Ministério da Fazenda ou do Registro Geral
da cédula de identidade, ou, à falta deste, sua filiação;
b) tratando-se de pessoa jurídica, a sede social e o
número de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes
do Ministério da Fazenda;
3) o título da transmissão ou do ônus;

73
4) a forma do título, sua procedência e caracterização;
5) o valor do contrato, da coisa ou da dívida,
prazo desta, condições e mais especificações, inclusive os
juros, se houver.
§ 2º [...]
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcela-
mento ou remembramento de imóveis rurais, a identifi-
cação prevista na alínea a do item 3 do inciso II do §
1o será obtida a partir de memorial descritivo, assinado
por profissional habilitado e com a devida Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART, contendo as coordena-
das dos vértices definidores dos limites dos imóveis rurais,
geo-referenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e com
precisão posicional a ser fixada pelo INCRA, garantida
a isenção de custos financeiros aos proprietários de imó-
veis rurais cuja somatória da área não exceda a quatro
módulos fiscais. (Incluído pela Lei nº 10.267, de 2001)
§ 4o A identificação de que trata o § 3o tornar-
-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fi-
xados por ato do Poder Executivo. (Incluído pela Lei n.
10.267, de 2001)

O artigo supramencionado estabelece que


a matrícula será feita no livro nº 2 (Registro Geral)
obedecendo algumas normas. Cada imóvel terá ma-
trícula própria, sendo aberta por ocasião do primeiro

74
registro; conterá o número de ordem, que seguirá ao
infinito; a data; a identificação do imóvel; o nome,
domicílio e nacionalidade do proprietário e o núme-
ro do registro anterior.
Também no livro nº 2, os requisitos do re-
gistro são: a data; o nome, domicílio e nacionalidade
do transmitente, ou do devedor, e do adquirente, ou
credor; o título de transmissão ou do ônus; a forma
do título, sua procedência e caracterização; o valor do
contrato, da coisa ou da dívida, prazo desta, condições
e mais especificações, inclusive juros, se houver.
A redação que foi acrescentada ao artigo 176º
da Lei nº 6.015/73, com o advento da Lei nº 10.267/01.
Como requisitos da matrícula, o número 3, letra “a” do
artigo 176º, tratou da identificação do imóvel, que será
feita com indicação:“a) se rural, do código do imóvel, dos dados cons-
tantes do CCIR (Certificado de Cadastro de Imóvel Rural), da denominação
e de suas características, confrontações, localização e área; [...]”
A redação acima nos remete às cautelas que
devem ser tomadas quanto à identificação do imóvel
rural na matrícula, constando código próprio do re-
ferido bem, dados do CCIR, denominação, caracte-
rísticas e confrontações, localização por município,
comarca e a área em hectares e seus submúltiplos.
No parágrafo abaixo, a situação fica ain-
da mais complexa quando trata da identificação do
imóvel rural nos casos de desmembramento, parce-
lamento ou remembramento:

75
§ 3o Nos casos de desmembramento, parcelamento
ou remembramento de imóveis rurais, a identificação pre-
vista na alínea a do item 3 do inciso II do § 1o será obtida
a partir de memorial descritivo, assinado por profissional
habilitado e com a devida Anotação de Responsabilidade
Técnica – ART, contendo as coordenadas dos vértices de-
finidores dos limites dos imóveis rurais, geo-referenciadas
ao Sistema Geodésico Brasileiro e com precisão posicional
a ser fixada pelo INCRA, garantida a isenção de custos
financeiros aos proprietários de imóveis rurais cuja somató-
ria da área não exceda a quatro módulos fiscais.

Assim, o Oficial do Registro Imobiliário,


para os atos acima elencados, ou seja, desmembra-
mento, parcelamento ou remembramento, depende-
rá da apresentação de memorial descritivo, assinado
por profissional habilitado, integrado pela devida
Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, de-
vendo oferecer as coordenadas dos vértices defini-
dores dos limites do imóvel e toda a linha perimetral,
georreferenciadas ao Sistema Geodésico Brasileiro e
com precisão posicional a ser fixada pelo INCRA.
É inegável que o novo sistema de identifi-
cação do imóvel rural é bastante avançado e com
certeza, ao longo do tempo, trará segurança incon-
teste aos negócios jurídicos relacionados aos imóveis
matriculados e embasados em tal precisão.

76
Os dados são do INCRA, conforme pode ser
verificado no endereço eletrônico www.incra.gov.br (Sis-
tema Público de Registro de Terras - Lei 10.267/01),
demonstrando que o estado do Mato Grosso é o pio-
neiro em quantidade de imóveis já certificados pelo
novo sistema, seguido de São Paulo e Bahia. Em Mi-
nas Gerais, não consta nenhum lançamento georrefe-
renciado na base de dados do Incra.
Outro dado importante é que se o sistema
visa ao confronto exato dos imóveis certificados e
suas respectivas matrículas, contudo, nos dados infor-
mados pelo Incra, o código correspondente à matrí-
cula encontra-se sem o devido preenchimento, cau-
sando insegurança quanto ao objetivo do sistema.
Quanto à garantia de isenção de custos fi-
nanceiros aos proprietários de imóveis rurais, cuja
somatória da área não exceda a quatro módulos fis-
cais, o legislador, data vênia, não estipulou quem ar-
cará com os custos advindos de tal procedimento.
No parágrafo 4º, quando se atrelou o geore-
ferenciamento a qualquer situação de transferência
do direito real sobre o imóvel rural, a obrigatorie-
dade de sua identificação, com os prazos fixados no
artigo 10 do Decreto Federal nº 4.449/2002, sendo
que o último prazo, previsto no inciso IV, expiraria
em outubro de 2005, obviamente, concluímos que
todos os imóveis deveriam, até tal data, estar devida-
mente identificados pelo novo sistema, sob pena do

77
total engessamento dos negócios jurídicos imobiliá-
rios, junto ao registro competente.
Tal afirmativa pode ser confirmada pela leitura
do texto legal abaixo: “§ 4o A identificação de que trata o §
3o tornar-se-á obrigatória para efetivação de registro, em qualquer
situação de transferência de imóvel rural, nos prazos fixados por
ato do Poder Executivo”

78
Capítulo 4
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA

A
CLASSIFICAÇÃO FUNDIÁRIA de imóveis
passíveis de intervenção para correção do re-
gime de uso e posse da terra veio regularizada
pela Lei n.º 4.504, de 1964, identificando: Minifúndio,
Empresa Rural, Latifúndio por Exploração, Latifúndio
por Dimensão. E o que se observa na atualidade com a
Lei n.º 8.629, de 1993, é a definição de pequena proprie-
dade; média propriedade; propriedade produtiva.
O Estatuto da Terra Lei n.º 4.504/64 em
seu artigo 4.º, inciso II, define como “Propriedade
Familiar” o imóvel rural que, direta e pessoalmente
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva
toda a força de trabalho, garantindo-lhes a subsistên-
cia e o progresso social e econômico, com área má-
xima fixada para cada região e tipo de exploração e,
eventualmente, trabalhado com a ajuda de terceiros.
Nesse contexto, temos o conceito de mó-
dulo rural que é derivado do conceito de pro-
priedade familiar, e, é uma unidade de medida

79
expressa em hectares, que busca exprimir a in-
terdependência entre a dimensão, a situação geo-
gráfica dos imóveis rurais e a forma e condições
do seu aproveitamento econômico.
O Módulo Rural, atualmente, é utilizado para
definir os limites da dimensão dos imóveis rurais no
caso de aquisição por pessoa física estrangeira, resi-
dente no País. Neste caso, utiliza-se como unidade
de medida o módulo de exploração indefinida.
O Módulo Fiscal é uma unidade de medida
expressa em hectares, fixada para cada município,
considerando os seguintes fatores: tipo de explora-
ção predominante no município; renda obtida com
a exploração predominante; outras explorações exis-
tentes no município que, embora não predominan-
tes, sejam significativas em função da renda ou da
área utilizada; e conceito de propriedade familiar.
Em sua aplicação, serve de parâmetro para
classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na
forma da Lei n.º 8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Pe-
quena Propriedade – o imóvel rural de área compre-
endida entre 1(um) e 4(quatro) módulos fiscais; Média
Propriedade - o imóvel rural de área de área superior
a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. Serve
também de parâmetro para definir os beneficiários do
PRONAF (pequenos agricultores de economia fami-
liar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou ar-
rendatários de até 4 (quatro) módulos fiscais).

80
A diferença entre Módulo Rural e Módulo
Fiscal, esta que no Módulo Rural é calculado para
cada imóvel rural em separado, e sua área reflete o
tipo de exploração predominante no imóvel rural,
segundo sua região de localização e já no Módulo
Fiscal por sua vez é estabelecido para cada municí-
pio, e procura refletir a área mediana dos Módulos
Rurais dos imóveis rurais do município.
As normas que estabelecem procedimentos
para atualização cadastral de imóveis rurais sob Pro-
cesso de Fiscalização Cadastral são as seguintes:

• a) Decreto n.º 72.106/73, que regulamenta a


Lei n.º 5.868/72, em especial os artigos 4.º, 5.º, 6.º e 43.º;
• b) Instrução Normativa/INCRA/n.º13/94,
que define diretrizes e procedimentos básicos da ativi-
dade de fiscalização cadastral de imóveis rurais;
• c) Ordem de Serviço/INCRA/DC/n.º
02/94, que aprova o Manual de Fiscalização Cadas-
tral com as normas e os procedimentos inerentes ao
Processo de Fiscalização Cadastral;
• d) Ordem de Serviço/INCRA/DC/n.º
02/97, que no item IV determina que toda e qual-
quer inclusão ou atualização cadastral referente a
imóvel rural com área igual ou superior a 10.000,0
ha seja feita com base nos procedimentos previstos
no Manual de Fiscalização Cadastral;
• e) Portaria/INCRA/P/n.º 558/99, em

81
especial seus artigos 1.º e 2.º, que determinam
o cancelamento seguido de recadastramento no
SNCR dos imóveis rurais com área igual ou supe-
rior a 10.000,0 ha. As normas citadas nos itens a),
e e) encontram-se disponíveis no site do INCRA.
Aquelas citadas nos itens b) e c) tratam de pro-
cedimentos internos da Autarquia e possuem dis-
ponibilizadas no site as informações de interesse
direto do público externo sob o título do “Livro
Branco da Grilagem de Terras no Brasil”, onde
se encontra a documentação necessária para reca-
dastramento dos imóveis rurais no SNCR, com as
“Instruções para comprovação de dados” e “Ins-
truções para elaboração do Laudo Técnico”.

Nenhum proprietário de imóvel rural está


obrigado, por força de Lei, a promover, junto ao
Cartório de Registro de Imóveis, a unificação de ma-
trículas de áreas contínuas.
Entretanto, para fins de cadastramento no
Sistema Nacional de Cadastro Rural – SNCR -, o
remembramento das áreas é obrigatório por força
da conceituação de imóvel rural contida no inciso I
do artigo 4.º da Lei n.º 4.504/64, Estatuto da Terra,
conforme estabelece o artigo 2.º da Lei n.º 5.868/72
que cria o SNCR.

82
4.1. CADASTRO RURAL

Durante a vigência da Carta de 1946 que surgiu


o INIC, Instituto Nacional de Imigração e Colonização,
através da Lei n.º 2.163/54, predecessor do INCRA - O
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária,
criado como uma autarquia federal vinculada ao MDA -
Ministério do Desenvolvimento Agrário, criada pelo De-
creto Lei n.º 1.110, de 9 de julho de 1970, teve sua estru-
tura regimental aprovada pelo Decreto n.º 5.735, de 27
de março de 2006, com nova redação dada pelo Decreto
n.º 6.812, de 03 de abril de 2009, criada pelo Decreto n.º
1.110, de 9 de julho de 1970, com a missão prioritária de
realizar a reforma agrária, manter o cadastro nacional de
imóveis rurais e administrar as terras públicas da União.
Está implantado em todo o território nacional.
O Cadastro de Imóveis Rurais foi criado
pela Lei n.º 4.504, de 30 de novembro de 1964,
Estatuto da Terra. Com o advento da Lei n.º
5.868, de 12 de dezembro de 1972, foi instituído o
SNCR - Sistema Nacional de Cadastro Rural, que
teve como finalidade primordial a integração e
sistematização da coleta pesquisa e tratamento de
dados e informações sobre o uso e posse da terra.
O SNCR é composto pelo Cadastro de Imóveis
Rurais, pelo Cadastro de Proprietários de Imóveis
Rurais, pelo Cadastro de Arrendatários e Parcei-
ros e pelo Cadastro de Terras Públicas.

83
O Estatuto da Terra que deu ensejo a
criação do Cadastro de Imóveis Rurais, onde o
primeiro levantamento foi feito em 1966 com
foco no zoneamento agrário, Políticas de Refor-
ma e desenvolvimento agrário visualizando a tri-
butação da terra.
Diante das necessidades que foram surgindo
para o controle agrário, surge ainda a Lei n.º. 5.868,
de 12 de dezembro de 1972 que cria o Sistema Na-
cional Cadastro Rural, sendo seus primeiros recadas-
tramentos feitos em 1972, 1978 e 1992 e o ponto
primordial Focado na Tributação da Terra até 1990,
seguido das implementações nas políticas de Refor-
ma Agrária, após 1984.
A Lei n.º. 10.267, de 28 de agosto de 2001,
cria a integração entre Cadastros Públicos de Imó-
veis Rurais – CNIR, com vinculação ao Serviço
de Registro Imobiliário, onde há troca de infor-
mações entre o Incra e Cartórios para o controle
sobre os imóveis públicos e privados, observando
a sobreposição e legalidade dos documentos ini-
bindo os fraudadores (grilagem).
A Lei citada que cria o Sistema Público de
Registro de Terras, estreitando o vínculo entre o ca-
dastro nacional de imóveis rurais (Incra) e o registro
imobiliário (sistema cartório), exige a apresentação
de planta georreferenciada do imóvel rural, para que
qualquer transação imobiliária possa ser efetivada

84
pelo sistema cartorário, plantas essas elaboradas se-
gundo padrão estabelecido pelo Incra.
Os objetivos sempre foram os de caracteri-
zação do domínio e uso da terra, incluindo títulos
de domínio, natureza da posse, localização geográfi-
ca, área com descrição das linhas de divisas e nome
dos respectivos confrontantes, dentre outras medi-
das necessárias para a demarcação, identificando, em
alguns casos, grupamento dos vários imóveis rurais
que pertenciam a um único proprietário. Este Cer-
tificado de Cadastro de Imóveis Rurais (documento
expedido pelo INCRA e que não faz prova de pro-
priedade ou de direitos a ela relativos).

4.2. ZONEAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS

O zoneamento refere-se a uma divisão di-


nâmica das áreas propícias à exploração agrária,
permitindo que se coletem os dados necessários à
elaboração de uma política propícia aos relevantes
interesses do setor.
À medida que se constitui um ponto valio-
so, dadas as peculiaridades de cada região do país,
delimitadas geograficamente as diversas regiões do
zoneamento, podem ser estabelecidas as diretrizes a
serem adotadas para cada tipo de região.

85
Cabe ao Instituto Brasileiro de Reforma
Agrária, atualmente Instituto Nacional de Colo-
nização e Reforma Agrária – INCRA, promover
estudos para o zoneamento do Brasil, em regiões
homogêneas, precisamente quanto às caracterís-
ticas da estrutura agrária e socioeconômica, onde
o Estatuto da Terra, em seu artigo 43.º, vem vi-
sando definir como segue:

Art. 43. O Instituto Brasileiro de Reforma


Agrária promoverá a realização de estudos para o zone-
amento do país em regiões homogêneas do ponto de vista
sócio-econômico e das características da estrutura agrária,
visando a definir:
I - as regiões críticas que estão exigindo refor-
ma agrária com progressiva eliminação dos minifún-
dios e dos latifúndios;
II - as regiões em estágio mais avançado de desen-
volvimento social e econômico, em que não ocorram tenções
nas estruturas demográficas e agrárias;
III - as regiões já economicamente ocupadas em
que predomine economia de subsistência e cujos lavrado-
res e pecuaristas careçam de assistência adequada;
IV - as regiões ainda em fase de ocupação econô-
mica, carentes de programa de desbravamento, povoamen-
to e colonização de áreas pioneiras.

86
4.3. ELEMENTOS DO ZONEAMENTO
RURAL

Os elementos essenciais à elaboração do zo-


neamento e caracterização das áreas prioritárias, con-
forme o próprio artigo 43.º do Estatuto da Terra são:

a) a posição geográfica das áreas, em relação aos


centros econômicos de várias ordens, existentes no país;
b) o grau de intensidade de ocorrência de
áreas em imóveis rurais acima de mil hectares e abai-
xo de cinquenta hectares;
c) o número médio de hectares por pes-
soa ocupada;
d) as populações rurais, seu incremento anu-
al e a densidade específica da população agrícola;
e) “a relação entre o número de proprietá-
rios e o número de rendeiros, parceiros e assalaria-
dos em cada área.

4.4. OBJETIVOS E O CADASTRO DO


ZONEAMENTO RURAL

Os objetivos do zoneamento rural, de acor-


do com artigo 44.º, do Estatuto da Terra, são:

87
I - estabelecer as diretrizes da política agrária a
ser adotada em cada tipo de região;
II - programar a ação dos órgãos governamentais,
para desenvolvimento do setor rural, nas regiões delimita-
das como de maior significação econômica e social.

O Decreto n.º 55.891/65, em seu capítulo


II, ao regulamentar os artigos 43.º a 45.º, da Lei n.º
4.504/64, não os alterou.
Os cadastros são os registros levados a fei-
to por autoridades administrativas sobre os imóveis,
com caráter de senso, para através deles ser orientado
o lançamento dos impostos atribuídos aos proprie-
tários ou detentores dos bens passíveis de tributação.
Nesses registros são anotados os imóveis,
conforme a finalidade e o tipo de cadastro, com os
pormenores necessários, tais como o valor ou esti-
mativa, a situação, forma de posse, áreas e tipos de
culturas, forma de uso da terra, meios de acesso a
ela, de comercialização de produção e outros dados
julgados necessários à execução da política da área.
As informações necessárias à elaboração do
cadastro rural indicam dados à caracterização do
respectivo imóvel, conforme artigo 46.º, I e III do
Estatuto da Terra, como segue:

I - dados para caracterização dos imóveis rurais


com indicação:

88
a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e
da forma de administração;
c) da localização geográfica;
d) da área com descrição das linhas de divisas e
nome dos respectivos confrontantes;
e) das dimensões das testadas para vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equi-
pamentos e das instalações existentes discriminadamente;
[...]
III - condições da exploração e do uso da ter-
ra, indicando:
a) as percentagens da superfície total em cerrados,
matas, pastagens, glebas de cultivo (especificadamente em
exploração e inexplorados) e em áreas inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de
proteção e comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com
discriminação de arrendatários, parceiros e traba-
lhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o
grau de mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à pro-
dução obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos pro-
dutos agropecuários.

89
Lembrando que se deve observar a forma
indicada no regulamento (Decreto n.º 55.891/65).
A obrigatoriedade da atualização do cadas-
tro se dá pela inclusão de novos imóveis rurais e pela
alteração das condições físicas e de exploração dos
referidos imóveis rurais a cada 5 anos.
Os certificados serão emitidos com a de-
claração de “Provisório” ou “ Definitivo”, res-
pectivamente nos casos em que tenha ou não
havido exigência de documentação adicional aos
dados fornecidos.
Aquele que se utilizar, de forma fraudulen-
ta do certificado de cadastro expedido pelo INCRA
será punido, segundo a Lei n.º 4.947/66, que em seu
artigo 19.º defini o que segue:

Art. 19 - Utilizar, como prova de propriedade


ou de direitos a ela relativos, documento expedido pelo
IBRA para fins cadastrais ou tributários, em prejuízo
de outrem ou em proveito próprio ou alheio:
Pena: Reclusão de 2 a 6 anos.
Parágrafo único. Se o agente é funcionário público
e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a
pena de sexta parte.

90
4.5. - TRIBUTAÇÃO RURAL

A tributação das terras teve origem no Im-


pério Romano, ao tempo da República, criada para
atingir as províncias conquistadas por meio de tribu-
to que era cobrado daqueles que permaneciam culti-
vando a terra, e que, a partir da conquista, a possuíam
não mais como seu senhor, mas como usufrutuário.
O pagamento consistia em uma cota da renda
da terra, ou então uma tributação fixa, paga em natura
ou dinheiro, prevalecendo neste momento da história
o poder do mais forte pelo direito da conquista.
No Brasil, a tributação da terra foi instituída
pela Constituição Federal de 1946, cuja competên-
cia era estadual. Posteriormente, a Emenda Consti-
tucional n.º5/61 transferiu referida competência ao
município. Já as Emendas Constitucionais n.º 10/64
e 18/65 estabeleceram a competência à União para
tributar o repasse da receita tributária da situação
dos imóveis aos municípios.

4.6. IMPOSTO TERRITORIAL RURAL – ITR

O imposto territorial rural foi instituído pelo


estatuto da terra, Lei n.º 4.504/64, sendo que a Lei
n.º 6.746/79 modificou a redação dos artigos 49.º e

91
50.º do referido Estatuto e foi regulamentada pelo
Decreto n.º 84.685/80, como segue:

Art. 49. As normas gerais para a fixação do


imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão
a critérios de progressividade e regressividade, levando-se
em conta os seguintes fatores: (Redação dada pela Lei n.º
6.746, de 1979)
Art. 50. Para cálculo do imposto, aplicar-se-á
sobre o valor da terra nua, constante da declaração para
cadastro, e não impugnado pelo órgão competente, ou re-
sultante de avaliação, a alíquota correspondente ao nú-
mero de módulos fiscais do imóvel, de acordo com a tabela
adiante: (Redação dada pela Lei n.º 6.746, de 1979)

A Constituição Federal de 1988 manteve a


competência para instituir o imposto sobre a pro-
priedade rural em seu artigo 153..º inciso VI e pará-
grafo 4..º, como segue:

Artigo 153. Compete à União instituir impostos


sobre:
...VI - propriedade territorial rural...
...
§ 4..º O imposto previsto no inciso VI do
caput:(Redação dada pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003)

92
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas
de forma a desestimular a manutenção de propriedades
improdutivas; (Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003)
II - não incidirá sobre pequenas glebas rurais,
definidas em lei, quando as explore o proprietário que
não possua outro imóvel; (Incluído pela Emenda Consti-
tucional n.º 42, de 19.12.2003)
III - será fiscalizado e cobrado pelos Municípios
que assim optarem, na forma da lei, desde que não im-
plique redução do imposto ou qualquer outra forma de
renúncia fiscal.(Incluído pela Emenda Constitucional n.º
42, de 19.12.2003) (Regulamento)

4.7. LANÇAMENTO E ARRECADAÇÃO

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo


158 inciso II, determina o repasse da receita tributária
do Imposto Territorial Rural – ITR aos municípios da
situação do imóvel, no percentual de 50%.
Atualmente, o lançamento do ITR esta a car-
go da Secretaria da Receita Federal, e a arrecadação
incumbe à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional,
com fundamentos:
• artigo 29.º parágrafo 5.º, do ADCT da
Constituição Federal de 1988;

93
Art. 29-A. O total da despesa do Poder Legislativo
Municipal, incluídos os subsídios dos Vereadores e excluídos
os gastos com inativos, não poderá ultrapassar os seguintes
percentuais, relativos ao somatório da receita tributária e das
transferências previstas no § 5o do art. 153 e nos arts. 158
e 159, efetivamente realizado no exercício anterior. (Incluído
pela Emenda Constitucional n.º 25, de 2000)

• artigo 1.º da Lei n.º 8.022/90:

Art. 1° É transferida para a Secretaria da Re-


ceita Federal a competência de administração das receitas
arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), e para a Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional a competência para a apuração,
inscrição e cobrança da respectiva dívida ativa.

• artigo 67.º da Lei n.º 8.383/91:

Art. 67. A competência de que trata o art. 1°


da Lei n° 8.022, de 12 de abril de 1990, relativa à
apuração, inscrição e cobrança da Dívida Ativa oriunda
das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Co-
lonização e Reforma Agrária (Incra), bem como a repre-
sentação judicial nas respectivas execuções fiscais, cabe à
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

94
Retroagindo, quando o lançamento e a arre-
cadação do ITR estavam a cargo do INCRA, o re-
passe aos municípios da situação do imóvel era de
80%, sendo que o órgão arrecadador retinha 20% do
produto para ressarcir as despesas.

4.8. FATO GERADOR

Tem tríplice fato gerador o Imposto Terri-


torial Rural, que é a propriedade, o domínio útil ou
a posse de imóvel rural, segundo o artigo 29.º do
Código Tributário Nacional, como segue:

Artigo 29. O imposto, de competência da União,


sobre a propriedade territorial rural tem como fato gera-
dor a propriedade, o domicílio útil ou a posse de imóvel
por natureza, como definido na lei civil, localização fora
da zona urbana do Município.

Face ao tríplice fato gerador do imposto ter-


ritorial rural, não se trata de mera negativa de tribu-
tar, e sim de tributar em conformidade com a lei. Por
tais razões, a Receita Federal não pode se omitir, no
caso do ITR, de verificar e comprovar a verdadeira
ocorrência do fato gerador, fazendo constar dos do-

95
cumentos que expede se a tributação sobre a terra
esta sendo feita a título de propriedade, ou domínio
útil, ou posse a qualquer título e face ao interesse
público e social subjacente decorrente dos seus efei-
tos extrafiscais e fazer incidir em todas as suas con-
sequências as normas contidas na Lei n.º 4.947/66,
artigo 22.º e do Decreto n.º 56.792/65, artigo 55.º.
É contribuinte do Imposto Territorial Ru-
ral “elemento pessoal, subjetivo”, o proprietário do
imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu pos-
suidor a qualquer título.
Para que se estabeleça a relação jurídica tri-
butária é necessário que ocorram todos os aspectos
ou elementos objetivos ou subjetivos que a lei define
de forma expressa ou implícita.
Quanto ao direito tributário e financeiro, há
institutos com os quais o agrarista trabalha, o capítulo
sobre tributação da terra, estabelecido no artigo 47.º
do Estatuto, o lançamento e cobrança dos tributos.
O Imposto Territorial Rural (ITR), de com-
petência da União, incidente sobre imóvel, por natu-
reza, fora da zona urbana do município, tem como
base de cálculo o valor fundiário. Este tributo cons-
titui objeto de estudo do tributarista e do estudioso
do Direito Agrário, visto como as normas para a sua
fixação estão previstas no Estatuto da Terra.
A propósito, preceitua o artigo 49.º caput e
seus incisos, I, II, III, IV, V, VI, VII, como segue:

96
Art. 49 - As normas gerais para a fixação do
imposto sobre a propriedade territorial rural obedecerão
a critérios de progressividade e regressividade, levando-se
em conta os seguintes fatores:
I - os valores da terra e das benfeitorias do imóvel;
II - a área e dimensões do imóvel e das glebas de
diferentes usos;
III - a situação do imóvel em relação aos elemen-
tos do inciso II do art. 46;
IV - as condições técnicas e econômicas de explo-
ração agropecuária industrial;
V - a natureza de posse e as condições de contra-
tos e arrendatários, parceiros e assalariados;
VI - a classificação das aterras e suas formas de
uso e rentabilidade;
VII - a área total agricultável do conjunto de
imóveis rurais de um mesmo proprietário no País.

Além disso, a parte específica referente ao ITR


(Imposto Territorial Rural) foi modificada por lei nova
Lei n.º 9.393/96, que atualmente regulamenta a matéria.
A referida Lei n.º 9.393/96, dispõe a res-
peito do fato gerador do Imposto Territorial Rural
(ITR), e no caput do artigo 1.º, segue:

O Imposto sobre a Propriedade Terri-


torial Rural – ITR, de apuração anual, tem como

97
fato gerador a propriedade, o domínio útil ou
a posse de imóvel por natureza, localizado fora da
zona urbana do município, em 1.º de janeiro de cada ano.

Embora o Imposto Territorial Rural (ITR) te-


nha como fato gerador a propriedade localizada fora
da zona urbana do município, existem situações de-
terminadas pela Constituição Federal (art. 153, § 4.º, in
fine), disciplinadas pelo artigo 2.º da Lei n.º 9.393/96,
que trata da imunidade tributária, como segue:

Art. 2.º - Nos termos do art. 153, § 4.º, in fine,


da Constituição, o imposto não incide sobre pequenas gle-
bas rurais, quando as explore, só ou com sua família, o
proprietário que não possua outro imóvel.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo,
pequenas glebas rurais são os imóveis com área igual
ou inferior a:
I - 100 ha, se localizado em município compre-
endido na Amazônia Ocidental ou no Pantanal mato-
-grossense e sul-mato-grossense;
II - 50 ha, se localizado em município compreen-
dido no Polígono das Secas ou na Amazônia Oriental;
III - 30 ha, se localizado em qualquer outro
município.

98
Da mesma forma, existem situações que di-
zem respeito não à imunidade, mas à isenção tribu-
tária do Imposto Territorial Rural (ITR). Essas situa-
ções encontram-se relacionadas nos incisos I e II do
artigo 3.º da Lei n.º 9.393 /96, como segue:

Art. 3.º São isentos do imposto:


I - o imóvel rural compreendido em programa ofi-
cial de reforma agrária, caracterizado pelas autoridades
competentes como assentamento, que, cumulativamente,
atenda aos seguintes requisitos:
a) seja explorado por associação ou cooperativa
de produção;
b) a fração ideal por família assentada não ultra-
passe os limites estabelecidos no artigo anterior;
c) o assentado não possua outro imóvel.
II - o conjunto de imóveis rurais de um mesmo
proprietário, cuja área total observe os limites fixados no
parágrafo único do artigo anterior, desde que, cumulati-
vamente, o proprietário:
a) o explore só ou com sua família, admitida aju-
da eventual de terceiros;
b) não possua imóvel urbano.

Contudo, apesar da discriminação das con-


dições em que se dará a isenção do ITR, ao se tratar
da apuração e do pagamento do tributo, em alguns

99
incisos do artigo 10.º da referida Lei, que se consti-
tuem em condições relativas à exclusão da base de
cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR).
Nesse sentido, as alíneas “a”, “b”, “c”, “d”,
e “e”, do inciso II, do art. 10 da Lei n.º 9.393/96 di-
zem respeito à proteção ambiental. Como pode ser
observado, apenas uma das alíneas, ou seja, a alínea
“f ”, não diz respeito, diretamente, à proteção am-
biental. Tudo, em consonância com o que dispõe o
inciso II, do artigo 186.º da Constituição Federal.
Considerando a referida exclusão da base de
cálculo, podemos observar que se trata de um pri-
vilégio aos contribuintes desse tributo. Trata-se de
um direito não apenas do contribuinte, mas de todos
os brasileiros, uma vez que, efetivamente cumprida
a destinação dessas áreas, o meio ambiente poderá
ser protegido.
Exemplos referentes a esse tema são as deno-
minadas Áreas de Preservação Permanente (APPs) e
da denominada Reserva Legal Florestal (RLF).
Da mesma forma que para as Áreas de Pre-
servação Permanente (APPs), basta existir a proprie-
dade rural para que se tenha a Reserva Legal Flores-
tal; muito embora exista, nesse caso, a necessidade
de que o proprietário rural faça a respectiva averba-
ção dessa RLF na matrícula do imóvel.
Qualquer que seja a situação, Área de Pre-
servação Permanente (APP) ou Reserva Legal Flo-

100
restal (RLF), tem-se uma limitação ao direito de pro-
priedade ditada única e tão somente pela Lei.
Assim, uma vez que o proprietário não
terá condições de se utilizar de tais áreas, o legisla-
dor os isenta da incidência do Imposto Territorial
Rural (ITR), tanto para não onerá-lo, como para
ser efetivamente possível proteger os recursos
ambientais lá existentes.

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