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Fichamento Texto 3: Estradas e rotas de papel (Marshall McLuhan)

As inovações tecnológicas que aumentam a força e a velocidade dos meios de


comunicação causam mudanças nas organizações. Antes da existência do alfabeto e do
papiro, as necessidades humanas eram atendidas pelas aldeias e cidades-estado. No
entanto, com o surgimento do alfabeto, os novos espaços urbanos se tornaram centros de
poder político, religioso e militar. De acordo com McLuhan, foram o alfabeto, o papiro, o
mensageiro e os couros que aceleraram o movimento da informação através de estradas,
terrestres ou aquáticas, introduzindo assim, “a formação do Império Romano e o
desmantelamento das cidades-estado do mundo grego”
Ao estudarmos o poder transformador das pessoas informadas, graças aos novos
meios de comunicação como estradas, papiro e alfabeto, que levaram as tribos e cidades-
estado a sistemas de poder, incluindo o Império Romano, podemos compreender melhor as
mudanças cognitivas e estruturais atuais causadas pelo crescente número de pessoas
conectadas, consumindo e produzindo informações por meio das mídias sociais digitais.
É importante ressaltar que nem todos têm acesso igual aos meios de informação.
Historicamente, nunca houve uma uniformidade tecnológica. Ou seja, há um percentual
significativo de pessoas que não acompanham a velocidade dos meios, enquanto outros
não se interessam pelo "novo". Além disso, há aqueles que chegam tarde ao processo, o
que por vezes gera conflitos e rupturas entre diferentes grupos.
Nessa perspectiva, McLuhan destaca:

“Pode-se prever facilmente que qualquer novo meio de informação altera qualquer
estrutura. Se o novo meio é acessível a todos os pontos da estrutura ao mesmo tempo,
há a possibilidade de ela mudar sem romper-se. Onde há grande discrepância nas
velocidades do movimento — como entre as viagens aéreas e terrestres ou entre o
telefone e a máquina de escrever, sérios conflitos podem ocorrer na organização“

Hoje em dia, podemos observar esses conflitos e rupturas resumidos em três grupos
distintos de pessoas:

● Os nativos digitais, que vivem e assimilam de forma natural a cultura da sociedade


em rede, onde o digital é uma parte integrante de suas vidas.
● Aqueles que oscilam entre os dois ambientes, que continuam pensando e vivendo
no ambiente analógico, mas também experimentam parcialmente os ambientes
digitais.
● E por último, há a ruptura e o conflito frequente entre as pessoas que ainda estão
fora do ambiente digital, seja por escolha própria, por falta de alfabetização digital ou
por exclusão. Esse último grupo, quando precisa realizar alguma atividade digital,
como usar um caixa eletrônico, enviar uma mensagem de texto ou programar uma
televisão, costuma pedir ajuda aos netos ou aos amigos mais próximos.

Em relação a esses conflitos presentes na sociedade, McLuhan reforça que "a aceleração e
a ruptura são os principais fatores do impacto dos meios sobre as formas sociais
existentes”. Consequentemente, as invenções sempre enfrentaram resistência por parte
daqueles que se sentiam confortáveis com o modo de vida tradicional. O novo sempre
perturba e altera o ambiente cultural convencional, como destacado pelo teórico
mencionado anteriormente:
“Mas foi em meio a essas irritações que o homem produziu suas maiores invenções.
Essas invenções eram extensões de si mesmo, frutos de muita concentração e trabalho.
Os conflitos na cidade surgem do desequilíbrio entre as funções e graus de
conhecimento entre as pessoas”

Enfim, o desenvolvimento da cidade ocorreu ao mesmo tempo que a expansão da


escrita fonética e, consequentemente, com a criação de estradas tanto por terra quanto por
mar. Essas novas tecnologias definiram de forma linear o universo sonoro das sociedades
tribais. Foi a escrita alfabética que organizou de maneira linear as ruas das cidades.

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