Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
mente a função do capital financeiro (ou, certo ao mesmo tempo que o capital tam-
mais diretamente, a função produtiva do bém seja apropriado pelo mais-valor dos
dinheiro, juro e renda), ao acusar outros trabalhadores individuais. O “roubo” in-
autores marxistas – atentos à recompo- tegra a exploração de mais-trabalho e tor-
sição do rentismo como instrumento de na o capital tanto mais indecente quanto
exploração e nova figura do lucro – de mais a produção se desenvolve.
terem reduzido (proudhonianamente) No Marx de Dardot-Laval, se sen-
o lucro a mero “roubo” de um comum tia pulsar uma veia foucaultiana (penso
substancializado, “coisificado”. com isto uma abordagem histórica atra-
vessada pela atenção às subjetividades
Um roubo de mais-valor agentes). Agora, essa veia floresceu –
florescendo, ela é conduzida em direção
Aqui, a posição de Dardot-Laval
à frutificação, numa consideração vivaz
parece esquecer, nos fogos da crítica, os
e dinâmica da história do capitalismo.
lineamentos mais elementares do pensa-
Aqui há – na ausência de uma metodo-
mento marxista – e, em particular, que o
logia historicamente reflexiva – uma
capital não é uma essência independen-
abordagem, certamente, durkheimiana
te, um Leviatã, mas sempre uma relação
(talvez diretamente categorial, kantiana)
produtiva de exploração. E que, na con-
ao desenvolvimento capitalista. O capital
dição atual, o capital financeiro investe
fica parecendo uma máquina atemporal
o mundo produtivo socialmente organi-
e onipotente. A “subsunção real” não é
zado, acumulando nos procedimentos de
mais vista como conclusão de um pro-
extração de mais-valor: quer a exploração
cesso histórico, mas considerada apenas
direta do trabalho operário, quer o desa-
como figura do processo da “reprodução
possamento de bens naturais, territórios e
alargada” do capital.
estruturas de bem estar social [welfare],
quer a extração indireta de mais-valor so-
Sem a classe e o capital
cial, por meio do exercício da dominação
monetária. Se quiserem chamar tudo isto Ao lado disso, todavia, uma certa
de “roubo”, não me escandalizarei – não historicidade é reintroduzida na conside-
se está sendo proudhoniano porque ao ração – de maneira historicamente dis-
usar tal ou tal palavra, desde que se dê tendida – da eficácia destrutiva (sempre
a ela o significado que hoje o capital lhe mais realizada) da produção capitalista
dá: isto é, um modo de acumulação di- das/sobre as subjetividades no trabalho.
retamente enervado em novas formas do A luta de classe não existiria mais. Esta
processo laboral e de sua socialização – parece ser a hipótese conclusiva de uma
tanto na dimensão individual, quanto em concepção que começou com a exclusão
sua figura associativa. Quando Marx diz da luta de classe – entendida marxiana-
que o capitalista se apropria do excedente mente – pela constituição do conceito de
de valor que a cooperação entre dois ou capital. Parece que a desmaterialização
mais trabalhadores produz, não nega de- do “comum”, assim conduzida tão labo-
286 COMMUN. ESSAI SUR LA RÉVOLUTION AU XXIE SIÈCLE / Toni Negri