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Cultivar Hortaliças e Frutas • Ano XVII • Nº 121 • Abril / Maio 2020 • ISSN - 1518-3165 Cultivar www.revistacultivar.com.br /revistacultivar /revistacultivar @RevistaCultivar

DESTAQUES

Inimigo monitorado NOSSA CAPA


O esforço para tentar evitar a disseminação do
psilídeo Diaphorina citri, vetor do Greening,
em pomares localizados no Sul do Brasil 17
Videira atacada
Como manejar de modo eficiente a filoxera
Daktulosphaira vitifoliae, responsável por
20 afetar as raízes e parte aérea das plantas

Ameaça concreta
Os cuidados necessários com o Tomato Brown
Rugose Fruit Virus (ToBRFV), descrito pela primeira
vez em Israel, em 2014, e quarentenário no Brasil 26 PEDRO YAMAMOTO

ÍNDICE Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Editor Comercial


CNPJ : 02783227/0001-86 Gilvan Dutra Quevedo Sedeli Feijó
Insc. Est. 093/0309480 Miriam Portugal
Rua Sete de Setembro, 160, sala 702 Redação
Rápidas 04 Pelotas – RS • 96015-300 Rocheli Wachholz
Karine Gobbi Coordenação Circulação
www.grupocultivar.com Cassiane Fonseca Simone Lopes
Aplicativo AgroPragas em maracujá 05 contato@grupocultivar.com
Design Gráfico Assinaturas
Direção Cristiano Ceia Natália Rodrigues
Sexo das flores de cucurbitáceas 08 Newton Peter
Revisão
Clarissa Cardoso
Assinatura anual (06 edições):
Aline Partzsch Expedição
Antracnose em pimentão 11 R$ 139,90 Coordenação Comercial
Edson Krause
Assinatura Internacional Charles Ricardo Echer
Certificação na fruticultura 14 US$ 110,00
€$ 100,00 Impressão:
Kunde Indústrias Gráficas Ltda.
Capa: Monitoramento de Diaphorina citri 17
Manejo da filoxera da videira 20
Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os
interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contato@grupocultivar.com

Plantio direto em alface 23 Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem
com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram
selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos
Tomato Brown Rugose Fruit Virus 26 assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos
emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus
Microácaro do bronzeamento do tomate 29 conhecimentos e expressar suas opiniões.

Coluna ABCSem 32
NOSSOS TELEFONES: (53)
Coluna Associtrus 33 • ATENDIMENTO • REDAÇÃO:
3028.2000 3028.2060
Coluna ABBA 34 • ASSINATURAS • MARKETING:
3028.2070 / 3028.2071 3028.2064 / 3028.2065 / 3028.2066
Rápidas
Crescimento
A UPL Brasil encerrou o ano fiscal, de abril 2019 a março de 2020, com cresci-
mento de 17%. O faturamento da empresa atingiu 1,3 bilhão de dólares. Segundo
o presidente da UPL Brasil, Fabio Torretta, este resultado decorre do processo de
integração com a Arysta LifeScience e o foco em saúde vegetal. “Segurança dos
alimentos, menos impacto ambiental e produção sustentável. Esses três pilares
norteiam o trabalho da UPL no Brasil”, disse. Mesmo com as adversidades da
pandemia, a UPL mantém o plano de investimentos de 200 milhões de dólares,
especialmente no desenvolvimento de produtos. “O planejamento está mantido,
porém a liberação será em ritmo mais lento, acompanhando a reação do mercado.
O Brasil representa 30% do negócio em termos globais. Como um mercado tão
importante, precisamos continuar acelerando”, ressaltou Torretta. Fabio Torretta

Celebração
Em março, a Ihara completou 55 anos com
grandes desafios para 2020. "Este é um marco
na história da Ihara. Uma empresa que nasceu
com a nobre missão de contribuir para o
progresso e a competitividade da agricultura
brasileira e que, tenho a certeza, ao completar
seus 55 anos está mais preparada do que nunca
para renovar este compromisso. A inovação é o
que nos move, a tecnologia é o que nos apoia.
Mas temos orgulho e a certeza de afirmar que o
que nos conecta e diferencia de verdade é a con-
fiança que construímos ao longo desses anos",
afirmou o presidente da Ihara, José Gonçalves.
Vincent Gros Nos últimos anos foram investidos mais de R$
200 milhões em pesquisa, desenvolvimento e Mark Lyons
Futuro estrutura, para apoiar o crescimento da empresa
A Basf lançará mais de 30 projetos-chave neste e nos próximos anos. Experiência virtual
até 2029. As novidades incluem sementes e Evento anual promovido pela Alltech, o ONE:
biotecnologias, defensivos químicos e biológicos Simpósio de Ideias Alltech, realizará as sessões e
para proteção de cultivos, ferramentas digitais os debates pela internet, devido às preocupações
e novas formulações. Só em 2019, a empresa com a saúde relacionadas ao coronavírus. Pro-
investiu aproximadamente 900 milhões de gramado originalmente para os dias 17, 18 e 19
euros na Divisão de Soluções para Agricultura. de maio, em Lexington, Kentucky, nos Estados
"Nosso objetivo é encontrar soluções práticas Unidos, o evento debaterá soluções dentro da
que permitam maior produtividade e produção cadeia global de produção agroalimentícia de
de cultivos mais tolerantes ao estresse, reduzir a forma virtual. As principais sessões temáticas,
pegada de CO2 da agricultura e aumentar a bio- vídeos com a participação de líderes e experts da
diversidade", explicou o presidente da Divisão indústria, e as apresentações de maior impac-
de Soluções para Agricultura da Basf, Vincent to realizadas em edições anteriores do evento
Gros. Dentre as novidades, a Basf desenvolveu estarão disponíveis on-line a partir do dia 18
o inseticida Broflanilide em conjunto com a de maio de 2020. “Nossa prioridade continua
Mitsui Chemicals Agro, Inc. O novo ingrediente sendo a saúde e a segurança dos participantes
ativo, que será lançado a partir de 2020, ajudará do evento, de nossos colegas e das comunidades
os agricultores na proteção de cultivos contra nas quais vivemos e trabalhamos”, informou o
insetos, como o besouro da batata. José Gonçalves presidente e CEO da Alltech, Mark Lyons.

Alface rústica
Com apresentação ao mercado durante a Hortitec
2019, a Agristar destaca o desempenho de vendas
da alface Samira, variedade lançada pela Topseed
Premium no mercado nacional. Para o especialista
em Brássicas e Folhosas da Agristar do Brasil,
Silvio Nakagawa, a variedade entrega aos produ-
tores ótima performance na época de verão. “Com
um bom nível de tolerância a fusarium, Tipburn
e pendoamento precoce, além de características
como planta grande, com boa quantidade de
folhas, talo grosso e rusticidade, a alface Samira se
tornou um produto diferenciado no mercado de
Silvio Nakagawa crespas”, afirmou.

04 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Maracujá Marilene Fancelli

Ajuda da
tecnologia

Aplicativo auxilia na identificação e manejo de fungos, bactérias,


insetos, vírus e nematoides que afetam a cultura do maracujá.
Ferramenta permite que o produtor compare fotos de uma praga ou
do sintoma de uma doença no pomar com as imagens disponíveis

O
Brasil ocupa a posição de primeiro lugar na Além disso, tem forte apelo aos consumidores, criando uma
produção mundial de maracujá, seguido pela alta demanda pelo produto em função de suas propriedades
Colômbia e a Indonésia (Altendorf, 2018). Em nutritivas, farmacêuticas, entre outras. O maracujá pode ser
2017, a produção brasileira foi de 548.088 toneladas, em consumido in natura ou na forma de polpa concentrada,
41.067 hectares de área colhida, com rendimento de 13,3t/ha muito utilizada na indústria de processamento de alimentos.
(IBGE, 2017). A Bahia é o primeiro produtor, com 170.910 O maracujazeiro é uma planta que pode ser cultivada
toneladas, à frente dos estados do Ceará (94.816 toneladas), em condições de clima tropical ou subtropical. Pertence
de Santa Catarina (46.152 toneladas) e de São Paulo (30.387 à família Passifloraceae e ao gênero Passiflora, com 140
toneladas) (IBGE, 2017). espécies nativas do Brasil. Entretanto, as mais conhecidas
No Brasil, essa cultura apresenta grande importância são o maracujá-amarelo ou azedo (Passiflora edulis Sims),
socioeconômica, sendo principalmente cultivada por agri- o maracujá-roxo (Passiflora edulis Sims) e o maracujá-doce
cultores familiares em propriedades de pequeno e médio (Passiflora alata Curtis).
porte. Apesar do investimento alto para instalação, é uma Entretanto, a produção de maracujá pode ser comprome-
cultura altamente atrativa, pois permite retorno econômico tida e até mesmo inviabilizada em decorrência de problemas
em curto prazo e propicia um longo período de colheita. fitossanitários, devido à ocorrência de pragas (insetos, ácaros,

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 05


nutricionais ou mesmo com outras
doenças, dificultando, portanto, a
identificação precoce, o que contribui
para o aumento dos prejuízos e dos
custos para seu controle.
Todas as situações anteriormente
expostas levam a uma fragilidade no
sistema. Diante deste cenário, é es-
sencial o manejo integrado de pragas
(MIP), que preconiza a associação
de diferentes métodos de controle
(legislativo, cultural, biológico, gené-
tico, químico, resistência de plantas a
insetos, comportamental), desde que
compatíveis e que atendam aos crité-
rios econômicos, ecológicos e sociais.
Portanto, fica clara a necessidade
de se identificar corretamente as es-
pécies de pragas que estão presentes
no pomar de maracujazeiro. Por sua
vez, a melhor forma para se fazer a
correta identificação dos principais
organismos-praga da cultura é con-
tando com a colaboração de um espe-
Figura 1 - Tela de download do aplicativo e tela cialista em taxonomia. Entretanto, na
inicial do aplicativo AgroPragas Maracujá maioria das vezes, o produtor não tem
essa disponibilidade. Assim, muitas
vezes, é necessária a intervenção de
doenças e nematoides) que afetam a de doença. Nesse caso, a doença trans- um profissional que tenha experiência
produção e a comercialização dos frutos mitida pode representar uma ameaça com a cultura e habilidade para reco-
in natura. Os efeitos da infestação por ainda maior que a causada pelo inseto nhecer as principais pragas locais, sua
essas pragas podem levar à depreciação ou ácaro vetor da doença. correta identificação, o conhecimento
da qualidade do fruto, com redução de Diversos organismos estão asso- de sua epidemiologia e dos principais
seu valor comercial, ao aumento dos ciados à cultura do maracujazeiro. métodos de controle.
custos de produção pela necessidade de No entanto, muitos deles não se Essa tarefa é facilitada pela com-
controle, à queda da produção e produ- constituem em pragas, visto que não paração entre os organismos ou sin-
tividade e à redução da longevidade do causam danos econômicos. Alguns tomas presentes no plantio com fotos
plantio, com consequente diminuição apenas visitam as plantas, visto que das pragas disponibilizadas em publi-
do lucro e perda das plantas devido não o maracujazeiro, pela exuberância de cações técnicas. Essa foi a principal
somente aos danos diretos e indiretos suas flores, é uma planta que atrai motivação que a equipe da Embrapa
causados por esses organismos, bem muitos insetos. Alguns insetos, inclu- Mandioca e Fruticultura, Cruz das
como à erradicação das plantas. sive, podem ser inimigos naturais das Almas, Bahia, encontrou para a ela-
Os danos diretos, como o próprio pragas, sendo então organismos bené- boração do “Guia de identificação e
nome já sugere, são aqueles decorrentes ficos à cultura. Deve ser considerada, controle de pragas na cultura do ma-
da ação direta do organismo sobre a também, a constante presença das racujazeiro” (https://bit.ly/2S2JAbZ)
planta ou parte dela, como o consumo mamangavas (insetos polinizadores no ano de 2017, na forma de cartilha
de folhas, flores ou outra estrutura da da planta) no plantio. impressa.
planta. Já o dano indireto advém quan- Por outro lado, sintomas de doen- O guia contempla informações
do um inseto ou ácaro, por exemplo, em ças ou ataque de nematoides podem básicas sobre as principais doenças,
seu processo de alimentação, é capaz de não ser percebidos ou, em alguns insetos, ácaros e nematoides que ocor-
transmitir à planta um agente causador casos, confundidos com deficiências rem nas principais áreas produtoras

06 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


de maracujá. Dessa forma, facilita o reconhecimento de imagens
dessas pragas em função dos danos causados e parte da 4) Buscas textuais
planta atacada e a diferenciação dos sintomas causados 5) Comparação de fotos de cada praga de interesse e/ou
pelos mais diversos agentes causais. Estabelece também sintoma de doenças encontradas no pomar com as imagens
quais as estratégias do MIP são as mais indicadas para disponíveis no aplicativo em tempo real e off-line (Figura 2)
redução dos danos. 6) Link de acesso para o Agrofit (Sistema de Agrotóxicos
No seu lançamento, a receptividade ao guia impresso Fitossanitários)
por parte de produtores, técnicos e estudantes foi muito O lançamento oficial do aplicativo foi feito por ocasião do
boa, porém algumas limitações foram apresentadas a par- Semiárido Show, em Petrolina (PE), realizado no período de
tir do seu uso em campo. A principal queixa dos usuários 19 a 22 de novembro de 2019.
era a de que a utilização no campo era prejudicada, devido Como o aplicativo está ainda na primeira versão, os usu-
à necessidade de impressão das fotos em alta resolução ários são convidados a avaliar o seu desempenho, sugerindo
para permitir a comparação com as pragas encontradas agregação de novas funcionalidades e atualização do conteúdo.
no pomar. Isso representava uma contradição ao processo, O aplicativo substitui a consulta do conteúdo impresso,
visto que a cartilha é grátis justamente para viabilizar o seu promovendo economia de tempo e papel, simplificando e
livre acesso pelos usuários. A necessidade de impressão da agilizando o diagnóstico ou a identificação das pragas. Com
mesma (e em alta resolução) praticamente inviabilizava a identificação correta, espera-se que as tomadas de decisão
o alcance desse objetivo. acerca dos métodos de controle sejam feitas no momento
Essa limitação impulsionou a equipe da Embrapa apropriado e com estratégias de baixo impacto ambiental,
Mandioca e Fruticultura a propor o desenvolvimento de contribuindo para a sustentabilidade do agroecossistema e um
um aplicativo que possibilitasse o diagnóstico e controle controle mais eficiente de cada praga de interesse. C

das principais pragas do maracujazeiro, em tempo real.


Foi uma ação do projeto “Caracterização e uso de
germoplasma e melhoramento genético do maracujazeiro Marilene Fancelli
Cristina de Fátima Machado
(Passiflora spp.) auxiliados por marcadores moleculares Murilo da Silva Crespo
- fase IV”. A construção do aplicativo contou com a Hermes Peixoto Santos Filho
participação de profissionais da Embrapa Mandioca e Embrapa Mandioca e Fruticultura
Fruticultura, Cruz das Almas, Bahia, da Embrapa Cer-
rados, Planaltina, Distrito Federal, da Embrapa Semiá-
rido, Petrolina, Pernambuco, da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB), Cruz das Almas, Bahia, e
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb),
Vitória da Conquista, Bahia.
Essa atividade resultou no lançamento do aplicativo Agro-
Pragas Maracujá no ano de 2019. É um aplicativo para celu-
lar que traz, basicamente, as mesmas informações veiculadas
no guia impresso. O acesso ao conteúdo é rápido via consulta
ao tópico de interesse. O aplicativo traz as informações por
categoria: fungos, bactérias, insetos, vírus e nematoides. A
principal vantagem do aplicativo é poder ser utilizado off-
-line. Também permite que o produtor compare fotos de
uma praga ou do sintoma de uma doença, por ele tiradas
no seu pomar, com as imagens disponíveis no aplicativo. O
aplicativo é gratuito e de fácil uso. Está disponível para do-
wnload no Google Play (Figura 1): https://bit.ly/2VyPCDz. É
compatível com o Android 4.1 (JELLY_BEAN) ou superior.
Em resumo, seguem as principais funcionalidades do
aplicativo:
1) Identificação das principais pragas do maracujazeiro Figura 2 - Um dos recursos do aplicativo: comparação
2) Recomendações para o manejo integrado de pragas de fotos com possibilidade de ampliação das imagens
3) Busca de informações específicas das pragas por meio (“zoom”). No exemplo, mostrando imagens da infestação
de frutos de maracujá por larvas de moscas-das-frutas

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 07


Cucurbitáceas

Sexo das flores


Cláudia Lopes Prinz

A polinização eficiente e a
ocorrência de flores femininas
são pontos-chave na produção
de cucurbitáceas. Por isso devem
ser consideradas tanto na escolha
de cultivares e regiões de cultivo,
como na definição de práticas de
manejo a serem adotadas

A
família Cucurbitaceae compreende 120 gêneros produção de flores influenciará diretamente no rendimento
e 960 espécies, originárias de regiões tropicais e final, sendo a polinização eficiente e a ocorrência de flores
subtropicais. As principais cucurbitáceas cultiva- femininas pontos-chave na produção das cucurbitáceas. A
das são hortaliças e pertencem aos gêneros Cucumis (melão polinização das cucurbitáceas é entomófila, ou seja, depen-
e pepino), Cucurbita (abóboras) e Citrullus (melancia). dente de insetos, especialmente abelhas, e sofre influência
Segundo Almeida (2002), as cucurbitáceas representam de fatores ambientais. Já a ocorrência de flores femininas,
aproximadamente 20% da produção total de oleráceas no essenciais para a formação dos frutos, está sob controle
mundo. Em 2018 foram comercializados 1.329.228.446 genético e ambiental.
quilos das cucurbitáceas abóbora, abobrinha, pepino, me- As cucurbitáceas são, em sua maioria, plantas monoicas,
lancia e melão nas Ceasas, de acordo com dados do Prohort isto é, possuem flores unissexuais na mesma planta. A mo-
- Simab. Considerando-se a origem dos produtos, a região noicia é controlada pela expressão de genes associados a três
Sudeste destaca-se quanto a pepino e melancia (ambos em diferentes loci. No entanto, outros hábitos de floração podem
São Paulo) e abobrinha, em Minas Gerais. Já o Nordeste é a ser observados nessa família de acordo com as diferentes
região de origem da maior parte de abóboras (Bahia) e melão combinações de expressão destes genes.
(Rio Grande do Norte). A compreensão do controle da expressão sexual tem
O produto comercial das cucurbitáceas citadas anterior- possibilitado a identificação e/ou desenvolvimento de culti-
mente são os frutos. São do tipo pepônio e possuem grande vares com maior razão de flores femininas/masculinas ou até
variação de cores e formatos. O manejo da cultura para mesmo plantas com produção apenas de flores femininas.

08 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Tabela 1 - Exemplos de estudos científicos sobre expressão do sexo em espécies da família Cucurbitaceae (1931 a 2019)
Na Tabela 1 são apresentados alguns Ano Autor(es) Características Observadas
trabalhos que representam a evolução 1931 Whitaker Influência do ambiente no predomínio de flores masculinas
do conhecimento acerca do controle 1952 Nitsh et. al. Variação do tipo floral em Cucurbita pepo em diferentes porções do ramo
1959 Choudhury e Phatak Expressão e proporção sexual em pepino
da expressão do sexo em cucurbitáceas.
1960 Choudhury e Phatak Uso de reguladores hormonais para controlar a expressão e proporção sexual em pepino
A maioria dos estudos dedicados à 1969 Rudich et al. Aumento de flores femininas sob aplicação de etileno
compreensão da expressão do sexo em 1972 Byres et al. Correlação entre etileno endógeno e expressão do sexo
cucurbitáceas foi realizada em pepino e 1976 Rudich e Peles Efeito da temperatura e fotoperíodo sobre a expressão sexual em melancia
melão. No entanto, similaridades tam- 1983 Takahashi et al. Separação dos efeitos de fotoperíodo e hormônios na expressão sexual em pepino
bém são observadas em outras espécies 1999 Kahana et al. Expressão diferenciada dos genes relacionados à enzima ACC oxidase em diferentes genótipos sexuais
1999 Perl-Trecos Abordagens de estudos sobre a conversão de flores masculinas à femininas ao longo do ramo de pepino
da família (Grumet e Taft, 2011). O
2004 Bai et al. Estudo do desenvolvimento de órgãos reprodutivos de flores unisexuais de pepino
controle do tipo floral em cucurbitáceas 2008 Boualem et al. Mutação de uma enzima da biossíntese de etileno levando à andromonoicia em melões
é realizado pela expressão combinada de 2009 Boualem et al. Uma enzima de biossíntese conservada de etileno leva à andromonoecia em duas espécies de pepino
três loci. Esses grupos são conhecidos 2014 Boualem et al. Desenvolvimento de uma plataforma TILLinG de Cucumis sativus para genética direta e reversa
como gene monoico (M), gene androico 2015 Boualem et al. Gene de androcia de cucurbitáceas revela como as flores unissexuais se desenvolvem
(A) e gene ginoico (G). A dominância 2015 Ji et al. Herança de formas sexuais na melancia (Citrullus lanatus)
2016 Boualem et al. Gene de determinação do sexo andromonoicia é anterior à separação dos gêneros Cucumis e Citrullus
ou recessividade combinadas resulta
2016 Manzano et al. O gene da biossíntese de etileno CitACS4 regula a monoicia e andromonoicia em melancia (Citrullus lanatus)
no controle positivo ou negativo do 2018 Lai et. al. Mudanças na temperature e fotoperíodo afetam a expressão do sexo em pepino através de regulações epigenéticas
desenvolvimento das estruturas florais 2019 Pawelkowicz et. al. Bases genéticas e moleculares para determinação do sexo em pepino
femininas e/ou masculinas, resultando 2019 Li et. al. Interação de genes regulando a determinação do sexo em cucurbitáceas
assim em flores unissexuadas e perfeitas Tabela 2- Hábitos de floração em Cucurbitáceas (Adaptado de Weiss, 1997, The Physiology of Vegetable Crops)
ou hermafroditas (Tabela 2). Os estu-
Hábito de floração Tipos Florais Ocorrência
dos iniciais sobre o tema reportavam Monoicia Flores unissexuais e na mesma planta Abórobras, pepino e melão
o papel do etileno como regulador da Andromonoicia Flores e flores hermafroditas na mesma planta Melão, melancia e pepino
expressão do sexo, sendo este hormônio Androicia Apenas flores ♂ Melão e pepino
associado à ocorrência de flores femini- Ginoicia Apenas flores ♀ Pepino
nas. Posteriormente, estudos genéticos Trimonoicia Flores, flores e flores hermafroditas na mesma planta Melão
Ação de genes no controle do desenvolvimento
identificaram que os genes associados aos diferentes tipos Cucurbitáceas - Frutos do tipo pepônio (ex. pepino) de estruturas masculinas e femininas em flores
de cucurbitáceas. Linhas vermelhas indicam ação
florais estavam relacionados à atividade de enzimas da rota do gene quando ativo
de biossíntese de etileno. Finalmente foram identificados os
genes ACS2, ACS7, ACS11 e WIP1 como reguladores do
tipo floral em cucurbitáceas.
Devido ao fato de os genes reguladores da expressão do
sexo em cucurbitáceas comporem etapas da rota de síntese
do etileno, este fitormônio é conhecido como agente femini-
lizante em cucurbitáceas. O tratamento de plantas monoicas
com aplicação de etileno e seus precursores leva à produção
Adaptado de Rodríguez-Gramados et al. (2017)
de plantas femininas unissexuais, enquanto tratamento de
plantas ginoicas com inibidores de percepção do etileno,
como o nitrato de prata, leva à produção de flores masculi- considerado no planejamento do cultivo de cucurbitáceas
nas. Assim, é possível ter maior número de flores femininas para que o estádio de emissão de flores ocorra sob condições
através da prática da aplicação de reguladores de crescimento favoráveis à maior expressão de flores femininas.
que induzem a síntese de etileno. No entanto, a eficiência De maneira oposta ao efeito da temperatura elevada,
da prática de aplicação de reguladores de crescimento para temperaturas amenas favorecem a produção de flores femi-
controle do sexo floral em cultivos de cucurbitáceas depende ninas. Em uma pesquisa realizada para avaliação do efeito da
de dose aplicada, idade da planta, momento da aplicação temperatura sobre a expressão do sexo em pepino, Miao et al
em relação ao estádio de desenvolvimento do botão floral, (2010) verificaram que a redução da temperatura noturna
entre outros, o que faz com que esta prática não seja usual foi mais importante na indução de flores femininas. Além
em cultivos comerciais. disso, a redução da temperatura na segunda metade do perí-
Para o pepino existem também cultivares ginoicas, ou odo noturno mostrou-se mais eficiente. Isso demonstra que
seja, nestas plantas há apenas produção de flores femininas, a temperatura noturna está associada à regulação do sexo
e ginoicas paternocárpicas, nas quais, além da ginoicia, os das flores na espécie. Na mesma pesquisa a sinalização via
frutos se desenvolvem sem a necessidade de polinização. açúcares em interação com hormônios foi considerada como
Considerando-se as principais cultivares de pepinos comer- fator-chave para indução de flores femininas em resposta a
cializadas no Brasil (relatadas em documento elaborado pela temperaturas noturnas baixas.
Embrapa, 2013), foi realizada consulta junto aos sites das Normalmente, em cultivares monoicas a sequência de
empresas que comercializam as cultivares indicadas e obser- floração ao longo da fase reprodutiva da planta é de pre-
vou-se que aproximadamente 41% são ginoicas e/ou ginoica dominância de flores masculinas no início do período de
paternocárpica, sendo as do primeiro tipo predominantes. floração, seguida por um período onde a emissão de flores
As vantagens do uso de cultivares ginoicas são a maior femininas aumenta até que haja sua predominância na re-
produção de frutos e a qualidade dos frutos. Porém, consi- gião distal do ramo. Em ambientes favoráveis, a emissão de
derando-se que nestas cultivares não há produção de flores flores femininas pode ocorrer mais cedo e assim é possível
masculinas, é necessário que o planejamento de cultivo obter produção precoce, permitindo a entrada antecipada do
inclua também o plantio de cultivares doadoras de pólen, produto no mercado. Também abre a possibilidade de mais
ou seja, que produzam flores masculinas, uma vez que sem um período de cultivo na estação e o escape de condições
a polinização não há a formação de frutos, sendo exceção adversas como em regiões com períodos de temperaturas
quando se trata de paternocarpia. Quando necessário o baixas que impedem o cultivo de cucurbitáceas.
uso de planta doadora de pólen é importante considerar a A determinação do sexo das flores em cucurbitáceas é,
necessidade de coincidir o período de produção de flores portanto, um ponto-chave para a produção das espécies
masculinas das plantas doadoras com o início da abertura cultivadas da família. Deve ser um aspecto considerado na
das flores femininas das plantas comerciais. De modo geral, escolha de cultivares e regiões de cultivo, assim como pode
recomenda-se plantio de 20% da área com plantas doadoras influenciar nas práticas de manejo a serem adotadas para
de forma alternada. melhor eficiência da produção. C

Além do controle genético, o ambiente pode influenciar


na expressão do sexo em cucurbitáceas. A temperatura do
ar tem sido estabelecida como o fator mais relevante. Altas Maria Clara Coutinho Rodrigues,
Rita de Kássia Guarnier da Silva e
temperaturas associadas a dias longos estimulam a expres- Cláudia Lopes Prins,
são de flores masculinas. Desta forma, o ambiente deve ser Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf)

10 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Pimentão

Severa e A
cultura do pimentão (Cap-
sicum annuum) é uma das
hortícolas mais cultivadas no
mundo e no Brasil não é diferente. Possui

destrutiva
grande valor econômico de comerciali-
zação devido à alta demanda e ao grau
de aceitação pelo mercado consumidor.
Não existem dados atualizados sobre a
produção de pimentão no Brasil, sendo
o mais recente divulgado pelo Instituto
A antracnose é uma doença com alto potencial Brasileiro de Geografia e Estatística
de prejuízos à cultura do pimentão, com ataque (IBGE) no censo agropecuário de 2006.
principalmente aos frutos, caracterizados por manchas Esta hortaliça figurou na 8ª posição entre
as mais produzidas, com total de mais
circulares aquosas que posteriormente tornam-se de 254 mil toneladas e movimentação
necróticas e inviabilizam a comercialização. O uso superior a R$ 191,3 mil.
da indução de resistência nas plantas pode ser um Entre as doenças que infectam a cul-
importante aliado para enfrentar o problema tura, causando prejuízos econômicos, a
antracnose é severa e destrutiva, causada
por fungos do gênero Colletotrichum
Instituto Biológico

spp., que infectam vários estágios de de-


senvolvimento da planta, seja a produção
feita em campo ou ambiente protegido,
na pré e pós-colheita. Os sintomas que
geram mais perdas são os localizados
nos frutos, caracterizados por manchas
circulares aquosas que posteriormente
tornam-se necróticas, inviabilizando a
comercialização. O manejo da doença
deve ser realizado antes da fase de pro-
dução de frutos, de forma preventiva ou
corretiva ao aparecimento dos primeiros
sintomas da doença.
A indução de resistência em plantas
a pragas e doenças objetiva a ativação
das defesas latentes vegetais por meio
de elicitores que servem de sinalizadores,
deixando a planta preparada para se de-
fender contra futuros estresses. Essa de-
fesa pode ser associada com a produção
de enzimas relacionadas à patogênese,
como a peroxidase, fenilalanina amô-
nialiase e polifenoloxidase, que atuam
diretamente no atraso ou neutralização
dos patógenos, produção de barreiras
físicas como espessamento da parede
celular e/ou produção de tricomas, além
da produção de compostos químicos
como as fitoalexinas que possuem ativi-
dade antimicrobiana contra uma ampla
diversidade de patógenos.

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 11


Óleos essenciais são produtos aromáticos resultado do me- Sintomas típicos de antracnose de pimentão no campo
tabolismo secundário de vegetais encontrados em várias partes
com composição variada, e podem ou não apresentar caráter
fungitóxico na interação planta-patógeno. Scherer et al (2009)
relatam que o óleo de citronela possui características antimi-
crobianas e repelentes, sendo composto majoritariamente por
citronelal, geraniol e citronelol, além de outros 14 compostos
químicos em menor proporção. Esses compostos quando reco-
nhecidos pela planta serão iniciadores para induzir resistência.
A aplicação de óleo essencial na cultura do pimentão vem
sendo estudada para identificar os principais efeitos causados
na fisiologia da planta, tanto no metabolismo primário como no
secundário, a exemplo da indução de resistência. Os efeitos de
diversos óleos em pimentão já são descritos na literatura, como
os óleos essenciais de cravo-da-índia (Syzygium aromaticum),
canela (Cinnamomum zeylanicum), alho (Allium sativum),
alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum), alecrim (Salvia rosma-
rinus), citronela (Cymbopogon winterianus), copaíba (Copaifera
langsdorffii), manjericão (Ocimum basilicum), dentre outros.
Um patógeno agressivo como Colletotrichum spp. é capaz de
atacar uma planta já estabelecida em campo, em contrapartida
as plantas também são capazes de se defender da ação desse
agente. O nível de reação da planta vai depender de diversos
fatores como genética, as condições ambientais, a concentração
do patógeno, o nível de agressividade e o estado nutricional. O
óleo essencial possui diversos compostos presentes que podem
apresentar efeito tóxico aos patógenos afetando diretamente
seu desenvolvimento ou podem servir de elicitor e ativar a
defesa da planta antes mesmo do ataque do patógeno, garan-
tindo uma maior resistência pela planta a diversos patógenos.
Entre as alternativas de controle de doenças, a indução
(a – c) Os sintomas do tipo I foram caracterizados por lesões marrons escuras a negras, afundadas com uma
de resistência com elicitores é promissora para a produção de borda levemente elevada e muitos ávulos pretos na superfície, que produziram massas conidiais brancas sujas
frutas e hortaliças com qualidade sanitária e ausente de resí- sob condições úmidas. (d – f) Os sintomas do tipo II incluíam lesões marrom-escuras a negras, afundadas
duo. Alguns aspectos devem ser levados em consideração ao com muitos acérvulos pretos na superfície, que produziam massas conidiais viscosas cor-de-rosa de carne,
sob condições úmidas. (g – i) Os sintomas do tipo III incluíram lesões marrons a pretas claras a marrons
adotar este manejo na produção, como a concentração de óleo escuras, afundadas, com massas de conídios alaranjadas. LIU, Fangling et al. Disponível em: https://www.
essencial utilizada, a forma e o período de aplicação e qual óleo nature.com/articles/srep32761
essencial deverá ser utilizado, pois a composição e o princípio
ativo mudam em cada vegetal que o óleo essencial for extraído. culação artificial de suspensão de esporos de Colletotrichum
Em pesquisa realizada no Laboratório de Fitopatologia spp. e o efeito na severidade da antracnose. A avaliação está
(Lafit), do Centro de Ciências Agrárias/UFPB por discentes sendo realizada quanto à alteração na produção de enzimas
e docente do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, foi relacionadas à defesa vegetal e os resultados comparados com
possível determinar um percentual de inibição do crescimento plantas controle e plantas tratadas com fungicida comercial.
micelial de 100% em testes in vitro para fungos dos gêneros A aplicação de óleo essencial em frutas e hortaliças é
Fusarium spp. e Colletotrichum spp., isolados de folhas e frutos uma medida de manejo que pode ser adotada por peque-
de pimentão comercializados na cidade de Areia/PB, utilizando nos, médios e grandes produtores devido à facilidade de
óleo essencial de citronela (Cymbopogon winterianus) na con- aquisição, que pode ser realizada em lojas de produtos
centração de 2% e 1%, respectivamente. naturais, e facilidade no preparo da solução, que deve ser
A pesquisa está sendo desenvolvida também em mudas de dosada de acordo com a recomendação e diluída em água
pimentão produzidas em ambiente protegido e sendo avaliada com adição de um adjuvante para auxiliar no preparo da
quanto à indução de resistência promovida pela aplicação de solução. A aplicação pode ser feita em sementes via imersão
óleo essencial de citronela em várias concentrações com ino- ou pulverização de frutos e mudas.

12 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Morfologia e características culturais de Colletotrichum spp. da pimenta antracnose .: (A) Vista superior de uma colônia mato, inorgânicos à base de cobre, dentre
no PDA; (B) visão reversa da colônia no PDA; (C) micrografias de conídios de Colletotrichum spp .; (D) micrografias dos
apressores conidiais de Colletotrichum spp .; (E) micrografias dos apressórios miceliais de Colletotrichum spp .; (F) conidióforos
outros. Para um resultado satisfatório, é
necessário que a aplicação seja realizada
A B C D E F na concentração recomendada pelo
fabricante, respeitar sempre o período
Grupo 1 Colletotrichum gloeosporioides
sensu lato
de carência do produto e observar os
cuidados com a proteção do aplicador,
lembrando sempre que a recomendação
Grupo 2 Colletotrichum fructicola deverá ser realizada por profissionais
competentes.
Alguns outros cuidados são impor-
Grupo 3 Colletotrichum truncatum tantes na produção de hortaliças para
garantir alta produtividade e alta quali-
dade pós-colheita. Dentre as estratégias
Grupo 4 Colletotrichum acutatum
sensu lato
recomendadas, deve-se fazer uso de
cultivares resistentes, uso de sementes
tratadas e de boa qualidade, substrato
Grupo 5 Colletotrichum brevisporum livre de patógenos para produção das
mudas, evitar a irrigação por aspersão,
dando preferência ao gotejamento, re-
Grupo 6
Colletotrichum sp.
volvimento do solo dos canteiros sempre
que houver renovação da horta, evitar o
plantio próximo a lavouras velhas de so-
LIU, Fangling et al. Disponivel em: https://www.researchgate.net/figure/Morphology-and-cultural-characteristics-of-Colletotrichum-spp-from-pepper-anthracnose_
lanáceas e destruição dos restos culturais
fig1_308001960
ao fim de cada ciclo.
Nesse contexto, é importante o
O óleo essencial é um tratamento caulim, além de produtos com múltiplos aprofundamento dos estudos que pos-
preventivo sem toxidade para o ho- benefícios como os fertilizantes foliares sibilitem um maior entendimento do
mem e ao ambiente. É uma técnica de orgânicos, fungicidas microbiológicos estabelecimento dos mecanismos de
manejo promissora para uma doença de fungos e bactérias e o pó de rocha. A ativação da defesa vegetal latente, como o
tão expressiva na cultura do pimentão, aplicação de tais produtos deve ser orien- estudo da produção de enzimas em teci-
como é a antracnose, que pode ser tada por um profissional habilitado e o dos atacados por patógenos e os produtos
integrada com outras técnicas como custo-benefício levado em consideração. naturais ou químicos com potencial
a utilização de sementes tratadas com O manejo da antracnose na cultura elicitor para auxiliar na sobrevivência da
fungicida ou tratamento térmico e do pimentão com aplicação de óleo planta em um ambiente hostil e garantir
também o controle cultural. Uma vez essencial deve ser adotado de forma rentabilidade do produtor. C

estabelecida a indução de resistência, preventiva e integrada, para uma pro-


seus efeitos são prolongados ao longo dução com alto padrão de qualidade
Maria Silvana Nunes e
do tempo, podendo a planta permane- pós-colheita e redução dos custos de Luciana Cordeiro do Nascimento,
cer com as vias de defesa em estado de produção. Contudo, se a doença for iden- PPGA/UFPB
alerta por semanas. tificada durante o processo de produção,
Além de produtos naturais como o controle químico deverá ser empregado
extratos e óleos essenciais, existem pro- imediatamente fazendo uso de produtos
dutos químicos comerciais com potencial registrados pelo Ministério da Agricul-
elicitor para indução de resistência na tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
planta que agem de forma similar, ativan- para a cultura.
do as rotas de defesa e também devem Dentre os produtos registrados para
ser adotados de forma preventiva. Estes controle da antracnose na cultura do
produtos possuem em sua composição pimentão, o produtor dispõe de fun-
elementos como aminoácidos, cal + gicidas dos grupos químicos triazol, Sintomas de antracnose em folha
nim, Acibenzolar-S-Metílico (ASM), estrobilurina, isoftalonitrila, ditiocarba-

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 13


Frutas
Fotos Aloísio Sampaio

Qualidade
das feiras internacionais de frutas (Fruits
Logística em Berlin e Fruit Attraction
em Madri) e avanços importantes na
profissionalização do setor, envolvendo

certificada
certificações e logística.
Dentre as várias certificações dispo-
níveis no mercado, deve ser priorizada
pelo produtor/exportador a Global G.A.P,
reconhecida em mais de 80 países e com
Avanços importantes têm sido registrados na mais de 100 organismos de certificação
independentes. Em 1997 (22 anos
profissionalização do setor de frutas e em seu mercado, atrás), a rede de varejo europeia, pre-
com destaque para certificações e logística ocupada com a qualidade e segurança
alimentar dos alimentos adquiridos de

O
Brasil, apesar de ser o 3º a Associação Brasileira de Produtores e outros países, criou um conjunto de nor-
maior produtor mundial de Exportadores de Frutas (Abrafrutas), mas denominadas Eurep (Euro Retailer
frutas, encontra-se na 23ª sendo que no 1º semestre de 2019 hou- Produce Working Group) e GAP (Good
posição como exportador mundial de ve um aumento de aproximadamente Agricultural Practive), cujo nome passou
frutas (Coopercitrus, 2019), destacando- 20% nas receitas em comparação ao para Global G.A.P. em 2007.
-se nas frutíferas mamão (2º), melão 1º semestre de 2018. Este crescimento Os princípios técnicos que funda-
(4º), manga (5º), limão e lima (10º). positivo e significativo deve-se a alguns mentam a Certificação em seus 210 itens
A receita obtida pelas exportações de fatores, como câmbio favorável, parceria (47 obrigações maiores; 98 obrigações
frutas em 2018 rendeu ao País o valor de da Agência Promotora das Exportações menores e 65 recomendações) estão
785,7 milhões de dólares, de acordo com (Apex) com Abrafrutas nas participações baseados em princípios (www.globalgap.

14 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


org.br) como Boas Práticas Agrícolas,
Rastreabilidade, Segurança Ambiental
e do Trabalhador e Segurança Alimentar.

BOAS PRÁTICAS
AGRÍCOLAS
Consiste no Manejo Integrado de
Pragas, Controle Biológico, Manejo In-
tegrado de Doenças, Cobertura do solo
com vegetação rasteira, Adubação Verde
nas entre linhas do pomar, Calagem e
Gessagem, Adubação Orgânica, Com-
postagem, parcelamento da adubação
mediante a fenologia da cultura, análise
foliar etc.;

RASTREABILIDADE
A rastreabilidade através de rótulo,
código de barra ou QR Code na emba-
lagem do produto hortícola irá permitir
o acesso ao produtor e, principalmente, seguidas, tais como divisão do pomar
todas as práticas culturais empregadas em talhões com placas de identificação;
no campo, com destaque para os Limites implementação do caderno de campo e
Máximos de Resíduos (LMRs) permiti- pós-colheita, com anotações de todas as
dos pela Agência de Vigilância Sanitária práticas culturais empregadas em cada Talhão de goiaba Chinesa identificada para
(Anvisa) e Ministério da Agricultura, talhão; implementação de rótulo, código posterior rastreabilidade dos frutos e QR
Pecuária e Abastecimento (Mapa). Neste de barra ou QR Code nas embalagens. Code na embalagem após classificação,
ponto há uma priorização importante Carlópolis (PR)
com avanços importantes na ampliação SEGURANÇA AMBIENTAL
da grade de defensivos registrados para as E DO TRABALHADOR
conhecidas pequenas culturas, ou Minor Na auditoria externa individual ou
Crops, a fim de permitir ao fruticultor em grupo (associações ou cooperativas),
viabilizar a sua empresa. Este ponto é haverá necessidade do cumprimento de
de suma importância para todos os pro- várias normas obrigatórias, envolvendo
dutos hortícolas, em função do volume devolução das embalagens vazias de de-
de frutas comercializadas no mercado fensivos (ver site do Instituto Nacional
interno e da recente Instrução Norma- de Processadoras de Embalagens Vazias
tiva No 1 do Mapa e Anvisa, de 15 de – Inpev), outorga e análise da água de
abril de 2019, que tornou obrigatória a irrigação, apresentação do Cadastro
rastreabilidade na comercialização de Ambiental Rural (CAR) e do Plano de
frutas e hortaliças de maneira escalonada Recuperação Ambiental (PRA), caso
e progressiva. Já se encontra em vigor necessário; armazenamento correto
esta exigência para citrus, maçã e uva dos defensivos registrados para cultura;
desde 1º de agosto de 2019. As frutíferas oferta dos Equipamentos de Produção
mamão, manga, banana, goiaba, mo- Individual (EPIs); Registro dos Funcio-
rango e caqui em 1º de agosto de 2020 nários, Transporte adequado; Refeitório
e em 2021 as demais fruteiras (abacate, e banheiro etc.).
abacaxi, maracujá, figo, pêssego, acero-
la, carambola) serão fiscalizadas. Para SEGURANÇA ALIMENTAR
Armazenamento de defensivos registrados
operacionalidade de uma certificação A possível contaminação do fruto para goiaba e embalagens vazias com tríplice
eficiente, algumas práticas devem ser pode ocorrer pelo uso incorreto dos lavagem para devolução

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 15


Fotos Aloísio Sampaio

Packing house da Cooperativa de Caderno de campo utilizado pelos Vista geral do terminal de logística de frutas
Produtores de Goiaba (CPC) de Carlópolis produtores de goiaba de mesa de produzidas no perímetro irrigado do Vale do
(PR), certificada em grupo Global G.A.P. Carlópolis (PR) São Francisco no Aeroporto Nilo Coelho,
em 2019 Petrolina (PE)

defensivos agrícolas, mas também pela 16 cooperados, quatro deles deverão ser avaliação fitossanitária por técnicos do
presença de micro-organismos (bactérias submetidos à verificação dos 210 itens Mapa e/ou Anvisa, etc. Como os frutos
e fungos) desde a colheita no campo até referentes ao checklist, através de sorteio são mais ou menos perecíveis, a escolha
a gôndola do supermercado, ou seja, com a presença do auditor externo. da modalidade de transporte irá recair
instrumentos de colheita, mãos e luvas basicamente sobre este ponto, pois o mo-
higienizadas, caixas plásticas, ambiente CREDIBILIDADE dal aéreo (figo, goiaba) representa custos
de classificação, embalamento e arma- DA CERTIFICAÇÃO aproximados de seis vezes superiores ao
zenamento dos frutos também passam Após os investimentos em todos marítimo (melão, manga, limão Tahiti,
por um rigoroso checklist, e que represen- os fundamentos da norma, sugere- avocado), de modo que há necessidade
tam para o empresário e o consumidor -se a realização de uma pré-auditoria de políticas públicas para a redução das
ganhos significativos de eficiência e externa, a fim de uma checagem pre- tarifas aeroportuárias de modo que o
qualidade do produto final; liminar em relação a todos os pontos Brasil seja cada vez mais competitivo
críticos de controle (PCC), caderno de no mercado internacional. Ao visitar o
CERTIFICAÇÃO INDIVIDUAL campo e pós-colheita, documentação Terminal de Cargas do Aeroporto Nilo
OU EM GRUPO? etc., pois os custos desta prestação de Coelho, em Petrolina (PE), durante o
A grande maioria das empresas pro- serviço são menores. Após as possíveis XXVI Congresso Brasileiro de Fruticul-
dutoras de frutas possui a certificação correções identificadas e com maior tura, realizado de 29 de setembro a 4
individual e precisa realizar uma Avalia- segurança faz-se o chamamento para de outubro de 2019, verificamos que o
ção Interna do Sistema de Qualidade, a auditoria externa, que possui uma terminal encontra-se ocioso e a conces-
evidenciando de maneira documentada validade anual. sionária tem prejuízo financeiro em sua
que os fundamentos da norma estão operação, pois apenas um avião cargueiro
sendo atendidos, tais como monitora- CUSTOS DA EXPORTAÇÃO (Cargo Lux) é carregado semanalmente
mento de pragas e doenças para o ma- DE FRUTAS com frutas do Vale do São Francisco
nejo integrado, notas fiscais de insumos Quando se planeja a comercialização para Luxemburgo, o que gera enorme
comprados, análise de sangue do técnico de um produto hortícola, há necessida- preocupação sobre a sustentabilidade
de pulverização de defensivos etc. de de ter amplo conhecimento sobre a deste importante equipamento para
Outra possibilidade importante para fisiologia pós-colheita do fruto, a fim exportação. Uma das soluções passa
as cooperativas de fruticultores consiste de dominar as técnicas de conservação pelo levantamento de importações de
na certificação em grupo e neste caso (cadeia do frio, tipo de respiração, em- insumos regionais que possam estimular
há necessidade de se implantar uma balagem adequada, ventilação, paleti- a chegada de novos aviões cargueiros até
comissão de três cooperados que fiquem zação, atmosfera controlada etc.), bem a região do Vale do São Francisco, pois o
responsáveis pelo Sistema de Qualidade como os procedimentos referentes à fluxo de passageiros para uso de retorno
Interna (SQI). O número de proprieda- logística do produto, ou seja, atuação do da aeronave com os frutos teria menor
des a serem auditadas por empresa de despachante aduaneiro em promover a potencial a curto e médio prazo. C

consultoria externa credenciada deverá emissão e recolhimentos das taxas adu-


ser correspondente à raiz quadrada do aneiras (portos ou aeroportos), seguro Aloísio Costa Sampaio,
número de envolvidos, ou seja, se houver da carga ou contêiner, comprovantes de Unesp - Campus de Botucatu

16 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Capa

Inimigo
monitorado
Presente em São Paulo, Minas Gerais e no Noroeste do Paraná, o psilídeo Diaphorina citri,
vetor do Greening, é uma ameaça grave aos pomares de citros. Para evitar que o inseto e a
doença se disseminem nos demais estados do Sul, como Santa Catarina, é preciso redobrar
a atenção às medidas de acompanhamento e vigilância

Maria Cristina Canale


O
Huanglongbing dos citros
(HLB), também conhecido
como Greening, é a doença mais
importante dessa frutífera atualmente. A
doença é causada pela bactéria habitante de
floema Candidatus Liberibacter asiaticus e é
transmitida pelo psilídeo-asiático-dos-citros,
Diaphorina citri Kuwayama (Hemiptera:
Liviidae). Os principais sintomas da doença
são mosqueado nas folhas, nervuras amare-
las e salientes, frutos pequenos, deformados
e assimétricos com sementes abortadas, que-
da de folhas e de frutos. O mosqueado é o
principal sintoma resultante da infecção pela
liberibacter, e se caracteriza pela coloração
verde clara e escura sem delimitação eviden-
te nas folhas. As alterações provocadas pelo
HLB nas plantas provocam grandes perdas
de produtividade e podem levar a planta à
morte dentro de poucos anos.
O HLB foi detectado no Brasil em 2004,
em Araraquara, no estado de São Paulo, e
encontra-se disseminado de forma severa
em São Paulo e em vários municípios de Mi-
nas Gerais e Paraná. No entanto, a doença é
considerada uma praga quarentenária A2 no
Brasil, ou seja, não está distribuída em todo
o território nacional. Não existem varieda-
des comerciais resistentes ou tolerantes ao
HLB nem medidas curativas para a doença.
Portanto, a única maneira de manejo desta
doença se baseia na prevenção da infecção
da árvore cítrica. Nos locais onde a doença
é endêmica no Brasil, o manejo da doença

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 17


Fundecitrus
no campo vem sendo conseguido com certo sucesso ao serem
utilizadas estratégias que envolvem plantio de mudas sadias,
eliminação de plantas doentes e controle de D. citri, especial-
mente se essas medidas forem aplicadas regionalmente pelos
citricultores. Em locais onde o HLB não está presente, o citri-
cultor deve adquirir mudas produzidas em viveiros idôneos e
evitar o transporte de mudas de outros estados, especialmente
se a origem desse material não é conhecida.
Há o risco de introdução do HLB nos estados do Sul do
Brasil, onde a doença ainda não está presente ou ao menos
não foi relatada. A doença vem sendo disseminada pelo No-
roeste do Paraná. Possivelmente, as condições climáticas que
ocorrem entre o Noroeste do Paraná e Oeste e extremo Oeste
de Santa Catarina são propícias ao psilídeo, o que aumenta o
risco de introdução do patógeno do HLB através da dispersão
do inseto vetor. De fato, o psilídeo vetor foi registrado no Folhas de laranjeira exibindo sintomas de mosqueado, que
estado em 2004, no município de Chapecó (Chiaradia et al, é caracterizado pela coloração verde clara e escura sem
delimitação evidente
2006). Caso a tendência da dispersão continue, é provável que
o HLB chegue ao extremo Oeste catarinense. A disseminação
da doença pelo estado traria grande impacto aos pequenos mente identificada, a detecção se deu através de inspeções
produtores de citros, que são maioria absoluta no estado e que baseadas no psilídeo vetor, devido à facilidade de instalação
seriam obrigados a erradicar plantas e possivelmente pomares de armadilhas para a captura desses insetos e à dificuldade de
inteiros, levando ao abandono da cultura. O estado do Rio reconhecer os sintomas na planta, que muito se parecem com
Grande do Sul tem população de psilídeo, mas não há registro deficiência nutricional.
da doença. Manuela Sulzbach e colaboradores, em artigo pu- O monitoramento sistemático no estado de Santa Catarina
blicado na revista Tropical Plant Pathology em 2018, estimam foi iniciado em 2016. Atualmente, são vistoriados pomares
que o risco de introdução e disseminação do HLB no estado do comerciais nos municípios de Chapecó, Itajaí, Mafra, Celso
Rio Grande do Sul pode ser classificado como médio ou alto e Ramos, Araranguá, Balneário Rincão, Pouso Redondo, São
consideram que a presença da doença em países vizinhos e o Lourenço do Oeste e Apiúna. Armadilhas adesivas amarelas
transporte de frutas de outras regiões são os fatores que mais são instaladas no terço superior das plantas cítricas, nas bordas
colaboram para o risco. e no interior dos pomares. Após recolhidas, as armadilhas são
A Instrução Normativa n° 53, de 16 de outubro de 2008, enviadas para o Laboratório de Fitossanidade do Centro de
rege que, em Unidades Federativas sem a ocorrência da praga, Pesquisa para Agricultura Familiar (Cepaf/Epagri), onde são
o Órgão Estadual de Defesa Sanitária Vegetal realize levanta- examinadas buscando-se a presença do psilídeo com a ajuda
mentos semestrais da doença. As condições encontradas devem de um estereomicroscópio. D. citri é um inseto pequeno, que
ser informadas regularmente ao Ministério da Agricultura, mede 2,7mm a 3,3mm de comprimento quando adultos, com
Pecuária e Abastecimento (Mapa). A Companhia Integrada manchas marrons características nas asas. Aproximadamente
de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), 2.500 armadilhas já foram analisadas e um psilídeo D. citri
juntamente com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Ex- foi encontrado em apenas uma. Em teste molecular para a
tensão Rural de Santa Catarina (Epagri), tem monitorado a detecção de liberibacter, verificou-se que o inseto não estava
ocorrência do HLB no estado. O monitoramento da doença infectado com a bactéria. Árvores com sintomas também
é feito através de levantamentos do psilídeo vetor do HLB no não foram encontradas durante as vistorias desses pomares.
estado, bem como vistoriando os pomares na busca de plantas Até o presente momento, o HLB não foi detectado em Santa
com sintomas típicos do HLB, como o mosqueado. Diferentes Catarina, estado que se apresenta com a condição de “livre de
métodos de amostragem são utilizados para monitorar popula- ocorrência da praga” perante o Mapa.
ções de D. citri em campo. Um método comumente utilizado Medidas como essa que a Cidasc e a Epagri realizam são
é a avaliação da população de psilídeos através de observação também desempenhadas em outros locais com o intuito de
visual das plantas em busca de ovos, ninfas e adultos do psilí- prevenir a invasão do HLB e o consequente impacto sobre a
deo. Outro método largamente utilizado é a captura de adultos citricultura local. A Argentina tem um programa de monito-
em armadilhas adesivas amarelas, disponíveis comercialmente. ramento e erradicação do HLB e dispõe de um canal aberto
Em diversos lugares no mundo onde a doença foi primeira- de comunicação com a instituição responsável funcionando

18 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Fotos Maria Cristina Canale

Psilídeo-asiático-dos-citros capturado em armadilha adesiva


amarela. O inseto é identificado observando-se o tamanho e
pelo padrão das manchas marrons nas asas

fitossanitária de origem e permissão. Todo material em que se


constata a infecção pelo HLB é eliminado.
A produção brasileira de laranja é a maior do mundo e
responde por mais de 60% do total de suco produzido e 80%
do mercado internacional. A produção de laranja em Santa
Catarina gera rendimento bruto de aproximadamente R$ 11
milhões, dos quais se beneficiam 1.371 produtores (dados de
Análise da armadilha em laboratório, Goulart Junior et al, Relatório de projeto: Fruticultura Catari-
utilizando um estereomicroscópio. nense - Valor da produção comercial na safra 2014/15), na sua
maioria agricultores familiares, o que evidencia a importância
continuamente. Viveiros clandestinos são destruídos quando social da citricultura para os produtores catarinenses. Mais de
encontrados. A doença já foi relatada por lá, assim como na 80% da produção se concentra nas regiões Oeste e Alto Vale
Colômbia e no Paraguai. No Peru, onde a doença ainda é do Itajaí, com predominância de laranjas e tangerinas voltadas
ausente, medidas de prevenção foram implementadas, nas para a indústria de sucos e consumo in natura. Como não há
quais apreende-se material sem certificação em circulação. oferta de cultivares resistentes ao HLB nem medidas curativas
Nos Estados Unidos, uma medida de quarentena foi anun- à doença, medidas preventivas para impedir sua introdução
ciada a partir da detecção de uma única árvore doente no em Santa Catarina e em outros estados onde a doença não
condado de San Bernardino, na Califórnia. A medida proíbe está presente se fazem necessárias. Os produtores catarinenses
o movimento de todos os materiais ou partes de citros a partir de citros devem entrar em contato com a Cidasc caso identi-
daquela área. No Brasil, a Instrução Normativa n° 53 rege fiquem suspeita do HLB em sua propriedade. C

não apenas o monitoramento da doença em áreas onde está


Maria Cristina Canale,
presente e ausente, mas também medidas para prevenir a Rodolfo Vargas Castilhos,
sua disseminação, como a produção de mudas e material de Luana Aparecida Castilho Maro e
propagação em ambiente protegido, cuja construção esteja de Eduardo Cesar Brugnara,
acordo com exigências e trânsito de material com certificação Epagri
Uva

Videira A
filoxera-da-videira Daktulos-
phaira vitifoliae (Fitch, 1856)
(Hemiptera: Phylloxeridae) é
um inseto pequeno (0,8mm a 1,2mm de

atacada
comprimento), semelhante a um pulgão,
que se alimenta de raízes e folhas da vi-
deira. O hemíptero é nativo da América
do Norte, porém se transformou em uma
praga de importância econômica no final
do século 19, quando foi introduzido na
De tamanho pequeno, semelhante a um pulgão, a filoxera Europa e se espalhou rapidamente nos
Daktulosphaira vitifoliae é uma praga que ao afetar as principais países produtores, dizimando
raízes leva ao declínio gradual das plantas, além de vinhedos de V. vinífera. Isso ocorreu por-
facilitar o acesso de patógenos presentes no solo. Na parte que naquela época as plantas de videira
eram cultivadas como pé franco.
aérea provoca distorção foliar, necrose e desfolhamento Ao atacar as raízes de V. vinífera (forma
precoce. O uso de porta-enxertos resistentes e o emprego radícola), o inseto provoca dois sintomas
de controle químico, no caso de cultivares-copa, são as característicos: as nodosidades e as tube-
rosidades. As nodosidades ocorrem no
principais estratégias contra este inseto tecido não lignificado da planta, perto
das pontas das radicelas formando es-

Fotos Marcos Botton


truturas semelhantes a ganchos (Figura
1). As tuberosidades ocorrem em partes
lignificadas da raiz, e a alimentação
permanente nessas raízes pode levar ao
declínio gradual das plantas associado
à presença de patógenos presentes no
solo, devido aos ferimentos causados nos
locais de inserção dos estiletes durante a
alimentação (Figura 2).
Na parte aérea, (forma galícola) a
filoxera forma estruturas conhecidas
como galhas (Figura 3) que se formam
principalmente nas folhas novas. Dentre
os sintomas advindos da formação dessas
galhas nas folhas, destacam-se a distor-
ção foliar, a necrose e o desfolhamento
precoce. A forma galícola atinge altas po-
pulações apenas em videiras americanas,
sendo necessário o controle em viveiros de
porta-enxertos e em alguns anos na parte
aérea de cultivares híbridas, onde causa
redução da produção de ramos. Adicio-
nalmente, em novos plantios, o inseto
impede o desenvolvimento das plantas,
tornando-as fisiologicamente mais sus-
cetíveis aos estresses bióticos e abióticos.
Além disso, a grande quantidade de
galhas reduz a capacidade fotossintética
das plantas, diminuindo a concentração
de carboidratos, diminuindo o potencial

20 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


de formação do callus de enxertia por
ocasião da etapa de produção de mudas.
Já cultivares-copa, híbridas como a BRS
Lorena e a BRS Bibiana, têm demons-
trado suscetibilidade à forma galícola da
filoxera, tornando necessária a aplicação
de inseticidas nos vinhedos em situações
de elevada infestação.
No Brasil, a filoxera tem sido encon-
trada em praticamente todas as regiões
vitícolas do país. A convivência com
o inseto, sem a repercussão negativa
observada em outros países, tem sido Figura 1 - Nodosidades causadas pela filoxera em raízes de Vitis vinifera de
atribuída ao cultivo intensivo de culti- origem americana. (A) fêmea adulta; (B) massa de ovos (imagem ampliada
vares de videiras de origem americana em 32x); (C) nodosidade em radicela
como Isabel, Bordo, Concord e Niágara,
que hospedam a praga nas raízes, porém
toleram o seu ataque. Em cultivares de
V. vinifera geralmente não ocorre a forma
galícola (parte aérea), havendo somen-
te a forma radícola, que permanece o
período de inverno nas nodosidades e
tuberosidades produzidas.
As propriedades texturais do solo,
particularmente a proporção de areia Figura 2 - Tuberosidades causadas pela filoxera em raízes de Vitis vinifera. (A)
para teor de argila, é um fator importante tuberosidade proveniente da sucção do inseto (ampliação 20x); (B) fêmea; (C)
que afeta o estabelecimento, o desenvol- ovos (ampliação da imagem 32x)
vimento e a dispersão populacional da
filoxera. De maneira geral, solos arenosos
minimizam a infestação da praga.

CICLO BIOLÓGICO
A filoxera apresenta ciclo biológico
complexo, incluindo formas reprodu-
tivas sexuadas, assexuadas, aladas e
ápteras (sem asas). Na primavera, atra-
vés dos ovos de inverno depositados no
ritidoma (camada externa da casca) da Figura 3 - Galhas de filoxera em folhas do porta-enxerto Paulsen 1103. Na
videira pelas formas ápteras sexuadas, ampliação ao lado, através de um corte transversal na galha, é possível visualizar
ocorre a eclosão das ninfas de primeiro uma fêmea adulta de filoxera com ovos. (Ampliação da imagem em 40x)
instar que irão colonizar as folhas novas
da videira de origem americana e formar
as primeiras galhas. Cada fêmea galícola sistema radicular, causando nodosidades ápteros e outro maior, que origina fême-
pode ovipositar centenas de ovos, repro- em raízes jovens em expansão ou tube- as ápteras. Após o acasalamento, essas
duzindo-se partenogeticamente no inte- rosidades, em raízes lignificadas. formas ápteras reiniciam o ciclo ovipo-
rior da galha (Figura 3). Posteriormente, Ao término do verão, alguns ovos de sitando ovos de inverno (um por fêmea).
dependendo das condições climáticas, fêmeas radícolas originam formas aladas, Em alguns casos, uma rota alternativa
destes ovos podem surgir novas fêmeas que emergem do solo e migram para as pode ocorrer onde formas sexuais (ovo
galícolas que irão completar várias gera- partes lenhosas da planta (Figura 4). Es- macho e ovo fêmea) são produzidas pe-
ções nas folhas, ou fêmeas radícolas, que ses insetos alados ovipositam dois tipos las fêmeas galícolas. O “fundatrix” (ovo
migram para o solo e se desenvolvem no de ovos: um menor que origina machos de inverno) é ovipositado no ritidoma

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 21


Fotos Marcos Botton

No Brasil, em criação in vitro realizada em raízes lignifi-


cadas de Cabernet Sauvignon, os ovos apresentam período
de incubação de 5 ± 0,36 dias com 100% de viabilidade. O
inseto passa por quatro instares, sendo o primeiro mais longo,
com duração média de 10,72 ± 0,41 dias, o segundo, terceiro
e quarto instares apresentam, 1,71 ± 0,06, 1,50 ± 0,06 e
1,57 ± 0,05 dias, respectivamente (Figura 5). Em condições
ideais, (25°C, 70% de umidade no escuro) adultos em raízes
extirpadas sobrevivem de um mês a dois meses, ovipositando
diariamente ao redor de nove ovos por fêmea, com média de
207,79 ± 11,98 ovos/fêmea ao longo da vida.

CONTROLE
O controle químico da filoxera, quando presente nas raí-
zes, não tem sido recomendado pois, em geral, as espécies de
porta-enxertos utilizadas são resistentes ao ataque do inseto.
O controle da forma galícola, em campos de matrizes de
porta-enxertos ou em novos plantios de porta-enxertos para
Figura 4 - (A) Forma alada de D. vitifoliae; (B) ovo; (C) ninfa de posterior enxertia, tem sido realizado a partir do aparecimento
primeiro instar, (D) adulto com as projeções das asas surgindo das primeiras galhas. Já para cultivares-copa, como a BRS
nas laterais do corpo. (Ampliação da imagem em 32x) Lorena e BRS Bibiana, a aplicação de inseticidas nos vinhedos
é necessária em situações de elevada infestação. Os inseticidas
das plantas, permanecendo sob forma hibernante durante com eficácia para o controle do inseto são imidacloprid, thia-
o inverno. Alternativamente, além do ovo de inverno, pode methoxam, piretroides e mais recentemente a flupiradifurona.
ocorrer a hibernação das ninfas de primeiro instar, enquanto É necessário estar atento para a possibilidade de apa-
as demais fases de desenvolvimento não sobrevivem ao frio. recimento de ácaros fitófagos em decorrência da aplicação
Nas raízes, os ovos apresentam período de incubação de sequencial de inseticidas de amplo espectro que provocam
seis dias em condições ideais de temperatura (22ºC a 26°C), desequilíbrio na população de inimigos naturais, contribuindo
com 90% de viabilidade. As ninfas de primeiro instar são ativas para o surgimento de pragas secundárias. C

e podem mover-se entre as raízes para estabelecer novos pontos


de alimentação. Quando o inseto muda para o segundo instar, Simone Andzeiewski e
as formas galícolas e radícolas da filoxera tendem a se alimentar Daniel Bernardi,
UFPel
em um ponto fixo. Existem quatro instares que antecedem a Marcos Botton,
fase adulta completando essa fase em menos de uma semana. Embrapa Uva e Vinho

Figura 5 - Ciclo biológico (fase radícola) de D. vitifoliae, com valores médios de cada uma das
fases de desenvolvimento em raízes extirpadas de Cabernet Sauvignon mantidas em câmara
climatizada (a 25 ± 1ºC, 75 ± 10% de umidade relativa, no escuro). Imagens ampliadas em 32x

22 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Alface
Geraldo Milanez de Rezende

Plantio
direto
Como o uso da palhada de sorgo sobre o solo pode favorecer o cultivo de alface crespa por
proporcionar menor infestação de ervas daninhas, maior capacidade de reter água no solo
e redução da luminosidade do sol em uma cultura pouco tolerante a altas temperaturas

A
s hortaliças possuem uma pois possuem baixa duração no período de ervas daninhas e a baixa retenção de
grande representatividade no vegetativo. Seu florescimento é rápido e água para as raízes.
cenário nacional agropecuário. com grande capacidade de produção de Com um clima propício, o Paraná tem
Uma cultura que se destaca é a alface sementes, além de possuir alto número uma vasta área de produção de hortaliças
(Lactuca sativa), hortaliça com produção de folhas e massa da planta. Estes fatores e é o terceiro maior produtor do Brasil.
de folhas cuja área plantada é estimada estão relacionados ao fotoperíodo e prin- Trabalhos como de Trintin (2001), Ro-
em torno de 35 mil hectares (1 hectare cipalmente à temperatura. Autores citam drigues et al (2004), Sereia et al (2002)
equivale a 10.000 m2). Dados de Costa e que temperaturas acima de 20ºC podem apresentaram grande importância para
Sala (2005) dão conta de que este mer- causar pendoamento precoce, tornando a agropecuária estadual, movimentando
cado, desde a produção de sementes à inservível a planta para o consumo. grandes volumes de dinheiro. Um salto
comercialização em feiras e grandes redes Como este mercado está em franca na representatividade do estado reside
de supermercados, está na casa dos dois expansão, muitas empresas têm utilizado na adesão ao plantio na palha de gran-
milhões de dólares por ano. seus departamentos de pesquisas para des culturas, como a soja e o milho, que
As cultivares que possuem maior acei- aprimorar e desenvolver novas cultivares, posteriormente pode abranger outras
tação na mesa do consumidor brasileiro com adaptabilidades a climas específicos. culturas.
são do grupo crespa, que lidera o ranking, Um dos problemas encontrados O plantio na palha é conhecido como
com um nicho de mercado que possui pelos produtores reside no fato de que sistema de plantio direto, que consiste
uma fatia com mais de dois terços (2/3) as hortaliças, na maioria das vezes, são em uma cadeia de operações tanto no
da cadeia. Americana e lisa possuem de plantas suscetíveis ao sol, ou seja, não solo, como na planta, que traz muitos
10% a 15%, respectivamente. são tolerantes a altas temperaturas, por benefícios para o desenvolvimento geral
Sua estrutura fisiológica depende isso o uso de produção em áreas cobertas. das culturas. Um dos princípios para que
de recursos imediatos, com uso de Outros fatores que impedem o produtor o SPD possa ter eficácia é a cobertura
fertilizantes tanto de solo como foliar, de obter altas produções é a incidência do solo, evitando assim diversos proble-

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 23


Figura 1 - Análise química do solo. Sendo: S.B.: soma de bases; Ca: cálcio; Mg: aumentando a porosidade e a desagregação das partículas
magnésio; K: potássio; Al: alumínio; P: fósforo, H+Al: hidrogênio + alumínio específicas, uma grande aliada para a rotação de culturas le-
Amostras de solo pH S.B. H+Al Ca Mg K Al P guminosas. A relação C/N mais elevada dessa família implica
(m) H2O (%) cmmolc/dm3 mg/dm3 maior permanência dos resíduos no solo, favorecendo o estabe-
0 – 0,20 5,87 23,04 1,02 11,21 3,10 1,02 0,1 35,42
lecimento da cobertura. Do Norte ao Sul do País há plantas que
Fonte: autores (2019) estão completamente adaptadas para este fim, como o sorgo.
Figura 2 - Croqui da área experimental de plantio da alface cultivar Crespa sobre a palhada de O sorgo (Sorghum bicolor L. Moench) é uma planta com
sorgo, Palotina, 2019 características xerofílicas, que além da sua baixa exigência
em termos de riqueza mineral do solo, apresenta tolerância/
resistência aos fatores abióticos, como estresse hídrico e sali-
nidade. O sorgo é uma planta C4, ou seja, possui altas taxas
fotossintéticas. A grande maioria dos materiais genéticos de
sorgo requer temperaturas superiores a 21ºC para um bom
crescimento e desenvolvimento (Magalhães, 2003).
Tabosa et al (2002) ressaltam o cultivo de plantas xerófilas
no semiárido nordestino como meta fundamental para o apro-
veitamento dessa região, tendo em vista as suas adversidades
climáticas. Considerando-se esse aspecto, e aquele relacionado
Tabela 1 - Resultados coletados nos canteiros da experimentação, na utilização aos diferentes sistemas de produção, prevalecentes na região,
do SPD na alface cultivar Crespa, no Colégio Agrícola de Palotina, Toledo, 2019 infere-se que é de interesse o desenvolvimento de um programa
Número de plantas MFPA (g) MSPA (g)
de avaliação de variedades e híbridos de sorgo, com o objetivo
Tratamento 10,33a 95,50a 3,50a de subsidiar os agricultores na escolha de materiais de melhor
Testemunha 6,83b 83,33b 2,82b adaptação, e que sejam portadores de atributos agronômicos
Média geral 8,58 89,92 3,15 desejáveis.
CV (%) 2,74 6,51 3,44 O cultivo do sorgo vem aumentando sua importância na
p-valor 0,000016 0,0000000004 0,0000026 região Nordeste, principalmente nas áreas com ocorrências
Sendo: MFPA: massa fresca de parte aérea; MSPA: massa seca de parte aérea; CV (%): coeficiente de variação frequentes de deficiência hídrica, devido às suas característi-
em porcentagem; p-valor: nível descritivo ou probabilidade de significância. Letras diferentes diferem entre cas de resistência à seca e substituto do milho na alimentação
si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Fonte: autores (2019) animal em rações balanceadas para bovinos, suínos e aves
(Pitombeira et al, 2004).
mas no transcorrer do desenvolvimento das plantas, como as
infestações de daninhas, a redução do peso e velocidade das EXPERIMENTO
gotas de chuva, o aumento na liberação da matéria orgânica Com o objetivo de avaliar a produção da alface crespa com
por completo no solo, dentre outros fatores. a utilização do sistema de plantio direto na palha de sorgo, um
Esta união de fatores melhora o sistema completo dos atri- experimento foi conduzido em condições de campo, no período
butos físicos, químicos e biológicos do solo. Alguns autores, de setembro a outubro de 2019, no Colégio Agrícola Estadual
como Alvarenga et al (2001), deixaram claro que a palhada Adroaldo Augusto Colombo (CAEAAC - PR), no município de
sobre o solo é fundamental para que o SPD possa ter eficácia e Palotina, Paraná, com altitude de 240m, Latitude Sul 24°47’16”
aumento na eficiência do desenvolvimento do solo e da planta. e Longitude Oeste 53°43’29”, região Oeste do Paraná, no Sul do
Esta palhada cria um ambiente favorável às condições físicas, Brasil. Através da análise de solo retirado do local do experimento
químicas e biológicas do solo, contribuindo para o controle de constatou-se ausência de necessidade de correção ou mesmo de
plantas daninhas, a estabilização da produção e a recuperação aplicação de fertilizante de solo. O resultado da análise de solo pode
ou manutenção da qualidade do solo. Diversas são as variedades ser observado na Figura 1.
de plantas que podem atuar como cobertura do solo (palhada). O solo da região é classificado como Latossolo Vermelho eutró-
Em geral, as leguminosas são preferidas, além de ser fico de textura muito argilosa.
consideradas adubos verdes, por possuir alto poder de apro- Apesar dos resultados (Figura 1), foram aplicados 20kg/ha de
veitamento do nitrogênio atmosférico. Possuem também um “esterco de boi curtido” (compostagem), cinco dias antes do plantio
sistema de raízes profundas (pivotantes), além de uma relação do sorgo, como fonte de matéria orgânica e oferta de nutrientes
C/N alta, que resulta em uma decomposição rápida e eficiente. (principal função da liberação de matéria orgânica para melhora
Contudo, plantas de outras famílias podem ser utilizadas com dos processos químicos, biológicos e físicos). A incorporação ocorreu
essa finalidade, principalmente se o objetivo for a manutenção nos canteiros por meio de enxadas, através de trabalho manual.
da cobertura do solo, e não a incorporação de resíduos. O híbrido de sorgo utilizado foi o Agroeste (AS4639), com a
Segundo Igue (1984), as gramíneas (monocotiledôneas), semeadura a lanço, sendo aplicado em 1m2, 10g de sementes. A
por possuírem raízes axiais ou chamadas cabeleiras, têm maior função exclusiva do sorgo foi de produção de palhada (cobertura do
área de atuação no solo, o que melhora a estrutura física, solo) para o plantio da alface cultivar Crespa. Quando o sorgo estava

24 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Figura 3 - Disponibilização do modelo estatístico do experimento programa estatístico Action. Para os gráficos relação às ervas daninhas. Girardello et
no campo, DBC do plantio da alface cultivar Crespa sobre a foi usado o Origin 6.0. Foi também aplicada al (2017) trabalharam com alface no Rio
palhada de sorgo, Palotina, 2019
neste experimento a análise de regressão. Grande do Sul, com sistema de transição de
A Figura 3 exibe os resultados de número cultivo convencional e direto com algumas
de folhas, massa fresca e massa seca de parte leguminosas e gramíneas e obtiveram maior
aérea da alface cultivar Crespa no sistema resultado de massa fresca e altura de planta
com plantio direto com o uso de sorgo como quando analisados trabalhos em sistema de
palhada. Houve um aumento nas variáveis transição.
em ponto de maturação, as plantas foram apresentadas do tratamento em relação à A Figura 4 apresenta as curvas e suas
picadas com um facão simples, deixando o testemunha. Isso pode ser decorrente de respectivas equações de regressão, aplicados
caule (talo) com uma altura de 10cm do solo. uma menor infestação de ervas daninhas, no modelo de número de folhas, massa fresca
Foram utilizadas as folhagens e a frutificação maior capacidade de reter água no solo e e seca de parte aérea da alface cultivar Crespa
para cobertura do solo. As mudas de alface principalmente redução da luminosidade no município de Palotina, Paraná.
cultivar Crespa foram adquiridas em uma do sol. Menezes e Mozena (2004), em um Consideradas as variáveis de plantio dire-
casa agropecuária da mesma cidade. Nos trabalho, utilizando diversas fitomassas, to e convencional, observa-se na Figura 4.a,
canteiros onde foram colocadas as testemu- inclusive o sorgo, apresentaram resultados que a MFPA do tratamento sempre esteve
nhas não houve semeadura do sorgo ou de satisfatórios em relação à melhora na estru- acima dos pontos da testemunha (sistema de
qualquer outro tipo de cobertura do solo. turação do solo. plantio convencional). O mesmo se verifica
O transplantio ocorreu no mesmo dia da A massa fresca de parte aérea é um nas figuras subsequentes (4.b e 4.c), onde
compra das mudas, no mês de setembro de indicador importante para a produção de as linhas de tendências do tratamento são
2019. O espaçamento utilizado no plantio alface. Na Figura 3 é possível observar que maiores que a testemunha, mesmo obser-
da alface foi de 0,20m x 0,20m (espaça- a MFPA do tratamento obteve um incre- vando os pontos de máxima e mínima no
mento entre plantas e espaçamento entre mento de 3,5g por planta, em uma área início e no final da tendência.
linhas), com uma área de planta de 0,04m2, em que o produtor possui 10.000 plantas O experimento apresentou grande efi-
conforme Figura 2. 35.000g, ou seja, 35kg a mais na produção. ciência nas questões relacionadas a número
Os tratos culturais da alface incluíram Reforçando estes valores significativos com de folhas, massa fresca e seca de parte aérea
irrigação quando necessário. Foi utilizado o uso do SPD, Duarte Junior et al (2009), da alface, com incrementos nos resultados
um aspersor (Microaspersor Rotativo Baila- ao avaliarem a infestação de ervas daninhas finais, que podem vir a melhorar a rentabi-
rina de estaca de 60cm com microtubo 1m), na cultura da cana-de-açúcar, conseguiram lidade final do empresário rural.
ligado uma vez ao dia. Também foi realizada obter respostas de produtividades acima de Foi observado, sem aplicação de
uma adubação simples de cobertura do 5-10- 25% em relação ao plantio convencional. dados estatísticos, que no canteiro em
10, em uma dosagem 50g/m2. Ambos os Oliveira et al (2006) analisaram a via- que foi semeado o sorgo, a infestação
manejos foram realizados tanto nos canteiros bilidade do SPD na alface cultivar Vera da principal erva daninha da região, a
do tratamento como na testemunha. utilizando gramíneas e forrageiras, mas não tiririca (Cyperus rotundus), teve redução
No experimento foi aplicado o deli- obtiveram a mesma resposta, no plantio significativa na germinação. Este resul-
neamento em blocos casualizados (DBC) direto em relação ao convencional. Ao con- tado pode estar relacionado à menor in-
(Figura 3). trário do que ocorreu nesta pesquisa, em que cidência de raios solares, o que dificulta
A metodologia usada neste trabalho NF, MFPA e MSPA registraram diferenças para a planta produzir o metabolismo da
foi descrita e adaptada por Resende et al significativas qualitativas e quantitativas, fotossíntese. C

(2003), avaliando número de folhas viáveis estatisticamente.


para consumo, massa fresca da parte aérea O número de folhas e a massa fresca de Emmanuel Zullo Godinho
e massa seca da parte aérea (g). Os dados parte aérea no SPD mostraram resultados CAEAAC
foram submetidos à análise de variância e satisfatórios em relação ao sistema conven- Fernando de Lima Canepele
comparados pelo teste de Tukey ao nível cional. Esses dados podem ser relacionados USP
com a menor concorrência da alface em Helio Vagner Gasparotto
de 5% de probabilidade, com auxílio do
Unesp

Figura 4 - Curvas e equações de regressão polinomiais aplicadas no modelo estatístico, no sistema de plantio direto com uso da palhada de sorgo e convencional na alface cultivar Crespa, Palotina, PR
A B C

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 25


Tomate

Ameaça O
Tomato Brown Rugose Fruit
Virus ou simplesmente ToBR-
FV é um vírus que foi descrito
pela primeira vez em 2014, em Israel. Faz

concreta
parte do grupo dos tobamovírus, em que os
mais conhecidos são o Tobacco Mosaic Virus
(TMV) que infecta o fumo, o Tomato Mo-
saic Virus (ToMV) do tomateiro, o Pepper
Mild Mottle Virus (PMMoV) da pimenteira
e o Odontoglossum Ring Spot Virus (ORSV)
Com alta capacidade de disseminação e de de orquídeas, todos já relatados no Brasil.
provocar danos à produção de tomate, o Esse vírus, como os outros tobamovírus,
acumula-se em grande quantidade no
Tomato Brown Rugose Fruit Virus (ToBRFV), tecido infectado e é facilmente transmitido
descrito pela primeira vez em Israel, em 2014, é por contato.
quarentenário no Brasil e exige esforços de toda a Os principais mecanismos de dissemi-
cadeia produtiva para evitar seu ingresso no País nação dos tobamovírus são pela semente
e por contato com materiais contamina-
Fotos Moshe Lapidot
dos, como partes da planta, ferramentas,
implementos, mãos, luvas e roupas. Esses
vírus são muito estáveis e permanecem
viáveis por longos períodos na área em
partes de plantas secas e contaminantes de
ferramentas agrícolas. Durante os procedi-
mentos de poda e amarrio, esses vírus são
facilmente transmitidos de uma planta a
outra. Foi relatado também que esse vírus
pode ser transmitido por abelhas (maman-
gavas - "bumblebees" - "Bombus terrestris")
durante a polinização. A transmissão por
sementes não foi confirmada, apesar de o
vírus ter sido detectado em sementes, na
superfície e internamente.
A doença pode ocorrer tanto em campo
aberto como em cultivo protegido. Entre-
tanto, espera-se que a incidência seja mais
séria e frequente em estufas com plantios
continuados.

O VÍRUS INFECTA
QUAIS PLANTAS?
O ToBRFV já foi relatado infectando
tomateiro, pimentão e berinjela natural-
mente, mas a lista é longa quando testes de
inoculação foram realizados. As seguintes
plantas foram infectadas por inoculações
artificiais: fumo (Nicotian benthamiana,
N, clevelandii, N. glutinosa, N. sylvestris,
N. tabacum), maria-pretinha (Solanum
nigrum), chenopodium (Chenopodium
amaranticolor, C. benghalense, C. murale,
C. quinoa), chenopodiastrum e petunia
26 Cultivar HF • Abril / Maio 2020
Wilstermann A e Ziebell H

Folha deformada, afilada, de planta de Fruto de tomate com manchas cloróticas de


tomateiro infectada por ToBRFV plantas infectadas por ToBRFV

(Petunia x hybrida). resistentes à infecção pelos tobamovírus. Aqui no Brasil, e


também no restante do mundo, há uma grande oferta de
SINTOMAS cultivares de tomateiro que apresentam resistência à infecção
ToBRFV tornou-se um dos vírus quarentenários mais pelos tobamovírus, principalmente ao ToMV, o mais comum
temidos pelos produtores. Isso se deve à severidade dos sinto- em tomateiro. O gene de resistência Tm-22 é amplamente
mas que causa, pela rápida dispersão no ambiente e por não usado e frequentemente presente nas cultivares de tomateiro
existirem cultivares com resistência à infecção. Os sintomas comercializadas no Brasil. Dessa forma, o aparecimento de
consistem de manchas de cor clara (mosqueado), clorose e mo- sintomas lembrando a infecção por ToMV em plantas com
saico nas folhas, deformação foliar e nanismo. Clareamento de resistência pode indicar a presença do ToBRFV e é necessária
nervuras e afilamento de folhas podem ocorrer ocasionalmente. a sua confirmação urgente. Em pimentão, acredita-se que o
Os sintomas podem ser amenos a severos e normalmente visí- gene L confere resistência ao ToBRFV.
veis na parte mais nova das plantas infectadas. Os frutos são
em geral menores, enrugados, com manchas circulares de cor ONDE JÁ FOI RELATADO?
amarelada e também manchas amarronzadas na superfície. Os O vírus foi relatado em Israel (2014) e posteriormente na
frutos podem ficar deformados e com maturação irregular. Pode Jordânia (2015). Rapidamente, o vírus se alastrou para outros
haver formação de lesões em outras partes da planta, como países: Itália (2018), México (2018), Turquia (2019), China
pecíolo de folhas, pedúnculo e cálice dos frutos. Há redução (2019), Grécia (2019), Reino Unido (2019) e Holanda (2019).
na produção (relatos de 30% a 70%) e as manchas prejudicam Após a constatação da doença na Alemanha (2018) e nos
a comercialização dos frutos. Os sintomas são mais severos em Estados Unidos (2017), foi possível a realização de medidas
plantas com infecção precoce e normalmente aparecem após de erradicação e estes dois países ainda são considerados como
12 a 18 dias da inoculação. livres da doença. A erradicação é um procedimento muito
Em pimentão (Capsicum annuum), os sintomas incluem complexo, por este vírus contaminar facilmente as ferramentas
deformação, clorose e mosaico nas folhas. Frutos nesta planta de produção, mas a partir dessas duas experiências de sucesso
ficam deformados, com áreas amarelas ou marrons ou listras conclui-se que a eliminação de todas as plantas infectadas é
verdes. possível e deve ser implementada assim que a ocorrência do
A doença pode ser confundida com outras em tomateiro, vírus seja confirmada.
portanto a diagnose não é simples. As manchas nos frutos são No Brasil, o ToBRFV é quarentenário e é necessário que
parecidas com aquelas causadas por tospovírus, que causam sejam realizados esforços para se impedir a entrada do vírus.
o vira-cabeça do tomateiro. Também podem ser semelhantes Recomenda-se que todos redobrem a atenção para detectar
a manchas causadas pelo pepino mosaic virus, não relatado plantas suspeitas. Em caso de suspeita de ocorrência do vírus,
no Brasil. primeiro avaliar se a cultivar é resistente à infecção por ToMV.
Se resistente, solicitar a realização do teste de detecção de To-
HÁ CULTIVARES COM RESISTÊNCIA? BRFV em clínicas fitopatológicas ou na Embrapa Hortaliças.
O vírus ToBRFV chamou atenção por infectar plantas Medidas de erradicação precisarão ser efetuadas na tentativa de
Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 27
Wilstermann A e Ziebell H

do compartimento com as plantas. Sa-


nitizar todas as ferramentas cortantes
de trabalho após cada planta. Depois
da colheita, retirar todos os restos ve-
getais e desinfestar toda a estufa.

EM CASO DE LAVOURA
COM PLANTAS INFECTADAS
Remover as plantas infectadas com
muito cuidado e destruir, enterrando
ou incinerando sem produzir restos
(que ainda contenham partículas de
vírus ativas) que se deslocam pelo ar.
A estufa em que a planta infectada foi
encontrada deve ser mantida isolada,
conter o vírus e evitar a sua dispersão em infectados pode ter sido a causa da in- com equipamentos de proteção indivi-
outras áreas de produção. O problema é trodução do vírus na lavoura. dual específicos para esta estufa. Não
muito sério. utilize nenhuma ferramenta em outras
MUDAS SUSPEITAS estufas e sempre comece os trabalhos
ESTABILIDADE DA EM VIVEIRO com roupas e ferramentas limpas. La-
PARTÍCULA VIRAL? Se houver suspeita de ocorrência var roupas com água quente e sabão.
As partículas virais ficam ativas na de ToBRFV em mudas de tomateiro As mãos devem ser lavadas com sabão
pele e nas luvas por mais de duas ho- no viveiro, recomenda-se realizar e as unhas com escova para remoção
ras. Já em superfície de vidro, os vírus teste de detecção para confirmação e de pedaços de tecido. As ferramentas
ficam ativos até quatro semanas; em eliminar todas as mudas em um raio podem ser imersas em solução de leite
concreto por mais de uma semana; em de 1,5m. Cortar a água um dia antes em pó desnatado a 3,5%. Não permitir
aço, alumínio, plástico e politeno por da remoção. Durante a eliminação entrada de pessoas não autorizadas
mais de quatro semanas. Sabe-se que das plantas, não tocar em mais nada nem animais. Só trabalhar na estufa
o vírus permanece ativo em superfície e incinerar todas as plantas. Destruir contaminada por último. Após a co-
plástica com tratamento de 70°C por ou desinfectar todas as bandejas e lheita, remover os restos vegetais e
5', mas é inativado quando tratado por materiais usados para o processo. desinfestar toda a estufa.
90°C por 5'. Limpar a área e remover todos os Plantas sem sintomas não são plantas
restos de planta e substrato. A área, os sadias, podem ser apenas plantas em
MANEJO DA DOENÇA equipamentos e as ferramentas devem que os sintomas ainda não apareceram.
O manejo da doença causada pelo ser desinfectados com produtos como Há um período de incubação necessário
ToBRFV é concentrado no uso de água sanitária (0,5% hipoclorito de para os sintomas serem visíveis. Algumas
sementes e mudas sadias. Luvas, fer- sódio). Leite em pó desnatado na con- cultivares podem apresentar sintomas
ramentas e roupas devem ser lavadas centração de 3,5% ajuda a prevenir a leves ou não apresentarem sintomas,
e trocadas com regularidade. Estacas, disseminação do vírus. Procurar quais mesmo infectadas.
bandejas e tesouras devem ser limpas e as possíveis fontes do vírus para evitar Esse vírus é uma grande ameaça à
desinfectadas com frequência. Utilizar um nova entrada. produção de tomate em todo o mundo.
luvas e sempre lavar as mãos antes e Em países onde já foi constatado, esfor-
depois do seu uso. A desinfecção das RECOMENDAÇÕES EM ços contínuos de erradicação estão sendo
ferramentas pode ser feita com água sa- CULTIVOS LIVRES feitos. Naqueles países em que o vírus
nitária (>0,5% hipoclorito de sódio) ou DE TOBRFV ainda não foi detectado, é preciso a todo
leite desnatado. Sempre que for entrar na Entrar na área de cultivo somen- custo evitar a sua entrada. É necessário
lavoura, lavar as mãos com sabão. Nos te quando necessário e com roupas, que todos ligados à cadeia de produção
Estados Unidos, a suspeita é de que o mãos e materiais (luvas, ferramentas) de tomate fiquem atentos e inspecionem
vírus foi introduzido por frutos de to- limpos. Lavar as mãos com sabão ou as plantas das lavouras. C

mate importados do México e que eram desinfectantes e usar escova para lavar
vendidos nos mercados. A contaminação as unhas. Emergir o calçado em desin- Alice Nagata,
das mãos dos trabalhadores com frutos fetante antes de entrar e depois de sair Embrapa Hortaliças

28 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


Tomate

Pequeno O
tomateiro Solanum lycopersi-
cum Mill (Solanaceae) é uma
cultura de elevada importância
mundial, tanto para o consumo in natura

hostil
como para fins industriais. A produção
dessa cultura gera muitos empregos dire-
tos e indiretos, sendo uma das hortaliças
mais cultivadas e consumidas no mundo.
Entretanto, o tomateiro é uma planta
altamente suscetível a diversas pragas e
doenças. Com relação às pragas, muitas são
O que observar no manejo do microácaro do bastante conhecidas pelos produtores, seja
bronzeamento do tomateiro (Aculops lycopersici), um pelos prejuízos causados ou por serem fa-
dos menores artrópodes conhecidos, cujo ataque gera cilmente reconhecidas no campo. Por outro
frutos que não amadurecem e provoca diminuição na lado, algumas pragas são menos conhecidas
e muitas vezes passam despercebidas pelos
produtividade que pode superar 65% produtores no início da infestação. Geral-
Daniel de Andrade mente, isso ocorre pelo tamanho diminuto
da praga ou por ocorrerem esporadica-
mente na cultura. Neste caso, destaca-se o
microácaro do bronzeamento do tomateiro
Aculops lycopersici (Tryon) (Acari: Eriophyi-
dae). É uma praga associada à cultura do
tomate em todo o mundo.
O microácaro do bronzeamento é um
dos menores artrópodes conhecidos, me-
dindo de 0,15mm a 0,20mm de compri-
mento na fase adulta, o que torna muito
difícil sua detecção a olho nu ou até mesmo
com uso de lupas de bolso comuns no iní-
cio da infestação. É uma praga altamente
especializada, habitando locais bastante es-
pecíficos na planta, como base dos tricomas
presentes em ramos, folhas e frutos jovens.
O microácaro pode ser reconhecido
pelo corpo em formato vermiforme e pela
coloração branco-leitoso. Os ovos medem
0,02mm de diâmetro e são ovipositados
pelas fêmeas nas nervuras ou na base dos
tricomas. Passa por dois estágios ninfais,
nos quais o primeiro estágio apresenta
0,1mm de comprimento e o segundo,
0,12mm. Os ácaros podem passar por esses
estágios em menos de um dia, sendo, por-
tanto, um ciclo biológico bastanterápido.
Esse ácaro pode atingir a fase adulta em seis
dias sobre plantas de tomateiro Santa Cruz,
e uma longevidade de 22 dias. Com seus
estiletes medindo em torno de 0,01mm,
os microácaros se alimentam das células
epidérmicas das folhas.

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 29


Fotos Daniel de Andrade

plantas em detrimento ao número de observações por planta.


Alguns métodos de controle têm sido propostos no manejo
do microácaro. Entre estes, a busca por agentes de controle
biológico para o monitoramento tem se destacado. Diversos
ácaros predadores foram encontrados e avaliados por pesqui-
sadores como agentes de controle biológico. Entre os ácaros, a
espécie de fitoseiideo Euseius concordis (Chant) foi uma das
mais eficientes no controle do microácaro do bronzeamento.
Todavia, as liberações para serem eficientes devem ser realizadas
no início das infestações.
Infelizmente, ainda não existe a comercialização legalizada
de agentes de controle biológicos para controle de A. lycopersici.
Por isso, o controle químico continua sendo a principal ferra-
menta no manejo. No entanto, muitas vezes devido ao rápido
Folhas e ramos de tomateiro estão entre os alvos do ataque da praga desenvolvimento biológico de A. lycopersici e às elevadas den-
sidades populacionais torna-se necessária a realização de várias
No início da infestação, os primeiros sintomas decorrentes aplicações de acaricidas durante o ciclo da cultura. Contudo, o
da alimentação dos ácaros são folhas e ramos apresentando uso intensivo de acaricidas pode acarretar em rápida evolução
um escurecimento leve característico. Com o aumento da da resistência, eliminar inimigos naturais e consequentemente
população do ácaro, os sintomas evoluem para um escureci- aumentar os custos de produção.
mento total das folhas e ramos, popularmente denominado Outra alternativa que tem sido explorada no manejo do
de bronzeamento. A coloração típica dos sintomas causados microácaro é o uso de produtos naturais extraídos de plantas,
é semelhante à cor de “café com leite”. Principalmente nos comumente denominado de biopesticida, bioacaricida ou
ramos de tomateiro infestados observa-se a morte de tricomas bioinseticida. Inúmeros compostos naturais vêm sendo desco-
que adquirem uma coloração semelhante à palha. bertos e amplamente testados para controle de pragas agrícolas
As injúrias são causadas presencialmente nos terços médios e urbanas. Na maioria dos casos os produtos naturais possuem
e inferiores da planta. Com o aumento da densidade popula- vantagens em relação aos sintéticos tradicionais, como nenhu-
cional, os sintomas avançam para o terço superior. Além disso, ma ou baixa toxicidade aos mamíferos, curta persistência no
causa malformação de flores e frutos. Curiosamente, plantas ambiente, maior seletividade aos organismos benéficos e não
altamente infestadas pelo microácaro geram frutos verdes alvos, bem como menor risco ao desenvolvimento de resistência.
que não amadurecem e muitas vezes apresentam rachaduras. Com o objetivo de avaliar um produto natural, o oxima-
Como consequência, pode ocorrer diminuição de mais de 65% trine, extraído da planta asiática Sophora flavescens Ait, estão
na produtividade das plantas. sendo desenvolvidas pesquisas no Laboratório de Acarologia
As maiores infestações de A. lycopersici ocorrem no período da Unesp, campus de Jaboticabal (UnespP/FCAV). Diversos
seco e de baixa umidade relativa do ar. O início da infestação resultados obtidos comprovaram a eficácia de oximatrine no
poderá ocorrer duas semanas após o transplante das mudas, controle de ácaros. No caso, para avaliar o efeito de oximatrine
atingindo níveis mais elevados no período fenológico de sobre o microácaro do tomateiro foi desenvolvida uma pesquisa
amadurecimento dos frutos. Diante disso, o produtor deve em casa da vegetação. Inicialmente, plantas de tomateiro foram
monitorar o ácaro logo no início da cultura, principalmente cultivadas individualmente em vasos de 5L contendo como
nos períodos de estiagem, na produção a céu aberto. No início substrato solo, areia e esterco bovino misturados em propor-
da infestação, os métodos de controle são mais eficazes e surtos ções iguais. A infestação de A. lycopersici ocorreu naturalmente
populacionais dessa praga podem ser evitados. nestas plantas.
O monitoramento da praga pode ser realizado a cada cinco Foram avaliados quatro tratamentos, sendo dois tratamentos
dias, amostrando-se folhas, flores e frutos verdes quanto à com o biopesticida oximatrine nas concentrações de 1ml e 2ml
presença do ácaro com auxílio de lupas com pelo menos 20 de produto comercial (p.c.) por litro de água, um tratamento
vezes de aumento ou quando possível com microscópio este- com propargitena concentração de 0,5ml de p.c./litro de água e
reoscópio. Recomenda-se coletar 20 amostras aleatoriamente um tratamento controle (testemunha) somente com aplicação
na área composta por material vegetal. Caso em uma das de água. Cada tratamento foi repetido quatro vezes (quatro
amostras o número de ácaros seja superior a nove, é indicado o plantas/tratamento). A densidade populacional do ácaro foi
emprego de algum método de controle. Desta forma, para uma estimada avaliando-se quatro folíolos por planta, antes e após
amostragem representativa deve-se amostrar maior número de a aplicação. Os tratamentos com oximatrine apresentaram

30 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


eficiência semelhante ao acaricida sinté-
tico. Aos três dias após a aplicação, nos
tratamentos com oximatrine a 2ml/L
e propargite não foram encontrados
ácaros vivos sobre as plantas, portanto
apresentaram eficiência de 100%. No
futuro este produto poderá ser uma
ferramenta importante no manejo do
microácaro do bronzeamento, uma vez
que este produto já possui registro junto
ao Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa) para outras
culturas, como citros e café.
Outra estratégia interessante que fu-
turamente pode auxiliar na redução dos
prejuízos causados ao tomateiro por esta
praga reside no uso de genótipos com
Ataque pode inviabilizar frutos e
características de resistência e/ou tole- diminuir a produvidade em até 65%
rância. Trabalhos também desenvolvidos
na Unesp/FCAV verificaram diferenças tricomas glandulares encontrados no
quanto à suscetibilidade a esse ácaro. genótipo selvagem e nos seus híbridos.
Nessas pesquisas foi demonstrado que a Essas estruturas liberam substâncias Fruto de tomateiro com rachadura
cultivar comercial TLCV15 de S. lycoper- tóxicas sobre a superfície das plantas e provocada pela incidência do microácaro
sicum, amplamente cultivada em alguns assim afetam negativamente a biologia
países da África, é altamente suscetível do ácaro. todo mundo e poderão ser utilizados a
ao ácaro. Em contrapartida, o genótipo Portanto, o manejo adequado de A. médio e longo prazo. Contudo, ainda são
sul-americano selvagem PI134417 de lycopersici inicia-se com o monitora- necessários mais esforços para entendi-
Solanum habrochaites Knapp & Spooner, mento adequado durante todo o ciclo mento completo dos diversos fatores que
assim como o cruzamento deste genótipo da cultura e também com a integração interferem no manejo do ácaro. C

com a variedade comercial TLCV15 dos métodos de controle para a susten-


(F1, F2 e RC1), é menos suscetível ao tabilidade da atividade agrícola. Diversos
ácaro. Esses resultados foram atribuídos resultados sobre o manejo dessa praga Patrice Jacob Savi e
Daniel Junior de Andrade,
principalmente à maior quantidade de têm sido obtidos por pesquisadores em Universidade Estadual Paulista

Figura 1 - Efeito de oximatrine sobre a mortalidade do microácaro do bronzeamento Aculops Figura 2 - Densidade populacional do microácaro do bronzeamento Aculops lycopersici em folíolos
lycopersici aos 1 e 3 dias após a aplicação (DAA) em plantas de tomate. 0 DAA indica a densidade de tomateiro Solanum habrochaites (PI134417), S. lycopersicum (TLCV15) e os híbridos F1, F2 e
populacional de A. lycopersici antes da aplicação (prévia) RC1 resultantes de cruzamentos entre PI134417 e variedades comerciais

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 31


ABCSEM
Associação Brasileira do Comércio de Sementes e Mudas

Pirataria
de flores
Falsificados e multiplicados de maneira ilegal, materiais são comercializados
em floriculturas e atacados, com baixa qualidade e riscos de contaminação

V
ocê sabe se a flor que para o combate à pirataria no merca- a prática oferece para produtores
adquiriu recentemente é do de flores, em especial relacionadas e consumidores, com divulgação
original? Há um golpe no à variedade SunPatiens, uma flor que tanto nos meios on-line (mídias
mercado que tem crescido no Brasil, passou a ser recentemente o principal sociais e website), quanto off-line
que consiste na multiplicação e ven- alvo de falsificadores, cujo registro (por meio de flyers e faixas em locais
da ilegal de mudas de flores falsifi- pertence à empresa de sementes estratégicos, como nas Centrais de
cadas. Variedades desenvolvidas por Sakata. Abastecimento e no Mercado de
empresas idôneas são reproduzidas De acordo com Carlos Amano, Flores Ceaflor). “Uma das ações mais
ilegalmente, sem a utilização das ma- coordenador de Flores da Sakata, importantes foi a criação de um selo
trizes originais e desconsiderando as companhia que detém a patente da de originalidade que é fixado em todo
medidas fitossanitárias exigidas pelos SunPatiens, dentre as principais vaso de SunPatiens original. O selo
órgãos de fiscalização do País, comer- ações que estão sendo realizadas possui uma marca d'água, que só é
cializadas como se fossem originais. para conter a pirataria da flor, estão vista com luz especial, o que facilita
“Este é um problema grave, que materiais que tratam dos riscos que a identificação em caso de suspeita
vem acontecendo exponencialmente de pirataria”, explica o profissional.
no território nacional, e que precisa Vale ressaltar que dentre os prin-
ser de conhecimento público, uma cipais riscos ao se adquirir mudas
vez que se trata de um crime de falsificadas estão contaminação e
pirataria, com punição prevista em proliferação de fungos, bactérias e
lei”, alerta Marcelo Pacotte, diretor vírus, pois servem como transporte
executivo da Associação Brasileira “O selo possui uma destes micro-organismos ao jardim.
do Comércio de Sementes e Mudas marca d'água, que Além disso, são plantas menos durá-
(ABCSem). veis, que não possuem resistência ao
só é vista com luz
Ele destaca ainda que as mudas sol pleno. Há grande porcentagem
piratas carregam consigo problemas especial, o que de flores defeituosas e menor quan-
significativos em termos de segu- facilita a tidade de flores por planta. Também
rança, durabilidade das plantas e de identificação em apresentam desuniformidade no flo-
facilidade de manejo para mantê-las rescimento e crescimento das plantas,
caso de suspeita de causando sua mortalidade.
floridas e saudáveis. “Os riscos e
prejuízos ao se adquirir uma muda pirataria”, explica o A produção e a aquisição de mate-
falsificada são muitos, não compen- profissional rial pirata são crime, sendo necessário
sando o seu ônus”, afirma Pacotte. que o comprador fique sempre atento
Para alertar toda a cadeia produti- e exija do ponto de venda a planta
va e de comercialização, a Associação original, para ter mais segurança,
Brasileira do Comércio de Sementes durabilidade e beleza em sua casa e/
e Mudas (ABCSem) promove ações ou jardim. C

32 Cultivar HF • Abril / Maio 2020


ASSOCITRUS
Associação Brasileira dos Citricultores

Coronavírus e
agronegócio
As incertezas e a necessidade de mais atenção, racionalidade e
informação antes de tomar decisões em tempos de pandemia

C
ovid-19 (do inglês Corona- centrado em empresas chinesas pode ser doença ameaça o sistema de transporte,
virus Disease 2019) é uma fortemente prejudicado, pelos problemas pelo risco da Covid-19 atingir os cami-
doença infeciosa causada nas indústrias e na logística de distribui- nhoneiros.
pelo coronavírus da síndrome respira- ção dos produtos. A solução da guerra comercial entre
tória aguda grave 2 (Sars-CoV-2). O Embora os alimentos estejam entre os EUA e a China deverá ter impactos
Sars-CoV-2 foi identificado pela primeira os produtos menos afetados nas crises, positivos na economia mundial, mas
vez em seres humanos, oficialmente, em o poder econômico das pessoas será impactos negativos para o agronegócio
dezembro de 2019 na cidade de Wuhan, seriamente afetado, impactando nos brasileiro.
na China. O surto inicial deu origem a volumes e preços, e, como consequência, A situação no momento impõe mais
uma pandemia global decretada em 16 a demanda por produtos agrícolas tende dúvidas que respostas e exige que todos
de março de 2020. a cair. se mantenham atentos às notícias, que
A doença teve um enorme impacto O que poderia ser positivo para o trazem a cada momento novas informa-
na economia chinesa e ao se propagar agronegócio é a queda do preço do pe- ções e novas questões.
aos diversos países, obrigou os governos tróleo, que tem impacto na diminuição A doença registra evolução positiva
a adotar medidas drásticas para tentar dos custos de produção pela redução na China, onde os casos se estão reduzin-
conter o ímpeto do avanço, evitando o dos defensivos e do diesel e no custo de do, mas por outro lado, na Europa, nos
colapso do sistema de saúde dos países transporte. Porém, a queda de preço do EUA, no Brasil e em diversas outras re-
à medida que a pandemia avança pelo petróleo está sendo neutralizada pela giões estão em fase de crescimento, o que
mundo. As fronteiras estão sendo fecha- desvalorização do real. Mas o avanço da amplia os efeitos negativos sobre a saúde
das, as pessoas incentivadas a reduzir a e a economia dos principais mercados.
movimentação e os contatos sociais, o Essa situação deve persistir pelos
que deve afetar a economia mundial. próximos meses e vai exigir muito mais
Buscam-se no noticiário especializa- atenção, racionalidade e informação
do as opiniões e visões de observadores e Segundo antes de qualquer decisão. Mais do que
analistas do agronegócio. A expectativa é em qualquer outro momento nas últimas
de que o dólar continue subindo. Neste analistas, com a décadas, a incerteza vai ser a marca dos
momento há a expectativa de redução desvalorização próximos meses.
da taxa Selic, que deve impactar na alta cambial, o O governo brasileiro começa a adoção
do dólar. de medidas econômicas para amenizar o
Segundo analistas, com a desvalo-
Brasil torna-se impacto da crise e espera-se que, apesar
rização cambial, o Brasil torna-se mais mais competitivo das restrições da economia brasileira,
competitivo no mercado internacional. no mercado haja recursos que permitam que as pes-
O surto do coronavírus afeta o mercado internacional soas e empresas mais afetadas tenham
mundial e as medidas governamentais condições de atravessar o momento mais
estão sendo tomadas lentamente, sem crítico da crise. C

conseguir reverter o pessimismo.


Flávio Viegas,
O fornecimento de defensivos con- Associtrus

Abril / Maio 2020 • Cultivar HF 33


ABBA
Associação Brasileira da Batata

Próxima década
Que bases construir para uma cadeia produtiva da batata mais forte nos próximos dez anos

O
que ocorreu com a produção de batata no Brasil nos certificação deve ser obrigatória para todos que plantam batata.
últimos 30 anos e como mudar para melhor nos A fiscalização realizada através da sinergia pública e privada. A
próximos dez anos? A produção de batata semente defesa fitossanitária eficiente é a melhor opção para a sustenta-
era o principal mecanismo do sucesso da defesa agropecuária. bilidade das regiões produtoras e a produção de batata semente
Algumas regiões e dezenas de produtores se dedicavam exclusi- de qualidade.
vamente à produção de batata semente. O número de problemas
fitossanitários era pequeno e raramente os prejuízos grandes. A BATATA PARA CONSUMO FRESCO
fiscalização realizada pelos estados era rigorosa e eficiente. Para impedir a redução contínua do consumo são necessárias
No início do milênio a legislação mudou e passou para as algumas mudanças. Modernizar as legislações que normatizam
mãos do governo federal. A falta de “fiscais” para certificar a o comércio de batata para consumo fresco é o primeiro passo.
produção de batata semente praticamente destruiu a defesa É necessário exigir rastreabilidade e informar aos consumidores
fitossanitária no país e o número de problemas fitossanitários a aptidão culinária. As variedades bonitas serão substituídas
explodiu com enormes prejuízos. A maioria dos produtores de pelas saborosas e consequentemente os consumidores voltarão.
batata semente faliu e as legislações continuam ultrapassadas. E necessário também reduzir a venda a granel e incentivar o uso
A produção de batata para consumo fresco vem reduzindo de embalagens com diferentes pesos, de 3kg, 5kg, 10kg e 20kg,
ininterruptamente devido a diversos fatores. As importações ao invés de opção única de 25kg. É necessário, ainda, estabelecer
de batatas processadas (equivalente à produção de mais de 20 limites às atitudes que tornam a batata inacessível aos consu-
mil hectares), a estratégia das grandes redes de varejo (pagam midores. Será que faz sentido pagar R$ 0,50 aos produtores e
o mínimo e vendem pelo máximo), a oferta de variedades que vender por R$ 5,00 aos consumidores?
decepcionam os consumidores (são bonitas, mas não são sabo-
rosas) são fatores que contribuem para a retração de consumo. BATATA CHIPS
A produção de batata para chips se manteve praticamente As oportunidades para o crescimento do consumo de chips
estável. O uso de variedades adequadas, a explosão do número de não são animadoras, pois a imagem e a concorrência com pro-
pequenas fritadoras, a oferta de chips com dezenas de “sabores” dutos similares são muito altas. Mas vale a pena tentar oferecer
e cortes não provocaram aumento no consumo. No entanto, chips coloridos ou misturados com outros produtos como man-
o consumo de batata palha cresceu devido à praticidade e às dioca, batata-doce, inhame, banana, beterraba, castanhas etc. A
diferentes formas de consumo. As maiores indústrias estabe- sobrevivência e prosperidade dos produtores de batata para chips
lecem contratos com alguns produtores para produzirem com dependerão da produtividade elevada, do manejo fitossanitário
exclusividade, enquanto muitas pequenas indústrias buscam eficiente (principalmente de pragas e doenças do solo), do
matéria-prima no mercado e geralmente quando os preços estão armazenamento em períodos desfavoráveis à produção (época
elevados, “fritam” qualquer produto – muitas vezes variedades de calor e excesso de chuvas - de três meses a quatro meses) e
totalmente inadequadas que resultam em péssimos chips e palha. também da mecanização das principais etapas.
A produção de batata para pré-fritas congeladas cresce a
cada ano. Atualmente, a maior parte do mercado é abastecida BATATAS PRÉ-FRITAS CONGELADAS
por indústrias multinacionais, porém a indústria nacional vem É vital promover o crescimento da indústria nacional e a
crescendo e se mostra competitiva e capaz de ofertar produtos redução das importações de produtos similares. A evolução da
de excelente qualidade. indústria nacional dependerá de atividades técnicas (pesquisas,
O que deve mudar para melhorar a produção de batatas nos variedades), estratégicas (associativismo) e políticas (legislações,
próximos dez anos? patriotismo).
Para viabilizar as mudanças sugeridas e modernizar a cadeia
BATATA SEMENTE brasileira da batata o único caminho é criar fundos para a pro-
É urgente reorganizar o segmento no Brasil. As legislações fissionalização das associações em sinergia com o governo. C
devem ser modernizadas com decisões baseadas no conhecimen-
to científico e na experiência de profissionais competentes. A Natalino Shimoyama,
ABBA

34 Cultivar HF • Abril / Maio 2020

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