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DIÁRIO DA REPÚBLICA

Segunda-feira, 3 de Setembro de 2007 I Série — N.º 106

ÓRGÃO OFICIAL DA REPÚBLICA DE ANGOLA


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SUMÁRIO LEI DE BASES DE FOMENTO HABITACIONAL

CAPÍTULO I
Assembleia Nacional Princípios Gerais

Lei n.º 3/07: ARTIGO 1.º


De Bases do Fomento Habitacional. — Revoga toda a legislação que (Princípios gerais)
contraria o previsto na presente lei.

1. A definição e execução da política habitacional deve


respeitar os seguintes princípios gerais:
ASSEMBLEIA NACIONAL
a) ordenamento territorial prévio dos terrenos desti-
——
nados à edificação de habitações tipificadas nos
Lei n.º 3/07 termos e para os fins da presente lei;
de 3 de Setembro b) equidade e proporcionalidade na definição dos
custos das habitações e dos benefícios a conce-
A Lei do Fomento Habitacional tem como objectivo a der em função de cada tipo de habitação promo-
definição da política de fomento habitacional factor essen- vida, com vista a melhor concretização da jus-
cial na concretização do direito à habitação que assiste a tiça social distributiva;
todos os cidadãos, no quadro da Lei Constitucional. c) concretização programática, através de planos,
programas, projectos e acções a desenvolver e
A presente lei vem definir princípios e disciplinar a progressivamente, por regiões territoriais e por
períodos, a médio e longo prazos;
expansão até então desordenada das cidades e vilas, promo-
d) sustentabilidade financeira da política de fomento
ver novos espaços habitacionais urbanos, condignos, de
habitacional, incluindo a da habitação social
acordo com as normas e princípios do ordenamento do ter-
sem prejuízo de mecanismos ou programas inte-
ritório, de forma a concorrer para que os cidadãos possam
grados ou especiais para situações de extrema
obter habitação própria ou em regime de arrendamento, de pobreza, nos termos da presente lei e dos res-
acordo com a capacidade económica de cada um. pectivos regulamentos;
e) edificação dos diferentes tipos de imóveis que
Deste modo, estabelece igualmente as bases gerais da atendendo ao rendimento dos adquirentes viabi-
política fiscal e financeira para o acesso ao crédito habita- lizam a concretização do direito social à habita-
cional, como instrumentos privilegiados do fomento habita- ção para todos os cidadãos;
cional. f) desburocratização na resolução dos processos
administrativos de licenciamento das constru-
Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º da ções de habitações e de concessão de habitações
Lei Constitucional, a Assembleia Nacional aprova a seguinte: sociais;
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g) fomento de crédito para aquisição de habitação em ARTIGO 4.º


geral, sem prejuízo das regras do mercado e da (Definições)
legislação aplicável;
h) fomento do crédito para jovem em regime boni- Para efeitos da presente lei, entende-se por:
ficado;
i) igualdade concorrencial dos interessados; a) «Habitação» — a edificação implantada em lotes
j) promoção de pólos habitacionais desenvolvidos de terrenos urbanizados ou rurais, para tal clas-
com os serviços públicos necessários, sanea- sificados, nos termos da legislação em vigor;
mento básico e urbanismo; b) «Política habitacional» — o conjunto de direc-
k) diversificação de regimes de acesso ou aquisição trizes, acções, programas, planos ou projectos
de habitação por compra, renda resolúvel ou o de âmbito nacional ou local com a finalidade de
arrendamento, em função da diferente capaci- promoção de habitação de acordo com a tipolo-
dade aquisitiva dos interessados; gia consagrada na presente lei;
l) promoção de fundos especializados e de mecanis- c) «Habitações urbanas» — as implantadas em ter-
mos de auto-sustentabilidade da política de renos classificados de urbanos ou urbanizáveis
habitação social; de acordo com as regras dos planos urbanísticos
m) cooperação institucional pública e privada. e demais disposições da presente lei;
d) «Habitações rurais» — as implantadas nos terre-
2. Os princípios previstos no n.º 1 não prejudicam a apli- nos rurais, quer integrados nos domínios úteis
cação das normas e princípios gerais, em razão das diferen- consuetudinários, pelos respectivos titulares em
tes matérias em causa, designadamente, dos regimes de regime de autoconstrução, quer as classificadas
concessão de terras, do ordenamento do território, da pro- para fins de repovoamento ou construção de
novos aglomerados rurais, de acordo com os
tecção do ambiente e conservação da natureza, da protecção
planos de ordenamento, programas de habitação
do património cultural, respectivamente, a Lei n.º 9/04, de
social, rural e demais regras da presente lei;
9 de Novembro, a Lei n.º 3/04, de 25 de Junho, a Lei
e) «Habitação social totalmente subvencionada» —
n.º 5/98, de 19 de Junho e a Lei n.º 14/05, de 7 de Outubro.
é aquela que se destina aos cidadãos que não
ARTIGO 2.º preencham os padrões de rendimentos mínimos;
(Objecto) f) «Habitação social subvencionada» — é destinada
aos cidadãos com rendimentos mínimos ou
1. A presente lei consagra as normas e princípios gerais médios considerada para o efeito;
que devem orientar a política de fomento habitacional g) «Habitação social» — a habitação de baixa ou
visando a criação de condições destinadas à concretização média renda apoiada pelo Estado ou pessoas
do direito fundamental à habitação que assiste a todos os colectivas de direito público destinadas a criar
cidadãos, no quadro de um estado social de direito e de uma melhores condições de acesso à habitação com
economia de mercado. qualidade, por parte das pessoas com menor
2. Formular as bases gerais da política fiscal e financeira capacidade aquisitiva, incluindo as mais desfa-
vorecidas, nos termos a fixar por regulamentos
para a aquisição do crédito habitacional, como instrumentos
próprios e específicos;
privilegiados do fomento habitacional.
h) «Habitação de alta renda» — aquela cujos custos
ARTIGO 3.º ultrapassam os padrões regulamentares fixados
(Âmbito) para a classificação de habitação social e cuja
promoção é deixada à livre iniciativa privada e
1. A presente lei aplica-se a todas acções, planos ou pro- às leis do mercado;
gramas do Estado que visam o fomento da política habita- i) «Habitação autoconstruída» — é aquela que resul-
cional de iniciativa pública ou privada. ta da iniciativa do interessado atendendo às
2. O fomento pode consistir: regras urbanísticas específicas;
j) «Reordenamento» — é a execução ou aplicação
a) definir novos critérios de assentamento popula- das políticas, planos, programas ou projectos
cional e construção de novos bairros e cidades; com finalidade de concretizar o previsto nos
b) regular o sistema de incentivos fiscais; diplomas sobre ordenamento do território e do
c) regular o sistema de crédito habitacional; urbanismo, atendendo os interesses nacionais
d) promover o surgimento de fundos públicos ou par- ou locais;
ticulares para fins habitacionais; k) «Repovoamento» — é a execução de planos, pro-
e) incentivar parcerias públicas ou privadas no domí- gramas ou projectos que têm como finalidade o
nio habitacional; assentamento populacional, organização e cons-
f) garantir a segurança urbana, as acessibilidades e trução de novos bairros, cidades e infra-
infra-estruturas; -estruturas atendendo os interesses nacionais ou
g) consolidar a identidade urbana e rural do País. locais para o efeito.
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ARTIGO 5.º ARTIGO 8.º


(Tipologia de habitação) (Habitação social totalmente subvencionada)

Para os fins de fomento habitacional, as habitações em 1. A habitação social totalmente subvencionada é desti-
razão de diferentes critérios, podem ser: nada aos cidadãos em situação de extrema pobreza urbana,
que não preencham os padrões de rendimentos mínimos,
a) habitações urbanas e rurais, em razão da sua loca- para suportar uma renda ou prestação de aquisição e se dis-
lização territorial;
ponham a aderir a programas de repovoamento de zonas
b) habitação social;
rurais ou projectos integrados de desenvolvimento agrário,
c) habitação a custo de mercado, em razão da respec-
silvícola, mineiro ou agro-industrial em áreas mais desfavo-
tiva promoção pública ou privada, nos termos
recidas do território nacional.
da presente lei e dos respectivos regulamentos;
d) habitação autoconstruída. 2. O Governo na aprovação dos projectos ou programas,
mineiros, agrários e de desenvolvimento económico das
ARTIGO 6.º
zonas rurais, deve concertar com os investidores privados
(Habitação social)
mecanismos de comparticipação pública e privada nos
A habitação social deve ser, em regra, financeiramente custos de promoção das habitações sociais subvencionadas
auto-sustentada, com base nos seguintes requisitos mínimos pelo Estado.
de acesso e aplicação de normas e instrumentos de gestão ARTIGO 9.º
sustentável: (Habitação social subvencionada)

a) requisitos de capacidade financeira mínima dos 1. A habitação social subvencionada deve ser destinada
beneficiários, para pagamento das rendas ou das a contribuir especialmente para:
prestações de aquisição da habitação social con-
a) o reordenamento, repovoamento e desenvolvi-
cedida, cuja aferição é feita por padrões de ren-
mento rurais;
dimento mínimo, fixados nos termos de diplo-
b) o combate da expansão urbana ilimitada e desor-
mas legais regulamentares da habitação social
denada e a contenção das cidades adentro dos
auto-sustentada;
limites de uma dimensão média ou equilibrada,
b) criação e sustentação de um fundo de fomento adequada a preservar o ambiente, e a qualidade
habitacional alimentado pelas receitas, entre de vida urbana;
outras, das comparticipações do Estado, das c) o combate do desemprego e das situações de
rendas ou das prestações de pagamento da aqui- pobreza extrema mais peculiares das cidades.
sição das habitações pelos arrendatários ou con-
cessionários e geridas com vista à cobertura dos 2. A promoção e o regime de acesso à habitação social
custos de conservação respectivos e de fomento rege-se por diploma próprio aprovado pelo Governo.
de outras habitações sociais para os demais
cidadãos delas carenciados, nos termos de ARTIGO 10.º
diplomas legais regulamentares; (Autoconstrução habitacional)
c) obrigações de conservação mínima das habitações
1. A autoconstrução compreende as seguintes moda-
sociais, imputadas aos concessionários ou
lidades:
arrendatários, nos termos de diplomas legais
regulamentares; a) a habitação urbana autoconstruída;
d) outros instrumentos previstos nos regulamentos b) habitação rural autoconstruída, ou tradicional
especiais da habitação social auto-sustentada e construída segundo a traça arquitectónica e as
do fundo de fomento habitacional. técnicas e práticas dos usos e costumes tradi-
cionais locais.
ARTIGO 7.º
(Finalidade da habitação social) 2. O Governo deve incentivar a autoconstrução das
habitações pelos cidadãos, quer dentro dos perímetros dos
A habitação social sustentada deve ser destinada a con- centros urbanos quer nas zonas das comunidades rurais, nos
tribuir especialmente para: termos da lei, através dos seguintes instrumentos:

a) a descompressão e redimensionamento equili- a) políticas de concessão de terrenos urbanos a bai-


brado das cidades e das suas periferias; xos preços e oferta de projectos-tipo diversi-
b) a reconversão das áreas e bairros degradados das ficados;
cidades, pela criação de novos espaços urbanos b) programas de orientação e apoio técnico-assis-
destinados à habitação social integrada no orde- tencial na execução de projectos-tipo de habita-
namento dos perímetros urbanos; ções rurais, com incorporação de materiais
c) a melhoria em geral da qualidade de vida urbana. locais e introdução de novas regras e melhoria
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da qualidade das edificações rurais tradicionais, 2. A construção de habitações fora dos espaços destina-
bem como das condições de salubridade, sem dos à habitação pelos planos urbanísticos é ilegal e como tal
prejuízo da salvaguarda da traça arquitectónica sujeita às sanções previstas na lei.
e dos valores das culturas tradicionais, assim
como do melhor aproveitamento dos materiais ARTIGO 13.º
locais. (Ordenamento territorial das habitações rurais)

CAPÍTULO II A construção de habitações nos perímetros das comuni-


Ordenamento Territorial da Política Habitacional dades rurais deve respeitar as normas e directivas dos pla-
ARTIGO 11.º
nos de ordenamento rural e de zonamento interno dos espa-
(Ordenamento territorial) ços das comunidades rurais ou de novos centros de repovoa-
mento, bem como as normas técnicas sobre edificações
1. A execução da política de fomento habitacional deve rurais previstas em regulamentos próprios, nomeadamente
ser conformada com as normas e princípios do ordenamen-
quanto as seguintes matérias:
to do território, que para fins habitacionais contém regras
comuns e específicas, diferenciadamente aplicáveis aos ter-
renos ou centros urbanos e aos terrenos ou zonas rurais e em a) zonamento dos espaços para a construção por ali-
razão da defesa dos respectivos valores sociais e culturais nhamentos com arruamentos que ordenam o
específicos das comunidades urbanas e rurais, da protecção espaço comunitário, em termos compatibi-
do ambiente e conservação da natureza. lizados com o respeito pelas tradições locais em
matéria dos usos e práticas de ordenamento dos
2. O Governo, nos termos do número anterior, deve pre-
espaços habitacionais e para fins sociais e eco-
ver nos planos urbanísticos e de ordenamento rural os terre-
nómicos;
nos destinados a habitações urbanas, bem como os terrenos
rurais das comunidades rurais tradicionalmente estabele- b) salvaguarda de espaço para a implantação da habi-
cidas ou à implantação de novos aldeamentos rurais. tação da autoridade tradicional local, segundo
os usos e costumes;
3. São proibidas as construções de habitações ou de c) preservação de espaços livres de construção habi-
outros edifícios de apoio às zonas habitacionais que violam tacional e afectos aos usos colectivos das comu-
as normas dos planos territoriais ou que não tenham em nidades rurais, bem como para fins escolares,
conta a paisagem natural, o património arquitectónico, his-
para áreas comunitárias de lazer e fins culturais
tórico e cultural construído e os valores das comunidades
e de convívio, bem como dos terrenos afectos
rurais estabelecidas nas zonas rurais, sob pena de responsa-
ao exercício das actividades agrárias e económi-
bilidade nos termos da lei.
cas tradicionais;
ARTIGO 12.º d) salvaguarda de espaços para implantação de acti-
(Ordenamento territorial das habitações urbanas) vidades económicas, familiares ou comuni-
1. Todos os espaços destinados à criação de zonas habi- tárias;
tacionais dentro do perímetro urbano devem respeitar as e) preservação de espaços naturais periféricos das
normas e directivas dos planos urbanísticos, bem como as comunidades rurais, reservados à função geral
normas técnicas sobre edificações urbanas previstas em de conservação da natureza e especial de manu-
diplomas próprios, nomeadamente quanto às seguintes tenção da capacidade produtiva e de regenera-
matérias: ção dos solos agrícolas, a protecção da fauna e
a) classificação e loteamento dos terrenos urbanos flora selvagem, e da biodiversidade, segundo as
para fins habitacionais de acordo com o zona- boas práticas tradicionais locais;
mento dos espaços complementares para insta- f) preservação da paisagem natural e a construída
lações de fins escolares, de lazer, culturais e pelo homem;
outros equipamentos e infra-estruturas colecti- g) edificação das habitações, segundo o modelo e a
vas de saneamento básico, de redes de forneci- traça arquitectónica tradicional, sem prejuízo de
mento de água, de energia eléctrica, de gás novas exigências técnicas e estéticas, que garan-
doméstico e de telecomunicações;
tam o melhor aproveitamento das matérias-pri-
b) vias de comunicação e outras acessibilidades;
c) salvaguarda de espaços para implantação de zonas mas e dos materiais locais, salvaguardem
verdes; melhores condições de divisão e espaçamentos
d) salvaguarda de espaços para serviços públicos, internos mínimos, de luminosidade e contri-
comerciais, bancários e outros de interesse buam para a melhor salubridade habitacional e a
colectivo. saúde pública das comunidades rurais.
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ARTIGO 14.º b) a política de crédito à habitação.


(Concessão de terrenos para habitação)
4. Os incentivos fundiários têm por finalidade garantir
1. Os terrenos classificados para fins de habitação nos
preços e/ou prestações fundiárias a praticar na aquisição de
termos das disposições anteriores são concedidos para cons-
terrenos para autoconstrução e construção de habitações.
trução de habitação em regime de iniciativa privada ou de
autoconstrução aos respectivos interessados, cuja concessão 5. Os incentivos de ordenamento territorial compre-
requeiram nos termos da Lei n.º 9/04, de 9 de Novembro —
endem todos os mecanismos destinados a ordenar e a clas-
Lei de Terras e respectivos regulamentos.
sificar os terrenos destinados à construção de habitação e à
2. Os terrenos classificados para fins de construção de garantia da implantação das acessibilidades e das infra-
habitações sociais de iniciativa pública permanecem sob a -estruturas de saneamento básico e equipamentos colectivos
titularidade do Estado ou são concedidos a pessoas ou à que funcionem como atractivos à construção preferencial
empresa pública promotora do programa ou projecto de das habitações nas zonas definidas pelo planeamento
habitação social e só se transmitem para os beneficiários da territorial.
habitação social no acto da respectiva compra ou da rever-
6. Os instrumentos de gestão do parque habitacional do
são da última renda sob o regime de renda resolúvel, con-
Estado são os planos e programas da habitação social da ini-
vertida em propriedade.
ciativa ou apoio públicos promovidos directamente pelo
3. Os terrenos que tenham incorporadas habitações Estado ou outras pessoas ou empresas públicas ou sob
sociais concedidas sob o regime de arrendamento ou outro propostas de promotores privados ou mistos, nos termos
equiparável que não transmita a propriedade, permanecem da lei.
integrados no direito de propriedade da respectiva entidade ARTIGO 17.º
pública. (Responsabilidade do Governo)
ARTIGO 15.º
(Segurança das habitações) Compete ao Governo a regulamentação e a imple-
mentação em geral, do sistema de concessão dos incentivos
O ordenamento e localização de zonas habitacionais de fomento habitacional, designadamente, através da:
pelos planos territoriais urbanísticos ou rurais devem res-
peitar as normas de distanciamentos adequados de zonas a) elaboração e aprovação prévia dos planos
industriais perigosas ou poluentes com vista a salvaguarda urbanísticos e de ordenamento rural com a pre-
da segurança física, da saúde e do ambiente nas respectivas visão adequada dos terrenos urbanos e rurais
áreas habitacionais.
destinados à habitação por iniciativa privada ou
CAPÍTULO III de autoconstrução, em geral e em particular aos
Sistema de Promoção Habitacional programas e projectos de habitação social, urba-
na e rural apoiados pelo Estado ou outras pes-
ARTIGO 16.º
(Sistema de promoção habitacional)
soas colectivas de direito público;
b) elaboração de proposta de lei sobre isenções ou
1. O sistema de promoção habitacional compreende os reduções das taxas relativas aos impostos que
seguintes incentivos e instrumentos: incidam sobre a aquisição de imóveis, conces-
são de terrenos destinados à habitação e abran-
a) incentivos fiscais; gidas pelo fomento;
b) incentivos financeiros; c) regulamentação do sistema de crédito à habitação;
c) incentivos fundiários; d) implementação, reforço e modernização das capa-
d) incentivos de ordenamento territorial e infra- cidades de funcionamento e dos procedimentos
-estrutural; a adoptar pelos organismos e entidades públi-
e) instrumentos de gestão do parque habitacional do cas, privadas, de âmbito nacional e local, que
Estado. exerçam poderes de intervenção directa nas
áreas do planeamento territorial, do cadastro e
2. Os incentivos fiscais compreendem as isenções e
registo prediais, classificação e concessão de
reduções fiscais a serem criadas nos termos da lei.
terrenos para fins habitacionais, fomento e ges-
3. Os incentivos financeiros compreendem: tão do parque habitacional do Estado, com vista
à criação das condições orgânicas de concessão
a) os mecanismos de custos controlados a integrar e gestão das habitações sociais;
nas habitações sociais de iniciativa e de proprie- e) aprovar as directivas gerais da política de afec-
dade pública, de modo a contê-los dentro dos tação de terrenos para fins habitacionais e a sua
limites e/ou padrões de custo-qualidade aceitá- concessão ou transferência dos domínios priva-
veis e financeiramente sustentáveis; dos do Estado para os Governos provinciais;
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f) aprovar os programas ou projectos integrados de directamente ao Fundo de Fomento Habita-


repovoamento rural e de desenvolvimento agrá- cional ou à República de Angola, para efeitos de
rio e silvícola e económico com a criação de utilização nos objectivos descritos no artigo 5.º
novos aldeamentos rurais e respectivos pro- do presente diploma;
gramas de habitação rural; d) as receitas de financiamento obtidas pelo Estado
g) aprovar directivas gerais para a elaboração dos e destinadas especificamente aos objectivos
programas ou projectos de construção de habi- descritos no artigo 5.º do presente diploma;
tações sociais e as prioridades para a sua imple- e) os resultados das aplicações financeiras realizadas
mentação regional e local. pela administração do Fundo de Fomento
Habitacional;
ARTIGO 18.º f) percentagem das receitas provenientes do imposto
(Tutela) predial, imposto de sisa, das rendas de casa do
parque imobiliário habitacional e comercial do
1. A concretização do sistema de promoção habitacional Estado, da alienação do parque habitacional do
previsto na presente lei deve ter em conta o exercício da Estado e da totalidade dos imóveis vinculados,
competência e a especialização dos diversos organismos da nos termos da Lei n.º 12/01, de 14 de Setembro.
administração pública central e local com relevância para os
que incidem sobre as matérias do planeamento territorial e ARTIGO 23.º
habitacional, fiscais e de obras públicas. (Regime financeiro)

2. Os ministérios de tutela devem envidar esforços no 1. A actividade financeira do Fundo de Fomento


sentido de concretizar o previsto na presente lei, criando Habitacional rege-se por um orçamento próprio, no qual são
todas as condições de cooperação, solidariedade e interde- inscritas todas as receitas e despesas.
pendência institucional com os demais organismos públicos
e privados, cuja acção incida ou contribua para a eficácia e 2. O orçamento próprio do Fundo de Fomento Habita-
eficiência do sistema de promoção habitacional. cional integra-se no Orçamento Geral do Estado, nos termos
da Lei n.º 9/97, de 17 de Outubro.
CAPÍTULO IV
Fundo de Fomento Habitacional ARTIGO 24.º
(Beneficiários do fundo)
ARTIGO 19.º
Podem recorrer ao Fundo do Fomento Habitacional nos
(Fundo para o fomento habitacional)
termos a regulamentar, as entidades nacionais a seguir
É criado o Fundo de Fomento Habitacional com autono- designadas:
mia financeira sustentado pelas receitas das concessões e
gestão da habitação social e das dotações comparticipadas a) todas instituições públicas, privadas e coopera-
do Orçamento Geral do Estado. tivas que promovem a construção de habitações
sociais;
ARTIGO 20.º b) os cidadãos em geral.
(Tutela)
ARTIGO 25.º
O Fundo de Fomento Habitacional está sujeito à tutela
(Fundos privados)
administrativa do Ministério do Urbanismo e Ambiente e à
tutela financeira do Ministério das Finanças. 1. As instituições financeiras públicas ou privadas legal-
mente constituídas podem criar fundos próprios para o
ARTIGO 21.º fomento de habitação privada em regime de preços livres.
(Atribuições)
2. A criação de fundos privados de fomento habitacional
O Fundo de Fomento Habitacional destina-se a financiar
deve ser integrada nos instrumentos da política de crédito
as actividades de promoção, urbanização, construção e ges-
habitacional e pode ser acompanhada de incentivos fiscais.
tão de habitação, em especial as de carácter social.
3. O regime de fundos privados é aprovado por diploma
ARTIGO 22.º
(Fontes de financiamento) do Governo.
ARTIGO 26.º
Constituem receitas do Fundo de Fomento Habitacional, (Taxas de actualização)
as seguintes:
1. Os contratos de venda ou construção de habitações
a) as dotações do Orçamento Geral do Estado que lhe para pagamento a prazo ou contratos de empréstimos para
forem atribuídas em cada exercício; aquisição ou construção de habitação podem prever o rea-
b) os saldos transitados dos exercícios anteriores; justamento das prestações mensais de amortizações e dos
c) as dotações de entidades singulares ou colectivas, juros, através da aplicação de taxas de actualização a fixar
nacionais ou estrangeiras que foram feitas, nos termos da lei.
I SÉRIE — N.º 106 — DE 3 DE SETEMBRO DE 2007 1595

2. O reajustamento deve ter em conta o índice do míni- c) a construção de habitações em espaços naturais
mo e do máximo previsto para o tipo de habitação, bem protegidos, e demais terrenos reservados ou
como o rendimento do agregado familiar. áreas vedadas para construção por normas dos
planos territoriais, ou directivas que constituam
ARTIGO 27.º seus sucedâneos aprovados pelo organismo
(Crédito habitacional)
competente do Estado;
Os requisitos para obtenção de crédito com juros bonifi- d) a edificação de imóveis em zonas sem o mínimo
cados para compra ou construção de habitação social e de de condições de ordenamento territorial do
habitação de preços livres são fixados por diploma do espaço, em violação das normas dos regula-
Governo, sem prejuízo da livre iniciativa das instituições mentos das edificações e que ponham em risco
financeiras em matéria de concessão de crédito imobiliário, a segurança de bens e pessoas;
de acordo com a legislação geral a elas aplicável e as práti- e) a celebração de contratos inerentes aos bens imo-
cas do mercado. biliários sem o pagamento das taxas devidas,
previstas nos respectivos regulamentos;
CAPÍTULO V f) a publicidade de venda de habitações ou imóveis,
Instrumentos Sancionatórios sem que haja autorização passada pelo orga-
ARTIGO 28.º
nismo público com competência para o efeito.
(Crime de corrupção passiva imobiliária)
2. As transgressões previstas no número anterior são
1. Constitui crime de corrupção, punível com a mesma punidas nos termos da Lei n.º 10/87, de 26 de Setembro —
medida de pena aplicável ao crime de corrupção previsto no Lei-Quadro das Transgressões Administrativas.
Código Penal:
ARTIGO 30.º
a) a prática ou cobrança por parte de funcionários (Agravantes especiais)
públicos ou agentes administrativos e para
benefício pessoal ou de terceiro, de preços ou 1. As sanções previstas e aplicáveis nos termos do
prestações fundiárias acima do legal e oficial- artigo 31.º são agravadas nas seguintes circunstâncias:
mente estabelecidos e publicitados pelas autori- a) quando o infractor tenha edificado em terrenos
dades públicas provinciais e locais e em geral a urbanos classificados para fins de interesse
prática de actos administrativos irregulares nos geral e público;
processos de venda e concessão de terrenos b) quando o infractor tenha edificado em zonas quali-
classificados para habitação; ficadas como históricas, integradas no patrimó-
b) a prática ou cobrança por parte de funcionários nio cultural, nos termos da legislação aplicável;
públicos ou agentes administrativos e para c) quando as habitações sejam fraudulentamente
benefício próprio ou de terceiro, de preços de vendidas como sendo de alta renda e as mesmas
venda ou de arrendamento de habitação social estejam classificadas como de interesse social,
que não correspondam aos preços ou rendas ofi- de baixa ou média renda, ou se verificar fraude
cialmente fixadas pela competente autoridade em relação a qualidade da construção face ao
pública. tipo de habitação contratada e paga pelo lesado;
d) quando se verificar mora injustificada na entrega
2. Os crimes previstos no n.º 1 são puníveis, sem do imóvel após o pagamento do preço acordado;
prejuízo da aplicação cumulativa das sanções aplicáveis à e) quando da infracção resultar benefício para o
título de contravenções previstas e puníveis nos termos do infractor;
artigo 31.º da presente lei. f) quando se verificar fraude do construtor para aqui-
sição de benefícios fiscais em relação ao tipo de
ARTIGO 29.º
habitação e as condições de localização.
(Transgressões)
2. A multa agravada deve ter em conta o valor do imó-
1. Constituem transgressões administrativas a cons-
vel na venda ou de arrendamento.
trução em geral, de habitações em violação das normas
imperativas do ordenamento do território, da presente lei e
ARTIGO 31.º
em especial: (Demolição)

a) a construção de habitações em terrenos não clas- 1. Todas as construções em transgressão às normas téc-
sificados para construção de habitações pelos nicas e legais previstas na presente lei e nos regulamentos
planos urbanísticos e de ordenamento rural; de edificação geral e/ou especial, que ponham em risco a
b) a construção de habitações em terrenos viários e segurança de pessoas e bens ou atentem contra a estética
demais terrenos reservados para implantação de urbanística, paisagística dos prédios circundantes, podem
arruamentos, vias e infra-estruturas urbanas, ser demolidas sem prejuízo dos programas, planos ou pro-
sem respeito pelas distâncias legais mínimas jectos específicos para o realojamento ou reassentamento
das vias sejam elas nacionais ou locais; populacional para o efeito.
1596 DIÁRIO DA REPÚBLICA

2. As construções previstas no número precedente estão habitação social quer de concurso para a atribuição de direi-
sujeitas à demolição sem direito a qualquer indemnização, tos de acesso à habitação social, cabe recurso hierárquico
quando a edificação e a sua localização ofendam grave- para a competente autoridade de tutela.
mente as disposições legais aplicáveis, salvo se os próprios
infractores optarem por corrigir os erros de construção e eli- 2. Para a reapreciação da decisão recorrida, o recorrente
minar os efeitos lesivos do interesse público ou direitos de é notificado para, no prazo de sete dias, ser ouvido sobre as
terceiros. suas razões ou manifestar a sua intenção de manter o recur-
so ou de desistir do mesmo, presumindo-se que desiste se
3. As medidas previstas no presente artigo devem res-
nada disser.
peitar a proporcionalidade e dignidade social dos cidadãos,
bem como a Resolução n.º 60/06, de 4 de Setembro, que 3. A decisão sobre o recurso deve ser proferida no prazo
aprova a Política do Governo para o Fomento Habitacional, de 30 dias, após a data de interposição, considerando-se
o Decreto n.º 2/06, de 23 de Janeiro, que aprova o tacitamente indeferido, uma vez expirado o prazo, sem noti-
Regulamento Geral dos Planos Territoriais, Urbanísticos e ficação da decisão.
Rurais e o Decreto n.º 13/07, de 26 de Fevereiro, que
ARTIGO 37.º
aprova o Regulamento Geral das Edificações Urbanas. (Recurso contencioso)

ARTIGO 32.º 1. Notificado da decisão que não atendeu o recurso hie-


(Actos administrativos)
rárquico ou decorrido o prazo previsto no n.º 3 do arti-
1. Os actos administrativos de concessão de direitos de go 31.º para se presumir o indeferimento tácito, o recorrente
acesso à habitação social, seguem o regime geral do proce- pode, no prazo de 60 dias, interpor recurso contencioso para
dimento administrativo regulado pelo Decreto-Lei n.º 16- o tribunal territorialmente competente em razão da matéria
-A/95, de 15 de Dezembro.
administrativa em causa.
2. Os procedimentos relativos à implementação de pro-
gramas de habitação social são de carácter prioritário. 2. São irrecorríveis os actos políticos do Governo que
aprovam programas e projectos de habitação social, bem
3. São nulos os actos de transmissão a terceiros de terre- como de fomento de outros tipos de habitação.
nos reservados pelo Estado para a implementação de pro-
gramas de habitação social. 3. O recurso de actos administrativos tem efeito suspen-
4. São igualmente nulos os actos de venda ou de arren- sivo nos termos gerais aplicáveis.
damento de habitações sociais que não se conformem com
as normas e os princípios da presente lei e dos demais diplo- CAPÍTULO VII
mas regulamentares, sobre processo de atribuição de habi- Disposições Finais e Transitórias
tações sociais. ARTIGO 38.º
ARTIGO 33.º
(Cooperação institucional)
(Publicidade dos programas de habitação social)

1. O Governo deve publicitar os programas de habitação Todas as instituições públicas e privadas devem apoiar
social, em razão do tempo e da área territorial de execução os organismos legalmente competentes no cumprimento do
dos programas. disposto na presente lei.
ARTIGO 39.º
2. O disposto no n.º 1 não prejudica o regime de sigilo (Revogação)
da administração pública nos limites legais compatíveis
É revogada toda a legislação que contraria o previsto na
com a transparência dos processos administrativos.
presente lei.
ARTIGO 34.º ARTIGO 40.º
(Dúvidas e omissões)
(Competência)
As dúvidas e omissões que se suscitarem da interpre-
Compete aos órgãos da administração central e local do tação e aplicação da presente lei são resolvidas pela
Estado aplicar as medidas punitivas previstas na presente Assembleia Nacional.
lei, sem prejuízo das competências dos órgãos judiciais
competentes. Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda,
ARTIGO 35.º aos 28 de Junho de 2007.
(Destino das multas)

As multas aplicadas nos termos da presente lei devem Publique-se.


constituir receita do Fundo de Fomento Habitacional. O Presidente em exercício da Assembleia Nacional,
João Manuel Gonçalves Lourenço.
CAPÍTULO VI
Recursos
Promulgada aos 18 de Julho de 2007.
ARTIGO 36.º
(Recurso hierárquico) O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.
1. Dos actos administrativos executórios e definitivos
proferidos nos processos quer de execução de programas de O. E. 318 — 8/97 — 2500 ex. — I. N.-E. P. — 2007

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