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ARTIGO ORIGINAL

Cláudia Severgnini Eugênio1


Ribeiro Haack2 , Cassiano
, Tarissa da Silva
Teixeira1, Régis
Comparação entre as percepções de familiares e
Goulart Rosa3 , Emiliane Nogueira de Souza1
profissionais de saúde sobre um modelo flexível de
visitação em unidade de terapia intensiva adulto: um
estudo transversal

1.Universidade Federal de Ciências da Saúde de ABSTRATO ansiedade e estresse com visitação


Porto Alegre - Porto Alegre (RS), Brasil.
flexível foi superior à percepção da
2.Hospital Humaniza – NotreDame Intermédica –
Porto Alegre (RS), Brasil. Objetivo:Comparar as percepções dos equipe (91,6%contra58,9%, p < 0,001), e a
3.Escritório de Projetos de Pesquisa, Hospital Moinhos de familiares dos pacientes com as percepções família também teve uma percepção
Vento - Porto Alegre (RS), Brasil.
dos profissionais de saúde sobre um modelo mais positiva quanto ao fornecimento de
flexível de visitação em unidades de terapia informações (86,3%contra64,2%, p <
intensiva. 0,001). A equipe assistencial acreditava
Métodos:Estudo transversal. Este que a presença do familiar dificultava o
estudo foi realizado com familiares de cuidado ao paciente e causava
pacientes e membros da equipe assistencial interrupções no trabalho (46,3%contra
de uma unidade de terapia intensiva clínico- 6,3%, p < 0,001). Conclusão:Os familiares
cirúrgica com modelo de visitação flexível e as equipes da unidade de terapia
(12 horas/dia), no período de setembro a intensiva têm percepções diferentes
dezembro de 2018. Foi realizada avaliação sobre a flexibilidade de visitas na unidade
da política de visitação flexível. por meio de de terapia intensiva. Porém, predomina
instrumento de visitação aberta composto uma visão positiva quanto à percepção
por 22 questões divididas em três domínios de diminuição da ansiedade e do
(avaliação do estresse familiar, estresse entre os familiares e maior
fornecimento de informações e informação e contribuições para a
interferência no trabalho da equipe). recuperação do paciente.
Resultados:Foram analisados 95 Palavras-chave:Cuidados intensivos; Unidades de
familiares acompanhantes e 95 membros terapia intensiva/organização & administração;
da equipe assistencial. As percepções dos Visitantes de pacientes; Família; Equipe de
familiares sobre a diminuição da atendimento ao paciente; Percepção

INTRODUÇÃO
Conflitos de interesse:Nenhum.

O ambiente de cuidados intensivos pode expor os membros da família a uma variedade de


Enviado em 19 de março de 2022
factores de stress, tais como problemas de comunicação, incerteza sobre a sobrevivência ou
Aceito em 8 de junho de 2022
reabilitação do paciente e falta de apoio para decisões partilhadas.(1)Tradicionalmente, em
Autor correspondente: todo o mundo, a visitação a pacientes de unidades de terapia intensiva (UTI) ocorre em
Cassiano Teixeira
horários restritos com base no risco teórico de aumento do estresse fisiológico, nos prejuízos
Universidade Federal de Ciências da Saúde de
Porto Alegre à organização dos cuidados intensivos e no aumento do risco de complicações infecciosas
Rua Sarmento Leite, 245 causadas por uma visitação flexível política.(2-4)No entanto,muitas UTIs estão mudando sua
CEP: 90050-170 - Porto Alegre (RS), Brasil E-
política de visitação restritiva para visitação aberta ou flexível, a fim de promover cuidados
mail: cassiano.rush@gmail.com
centrados no paciente e melhorar a satisfação da família e do paciente.(5-7)Estudos anteriores
Editor responsável:Leandro Utino Taniguchi mostraram que os sintomas de ansiedade e depressão diminuem com visitas flexíveis e a
satisfação aumenta. Além disso, não houve aumento do burnout na equipe assistencial.(7)
DOI:10.5935/0103-507X.20220114-pt

Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(3):374-379 Este é um artigo de acesso aberto sob a licença CC BY https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Comparação entre as percepções de familiares e profissionais de saúde sobre um modelo de visitação flexível375

Apesar disso, muitos profissionais continuam resistindo e Os critérios de inclusão dos familiares acompanhantes
acreditam que a presença do familiar pode acarretar maior carga de foram: familiares de pacientes internados, de ambos os
trabalho da equipe assistencial e maior desorganização do sexos (pais, filhos, irmãos ou cônjuges), maiores de 18 anos,
atendimento aos pacientes.(8,9)O conhecimento dos pontos de que permanecessem à beira do leito do paciente por período
convergência e divergência de profissionais e familiares quanto à superior a duas horas diárias, e cujo paciente estivesse
consulta flexível pode contribuir para otimizar um modelo que internado há mais de 48 horas na unidade,
agrade pacientes, familiares e equipe, uma vez que o objetivo independentemente do motivo da internação. Também
principal é a recuperação e o cuidado do paciente no ambiente de foram incluídos cuidadores designados pelo familiar
terapia intensiva.(10-13)A avaliação de uma política de visitação flexível responsável pelo paciente. Foram excluídos do estudo
na UTI, por meio da percepção da equipe assistencial e dos familiares familiares e cuidadores que apresentassem déficit cognitivo
acompanhantes, é uma forma de aprimorar essa prática e melhorar ou visual no preenchimento do questionário. Os membros da
o desenvolvimento dos processos de cuidado, garantindo um equipe assistencial da UTI (enfermeiros, técnicos de
cuidado humanizado. Além disso, proporciona um contexto para enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e
promover um ambiente de aprendizagem e confiança para todos os médicos de rotina) também foram incluídos no estudo de
envolvidos no processo de hospitalização. acordo com os seguintes critérios de inclusão: fazerem parte
Assim, o objetivo do presente estudo foi comparar as da equipe da UTI; trabalhavam na unidade há pelo menos
percepções dos familiares dos pacientes com as percepções dos três meses e estavam expostos à visitação flexível por mais
profissionais de saúde no que diz respeito a um modelo flexível de duas horas diárias. Um questionário foi aplicado a todos
de visitação familiar na UTI. os trabalhadores da UTI que concordaram em participar do
estudo. Não houve exclusão de questionários.
MÉTODOS O conselho de ética institucional revisou e aprovou
este estudo (CAAE nº 54454016.5.0000.5345).
População estudada
Coleção de dados
Foi realizado um estudo transversal em uma UTI
clínica e cirúrgica adulto de um hospital privado terciário, A avaliação da política de visitação flexível pela equipe
com 56 leitos e visitação familiar flexível, no Sul do Brasil. assistencial foi realizada por meio do instrumento de avaliação da
Nesta UTI, cada técnico de enfermagem atende no máximo visitação aberta, que é composto por 22 questões divididas em três
dois pacientes, enquanto enfermeiros, fisioterapeutas e médicos domínios (ou seja, avaliação do estresse familiar, fornecimento de
atendem até dez pacientes. Esse modelo de visitação, vigente informações e interferência no trabalho do O time).(11)Todas as
desde 2015, permite que até dois familiares permaneçam à beira questões tiveram respostas em escala Likert: nunca (1);
do leito do paciente no período das 9h às 21h. Para que o ocasionalmente (2); frequentemente (3); e sempre (4), exceto nas
familiar tenha direito de continuar acompanhando o paciente, é questões 20, 21 e 22, para as quais havia três possibilidades de
necessário que esse familiar participasse de reunião informativa resposta: sim (1); não (2); ou não sei (3). As questões Q3, Q4, Q9, Q10,
sobre boas práticas de visitação em UTI. Essa reunião acontece Q11, Q12, Q13, Q14 e Q15 tiveram suas respostas codificadas
diariamente e são explicados aspectos relacionados ao inversamente. As primeiras 19 questões foram agrupadas em
funcionamento da unidade, aos cuidados que os pacientes negativas (nunca/ocasionalmente) ou positivas (frequentemente/
graves receberão, às medidas de controle de infecção e aos sempre) para melhor distribuição dos resultados.
direitos e deveres do visitante da UTI. Além disso, o familiar Os sujeitos que acompanhavam o familiar internado
acompanhante deverá concordar em assinar um termo de foram convidados a participar do estudo e, após aceite,
compromisso fornecido após o repasse das informações, que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os
inclua os direitos e deveres do acompanhante. O médico, que questionários foram entregues aos indivíduos que
não é necessariamente intensivista, é o responsável pelo responderam em local privativo, próximo ou dentro da UTI, e
paciente. Esse médico compartilha decisões sobre o atendimento posteriormente deixados em local reservado na sala de
ao paciente com a equipe assistencial e conversa diariamente pesquisa. O mesmo instrumento foi utilizado para avaliar a
com os familiares. Apesar de a equipe assistencial não ter a política de visitação flexível com familiares acompanhantes,
responsabilidade de repassar informações sobre o estado de com adaptações nas questões para melhor compreensão.
saúde do paciente, em muitos casos, acaba esclarecendo as Ambos os instrumentos foram autoaplicáveis e o tempo de
preocupações dos familiares à beira do leito. A coleta de dados preenchimento do questionário foi de aproximadamente 30
foi realizada por conveniência e ocorreu no período de setembro minutos. Também foram coletadas variáveis
a dezembro de 2018. sociodemográficas dos familiares e da equipe assistencial.

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376Eugênio CS, Haack TS, Teixeira C, Rosa RG, Souza EN

Tamanho da amostra na família (Q5), o fornecimento de mais informações


enquanto está com o paciente (Q8), a interrupção do
O cálculo amostral dos membros da equipe assistencial foi
trabalho da equipe (Q11), o desconforto na equipe de saúde
baseado em estudo anterior que utilizou questionário de
(Q14), as mudanças nas atitudes da equipe (Q16) e o fato da
visitação aberta.(11)Considerando respostas de avaliação positiva
visitação flexível ser alterada em casos especiais (Q19).
de aproximadamente 44,8% na equipe assistencial, com erro de
Na UTI da pesquisa, 98,9% dos familiares
5% e significância de 5%, com base no contingente de
acompanhantescontra84,2% da equipe assistencial
profissionais que atuam no setor, foram necessários 95
concordou em ter acesso a visitas ampliadas no caso de
participantes. O mesmo número de participantes foi escolhido
familiar, sendo que 90,5% da família considerou a equipe
para o grupo familiar.
capacitada em comunicação; porém, apenas 31,6% da
Análise estatística equipe tinha essa percepção e 76,8% da equipe
assistencial gostaria de receber treinamento em
Os dados foram analisados de forma descritiva e analítica
comunicação. Outros dados em relação às questões 20,
pelo software Statistical Package for Social Sciences (SPSS),
21 e 22 são apresentados na tabela 3.
versão 21.0. As variáveis categóricas são apresentadas como
números absolutos (n) e relativos (%). As variáveis contínuas são
Tabela 1 -Caracterização dos sujeitos do estudo
apresentadas como média e desvio padrão (DP). As variáveis
Variável
categóricas foram comparadas pelo teste qui-quadrado. A
comparação das respostas entre os grupos foi realizada pelo Equipe de saúde

teste de Mann-Whitney. Um p bicaudal < 0,005 foi considerado Mulheres 78 (82,1)


estatisticamente significativo.
Profissão

RESULTADOS Técnicos de enfermagem 57 (60)

19 (20)
Foram incluídos 95 familiares de pacientes internados em Enfermeiras

UTI e 95 membros da equipe assistencial. O tempo médio de Médicos 11 (11,6)

exercício profissional dos membros da equipe assistencial foi Outro 8 (8,4)


mediana de 3 (1 - 5) anos, com média de idade de 32 anos
Turno de trabalho
(DP = 6), e o tempo médio de experiência com visitas abertas
foi de dois anos. Dia 69 (72,6)

A média de idade dos familiares acompanhantes foi de 51 Noite 26 (27,4)


anos (DP = 12). Quanto ao estado neurológico dos pacientes,
Tempo médio de trabalho (anos) 3 (1 - 5)
63 (66,3%) estavam conscientes/verbalizando. As demais
Parentes e cuidadores
características demográficas estão descritas na tabela 1.
Mulheres 68 (71,6)

Educação
Comparação das percepçõesdevisitação flexível
Faculdade 65 (68,4)
Os familiares acompanhantes têm uma visão mais positiva
em relação ao modelo de visitação flexível quando comparado à Ensino médio 23(24,2)

equipe de saúde. A Tabela 2 apresenta o percentual de respostas Escola primária 7 (7,4)


agrupadas em negativas (nunca/ocasionalmente) ou positivas
Relação
(frequentemente/sempre) para melhor distribuição dos
Filho filha) 48 (50,5)
resultados. As questões Q3, Q4, Q9, Q10, Q11, Q12, Q13, Q14 e
Q15 tiveram suas respostas codificadas inversamente. Todas as Cônjuge 31 (32,7)

outras respostas diferiram significativamente, exceto as Cuidador 16 (16,8)


respostas 12 e 18.
Status ocupacional
Entre as questões que apresentaram maior
diferença nas respostas foram aquelas relacionadas Ativo 71 (74,7)

ao fato do familiar dificultar o cuidado ao paciente Aposentado 24 (25,3)


(Q3), à diminuição da ansiedade e do estresse Resultados expressos como n (%) ou mediana (percentil 25% - 75%).

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Comparação entre as percepções de familiares e profissionais de saúde sobre um modelo de visitação flexível377

Mesa 2 -Comparação das respostas do grupo de acompanhantes e da equipe de saúde

Parentes acompanhantes Equipe de saúde valor p

Negativo Positivo Negativo Positivo

Q1 - Você acha que a visitação flexível ajuda na recuperação do paciente? 7 (7,4) 88 (92,6) 23 (24,2) 72 (75,8) < 0,001

Q2 - Você acha que a visitação flexível diminui o estresse e a ansiedade dos pacientes? 7 (7,4) 88 (92,6) 35 (36,8) 60 (63,2) < 0,001

Q3 - Você acha que a visitação flexível dificulta o atendimento ao paciente? 11 (11,6) 84 (88,4) 27 (28,4) 68 (71,6) < 0,001

Q4 - Você acha que a visitação flexível interfere na privacidade do paciente? 5 (5,3) 90 (94,7) 18 (18,9) 77 (81,1) < 0,001

Q5 - Você acha que a visitação flexível diminui a ansiedade e o estresse na família? 8 (8,4) 87 (91,6) 39 (41,1) 56 (58,9) < 0,001

Q6 – Você acha que a visitação flexível aumenta a confiança da família? 24 (25,3) 71 (74,7) 29 (30,6) 66 (69,4) < 0,001

Q7 - Você acha que o aumento do tempo de visitação contribui para a satisfação da família em relação à equipe? 6 (6,4) 89 (93,7) 18 (19) 77 (81) < 0,001

Q8 - Você acha que a visitação flexível permite que a família tenha mais informações sobre o paciente? 13 (13,7) 82 (86,3) 34 (35,8) 61 (64,2) < 0,001

Q9 - Você acha que a visitação flexível obriga a família a ficar com o paciente? 6 (6,3) 89 (93,7) 25 (26,3) 70 (73,7) < 0,001

Q10 - Você acha que a visitação flexível prejudica a organização da assistência à saúde prestada ao paciente? 3 (3.2) 92 (96,8) 18 (18,9) 77 (81,1) < 0,001

Q11 - Você acha que o trabalho dos profissionais da unidade de terapia intensiva sofre mais interrupções devido à flexibilização da visitação? 6 (6,3) 89 (93,7) 44 (46,3) 51 (53,7) < 0,001

Q12 - Você acha que a visitação flexível interfere nas prioridades de trabalho dos profissionais da unidade de terapia intensiva? 16 (16,8) 79 (83,1) 21 (22,1) 74 (77,9) 0,47

Q13 - Você acha que a flexibilização da visita acarreta atraso na análise e realização dos procedimentos dos pacientes? 3 (3.2) 92 (96,8) 23 (24,2) 72 (75,8) < 0,001

Q14 - Você acha que os profissionais se sentem incomodados ao examinar os pacientes na presença da família? 2 (2.2) 93 (97,8) 25 (26,3) 70 (73,7) < 0,001

Q15 - Você acha que os profissionais se sentem incomodados com a presença prolongada da família do paciente? 7 (7,4) 88 (92,6) 14 (14,8) 81 (85,2) < 0,001

Q16 - Você acha que a visitação flexível contribui para uma mudança nas atitudes de trabalho na unidade de terapia intensiva? 38 (40) 57 (60) 74 (77,9) 21 (22,1) < 0,001

Q17 - Você acha que a visitação flexível ajuda a família a se sentir responsável pelo cuidado do paciente? 39(41,1) 56 (58,9) 55 (57,9) 40 (42,1) < 0,001

Q18 - Você acha que a visitação à unidade de terapia intensiva deve ser alterada em caso de conflito ou a pedido do paciente? 29 (30,5) 66 (69,5) 21 (22,1) 74 (77,9) 0,35

Q19 - Você acha que a visitação à unidade de terapia intensiva deve ser alterada em casos especiais, como final de vida? 36 (37,9) 59 (62,1) 14 (14,8) 81 (85,2) < 0,001

Resultados expressos como n (%).

Tabela 3 -Comparação das respostas do grupo de acompanhantes e da equipe de saúde

Pergunta Família Pergunta Equipe

Q20 - Você concorda em ter acesso à visitação flexível na internação do 98,9 Q20 - Caso você ou seus familiares necessitassem de internação em unidade de terapia 84,2
seu familiar? intensiva, gostariam de ter acesso à visitação flexível?

Q21 - Você considera a equipe treinada na comunicação com familiares de pacientes internados 90,5 Q21 - Você já participou de algum treinamento relacionado à comunicação com 31,6
em unidade de terapia intensiva? familiares na unidade de terapia intensiva?

Q22 - Você acredita que a equipe necessita de treinamento para melhorar as habilidades de comunicação 22.1 Q22 - Gostaria de receber treinamento para melhorar sua capacidade de comunicação com a 76,8
com os familiares dos pacientes na unidade de terapia intensiva com visitação flexível? família do paciente da unidade de terapia intensiva com visitação flexível?

Resultados expressos em %.

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378Eugênio CS, Haack TS, Teixeira C, Rosa RG, Souza EN

DISCUSSÃO técnicas de comunicação, estabelecer regras e esclarecer


dúvidas, traçar metas para aliviar o estresse e a ansiedade dos
Neste estudo, observamos que ambos os grupos concordaram
familiares e estabelecer acordos de direitos e deveres dos
que a permanência do acompanhante à beira do leito é um fator que
acompanhantes durante o período de internação.(22,23)
beneficia a recuperação do paciente, alivia o sofrimento familiar,
A presença da família junto ao paciente permite que sejam
reduz a percepção de ansiedade e estresse em pacientes e familiares,
agentes ativos do cuidado; ou seja, a família deve ser entendida
permite obter mais informações sobre a situação do paciente.
como importante aliada da equipe e pode atuar como recurso
condição clínica e aumenta a satisfação da família. Houve diferenças
por meio do qual o paciente pode reafirmar e, muitas vezes,
nas respostas quanto à interferência no trabalho da equipe
recuperar sua própria participação no tratamento.(24,25)
assistencial, mudanças de atitudes no trabalho da equipe assistencial
Nesse sentido, o pacientecentradoo cuidado passa a ser uma questão
e capacitação da equipe para orientação da família com a
ética que deve ser discutida com os serviços de saúde e, a partir
flexibilização da visitação na UTI.
disso, devem ser desenvolvidas políticas adequadas para apoiar a
O estudo de visitas à UTI de Rosa et al. mostraram que uma
visitação flexível nos serviços de saúde intensivos.
política flexível de visitação familiar apoiada pela educação
Os pontos fortes do nosso estudo são que esses dados podem
familiar não reduziu significativamente a incidência de delirium
ser levados em consideração no planejamento e implementação de
entre os pacientes em comparação com a visitação restrita
programas ou políticas de visitação flexíveis no ambiente de terapia
padrão, ao contrário de estudos anteriores. No entanto, este
intensiva e nas discussões entre as equipes de cuidados sobre a
estudo mostrou uma redução nos sintomas de ansiedadee
presença de familiares à beira do leito em novos espaços de
depressão e melhor satisfação entre os familiares.(7)Sabe-se que
convivência social. interações. Sugerimos estudos futuros em
a presença de familiares em UTI por mais tempo melhora a
diversos centros que sejam capazes de avaliar o cuidado centrado no
satisfação do paciente e da família e reduz a ansiedade e o
paciente e na família e os benefícios trazidos pela visitação flexível
delirium dos pacientes; no entanto, isso pode estar associado a
em UTIs de adultos.
um risco aumentado de burnout entre os pacientes da UTI.
Este estudo tem algumas limitações. Primeiramente, a pesquisa
profissionais.(14-19)Alguns profissionais percebem que a presença
foi realizada em um único centro. Segundo, por se tratar de um
dos familiares desorganiza o cuidado prestado ao paciente e
instrumento autoaplicável, algumas questões podem ter respostas
apresenta maior carga de trabalho e estresse ocupacional.(10,11)
pouco confiáveis devido à falta de compreensão da própria questão.
Contudo, estudos indicam que o aumento da presença de
Além disso, não foram verificados os horários de visita dos familiares
familiares emoA UTI pode contribuir para uma melhor
durante a pesquisa, fato que pode impactar nas respostas dos
compreensão das necessidades do paciente e,
participantes. Outra limitação é que as decisões sobre o
consequentemente, para a qualidade da assistência prestada.
fornecimento de informações aos familiares sobre o estado de saúde
(18,19) Os melhores resultados observados com a visitação flexível
dos pacientes são de responsabilidade do médico assistente, que
podemsermediada por melhor comunicação, proximidade com o
muitas vezes não é intensivista e passa pouco tempo com o paciente
paciente, segurança e apoio.(7)
durante o tratamento. Assim, pode haver um viés favorável à visita
Quanto ao treinamento da equipe assistencial para se
aberta por parte dos familiares. Em muitas UTIs, o responsável por
comunicar com os familiares, a maioria dos profissionais
todos os cuidados e pela comunicação com os familiares é do
respondeu que não recebeu treinamento e que gostaria de
intensivista. Nestes casos, a visitação aberta pode causar maior
melhorar sua capacidade de comunicação, enquanto os
desgaste da equipe assistencial, bem como interferir na percepção
familiares consideraram a equipe treinada para se comunicar
da presença da família na UTI por período prolongado.
com os familiares. Ressalta-se que a capacitação da equipe
assistencial para receber e informar esses familiares é de
fundamental importância, pois o trabalho diário da equipe, CONCLUSÃO
principalmente da enfermagem em muitas situações, exige
interação profissional com os pacientes e seus familiares.(20,21) Ambos os grupos de familiares e profissionais de saúde são a
Estudo que teve como objetivo avaliar a percepção da equipe sobre a favor da política de visitação flexível. No entanto, os familiares
visitação aberta às UTIs revelou que, dos 106 participantes, 79,2% dos ofereceram uma avaliação mais positiva do que os membros da
membros da equipe da UTI apresentavam dificuldades de comunicação equipe assistencial. Entre os principais benefícios, destacamos
com as famílias e 84% relataram desejo de adquirir boas habilidades de aspectos como a percepção de diminuiçãoemansiedade e
comunicação.(10)As reuniões da equipe multiprofissional com os familiares estresse entre familiares acompanhantes e contribuição na
nas primeiras 24 a 48 horas após a admissão do paciente podem ser uma recuperação do paciente. Dentre os aspectos negativos,
das alternativas para melhorar relatamos interferência no trabalho da equipe de saúde.

Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(3):374-379


Comparação entre as percepções de familiares e profissionais de saúde sobre um modelo de visitação flexível379

Contribuições dos autores 9. Nassar Junior AP, Besen BA, Robinson CC, Falavigna M, Teixeira C, Rosa RG.
Flexívelcontrapolíticas restritivas de visitação em UTIs: uma revisão sistemática e
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comunicação, satisfação e importância das necessidades familiares na Unidade
Haack e C Teixeira contribuíram na aquisição dos dados. CS de Terapia Intensiva. Esc Anna Nery. 2014;18(2):277-83.
Eugênio e EN Souza contribuíram na análise dos dados. CS 11.Ramos FJ, Fumis RR, Azevedo LC, Schettino G. Percepções de uma política de visitação aberta por

Eugênio, C Teixeira, RG Rosa e EN Souza contribuíram na trabalhadores de unidades de terapia intensiva. Ana Terapia Intensiva. 2013;3(1):34.
12.Giannini A, Miccinesi G, Prandi E, Buzzoni C, Borreani C; Grupo de Estudos ODIN.
redação do manuscrito. Todos os autores leram e aprovaram
Liberalização parcial das políticas de visitação e do pessoal da UTI: um estudo antes e
a versão final do manuscrito. depois. Medicina Intensiva. 2013;39(12):2180-7.
13.Goldfarb MJ, Bibas L, Bartlett V, Jones H, Khan N. Resultados de intervenções de
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7. Rosa RG, Falavigna M, da Silva DB, Santos MM, Kochhann R, de Moura RM, um estudo qualitativo. Enfermeira de cuidados críticos. 2017;37(6):e1-e9.
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Jeffman RW, Cavalcanti AB, Machado FR, Azevedo LC , Salluh JIF, Pellegrini JA, Falavigna M, Robinson CC, Salluh JI, Cavalcanti AB, Azevedo LC, Cremonese RV,
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