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IPAF

INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA E FORMAÇÃO


CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSULTA PSICOLÓGICA E
PSICOTERAPIA

O FAMILIAR NO PROJETO TERAPÊUTICO DA UTI ADULTO:


UMA VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA RELACIONAL DIALÓGICA

MARIA HELENA SOARES SOUZA MARQUES DIAS

BAGÉ/RS

2006
1

IPAF
INSTITUTO DE PSICOLOGIA APLICADA E FORMAÇÃO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM CONSULTA PSICOLÓGICA E
PSICOTERAPIA

O FAMILIAR NO PROJETO TERAPÊUTICO DA UTI ADULTO:


UMA VISÃO SÓCIO-HISTÓRICA RELACIONAL DIALÓGICA

Monografia apresentada ao IPAF – Instituto de


Psicologia Aplicada e Formação como
requisito para a conclusão do Curso de
Formação em Consulta Psicológica e
Psicoterapia, sob a orientação da formadora
Psi. Simone Marangoni.

MARIA HELENA SOARES SOUZA MARQUES DIAS

BAGÉ/RS

2006
2

Dedico este trabalho ao IPAF –


Instituto de Psicologia Aplicada e Formação
que me possibilitou uma ressignificação no
meu “fazer/ser” psicóloga e apontou-me que
o psicoterapeuta ao ouvir e traduzir, assume
um papel de testemunha e de contentor da
palavra e do símbolo do outro, levando-o a
reorganização do eu.
3

Agradeço ao Dr. Joaquim Maria


Quintino Aires, Presidente do IPAF –
Instituto de Psicologia Aplicada e Formação
e a Simone Marangoni, Diretora Geral no
Brasil pela oportunidade de fazer parte de
tão importante instituição de formação de
psicólogos e aos demais formadores pela
contribuição teórica - prática que nos levou à
formação e ao entendimento do que
realmente é ser e fazer Psicologia Clínica.
4

Nossa meta não é transformarmo-


nos, é conhecermo-nos um ao outro e
aprender a ver e respeitar no outro o que
somos; o oposto de nós mesmos e nosso
complemento.

Herman Hesse
5

RESUMO

A mudança de paradigma, a ressignificação cultural e o cuidado humanizado


na Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital Universitário - URCAMP, na
cidade de Bagé (RS), constituíram o tema deste trabalho, que teve como objetivo a
inserção do familiar como mediador no projeto terapêutico da equipe técnica de
forma mais afetiva e efetiva. Tratou-se de uma pesquisa qualitativo-etnográfica junto
aos pacientes, familiares e equipe. Privilegiou-se o Modelo Clínico Relacional
Dialógico e a abordagem da Psicologia Sócio-Histórica para a compreensão dos
processos de construção de significados e sentidos dentro desta unidade de
emergência, através da análise dos elementos de formação em Psicologia Clínica
que emergiram do Curso de Consulta Psicológica e Psicoterapia oferecido pelo IPAF
– Instituto de Psicologia Aplicada e Formação. Utilizou-se a observação e a
entrevista semi-estruturada, sendo os dados analisados pela técnica de Bardin
(1995), resultando em duas categorias: Intercâmbio Mutuamente Contingente e
Ressignificação da UTI Adulto. Conclui-se que houve, com a nova dinâmica no
cuidar, respeito às integridades física e mental do enfermo, valorização da
afetividade e adesão às mudanças na dinâmica interativa do ambiente da UTI
Adulto. Infere-se que o familiar é um instrumento de mediação importante para a
humanização na emergência, atuando como elo entre o paciente e a equipe
responsável pela hospitalização. O intercâmbio mutuamente contingente possibilita
ao enfermo que a função interpsicológica partilhada se transforme em um processo
intrapsicológico de organização de seu comportamento, o que o leva a buscar
recursos mais favoráveis para o enfrentamento da doença e, conseqüentemente,
diminui seu padecer psíquico frente à internação.

Palavras chave:
Psicologia Sócio-Histórica, Humanização, UTI Adulto, Familiar,
Mutuamente Contingente, Ressignificação.
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ABSTRACT

The change of paradigm, the cultural ressignification and the humanization


care in the Adult Intensive Therapy Unit (ITU) of University Hospital - URCAMP, in
the city of Bagé (RS), was the subject of this work. It had as objective the familiar
insertion of as mediating in the therapeutically project of the technical team in a more
affective and real form. This is a qualitative-ethnographic research near to the
patients, the familiars and the team. It was privileged the Dialogic Relational Clinical
Model and the boarding of Social-Historical Psychology for the understanding of the
processes of construction of felt meanings inside this unit of emergency, through the
analysis of the elements of formation in Clinical Psychology that had emerged of the
Course of Psychological Consultation and Psychotherapy offered by IPAF - Institute
of Applied Psychology and Formation. It was used the observation and the half-
structuralized interview, being the data analyzed by the technique of Bardin (1995),
resulting in two categories: Mutually Contingent Interchange and Ressignification of
the Adult ITU. It is concluded that it had, with the new dynamic of taking care, respect
to the physical and mental integrities of the patient, valuation of the affectivity and
adhesion to the changes in the interactive dynamics of the environment of the Adult
ITU. It was inferred that the familiar is an important instrument of mediation for the
humanization in the emergency, acting like a link between the patient and the team
responsible for the hospitalization. The mutually contingent interchange makes
possible to the patient that the shared inter-psychological function changes into an
intra-psychological process of organization of its behavior, what takes it to look for
more favorable resources for the confrontation of the illness, decreasing its suffer
psychic front the internment.

Key-words:
Social-Historical Psychology, Humanization, Adult ITU, Familiar, Mutually
Contingent, Ressignification.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................09
PROPOSIÇÃO (PROBLEMA)...................................................................................13
JUSTIFICATIVA.........................................................................................................14
OBJETIVOS...............................................................................................................15
OBJETIVO GERAL....................................................................................................15
OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................15

CAPÍTULO I – A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR........................................................17


1.1 A EVOLUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO HOSPITAL..........................................17

CAPÍTULO II – A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS E SENTIDOS NA UNIDADE


DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO (UTI) ...............................................................25

CAPÍTULO III – O PACIENTE INTERNADO NA UNIDADE DE TERAPIA


INTENSIVA ADULTO (UTI)......................................................................................42

CAPÍTULO IV – O FAMILIAR COMO MEDIADOR NO PROJETO TERAPÊUTICO


DA UTI ADULTO........................................................................................................49

CAPÍTULO V – O PSICÓLOGO HOSPITALAR SÓCIO-HISTÓRICO RELACIONAL


DIALÓGICO...............................................................................................................61

MÉTODO....................................................................................................................69
LOCAL DE INQUÉRITO............................................................................................70
SUJEITOS DA PESQUISA........................................................................................70
PROCEDIMENTO......................................................................................................71
RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................72
RESSIGNIFICAÇÃO DO AMBIENTE DA UTI ADULTO...........................................79
8

CONCLUSÃO............................................................................................................85

OBRAS CONSULTADAS..........................................................................................88

ANEXOS..................................................................................................................100
9

INTRODUÇÃO

Vivemos um momento histórico em que muitos conceitos e práticas têm sido


revistos no processo de Hospitalização, de adoecimento e tratamento do paciente
internado. Deve-se isso à introdução de ações de humanização adotadas e
incorporadas pelas políticas públicas de nosso país nos últimos anos, à concepção
de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e, principalmente pelo que hoje se
compreende por ser saúde, doença e qualidade de vida.
Seguindo essa linha de pensamento e ao mesmo tempo sensível a essa
necessidade, como Psicóloga Hospitalar, então, preocupei-me, dentro de uma das
ações do Serviço de Psicologia, propor mudanças na rotina da Unidade de Terapia
Intensiva Adulto – UTI, no sentido de promover um tratamento mais afetivo e efetivo
para os seus usuários.
Dessa forma, implantou-se em 2005, o Projeto: “Inserindo o Familiar
Cuidador no Projeto Terapêutico na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)”,
provocando mudanças na rotina interna desta Unidade. Abriu-se espaço para que o
familiar Cuidador permaneça ao lado de seu parente hospitalizado, à beira do leito,
das 16h:00 às 18h:00, como uma forma de expressar a importância e valorização
que dá para o enfermo e laços afetivos na hospitalização, bem como também,
enquanto Instituição, mostrar que solidariedade, respeito e ética fazem parte da
filosofia da mesma.
Assim, o objetivo desta pesquisa foi averiguar, junto aos enfermos, aos
familiares e a equipe desta unidade de emergência, se a inserção do familiar no
projeto terapêutico, contribui para a ressignificação e amenização do sofrimento do
paciente hospitalizado.
Parte-se da observação e constatação da prática profissional da Psicologia
quanto às queixas constantes de sentimento de desamparo e solidão do enfermo, do
10

alto nível de ansiedade da família diante da doença, bem como da consciência plena
da nocividade da ruptura dos laços familiares na hospitalização em uma Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI). Assim, embora não intencionalmente, a internação
contribui para o sofrimento do doente, na medida em que este, ficando longe de seu
parente, desenvolve um padecer psíquico.
Nessa perspectiva, a história própria do hospital pode interferir no imaginário
do paciente e em seu processo de hospitalização, seja na forma de sua
internalização da hospedagem, no caráter provisório ou não da permanência, da
convivência com os familiares, com os anônimos membros da equipe do hospital, ou
na sua forma de interdição de seu corpo e de sua pessoa.
Desse modo, o paciente ao entrar na Unidade de emergência, encontra-se
frente a uma vivência repleta de simbolismos históricos que produz no seu
imaginário, sensações e sentimentos que se confundem com o próprio processo do
adoecer.
Percebe-se também que, quando um membro da família necessita
internação numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI), é este um dos acontecimentos
mais difíceis e significativos na dinâmica familiar. Essa situação se torna ainda mais
complexa quando o familiar se depara com um serviço em que as rotinas de visita
são impostas, com horários rígidos, tempo de visita muito curto e número restrito de
visitantes por doente.
Verifica-se da mesma forma que as informações sobre os doentes
geralmente são dadas num determinado horário, por meio de boletins, contendo
informações do tipo: óbito; muito grave; estável; melhorando.
Medidas e projetos que revertam esta triste realidade, atitudes humanísticas
e éticas, assegurando a todo cidadão um acompanhante familiar ou cuidador
presente na unidade se faz necessário. Sabe-se que a lei assegura apenas às
crianças e aos idosos o acompanhamento do familiar de forma mais efetiva,
entretanto, estudos mostram que o afeto, carinho, amor e a presença de um
intercâmbio mutuamente contingente, modificam os índices de morbi-mortalidade.
Nesse sentido, a proposta de humanização na Unidade de Terapia Intensiva
Adulto (UTI) de nossa Instituição, sugeriu a substituição das formas de violência
simbólica, constituintes do modelo de assistência hospitalar, por um modelo
centrado na possibilidade de relação e diálogo entre usuários, profissionais e
gestores, buscando instituir uma "nova cultura de atendimento".
11

Dessa forma, entende-se que a ação da Psicologia na promoção de


mudança de paradigma, ressignifica a Instituição Hospitalar, incentivando a
discussão, a socialização das limitações e das dificuldades apresentadas na
Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), bem como também estimula a cultura do
estudo nas rotinas hospitalares, delegando o pouco tempo de que os familiares
dispõem para acompanhar seu parente internado, ao espaço em que prática e teoria
são discutidas à luz de referenciais teóricos, assumindo-se, assim, o encontro de
paciente, familiar, e equipe de enfermagem como um tempo de análise e elaboração
de sínteses que fujam do pensamento redutor de senso comum.
Nesse sentido, o próprio cotidiano se converte em foco de estudo e faz com
que a rotina nessa Unidade Hospitalar, sofra a depuração e análise necessária para
que busque um novo significado à luz de teoria da teoria da Psicologia Sócio-
Histórica que explica e/ou indica caminhos para novas leituras e elaborações.
Vygotsky (1991) concebe o homem como um ser inserido em sua cultura e
em suas relações, o qual está continuamente internalizando formas concretas pela
sua atividade interativa. Nesse movimento externo/interno, social/individual/outros/eu
que vai se constituindo a subjetividade humana como intersubjetividade a partir do
significado intercambiado.
Nesse sentido, a Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), muito mais que
um espaço de promoção de vida e cura, o que, por si só, já seria algo rico, embora
não suficiente, é, sobretudo, um espaço de construção de saberes e trocas afetivas
que se constroem também através da relação, e do qual participa pacientes,
familiares e equipe.
O Psicólogo Intensivista, com a inserção do familiar cuidador, neste trabalho
entendido como pessoas aparentadas que vivem na mesma casa ou que tenham um
conjunto de gêneros afins, na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), ao
documentar como o paciente familiar e equipe se colocam em relação ao meio nos
quais estão inseridos na Instituição Hospitalar, também dá conta do que a
capacidade criativa da Psicologia Hospitalar pode realizar quando subverte o que
está estabelecido, reinventando papéis e sentidos para muito mais além do que já
está posto.
Possivelmente seja nesse exercício de significação/ressignificação de
experiências e construção de identidade pessoal e coletiva, que o Psicólogo
Intensivista pode se converter num dos profícuos meios de que o paciente dispõe
12

para entender, representar e criar estratégias de enfrentamento no processo de


hospitalização. Mais que isso: entendendo-o, atuar sobre ele, transformando-o,
recriando-o, superando-o, fazendo dele um meio através do qual se liberte dos
medos, das fantasias, do sentimento de desamparo frente à internação na Unidade
de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
Assim, pretende-se diminuir a ansiedade de pacientes e familiares, promover
melhor planejamento da assistência a ser prestada, abrandar o sentimento de
desamparo e despersonalização do paciente, bem como contribuir para a mudança
no olhar sobre a doença e o doente.
A mudança de paradigma na rotina da Unidade de Terapia Intensiva Adulto
demonstra que, é na relação com o outro contingente que se constrói e se é
construído e Leal (1999) refere, que o indivíduo procura a relação na expectativa de
que o “Outro” (familiar) se encontre disponível, para completar o “meu” ato
(hospitalização).
É somente na perspectiva de haver contingência à “minha” iniciativa, ao
“meu” ato e na presença de um Outro, que responda ou corresponda a par e passo,
que o paciente vai sentir-se atendido e entendido dentro desta unidade de
emergência.
Contudo, quando isto não se verifica, havendo uma falha na comunicação,
pelo isolamento do enfermo de seu familiar, imposto pela rotina hospitalar, ou um
modelo de comunicação perturbado, há uma incapacidade para o diálogo, ou seja,
para a relação dialógica no processo de adoecimento e internação, porque o Outro
deixou de estar lá, ou de estar disponível.
A internação hospitalar em uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)
provoca a perda do contato integral da pessoa enferma com sua família, e ambos
desestruturam-se física e emocionalmente, o que é confirmado por Oliveira e Jorge
(1998); Franco e Jorge (2002). Estes autores colocam que as instituições
hospitalares não estão preparadas para trabalhar com o familiar, ou seja, não existe
sua institucionalização, ficando o doente longe de seu parente.
Nessa linha de pensamento, entende-se que o cuidado na Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI), passará a ser humanizado se houver envolvimento
existencial dos cuidadores (familiar e equipe) com o ser doente, com os quais
vivenciam e compartilham a experiência. É reconhecendo a singularidade um do
13

outro por meio do diálogo que tanto o ser que é cuidado, aquele que “chama”,
quanto o ser que cuida, aquele que é “chamado”, sairão fortalecidos com o encontro.
Desse modo, o Psicólogo Intensivista deve atuar no sentido de ajudar a
promover os recursos emocionais do paciente, do familiar e dos profissionais da
equipe da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) para lidarem com suas próprias
dificuldades e através de um “apontar a dois”, trilhar um caminho em direção a um
incremento dos fatores protetores nos enfermos, que os leve ao enfrentamento da
doença e da hospitalização de forma mais saudável.
E como afirma Leal (1985), neste apontar a dois, o “EU” e o “OUTRO” dentro
de uma experiência relacional, vão intuir um significado partilhado da realidade como
produto do tipo de relação estabelecida com os cuidadores.
Diante da atual proposta da Humanização na Saúde, o Hospital Universitário
- URCAMP apreende que mudanças na estrutura das rotinas hospitalares da
Unidade de Tratamento Intensivo são necessárias, na medida em que atende às
necessidades do doente, da família no momento de crise, e das próprias políticas
públicas do Governo Federal e do Governo Estadual no que se refere à
Humanização Hospitalar.
É corrigindo o desligamento temporário do paciente de seu parente enfermo
durante a internação hospitalar, favorecendo aos familiares a proximidade com o
mesmo, por intermédio de um acompanhamento afetivo, efetivo com a inserção
destes no projeto terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e ao mesmo
tempo, possibilitando apoio psicológico, acolhimento e uma melhor qualidade de
vida durante o processo de hospitalização que, na prática poder-se-á falar em
Humanização.

PROPOSIÇÃO (PROBLEMA)

“Se a inserção do familiar no Projeto Terapêutico na Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI) do Hospital Universitário – URCAMP contribui para a
ressignificação deste ambiente, ou seja, se a interação e a afetividade que permeia
a relação dialógica família/paciente/profissional, favorece os recursos adaptativos do
enfermo à hospitalização, contribuindo para a amenização do sofrimento e
conseqüente Humanização nesta unidade de emergência”?
14

JUSTIFICATIVA

O presente estudo parte da constatação da prática profissional como


Psicóloga Hospitalar quanto às queixas constantes de sentimento de desamparo e
solidão do enfermo, do alto nível de ansiedade da família diante da doença, bem
como pela nocividade que a ruptura dos laços familiares provoca no paciente
internado. Justifica-se, também, no fato de que a hospitalização em uma Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI), embora não intencionalmente, contribui para o
sofrimento do doente, na medida em que este, ficando longe de seu parente,
desenvolve um padecer psíquico.
Justifica-se, do mesmo modo pela adesão as ações de humanização
adotadas e incorporadas pela “Política Nacional de Humanização da atenção e da
gestão na saúde” de nosso país nos últimos anos, quando a partir de 2003, o
Ministério da Saúde decidiu priorizar este tema como aspecto fundamental a ser
contemplado na sua filosofia de governabilidade.
Sabe-se que a Lei de nº. 11.185, de 2005, no seu art. 12 através do Estatuto
da Criança e do Adolescente assegura às crianças à permanência integral de um
dos pais ou responsável, durante o período de internação. De igual maneira,
também a Lei de nº. 10.741, de 2003 que trata do Estatuto do Idoso, concede em
seu art. 16, aos idosos o acompanhamento do familiar de forma mais efetiva na
hospitalização.
Entretanto, em relação ao paciente adulto, não se conhece até o momento,
um dispositivo legal que ampare suas necessidades emocionais em relação ao
aspecto do rompimento dos laços afetivos familiares na internação dentro de uma
UTI Adulto, embora estudos mostrem que afeto, carinho, amor e a presença de um
intercâmbio mutuamente contingente, modificam os índices de morbi-mortalidade.
Sabe-se também, que a Constituição Federal (1988) em seu art. 5º (do
Capítulo I, que trata dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos), o qual
estabelece: ”Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
15

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

 Demonstrar que a inserção do familiar no projeto terapêutico da Unidade


de Terapia Intensiva Adulto (UTI) de forma mais afetiva e efetiva durante
a hospitalização, ressignifica e promove a Humanização desta unidade
de emergência hospitalar, contribuindo para a amenização do padecer
psíquico do enfermo frente à internação.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Sugerir a substituição das formas de violência simbólica, constituintes do


modelo de assistência hospitalar, por um modelo centrado na
possibilidade de relação e diálogo entre usuários, profissionais e gestores
na busca de instituir uma "nova cultura de atendimento";

 Incentivar a discussão, a socialização das limitações e das dificuldades


apresentadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI);

 Estimular a cultura do estudo e mudanças nas rotinas hospitalares, ao


espaço em que prática e teoria são discutidas à luz de referenciais
teóricos, assumindo-se, assim, o encontro de paciente, familiar, e equipe
de enfermagem como um tempo de análise e elaboração de sínteses que
fujam do pensamento redutor de senso comum;

 Abrir espaço para que o familiar Cuidador permaneça ao lado de seu


parente hospitalizado, à beira do leito, como uma forma de manter os
laços afetivos;

 Expressar a importância e valorização que o Hospital Universitário -


URCAMP dá para o enfermo e laços afetivos na hospitalização, bem
como também, enquanto Instituição, mostrar que solidariedade, respeito
e ética fazem parte da filosofia da mesma;
16

 Possibilitar ao Psicólogo se converter num dos profícuos meios de que o


paciente dispõe para entender, representar e criar estratégias de
enfrentamento no processo de hospitalização;

 Diminuir a ansiedade de pacientes e familiares no processo de


hospitalização;

 Abrandar os sentimentos de desamparo e despersonalização do paciente


na internação Hospitalar;

 Contribuir para a Humanização e mudança no olhar sobre a doença e o


doente;

 Propor mudança de paradigma na rotina da Unidade de Terapia


Intensiva, inserindo-se o familiar como um mediador no projeto
terapêutico e acreditando-se que é na relação que se constrói e se é
construído;

 Introduzir a Psicologia Sócio-Histórica e o Modelo Relacional Dialógico


como norteadores da teoria e prática na Psicologia Hospitalar;

 Sugerir ao Ministério da Saúde que crie um dispositivo legal, que cumpra


com a Constituição Federal (1988), em seu art. 5º (do Capítulo I, que
trata dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos), a qual estabelece
que todos somos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo aos adultos as mesmas garantias e direitos
proporcionados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo
Estatuto do Idoso, que concedem às crianças e aos idosos o
acompanhamento do familiar de forma mais efetiva na hospitalização.
17

CAPÍTULO I – A INSTITUIÇÃO HOSPITALAR

1.1 A EVOLUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO HOSPITAL

A entrada de outros discursos, na Instituição Hospitalar, seja o do sujeito que


tem um corpo doente, seja o de outros profissionais, cria alguns impasses. É no
palco desses impasses que surge a possibilidade, por parte da Psicologia, na
construção de novas representações sobre os lugares de cada um e dá abertura
para algumas mudanças dentro da Instituição. Afinal, se a história das instituições é
sempre reveladora da história do discurso dominante, ela não deixa de ser também
a história das tentativas de resistência a esse discurso.
Pensando assim, como início deste trabalho, consideramos importante
contextualizar a evolução sócio-histórica da Instituição Hospital, no sentido de
oferecer um panorama da forma como essa Instituição foi construída e construiu o
imaginário dos envolvidos no processo de adoecimento e hospitalização ao longo
dos séculos.
De acordo com Gonçalves (1983) e Borba (1985) a palavra hospital vem do
termo ”hospes”, o qual tem como significado hóspede, dando a “hospitalis” e
“hospitium” lugar designado a hospedagem de viajantes, peregrinos e enfermos da
Antigüidade, onde o hospital era um espaço dedicado a conter pessoa com baixos
recursos, sendo uma espécie de depósito, onde a finalidade baseava-se
essencialmente no social.
Inicialmente, o hospital nasce como local de isolamento. Ele já existia na
Grécia de Esculápio e na Roma Antiga, onde vários templos criados para
homenagear esse sábio Deus serviam de abrigo aos pobres, velhos e enfermos. Na
China, no Ceilão, no Egito, antes de Cristo, há registros de hospedarias, hospitais e
18

hospícios, palavras com a mesma raiz latina, onde almas pias patrocinavam e
cuidavam de peregrinos, crianças, velhos, vagabundos e doentes (RIBEIRO, 1993).
O hospital se deu a partir de Cristo, onde recebeu total importância da
religião cristã, pois os seres humanos passaram a valorizar seus semelhantes,
devendo “Amar o próximo como a si mesmo”. Sendo assim, a primeira entidade
assistencial-hospitalar surgiu em Óstia, perto de Roma, na Itália em meados dos
anos 360 na era Cristã, onde a saúde era abordada de forma limitada pertinente aos
padrões da época.
A instituição hospitalar que funcionava na Europa desde a Idade média não
era, de forma alguma voltada para a cura, limitava-se a assistir aos pobres, pois
funcionava como forma de exclusão e separação. Estudando a respeito do
surgimento dos hospitais nas Américas, Campos (1995), coloca que o primeiro
surgiu na Cidade do México, em 1524, denominado Hospital Jesus de Nazaré.
No Brasil, segundo a autora, foi fundada a primeira Santa Casa em Santos
no ano de 1538, sob a influência dos portugueses exploradores e colonizadores,
devido à criação de vilarejos onde viviam os próprios exploradores, Mais tarde,
fundaram a Santa Casa de São Paulo, meados dos anos de 1590 a 1599. Nessa
época, os hospitais continham atendentes leigos e religiosos que se empenhavam
em salientar o doente e não a doença, desenvolvendo atividade de natureza
curativa.
Este fato explica porque os primeiros hospitais foram construídos como local
onde a prática, que era exercida baseada no cristianismo, colocava os enfermos
isolados e a clientela constituída de mulheres desamparadas, pobres, velhos,
moribundos e doentes crônicos, pois eram vistos como aquele que estava possuído
pelo “mal”.
Desse modo, o hospital permanece com essas características até o início do
século XVIII, como lugar de internamento, como um espaço de exclusão, baseados
na existência e transformação espiritual e ficava sob os cuidados de monges e
religiosos, o paciente com maior poder aquisitivo eram atendidos a domicílio. A
função médica ainda não aparece.
A partir do século XIX, o hospital, serviu como revelação de sofrimento,
posto que surgiu como um espaço de consolidação da identidade de doente, de
assistência, segregação e exclusão (FOUCAULT, 1998; 1979).
19

A hospitalização deu visibilidade ao paciente reafirmando-o como doente na


família, no trabalho e na comunidade. Uma vez internado, não havia dúvidas de sua
condição de doente, mesmo quando não se tinha ainda um diagnóstico.
A partir da instituição do hospital, a residência deixaria de ser o lugar onde o
sofrimento se manifestava em sua forma possível. Assim, a família perdeu a
autoridade sobre a maneira de cuidar do seu ente, que seria doravante isolado e
“olhado cientificamente”.
No hospital, a partir do olhar médico, pretendia-se reparar os excessos ou
deficiências das práticas familiares em relação ao processo saúde-doença-cuidado.
Introjetada a ordem médica, que desqualificava as práticas curativas
familiares, cada vez mais a família se viu obrigada a solicitar atenção médica por se
perceberem impotentes diante das manifestações do sofrimento que foram,
imediatamente, representadas como sinais de doença.
Verificamos nas obras de Foucault (1998; 1979); Herzlicch e Pierret (1987),
registros de que, desse modo, século XIX, houve a ruptura que se estabeleceu no
saber médico e que transformou o sujeito em paciente.
O século XIX, dessa forma, marca o nascimento da medicina moderna,
quando a prática do saber médico se vincula à racionalidade científica.
"As descobertas em diversos campos das ciências da natureza como a
biologia, anatomia, bacteriologia e outras disciplinas começam a afastar a medicina
do seu empirismo e construir o hospital científico moderno" (RIBEIRO, 1993:25).
A doença deixa de ser concebida como forma de existência que invade o
corpo e passa a ser percebida como decorrência de um processo com existência
material nos componentes do próprio corpo:
Conforme Brandão (2000) firmou-se nesse período no pensamento médico a
hegemonia do orgânico. A racionalidade científica na medicina estruturou a
explicação dos fenômenos com base no estudo de mudanças morfológicas,
orgânicas e estruturais.
Se anteriormente o foco de intervenção estava centrado no meio ambiente,
este se desloca para o corpo do indivíduo, o que caracteriza o rompimento com o
hospital exclusão.
Com o aparecimento da medicina científica, novas formas de conhecimento
e novas práticas institucionais tornaram o paciente desvinculado do seu sofrimento.
Nessa época, para conhecer a “verdade do fato patológico”, o médico precisou
20

abstrair o sujeito, pois sua disposição, temperamento, fala, idade, modos de vida
perturbavam a identificação da doença, segundo o desenho nosográfico
preestabelecido.
Assim, na formação mecanicista, o papel da lógica médica era neutralizar
essas perturbações, manter o sujeito distante para que a configuração ideal da
doença aparecesse aos olhos do médico, no abismo que se instaurava entre eles.
Nesse sentido, o olhar clínico foi dirigido para o corpo, representado como
lugar da doença. Houve um quase silenciamento do paciente que, em vão, tentava
falar de seu sofrimento e daquilo que imaginava ser o seu mal.
A doença foi retirada de sua metafísica da maldade, da qual tinha sido parte
durante séculos e passou a ocupar um estado corporal que permitiu sua leitura pela
ciência. Ao instaurar o fim de uma concepção religiosa e individual da doença,
acabou-se tamponando as reações de sofrimento do sujeito frente às adversidades
ou fragilidade da vida. Os sintomas assumiram os significados de determinantes
naturais das doenças, deixando de lado a articulação entre o sujeito e o sofrimento.
Assim, a família perdeu a autoridade sobre a maneira de cuidar do seu ente,
que seria doravante isolado e “olhado cientificamente”. No hospital, a partir do olhar
médico, pretendia-se reparar os excessos ou deficiências das práticas familiares em
relação ao processo saúde-doença-cuidado.
Desse modo, no século XIX, lidar com a doença tornou-se função dos
médicos. Como resultado dessa prática, uma conclusão se impôs: a norma familiar
produzida pela ordem médica solicitava, de forma constante, a presença de
intervenções disciplinares por parte desses verdadeiros agentes de normalização.
Segundo Boltanski (1979), a história da medicina, há mais de um século, é a
história contra as práticas médicas populares, com o fim de reforçar a autoridade
médica e colocar sob sua jurisdição novos campos abandonadas até então ao
arbítrio leigo.
O primeiro fator da transformação foi a anulação dos efeitos negativos do
hospital, purificando-o dos efeitos nocivos, da desordem que o mesmo acarretava
doenças das pessoas internadas que podiam espalhar-se na cidade como
epidemias, como também na desordem econômico-social de que ele era foco.
Contudo, sente-se à necessidade de desenvolver práticas de saúde
comunitária, baseadas no aspecto de prevenção, criando as unidades de saúde,
ligadas ao público. Embora o hospital ainda preocupa-se em limitar as atividades no
21

âmbito curativo e as unidades de saúde apenas parcialmente participam de


programas de atendimento direto a população doente.
Baseado no pensamento de Foucault (1998),

a reorganização do hospital se deu a partir da disciplina e da


transformação do saber e das práticas médicas. A presença desses
mecanismos disciplinares teria sido condição necessária para o hospital
medicalizar-se.

Assim, a transformação das práticas médica foi de muita importância, porque


a medicina passou a considerar a doença como um fenômeno natural e a crise
evidenciavam a luta da natureza sadia do doente contra o mal que o atacava, a
doença.
Dessa forma, foi possível superar a divisão entre o atendimento curativo e o
preventivo chegando a um terceiro momento da evolução dos hospitais a serviços
de saúde, desde a prevenção até a reabilitação, e os seus cuidados médicos
devendo dirigir-se a toda população.
Para a OMS – Organização Mundial de Saúde, segundo Campos (1995),

O hospital é parte integrante de um sistema coordenado de saúde,


cuja função é dispensar à comunidade completa a vivência médica,
preventiva e curativa, incluindo serviços extensivos à família em um
domicílio e ainda um centro de formação dos que trabalham no campo da
saúde e para as pesquisas biossociais.

Deve-se, assim, compreender que o hospital deve ser entendido como um


todo que busca proporcionar a manutenção do bem-estar físico, social e mental do
homem. Por conseguinte, para Borba (1985),

Hospital é a representação do direito inaliável que o homem tem


de gozar saúde, e o reconhecimento formal, pela comunidade, da obrigação
de prover meios para mantê-lo são ou restaurar-lhe a saúde perdida.

Na instituição hospital, a educação em saúde abrange o doente internado ou


o ambulatorial e seus familiares. Existem também programas destinados aos
funcionários, que fazem parte da comunidade hospitalar, e agirão como veículo
somador.
22

Para Lima Gonçalves (1995) o hospital tem como funções primordiais:


prestar atendimento médico e complementar aos doentes em regime de internação,
desenvolver atividades preventivas, promover programas de natureza comunitária,
atingir o contexto sócio-familiar dos doentes, servir como local de proteção,
prevenção e integração ativa no sistema de saúde.
Do mesmo modo, no entendimento de Chiattoni (2005), a Instituição
Hospitalar funciona como espaço de promoção e cura, na medida em que cada
pessoa é um agente ativo nas relações que estão sendo construídas. Desse modo,
o conjunto de ações, bem como os comportamentos são delimitados, estruturados,
recortados pelo outro da relação, bem como cada uma das características presentes
na interação e no próprio meio em que se encontram inseridos são negociados e
delimitados pelas pessoas em interação.
Conseqüentemente, as funções hospitalares abrangem os aspectos:
Preventivo, Restaurativo, educativo e de Pesquisas, beneficiando e atendendo aos
diversos aspectos os que norteiam os pacientes e seus familiares, relacionado aos
cuidados e tratamento necessitados pelos mesmos.
Com isso, as funções hospitalares permeiam cada grupo de participantes do
processo, incluindo o doente e a equipe de saúde, onde cada componente possui
necessidades pessoais e valores próprios. Há dentro do hospital pólos de poder, em
que a maior parte do desempenho do mesmo depende dos papéis e das relações
predominantes em toda a rede hospitalar, intensificando a humanização no mesmo,
conforme afirma Lima Gonçalves (1983).
Ao falar sobre instituição hospitalar e humanização Mezomo (1995), coloca
que: “Hospital humanizado é aquele que em sua estrutura física, tecnológica,
humana e administrativa valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço da
mesma, garantindo-lhe um atendimento de elevada qualidade”.
A rotina de admissão de um paciente em uma Instituição Hospitalar
necessita de personalização, de uma equipe de pessoal treinada para prestar os
serviços necessários ao “ser” que interna no hospital, uma vez que para o enfermo
ainda significa um lugar misterioso e, muitas vezes, trágico, por aferir os aspectos
das doenças e do adoecer em si mesmo.
Diante do exposto, Moura (1996), enfatiza há necessidade de se tornar o
ambiente mais agradável possível, a partir da informação bem dada: como a estada
do mesmo, horários de visitas e refeições, o nome de seu médico, a equipe que
23

atenderá e os demais serviços hospitalares a disposição do mesmo, onde todos


esses estejam norteados, a promoção da solidariedade, e do apoio, sempre
objetivando a visão como uma totalidade, excepcionalmente, sua identidade como
pessoa.
Percebe-se, atualmente um grande número de hospitalizações
desnecessárias e estas revelam as conseqüências históricas desse processo que
pode inclusive desestruturar as famílias por seguirem as normas de saúde que lhes
foram impostas.
Esta linha de raciocínio pode elucidar segundo Costa (1989-a), a razão da
persistência do mecanismo de tutela familiar, através da atividade médico-hospitalar.
Diante desta realidade, as conseqüências do desenvolvimento da tecnologia
no relacionamento entre as pessoas estão sendo estudadas, objetivando-se um
equilíbrio entre o uso dos equipamentos sofisticados e de última geração e o
relacionamento entre paciente, família e equipe profissional. Busca-se, assim um
equilíbrio entre a atitude fria da técnica e a compreensão das necessidades afetivas
das pessoas envolvidas no processo de hospitalização.
Neste contexto, o Hospital Universitário – URCAMP e a Psicologia Clínica
Hospitalar procuram diante das enfermidades, transtornos, distúrbios, doenças,
enfim, quaisquer processos mórbidos incluídos na hospitalização, valorizar e
disponibilizar estratégias que abordem não apenas o órgão da pessoa, mas também
e principalmente, aquilo que ela tem de mais humano: seu componente afetivo e
emocional. E a atenção a quaisquer desses estados mórbidos devem considerar
outros elementos humanos além da fisiopatologia.
O hospital moderno, ao constituir um campo fecundo de experiências
diversas, passa a ser local privilegiado para o ensino e a pesquisa de diferentes
disciplinas vinculadas à prática médica. Sua missão, paulatinamente, transcende a
de cuidar de doentes, assumindo a nova missão de incorporar tecnologias; no início
artesanais e, no século XX, industrialmente produzidas.
Nesse sentido, Ribeiro afirma que:

O hospital contemporâneo não é apenas uma instituição que


evoluiu. É muito mais, é uma instituição nova. Suas missões são outras,
conquanto resguardadas algumas que precederam. Mudaram suas
características, suas finalidades, sua administração, seus sujeitos, seus
instrumentos e processos de trabalho. O elemento mais constante dessa
trajetória tem sido o homem que sofre e morre (1993: 31).
24

No final do século XX e início do século XXI as instituições Hospitalares


desse modo, começaram a ter uma visão diferente das questões relacionadas ao
processo de hospitalização e a internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Nessa perspectiva, há uma ressignificação, um olhar que se volta para valorização
da relação e para os componentes presentes nas redes de significações do
paciente, da família e da equipe profissional, realidade essa já vivida e sentida no
Hospital Universitário - URCAMP-.
Nesse sentido, à humanização na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)
significa para o Hospital Universitário - URCAMP, aliar competência técnica à
ternura humana e permitir que o coração se manifeste nas relações hospitalares. A
humanização representa, ainda, um espaço de solidariedade, respeito, diálogo,
preocupação com o outro, assim como, espaço de promoção de relações mais
afetivas e efetivas entre os pacientes, familiares e equipe multiprofissional, em
especial o paciente, razão de ser da existência do nosso hospital.
25

CAPÍTULO II – A CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS E SENTIDOS NA UNIDADE


DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO (UTI)

Uma das maiores representações de situação limite em um hospital é o da


Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), unidade esta voltada para o cuidado de
pacientes e condições clínicas críticas, com objetivo de revertê-las.
Neste contexto, essa unidade constitui-se em local onde se defrontam
aspectos essenciais de vida e morte, deflagrando, conforme Campos (2001)
relações entre profissionais e usuários muitas vezes conflitantes, na medida em que
a necessidade de uma internação nessa Unidade ocorre de modo inesperado e é
associada a riscos eminentes de vida.
Nesse sentido, a internação nessa unidade hospitalar é uma situação em
que é oferecida a esperança em casos no qual o comprometimento clínico e os
riscos são importantes e, muitas vezes a evolução clínica pode impedir a
possibilidade de vida.
Essa relação dialética da vivência numa Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI) nos mostra um grande paradoxo, posto que na medida em que contam com as
armas mais avançadas contra a doença, por outro lado favorecem o isolamento
progressivo do paciente, com a diminuição dos contatos com a sua família e
empobrecimento dos laços afetivos.
O conjunto de significados e significações que emergem nas relações entre
as pessoas em uma Instituição, encontra-se impregnado, significado e transformado
por uma matriz sócio-histórica, constituída pelo contexto econômico, político, social e
cultural.
Para Amorim, Vitória, Rosseti-Ferreira (2000) essa matriz é compreendida
como fundamentalmente semiótica, na medida em que, ao mesmo tempo em que
significa os vários elementos e o conjunto da situação, é também ressignificada e
26

transformada por eles. Isso nos leva a deduzir que a percepção que o paciente tem
da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), bem como as demais pessoas
envolvidas na hospitalização, pode mudar de acordo com o contexto que se
apresenta e/ou as interações nela realizadas, nos diferentes momentos histórico e
individual.
A tarefa de construção de significados pessoais depende da prévia partilha
de um espaço pré-símbólico de comunicação emocional trabalhando no encontro a
dois, aponta Leal (1997).
Os veículos construídos só podem ser expressos e rotulados, na medida em
que são reconhecidos num relacionamento entre dois interlocutores mutuamente
comprometidos. Ou seja, o familiar contentor das emoções e das experiências
vivenciadas pelo paciente na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
Ao discorrer sobre a distinção entre significado e sentido, Vygotsky (1995)
refere que aquilo que é convencionalmente estabelecido pelo social é o significado,
já o sentido é o signo interpretado pelo sujeito histórico, dentro de seu tempo,
espaço e contexto de vida pessoal e social.
Pino (1997), afirma que os processos de significação estão diretamente
ligados às interações sociais, ou seja, à mediação feita pelo outro e, Vygotsky
(1994), defende que a aprendizagem ocorre a partir desse processo de interação
social, através do qual o indivíduo vai internalizando os instrumentos culturais.
Dessa maneira, pode-se supor que as experiências vivenciadas com outras
pessoas dentro da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), é que vão determinar
a qualidade do objeto internalizado e que tais experiências acumuladas, constituindo
a história de vida de cada um, é que vão possibilitar a ressignificação individual do
produto internalizado.
Nesse sentido, a ação de conhecer é obra da atuação do elemento mediador
(Psicólogo) como afirma Vygotsky (1995), que tem uma visão psicológica do
ambiente e das condições implicadas no desenvolvimento da saúde e da doença, o
que o leva, dessa maneira, a explicar e valorizar como o aspecto afetivo que tem
raízes na filogênese, desenvolve-se e complexifica-se, atuando na constituição do
sujeito e nas suas relações com o ambiente físico e social (Internação).
Vários são os aspectos culturais que contribuem para o significado cultural
atribuído à Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI). Para Sebastiani (2002), local
fechado e isolado A visão que a sociedade construiu ao longo do tempo do contexto
27

sócio-histórico desta unidade hospitalar, permiti-nos afirmar que esta tem uma
função separadora, na medida em que internado o doente fica sozinho, alienado do
mundo lá fora e distante das pessoas que lhe são mais significativas.
Hudack e Gallo (1997), afirmam em seu trabalho que o significado cultural
negativo atribuído a Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), como um local
fechado e isolado é permeado por idéias de que é um ambiente de pessoas
gravemente enfermas, em estado terminal, que a entrada das pessoas nesse local é
restrita e limitada, que as informações são insuficientes e não refletem a realidade
vivida lá dentro e que quem entra para uma Unidade de Terapia Intensiva,
dificilmente se salva, ou seja, que o óbito é apenas uma questão de tempo.
Nessa mesma linha de pensamento, Lemos e Rossi (2002) dizem que o
significado cultural que está implícito no entendimento dos clientes e sua família a
respeito da internação em uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), está
diretamente relacionada à questão da morte, o que expressa o medo de que os
pacientes têm, a partir do momento que são internados, de morrer, de que quem vai
para esta unidade não tem mais chance de se salvar.
Assim, o ambiente dessa unidade, da forma como é percebido, faz com que
os pacientes concluam que seu estado de saúde é mais grave do que realmente
possa ser, inclusive podendo levá-lo a desistir de lutar.
Igualmente, também encontramos em Souza, Possani e Mugair (1985)
descrições que falam do significado da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)
como um lugar misterioso, muitas vezes trágico, justamente por aferir os aspectos
das doenças e do adoecer em si mesmo, o que leva a construção de uma imagem
negativa, ou seja, como um ambiente mecânico e desumano para com o paciente,
para com a família e equipe.
O significado cultural do cuidado humanizado desta unidade de emergência
também é revelado em outro estudo realizado por Vila e Rossi (2002) como algo
muito falado e pouco vivido. O referido trabalho aponta que o conceito de
humanização sintetizado, pelos profissionais, na expressão: amar ao próximo como
a si mesmo, não é o mesmo revelado na prática de enfermagem.
Ao refletirem sobre o cuidado humanizado, os informantes apresentaram
duas perspectivas: a realidade da prática na UTI, "o vivido" e o ideal de humanizar,
"o falado". Dessa forma, do ponto de vista do profissional de enfermagem, a
realidade na prática da UTI é interpretada considerando o conceito de "doença
28

processo" que se refere às anormalidades de estrutura ou funcionamento de órgãos


ou sistemas. Reflete o vivido nessa unidade.
Assim, a Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) apesar de oferecer
serviço médico e paramédico especializado, com observação constante e
equipamentos tecnológicos avançados e de alta precisão, talvez seja o local que
mais gera estresse nos clientes e seus familiares.
Os avanços do conhecimento e da técnica têm forte repercussão na área da
saúde, afirma Pierre (1998), tanto no diagnóstico como no tratamento, tanto na
prevenção como na cura das doenças, tudo isso refletindo diretamente no conforto
pessoal, na qualidade de vida e na longevidade das pessoas. Entretanto, os
cuidados com o adoecer ficam limitados quando pura e simplesmente o cuidado
centra-se na terapia da doença, pois tem lugar uma série de eventos que
comprometem o tratamento e repercutem na evolução global da situação,
acarretando prejuízos significativos para a saúde e o equilíbrio do grupo envolvido,
além dos custos sociais que isto representa.
Conseqüentemente, para pacientes e familiares, a situação de
hospitalização nesse aspecto, por estar impregnado de aspectos negativos, muitas
vezes determinando situações que irão ser sentidas e consideradas por estes, como
invasivas e abusivas, na medida em que não se respeitam os limites e imposições
da pessoa hospitalizada. Assim, muitas vezes o paciente, acaba ficando como “pano
de fundo” de cena.
Os novos comportamentos observados no cenário da humanização da
Saúde exigem, neste sentido, uma ressignificação feita pela Instituição Hospitalar
em relação ao processo de Internação na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)
e participação de todos os envolvidos no mesmo. Por conseguinte, esses novos
significados emergentes associados às mudanças observadas, por sua vez,
promoverão modificações nas relações dos familiares com o próprio enfermo, e
deste com o contexto como um todo.
Encontramos no trabalho de Silva e Bocchi (2005) sugestões no sentido de
que a Instituição Hospitalar alivie a austeridade normativa que impede os familiares
de se tornarem acompanhantes. Esta afirmativa nos sinaliza com essa atitude, a
sensibilidade atual dos profissionais da saúde frente á necessidade de mudanças e
a valorização da afetividade, solidariedade e interação com o familiar, como meio de
amenização do sofrimento na hospitalização.
29

Nesse sentido, a ressignificação da Unidade de Terapia Intensiva Adulto


(UTI), implica a promoção de um ambiente que proporcione aos pacientes melhores
condições de bem-estar, respeito às integridades físicas, mentais e a valorização da
afetividade, de modo que favoreça, pela proximidade dos familiares com o enfermo,
um acompanhamento mais efetivo e adequado.
Contudo, a questão da humanização nessa unidade segundo afirma
Takahashi (1986), ao referir-se sobre o aspecto humano do cuidado do paciente, é
colocado pelos profissionais da saúde como um dos dilemas mais difíceis de ser
implementado, uma vez que a rotina e dinâmica de funcionamento são complexas
nesta unidade hospitalar.
Sensível a essa necessidade, o Hospital Universitário – URCAMP, através
da Psicologia, implantou em 2005, o Projeto: “Inserindo o Familiar Cuidador no
Projeto Terapêutico na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)”, provocando
mudanças na rotina interna desta Unidade. Abriu espaço para que o familiar
Cuidador permaneça ao lado de seu parente hospitalizado, à beira do leito, das
16h:00m às 18h:00m, como uma forma de expressar a importância e valorização
que dá para o “Cuidar” do enfermo, para as relações e laços afetivos na
hospitalização, bem como também, como Instituição, mostrar que solidariedade,
respeito e ética fazem parte da filosofia da mesma.
A afetividade na visão de Lane (1995) é composta pelas emoções que

Se constituem numa linguagem cujas mensagens podem tanto


desencadear o desenvolvimento da consciência como fragmentá-la. Para a
autora, elas estão presentes nas ações, na consciência e na identidade do
indivíduo, diferenciando-se social e historicamente por meio da linguagem.
Por outro lado, a afetividade também é composta pelos sentimentos mais
duradouros.

Segundo Pino (1997), os fenômenos afetivos referem-se às experiências


subjetivas, que revelam a forma como cada sujeito "é afetado pelos acontecimentos
da vida ou, melhor, pelo sentido que tais acontecimentos têm para ele" (idem, p.
128). Portanto,
Os fenômenos afetivos representam a maneira como os
acontecimentos repercutem na natureza sensível do ser humano,
produzindo nele um elenco de reações matizadas que definem seu modo de
ser-no-mundo. Dentre esses acontecimentos, as atitudes e as reações dos
seus semelhantes a seu respeito são, sem sombra de dúvida, os mais
importantes (...). São as relações sociais, com efeito, as que marcam a vida
humana, conferindo ao conjunto da realidade que forma seu contexto
(coisas, lugares, situações, etc.) um sentido afetivo (idem, p. 130-131).
30

Nesse sentido, Pino (1997) tem destacado com clareza que tais fenômenos
referem-se às experiências subjetivas, que revelam a forma como cada sujeito “é
afetado pelos acontecimentos da vida ou, melhor, pelo sentido que tais
acontecimentos têm para ele.
Assim sendo, parece mais adequado entender o afetivo como uma
qualidade das relações humanas e das experiências que elas evocam (...). “São as
relações sociais, com efeito, as que marcam a vida humana, conferindo ao conjunto
da realidade que forma seu contexto (coisas, lugares, situações, etc.) um sentido
afetivo” (idem, p. 130-131).
Embora os fenômenos afetivos sejam de natureza subjetiva, isso não os
torna independentes da ação do meio sociocultural, pois se relacionam com a
qualidade das interações entre os sujeitos, enquanto experiências vivenciadas.
Dessa maneira, pode-se supor que tais experiências vão marcar e conferir
aos objetos culturais um sentido afetivo.
Através das propostas da Psicologia Sócio-Histórica, assevera Bock (2001),
podemos enxergar que o estudo das instituições sociais leva a identificação de
mensagens emocionais que são reproduzidas ideologicamente, e têm a sua eficácia
garantida pela disseminação da cultura, representada por valores, crenças, rituais,
cerimônias, estórias, mitos, sistemas de comunicação, etc. Neste estudo, se entende
por valores sociais, as crenças e juízos sobre cuidados na Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI) relatadas pelos pacientes, familiares e equipe nas entrevistas.
Esses valores, essas crenças e as normas sociais produzem significados
sócio-históricos, mas esses significados no entendimento de Hall (2001) são
instáveis já que remetem a pessoa a outros significados que são mobilizados no
processo de significação, em função da atividade e das relações do indivíduo.
A captação dessa cultura organizacional no plano individual se dá pela
esfera afetiva, e se não forem refletidas ou decodificadas pela linguagem, afirma
Lane (1995),

irão constituir fragmentos que poderão inibir o desenvolvimento da


consciência, dar falsos significados à atividade e mesmo constituir aspectos
nucleares da afetividade, levando à cristalização da identidade.
31

Esse discurso reflete um significado sócio-histórico presente na rede de


significações do Hospital, da Unidade de Tratamento Intensivo Adulto - UTI em
relação ao paciente, a família e a equipe técnica e impõe modificações no
comportamento do paciente internado e por outro lado, ao mesmo tempo esse
mesmo significado reflete concretamente mudanças nas relações que estão sendo
construídas entre os mesmos.
Para Vygotsky (1998) as funções psicológicas superiores são de natureza
culturais e concebidas como transformações qualitativas que ocorrem na inter-
relação entre os fatores externos e internos; resultam da apropriação e da
internalização de instrumentos e signos em um contexto de interação.
Na abordagem deste autor, a característica das funções elementares é que
elas são total e diretamente determinadas pela estimulação do meio ambiente. Para
as funções superiores, a característica central é a estimulação autogerada, isto é, a
criação e o uso de estímulos artificiais que se transformam em causas imediatas do
comportamento.
A emoção, a imaginação, a percepção, a atenção, a linguagem e a memória
formam o conjunto das funções psicológicas superiores destacadas neste trabalho,
ou seja, que estão diretamente implicadas no processo de hospitalização,
significação e ressignificação da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
A emoção permeia qualquer forma de pensamento ou comportamento e
deve ser entendida “como reação nos momentos críticos e catastróficos do
comportamento”, tanto os de desequilíbrio, como súmula e resultado do
comportamento que dita a cada instante e de forma imediata às formas de
comportamento subseqüente (VYGOTSKY, 2001, p. 136).
Desse modo, quando se procura “definir” a emoção e compreendê-la como
fenômeno mental, como gerador e organizador de todos os outros eventos mentais,
incluindo o pensar, a linguagem e a atividade simbólica, como afirma Leal (1995),
está se oportunizando a organização do “EU”.
Assim, as emoções como organizadores internos das reações, retesam,
excitam, estimulam ou inibem o papel de organizador do comportamento do paciente
frente à vivência numa Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), que se apóia em
representações mentais da internação, do tipo de acolhimento que está recebendo,
podendo assim desse modo, realizar uma ação complexa, no qual é capaz de
32

controlar seu comportamento e sua própria ação psicológica por meio de recursos
internalizados.
Assim, o contexto da Unidade de Terapia Intensiva Adulto ou espaço social,
segundo Bousso (1997), é o local dentro do qual a experiência e os valores surgem
e interagem, colocando-se na dependência da importância cultural e da influência da
representação mental dessa experiência, que envolve julgamento. Este julgamento,
segundo a autora, abrange a exploração de significados adquiridos em função do
contexto e da imagem mentalmente construída, como resultado prático do
significado conceitual do contexto vivenciado.
O Modelo Relacional Dialógico, de autoria de Leal, apresenta uma proposta
genética desenvolvimental para a compreensão do “EU” e estabelece uma ligação
entre os passos do desenvolvimento e as estruturas de personalidade (LEAL, 1999;
RIO, 2001), sendo essas encaradas como a forma de processamento e mediação do
real, a percepção própria e dos outros, as defesas adotadas e o modo de
relacionamento.
O funcionamento interno do paciente, nesse sentido é resultado de uma
apropriação das formas de ação que estão intimamente interligadas a estratégias e
conhecimentos dominados por ele mesmo, bem como resultado também dos
eventos vivenciados no contexto interativo da Unidade de Tratamento Intensivo
Adulto (UTI).
Desse modo, conforme Vygotsky (1998) é necessário que os meios
utilizados pelo outro, para colocar limites e/ou interpretar as ações do sujeito e os
meios empregados pelo mesmo para fazer o mesmo em relação à ação do outro,
sejam transformados em recursos para o sujeito regular a sua própria ação.
Dessa relação, ainda enfatiza o autor, nasce à auto-regulação, que é
fundamento do ato voluntário. Assim, fica caracterizado o processo pelo qual o
funcionamento do plano intersubjetivo permite criar o funcionamento individual.
Nesse sentido, para Vygotsky (1998) o plano intra-subjetivo de ação é
formado pela internalização de capacidades originadas no plano intersubjetivo. Vale
enfatizar que o plano intersubjetivo não é o plano “do outro”, mas da relação do
sujeito com o outro. Podemos então afirmar que é na relação com o outro, ou seja,
nas trocas afetivas que o desenvolvimento se processa.
Compreende-se então, que a concepção “do mundo interno” exige segundo
Valsiner (1998) a compreensão “do mundo externo”, pois são dois aspectos do
33

mesmo movimento de um processo, no qual o homem atua, constrói e modifica o


mundo e este. As capacidades humanas devem ser vistas como algo que surge
após uma série de transformações qualitativas. Cada transformação cria condições
para novas transformações, em um processo histórico e não natural.
Também encontramos em Rossetti-Ferreira et al. (2000) e Amorim, Vitória e
Rossetti-Ferreira (2000) afirmações de que as pessoas têm uma relação dinâmica
com o meio social no qual estão inseridas e que a relação dialógica possibilita a
construção gradativa de significados e conhecimentos, tanto sociais, como
individuais, além do próprio "eu". Igualmente, Leal (2003) entende que a organização
do “Eu” se enraíza numa função dialógica primitiva: nos intercâmbios sócio-
emocionais recíprocos e alternantes, mutuamente contingentes. Daí a importância
que se dá ao familiar como um mediador na reorganização do EU de um paciente
internado numa Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
Nesse sentido, o processo individual de encontro e/ou construção de
significados pessoais, segundo Leal (2003) poderá ser promovido ou facilitado por
meio de atos desencadeados, com sentidos por um “Eu” relacionados a um outro e,
de qualquer modo, apontados e/ou nomeados por ambos enquanto partilhados.
Da mesma forma entende Quintino-Aires (2006), quando afirma que é na
relação e na partilha que o paciente pode construir novos significados e sentidos,
lidando com as suas necessidades e motivos.
Para o estabelecimento dessa relação, desta forma, o indivíduo utiliza
metábolos como afirma Leal (2001), os quais servem como modelos concretos de
intercâmbios recíprocos e alternantes entre atos/coisas/pessoas/eventos,
relacionados em vai-e-vem, ida e volta, entrada e saída.
Na medida em que estes metábolos eliciam a construção de significados,
introduzem a competência para simbolizar, ou seja, para separar ou abstrair o
significado de coisas/eventos, possibilitando intercâmbios mais flexíveis e do mesmo
modo, abrindo caminhos para assimilação cognitiva.
O padrão inato de procura de resposta do Outro (coisa/pessoa/evento)
ressalta Quintino-Aires (2000) é uma função de orientação e apreciação
(“appraisal”), que vem a se organizar como capacidade simbólica, ou seja, uma
atitude criadora de significados.
34

Do mesmo modo pensa Vale (2002) quando refere que o intercâmbio entre
os bios, psiquê e social assume um papel fundamental na modulação de significados
e experiências do ser humano.
Nesse sentido, o Modelo Relacional Dialógico de autoria de Leal (1999),
acredita que centrando-nos nas moções/emoções do indivíduo e do significado das
mesmas, o desenvolvimento do aparelho psíquico, promove-se como uma
construção do próprio, que se realiza a par com as suas relações vivenciais com o
cuidador.
Nessa perspectiva, o cuidador familiar para Quintino-Aires (2002) é
entendido não como um Outro qualquer, mas sim como um Outro contingente válido
e disponível para uma interação dialógica. Nessa realidade, Leal (1999) enfatiza que
cada humano pode tornar-se mais feliz, inteligente e produtivo, se o ambiente social
e relacional lhe fornecer uma relação recíproca e alternante, bem como a
oportunidade para apreender a cultura.
Entende-se desse modo, que o cuidador familiar diante da internação de seu
parente na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) através de suas vivências e
construção de um destino comum, sente-se comprometido pela experiência e
valores unos a contribuir e proporcionar o desenvolvimento de condições favoráveis
do seu parente enfermo para o enfrentamento da doença.
Nesse sentido, o paciente internado em uma Unidade de Terapia Intensiva
(UTI), diante da perda da autonomia, de sua fragilidade diante da doença e da
hospitalização nesta Unidade de emergência, necessita da mediação de um parceiro
contingente para ajudá-lo em sua manutenção da vida.
A interação social conduz o desenvolvimento psíquico do paciente. Ela é
esse espaço para as trocas comunicativas que ocorrem no aqui-e-agora dentro da
unidade de internamento, onde determinados comportamentos do paciente e da
família são destacados e assumem significados que foram construídos em conjunto,
ao longo desse processo.
Portanto, as relações sociais emergem e se concretizam nesse processo
comunicativo e dialógico (LYRA E ROSSETTI-FERREIRA, 1995), posto que o
indivíduo é capaz de estabelecer uma relação dialógica anterior a qualquer
linguagem (LYRA e ROSSETTI-FERREIRA, ibid; FOGEL, 1993; TREVARTHEN,
1977).
35

E por ser o desenvolvimento humano fruto de um processo dialógico e


histórico é que constrói novas formas de ser e conhecer. O processo de interação
social nesse sentido, dentro da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), sendo
dialógico, compreende a negociação de significados. Por meio das relações, os
participantes (pacientes/familiares/equipe) assumem, negam e/ou recriam os
significados que lhes são atribuídos, os quais são ressignificados e integrados às
suas ações e funções psicológicas, transformando-os e abrindo novas possibilidades
de desenvolvimento . Cada pessoa negocia os significados que atribui ao outro, os
que lhe são atribuídos, além daqueles que são atribuídos à situação como um todo,
construindo a noção de si mesmo e participando da construção da individualidade
dos outros afirma Vygotsky (1998).
Por conseguinte, ao mesmo tempo em que se transforma, transforma
também o meio em que está inserido. O meio aqui referido inclui não apenas as
características físicas e sociais da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), mas
também as pessoas, suas idéias e a cultura, com suas normas e valores sociais,
que estão impregnados na Instituição Hospitalar. Ele tem duas funções: a de
ambiente, de contexto ou campo de aplicação de condutas; e a de recurso ou
instrumento de desenvolvimento (KOIZUME, 1979; GRAÇAS, 1996).
Nessa linha de pensamento, as pessoas participam do processo de
interação social na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), trazendo significados
que têm tanto uma base pessoal quanto sócio-histórica, ambas sempre
concretizadas no momento presente das situações. Um instrumento privilegiado que
possibilita a apreensão e a materialização desses significados é a linguagem.
Nessa perspectiva, compreende-se que essa busca só pode alcançar
resultados satisfatórios através do diálogo, que se constitui no “ser do homem”, com
uma forma de relação em que à pergunta e resposta funcionam como meios de
comunicação.
Silva (2001) assevera que a comunicação de um ser que fala (paciente) é
uma tradição que precisa ser reconhecida e compreendida, uma historia de vida
expressada através da linguagem, com suas idéias e conjecturas (pré-julgamentos
e julgamentos) e que têm importância na interpretação de possíveis resultados da
ação terapêutica da enfermagem. Essas constituem possibilidades de abertura de
novas alternativas, para a interpretação e compreensão do que se passa consigo no
36

momento da internação, ou seja, naquele momento de sua história de vida (dentro


da Unidade de Terapia Intensiva Adulto).
Assim, a interpretação só pode ser efetivada a partir do que se ouve e do
que se sabe do outro, através da linguagem; na verdade, o que se sabe muda no
curso da história de vida e de novas experiências que vão sendo acumuladas,
mudando, também, as perspectivas segundo Inaba e Silva (2000), que são
necessárias à compreensão, para correção ou eliminação de necessidades de
cuidado.
Neste processo, Quintino-Aires (2006), ao utilizar-se da abordagem sócio-
histórica, enfatiza que a linguagem é o elemento mais importante na sistematização
da percepção; porque as palavras são elas próprias, um produto do
desenvolvimento sócio-histórico, elas tornam-se instrumentos para a formação de
abstrações e generalizações e permitem a transição de reflexos sensoriais imediatos
(não mediados) para o pensamento mediado. Nessa realidade, diz o autor, estas
categorias surgem através da reorganização da atividade cognitiva que acontece
sob o impacto de um novo fator: o fator social / relacional.
A linguagem oferece símbolos, ainda refere Quintino-Aires (2006), os quais
podem ser analisados, manipulados, reorganizados e apurados, sendo assim o
instrumento indispensável para as funções conscientes, tais como deliberação,
autocontrole, planejamento, vontade, imaginação, pensamento abstrato e memória,
funções essas que devem ser preservadas e estimuladas numa Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI).
Assim, sustenta o autor acima citado, a linguagem do meio ambiente, reflete
uma forma de perceber o real, num dado tempo e espaço, apontando o modo pelo
qual o sujeito apreende as circunstancias em que vive, cumprindo desse modo, uma
dupla função: De um lado permite a comunicação, organiza e medeia a conduta; do
outro lado, expressa o pensamento e ressalta a importância reguladora dos fatores
culturais existentes nas relações sociais.
Na interpretação de Vygotsky (2000), a aquisição da linguagem leva o
indivíduo a mudanças radicais, principalmente ao modo como se relaciona com o
meio, permitindo novas formas de comunicação e possibilitando uma nova maneira
de organizar os modos de pensar e agir. Nesse sentido, o paciente hospitalizado em
uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) ao poder expressar-se para o seu
37

familiar sua dor, seus medos e suas angustias, estará se reorganizando, se


estruturando para essa vivência dolorosa.
À medida que o homem utiliza e se apropria das diversas linguagens
existentes (gestual, oral, escrita, etc.), estas servem como mediadoras de sua
relação com o meio (VYGOTSKY, 1989) levando-o a ter acesso a um vasto conjunto
de significados historicamente produzidos.
Retomando o discurso de Quintino-Aires (2006), este corrobora com os
trabalhos de Vygotsky e Luria (1999), na medida em que concorda com os autores,
quando estes ressaltam que uma função interpsicológica partilhada por duas
pessoas, mais tarde se transforma num processo intrapsicológico de organização da
atividade humana. Este partilhamento, consequentemente, leva o indivíduo a
controlar a resposta impulsiva à estimulação externa e também o seu
comportamento. Conseqüentemente, esse processo intrapsicológico passa a ser
determinado por uma “rede semântica interna” que reflete, geralmente, a situação
envolvente, reformulando os motivos que estão na base do comportamento e dando
o caráter consciente à atividade humana.
Desta feita, enquanto um ser ativo, o paciente ao se apropriar dessas
linguagens desses significados presentes na cultura da Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI) ressignifica-os, conferindo-lhes um sentido próprio, e este
novo olhar para esta unidade somente poderá ser construído através de suas
relações.
As relações dialógicas, portanto, concretizam a história cultural da
humanidade, refletida nos diversos aspectos do ambiente físico, cultural e simbólico
que circundam o paciente (espaço físico, valores, atitudes, normas, etc.).
Nesse sentido, o confronto das concepções iniciais do mundo do paciente
em relação à Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), com aquelas apresentadas
pelos parceiros de seu ambiente, torna-se fundamental para a apropriação de
significados diferenciados que, dialogicamente, constituirão sentidos a serem
negociados.
Igualmente Lyra (2000) nos diz que a história cultural participa do
desenvolvimento humano (da construção de relações e conhecimentos sobre o
mundo e si mesmo) através da história ontogenética e, ao mesmo tempo, sendo
fruto desse processo dialógico, é recriada através da participação ativa de cada um
dos membros das relações.
38

Essa mesma idéia encontramos em Bullowa (1979), uma vez que para o
autor, em sendo o processo de interação social dialógico, compreende então a
negociação de significados, o que confere, no caso específico, ao enfermo
hospitalizado, um papel ativo na construção das relações dentro da unidade
hospitalar, independentemente de seu grau de autonomia ou idade. Afirma também
que a qualidade dessa relação dialógica poderá alterar ou promover o
desenvolvimento de recursos frente à doença.
Logo, quando um paciente interage com a família dentro da Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI), ele também participa desse processo de negociação.
O enfermo é um ser cheio de significados simbólicos e afetivos. A família e a equipe
hospitalar criam expectativas e significados para diferentes comportamentos do
paciente, os quais o levam de antemão a agir com ele de várias formas. São as
ações e reações deste à sua manipulação que promovem modificações nos
comportamentos que lhe são dirigidos.
As relações são processos de trocas mútuas, havendo uma
interdependência nas contribuições das pessoas envolvidas: as interações envolvem
uma co-construção de relações. Nesse sentido, pode-se afirmar que o outro
(equipe/família) com quem o paciente se relaciona constitui o meio social, o espaço
de experiência da pessoa, podendo tornar-se um meio (instrumento) para o
enfrentamento da doença na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
Conseqüentemente, como asseveram Koizume (1979) e Graças (1996), um
meio enquanto campo de aplicação de condutas e de instrumento de
desenvolvimento só pode ser definido em função de um sujeito ou grupo de sujeitos
específicos, com determinadas competências, interesses, objetivos, em um dado
momento e contexto sócio-histórico.
Do mesmo modo, Vygotsky (1995) afirma que apesar do meio funcionar
como espaço de experiência e instrumento de desenvolvimento, e de cada pessoa
ser um agente ativo nas relações que estão sendo construídas, os conjuntos de
ações possíveis de serem realizadas e o fluxo dos comportamentos são delimitados,
estruturados, recortados pelo outro da relação, assim como cada uma das
características presentes na interação e no próprio meio em que se encontram
inseridos são negociados e delimitados pelas pessoas em interação.
Assim, segundo Valsiner (1987), estes limites que pertencem a um
repertório coletivo compartilhado por determinada sociedade ou grupo social, são
39

demarcados pelo outro ao longo de todo o processo de socialização, canalizando e


dirigindo os comportamentos, sentimentos, conhecimentos e motivações, em certas
direções e não outras. Eles podem sofrer modificações ao longo do tempo e em
diferentes contextos sociais, levando à construção de novos limites, mais amplos do
que os anteriores.
Sendo assim, ao mesmo tempo em que o desenvolvimento do ser humano,
ao longo das relações estabelecidas com o meio, pode seguir caminhos diversos
devido à ação do próprio sujeito (sendo indeterminado), sofre também a influência
dos limites impostos pelo meio, pessoa ou contexto (tornando-se, simultaneamente,
determinado).
É o que ocorre com o processo de construção de relações dentro da
Instituição Hospitalar ou mais precisamente, dentro da Unidade de Terapia Intensiva
Adulto (UTI). Às relações nessa unidade são co-construídas durante as interações
entre o paciente, entre os familiares e a equipe, podendo seguir diversos caminhos.
Elas se desenvolvem, considerando as expectativas dos envolvidos, ligadas ao
tempo futuro e dentro de limites e possibilidades culturalmente construídos, os quais
remetem a níveis diversos da história cultural e que foram impostos de forma
concreta pela Hospitalização no aqui-e-agora.
A experiência com pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva
Adulto (UTI) nos mostra dessa forma, a necessidade crescente de ampliarmos o
cuidado com o bem-estar físico, mental e social, visando auxiliar o enfermo e seus
familiares a atravessar a crise desencadeada pelo adoecer.
Neste estudo, entende-se que humanizar é uma medida que visa, sobretudo,
tornar afetiva e efetiva a assistência ao indivíduo criticamente doente, considerando-
o como um ser biopsicossocial. Além de envolver o cuidado ao paciente, a
humanização estende-se a todos aqueles que estão envolvidos no processo saúde-
doença neste contexto, que são, além do paciente, a família, a equipe
multiprofissional e o ambiente.
É importante nessa perspectiva, mostrar ações e a necessidade de
humanização do cuidado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), com a
finalidade de provocar uma reflexão da equipe e levá-la a fazer uma ressignificação
dessa unidade de emergência.
O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes,
porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir o
40

pensamento e as ações da equipe, principalmente do profissional da Psicologia,


tornando-o capaz de criticar, propor e construir uma realidade mais humana, menos
agressiva e hostil para com as pessoas que diariamente vivenciam essa unidade
hospitalar.
Desse modo, pelo fato de o ambiente ter influencia direta no bem-estar do
paciente, da família e equipe multiprofissional, acredita-se que estratégias que
facilitam o contato, a interação e a dinâmica no contexto da Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI), devem ser consideradas premissa básica para o cuidado
humanizado.
Para Sebastiani (2002-a) o ambiente físico pode ser responsável pelo
desenvolvimento de distúrbios psicológicos, pela desorientação no tempo e no
espaço, privação de sono devido aos ruídos constantes. Todos os aspectos que
puderem ser melhorados nesse sentido devem ser valorizados.
O contexto real da terapia intensiva faz-nos constatar a dicotomia existente
entre teoria e prática, como refere Silva (2000), posto que o conceito de cuidado
humanizado, com a visão de respeito, de amor, de carinho, de promoção de diálogo,
de privacidade, de atenção à família, não confere com atitudes na vivencia
hospitalar. Esses comportamentos e condutas dentro da Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI) levam a construção de uma imagem negativa, ou seja, como
um ambiente mecânico e desumano para com o paciente, para com a família e
equipe.
Silva (2000) e Waldow (1998) compreendem que a movimentação das
pessoas e o barulho monótono dos aparelhos também contribuem para essa
situação, que, certamente, compromete tanto os profissionais que atuam na
unidade, quanto o próprio cliente e sua família.
Nesse sentido, Inaba (2002) sustenta que além da própria estrutura física e
ambiental do CTI, a doença contribui e interfere na capacidade de adaptação e
mudança do cliente, endossando dessa forma a atitude do Governo Federal, que em
2001, elaborou o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar do
Ministério da Saúde, com a proposta de estender o conceito de humanização para
toda a instituição hospitalar, quando implantou uma cultura organizacional
diferenciada que visa o respeito, a solidariedade e o desenvolvimento da autonomia
e da cidadania dos profissionais de saúde e dos pacientes.
41

Assim humanizar em saúde é resgatar o respeito à vida humana,


levando-se em conta as circunstâncias sociais, éticas, educacionais e
psíquicas presentes em todo relacionamento humano... é resgatar a
importância dos aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos físicos
na intervenção em saúde (BRASIL/PNH, 2001, p. 33).

Com essa leitura, apreende-se que humanizar é um processo vivencial, que


permeia toda a atividade do local e das pessoas que trabalham na Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI). Isto, com certeza, as levam a tratar o paciente como
pessoa humana, dentro das circunstâncias peculiares em que se encontra no
momento de sua internação.
Nesse sentido, entende-se que o processo da humanização não consiste
apenas na alteração das instalações físicas, mas, principalmente na mudança de
comportamento e atitudes frente ao paciente e seus familiares. Conseqüentemente,
cuidado humanizado é diálogo, atitude, informação, personalização, respeito e
consideração para com o paciente internado, levando-o a ter consciência e
discernimento de tempo e espaço.
Um ambiente pobre em significados diminui as oportunidades de interação
saudável com a realidade, faltando matéria-prima fundamental para a emergência de
possibilidades de reconstrução das representações mentais, que caracterizam a vida
saudável dos seres humanos, a partir de interações sócio-culturais. Pode-se afirmar
que, quando falta o significado, a patologia da alienação mental se instala
(VYGOTSKY, 1987).
42

CAPÍTULO III – O PACIENTE INTERNADO NA UNIDADE DE TERAPIA


INTENSIVA ADULTO (UTI)

Ângelo (1996) nos ensina que mudar a perspectiva centrada na doença para
uma abordagem centrada na experiência do paciente e da família não é fácil. É
preciso derrubar as defesas, eliminarem a indiferença, tornar-se presente, não pela
imposição de uma rotina, mas pela atitude de interesse e de preocupação.
O processo de hospitalização gera no sujeito inúmeras mudanças e rupturas
de suas relações e de seu cotidiano. Experimenta-se o sofrimento em toda a sua
amplitude, a solidão, a dependência dos outros, o medo, o encontro com as
limitações, as incapacidades, com as regras e horários, com outros pacientes, e tudo
o mais que está implicado neste processo. Diante de todo este contexto, às vezes a
única saída encontrada é a passividade.
Callahan (1988) definiu sofrimento como sendo a experiência de impotência
com o prospecto de dor não aliviada, situação de doença que leva a interpretar a
vida vazia de sentido. De outra forma Lepargneur (1985) aborda em seu trabalho o
sofrimento, como mais global que a dor e, fundamentalmente, sinônimo de qualidade
de vida diminuída. Afirma o autor que situações como as de doenças graves, como é
o caso de uma internação em uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI),
causam rupturas sociais na vida do paciente, juntamente com a crise familiar,
preocupações financeiras, premonições de morte e preocupações que surgem da
manifestação de novos sintomas e seus significados.
Como nos diz Botega:

O impacto de uma doença imobiliza e congela a existência, e em


conseqüência, sua relação como mundo. Há uma interrupção da
continuidade existencial e da referência temporal. É um tempo de
suspensão: difícil ligá-lo à vida passada ou conectá-la ao futuro (2002).
A internação em uma Unidade de Cuidados Intensivos, invariavelmente se
associa a uma situação de grande risco.
43

Desse modo, para Sawada (1995) a internação é sentida pelo paciente


como tempo perdido, destruído ou tirado de sua vida, sendo este sentimento
intensificado pela perda do contato social e pela impossibilidade de adquirir coisas
que possam ser transferidas e aproveitadas no mundo exterior.
Nessa perspectiva, Guirardello (1999) refere que o tempo de internação “tem
um significado diferente do tempo aqui fora e o relógio do tempo interno são as
tarefas da enfermagem, a alimentação, as restrições e as permissões” O tempo,
nesse sentido, é organizado para atender ás necessidades da Unidade e não a do
enfermo.
A internação na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) rompe
bruscamente com o modo de viver do sujeito, incluindo suas relações e seus papéis.
A sua identidade fica fortemente afetada. Devido ao grau de gravidade de seu
estado, geralmente não é considerado como sujeito capaz de escolher, decidir,
opinar, dividir, com direito à expressão e à informação. Muito pouco ou nunca exerce
sua autonomia, nem mesmo em relação às atitudes próprias de cada um, como
higiene pessoal, alimentação, eliminações, entre outras.
Trata-se de uma sujeição total ou quase total àqueles que dele cuidam.
Deixa de ser um ser singular e transforma-se em um objeto, receptáculo de cuidados
técnicos, intensivos. O paciente, conseqüentemente, se encontra exposto à perda da
identidade e a falta de privacidade, chegando ao ponto, conforme Sebastiani (1984)
e Camon (2001), de na internação, sentir-se diretamente relacionado com sua
doença. Por mais paradoxalmente que pareça, acaba identificando-se com sua
enfermidade, como que sem ela, pelo menos nesta unidade, não existisse.
Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o medo da morte está diretamente
relacionado ao afastamento familiar para Sebastiani (2002-a). Essa separação é
compreendida pelo paciente como fator gerador de insegurança e medo, pois é
permeada pelo stress. Assim, a ansiedade, a doença grave e o medo de morrer são
fatores que propiciam o desenvolvimento do sentimento de isolamento do enfermo
da sua família.
O sofrimento sentido pelo paciente, nesse sentido, é muito mais que físico.
Ele afeta não somente o conceito de si próprio, mas também o senso global de
sentir-se conectado com os outros e com o mundo. Esse sofrimento
psicossocioespiritual pode ser sentido como uma ameaça para o paciente em
44

relação ao sentido da vida, perda do controle, enfraquecimento da relação com os


outros, principalmente com àqueles que lhe são mais caros, ou seja, seus familiares.
Em termos psíquicos e emocionais, Di Biaggi e Sebastiani (2000) destacam
ainda que nesta Unidade de Internação hospitalar, o enfermo mobiliza sentimentos
extremos como o medo insuportável, manifestações ansiógenas, como a agitação
psicomotora, ou a grave depressão. O clima da Unidade, por características
bastante específicas, acentua sensações e sentimentos de desvinculação,
ressentimento, desamparo, o que altera a sua história de vida.
Quando falamos em história da vida da pessoa que adoece, estamos nos
referindo a natureza de seus conflitos intrapsíquicos e sua forma de se adaptar ou
lidar com eles, isto é, os mecanismos de defesa aos quais lança mão, bem como as
perdas e frustrações que tenha sofrido e/ou vinham sofrendo ao longo da vida,
novamente, sua capacidade de aceitá-las e com elas conviver.
Com a doença o indivíduo quebra a dinâmica e as relações existentes
consigo mesmo e com o mundo. Assim, a doença é sentida pelo paciente como uma
agressão, gerando um abalo na condição de ser, tornando o futuro incerto.
Olivieri (1985) e Kierkegaard (1979) enfatizam que o ser doente tem o seu
futuro ameaçado, o que lhe acarreta grande insegurança e ansiedade. Sentir o fim
do futuro planejado, ter a sensação de que tudo o que havia programado para o
futuro não acontecerá jamais, porque o seu fim chegará antes ou a sua enfermidade
o impossibilitará, desenvolve no paciente um quadro depressivo, que dependendo
da sua gravidade, poderá contribuir para o agravamento da doença.
Nesse sentido, ao sofrer uma internação hospitalar os pacientes parecem
encontrar-se no momento de suspensão, como que neste momento sua vida
estivesse congelada, na medida em que suas ações são tolhidas, uma vez que na
condição de internado somente realiza atividades que sejam da rotina do hospital.
Esse é o espaço do vazio, da impotência, da paralisia.
Igualmente, Eisendrath (1994) analisando as condições do paciente, diz que
muitos enfermos, na tentativa de manejar o estresse de sua estadia, utilizam-se de
mecanismos psicológicos primitivos de enfrentamento, como a regressão, se
tornado dessa forma muito dependentes, na medida em que ao tomarem contato
com as situações estressores na Unidade de Tratamento Intensivo, reagem diante
do medo real da morte, da forçada dependência, das potenciais e permanentes
perdas de função.
45

Outro fator importante a destacar como forte estressante na hospitalização


para Sebastiani (2000) é a separação da família e a perda de autonomia, que sem
sombra de dúvida encabeça e promove a regressão psicológica. De outro modo,
pacientes podem tentar enfrentar ou lidar com os estressores por supressão de seus
sentimentos, com prejuízos graves para suas condições emocionais. Outros podem
desencadear reações, como a agitação, desespero, choro convulsivo, agressões à
enfermagem, manobras enfim, que atuam como poderosos estressores também
para o ”staff”, visto estes pacientes estarem conscientes e emocionalmente frágeis.
Sabe-se que a forma de reagir diante do adoecimento é variável, entretanto
pode-se considerar de modo esquemático, que o paciente passará por determinadas
fases, segundo Kübler Ross (1989), embora nem todas as pessoas vivenciem todos
os estádios, ou seguem a mesma ordem e, ainda, uma fase pode coincidir com a
outra.
Assim, o conhecimento das mesmas é útil para compreender as reações
destes enfermos diante da agonia da morte, para ter uma resposta adequada a
estas condutas que, às vezes, desconcertam familiares e profissionais e para poder
lhes prestar uma ajuda adequada.
A maneira de reagir vai ser influenciada pelo contexto sócio-histórico do
paciente, ou seja, pela idade, classe social, cultura, crenças religiosas, rapidez de
instalação do processo mórbido e também pela personalidade do mesmo.
As fases pelas quais os pacientes passam são, segundo Kübler Ross
(1989): Choque ou negação, ira, barganha, depressão e aceitação.
Choque ou negação: Fase em que o impacto psíquico da doença leva o
paciente a se utilizar do mecanismo de negação, de não aceitação do diagnóstico;
Como segundo passo, apresenta-se a ira, comportamento de revolta, em
que o paciente conhece a realidade, mas não a aceita e se pergunta. “Por que logo
eu?”. Nesse momento, é comum o paciente deslocar sua raiva para os médicos ou
para o sistema de saúde, provocando situações incomoda e de tensão.
A revolta em relação a todo o contexto no “adoecer” é uma atitude que
proporciona imenso sofrimento emocional e pode acabar por interferir no sucesso do
tratamento. Mas dificilmente encontra-se alguém que lide de forma totalmente
equilibrada com essa situação. A idéia de morte envolve a perda, o desconhecido, o
inesperado e o novo, não se acreditando ser possível de ser vivida sem um certo
grau de dor, expectativa e ansiedade.
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A terceira fase é caracterizada como a fase da negociação, em que há uma


tentativa de negociar e adiar as más notícias, negociação com Deus, com os
médicos, procurando de forma mágica escapar de uma realidade que lhe é
insuportável; Na quarta fase, surge a depressão, em que, pelo fato de fracassarem
suas tentativas e usos de mecanismos frente a doença, o paciente sente-se
impotente e fragilizado.
Como reações comportamentais, este pode querer isolar-se, deixar de
comunicar-se com os demais e tornar difícil a convivência com os familiares que
procuram ajudá-lo. Podem também recusar o tratamento e não colaborar com o
mesmo.
Como última fase, temos a Aceitação, período em que o paciente assume a
situação. A reação pode ser de fechar-se em si mesmo, evitando os familiares. Isso
pode ser desconcertante e doloroso para os mesmos.
Importante também se faz descrever sobre o problema das reações
adaptativas ou de mal adaptação nos pacientes terminais, podendo ser enfocado
segundo três pontos de vista: o do paciente, o da família e o do médico.
No nosso trabalho aqui, daremos ênfase às manifestações psíquicas mais
freqüentes encontradas nos paciente. Em relação aos Distúrbios de Mal Adaptação,
identificamos distúrbio de conduta, quadro depressivo, de ansiedade ou misto,
depressão com ansiedade; alterações emocionais e de comportamento.
Estes sintomas emocionais ou comportamentais do paciente, para
Eisendrath (1994), Boucher e Clifton (1996) e Seligman (1997) surgem como
resposta a um agente estressante psicossocial identificável e segundo sua duração
pode ser: agudo, se persiste por menos de seis meses; crônico se dura mais tempo.
A personalidade do paciente asseveram os autores acima citados, é muito
importante e pauta-se na maneira como o doente reage à doença e à morte. Dessa
forma, as pessoas narcisistas, inseguras, autoritárias e com baixa tolerância às
frustrações são mais inclinadas às reações de mal adaptação. O fato de o paciente
ser crente ou ateu, ou não possa expressar seus temores, dúvidas e preocupações
repercutem negativamente.
O enfermo, principalmente o adulto, normalmente quando hospitalizado,
apresenta um quadro de ansiedade diante da morte, ocasionada pela preocupação,
pelo impacto cognoscitivo e emocional do morrer e da morte.
47

Isto, associado à antecipação das alterações físicas, reais ou imaginárias,


ligados às doenças graves e à morte, á percepção da limitação do tempo e a
preocupação com o estresse e a dor que podem acompanhar a doença e a morte.
O quadro de ansiedade diante da morte é uma das formas básicas de
ansiedade e seus componentes são: ansiedade de separação, de perda e de
mudança. Não aumenta com a idade como se poderia pensar. Por outro lado, existe
um medo irracional e neurótico diante da morte que, geralmente não acompanha as
situações de morte ou de ameaça real. Outras vezes, há uma atitude de não querer
dar-se conta diante de situações evidentes de perigo.
Autores, como Sampaio (1988) e Seligman (1997), relacionam esta
ansiedade com o sentimento de aniquilação do ego e com o medo de ver-se diluído
no “nada”. Por isso é que é comum o paciente apresentar alterações psicóticas
durante a enfermidade. Nos moribundos podem aparecer sintomas psicóticos nos
dias que antecedem a morte, como uma forma de psicose exógena. São
inespecíficas desde o ponto de vista sintomatológico e etiológico e não se encontra
uma correlação clínica entre estas e a doença de base.
Estas reações podem ocorrer por uma conjunção entre fatores orgânicos e
psicológicos e a na literatura encontramos diversas sintomas psicopatológicos,
dentre os quais os descritos, segundo Seligman (1997) como Quadros
maniatiformes: ânimo disfórico ou eufórico, idéias de grandeza, pensamento rápido,
fuga de idéias, logorreia e distraibilidade.
Encontramos também quadros paranóides, em que o paciente se apresenta
com atitude desconfiada e receosa, com idéias de perseguição, prejuízo (pensam
que querem prejudicá-lo, que confabulam contra ele, etc.).
Outra perturbação psicopatológica encontramos nos quadros catatoniformes,
com imobilidade psicomotora, ecolalia, negativismo e flexibilidade cérea.
Alguns pacientes apresentam Delírium, conforme Eisendrath (1994), os
quais são descritos como estados confuso-oníricos , com alterações da orientação
(temporo-espacial, auto e alo-psíquica) e da consciência; agitação, atividade onírica
rica ou delirante, de conteúdo mais ou menos fúnebre. Esses sintomas costumam
piorar ao cair da noite e comprometer as funções cognitivas (memória, percepção,
orientação, linguagem, etc.).
O quadro de depressão pode aparecer na 4ª fase da agonia ou em outros
momentos da evolução. Os pacientes já não querem seguir vivendo. Além dos
48

fatores psicológicos que são compreensíveis pode ser causada por fatores
orgânicos da doença de base, pela medicação aplicada e pelo lugar (UTI, Hospitais
precários) em que se encontra.
Igualmente, o paciente pode apresentar comportamento suicida, que é uma
manifestação que pode aparecer em qualquer quadro psíquico, afirma Seligman
(1997). Sabe-se que 90-95% dos suicidas apresentam quadros de depressão,
alcoolismo, esquizofrenia ou crises de pânico. No paciente terminal essa conduta é
causada pela depressão ou de forma fria e racional devida ao sentimento de
incapacitação.
Do mesmo modo, Di Biaggi e Sebastiani (2000) asseveram em seu trabalho
que os eventos nocivos e aversivos vivenciados pelo paciente dentro da Unidade de
Terapia Intensiva (UTI), diante da gravidade da doença e o medo instalado, como
emoções dominantes, podem levar o enfermo a apresentar transtornos de humor e
afeto – ansiedade, angústia e depressão.
Destacam ainda os autores acima citados, que estes quadros psíquicos,
revelam-se como “desamparo”, condição emocional que é a base para a reação
depressiva – um dos quadros mais perigosos.
Desse modo, a reação depressiva aniquila a motivação, prejudicando o
enfrentamento da doença e as respostas de sentir-se desamparado são
generalizadas, sem que o organismo psíquico discrimine as situações em que se
está ou não em perigo.
Talvez o remédio mais eficaz em termos de cura para um paciente
hospitalizado, seja a qualidade de relacionamento mantido entre o paciente e seus
cuidadores, e entre o paciente e sua família na Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI). A qualidade curadora da relação terapêutica pode facilmente ser enfraquecida
ou ameaçada quando reações emocionais sentidas pelos pacientes, familiares ou
cuidadores não são adequadamente trabalhadas.
49

CAPÍTULO IV – O FAMILIAR COMO MEDIADOR NO PROJETO TERAPÊUTICO


DA UTI ADULTO

O papel da família é fundamental para a melhor evolução do quadro do


enfermo hospitalizado, sendo o apoio e o amor dos membros familiares suportes
necessários para que este se sinta seguro e capaz de superar a doença e as
limitações impostas por ela.
Wrigtht e Leahey (2002), destacam em seus estudos que a Instituição
Hospitalar e a equipe profissional têm um compromisso e obrigação de incluir as
famílias nos cuidados de saúde, evidenciando que a teoria e a prática apontam para
a importância e significado da mesma para o bem-estar e saúde do enfermo, bem
como a influencia desta na recuperação do paciente hospitalizado.
Eisendrath (1994) considera a separação da família e a perda da autonomia
fatores que encabeçam e promovem a regressão psicológica do enfermo no período
de hospitalização, pois estes experienciam estressores como o medo real da morte,
a forçada dependência, as potenciais e permanentes perdas de função.
Autores como Silva (2000), Shiotsu e Takahashi (2000), Wrigth (1996),
encontraram em seus estudos dados que os fazem afirmar e acreditar na
importância do familiar ao lado do paciente, durante a hospitalização. Apontam os
autores, evidências teóricas, práticas e investigacional do significado que a família
dá para o bem e a saúde de seus membros, bem como a influência sobre a doença,
o que obriga os profissionais da saúde e os dirigentes de instituições hospitalares,
considerá-la como parte integrante da terapêutica hospitalar.
Igualmente Waldow (1998) relata em seus estudos que o afastamento do
paciente de seus familiares imposto pelas normas da Instituição Hospitalar é referido
como uma das dificuldades vivenciadas na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI),
levando-o muitas vezes a um estado desesperador quando se percebe sozinho e
privados de optarem sobre seus cuidados e desejos.
A família para Vila e Rossi (2002) é o espaço de ajustamento e organização
das relações e funções a serem desempenhadas pelo indivíduo na sociedade; é
determinante no desenvolvimento da afetividade, da sociabilidade e do bem-estar
50

físico e psíquico do indivíduo; é o espaço de proteção contra os perigos do mundo


exterior.
Para Bleger (1988) a família tem função institucional a cumprir, servindo de
reservatório, controle e segurança da parte mais imatura, primitiva e narcísica da
personalidade.
Nesse sentido, as políticas públicas e os modelos assistenciais daí advindos
têm, cada vez mais, incluídos e ás vezes responsabilizado a família pela
implementação de novas formas de cuidado. Podemos citar como exemplo, o
autocuidado, o home care, o cuidador da assistência domiciliar, o Programa de
Saúde da Família, entre outros.
A participação da família, para Franco (1988), mesmo com suas
divergências e peculiaridades é fundamental no tratamento e bem-estar do doente,
podendo ser decisiva para a recuperação, cura ou mesmo uma qualidade de vida
satisfatória, pois na ausência do familiar o paciente pode reagir existencialmente,
com sentimentos reais de desamparo, a se ver “abandonado” pela mesma.
Nessa mesma linha de pensamento encontramos Dunkell e Eisendrath
(1983), os quais também descrevem em seu trabalho que o processo de interação
efetiva entre membros da equipe, familiares e pacientes como uma tarefa difícil, na
medida em que os aspectos psicológicos negativos encontram-se envolvidos nessa
relação em maior ou menor escala.
Contudo, Andrade, Marcon e Silva (1997) ao enfocarem a temática família,
descreveram os aspectos psicológicos positivos que levam a família a querer
permanecer junto ao doente no hospital, como: sentimento de co-responsabilidade,
oportunidade de aprender, respeito ou simplesmente para estar junto.
Seguindo esse pensamento, Silva e Bocchi (2005) referem que a família
compreende o estar junto como uma interdependência emocional. Para ela, dizem
os autores, significa que, quando a instituição concede a oportunidade de um
familiar estar com o doente durante a hospitalização, está favorecendo o
desenvolvimento de um processo interacional, em que a reciprocidade de
sentimentos promove um relacionamento terapêutico doente/família, aliviando o
sofrimento.
Por outro lado, Bousso (1999) enfatiza em seus estudos que o grande
desafio nas Instituições de Saúde, refere-se à inserção da família nos cuidados
51

hospitalares e destaca o movimento no sentido de recriar e de redescobrir como a


família pode ser envolvida na prática da enfermagem.
Chama atenção, entretanto o autor, para o fato de que esta inserção exige
dos profissionais da saúde habilidades para captar as nuances da experiência da
família, desfazendo-se da imagem de que o cuidado deve ser realizado com os
indivíduos e não com o grupo familiar.
A entrada de um paciente na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)
implica no contato com um novo contexto tanto para o enfermo como para a sua
família, na medida em que entram em relação com um ambiente diferente e com
outras pessoas que ainda não conhecem, o que conduz à reorganização de sua
rede de significações e lhes exige a construção de novas relações afetivas, além da
reorganização daquelas já existentes.
Assim sendo, o ingresso nesta unidade de emergência desencadeia, em um
nível amplo, um processo de co-construção de relações na família e na Instituição
Hospitalar, processo que envolve uma troca contínua de ações, um fluxo dinâmico
de significados (significações), tanto por parte dos familiares quanto dos membros
da equipe multiprofissional, implicando em negociações e ressignificações daquilo
que estão vivendo sentindo ou pensando.
Nesse sentido, o paciente que começa a freqüentar uma Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI), depara-se com várias tarefas, como, por exemplo, adaptar-se
à nova rotina e aos novos horários de alimentação, sono e medicamentos, ou ainda,
passar a conviver com um maior número de pessoas na mesma situação que ele.
Porém uma condição, em especial, coloca-se como fundamental para sua
integração neste novo contexto para o seu restabelecimento: a manutenção da
relação afetiva com sua família, que atua como mediadora nesse processo.
Leal (1999), diz que no momento em que o familiar se torne participante,
servindo como um mediador nas compreensões e incompreensões partilhadas com
o OUTRO (paciente) nas situações que se criam diante das crises do percurso do
desenvolvimento humano, no caso aqui de uma hospitalização, a partilha contribui
para a aprendizagem de estratégias nas ações de enfrentamento e superação de
conflitos.
Desse modo, afirma a autora, o movimento de alternância recíproco de atos
entre paciente/familiar depende da percepção, da contingência da reação do outro
ao próprio agir, pois na medida em que cada um dos intervenientes toma um lugar,
52

os atos e os objetos a eles ligados, tornam-se instrumentos ou mediadores da


comunicação.
Desta feita, a qualidade das relações estabelecidas dentro da Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI) influencia os processos adaptativos do paciente,
possibilitando-lhe, através do ciclo ação-reação-ação, como diz Quintino-Aires
(2002) a transformação gradual dos estímulos sem significado, em significativos.
Para Guerra (2003), o humano como um ser biopsicossocial, necessita para
o seu desenvolvimento das trocas que estabelece com o meio e na situação de
hospitalização, o paciente através das relações que estabelece com os outros vai
evoluindo (ou não).
Desse modo, para o enfermo, se as relações com seus cuidadores
(familiares) não forem sentidas como significativas e gratificantes, pode haver uma
estagnação no desenvolvimento humano que vai condicionar toda a estruturação do
“EU”.
Nessa linha de pensamento, as emoções do enfermo dependem da
qualidade da comunicação e da necessidade de complementaridade entre os atos
dos familiares; ou seja, é na ressonância das “trocas comunicacionais” e dos
significados construídos, que o paciente estabelece a vinculação com o ambiente da
Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) e se dá sentido às emoções ali
vivenciadas.
Por isso, Quintino-Aires (2001) afirma que é na qualidade de agente
relacional que o indivíduo se constrói, mesmo em condições adversas, como no
caso de uma hospitalização numa unidade de emergência, posto que seja na
necessidade de mudança que o outro (familiar) vai ajudar na reestruturação e
organização de suas emoções.
Assim, afirma o autor acima citado, quando existe um esquema relacional e
trocas alternantes e recíprocas entre objetos continentes e contidos, é que o
humano torna-se num instrumento transformacional, que permitirá aos dois
interlocutores (paciente/família) referenciarem um objeto e partilharem um
significado, isto é, compreenderem e melhor lidarem com o processo de
adoecimento e hospitalização.
Dessa partilha, no “apontar a dois” afirma Leal (1999), surge à rotulação de
veículos de significados na triangulação entre EU, OUTRO e REALIDADE, que vai
impedir o vazio de significado e fazer com que a experiência emocional se
53

entrecruze com a realidade externa. Desse modo, o fato de atribuírem símbolos


sobre as coisas, construírem um vocabulário partilhado e constatarem a própria
cumplicidade, dá ao paciente hospitalizado a sensação de pertença, de não estar
sozinho na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
De igual forma refere Pina-Cabral (2003), quando diz que os significados ao
serem “usados” e “apreciados” com valor partilhado interpsiquicamente, possibilitam
ao paciente que o seu comportamento comece a ser determinado pelo campo
semântico, adquirindo intencionalidade, abrindo caminho para o surgimento da “Fala
Interna”, que lhe permite regular suas operações psicológicas, diferenciar entre o
essencial e o não essencial, perceber como as situações difíceis se submetem a
determinados fatores fundamentais.
Conseqüentemente, diz Pina-Cabral (2003), as experiências satisfatórias e
gratificantes na relação com o outro (familiar) no “apontar a dois”, ao criarem
símbolos dos objetos, possibilitam ao paciente “aceitar a separação temporária de
seu parente cuidador, enquanto vivência permanente”.
Nesse sentido, pouco a pouco o enfermo compreende o ocasional
afastamento de seu familiar cuidador como necessidade, não como sofrimento,
porque como já tem a experiência de pertença interiorizada, compreende sem ficar
aflito.
É consensual, de forma explícita e implícita, que as relações com maior
impacto no desenvolvimento global do indivíduo são: as relações/ligações afetivas,
respectivamente de acordo com a definição de Ainsworth (1994) e Takahashi (1990),
referidas igualmente por Kahn e Antonucci (1980), como relações próximas,
relações de suporte social de acordo com a definição geral de Lewis (2000) e ainda
relações de vinculação, afiliação ou de aliança persistente, segundo a tipologia de
Weiss (CANAVARRO, 1999).
Desse modo, assevera Canavarro (1999), apreende-se e se insiste no
importante papel do cuidador familiar, que se pode concluir como imprescindível no
momento de uma hospitalização, bem como afirmar que o conhecimento empírico
existente é suficiente para confirmar a hipótese de necessidade de pertença, de
afeto como uma motivação humana fundamental.
Takahashi (1986) salienta a necessidade de se abrir espaço para que a
família participe na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) como um elo entre essa e o
paciente, na medida em que a internação hospitalar provoca uma interrupção na
54

vida social, laboral e familiar do indivíduo hospitalizado. Desse modo, por perder o
contato integral com sua família, desestrutura-se física e emocionalmente, o que é
confirmado por Oliveira e Jorge (1998).
Igualmente, Franco e Jorge (2002), ressaltam em seus trabalhos que a
hospitalização em uma unidade de Terapia Intensiva (UTI), embora não
intencionalmente, contribui para sofrimento do doente, pois ficar longe de seu
parente, induz ao padecer psíquico. Citam que a enfermagem tem dado uma
importância em especial para a abordagem holística, reconhecendo a importância do
familiar na terapêutica hospitalar, mas a prática, muitas vezes, tem-se encarregado
de contrariar essas expectativas.
Em outros estudos sobre familiares acompanhante, novamente Franco
(1998) e Franco e Jorge (2002) enfatizam que apesar das dificuldades da inserção
do familiar na Unidade de internamento hospitalar, este tipo de vivencia é benéfico
para a família e para o doente, mobilizando-os e motivando-os em nome da
solidariedade a seu ente enfermo, do mesmo modo que abre espaço para a
humanização hospitalar ao considerar o familiar como parte integrante do processo
de cuidar.
Também Kimura (1984), comparando os problemas dos pacientes de uma
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) relata que na percepção desses e dos
enfermeiros em relação ao isolamento, encontrou em sua pesquisa dados que
revelam, por parte dos pacientes, à separação da família como um dos fatores mais
relevantes como problema diante da internação.
Ao mesmo tempo, McCorker et al. (2004) entendem que para a sobrevida do
paciente é importante à promoção do cuidado emocional, na medida em que seus
estudos revelaram uma relação estatisticamente significativa entre os sintomas e as
intervenções, nas quais se evidenciou um número muito grande de óbitos em
pacientes que foram privados do cuidado emocional.
“Cuidar” é um modo humano de ser (ROACH, 1993), de confortar, amparar,
limpar, tocar, etc., de se querer estar com o paciente, fazendo tudo para o seu
benefício, desenvolvendo seu potencial e facilitando-lhe a oportunidade de “cuidar-
se” (SENA, 1984). Cuidar é uma maneira “nutritiva” de relacionar-se com alguém a
quem a gente valoriza e se sente comprometido e responsável (SWANSON, 1993).
A presença humanizada do “Cuidador Familiar”, em um ambiente de
cuidado, como no caso de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) poderá
55

representar para o ser cuidado (paciente) a esperança, célula máter do desejo de


viver e para o cuidador, poderá proporcionar a certeza de ter tentado promover,
dentro de suas possibilidades, uma melhor qualidade de vida e bem-estar àquele
que estava temporariamente sob seus cuidados.
O “Cuidar” dessa forma, implica em uma relação de confiança, na qual o ser
cuidado entrega seu self, que se encontra fragilizado, nas mãos de seu cuidador. E
este com sua presença carinhosa e atenciosa, possibilitam ao paciente reforçar seus
mecanismos internos, passando a confiar no ambiente (ANGERAMI-CAMON, 1988).
A pessoa em situação de dependência, como no caso de uma
hospitalização, confia em outro (familiar) porque se sente aceita e aprovada, nota o
interesse e preocupação pelo seu bem-estar e sabe que há auxílio disponível para
satisfazer suas necessidades básicas (BOTEGA, 2002).
Entendemos o “Cuidar” como Gamboa (1997), não como um ato único,
tampouco como a soma de procedimentos técnicos ou de qualidades humanas, mas
como resultado da mescla de sentimentos, valores, atitudes e princípios científicos
com o objetivo de satisfazer os indivíduos nele envolvidos.
Nessa linha de pensamento, o “Cuidar” é feito com o outro e não apenas um
procedimento, uma intervenção técnica, mas uma relação de ajuda, que envolve
respeito, compreensão e o uso do toque, por parte da equipe e familiares de forma
mais afetiva e efetiva, o que contribui para a miniminização do sofrimento frente ao
internamento.
As ações inerentes ao próprio ato de cuidar, para Silva e Silva (1998),
podem ser favorecidas ou limitadas, dependendo dos valores, paradigmas e
comportamentos que reproduzimos frente à forma de participar das interações com
as famílias no ambiente hospitalar.
O significado do cuidar para a família e sua permanência junto ao seu
familiar enfermo para (Motta; Franco e Jorge; Henckemaier, 2002) está relacionado
à demonstração de interesse e dedicação.
Do mesmo modo, Silva (2000) assevera que o acompanhamento da família
durante a hospitalização de um ente querido, é sentido como uma maneira de ser
solidário e compreende o estar junto como uma interdependência emocional,
revelado na relação de responsabilidade entre pessoas unidas por laços de
afetividade.
56

Destaca ainda a autora que a Instituição Hospitalar ao conceder a


oportunidade de um familiar estar com o doente durante a hospitalização, esteja
favorecendo o desenvolvimento de um processo interacional, em que a
reciprocidade de sentimentos promove um relacionamento terapêutico
doente/família, aliviando o sofrimento de ambos.
Nessa dialética, portanto, a família favorece o doente no enfrentamento da
doença, e ao mesmo tempo se beneficia emocionalmente estando junto com este.
Um Hospital que possibilita a proximidade do familiar dentro da Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI), proporciona ao cliente a aproximação do que ele
considera ser bom e saudável; a esperança de voltar e ver a família impulsiona e dá
mais força para sua recuperação, o que neste aspecto, é um método terapêutico.
Compreende-se o processo de interação social como básico para o
desenvolvimento humano como afirma Valsiner (1987), mas considerá-lo a partir do
referencial sócio-histórico é abrir espaço para o entendimento e aceitação da
inserção do cuidador familiar em ambientes culturalmente organizados e
socialmente regulados, como é o caso de uma Instituição Hospitalar.
Desse modo, “Cuidar” envolve na visão de Vila e Rossi (2002) uma ação
interativa, posto que essa ação e comportamento estejam ancorados em valores e
no conhecimento do ser que se cuida “para” e “com” o ser que é “cuidado”.
O ato de cuidar desperta na equipe de saúde e nos familiares, sentimento
de compaixão, de solidariedade, de ajuda, no sentido de promover o bem, enfatizam
as autoras, tendo como objetivo o bem-estar do paciente, a preservação de sua
integridade moral e a sua dignidade como pessoa.
Outro ponto a destacar, segundo Silva (2005) é que o estabelecimento de
um relacionamento mais próximo e terapêutico com a equipe de enfermagem faz
com que a família também passe a ver e agir com solidariedade e respeito ás
dificuldades impostas pela própria rotina da Instituição Hospitalar, bem como ao
processo de trabalho da enfermagem.
Acredita-se que compreendendo as crenças que permeiam a inserção do
cuidador familiar na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), podem-se criar
possibilidades que permitam ampliar o foco do cuidado, em busca da perspectiva de
se ver a família, a equipe e o próprio ambiente em si, como um conjunto de fatores
terapêuticos em benefício do paciente internado nessa unidade hospitalar.
57

O cuidado emocional ao cliente hospitalizado na Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI), por parte do familiar, desse modo, é necessário e benéfico,
pois possibilita a comunicação entre seus membros, abre espaço para o enfermo ser
ouvido, respeitado e confortado.
Segundo Montagu (1998) os efeitos comportamentais do tocar, do olhar e do
ouvir, contribuem para a segurança, proteção e auto-estima de uma pessoa,
desenvolvendo vantagens em termos de saúde física e mental, sendo, por
conseguinte altamente terapêutico.
Assim sendo, o ato de sentar em frente ao paciente, olhar nos seus olhos,
fazer-lhe um carinho no rosto, segurar sua mão, ouvindo-o com interesse e
dedicação, bem como um diálogo transmite-lhe confiança, permite o
estabelecimento de vínculos emocionais e otimiza conseqüentemente o
atendimento, sendo formas de humanização na Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI).
A elaboração cognitiva funda-se na relação com o outro, afirma Smolka e
Góes (1995) e essa relação é permeada pela afetividade, uma vez que conforme o
tom com que fala, o olhar que se lança, o gesto que esboça, a fala [do familiar, e da
equipe], adquiri um valor fundamental para o paciente e certamente, uma
ressonância para ele.
A afetividade é estimulada por meio da vivência, a qual o familiar e a equipe
estabelecem um vínculo de afeto com o paciente. O enfermo necessita de
estabilidade emocional para se envolver com o processo de hospitalização de forma
adaptativa. O afeto pode ser uma maneira eficaz de se chegar perto do paciente e a
família, em parceria, um caminho estimulador e enriquecedor para se atingir uma
totalidade no processo de hospitalização. Desse modo, a intersubjetividade se
mostra por meio do afeto e da alegria de poder liberar o que cada sujeito (familiar)
trás consigo mesmo e quanto pode contribuir com o outro.
Inaba (2005) encontrou em sua pesquisa de campo com familiares
internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), afirmações destes que o tratar os
pacientes com carinho, acariciando-os, conversando com eles, mesmo estando
sedados, hidratá-los e fazer a higienização diária, favorecem o bem-estar do
enfermo.
Assim, quanto mais manifestações de afeto e carinho por parte dos
familiares para com o seu parente enfermo, mais poderão contribuir para um clima
58

de conforto e confiança, bem como, mais a experiência pode ser positiva no


processo de hospitalização, porque os gestos de atenção e cuidado ficarão
presentes sempre na lembrança do paciente hospitalizado.
Outro ponto a destacar em relação da importância do familiar na
Hospitalização, para Silva (2000), é que ela além de dar apoio ao paciente, também
pode oferecer as informações necessárias para um melhor cuidado, pois decodifica
os gostos, manias, expressões do familiar doente com restrições de comunicação
verbal, e esses dados segundo o autor, podem ser essenciais aos cuidados da
enfermagem dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva.
A família enfatiza Cerveny (1984) é o primeiro grupo social ao qual somos
inseridos e acolhidos, possibilitando-nos desenvolver nossas habilidades,
experiências, vivências e novas relações humanas, sem contar que é o lugar onde
recebemos apoios afetivos, psicológicos, com também construímos os valores
humanos e éticos.
O equilíbrio familiar é base e serve como estrutura para um desenvolvimento
saudável para qualquer um de seus membros. (GONZALES, 1999; OLIVEIRA e
JORGE, 1998). Assim, família é a instituição que funciona como alicerce para o
convívio social das pessoas. É ela que prepara o ser humano para enfrentar o
mundo exterior, insere-o definitivamente em uma comunidade, na qual interagirá e
formará novas famílias.
Cada membro familiar tem sua singularidade que não pode ser ignorada ou
até mesmo excluída durante o processo terapêutico e Oliveira e Bastos (2000)
embasam esse argumento ao explicitarem que uma Instituição hospitalar tem que
analisar e considerar a influência dos valores e costumes de uma família sobre o
tratamento de um enfermo.
Igualmente, Pinho (2005) considera relevante a participação da família no
projeto terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva, argumentando que o vínculo, o
acolhimento e o relacionamento terapêutico são tecnologias que devem fazer parte
da rotina de atendimento dos hospitais. São formas de expressão em que se
resgatam as concepções de ser humano em sua integralidade biopsicossocial,
contribuindo para um cuidado mais humanizado.
Desse modo, a família que vivencia a hospitalização como afirma
Vasconcellos (1995), serve como um sistema de auto-regulação, que ao mesmo
tempo em que se desestabilizam frente ao adoecimento, converge para uma forma
59

de reorganização interna que leve a homeostase do grupo através da


retroalimentação.
Nessa mesma linha de pensamento, Bleger (1988) assevera que a família
constitui meios de contenção dos lados menos “sociais” do indivíduo, como
narcisismo, hostilidade, auto-erotismo e tendência à simbiose, ajudando o paciente a
controlar os aspectos imaturos de sua personalidade.
A partir dessas evidências ratificamos a importância do cuidado emocional
realizado pelo familiar para a recuperação e sobrevida do cliente hospitalizado,
todavia, não devemos nos esquecer em momento algum o cuidado técnico-
científico. Na realidade, essas diferentes dimensões do cuidado devem caminhar
juntas, se complementando harmonicamente.
Motta; Franco e Jorge; Henckemaier (2002) destacam que atenção,
solidariedade e apoio incondicionais dos membros familiares são valores de extrema
relevância num momento de internação numa Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI), e que a permanência do familiar ao lado de seu parente querido à beira do
leito, é um modo de demonstrar interesse e dedicação.
Entretanto, nessa unidade de emergência, esses valores muitas vezes são
deixados em segundo plano, já que nela os familiares não podem acompanhar
totalmente o familiar-paciente, mas apenas em horários pré-determinados pela
equipe de saúde e pela instituição para a realização das visitas.
Essa rotina hospitalar, segundo Sebastiani (1995), em relação às restrições
da visita e afastamento do familiar na emergência, provoca no paciente internado e
nos membros da família, sensação de descontinuidade pela abrupta ruptura,
desencadeando reações emocionais de sofrimento psíquico, dor, medo da perda e
do desconhecido, aumento da ansiedade e desesperança.
Nesse sentido, o afastamento dos familiares do paciente internado em uma
Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), é deveras nocivo ao enfermo e não
contribui para a melhora da qualidade de vida biológica do doente afirma Sebastiani
(1995), levando ao fortalecimento do processo de adoecimento psíquico do mesmo
e de seus parentes.
Lemos e Rossi (2002), em seu estudo sobre o distanciamento
doente/família, verificaram que o processo de separação do paciente de seus
familiares, por si só já é um evento estressante e assume concepções diferenciadas
de acordo com o tratamento que a equipe de enfermagem dispensa ao paciente e
60

aos membros familiares, podendo assumir conotações que vão desde


comportamentos agressivos ao tranqüilo.
Nesse sentido, para o doente adulto, a família deve ser um aliado do médico
no tratamento da sua doença. A atitude de afeto e a presença efetiva dos familiares
influenciam a evolução da doença quase tanto como os fármacos, entretanto estes
devem ter o cuidado de serem flexíveis e pacientes, adequando-se continuamente
às diferentes fases da doença.
Dessa feita, a família próxima é de grande valia para a equipe e o paciente,
pois auxilia no planejamento da assistência a ser prestada, possibilita melhor
qualidade de vida ao enfermo e ajuda na miniminização do sofrimento frente à
internação hospitalar, em especial, a de uma Unidade de Terapia Intensiva.
61

CAPÍTULO V – O PSICÓLOGO HOSPITALAR SÓCIO-HISTÓRICO RELACIONAL


DIALÓGICO

A Psicologia ao ser inserida no hospital, reviu seu próprio postulado,


adquirindo conceitos e questionamentos que fizeram dela um novo escoramento da
busca da compreensão da existência humana. A formação acadêmica do Psicólogo
é falha em relação aos subsídios teóricos para Angerami/Camon (1994), pois
segundo o autor há pouco embasamento para a prática institucional. Dessa forma, a
formação está sedimentada em outros modelos de atuação, carecendo do
instrumental teórico necessário para uma atuação nessa realidade.
Ainda conforme o autor acima citado, precisamos pensar que o Psicólogo é
um técnico e tem que ser um técnico especializado. Nesse sentido, sua formação
tem que ser esmerada e a Psicologia deve se apoderar do suporte interpessoal
embasada nos princípios do relacionamento terapêutico durante o tratamento de
seus pacientes.
Nessa perspectiva, pensamos que o Psicólogo que trabalha em uma
Instituição Hospitalar com a abordagem da Psicologia Sócio-Histórica deve
direcionar a sua atuação para a promoção de saúde, em que seu foco centre-se na
saúde e não na doença.
Como afirma Bock e Aguiar “promover á saúde significa ampliar a
consciência que o cerca, o instrumentalizando para agir no sentido de transformar e
resolver as dificuldades que esta realidade lhe apresenta” (1995:12)
O Psicólogo, segundo Quintino-Aires (2001) é aquele que precisa reunir
dados a respeito da história de vida e da história do contexto hospitalar para o
paciente, que recebe e compreende as significações que ele parece atribuir á
hospitalização. Perceber qual é a relação estabelecida com o contexto hospitalar e
com o outro, no momento da internação e a postura do Psicólogo como agente
mediador do processo de hospitalização, parecem ser fatores fundamentais para
que o enfermo resgate as condições de enfrentamento da doença.
Para tanto, a teoria Sócio-histórica deve ser tomada como referência
profissional da Psicologia em sua atuação no Hospital, a fim de entender o processo
de adoecimento e hospitalização na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI). Ao
mesmo tempo, também deve compreender os mecanismos de enfrentamento
62

utilizados pelo paciente, bem como a formação de conceitos, carregados de


significados a partir da interação com o outro e das interações em todo o processo
de internação.
Assim, como profissionais da Saúde devemos trabalhar na construção da
confiança emocional e do aprendizado interpessoal. Criar um espaço de reflexão em
conjunto, discutindo as experiências, transmitindo conhecimentos, aliviando o
sofrimento e trabalhando com as limitações evidenciadas, possibilitando o processo
de relacionamento e crescimento pessoal de pacientes, familiares e equipe
multiprofissional.
Nesse sentido, entendemos este processo de relacionamento como triádico,
horizontal e dialético, na medida em que significados pessoais e valores transmitidos
nos planos social e histórico colocam-se como elementos presentes na construção
de relações estabelecidas dentro da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) e do
conhecimento de si mesmo, do outro e dos fenômenos do mundo. Sem dúvidas o
trabalho do Psicólogo Intensivista na UTI é de suma importância.
Essa relevância é destacada conforme: "Jornal Federal" ano XIX, nº 84 -
maio de 2006, o qual destaca a importância da atuação dos psicólogos na UTI.
Nesse artigo é apontada a necessidade do profissional intensivista no hospital, tendo
em vista as diversas reações psicológicas dos pacientes e familiares que lidam com
o sofrimento, a dor e a morte iminente que "geram tensão, angústias e conflitos
emocionais, onde mecanismos de defesa psicológica são ativados tanto nos
cuidadores como nos pacientes e familiares, na tentativa de evitar a ansiedade"
(JORNAL FEDERAL, nº. 84). No mesmo jornal, encontramos as principais
atribuições do Psicólogo Intensivista, quais sejam:

 Atuar junto à equipe interdisciplinar, acompanhando processos de


acolhimento e reflexão sobre a tarefa assistencial dentro do projeto e
especificidade de atuação;
 Realizar observação, avaliação e acompanhamento dos pacientes e
familiares dentro de uma rotina de atendimento;

 Registrar o histórico, a evolução e as intervenções com o enfermo em


prontuário individual;
63

 Acolher, preparar e acompanhar os familiares para que participem do


processo do cuidar do enfermo, junto à equipe;

 Coordenar grupos com familiares;

 Acompanhar as informações médicas/equipes buscando facilitar o


processo de comunicação/compreensão desde a rotina de admissão até
o encaminhamento para atendimento em enfermaria ou domiciliar, pós-
UTI;

 Atuar junto à equipe no sentido de promover discussões, reflexões e


ações sobre o cuidado/humanização;

 Aplicar questionários periódicos visando avaliar cuidados/humanização


da assistência;

 Viabilizar campo para estágio, contribuindo com a formação de novos


profissionais;

 Desenvolver estudos e pesquisas partindo de avaliação de protocolos


assistenciais.

Tendo em vista que o psicólogo no CTI trabalha visando promover o bem-


estar do enfermo e que sua intervenção possibilita a ativação de mecanismos de
defesa psicológicos, com a tentativa de evitar ou aliviar tensões e angústias
provocadas por um estado grave de saúde, o Conselho Regional de Psicologia - 4ª
Região (MG) - CRP-04 considera necessária à presença do profissional psicólogo na
equipe multiprofissional da UTI.
Sabe-se que o ambiente de uma Unidade de Terapia Intensiva é
extremamente conturbado e ameaçador, provocando efeitos não apenas nos
pacientes, mas também nos familiares e na equipe. Um psicólogo que se insere
nesse contexto tem o compromisso de mediar as relações entre família, equipe e
paciente, utilizando como instrumento básico à escuta, esta que, apesar de
64

necessária, é muitas vezes negligenciada quando as tomadas de decisões exigem


urgência e os estados emocionais estão alterados.
Desse modo, é necessária na instituição hospitalar, discussão das idéias e
valores levados ao processo pela Psicologia, pois afinal, o Psicólogo participa como
mediador, com facilitador da inserção da família nesta Unidade de Emergência.
Dessa forma, compreendemos que a explicitação dos significados sócio-
históricos na unidade de emergência realizados pelo Psicólogo, transmitidos e
negociados nesse processo, dá subsídios para o desenvolvimento do trabalho da
equipe Hospitalar e de todos os implicados na hospitalização, na medida em que
este profissional utiliza-se de ações e intervenções, que se mostram necessária para
a construção de relações saudáveis dentro do contexto hospitalar.
É de fundamental importância que se considerem as relações interpessoais
como sistemas de comunicação em desenvolvimento que geram para os
participantes significados pessoais e sócio-históricos diretamente ligados às
dinâmicas de mudança (LYRA, 2000) e, portanto, produzidos e compartilhados no
processo de interação social.
Nesse sentido, enquanto profissional da Psicologia Hospitalar, suas
intervenções devem possibilitar a produção de novos sentidos, de re-significações
das relações e experiências vividas dentro da Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI), levando os pacientes e familiares a se apropriarem de novas informações,
conhecimentos sobre si mesmo e a realidade que os levem a suportarem de forma
mais equilibra a doença.
Assim, as perspectivas da Psicologia Hospitalar são bastante promissoras e
alentadoras, porque determinam a própria trajetória de suas conquistas e
realizações, que cresceu além dos seus próprios limites. Dessa forma, a Psicologia
Hospitalar é coadjuvante da própria realização hospitalar, voltada para a crença de
que a humanização da abordagem hospitalar é possível e real.
É importante enfatizar o Psicólogo como profissional que se volta para a
promoção da saúde e que costuma atuar tanto de forma preventiva como curativa.
Assim, este profissional visa o relacionamento humano e saudável com o paciente e
seus familiares, intensificando seu trabalho com as comunidades e equipe de saúde
e realizando interações em oportunidades variadas, como ambulatório, enfermaria,
CTI, UTI e quartos.
65

Na maioria das vezes o profissional de psicologia é solicitado para expor a


situação atual para o paciente, como também para os seus familiares, falando sobre
a possibilidade da evolução do tratamento, bem como a recuperação ou não deste.
Então, de acordo com Campos (1995), para o desenvolvimento de um bom
trabalho é necessário uma equipe multidisciplinar, e que em cada unidade hospitalar
o Psicólogo atue como elemento de elo de ligação entre os membros desta equipe.
Ainda, conforme esta autora, o trabalho do Psicólogo hospitalar deve ser
conduzido tanto no sentido de uma prevenção primária, como também na área da
prevenção secundária Dessa forma, deve se ocupar com situações voltadas para a
equipe, decorrentes do contato diário com os problemas da doença e da morte que
elevam o nível de ansiedade. Outra situação em que o psicólogo deve agir, é como
agente promotor de pesquisas na área da saúde, além de também contribuir como
agente educador, na tarefa de suporte aos alunos estagiários de psicologia.
Campos (1995), ao falar sobre a função social da intervenção do Psicólogo
hospitalar, questiona e mostra que a prática psicológica não se confunde com a
prática médica. Assim, o Psicólogo além de diagnosticar e classificar tem que
entender e compreender o que está envolvido na queixa e no sintoma da patologia
do paciente, bem como na própria detecção dos conflitos surgidos na dinâmica da
equipe e da instituição hospitalar. Deve trabalhar com o sintoma, mas também com
o processo de encaminhamento e com a relação interpessoal, tomando contato de
qual o seu significado para o paciente e também para os demais profissionais da
área. É importante também se ater a escuta e observar com paciência as palavras e
as omissões dos envolvidos no processo de adoecimento.
Nessa perspectiva de ações, o Psicólogo Sócio-Histórico Relacional
Dialógico é, portanto, um promotor de trocas ou modificações internas dos
indivíduos, que leva a facilitar o processo de adaptação do enfermo á realidade e
possibilita a capacidade de responder /ir ao encontro das exigências sociais.
Leal (1999) refere que o papel do Psicólogo é “ouvir e traduzir, assumindo
um papel de testemunha e de contentor da palavra e do símbolo do outro,
garantindo ao paciente que a sua experiência [falada, silenciosa, confusa, racional,
deprimida, hostil ou autodestrutiva] tenha compreensibilidade” (1999-a).
De igual maneira pensa Soares (2004), quando refere em seus trabalhos
que a Psicologia Relacional Dialógica poderá ser a mediadora, o pano de fundo ou o
“palco” onde se ensaia a arte e a arte de aprender e se conhecer e Vygotsky (1995)
66

refere que o humano é o mediador que se interpõe e introduz “efeito” no indivíduo


que aprende.
Neste aspecto, o Psicólogo na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI),
será alguém responsável pela orientação e ilustração das cenas dentro dessa
Unidade Hospitalar, com condições de ajudar a encontrar novos sentidos para as
experiências vividas na situação do internamento, procurando com o enfermo o
“sentir” na mesma.
Assim, para que ocorra esse processo é necessário mobilizar recursos que
permitam, pelo “apontar a dois”, uma partilha de significados, de acordo com a
experiência afetiva vivida pelo paciente.
Igualmente, Fonseca (2001) afirma que as compreensões e
incompreensões, entre Psicólogo/paciente, pelo fato de serem partilhadas,
possibilitam a reestruturação e organização do aparelho mental. Essa organização
mental, por outro lado, depende de como o EU (paciente) consegue traduzir
mentalmente o seu encontro com os elementos do real (conjunto de experiências
pessoais e profissionais), como ele a classifica e a agrupa dentro da rede de trocas
interpessoais.
A contingência do OUTRO (Psicólogo) completa a iniciativa do EU
(paciente), permitindo a este se conceber como ser distinto, fonte de intenções e
desejos. De tal modo, como diz Quintino-Aires (2002) a partir da História de Vida,
construída na base de uma relação dialógica, emerge a compreensão do próprio
indivíduo e do modo como este “lê” e se “apropria” da realidade existente (“umwelt”),
com a qual vai se confrontando e projetando o seu futuro.
Segundo Soares (2004), pela tomada de consciência dos seus recursos
pessoais e das competências adquiridas, opera-se no indivíduo a descoberta e
integração de novas idéias, novas formas de lidar consigo próprio e com a sua
“eigenwelt”, e desta forma, para entrar na “eigenwelt” do paciente, o Psicólogo
anula-se enquanto indivíduo, emprestando-se à relação e assumindo o papel de 4º
cuidador.
Desse modo Quintino-Aires (2004), compreende o 4º cuidador (Psicólogo),
como um interlocutor válido e contingente a um EU em sofrimento, que se
desorganizou em determinada altura de seu percurso. Nesse sentido, a
compreensão empática por parte do Psicólogo, envolve um contato relacional,
contextualizado e “significado” de todo o sofrimento explícito e implícito do paciente,
67

assumindo um papel válido na ação de reconhecimento de toda a sua dor


desestruturante.
Ressalta também Quintino-Aires (2001), a importância que o Psicólogo deve
dar para a abertura de espaço para a associação livre, o qual deve ser respeitado e
mantido pelo profissional. Assim, cabe a ele como profissional possibilitar ao EU em
sofrimento, escolher/decidir o caminho a percorrer, (agora acompanhado), sendo
pertinente e fundamental o respeito pelo “timing” de cada humano.
Da mesma forma Leal (1999), pontua como habilidades do Psicólogo
Relacional Dialógico, a capacidade de não deixar o indivíduo cair no vazio, mas sim
fazê-lo sentir-se acompanhado e compreendido por este Outro. Desse modo, a
autora afirma que o intercâmbio emocional de ressonâncias permite articular o
biológico com o mental, desencadeando o desenvolvimento de estruturas psíquicas
na procura do conhecimento e ao mesmo tempo, abrindo-se o indivíduo á
transformação como uma tomada de consciência.
Nesse sentido, como assevera Ferraz (2004), quando há um “stress” ou
como diz Leal (1999), quando há a “vivência de um significado de estrago”, como no
caso de um adoecimento e hospitalização, para o paciente rompe-se à rede
defensiva de discriminação e de reconhecimento do invasor ou agressor.
Desse modo, o Psicólogo Sócio-Histórico Relacional Dialógico, através da
relação, atuará no sentido de ajudar a construírem juntos -
paciente/profissional/equipe – um conjunto de significados, que tem a ver com o
processo de hospitalização.
Por conseguinte, o Psicólogo Relacional Dialógico na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), é aquele que ouve e traduz as palavras, sentimentos e, símbolos de
um Outro (EU em sofrimento) que os negligencia, rejeita ou desconhece o seu
significado, “emprestando-se a relação como” Pessoa (adulto que concluiu o
processo maturativo), na sua disponibilização para mobilizar os recursos “inatos” do
indivíduo, que vão promover a cura , através do movimento recíproco e contínuo de
“Treino do Ego”, como afirma Quintino-Aires (2001).
Para tanto, o Psicólogo Relacional Dialógico deve ter como objetivo um
trabalho de re-humanização dos serviços da saúde, em que focaliza a necessidade
de uma ressignificação na Instituição Hospitalar e preparo destes profissionais para
lidar com a morte, pois estes tendem a desconsiderar que por detrás dos
comportamentos observados, há motivações e emoções implicadas.
68

Logo, a humanização do atendimento abrange desde a indicação da


internação, a orientação médica, a assistência global ao paciente até a inclusão do
atendimento aos familiares.
A assistência psicológica no hospital tem também como objetivo dar suporte
emocional e alívio para o paciente e sua família, oferecendo auxílio e promovendo a
mobilização de forças, em que a angústia e a ansiedade estão presentes, levando-
os a conscientizarem-se do que é real e fantasioso.
Conseqüentemente, pacientes e familiares sentem-se mais seguros,
amparados, aceitos e assistidos na sua totalidade, pois enfermos que recebem
informações a respeito de sua doença e da internação tendem a ficar menos
ansiosos, cooperaram com o tratamento, vencem seus medos e suas dúvidas não
trabalhadas.
Além de o Psicólogo Relacional Dialógico trabalhar com o paciente que é
encaminhado por outro profissional da área da saúde, este também deve ir ao
encontro do mesmo e com preparo e sensibilidade, detectar quais necessitam ser
encaminhados para outras áreas. Assim, a equipe sob a orientação do psicólogo,
deverá conciliar a necessidade de cada paciente, da instituição, da família,
promovendo uma qualidade nas relações e condução dos procedimentos.
O Psicólogo, como mediador, buscará fornecer esclarecimento das dúvidas
do paciente, aliviando o sofrimento e oportunizando a este falar de si, da doença, da
família, de seus medos e fantasias frente á hospitalização.
Assim, o Psicólogo Relacional Dialógico desse modo ao emprestar-se à
relação, assume um papel de 4º cuidador numa experiência relacional cuja presença
se define pelo encontro, pela simultaneidade das mensagens expressivas que
ocorre numa rede dinâmica da qual provém o significado ou configuração de
significados, dessa forma promovendo um intercâmbio que procurará trazer ordem
ao caos da vida psíquica do paciente (LEAL, 1997).
69

MÉTODO

Para a realização deste estudo optou-se pela pesquisa etnográfica. A


etnografia como abordagem de investigação científica traz algumas contribuições
para o campo das pesquisas qualitativas que se interessam pelo estudo das
desigualdades e exclusões sociais: primeiro, por preocupar-se com uma análise
holística ou dialética da cultura, isto é, a cultura não é vista como um mero reflexo de
forças estruturais da sociedade, mas como um sistema de significados mediadores
entre as estruturas sociais e a ação humana; segundo, por introduzir os atores
sociais com uma participação ativa e dinâmica no processo modificador das
estruturas sociais. O "objeto" de pesquisa agora "sujeito" é considerado como
"agência humana" imprescindível no ato de "fazer sentido" das contradições sociais;
e terceiro, por revelar as relações e interações ocorridas no interior da Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI), de forma a abrir a "caixa preta" do processo de
internação Hospitalar (MEHAN, 1992; ERICKSON, 1986). Assim, o "sujeito",
historicamente fazedor da ação social, contribui para significar o universo
pesquisado, exigindo uma constante reflexão e reestruturação do processo de
questionamento do pesquisador.
Desse modo, O objeto da etnografia é esse conjunto de significantes em
termos dos quais os eventos, fatos, ações, e contextos, são produzidos, percebidos
e interpretados, e sem os quais não existem como categorial cultural. Esses
conjuntos de significantes nos apresentam como estruturas inter-relacionadas, em
múltiplos níveis (OGBU, 1981) de interpretação.
Igualmente para Silva (2000), esses conjuntos de princípios são repassados
de uma geração para a seguinte, por meio do sistema de símbolos, da linguagem,
do ritual e da arte, já que a cultura pode ser considerada como uma "lente" herdada.
Nesse sentido, foi realizado um levantamento da realidade da população de
uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto, por ser necessário saber a opinião destas
pessoas para conseguir atingir o objetivo do presente estudo, que é “A Inserção do
Familiar no Projeto Terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI)”.
70

LOCAL DE INQUÉRITO

O estudo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital


Universitário da Universidade da Região da Campanha - URCAMP. Trata-se de um
hospital-escola de médio porte na cidade de Bagé, Estado do Rio Grande do Sul,
que conta com 09 leitos e 14 profissionais de Enfermagem, 07 Médicos Plantonistas,
01 Psicóloga, 02 estagiárias de Psicologia, 02 Fisioterapeutas, 01 Nutricionista e 01
Musicoterapeuta.

SUJEITOS DA PESQUISA

Foram entrevistados 10 pacientes, 10 familiares de pacientes internados na


Unidade de Terapia Intensiva Adulto há pelo menos três dias e 10 funcionários da
equipe da unidade, que aceitaram participar do estudo. O número total dos
participantes da pesquisa entrevistados dependeu da compreensão do fenômeno
estudado.
Durante a realização do trabalho de campo, várias técnicas e estratégias
podem estruturar a coleta dos dados. Duas técnicas consideradas relevantes foram
utilizadas neste estudo: a observação participante e a entrevista. Na realização das
observações participantes, optou-se por assumir o papel de observador como
participante, no qual prevalece o caráter mais atuante do pesquisador, e os sujeitos
são informados dos objetivos do estudo.
A entrevista semi-estruturada foi à modalidade utilizada, orientada pelas
questões conforme Anexo A – Entrevista Semi-Estruturada para o Familiar; Anexo B
– Entrevista Semi-Estruturada para o Paciente; Anexo C – Entrevista Semi-
Estruturada para a Equipe da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI); Anexo D –
Termo de Consentimento para o Familiar; Anexo E – Termo de Consentimento para
o Paciente; Anexo F – Termo de Consentimento para a Equipe da Unidade de
Terapia Intensiva Adulto (UTI).
Utilizou-se um gravador para registro das informações obtidas por meio de
entrevistas (com consentimento prévio dos entrevistados) e um diário de campo para
a documentação dos dados oriundos das observações participantes.

PROCEDIMENTO
71

Como (1º) procedimento, a partir da apresentação e aprovação do Projeto,


implantou-se, a nova rotina na Unidade de Terapia Intensiva Adulto, ou seja,
permitiu-se o acompanhamento do familiar (previamente orientado) a permanecer
das 16h:00 às 18h:00 horas dentro da Unidade à beira do leito do seu ente enfermo;
(2º) Orientou-se equipe e estagiários de Psicologia Clínica, quanto a proposta
implantada; (3º) Após aprovação, da Administração, Direção Técnica e Equipe , foi
solicitada autorização dos familiares, pacientes e equipe para serem entrevistados,
antes do horário de visita. Entregue uma carta de apresentação, no qual foi
apresentado o título da pesquisa, o objetivo e foi solicitada a colaboração para
participar do estudo. Nesta carta estava explicado que o entrevistado poderia desistir
de participar do estudo a qualquer momento e que as informações seriam mantidas
em absoluto sigilo e anonimato e, por último, como (4º) procedimento, foi solicitada
autorização ao entrevistado para gravar a entrevista, que continha as perguntas
conforme anexos A, B e C.
Após a coleta de dados os mesmos foram transcritos e analisados segundo
a proposta de análise de conteúdo de Bardin (1995). Segundo este autor, a análise
de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, e organiza-se
em três pólos cronológicos: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento
dos resultados, a inferência e a interpretação.
Este tipo de análise propõe a codificação e a categorização do material
coletado. A primeira corresponde a uma transformação dos dados brutos do texto
que por recorte, agregação e enumeração permite atingir uma representação do
conteúdo; A segunda corresponde a uma operação de classificação de elementos
constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento
segundo o gênero, com os critérios previamente definidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a análise minuciosa dos dados coletados, seguindo Bardin (1995),


chegou-se a duas categorias de análise identificadas na pesquisa – “Intercâmbio
mutuamente contingente” e “Ressignificação do ambiente da UTI Adulto”, as quais
72

constituíram-se em fortes veículos de expressão da vivência dentro da unidade de


emergência.
Nas condições observadas, foi através das duas categorias que os aspectos
humanizantes de ressignificação do ambiente desta unidade de emergência,
manifestaram-se na mediação paciente/família e equipe, conforme os dados abaixo:

“Intercâmbio Mutuamente Contingente”

A categoria denominada Intercâmbio Mutuamente Contingente, encontrada


nas falas dos pacientes, familiares e equipe, nos mostra a partir dos dados coletados
com relação às posturas destes, que o que mais se observou foi o alto nível de
aceitação de todos eles quanto à permanência do familiar na UTI Adulto, como parte
do processo do cuidar. Outro aspecto observado referente à presença de um
membro da família próxima de seus parentes enfermos a beira do leito, foi à forma
como os acolhiam em suas necessidades, ajudando-os na recuperação do paciente.
Tais posturas estabeleciam uma visão de grande cumplicidade, de
contingência no processo de hospitalização e foi extremamente valorizado por eles,
o que se comprova através de seus comentários. Seguem-se alguns exemplos:

Familiar 1: “Eu poder entrar aqui na UTI me ajuda a me sentir mais útil,
posso até dizer do que ela mais gosta, ver como ela está sendo tratada. Eu quero
ficar perto dela , ela precisa de mim. Eu sinto que ajudo ela e ao mesmo tempo me
sinto aliviada por poder ficar perto” (Sic).

Os pacientes apontaram à permanência de seu familiar a beira do leito como


uma forma de ajudar, de transmitir afeto, segurança e tranqüilidade diante da
internação. Reconheceram que o fato de a família ficar presente mais tempo dentro
da UTI Adulto dava suporte emocional, pois diminuíam seu sentimento de
desamparo, de rompimento dos laços afetivos. O relato do paciente abaixo, retrata
de forma sintética, o significado que os laços afetivos e familiares representam na
internação.

Paciente 1: “A família aqui comigo é tudo. Sei notícias do meu filho, ele até
me mandou um bilhete pela minha esposa. To muito emocionado. Eu tenho certeza
73

de que agora vai ser mais fácil me recuperar, pois tenho alguém meu perto de mim,
não vou me sentir abandonado. Quero melhorar logo para ir para casa e tocar minha
vida” (Sic).

Na Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), o medo da morte está


diretamente relacionado ao afastamento familiar para Sebastiani (2002-a). Essa
separação é compreendida pelo paciente como fator gerador de insegurança e
medo, pois é permeada pelo stress. Assim, a ansiedade, a doença grave e o medo
de morrer são fatores que propiciam o desenvolvimento do sentimento de
isolamento do enfermo da sua família. A expressão desse sentimento é confirmada
na resposta a entrevista a seguir:

Paciente 4: “Isso que vocês estão fazendo eu nunca vi em lugar nenhum.


Me sinto mais tranqüila só em saber que à tarde alguém da minha família vai ficar
comigo, não vou me sentir tão só, sem poder falar o que estou sentindo. Sabe como
é, com gente da gente é diferente. Sabe, o pessoal daqui é bonzinho, mas não é a
mesma coisa, tu entende o que eu quero dizer, não é” (Sic).

A linguagem do meio ambiente reflete uma forma de perceber o real, num


dado tempo e espaço, apontando o modo pelo qual o sujeito apreende as
circunstancias em que vive, cumprindo desse modo, uma dupla função: De um lado
permite a comunicação, organiza e medeia a conduta; do outro lado, expressa o
pensamento e ressalta a importância reguladora dos fatores culturais existentes nas
relações sociais, afirma Quintino-Aires (2006). Esta assertiva encontramos na
seguinte fala:

Fisioterapeuta M: “A presença de um membro familiar na UTI ajuda o


paciente a expressar seu sentimento de medo frente á doença, falar sobre o que
está sentindo. Quando chego para atender e alguém da família está por perto, sinto
que eles começam a falar até de sua vida pessoal para mim, um confirmando o que
o outro diz, se desinibem mais e cooperam mais na terapêutica” (Sic).

Compreendemos que a presença afetiva e efetiva do familiar no projeto


terapêutico da UTI, promove a cura, na medida em que está favorecendo o
74

desenvolvimento de um processo interacional, através do intercâmbio e da


reciprocidade de sentimentos, gerado no relacionamento terapêutico
doente/família/equipe, pelo partilhamento o que leva ao alivio do sofrimento diante
da hospitalização.
Este partilhamento, segundo Quintino-Aires (2006), conseqüentemente, leva
o indivíduo a controlar a resposta impulsiva à estimulação externa e também o seu
comportamento. No levantamento desta categoria, também destacamos como
exemplos as falas da paciente 6 e da estagiária de Psicologia Clínica, quando
dizem:

Paciente 6: “Significa uma grande coisa para mim. Poder ter minha filha e
minha sobrinha mais perto de mim é um presente de Deus que estou tendo aqui no
Hospital, senão nem sei como eu ia agüentar o sofrimento. A gente doente já é uma
barra, imagina longe das pessoas que a gente gosta. Como é que vou te explicar, é
uma forma de me sentir mais segura, de saber que ela pode não estar aqui agora,
mas que daqui a pouco ela pode entrar” (Sic).

Estagiária de Psicologia J: “Eu acho que a família dentro do projeto


terapêutico ajuda muito, é muito válido e percebo na prática diária que os pacientes
ficam muito ansiosos esperando à hora do familiar poder entrar, para poderem ficar
juntos. Eles passam perguntando: Já ta na hora do meu parente poder entrar?” (Sic).

Nessa perspectiva, a presença e proximidade dos familiares com o enfermo,


possibilitaram um acompanhamento mais efetivo e adequado, humanizando o
ambiente, criando maneiras de auxiliar os enfermos, caracterizando uma forma de
demonstração de atenção bastante eficiente e facilmente notada por eles:
Constituiu-se uma forma de interação extremamente afetiva, que amenizava
a ansiedade, transmitia confiança e encorajava o doente a investir no processo de
enfrentamento da enfermidade, interferindo, significativamente no aumento de
qualidade de vida durante a hospitalização e na mudança de visão da própria
Instituição Hospitalar. Essa afirmativa pode ser representada pelo relato de um
membro da equipe, descrita a seguir:
75

Nutricionista R: “No conhecimento que eu tenho, a presença da família na


UTI é um fator muito importante para ajudar na melhora do paciente. A gente sabe
que somente eles é que tem informações importantes do paciente e a gente tenta
adaptar o máximo a prescrição dietética aos hábitos do paciente. Na questão
emocional a gente sabe que a proximidade do familiar é condicionante para a
melhora do estado psíquico do paciente, que se sente seguro. Do ponto vista da
família, percebemos que esta se sente mais segura a todo o tratamento que seu
familiar está recebendo, sem contar que se sente melhor acolhida pela instituição”
(Sic).

Encontramos na literatura, afirmativa de Silva (2000) o qual descreve que a


família, além de dar apoio ao paciente, também pode oferecer as informações
necessárias para um melhor cuidado, pois decodifica os gostos, manias, expressões
do familiar doente com restrições de comunicação verbal, e esses dados segundo o
autor, podem ser essenciais aos cuidados da enfermo dentro de uma Unidade de
Terapia Intensiva Adulto.
A frase a seguir, apontamento de Leal (1999) explicita e representa
significativamente a relação que esta pesquisa procura estabelecer entre a inserção
do familiar no Projeto Terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI) e a
amenização do sofrimento do paciente internado, quando afirma que: no momento
em que o familiar se torne participante, servindo como um mediador nas
compreensões e incompreensões partilhadas com o paciente nas situações de uma
hospitalização, a partilha contribui para a aprendizagem de estratégias nas ações de
enfrentamento e superação de conflitos surgidos devido à doença.
No relato da técnica de enfermagem, encontramos dados que reforçam esta
afirmativa:

Técnico de enfermagem M: “Eu acho ótimo para a evolução do paciente.


Eles sentem falta de saber de suas coisas, de sua casa, de seu quarto e até do seu
bichinho de estimação. A família aqui dentro possibilita a troca de informações, pois
o fato dela vir e eles saberem que podem voltar renova a esperança. Essa relação
permite que o vínculo do doente internado com suas coisas, com seu mundo não
seja cortado totalmente” (Sic).
76

O movimento de alternância recíproco de atos entre paciente/familiar


depende da percepção, da contingência da reação do outro ao próprio agir, como
afirma Quintino-Aires (2002), pois na medida em que cada um dos intervenientes
toma um lugar, os atos e os objetos a eles ligados, tornam-se instrumentos ou
mediadores da comunicação.
Nesse sentido, a qualidade das relações influencia os processos adaptativos
do paciente, possibilitando-lhe, através do ciclo ação-reação-ação, como diz ainda o
autor acima citado, a transformação gradual dos estímulos sem significado, em
significativos.
Para Guerra (2004), o humano como um ser biopsicossocial, necessita para
o seu desenvolvimento das trocas que estabelece com o meio (hospital), e é através
das relações que estabelece com os outros que vai evoluindo (ou não), pois se as
relações com seus cuidadores (familiares) não forem sentidas como significativas e
gratificantes, pode haver uma estagnação no desenvolvimento humano que vai
condicionar toda a estruturação do “EU”, podendo levar o paciente ao
desenvolvimento de um quadro de depressão mais sério, prejudicando o processo
de restabelecimento.
Essa afirmativa foi encontrada na fala do médico M, plantonista da unidade.

Médico M: “Tem seu lado positivo e negativo. O lado positivo é que os


pacientes são muito apegados ao seu parente e a presença ameniza a angústia da
separação; por outro lado, tem o lado negativo que a nossa UTI adulto é muito
pequena, não tem espaço suficiente e isto atrapalha um pouco na higienização,
mas nada que não se consiga contornar. Acho muito válido esta mudança na rotina
da UTI, pois a ausência do familiar deprime o paciente e isto prejudica na
terapêutica. Outro ponto que a presença do familiar ajuda muito, é na alimentação
do paciente, que é muito mais aceita quando é dada pela família” (Sic).

A família é determinante no desenvolvimento da afetividade, da sociabilidade


e do bem-estar físico e psíquico do indivíduo; é o espaço de proteção contra os
perigos do mundo exterior. O cuidador familiar diante da internação de seu parente
na UTI através de suas vivências e construção de um destino comum sente-se
comprometido pela experiência e valores unos a contribuir e proporcionar o
77

desenvolvimento de condições favoráveis do seu parente enfermo para o


enfrentamento da doença.
Pode-se inferir que, diante da perda da autonomia, de sua fragilidade diante
da doença e da hospitalização numa Unidade de emergência, o paciente necessita
da mediação de um parceiro contingente, para ajudá-lo em sua manutenção da vida.
A fala da paciente 8 exemplifica bem o enunciado:

Paciente 8: “A família poder ficar com a gente nos acalma, pois eles que
conhecem as manias da gente. Pensa bem moça, a gente aqui doente e sozinho no
meio de toda essa gente que a gente nunca viu, esse mundo de aparelho, é brabo.
Só quem ta aqui dentro pra saber como a família ajuda, entende a gente” (Sic).

A interação social conduz o desenvolvimento psíquico do paciente. Ela é


esse espaço para as trocas comunicativas que ocorrem no aqui-e-agora dentro da
unidade de internamento, onde determinados comportamentos do paciente e da
família são destacados e assumem significados que foram construídos em conjunto,
ao longo desse processo.
Da mesma forma, encontramos nas falas das famílias, sentimentos que
expressaram a importância que estes dão a proximidade como recurso para aliviar a
ansiedade de seu parente enfermo, para amenizar o desgaste dos mesmos durante
o período de adoecimento e auxiliá-lo com maior eficiência.

Familiar 8: “Minha mãe sempre foi muito nervosa, tem muito medo de ficar
só e eu sinto que quando estou por perto ela colabora mais com o tratamento, faz
até um esforço para falar comigo. Sabe, eu entendo o que ela quer me dizer” (Sic).

Também apareceu como benefício do intercâmbio mutuamente contingente,


quando os pacientes, escreviam ou liam para o familiar acompanhante, bem como
quando perguntavam alguma coisa, sobre sua casa, seu trabalho, seus filhos e
encontravam ressonância as suas ações e questionamentos em algum parente ali
contingente naquele momento.
Essa partilha de significados, conforme Quintino-Aires (2006) corrobora com
os trabalhos de Vygotsky e Luria (1999), na medida em os autores ressaltam que
78

uma função interpsicológica partilhada por duas pessoas, mais tarde se transforma
num processo intrapsicológico de organização da atividade humana.
Novamente reiteramos que este partilhamento, leva o indivíduo a controlar a
resposta impulsiva à estimulação externa e também o seu comportamento.
Consequentemente, esse processo intrapsicológico passa a ser determinado por
uma “rede semântica interna” que reflete, geralmente, a situação envolvente,
reformulando os motivos que estão na base do comportamento e dando o caráter
consciente à atividade humana.
Os dados revelaram que, na hospitalização, os gestos posturais expressam
grande parte da afetividade e contingência ao enfermo, embora a linguagem oral
predomine nas interações em nossa cultura. Encontramos em Montagu (1998),
afirmativas para os nossos achados na pesquisa, que os efeitos comportamentais do
tocar, do olhar e do ouvir, contribuem para a segurança, proteção e auto-estima de
uma pessoa, desenvolvendo vantagens em termos de saúde física e mental, sendo,
por conseguinte altamente terapêutico. A fala da paciente F representa muito bem o
enunciado acima:

Paciente 3: “Só o fato de sentir meu filho ao meu lado, agarrando a minha
mão, me olhando e conversando comigo, me dá esperança, me sinto com mais força
para suportar essa doença tão triste. Não precisa nem falar nada, eu só quero que
ele fique perto de mim” (Sic).

Assim sendo, o ato de sentar em frente ao paciente, olhar nos seus olhos,
fazer-lhe um carinho no rosto, segurar sua mão, ouvindo-o com interesse e
dedicação, bem como um diálogo, transmite-lhe confiança, permite o
estabelecimento de vínculos emocionais e otimiza conseqüentemente o
atendimento, sendo formas de humanização na Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI).
Os comentários dos pacientes evidenciaram que a qualidade da partilha
família/enfermo/equipe traz um sentido a situação de hospitalização, que propicia o
domínio dos sentimentos implicados na doença e no doente, além de influenciar na
recuperação deste.
79

As famílias, por sua vez, demonstraram a preocupação de encorajar seu


parente a investirem no enfrentamento da doença, confiando na capacidade de cada
um e fortalecendo a auto-estima.

RESSIGNIFICAÇÃO DO AMBIENTE DA UTI ADULTO

A ressignificação da UTI Adulto, revelada em forma de categoria, nos leva a


inferir que os protagonistas desta unidade de emergência, estão construindo uma
nova forma de perceber e tratar o paciente crítico e conseqüentemente
proporcionando uma nova concepção do que seja uma Unidade de Terapia Intensiva
Adulto (UTI).
Percebe-se através dos relatos que a proximidade entre os pacientes e
familiares, a partilha de significados, proporcionou através da interação a
ressignificação da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), uma vez que se
promoveu um ambiente que proporcionasse aos pacientes melhores condições de
bem-estar, respeito às integridades físicas, mentais e a valorização da afetividade.
Enquanto seres ativos, pacientes, familiares e equipe, ao se apropriarem
dessas linguagens, desses significados presentes na cultura da Unidade de Terapia
Intensiva Adulto (UTI) resignifica-os, conferindo-lhes um sentido próprio, e este novo
olhar para esta unidade somente poderá ser construído através de suas relações.
Essa categoria reúne depoimentos dos pacientes, familiares e equipe, que
expressam a cultura que permeia o entendimento dos implicados nesse processo a
respeito da ressignificação da internação em UTI Adulto após a mudança na rotina
hospitalar, com a abertura para o familiar como um membro do Projeto Terapêutico.

Estagiária de Psicologia E: “A presença do familiar no projeto terapêutico é


o fator que mais contribui para a ressignificação da UTI. Este local torna-se um
espaço de busca da cura, ao invés de ser visto como antigamente, como um local
em que a rotina interna era rígida, como um ambiente frio e de morte. Alguns
pacientes dizem que se sentem bem melhor com a presença do familiar, pois contar
com eles por perto, ajuda no restabelecimento deles e modifica a idéia que se tem,
de um lugar que depois que se entra não se sai vivo” (Sic).
As relações dialógicas, portanto, concretizam a história cultural da
humanidade, refletida nos diversos aspectos do ambiente físico, cultural e simbólico
80

que circundam o paciente (espaço físico, valores, atitudes, normas, etc.). Vygotsky
(1998) refere que cada pessoa negocia os significados que atribui ao outro, os que
lhe são atribuídos, além daqueles que são atribuídos como um todo, construindo a
noção de si mesmo e participando da construção da individualidade dos outros.
Nesse sentido, o confronto das concepções iniciais do mundo do paciente
em relação à Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), com aquelas apresentadas
pelos parceiros de seu ambiente, torna-se fundamental para a apropriação de
significados diferenciados que, dialógicamente, constituirão sentidos a serem
negociados.
Encontramos na fala do paciente F a construção de novos significados e
sentidos ao lidar com as suas necessidades e motivos dentro da Unidade de Terapia
Intensiva Adulto, quando este diz:

Paciente F: “O pessoal daqui é muito bom. Eles me tratam bem, me cuidam


bem e agora com meu filho mais perto, podendo entrar e ficar mais tempo do meu
lado, me sinto outra, nem parece que é uma UTI. É diferente de tudo aquilo que
sempre ouvi falar deste lugar. Só a gente estando aqui dentro é que pode dizer
como se sente quando se é acompanhado por alguém da gente. Mesmo que eu
saiba que ele não pode ficar comigo durante á noite, eu sei que amanhã pela tarde
ele vai chegar, vai conversar comigo, me trazer notícias de casa...” (Sic).

Bullowa (1979) e Schaffer (1977) reforçam que o processo de interação


social dialógico, compreende então a negociação de significados, o que confere ao
paciente um papel ativo na construção das relações dentro da unidade hospitalar,
independentemente de seu grau de autonomia ou idade. Afirmam também que a
qualidade dessa relação dialógica poderá alterar ou promover desenvolvimento de
recursos frente à doença.
Os pacientes demonstraram que o fato da Instituição Hospitalar ter
consciência da valorização e do entrelaçamento dos aspectos afetivos e biológicos
na terapêutica da doença, os levava a controlar e reverter sentimentos negativos,
como também explorar de maneira positiva essa situação de crise gerada na família
pelo adoecer, pois se sentiam compreendidos e acolhidos, conforme descreve o
paciente 9:
81

Paciente 9: “Eu tinha uma visão de UTI, como um local horroroso, mas vejo
que não é o que a gente pensava, é mais humano. Só o fato de a gente saber que
alguém da gente pode entrar, muda o astral, tirou o conceito de UTI como um lugar
triste, da gente ficar abandonado. Eu sei que ninguém gostaria de estar aqui como
eu estou, mas enfim é necessário, eu sei que é pro meu bem. Converso sobre isso
com minha esposa e ela faz eu entender que é passageiro, que em seguida
melhoro, vou pra casa, volto pro meu trabalho” (Sic).

Técnico de enfermagem 4: “Eu sou muito favorável a que a família faça


parte do Projeto Terapêutico, pois eu percebo que a ansiedade deles está diminuída.
Nem tem havido confusão com familiares na porta da unidade. Eles esperam com
tranqüilidade o momento de entrar. Sabem que vão poder ficar perto de seu parente,
que não vai ser aquela coisa de antes, como proibido. Parece que a UTI está
diferente, e não sou só eu que acho isso. Os pacientes e os familiares também
pensam da mesma forma. Mudou o clima” (Sic).

Nessa categoria, denominada de Ressignificação do ambiente da UTI


Adulto, se assume que o processo de Hospitalização é social. O foco desloca-se
para as interações e os procedimentos terapêuticos valorizam essa constatação na
pesquisa, que se tornam fundamentais numa Instituição que quer ser humanizada.
Bousso (1997) enfatiza que a Unidade de Terapia Intensiva é o local dentro do qual
a experiência e os valores surgem e interagem, colocando-se na dependência a
importância cultural e a influência da representação mental dessa experiência, que
envolve julgamento. Esse julgamento vai depender do contexto da unidade de
internação e da imagem mentalmente construída, pelos pacientes, pelos familiares e
pela equipe, o que irá refletir o contexto vivenciado.
O que se diz, como se diz em que momento e por quê; da mesma forma
que, o que se faz, como se faz em que momento e por que, afetam profundamente
as relações paciente/família/equipe, influenciando diretamente o processo de
hospitalização dentro da unidade de emergência.
O comportamento do familiar na UTI Adulto expressa suas intenções,
crenças, seus valores, sentimentos, desejos que afetam o paciente. Através dos
comentários desses enfermos, foi possível obter uma amostra de como vêem,
82

sentem e compreendem alguns aspectos do comportamento da família e a influência


destes na sua recuperação.
A partir dos dados, pôde-se concluir que existem transformações
importantes nas formas de expressão e mudanças significativas nos níveis de
exigência afetiva. As formas de expressão que utilizam exclusivamente o corpo,
como o toque, os olhares e as modulações da voz, vão ganhando maior
complexidade, como exemplo da fala da paciente abaixo:

Paciente 3. “Quando me colocaram aqui na UTI eu não me lembro, só sei


que quando me acordei, mesmo sem abrir os olhos senti uma mão macia que
segurava a minha e me dizia que tudo ia ficar bem. Logo no início entrei em pânico,
comecei a chorar, mas depois fui me acalmando porque me sentia segura com
aquela mão me dando energia. Era uma mão que passava carinho e me dava
esperança, nem parecia a UTI que sempre se ouve falar. Aqui é diferente” (Sic).

Adequar às rotinas da Instituição Hospitalar às possibilidades do paciente,


fornecer meios para que o mesmo vivencie a hospitalização confiando em sua
capacidade, demonstrar atenção às suas dificuldades e problemas, são maneiras
bastante refinadas de comunicação afetiva.
Os dados apresentados parecem confirmar que existiu um refinamento nas
trocas afetivas. Foi comum encontrar, nos depoimentos tanto dos pacientes,
familiares bem como da equipe da unidade de emergência, referências ao respeito,
à colaboração, à valorização de cada um e o desejo de compreender o outro,
levando a negociação de significados por meio das relações, os quais foram
transformados e ressignificados.

Familiar 4: “Sinto que minha presença é muito importante pro meu marido,
ele sempre foi muito nervoso, sempre teve tudo nas mãos e agora doente, ele
precisa muito mais, tu entende, né. Ele é muito vaidoso e eu procuro ajudar até no
banho dele, fazer a barba. Eu conheço ele, eu sei do que ele gosta...” (Sic).
Além disso, os membros da equipe e familiares demonstraram, através das
entrevistas, uma grande preocupação em trabalhar com sentimentos de ansiedade e
insegurança, que influenciam negativamente o processo de internação e a própria
mudança na dinâmica da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI).
83

Percebemos este sentimento na fala do enfermeiro D, quando entrevistado


sobre o que achava da Família no Projeto Terapêutico da unidade:

Enfermeiro D: “Entendo a importância do projeto, a mudança da rotina


como necessária, sei da importância da família para o paciente e por isso como
enfermeiro, vou fazer o possível para que de tudo certo. Conta comigo.
Temos um desafio pela frente, que é fortalecer este projeto e procurar
corrigir as falhas que encontrarmos. Te digo com certeza que já percebo diferença
no modo como pacientes e familiares se comportam dentro da UTI, pois nossa
dinâmica de funcionamento mudou, tornou-se mais humana, mais aberta. A
mudança na rotina dá trabalho, mas é importante que se mude. Inclusive a nossa
postura e rigidez” (Sic).

Foi possível inferir, a partir das entrevistas, que há discussões entre as


pessoas responsáveis pela unidade a fim de se planejar ações concretas para
amenizar os efeitos desarticuladores que tais sentimentos provocam diante do novo.
Os dados acima transcritos revelados apresentaram momentos onde se
destacou a preocupação da enfermagem em transmitir tranqüilidade aos pacientes e
familiares, favorecendo o processo de implantação dessa nova modalidade
terapêutica.
Os dados também demonstraram que a equipe atuava com o objetivo de
combater o excesso de ansiedade que surgia durante a entrada do familiar
acompanhante, buscando contagiá-los com sentimentos que tranqüilizavam,
encorajavam e fortaleciam-nos no período da permanência. Percebemos na fala da
técnica M, sintonia com esse sentimento:

Técnica de Enfermagem M: “Sempre que posso procuro ajudar o familiar


na preparação da sua entrada na unidade e até mesmo quando está aqui dentro eu
procuro conversar, deixar ele mais calmo que sinta que estou alí para ajudar. Sabe,
eles precisam muito de nós, porque muitos não tem muita coragem, ficam com medo
de entrar, ai a gente acalma. Eu sei o que é isto, pois já passei por isto, quando um
parente meu esteve internado. Não é fácil, mas com ajuda a gente consegue e eles
dizem que aqui é diferente, nem parece uma UTI Adulto” (Sic).
84

Vygotsky (1998) nos diz que é necessário que os meios utilizados pelo outro
(familiar, equipe) sejam transformados em recursos para o sujeito regular a sua
própria ação. Dessa relação nasce a auto-regulação, o que nos permite inferir que a
relação com o outro através das trocas afetivas é que promove a reorganização do
eu que esta em sofrimento diante da internação.
Medo, angústia, ansiedade e frustração são sentimentos que desgastam o
paciente e familiar. A serenidade e tranqüilidade da equipe da UTI Adulto auxiliaram
na redução ou até na eliminação desses sentimentos desagregadores, permitindo
que todos aderissem a essa terapêutica de forma mais amena, ou seja, sem muitos
conflitos e de forma mais afetiva e efetiva.
85

CONCLUSÃO

A implantação do Projeto Terapêutico na Unidade de Terapia Intensiva


Adulto (UTI) permitiu-nos concluir que:

a) O cuidador familiar é um grande coadjuvante no enfrentamento da


doença do paciente internado;

b) Uma função interpsicológica partilhada entre enfermo e familiar nesta


unidade de emergência, transforma-se em um processo intrapsicológico
que possibilita a organização do EU do mesmo e o leva a buscar
recursos mais favoráveis para suportar a doença na internação. Ela
humaniza o processo de hospitalização, além de promover a
ressignificação do ambiente, da cultura, das crenças e dos valores que
estão presentes nesta unidade hospitalar;

c) São estabelecidas interações dentro do ambiente da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI), com sentimentos de acolhimento, simpatia,
respeito, compreensão, aceitação e valorização do outro;

d) A permanência do cuidador familiar dentro desta unidade hospitalar


imprime uma outra dinâmica ao processo do cuidar, modificando
lentamente a cultura do ambiente da Unidade de Terapia Intensiva Adulto
(UTI), na medida em que os familiares participam para além dos
cuidados básicos, auxiliando no planejamento da assistência a ser
prestada, o que possibilita melhor qualidade de vida ao enfermo;

e) Identificamos que as crenças negativas relacionadas ao ambiente da


Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), ao paciente crítico e à
permanência da família dentro da unidade de emergência são
modificadas quando contam com o cuidador familiar como um aliado no
86

projeto terapêutico, sem necessariamente haver prejuízos na dinâmica e


rotina do Hospital;

f) A realidade vivida e sentida no Hospital Universitário - URCAMP, precisa


de mais métodos para sua implementação integral, posto que ainda não
está bem estabelecida. Implica reorganização do processo de trabalho
em níveis teóricos e práticos a médio e longo prazo;

g) A equipe técnica e de apoio da Unidade de Terapia Intensiva Adulto


(UTI), demonstra, através de suas posturas e seus dizeres, que buscam,
constantemente, compreender os meandros que surgem no processo de
apropriação de novos significados, relacionados com a mudança da
rotina da unidade. Entretanto, faz-se necessário preparar todos os
protagonistas deste cenário para lidarem melhor com essa nova proposta
terapêutica, pois o processo de humanização que, envolve mais que
permitir ou não a presença dos familiares por mais tempo dentro da
unidade de emergência;

h) Pretende-se propor ao Ministério da Saúde que se legitime, através de


um dispositivo legal, seguindo a nossa Constituição maior, a criação de
uma lei para o acompanhamento da família de forma mais efetiva na
Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI). Propomos também que sejam
respeitados os sentimentos dos pacientes e familiares frente à internação
em uma Unidade de emergência, assim como o fazem o Estatuto da
Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso, quando tratam em seus
artigos sobre os direitos do paciente frente à hospitalização e o direito a
um acompanhamento, mesmo que parcial, na unidade;

i) Conforme o resultado e dinamicidade do estudo realizado, sugerimos a


abertura de caminhos para novas pesquisas ou aprofundamentos sobre a
inserção do familiar como mediador no tratamento mais afetivo e efetivo
na unidade;
87

j) A Psicologia Sócio-Histórica, na Instituição Hospitalar, como abordagem


teórica, fornece subsídios teóricos, visão e compreensão para o
psicólogo, da importância da valorização da relação
paciente/família/equipe, dos significados pessoais e sócio-históricos
atribuídos ao ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), posto que
os mesmos estão diretamente ligados às dinâmicas de mudança e,
portanto, produzidos e compartilhados no processo de interação entre
todos estes protagonistas, como fruto de uma co-construção;

k) O modelo Clínico Relacional Dialógico oferece para o Psicólogo,


estratégias para lidar com esse processo de co-construção de relações
na Instituição Hospitalar, levando-nos a criar e possibilitar trocas
contínuas de ações, através do fluxo dinâmico de significados
(significações), entre familiares, enfermo e membros da equipe
multiprofissional da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI);

l) O Psicólogo Sócio-Histórico Relacional Dialógico realizou ações que


viabilizaram o entendimento e compreensão da interação na UTI Adulto
e, por conseguinte, o processo de internação nesse ambiente, passou a
tornar-se menos agressivo e traumatizante a seus usuários..
88

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100

ANEXOS
101

RELAÇÃO DOS ANEXOS

Anexo A – Entrevista Semi-Estruturada para o Familiar

Anexo B – Entrevista Semi-Estruturada para o Paciente

Anexo C – Entrevista Semi-Estruturada para a Equipe da Unidade de


Terapia Intensiva Adulto (UTI)

Anexo D – Termo de Consentimento para o Familiar

Anexo E – T ermo de Consentimento para o Paciente

Anexo F – Termo de Consentimento para a Equipe da Unidade de


Terapia Intensiva Adulto (UTI)

Anexo A
102

Entrevista Semi-Estruturada para o Familiar

1. O que significa para você a família poder participar do projeto terapêutico da


Unidade de Terapia Intensiva?

2. Você considera que o familiar no projeto terapêutico da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI) ajuda na minimização do sofrimento do paciente
internado dentro dessa unidade de emergência?

3. Você acha que o significado da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI),


como um local fechado, frio e de morte foi modificado com a presença do
familiar dentro da unidade?

4. Que sentimentos desperta em você à Unidade de Terapia Intensiva Adulto


(UTI), com o familiar participando no processo terapêutico?

5. Você considera que o familiar no projeto terapêutico da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI), prejudica na rotina dessa unidade hospitalar?

Anexo B
103

Entrevista Semi-Estruturada para o Paciente

1. O que significa para você a família poder participar do projeto terapêutico da


Unidade de Terapia Intensiva?

2. Você considera que o familiar no projeto terapêutico da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI) ajuda na minimização do sofrimento do paciente
internado dentro dessa unidade de emergência?

3. Você acha que o significado da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI),


como um local fechado, frio e de morte foi modificado com a presença do
familiar dentro da unidade?

4. Que sentimentos desperta em você à Unidade de Terapia Intensiva Adulto


(UTI), com o familiar participando no processo terapêutico?

5. Você considera que o familiar no projeto terapêutico da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI), prejudica na rotina dessa unidade hospitalar?

Anexo C
104

Entrevista Semi-Estruturada para a Equipe da Unidade de Terapia Intensiva


Adulto (UTI)

1. O que significa para você a família poder participar do projeto terapêutico da


Unidade de Terapia Intensiva?

2. Você considera que o familiar no projeto terapêutico da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI) ajuda na minimização do sofrimento do paciente
internado dentro dessa unidade de emergência?

3. Você acha que o significado da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI),


como um local fechado, frio e de morte foi modificado com a presença do
familiar dentro da unidade?

4. Que sentimentos desperta em você à Unidade de Terapia Intensiva Adulto


(UTI), com o familiar participando no processo terapêutico?

5. Você considera que o familiar no projeto terapêutico da Unidade de Terapia


Intensiva Adulto (UTI), prejudica na rotina dessa unidade hospitalar?

Anexo D
105

Termo de Consentimento para o Familiar

Prezado Familiar,

Sou estudante do curso de Especialização em Consulta Psicológica e


Psicoterapia do IPAF – Instituto de Psicologia Aplicada e Formação na cidade de
Bagé/RS, e, estou realizando minha monografia de conclusão de curso no Hospital
Universitário – Urcamp sob a orientação da Psicóloga Simone Marangoni, formadora
do referido curso. Esta monografia tem como título: “O Familiar no Projeto
Terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), e tem como objetivo
levantar os sentimentos e expectativas do paciente, do familiar e da equipe dessa
unidade de emergência em relação a inserção do familiar como membro do projeto
terapêutico.
Para dar prosseguimento ao estudo necessito de sua participação em forma
de entrevista, no período de internação de um familiar seu na unidade de
emergência. Portanto solicito sua opinião, a qual será mantida no mais absoluto
sigilo, respeitando a ética e a sua vontade em participar da mesma.
Os resultados deste estudo poderão eventualmente ser publicados, onde
será utilizado somente a casuística mantendo o mais rigoroso sigilo através da
omissão total de quaisquer informações que permitam identificação além de sexo e
idade.
Atenciosamente,

Maria Helena Marques Dias Simone Marangoni


Psicóloga – Aluna Orientadora CRP: 06/56505-2
CRP 07/1654

Anexo E

Termo de Consentimento para o Paciente


106

Prezado Paciente,

Sou estudante do curso de Especialização em Consulta Psicológica e


Psicoterapia do IPAF – Instituto de Psicologia Aplicada e Formação na cidade de
Bagé/RS, e, estou realizando minha monografia de conclusão de curso no Hospital
Universitário – Urcamp sob a orientação da Psicóloga Simone Marangoni, formadora
do referido curso. Esta monografia tem como título: “O Familiar no Projeto
Terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), e tem como objetivo
levantar os sentimentos e expectativas do paciente, do familiar e da equipe dessa
unidade de emergência em relação a inserção do familiar como membro do projeto
terapêutico.
Para dar prosseguimento ao estudo necessito de sua participação em forma
de entrevista, no período de internação de um familiar seu na unidade de
emergência. Portanto solicito sua opinião, a qual será mantida no mais absoluto
sigilo, respeitando a ética e a sua vontade em participar da mesma.
Os resultados deste estudo poderão eventualmente ser publicados, onde
será utilizado somente a casuística mantendo o mais rigoroso sigilo através da
omissão total de quaisquer informações que permitam identificação além de sexo e
idade.
Atenciosamente,

Maria Helena Marques Dias Simone Marangoni


Psicóloga – Aluna Orientadora CRP: 06/56505-2
CRP 07/1654

Anexo F
107

Termo de Consentimento para a Equipe da Unidade de Terapia Intensiva


Adulto (UTI)

Prezado Membro da Equipe,

Sou estudante do curso de Especialização em Consulta Psicológica e


Psicoterapia do IPAF – Instituto de Psicologia Aplicada e Formação na cidade de
Bagé/RS, e, estou realizando minha monografia de conclusão de curso no Hospital
Universitário – Urcamp sob a orientação da Psicóloga Simone Marangoni, formadora
do referido curso. Esta monografia tem como título: “O Familiar no Projeto
Terapêutico da Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI), e tem como objetivo
levantar os sentimentos e expectativas do paciente, do familiar e da equipe dessa
unidade de emergência em relação a inserção do familiar como membro do projeto
terapêutico.
Para dar prosseguimento ao estudo necessito de sua participação em forma
de entrevista, no período de internação de um familiar seu na unidade de
emergência. Portanto solicito sua opinião, a qual será mantida no mais absoluto
sigilo, respeitando a ética e a sua vontade em participar da mesma.
Os resultados deste estudo poderão eventualmente ser publicados, onde
será utilizado somente a casuística mantendo o mais rigoroso sigilo através da
omissão total de quaisquer informações que permitam identificação além de sexo e
idade.
Atenciosamente,

Maria Helena Marques Dias Simone Marangoni


Psicóloga – Aluna Orientadora CRP: 06/56505-2
CRP 07/1654

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