Você está na página 1de 2

Introdução à Teoria Polivagal

A Teoria Polivagal é fascinante. Ela oferece uma explicação sobre como nosso sistema nervoso autônomo (SNA) afeta
nosso comportamento, nossos pensamentos e a habilidade de nos conectarmos uns com os outros. Podemos dizer que,
na perspectiva da Teoria Polivagal, o estado do nosso SNA determina como agimos e reagimos em diversas situações.

Meu objetivo com este resumo é compartilhar de forma mais aprofundada alguns conceitos dessa teoria que estão por
trás da história do livro Meu amigo Vago. Com isso, espero também contribuir para que adultos e crianças encontrem
novas formas de lidar com o estresse e regular suas emoções. Os três conceitos fundamentais da Teoria Polivagal que
vou abordar aqui são: Neurocepção, Hierarquia e Corregulação.

Neurocepção é o termo cunhado por Stephen Porges, o criador da Teoria Polivagal, para nomear a forma como o SNA
capta informações. O SNA está constantemente captando informações de dentro de nossos corpos, do ambiente externo
e de nossas conexões com os outros. Isso ocorre sem que tenhamos consciência. Assim, para a Teoria Polivagal, nossos
pensamentos são determinados pelo estado do nosso SNA (que, por sua vez, é afetado pelas informações que chegam
até ele por meio da nossa Neurocepção). Na página 14 de Meu amigo Vago, a passagem em que a menina se assusta
com o barulho de um prato se quebrando e em seguida pensa se tratar de um monstro ilustra isso. De acordo com a
Teoria Polivagal, 80% das mudanças de estado do SNA seriam causadas pela Neurocepção. Isto é, nossas sensações
antecederiam nossos pensamentos, e não seriam causadas por eles.

A Teoria Polivagal propõe três estados do SNA, associados ao Vago Ventral, ao Simpático e ao Vago Dorsal. Você deve se
lembrar que esses são os nomes dos três personagens principais do livro Meu amigo Vago. Esses estados são ativados
em uma ordem específica, o que corresponde ao conceito de Hierarquia. Quando o SNA detecta uma ameaça, a primeira
resposta é dada pelo Simpático, que nos coloca no estado conhecido como “luta ou fuga”. Em Meu amigo Vago, isso é
exemplificado na página 19, quando a menina fica com medo da abelha. Dependendo do tipo de ameaça percebida pelo
SNA e das experiências de vida da pessoa, ela pode entrar no estado Vago Dorsal, que a coloca numa espécie de “modo
de economia de energia”, como acontece com a menina na página 25 do mesmo livro.

A autora Deb Dana usou a imagem de uma escada para ilustrar a Hierarquia entre os três estados do SNA (essa mesma
representação pode ser encontrada na página 31 de Meu amigo Vago). Na página 26, na passagem em que a menina está
desanimada, sem vontade de fazer nada, podemos dizer que ela está na “base” da escada (no estado Vago Dorsal).
Talvez você se lembre de que, nesse momento, ela vê seu brinquedo preferido jogado no chão. Quando ela se levanta e
vai em busca do brinquedo, podemos dizer que isso também representa o movimento de “subir a escada autonômica”
rumo ao bem-estar ligado ao Vago Ventral. Note, porém, que, por alguns instantes, ela sente raiva da mãe. A raiva é uma
característica de estado Simpático ativado. Assim, a menina sai do estado Vago Dorsal e vai para o Simpático, o “degrau”
intermediário dos estados do SNA. Depois de se envolver na brincadeira, ela volta a se sentir bem e calma, tendo atingido,
assim, o estado Vago Ventral, que corresponderia ao “topo” da escada.

As crianças precisam da presença dos adultos para aprender a regular seu sistema nervoso. Isso é exemplificado na
página 18 de Meu amigo Vago, quando a menina se acalma após levar um susto graças ao abraço que recebe da mãe.
Assim, podemos dizer que a Corregulação é fundamental, especialmente na infância. Com o passar do tempo, a
autorregulação se desenvolve. A Corregulação, no entanto, permanece como um recurso para toda a vida.

A regulação do sistema nervoso pode ser alcançada através de técnicas simples e variadas. Além da prática da respiração
lenta e profunda (ver página 21 de Meu amigo Vago), atividades como cantar, dançar, escrever, expressar-se
artisticamente em sentido amplo, ter interações sociais positivas, praticar atividades físicas, estar em contato com a
natureza e com animais de estimação podem ser aliadas nessa regulação. O que funciona melhor para cada pessoa
depende de fatores como idade, fase e contexto de vida, e também pode variar ao longo de um mês ou mesmo de um
dia. Descobrir o que funciona para você é uma questão de autoconhecimento e de experimentação. Quanto mais você
souber a seu respeito e maior for o seu repertório, melhor saberá escolher as ações apropriadas para subir na hierarquia
autonômica, conquistando mais calma e bem-estar.

Se você tiver alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito de Meu amigo Vago ou dos conceitos apresentados neste
documento, não hesite em enviar um email para info@danioxer.com. Além disso, se quiser receber mais dicas e
informações úteis sobre gerenciamento de estresse e regulação emocional com foco na Teoria Polivagal, te convido a
seguir o perfil @meuamigovago no Instagram.

Dani Oxer, Ph.D.

Bibliografia (apenas em inglês):

The Pocket Guide to the Polyvagal Theory: The Transformative Power of Feeling Safe by Stephen Porges

The Polyvagal Theory In Therapy: Engaging The Rhythm of Regulation by Deb Dana

Anchored by Deb Dana

The Polyvagal Flip Chart by Deb Dana

Befriending the Nervous System by Deb Dana

Você também pode gostar