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Notas de aula de PME 3361 – Processos de Transferência de Calor 188

AULA 20 – TROCADORES DE CALOR – MÉTODO DA


EFETIVIDADE - NUT

O método estudado de cálculo térmico de trocadores de calor estudado na aula anterior,


DMLT, é útil quando as temperaturas de entrada e saída dos fluidos frio e quente são
conhecidas. Porém, se mais de uma das temperaturas de entrada ou saída do trocador de
calor for desconhecida, o método DMLT é trabalhoso, necessitando de um método
iterativo do tipo tentativa e erro. Nesta aula, vamos ver um segundo método que
dispensa o conhecimento de todas as temperaturas. Trata-se do método da efetividade
() e número de unidades de transferência (NUT). Para isso, considere a seguinte
definição de efetividade:
troca de calor real q
  real
máxima troca de calor possível qmáx

Sendo que a máxima troca de calor possível é aquela que resultaria se um dos fluidos
sofresse uma variação de temperatura igual à máxima diferença de temperatura possível,
isto é, a temperatura de entrada do fluido quente menos a temperatura de entrada do
fluido frio. Este método emprega a efetividade  para eliminar a temperatura de saída
desconhecida e fornece a solução para a efetividade em termos de outros parâmetros
conhecidos ( m , c, A e U).
Seja a capacidade definida como C  m
 c . Então, pela 1a Lei da Termodinâmica, tem-
se:

qreal  Cq (Tqe  Tqs )  C f (Tfs  Tfe )

O que indica que o fluxo de calor cedido pelo fluido quente é aquele recebido pelo
fluido frio. A máxima troca de calor ocorre quando o fluido de menor C sofrer a maior
variação de temperatura possível, isto é,

qmáx  Cmin (Tqe  Tfe )

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Esta troca de calor seria conseguida num trocador de calor de contracorrente de área
infinita. Combinando as equações acima, obtém-se:

qreal   Cmin (Tqe  Tfe )

Trocador de Calor de Correntes Paralelas


Considere o trocador de calor simples de correntes paralelas como aquele da figura
abaixo:

As seguintes hipóteses simplificadoras são válidas:


1. O coeficiente global de transf. de calor U é constante ao longo de todo o trocador.
2. O sistema é adiabático; ocorre transferência de calor somente entre os dois fluidos.
3. As temperaturas de ambos os fluidos são uniformes numa dada seção transversal e
podem ser representadas pela temperatura de mistura.
4. Os calores específicos dos fluidos são constantes.
Note que são as mesmas hipóteses adoptadas para o cálculo de DMLT.
Combinando as equações acima, são obtidas as duas expressões para a efetividade:

Cq (Tqe  Tqs ) C f (T fs  T fe )
 
Cmin (Tqe  T fe ) Cmin (Tqe  T fe )

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Como o valor mínimo de C pode ocorrer tanto para o fluido quente quanto para o fluido
frio, existem dois valores possíveis para a efetividade:

Tqe  Tqs
Cq  C f : q 
Tqe  T fe

T fs  T fe
Cq  C f : f 
Tqe  T fe

Os índices de  indicam qual fluido tem o valor mínimo de C. Para um TC muito


grande ( A   )

Retomando a equação da DMLT, esta pode ser escrita em função de C da seguinte


maneira:

T2  1 1 
ln  UA    , (eq. da DMLT)
T1 
 mq cq m f c f 

Tqs  T fs  1 1 
 UA  
 Cq C f 
ln
Tqe  T fe  

Ou

UA  Cq 
Tqs  T fs  1
Cq  C f


e 
Tqe  T fe

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Se considerado que o fluido quente tem o valor mínimo de C, a partir da equação da


efetividade, obtém-se:

Tqe  Tqs Tqe  T fe  T fe  T fs  T fs  Tqs Tqe  T fe Tqs  T fs T fs  T fe


q     
Tqe  Tes Tqe  T fe Tqe  T fe Tqe  T fe Tqe  T fe

qreal
T T T  T fe Tqs  T fs Cf
 q  1  qs fs  fs  1 
Tqe  T fe Tqe  T fe Tqe  T fe qreal
 q Cq
Rearranjando,

 Cq  T  T fs
 q 1    1  qs
 C f  Tqe  T fe

ou

UA  Cq 
 1 
Cq  C f 
1 e 
q 
1  Cq / C f

Se o fluido frio tem o valor mínimo de C:

UA  C f 

 1
C f  C q 
1 e 
f 
1  C f / Cq

Ou generalizando:
UA  Cmin 
  1 
Cmin  Cmáx 
1 e

1  C min / C máx

Denomina-se Número de Unidades de Transferência (NUT) ao agrupamento:


UA
NUT 
Cmin

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Então temos para um T.C de corrente paralela:


 C 
 NUT  1 min 
1 e  C máx 

1  Cmin / Cmáx

Note que, para um evaporador ou condensador, C = Cmin/Cmáx=0, porque um dos


fluidos permanece numa temperatura constante, tornando seu calor específico (aparente)
efetivo infinito.

Outras Configurações
Expressões para a efetividade de outras configurações estão na seguinte tabela, em que
C = Cmin/Cmáx. NUT (na tabela NUT está escrito como NTU – number of transfer units).

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Exemplo

Uma fluxo de água de 0,75 kg/s entra num TC de tubo duplo, em contra-corrente, a
temperatura de 38 °C. A água é aquecida por um fluxo de óleo de 1,51 kg/s (cp=1,88
kJ/kgK) que entra no TC a 116 °C. Para uma área de 13 m² e U=340 W/m²K determinar
o fluxo de calor total transferido.

Solução:

Cágua = 0,75 x 4184 = 3138 W/oC = 3,138 kW/ oC


Cóleo = 1,51 x 1880 = 2838,8 W/oC = 2,8388 kW/ oC
Logo, Cmin = Cóleo
Então,
NUT = UA/Cmin = 340 x13/2838,8 = 1,557

C = Cmin/Cmax = 2838,8/3138 = 0,905

Da expressão ou do gráfico do TC em tubo duplo, em contra-corrente:

1 − 𝑒 −𝑁𝑈𝑇(1−𝐶) 1 − 𝑒 1,557(0,905−1)
𝜀= = = 0,627
1 − 𝐶 × 𝑒 −𝑁𝑈𝑇(1−𝐶) 1 − 0,905 × 𝑒 1,557(0,905−1)

qreal  qmax  0,627  2,8388  ( 116  38 )  138,8 kW

As temperaturas de saída das correntes quente e fria são obtidas da equação de


conservação de energia:

qreal 138,8
Tqs  Tqe   116   67,1C
Cóleo 2,8388
qreal 138,8
T fs  T fe   38   82,2 C
Cágua 3,138

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Correntes paralelas
Considere o mesmo TC, mas agora na configuração de correntes paralelas.

1  e  NUT 1C  1  e 1,55710 ,905


q    0,498
1  C  1  0,905

qreal  qmax  0,498  2,8388  ( 116  38 )  110,3 kW

qreal 110,3
Tqs  Tqe   116   77,0 C
Cóleo 2,8388

qreal 110,3
T fs  T fe   38   73,1C
Cágua 3,138

Exemplo – Continuação
Calcule o fluxo de calor do trocador de calor do exemplo anterior usando o método F-
DMLT da aula anterior. Admita as temperaturas de entrada do problema e as de saída
que foram obtidas para as configurações de contra-corrente e de correntes paralelas.
Comente.

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Solução

Contra-corrente Correntes paralelas


𝑇𝑞𝑒 = 116°𝐶 𝑇𝑞𝑒 = 116°𝐶
𝑇𝑞𝑠 = 67,1°𝐶 𝑇𝑞𝑠 = 77,0°𝐶
𝑇𝑓𝑒 = 38°𝐶 𝑇𝑓𝑒 = 38°𝐶
𝑇𝑓𝑠 = 82,2°𝐶 𝑇𝑓𝑠 = 73,1°𝐶
∆𝑇1 = 𝑇𝑞𝑒 − 𝑇𝑓𝑠 = 116 − 82,2 = 33,8°𝐶 ∆𝑇1 = 𝑇𝑞𝑒 − 𝑇𝑓𝑒 = 116 − 38 = 78°𝐶
∆𝑇2 = 𝑇𝑞𝑠 − 𝑇𝑓𝑒 = 67,1 − 38 = 29,1°𝐶 ∆𝑇2 = 𝑇𝑞𝑠 − 𝑇𝑓𝑠 = 77,0 − 73,1 = 3,9°𝐶
33,8 − 29,1 78 − 3,9
𝐷𝑀𝐿𝑇𝑐𝑐 = = 31,4°𝐶 𝐷𝑀𝐿𝑇𝑐𝑝 = = 24,7°𝐶
33,8 78
𝑙𝑛 (29,1) 𝑙𝑛 (3,9)

𝑞𝑐𝑐 = 𝑈 × 𝐴 × 𝐷𝑀𝐿𝑇𝑐𝑐 𝑞𝑐𝑝 = 𝑈 × 𝐴 × 𝐷𝑀𝐿𝑇𝑐𝑝


= 340 × 13 × 31,4 = 340 × 13 × 24,7
𝑞𝑐𝑐 = 138,8𝑘𝑊 𝑞𝑐𝑝 = 109,2 𝑘𝑊

Comentários
(1) Nas configurações contra-corrente e correntes paralelas os valores do fluxo de
calor são os mesmos, como era de se esperar. A diferença (110,3 e 109,2 kW) no
caso de corrente paralela se deve pelo número de casas decimais usadas.
(2) Evidentemente, esse era um resultado esperado, pois os dois métodos são
equivalentes e devem levar ao mesmo resultado.
(3) Note que, em geral, a configuração de contra-corrente tem uma capacidade
maior para a mesma carga térmica de trabalho, mantidas as demais condições
operacionais.

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