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The Heiresses

As Herdeiras

SARA SHEPARD
Tradutores
Matheus Martins
Ivana
Manoel Alves
L .G.
Lua Moreira
Andressa Lane

Revisores e Formatadores
Sinopse
A única coisa mais perfeita do que um solitário da Saybrook é a família por trás
do império de diamantes. Beldades, empresários, debutantes e especialistas, os
Saybrooks são o epítope da alta sociedade. Qualquer um mataria para ser um deles.
Mas tenha cuidado com o que desejas, porque se você fosse um Saybrook, você ficaria
assombrado pelos segredos e atormentado pelos sombrios golpes de sorte. Uma
tragédia atinge a família proeminente mais uma vez em uma bela manhã de maio,
quando Poppy, de 34 anos, a Saybrook mais notável de todas, atira-se da janela de seu
escritório.

Todo mundo fica chocado que alguém tão perfeita tenha acabado com sua
própria vida — até que suas primas recebem um aviso sinistro: Uma herdeira caiu,
faltam quatro. Foi suicídio... ou assassinato? E quem será a próxima: Aster, a bela,
mas imprudente garota que nunca trabalhou um dia em sua vida e que está guardando
o mais escuro segredo de seu pai. Sua irmã mais velha, Corinne, cujo futuro
meticulosamente planejado está prestes a desabar à sua volta. Talvez seja Natasha, a
ovelha negra da família, que de repente se deserdou há cinco anos atrás. Ou talvez a
perpetuamente solteira Rowan, que tinha mais a ganhar com a morte de sua prima. Um
suspense emocionante e muito esperado sobre herdeiras que devem descobrir a verdade
sobre sua família obscura antes de perder a única coisa que o dinheiro não pode
comprar: suas vidas!
Árvore da Família
Epígrafo
Se caímos pela ambição, sangue, ou luxúria,
como diamantes seremos cortados com a nossa própria poeira.
—JOHN WEBSTER
Prólogo
Traduzido por I&E BookStore

V
ocê conhece os Saybrooks. Todo mundo conhece. Talvez você já tenha
lido um perfil deles na People ou na Vanity Fair, visto suas fotos nas
páginas sociais da Vogue e o Sunday Styles do New York Times. Ao
caminhar ao longo de um bloco privilegiado na Quinta Avenida, você ficou
tentado a entrar no edifício ornamentado de calcário com o nome da família deles
gravado no frontão acima da porta. No mínimo, você fez uma pausa em seus
anúncios, nas fotos do rosto deslumbrante de Aster Saybrook emolduradas por
uma galáxia de bugigangas, os diamantes tão impecáveis e claros que até mesmo
suas imagens brilhantes o deixava tonto. Eles deixam você tonto também, os
Saybrook são uma família de beldades, empresários, debutantes, especialistas e
vagabundos, o tipo de pessoas para quem as portas se abrem e mesas de
restaurante ficam disponíveis. Se você mora em Nova York e acontecer de ter um
vislumbre deles fazendo algo normal, como caminhar até o escritório na parte da
manhã ou contornando o Reservatório em uma corrida à noite, você se sente
como se tivesse acabado de ser tocado por um raio de sol, uma varinha mágica,
um golpe de sorte. Eles são meio parecidos comigo, você pensa.
Só que eles não são. E tome cuidado com o que deseja, porque se você
fosse um Saybrook, você ficaria assombrado pelos segredos tão profundos quanto
uma mina e atormentado por uma onda de sorte tão obscura. Você teria que ir a
um monte de funerais também. Tão emocionante quanto a vida em família pode
ser, eles também têm de lidar com um monte de morte.
Dez carros de passeio altamente polidos estão ociosos na frente da
Catedral de St. Patrick, na clara manhã de setembro do funeral de Steven Barnett,
e pelo menos mais cinco havia estacionado na esquina da Rua Fiftieth. Os degraus
da igreja tinham sido varridos, os corrimões exalavam um alto brilho, e até mesmo
os pombos tinham encontrado outro lugar para o poleiro. A atividade na calçada
do outro lado da rua continuava em ritmo acelerado. Havia tantas pessoas que eles
pareciam mover-se em um lenço de seda longo e colorido. Mas quando as portas
dos carros de passeio abriram simultaneamente em um balé perfeitamente
coreografado, todo o movimento parou e a observação estupefata começou.
Edith, a matriarca venerável da dinastia Saybrook, já estava dentro da
igreja, juntamente com seus filhos. Agora era a vez da geração mais jovem sair da
escuridão fria de seus carros para o flash de câmeras e as multidões gritando. A
primeira a surgir foi Poppy Saybrook, de vinte e nove anos de idade,
perfeitamente estilosa em um vestido tubinho preto Ralph Lauren e mostrando
um grande anel de noivado de diamantes — um Saybrook, naturalmente. Seu novo
noivo, James Kenwood, arrastou-se atrás dela lançando sorrisos despretensiosos
para todo mundo no meio da multidão, especialmente para as mulheres.
Em seguida foram as primas de Poppy, as irmãs Corinne e Aster. Embora
Corinne parecesse impecável em um vestido preto e saltos cinza claro, sua pele
estava pálida, e seu equilíbrio parecia um pouco anormal. Dizia-se que seu
namorado, Dixon Shackelford, tinha partido seu coração no início do verão.
Talvez fosse por isso que ela tinha feito uma transferência de um ano para Hong
Kong como uma ligação de negócios dos Saybrook. Falavam que ela estava
partindo no dia seguinte.
Aster usava um vestido que poderia ter se passado por uma lingerie, com
um cabelo loiro despenteado. Com dezoito anos de idade, ela tinha passado o
verão modelando na Europa, e não levantou os óculos Dior de seus olhos
enquanto abraçava Poppy. Talvez ela tivesse passado a noite chorando. Ou, mais
provavelmente, festejando.
A porta bateu no canto quando Rowan, de vinte e sete anos de idade, a
mais nova advogada da Saybrook local, parou na calçada. Seus dois irmãos,
Michael e Palmer, não estavam presentes, eles não tinham aderido aos negócios
da família e não conheciam Steven. Rowan olhou para suas primas, então recuou
quando ela avistou Poppy e James. Seus olhos azuis e seu nariz estavam
vermelhos. Ninguém tinha percebido que Rowan e Steven Barnett eram
próximos... ou ela estava chateada com mais alguma coisa?
E, finalmente, Natasha Saybrook-Davis, de dezoito anos de idade, correu
da parada do metrô na Fifty-Third, com uma confusão selvagem de cachos escuros
presos fora de seu rosto, seus lábios torcidos em uma careta grosseira. As outras
primas olharam cautelosamente, ninguém sabia ao certo o que dizer. O fato de
que Natasha tinha recentemente deserdado a si mesma tinha sido objeto de muita
especulação. Por que uma das herdeiras da América desistiria de sua fortuna?
Flashes estouraram. Poppy sombreou seu rosto oval de ossos finos com
sua bolsa Chanel acolchoada. Aster fechou os olhos, parecendo positivamente
verde. Depois de um momento, Poppy, Aster, Corinne e Rowan apertaram as
mãos. Esta era a primeira vez que elas estavam juntas desde que Steven foi
encontrado nos cardumes da propriedade de verão da sua família em
Meriweather, uma ensolarada ilha ao largo da costa de Martha Vineyard, uma
semana antes, após a sua festa anual de fim de verão. Este ano eles celebraram a
promoção de Poppy como a presidente da empresa.
— Com licença? — disse alguém atrás das quatro mulheres.
Elas se viraram e olharam para o rosto corado e ávido de uma repórter.
Um cinegrafista em jeans e uma camiseta dos Yankees estava atrás dela.
A mulher abriu um grande sorriso. — Amy Seaver, Canal Dez. Quão bem
vocês conheciam Steven Barnett?
Corinne abaixou a cabeça. Poppy moveu-se sem jeito. Rowan enrolou os
punhos.
Amy Seaver mal piscou. O cinegrafista se inclinou. — É estranho — a
repórter continuou. — Primeiro o seu avô, que dirigia o império dos Saybrook, e
agora o seu protegido, o homem que estava espalhando boatos sobre ser o
próximo na fila para o cargo...
Rowan franziu o cenho. — Se você está tentando conectar as duas mortes,
você não deve. Nosso avô tinha noventa e quatro anos. Não é exatamente a
mesma coisa.
— E Poppy foi nomeada a presidente, não Steven — Corinne saltou,
apontando para sua prima. Mason, o pai de Corinne e o diretor executivo da
empresa, tinha tomado a decisão de última hora, dizendo que queria “manter as
coisas na família”. Foi uma grande surpresa, mas todos sabiam que Poppy estava à
altura do desafio.
A repórter as acompanhou enquanto elas caminhavam em direção à
igreja, Natasha alguns passos atrás do resto das primas. — Sim, mas o Sr. Barnett
não remou para Harvard, e surfou em Galápagos? Vocês não acham que é
estranho ele ter se afogado em águas rasas?
Rowan estendeu a mão aberta em direção à câmera.
— Sem comentários — Poppy disse rapidamente, em seguida, empurrou
Rowan e as outras em direção à igreja. — Tentem ficar juntas — ela sussurrou.
— Você sabe onde ela está querendo chegar, no entanto — Rowan
sussurrou.
— Eu sei, eu sei — respondeu Poppy. — Mas apenas deixe para lá, ok?
Era algo que elas nunca gostavam de pensar — sobre a maldição da
família. A mídia inventou o conceito há muito tempo, e oh, como eles adoravam
isso — havia até um site feito anonimamente chamado de Abençoados e
Amaldiçoados que documentava as calamidades e as desgraças dos Saybrook, e
recebia milhares de visitas por dia. Ninguém conseguia o suficiente da lendária
família americana que era tão abençoada com a fortuna e a beleza, mas
amaldiçoada com uma sequência de mortes súbitas e misteriosas.
Quando as meninas eram pequenas, a maldição tinha sido a sua história
de fantasmas quando acampavam no quintal de sua família em Meriweather. Tudo
começou, elas começavam, com lanternas posicionadas sob o queixo, quando a
tia-avó Louise caiu de uma varanda em uma festa de Ano Novo. Ela caiu vinte
andares, segurando seu martini o tempo todo. Depois de Louise, um tio-avô foi
pisoteado em uma partida de pólo. Em seguida, o avião de um primo de segundo
grau se perdeu no mar. Sua tia, Grace, agora divorciada e a mais jovem dos filhos
de Edith e Alfred, teve um filho que foi sequestrado em seu quintal.
Embora Steven Barnett não fosse tecnicamente um Saybrook, parecia que
ele era. Alfred, que estava sempre à procura de novos talentos, tinha arrancado
Steven direto da Harvard Business School quase quinze anos atrás, impressionado
com sua perspicácia empresarial e equilíbrio. Steven era eficiente e brilhante, com
uma mente de negócios afiada e um talento especial para relações públicas, capaz
de falar sobre qualquer coisa, desde a mais quente bugiganga de diamante, das
férias até o futuro da mineração socialmente responsável. Ele subiu de postos de
forma rápida, constantemente presente em Alfred, na casa da cidade de Edith ou
na praia da ilha da família nos longos fins de semana, tornando-se um conselheiro
de confiança e filho honorário. Agora, ele tinha sofrido o mesmo destino de todos
os outros Saybrook, reivindicado pela grande nuvem cinza que seguia a sua
família. Sim, o seu afogamento nas águas rasas da marina era estranho. Mas o nível
de álcool no sangue de Steven tinha sido muito alto, e a polícia tinha considerado
um trágico acidente.
A repórter finalmente ficou para trás, e as primas continuaram até a
catedral. Um organista tocava uma fuga de Bach, e um banco vazio esperava pelas
primas perto da frente da igreja. No primeiro banco a esposa de Steven, Betsy,
enxugava os olhos cinzentos, apesar de sua dor parecer ensaiada. Seus irmãos
sentaram lado a lado, como versões em espelhos de parque de diversões do
falecido. Duas mulheres de cabelos vermelhos estavam na frente do caixão com as
mãos postas em oração. Uma delas usava uma pulseira de diamantes que as
mulheres Saybrook reconheceram imediatamente.
— Danielle? — disse Corinne.
A mulher se virou, sua expressão mudando. — É tão horrível — ela
sussurrou.
Aster avançou para longe, mas Corinne puxou Danielle para um abraço.
Danielle Gilchrist era filha dos caseiros da propriedade em Meriweather, e ela
tinha estado tanto tempo em torno delas quando eram crianças que ela era
praticamente da família. Ela e Aster tinham sido as mais próximas — Aster lhe dera
a pulseira, embora Aster recusou-se a olhar para ela agora. A mãe de Danielle,
Julia, estava ao lado de sua filha, vestida com uma capa preta que mostrava sua
figura esbelta. Embora tivesse quase cinquenta anos, com seu físico esbelto e o
mesmo cabelo vermelho impressionante da sua filha, ela quase podia se passar por
irmã de Danielle.
— Eu ainda não posso acreditar que ele se afogou — disse Danielle quando
Natasha se aproximou do grupo.
Natasha colocou a mão sobre o caixão. — É uma explicação conveniente —
ela murmurou, — dado a tudo o que aconteceu naquela noite.
Poppy virou a cabeça. Aster apertou os lábios, parecendo surpresa.
Corinne visivelmente empalideceu. Até mesmo Rowan parecia nervosa. Elas não
tinham exatamente falado sobre o que elas estavam fazendo na noite que Steven se
afogou, muito menos do que tinha acontecido naquele verão. Talvez tivesse havido
muitas outras coisas para se discutir, ou talvez elas tivessem evitado isso de
propósito.
Julia tocou o braço de Danielle. — Vamos lá — disse ela bruscamente. —
Vamos deixá-las em paz.
O organista começou o compasso de abertura de “So My Sheep May
Safely Graze” e todas elas tomaram seus assentos. Apoiando a sua avó, Edith, o
padre caminhou lentamente pelo corredor. Ele agarrava sua mão enrugada e cheia
de diamantes, embora ela continuasse tentando afastá-lo. Apesar da umidade
dentro da igreja, Edith puxou seu casaco de pele de marta ainda mais apertado em
torno dela, como se fosse um imobilizador para prender o pescoço no lugar. Ela
empurrou seus grandes óculos redondos e escuros mais acima do rosto e sorriu
friamente para os enlutados.
Quando ela alcançou seu banco, Edith deu a cada uma de suas netas um
beijo breve. — Todas vocês estão lindas.
Então, ela sentou-se, cruzando as pernas na altura dos tornozelos finos, e
cruzou as mãos no colo, como se ela assumisse que todos os olhos estivessem
sobre ela. E, provavelmente, estavam. Ela sempre deu a suas netas um conselho:
Vocês, minhas queridas, são as herdeiras. Lembrem-se disso, sempre. Porque
ninguém nunca vai esquecer.
As meninas eram o futuro dos Diamantes Saybrook, e elas tinham que
agir em conformidade. Elas tinham que viver suas vidas com o máximo de decoro,
sorrir para as câmeras, falar várias línguas, obter muitos diplomas, cultivar a arte da
conversa, e, o mais importante, abster-se de fazer qualquer coisa que possa trazer
escândalos sobre a família.
E ainda assim elas faziam. Todas elas. Tinha sido um verão de segredos.
Segredos que as separaram e as fizeram se manterem firmes — segredos que ainda
não tinha dito uma a outra. À medida que olhavam ao redor da catedral, cada uma
delas de repente temeu um raio de cima. Elas eram as herdeiras, certo, as
princesas brilhantes de uma família que podia ou não ser amaldiçoada. Mas para
os padrões de Edith, elas não tinham se comportado como herdeiras de jeito
algum.
E era só uma questão de tempo antes que o mundo descobrisse.
Cinco Anos Depois
1
Traduzido por Matheus Martins

E
m uma manhã no final de abril, com chuva manchando as vidraças,
lavando a sujeira das calçadas e diminuindo o tráfego em cada bloco em
Nova York, Corinne Saybrook, de vinte e sete anos de idade, estava
descalça em um vestiário, falando em seu celular em um turco rápido e preciso.
— Então nós temos permissão para estabelecer o escritório de ligação? —
Corinne perguntou a Onur Alper, seu contato na filial turca da Direção Geral de
Investimentos Estrangeiros, a quem ela tinha conhecido na última vez que tinha
visitado.
— Sim, todos os documentos estão em vigor — respondeu o Sr. Alper,
com o crepitar da conexão telefônica. — Nós ainda vamos precisar de você para
registrar com a administração fiscal, mas a Saybrook Internacional está liberada
para criar uma filial de sua empresa na República da Turquia. Parabéns a você e
sua empresa, senhorita Saybrook.
— Muito obrigada — disse Corinne sem dificuldade, adicionando uma
saudação antes de desligar o telefone. Ela sorriu para seus pés, sentindo a
satisfação da vitória. O império de joias da sua família era um dos varejistas mais
importantes do país, tanto para as massas quanto para os fabulosamente ricos, mas
o trabalho de Corinne era torná-lo o número um do mundo.
Então ela olhou para si mesma, quase assustada ao ver onde ela estava, e o
que ela estava usando. Ela estava vestida com um vestido Monique Lhuillier
marfim. O tecido de renda Chantilly agarrava-se a seu corpo, acentuando sua pele
de porcelana. A bainha terminava ordenadamente no chão na frente e derramava-
se em uma cauda longa e romântica na parte de trás. Um colar de diamantes, um
empréstimo da coleção particular da família dela, brilhava em sua garganta, as joias
frias pesando contra sua pele. Hoje era a prova final para seu vestido de noiva.
Corinne já tinha cancelado várias vezes por causa das obrigações do trabalho, mas
como o casamento era em um mês, o tempo estava se esgotando.
Houve uma batida na porta do vestiário. Poppy, prima e dama de honra
de Corinne, enfiou a cabeça dentro, vestida com uma camisa clássica branca, um
casaco cáqui, calça preta skinny e um par de botas Hunter vermelho brilhante que
só Poppy poderia usar. Poppy tinha crescido em uma fazenda em Berkshire,
gastando tanto tempo escolhendo frutas silvestres e vacas leiteiras quanto
aprendendo francês e jogando tênis.
— Está tudo bem, querida?
Corinne se virou para ela e deu-lhe um sorriso exuberante.
— Eu acabei de garantir o escritório de ligação na Turquia — disse ela
animadamente.
— Isso é maravilhoso. — Os cantos da boca de Poppy se aliviaram em um
sorriso. — Embora você tenha permissão para fazer uma pausa, você sabe. —
Poppy olhou para o vestido de Corinne e quase desmaiou. — Lindo. Vamos lá.
Vamos mostrar as outras. — Mas antes de ela levar Corinne para fora do vestiário,
Poppy tocou em seu braço, sua expressão mudando para preocupação. — Eu
queria te perguntar uma coisa — ela disse em voz baixa. — Amanhã é primeiro de
maio. Como você está... se sentindo?
Corinne sentiu seu estômago revirar e desviou o olhar. Ela estava prestes a
dizer que estava bem. Mas então ela sentiu uma sensação picante por trás de seus
olhos.
— Às vezes eu queria ter contado a ele — ela desabafou. — Parece tão
egoísta eu não ter contado.
Poppy agarrou as mãos de Corinne.
— Oh, querida. — Um olhar receoso atravessou seu rosto. — Você sabe
que ainda há tempo.
Corinne se endireitou e olhou-se no espelho de três vias. A pele dela
estava corada, os olhos um pouco dilatados.
— Esqueça que eu mencionei isso, ok? Eu não posso nem acreditar que
eu disse isso.
Ela pegou o celular do banco no canto quando Poppy recolheu sua cauda.
Sua mãe, Penelope, e sua planejadora de casamento, Evan Pierce, sentavam-se em
um divã de marfim no salão principal. Ambas as mulheres se viraram ao som do
farfalhar da saia de Corinne. Penelope levantou-se e caminhou trêmula até o outro
lado da sala — ela teve um acidente de esqui em Colorado naquele inverno e
ninguém tinha visto o que a atingiu. Foi apenas mais um incidente da maldição
Saybrook. A imprensa teve um dia de campo com isso, especialmente porque era
de conhecimento comum que o pai de Corinne, Mason, deveria estar no avião
particular que tinha caído dois anos antes, matando os pais de Poppy e o piloto.
Ele tinha cancelado no último minuto para participar de uma reunião de trabalho.
Dois quase acidentes aconteceram com o patriarca Saybrook e sua esposa em
poucos anos.
Penelope pegou as mãos de Corinne.
— Querida. — Ela alisou o cabelo de Corinne, mexeu nas tiras de renda
sobre o vestido, e depois recuou. — É simplesmente lindo.
Corinne assentiu, provando o batom de cera que ela tinha acabado de
aplicar alguns minutos atrás. Ela não deixou de notar que sua mãe tinha dito que o
vestido era lindo, não Corinne.
Bettina, costureira da Lhuillier, sorriu com orgulho.
— As alterações ficaram perfeitas — ela murmurou.
Evan inspecionou o vestido também.
— Ficou bom. E bonito — ela disse em sua voz nasal, seu cabelo preto sem
corte caindo em suas feições nítidas.
Poppy abanou a cabeça.
— Você é tão difícil de agradar.
Evan deu de ombros, mas Corinne sabia que esse era apenas o melhor
elogio que Evan poderia dar. Ela era uma velha colega de quarto de Poppy do
internato; Corinne nunca havia falado com ela, mas ela era uma das melhores na
indústria de casamentos de Manhattan, fazendo do seu jeito mesmo que ela tivesse
que intervir em algumas pedicures ao longo do caminho. Corinne apreciava essa
ferocidade. Evan também manteve em segredo todos os detalhes sobre o
casamento de Corinne dos repórteres raivosos e dos blogueiros, até mesmo dos
gênios anônimos por trás do Abençoados e Amaldiçoados.
Bettina afofou a saia de Corinne e encontrou seu olhar no espelho. —
Então. Qual é a sensação de ser a noiva do casamento do século? — Sua voz forte
e com sotaque estava rica com admiração.
Um sorriso ensaiado apareceu no rosto de Corinne. — Por favor. O século
apenas começou.
— Sim, mas é Dixon Shackelford. — Bettina estremeceu de prazer.
Corinne empurrou o cabelo loiro-sujo atrás das orelhas. Ela estava com
Dixon desde o seu segundo ano em Yale. Bem, com exceção de um verão, logo
após a formatura — mas Corinne sempre tinha gostado de uma história com um
final feliz, e ela tinha nitidamente cortado esse interlúdio de sua história pessoal.
Sua mãe era britânica, seu pai texano, e o próprio Dixon era o sonho de sua mãe
se tornando realidade, um sangue azul em ambos os continentes, herdeiro da
fortuna do Petróleo Shackelford, excessivamente afável.
Bettina levantou o véu de Corinne de sua caixa azul-escura sobre um
aparador próximo.
— E agora você será uma princesa!
Corinne acenou com a mão.
— Não há muita chance disso. A mãe dele é a quarta prima da rainha duas
vezes removida. Ou algo assim — disse Corinne, sentindo que tinha que adicionar
ou algo assim mesmo que ela soubesse exatamente onde a mãe de Dixon estava na
árvore da família real.
Bettina pôs as mãos nos quadris.
— Isso faz de você mais princesa do que qualquer uma de nós. Agora,
deixe-me ver esse anel de novo.
Corinne estendeu a mão. Dixon tinha lhe dado um conjunto de grandes
diamantes amarelo-canário em platina — uma homenagem à Corona Diamante, a
primeira pedra que seu amado avô, Alfred, tinha adquirido quando ele lutou na
Segunda Guerra Mundial. Antes disso, Alfred tinha possuído uma loja de joias
incipiente em Boston, mas a aquisição da Corona tinha lançado o negócio em uma
nova estratosfera.
— Impressionante — Bettina jorrou, olhando para o anel. Em seguida, ela
prendeu o véu sobre a cabeça de Corinne. Poppy subiu para ajudar, e juntas elas
puxaram o véu sobre os olhos de Corinne e deixaram trilhar na frente de seu
rosto. — É assim que Dixon vai vê-la no dia do seu casamento.
O dia de seu casamento. O sorriso de Corinne vacilou um pouquinho.
Com toda a pompa e a circunstância, Corinne às vezes esquecia que este não era
outro evento do comitê de caridade que ela estava organizando, e sim que ela
estava realmente se... casando.
Antes que ela pudesse deixar a ficha cair, a porta do salão se abriu,
trazendo consigo uma rajada de vento e algumas pitadas de chuva. Uma mulher
em um casaco preto estava na porta, lutando com um guarda-chuva às avessas. Ela
lutou com os raios de metal e o tecido frágil, uma onda fina de fumaça de cigarro
aparecendo sobre sua cabeça. — Filho da puta — ela resmungou, finalmente
jogando o guarda-chuva acabado na calçada do lado de fora da porta. Em seguida,
a mulher, loira, alta e bonita virou-se para encará-las.
Corinne sentiu seu estômago revirar. Era sua irmã, Aster.
Aster oscilou para dentro em suas botas pretas de doze centímetros. Um
cigarro enrolado à mão pendia de seus lábios, o cheiro de tabaco dominando o
aroma floral do salão. Seu casaco molhado pingava poças no chão de mogno. Seu
vestido fúcsia, também molhado, se agarrava no alto de suas coxas. Embora Aster
ainda teria sido marcante mesmo depois de rolar em um contêiner de lixo da
cidade, havia círculos sob seus olhos azuis grandes e luminosos e seu cabelo loiro
gelo estava emaranhado. Ela estava parecendo desorientada. Corinne se perguntou
se sua irmã mais nova tinha acabado de sair da cama de um estranho depois de
um de seus típicos bacanais de noite inteira.
— Eu estou aqui! — Aster anunciou em um uma voz rouca e pronunciada.
Então ela parou no meio da sala, seu olhar parando sobre Corinne. — Uau,
mamãe — ela disse. — Esse vestido não devia ser branco.
Corinne tentou falar, mas ela não sabia o que dizer. Aster deu uma
tragada e exalou fumaça azulada em direção ao teto abobadado.
— Boa escolha, por sinal. Amei o look lingerie — você pode pular direto
para a noite de núpcias. — Quando ela se inclinou para Corinne para inspecionar a
renda, sua respiração cheirava a cigarros, bebidas e Tic Tacs de laranja.
Uma sensação de formigamento acertou o âmago de Corinne,
percorrendo todo o caminho até a ponta dos dedos.
— Você andou bebendo? — ela sussurrou, olhando para o relógio na
parede: 10:30 da manhã.
Aster levantou um ombro.
— Claro que não! — Ela deu uma guinada para o lado, na tentativa de se
sentar, mas errou a grande poltrona de couro completamente, com as pernas
desequilibrando debaixo dela. — Opa! — ela exclamou. Bettina e Poppy correram
para ajudá-la. — Eu estou bem!
Corinne fechou os olhos e tentou manter a calma, mas tudo o que ela
sentia era um constrangimento quente e pulsante. Assim que Aster estava de pé
novamente, Corinne estendeu o braço para frente e arrancou o cigarro da boca de
Aster.
— Você não pode fumar aqui — ela retrucou.
Bettina interviu. — Está tudo bem — ela disse em uma voz mansa.
Mas Corinne deixou cair o cigarro ainda aceso em um copo de água. Ele
emitiu um chiado ao apagar, e o único som que se seguiu foi esse. — Na verdade,
Aster, eu acho que você deveria ir embora — ela anunciou, com a voz vacilante.
Aster piscou, então zombou.
— Você me pediu para vir.
— Uma hora atrás — disse Corinne friamente. — E agora estamos quase no
fim.
Aster deu de ombros.
— Então eu estou um pouco atrasada.
Corinne desviou o olhar para a direita, centrando-se na ponta de cigarro
no copo de água. Havia um tom de batom rosa no filtro. Sua garganta se encheu
de palavras, mas não era como se ela pudesse dizê-las. Ela olhou para sua mãe
pedindo apoio, mas Penelope ficou ali sentada, segurando os joelhos.
Poppy apareceu ao lado de Aster e tocou em seu braço.
— Talvez você devesse ir, querida — ela disse a Aster em uma voz suave,
usando um tom maternal que Corinne nunca conseguiria usar. — Vá dormir. Você
vai se sentir muito melhor.
Os lábios de Aster ficaram presos em um biquinho, mas ela não resistiu
quando Poppy a pegou pelo braço e guiou-a para longe do pedestal. As duas
caminharam em direção à porta, e Poppy pegou seu próprio guarda-chuva
Burberry da cesta de metal e colocou-o nas mãos de Aster. Em momentos, Aster
desapareceu e a porta bateu atrás dela.
Poppy andou calmamente e com confiança para o lado de Corinne,
sorrindo brilhantemente.
— Vamos lá — disse sua prima, levantando o véu dos olhos de Corinne.
Ela a guiou de volta para os vestiários. — Mostre-nos seus vestidos de recepção. Vai
ficar tudo bem.
— Eu sei — disse Corinne irritada. Então ela olhou para seu vestido. Ela se
preocupou com um dos enfeites de pérola saindo no busto. Bettina correu para a
frente com uma agulha e linha e rapidamente costurou-o novamente.
Uma vez que Corinne estava de volta no vestiário, ela olhou-se no
espelho, algo que ela sempre fazia depois de estar lado a lado com Aster. Mesmo
em um vestido de noiva, Corinne não poderia competir com a beleza radiante de
Aster. Corinne gastou dinheiro suficiente em sua aparência, mas sua longa testa,
queixo quadrado e sobrancelhas grossas equacionava a algo mais elegante do que
bonito. Seus ombros eram largos como os do seu pai, os seios pequenos como os
de sua mãe, as pernas muito grossas e pálidas, mesmo depois de horas de pilates,
incontáveis refeições não consumidas e milhares gastos em spray de
bronzeamento. Você é uma boa descendência, sua mãe tinha dito a ela quando ela
tinha 11 anos de idade. Ela quis dizer isso como um elogio, mas fez Corinne
pensar em uma novilha premiada em uma feira de condado. Penelope certamente
nunca tinha se referido a Aster como descendente, não importava a quem ela
havia puxado.
Sempre foi assim. Seus pais sempre inventavam desculpas e mais
desculpas para Aster. Corinne usava faca e garfo aos 18 meses, Aster jogava a
comida contra a parede na época da pré-escola. Corinne estudava durante o
recreio, enquanto Aster comprava respostas dos testes no playground. Mas seus
pais sempre olhavam para o outro lado. Mason tinha realmente favorecido Aster,
comemorando quando Aster tirou um B, como se ela tivesse que fazer pouco mais
do que mostrar-se para a classe para ganhá-lo.
Corinne havia preferido a companhia de sua mãe de qualquer maneira,
desfrutando de fins de semana longos e femininos de chá no Plaza e viagens de
SPA para Elizabeth Arden quando Aster e Mason fizeram uma de suas viagens
especiais para Meriweather ou Berkshires. Mas, com a atenção da sua mãe
também vinha a sua crítica e instrução. Penelope tinha vindo de dinheiro antigo,
feito há cem anos em ferrovias, e ela era muito específica sobre como sua filha
devia se comportar. Estudar francês. Participar da Liga Júnior. Vestir-se em linhas
clássicas. Casar bem.
Será que eles infundiam algum desses valores em Aster? Corinne
duvidava. As duas tinham se dado bem quando crianças — uma das memórias
favoritas de Corinne era segurando firmemente a mão de Aster enquanto elas
olhavam paralisadas o desfile do Dia de Ação de Graças da Macy da cobertura de
um amigo no Central Park West. Elas cresceram separadas à medida que
envelheciam, no entanto... Foi quando Aster parou de ouvi-la. Será que seus pais
dão a Aster um amplo espaço porque ela era bonita? Será que eles descobriram
que ela conseguiria tudo de qualquer forma, mesmo sendo grosseira e inacabada?
Bem, isso não deu certo: quando Aster foi para a faculdade há um ano, ela desistiu
e estabeleceu-se na vida de uma socialite. No primeiro ano de espiral descendente
de Aster, quando Corinne visitou seus pais em sua casa no Upper East Side, o ar
parecia carregado, como se ela tivesse acabado de interromper uma discussão.
Eles ainda inventaram desculpas para Aster e financiaram a sua vida, mas estavam
claramente estressados, especialmente seu pai, que de repente nem sequer olhava
mais para Aster.
A única coisa que Corinne podia fazer era seguir o conselho de sua mãe
ao pé da letra. Enquanto Aster decolava por capricho para Marrocos ou passava
horas no bar Monthlong na Irlanda, Corinne elevava os níveis da Saybrook,
conquistando um mercado emergente após o outro. Enquanto Aster nunca teve
outro trabalho de modelagem, mal aparecia para os eventos de relações públicas
da Saybrook e desperdiçava sua mesada, Corinne havia devidamente investido,
adquirido e ficado noiva.
Agora, ela se inclinou contra a parede do vestiário e tomou fôlego após
fôlego. Seu coração começou a desacelerar. Seus nervos já não pareciam cortantes
sob sua pele. Ela sempre ficava excitada demais por causa de Aster, mas na
verdade, qual era o ponto disso? Ela olhou para seu primeiro vestido da recepção
no cabide, uma bainha longa em cetim marfim e contas. O segundo vestido da
recepção de Corinne, um mais curto que ela usaria para dançar, estava pendurado
por trás dele. Apenas a visão deles levantou seu espírito.
— Você tem certeza sobre esses três vestidos para um casamento? — sua
mãe perguntou, levantando uma sobrancelha cética — como uma herdeira do
nome e da fortuna da Saybrook, Corinne deveria se envolver em luxo sem parecer
brega. Mas a mãe de Dixon tinha feito à mesma coisa, e ela praticamente era uma
princesa.
Era verdade que Dixon era mais um texano arrogante do que um
britânico educado, mas a Petróleo Shackelford era tanto realeza americana como
os Diamantes da Saybrook. Eles se tornam um casal sem esforço, e logo em
seguida um plano foi posto em prática. Bem, foi Corinne quem tinha instalado o
plano, mas Dixon cooperou de bom grado. Uma vez que eles se formassem em
Yale, Dixon iria trabalhar no lado da negociação da Petróleo Shackelford em Wall
Street. Corinne iria trabalhar na Saybrook. Eles iriam se mudar para apartamentos
separados no mesmo prédio de um condomínio, e, em seguida, uma vez que eles
estivessem noivos aos vinte e cinco anos, eles iriam se mudar para um
apartamento de três quartos. Eles se casariam aos vinte e seis anos, teriam seu
primeiro filho aos vinte e nove anos, e seu segundo, aos trinta e um. E então eles
passarão os próximos 30 anos construindo suas carreiras e aumentando a família.
Além do desvio quando Dixon foi para a Inglaterra, e, bem, o outro
incidente — que Corinne tentava nunca pensar a respeito — a vida tinha progredido
exatamente como o planejado. Só que, de alguma forma, sempre que Dixon
propunha uma data para o casamento no ano passado, Corinne tinha encontrado
motivos para esperar — a propriedade em Meriweather, onde ela insistia que eles
tivessem o casamento, estava passando por reformas no verão passado. Aquela era
sua temporada menos favorita, e na primavera o tempo estava muito enlameado e
imprevisível. Mas não importava. Em um mês, eles finalmente iam se casar. Evan
tinha feito todos os arranjos, com a bênção de Corinne. Cada detalhe estava no
lugar.
Corinne saiu do vestido. Enquanto ela cuidadosamente o pendurava no
cabide de cetim, risos soaram do lado de fora.
— Corinne, querida? — Evan chamou. — Vem para fora! Vamos fazer um
brinde!
Corinne puxou o primeiro vestido da recepção do cabide. Seu reflexo no
espelho lhe chamou a atenção, mais uma vez, e seu olhar se desviou para a cicatriz
abaixo do umbigo. Era algo que ela raramente olhava, a visão ainda era
surpreendente depois de todos esses anos.
Devagar, com cuidado, seus dedos traçaram a pele enrugada. Ela disse a
Dixon — ela disse a todos, na verdade — que era de uma cirurgia de vesícula biliar
de emergência quando ela trabalhava em Hong Kong há cinco anos. Foi incrível o
quanto as pessoas acreditaram. Ninguém sequer sugeriu que a cicatriz podia ser
baixa demais para esse procedimento. Nem mesmo a mãe de Corinne adivinhou
que era de outra coisa. Só Poppy sabia a verdade.
Pare de pensar sobre isso, uma voz em sua cabeça exigiu. Pare com isso
agora.
Corinne vestiu o vestido da recepção, calçou os saltos gatinho de cetim, e
abriu a porta do vestiário. Sorria, ela disse a si mesma com firmeza enquanto ela
caminhava de volta para sua família, lembrando-se de tudo o que ela tinha de ser
grata. Ela iria girar em seus vestidos de recepção e deixar todo mundo exclamar
oohs e ahhs. Agradeça a todos por terem vindo. Case-se. Não olhe para trás.
Ela pegou uma taça de champanhe.
— Ao felizes para sempre! — Corinne disse corando. Ela ia se casar com o
Príncipe Encantado; todo o seu futuro estava à sua frente.
Contanto que seu passado não a alcançasse.
2
Traduzido por Andresa Lane

M
ais tarde naquela noite, Aster Saybrook estava tranquila em um pufe
dentro de uma grande tenda estilo beduíno, quando um garçom espiou
pelo batente. Ele usava um saiote colorido, tinha postura ereta e
inclinou a cabeça um pouco para o lado. — Posso pegar alguma coisa para você,
senhorita? — ele perguntou, olhando para Aster como se ela fosse claramente a
líder do grupo.
— Mais uma garrafa de Veuve para cada um de nós. — Aster acenou para
indicar o resto da mesa, suas pulseiras Hermès brilhando sob a luz fraca. — E por
falar nisso — acrescentou ela, quando o garçom começou a recuar, — temos uma
aposta. Você está usando alguma coisa por baixo deste saiote?
O garçom pareceu surpreso, depois se endireitou e maliciosamente
balançou a cabeça. O lado de Aster da mesa irrompeu em aplausos. — Parece que
esta rodada é por sua conta — disse Aster, cutucando Clarissa Darrow, a morena
alta que estava sentada à sua esquerda. Clarissa sorriu e deu de ombros, bem-
humorada.
Como a mesa irrompeu em conversa, Aster sentou-se e girou a tampa de
sua taça de champanhe, olhando em volta para seus melhores amigos. Bem
“melhores amigos” pode ser um ligeiro embelezamento; alguns deles Aster só
tinha conhecido esta noite. Mas Aster colecionava pessoas como as outras meninas
colecionavam sapatos, bolsas ou anéis, embora Aster colecionasse todas essas
coisas também. Em frente a ela sentava Javier, um artista cujo show mais recente
envolveu cabides, lâmpadas fluorescentes, e fotos de estrelas de Hollywood
recortadas da Us Weekly. Havia Orlean, um escritor alto e musculoso da Rolling
Stone que Aster tinha conhecido na Europa. Ele era amigo de compras de Aster
atualmente, embora Aster suspeitasse que ele gostava de sua companhia
principalmente porque as lojas davam-lhe um tratamento especial. Havia Faun,
um amigo de Tânger que tinha arrastado Aster através de prédio após prédio em
Manhattan em busca de imóveis, sempre reclamando que os closets não eram
grandes o suficiente. Tinha Nigel, a mais recente aventura de Aster, o baterista e
compositor chefe da banda britânica Lotus Blackbeard. Ela o pegou na semana
passada na Gray Lady, e ele tinha passado todas as noites no apartamento dela
desde então. Seus dedos longos e finos tamborilavam na mesa, provavelmente
compondo uma nova canção brilhante.
E então havia Clarissa, a melhor amiga muito magra de Aster, e talvez
amiga-rival, filha de um bilionário de investimentos de alto risco. Aster conheceu
Clarissa em Spence na segunda série, mas Clarissa ainda falava com um sotaque
britânico afetado. Ela estava sempre pronta para entrar em problemas — ou criar
problemas. Aster suspeitava que algumas das fofocas sobre ela escritas na Page Six
eram dicas de Clarissa.
O garçom reapareceu com seu champanhe, e Aster estendeu sua taça para
que ele enchesse. — Um brinde! — ela exclamou enquanto brindava com Clarissa,
então finalizaram suas taças em um único gole. — Ao lugar mais quente da cidade.
Eles estavam em um restaurante chamado Badawi, que tinha sido
esculpido em um antigo armazém no West Twenties e transformado em um estilo
árabe glamuroso. Ele foi decorado para parecer um bazar em Marrocos, com
lanternas penduradas, tendas coloridas e sofás. Aster tinha começado a noite no
Soho House, mas metade das mesas estava vazia, as músicas eram todas do ano
passado, e vários convidados pareciam que tinham vindo direto de Nova Jersey.
Após consultar o Instagram, o Foursquare e mensagens de texto de alguns de seus
amigos da moda, ela e seu grupo haviam chegado aqui.
As noites de Aster muitas vezes assumiam esse espírito espontâneo; ela
não podia prever no início da noite como seria o final. Tinha sido assim desde o
verão que passara na Europa, logo após o colegial. Ela teve algumas grandes
histórias para o livro de memórias que ela escreveria — bem, que ela ditaria —
algum dia: o momento que ela e seu grupo provisório entraram em um avião
particular e voaram para Ibiza; o momento em que juntaram seus dinheiros para
comprar um Porsche Carrera e dirigir até o chalé de alguém no norte do Estado às
2:00 da manhã; o momento que ela ficou em uma mansão em Harlem por uma
semana e festejou como as pessoas da Era do Jazz. A vez que ela voou no avião de
um amigo em torno da área de pouso de Connecticut em um desafio, mesmo que
sua última lição tinha sido anos atrás. Ela esquiou nua em um lago gelado no
Maine, e fez uma trilha de bicicleta em uma montanha perigosa em Sedona.
Recentemente, alguém tinha até se atrevido a cortar sua assinatura: seu cabelo
longo e loiro platinado. Aster tinha virado amiga de Patrick, um estilista, e
entregou-lhe a tesoura. Ele cortou tudo, deixando a frente com um ângulo torto e
exagerado sobre seu olho esquerdo — Aster nunca soube se foi de propósito ou
um erro de embriaguez, mas a imprensa amou o novo visual, tanto quanto seu pai
odiou.
Para Aster, cada emoção precisava ser mais emocionante ainda, tudo que
era grande tinha que ficar maior, e todas as músicas tinham que ficar mais altas e
mais dançantes. Um psicanalista poderia sugerir que ela tinha problemas com os
pais ou estava fazendo isso para chamar a atenção, ou talvez que ela estivesse
fugindo de algo. Mas Aster nunca foi à terapia. Ela não era uma menina triste que
se automedicava por beber muito e ficar fora até tarde demais; ela era uma
audaciosa que teria muitas histórias interessantes para seus netos.
Quando as meninas foram crescendo, os pais de Aster e Corinne as
obrigaram a memorizar poesia; aquelas que faziam sentido para Aster eram
escritas por mulheres de espírito livre da década de 1920. Ela era uma grande fã
de Edna St. Vincent Millay, que supostamente amava festas que tendia a dar em
sua fazenda exuberante de mirtilo em Nova York totalmente nua. Minha vela
queima nas duas extremidades; / ela não vai durar a noite toda; / mas ah, meus
inimigos, e oh, meus amigos, / dá uma iluminação linda! É isso aí, Edna St.
Vincent Millay.
O Sr. Graçom-sem-cuecas reapareceu com várias velas de fogos de
artifício e uma garrafa de Grey Goose L’Orange. Aster deu gritos de excitação
quando ela estendeu a mão para uma vela, agitando-a no ar enquanto algum artista
R&B cantava sobre eles nos alto-falantes.
Ela pegou seu telefone, com o desejo de convidar mais pessoas. A
primeira pessoa que lhe veio à mente foi sua prima Poppy. Tocou uma vez, então
a voz sonolenta de sua prima atendeu.
— Pops — Aster gritou acima do barulho do clube. — O que você está
fazendo agora?
— Eu estou em casa. — Poppy bocejou. — O que você está fazendo?
Aster estendeu a taça de champanhe para reenchê-la. — Eu não estou em
casa. Você vem? Por favor?
Quando elas foram crescendo, Aster orgulhava-se de não tentar muito ser
como Poppy, como sua irmã Corinne sempre fez. Poppy era sua amiga — como
uma irmã mais velha legal que não dava a mínima para suas escolhas. Bem, a
maior parte do tempo. Ela tinha dado uma dura em Aster quando ela confessou
que seduziu um professor de história europeia na NYU para ter uma nota melhor,
em seguida, abandonou a faculdade por completo. Mas Poppy deu a dura porque
ela se importava.
— Ugh, eu estou derrotada. — Poppy suspirou através do telefone. — Estou
em reuniões intermináveis para o resto da década, Briony tem feito isso todas as
noites desta semana, e eu estou ficando louca planejando a festa de aniversário
para Skylar. Eu sou uma estraga prazeres. Mas por que você não chama a sua
irmã? Talvez ela gostasse de ir...
Aster soltou uma gargalhada. — Você estava lá hoje, Poppy. Ela
provavelmente não vai falar comigo nunca mais.
Ela revirou os olhos, lembrando-se da prova do vestido de Corinne
naquela manhã. Quem agenda uma prova às 9:30 em um sábado, de qualquer
maneira? Ela tinha acordado com um sobressalto, lembrando das três mensagens
que sua irmã havia deixado no dia anterior, e se contorceu para fora de debaixo
do braço de Nigel. Ela nem tinha tido tempo para tomar banho ou explicar para
onde estava indo, ao invés disso apenas vestiu suas roupas e saiu correndo para
fora de seu apartamento, colocando os sapatos. Só no táxi ela percebeu que ainda
cheirava a tequila da noite anterior.
Pelo menos a chuva podia ajudar com isso, Aster pensou ironicamente
enquanto corria para baixo do bloco Lhuillier sob o guarda-chuva de merda que
ela tinha comprado de uma bodega da esquina. Mas quando ela entrou no salão,
ela viu a expressão no rosto de sua irmã. Corinne não estava feliz que Aster estava
lá ou preocupada com sua aparência encharcada. Ela só torceu o nariz da forma
que ela sempre faz, como se Aster tivesse arruinado tudo.
Poppy soltou um suspiro. — Eu acho que ela só tinha uma ideia de como
ela queria que as coisas acontecessem, querida. E você meio que impossibilitou
isso.
— Bem, ela tem que aprender que às vezes a vida te pede para improvisar
— Aster revidou, cruzando os braços sobre o peito.
— Você deve tentar ver as coisas à maneira dela — Poppy disse
calmamente.
Aster zombou. — E que tal ela ver as coisas do meu jeito? Ela alguma vez
já fez isso? — Aster já sabia a resposta: Não. Corinne não gostava de coisas que ela
não conseguia entender. E ela nunca tinha entendido Aster.
Poppy bocejou. — Me desculpe, eu me sinto velha e acabada. Você quer
pegar uma bebida no final desta semana?
Aster segurava o telefone, tocada. Mesmo quando Poppy estava cheia de
trabalhos e obrigações familiares, ela sempre tinha tempo para Aster. Mesmo
quando os pais dela morreram naquele acidente de avião bizarro, há dois anos,
Poppy tinha vindo para um café da manhã com Aster em seu aniversário, poucos
dias depois. Ela sempre foi assim... sólida. Imperturbável. — É claro — disse Aster.
— Me avise quando você estiver livre.
Ela desligou e tomou mais um gole de champanhe, depois outro. Ela
estava se sentindo quente e distintamente tonta; ela drenou quase toda a garrafa.
Ela soluçou alto, observando seus amigos e se levantou para dançar. — Você vem?
— perguntou a Nigel, estendendo a mão.
Aster fechou os olhos por um momento, imaginando como seria cair em
sua cama por dias infinitos — sozinha. Para dormir por oito horas, levantar-se em
uma hora normal, sair para correr, ficar na fila para o café. Na verdade, fazer uma
das atividades de noiva de Corinne amanhã — certamente havia uma marcada —
em vez de chegar horrivelmente tarde, apenas para ser expulsa. Chutada para fora,
ela pensou com raiva, por sua própria porra de irmã. O que Corinne não sabia era
que Aster a tinha protegido todos estes anos. Ela preservava a visão de família
perfeita que Corinne tinha. Oh, tinha havido muitas vezes que Aster quase deixou
escapar o que ela sabia, mas algo dentro dela a tinha detido, sabendo que iria
quebrar a sua irmã ainda mais do que tinha quebrado Aster. E o que Aster ganhou
em agradecimento? Rejeição.
Ela agarrou a Veuve e bebeu direto da garrafa, na esperança de silenciar
os pensamentos que voavam em torno de sua mente como passarinhos afiados.
De repente, ela queria apagar — beber tanto, até esquecer de si mesma, esquecer
de tudo, exceto da pista de dança e do som da música. Ela estendeu a mão para
Nigel, e ele a puxou para seus pés.
A multidão na pista de dança se separou para eles, deixando-lhes espaço
no meio da sala. — Você esqueceu a sua bebida! — Clarissa gritou acima do som da
música, pressionando mais uma taça em sua mão. Aster bebeu sem perceber o
que era, em seguida, fechou os olhos e levantou os braços magros sobre sua
cabeça, deixando todas as memórias sujas e comentários farpados serem levados
pelo ralo. A única coisa que importava agora era que ela estava se divertindo.
Minha vela queima nas duas extremidades. Ela não vai durar a noite toda.
Aster pensou desafiadoramente enquanto ela balançava lentamente com a batida.
Aster não acreditava na maldição, mas ela sabia que se outro Saybrook morresse
jovem, seria ela. Seu imprudente e irresponsável estilo de vida era uma bomba-
relógio. No fundo, ela se preocupava se não teria muito tempo neste mundo.
Mas talvez isso seja bom, pensou Aster, tropeçando para frente nos braços
de Nigel. Ela preferia ser o fogo de artifício queimando rápido do que uma brasa
queimando lentamente até sumir. Todo mundo sabia que era muito mais
divertido desaparecer com um estrondo do que com um gemido.
3
Traduzido por Ivana

N
a tarde de domingo, Rowan Saybrook estava sentada no canto de uma
sala de estar em Dakota no Central Park West e assistia doze princesas
se conhecendo e cumprimentando umas às outras. Cada uma delas
estava enfeitada com um vestido de tafetá, sapatos de cristal e uma tiara. Elas
comiam canapés de uma bandeja de prata com graça e equilíbrio.
Mas então Jasmine pisou no pé de Ariel. Aurora levantou uma
sobrancelha para Sofia a Primeira, declarando que ela não era uma princesa de
verdade porque o desenho da Disney só tinha começado há alguns anos atrás.
Rowan, pressentindo o desastre, saiu na ponta dos pés para fora da sala e seguiu
em direção à cozinha de sua prima Poppy, pegando uma garrafa de cabernet. Era
o terceiro aniversário de Skylar, a filha de Poppy, e era provavelmente melhor
deixar as princesinhas resolverem as coisas por si mesmas.
A cozinha era grande e arejada, com bancadas de mármore novas e
armários de cerejeira brasileira. Poppy, vestida com uma camisa de seda e calças
skinny que faziam suas pernas parecerem ter um milhão de quilômetros de
comprimento, estava no centro da cozinha, arrumando a bandeja de vegetais, que
ela havia comprado no mercado da Union Square, que cultivava seus vegetais ali
mesmo, com sua bebê de 1 ano e 8 meses, Briony, equilibrada em seu quadril. Ela
notou Rowan tomando o vinho. — As crianças te deram ânimo para beber, não é?
— Eu nunca entendi a coisa toda de ser princesa — disse Rowan, fechando
a garrafa.
— Claro que não — a mãe de Rowan, Leona, disse com bom humor,
sorrindo para a filha do outro lado da cozinha. — A infância inteira dela consistia
em subir nas árvores mais altas do nosso quintal quando ela tinha a idade de
Skylar. E às vezes cair delas também.
Tia Penelope parou de fazer o prato de comida para o seu marido,
Mason, CEO da Saybrook, e riu. — Você conseguia subir mais alto do que a
maioria dos meninos, Rowan. Ainda me lembro quando você venceu o seu irmão
no curso de cordas; ele ficou de mau humor por dias.
Corinne, que estava encostada no balcão, se aproximou de Rowan e olhou
para o vinho. — Você pode me servir uma taça? Preciso disso depois da semana
que tive.
— Eu ouvi sobre a Turquia — disse Rowan. — Parabéns. — Então, ela
baixou a voz. — Eu também ouvi o que aconteceu com Aster.
Os olhos de Corinne se estreitaram. — Sim, bem. Eu acho que nós não
deveríamos nos surpreender. — Ela olhou ao redor da sala, provavelmente em
busca de sua irmã, que estava ali há poucos minutos atrás, mas agora havia saído.
— Ela provavelmente já está desmaiada na cama de Poppy agora — ela disse com
raiva.
— Não se preocupe, eu vou me assegurar para que ela seja pontual no
casamento — disse Evan, dando um tempo em sua arrumação. Ela odiava bagunça,
especialmente bagunça de criança. — Acredite em mim quando eu digo que eu
lidei com coisas piores.
— Pior do que os Saybrooks? — murmurou Natasha de seu canto perto da
despensa.
— Natasha — a mãe de Natasha, tia Candace, repreendeu do outro canto,
onde ela estava ajudando Poppy com os canapés.
Rowan olhou para Natasha com cautela. Não muito tempo atrás, ela e
Natasha tinha sido muito próximas. Rowan era quase dez anos mais velha do que
Natasha, mas ela até tinha de boa vontade feito pequenos papéis em peças de
Natasha e aplaudiu sinceramente quando Natasha fazia shows de karaokê na
varanda de trás em Meriweather. Mas depois que Natasha praticamente se
deserdou da família — nunca explicando o porquê disso — ela simplesmente
travava Rowan e os outros como irritantes pedestres ocupando toda a calçada da
Quinta Avenida.
Rowan sabia que suas primas tinham receio de Natasha também. Exceto
Poppy, que tinha começado a fazer as pazes com Natasha, há alguns anos, depois
que os pais de Poppy morreram. Mas talvez seja porque a tia Candace e o tio
Patrick tinham se tornado a família substituta de Poppy após a queda do avião,
cuidando dela, de James e das suas meninas com amor, ajudando, e fazendo
muito por eles por meses.
Felizmente todos ignoraram o comentário de Natasha, até mesmo as mães
perfeitas que Poppy conhecia da Episcopal, onde Skylar fazia a pré-escola. Para
Rowan, aquelas mães superficiais de Manhattan com seus correspondentes
carrinhos Bugaboo eram como uma espécie diferente. Elas comparavam as
marcas de suas fraldas de pano orgânico, se gabavam de sua vida perfeita, e
avaliavam até as babás de suas amigas. Mas, mais do que adoravam julgar umas às
outras, elas pareciam julgar as de fora, as não-mães, mais do que qualquer outra
coisa. — O ciúme mascarado pela superioridade — Poppy sempre disse. — Elas
invejam o seu tempo livre, então elas dizem que você é egoísta por não ter filhos
para se sentir melhor ao bancar a babá o dia todo.
E esse era o charme de Poppy. Ela tinha o seu carrinho Bugaboo e fazia a
sua própria comida orgânica para seu bebê, mas ela nunca se comportava como se
a maternidade fosse um clube especial e exclusivo.
— O que está acontecendo, senhoras? — o marido de Poppy, James,
apareceu na porta, vestindo uma camiseta vintage e uma calça jeans bem ajustada,
que quando ele levantava os braços, revelava apenas um centímetro de sua cueca
boxer da Brooks Brothers. Ele atravessou a cozinha e puxou Poppy para um
abraço.
Poppy se contorceu para longe e virou-se para a geladeira. — Você pegou
o homos da Zabar? — ela perguntou bruscamente. — Eu não consigo achar em
lugar nenhum.
— Bem aqui. — James estendeu a mão e entregou um pacote.
— Perfeito. — Poppy pegou e colocou sobre a mesa, ao lado dos vegetais.
— Obrigada, James — Rowan disse, quando Poppy não agradeceu.
James lançou para as mães um olhar exagerado e um sorriso irresistível. —
Só estou fazendo o meu trabalho. — Então ele agarrou sua esposa mais uma vez e
beijou sua bochecha. Poppy se contorceu de novo, e James desapareceu pela
porta. Um som saiu da TV de tela plana. James, Mason, e alguns outros pais
foram lá assistir o torneio de jogos de Djokovic e Federer.
Uma mãe chamada Starla, com seu filho Björned em seu colo, suspirou.
— Poppy, ele é um fofo.
— Como você mantém outras mulheres longe? — outra mulher chamada
Amelia brincou.
— Oh, ele usa uma tornozeleira para que eu possa manter o controle nele
— Poppy disse distraidamente.
— Poppy tem tudo — disse Amelia, em tom um pouco maldoso. — E todas
nós deveríamos odiá-la. — Ela batia suas unhas bem cuidadas contra o vidro da
janela. Uma competição de biatlo estava acontecendo no Central Park, e centenas
de corredores acabavam de alcançar a linha de chegada. — Você sabe o que
Bethany disse quando chegamos? — ela murmurou, mudando de assunto. —
“Mamãe, posso estar na bissexual no próximo ano?” Eu a olhei e disse: “Você não
quer dizer biatlo?” Mas ela disse: “Não, eu quero estar na bissexual!”
Poppy sorriu. — Skylar disse babaca para o porteiro.
Darcy, uma mãe loira, mudou de posição. Ela tinha um equilíbrio perfeito
alcançado com Pilates, que se mantinha mesmo em seus saltos de doze
centímetros. — A palavra favorita da minha filha é idiota. — Então ela olhou para
Rowan. — E da sua?
— Oh, hum...
Antes que Rowan pudesse responder, Poppy agarrou seu braço. — Rowan
é a melhor tia do mundo — disse ela em voz alta.
— Obrigada — disse Natasha com ironia.
— E junto com o título de melhor tia — Poppy corrigiu-se com um sorriso,
apertando Rowan mais apertado. — Ela é a consultora sênior dos Saybrook. E foi a
primeira em sua classe de Direito na Columbia.
De repente Rowan se sentiu como se fosse muito alta e estivesse muito
visível, diante de tantos olhares sob tantos ângulos. Poppy tinha boas intenções,
mas ao se gabar das qualidades de Rowan também destacou o que ela não era:
uma mãe.
Sondando para mudar o tema, Rowan se voltou para Natasha. — Então...
como está o estúdio? — ela perguntou. Depois que Natasha decidiu que não
queria mais ser uma Saybrook, ela mudou-se para o Brooklyn e reinventou a si
mesma, montando um estúdio de ioga para a burguesia do bairro.
— Está ótimo, obrigada — disse Natasha, baixando seus longos cílios. Ela
tinha a pele morena, mais escura do que as outras meninas Saybrook, cabelo liso,
escuro e olhos amendoados. — Como vão as coisas com... Charlie, não é?
Tia Penelope inclinou-se na bengala que tinha usado desde seu acidente
de esqui. A mãe de Rowan pousou o copo de água. — Você está saindo com
alguém, Ro?
— Oh, nós somos apenas amigos — disse Rowan rapidamente.
Tia Candace e tia Penélope trocaram um olhar, como se quisessem dizer:
Oh, não. O que há de errado com este?
A pele de Rowan arrepiou, e sentindo que viriam mais perguntas à
caminho, ela se desculpou, correndo para o corredor. Ela se apressou pelo
corredor repleto de Warhols, Picassos, e um retrato dos pais de Poppy feito por
Annie Leibovitz, a mãe dela vestia um vestido longo, esvoaçante, com um cinto, o
pai parecia estar bronzeado vestindo um jeans e uma camisa pólo, na frente de um
celeiro vermelho caindo aos pedaços. Eles sempre tinham sido a tia e tio favorito
de Rowan. No ensino médio ela passou vários verões em sua fazenda, tosquiando
as ovelhas com Poppy e explorando o sótão cavernoso em seu celeiro
remodelado. Tio Lawrence não tinha entrado para o negócio da família, mas ele
tinha vários álbuns de fotos antigas da família antes de Vovô Alfred encontrar o
Diamante Corona. Rowan e Poppy se maravilhavam vendo as instantâneas de
Edith sem sua pele agora toda remodelada.
Quando chegou ao banheiro, Rowan correu para dentro e bateu a porta
com força. Uma pequena placa de madeira pendurada na maçaneta balançou. “Vá
Embora,” ela dizia. Exatamente os mesmos pensamentos de Rowan.
Rowan olhou para seu reflexo no espelho. Ela tinha um rosto oval, lábios
em forma de arco, uma longa testa, o nariz inclinado, e os olhos azuis, a assinatura
Saybrook. Seu corpo alto era ágil e modelado pelas corridas longas e horas na
quadra de tênis. Ela sabia que ela era bonita; muita gente dizia que sim. E ela era
tão bem sucedida como disse Poppy — ela se tornou sênior no conselho dos
Saybrook apenas cinco anos depois de terminar a faculdade de Direito, e ela era
parte ativa em vários conselhos de revisão e instituições de caridade. Ela amava sua
família, e ela adorava seus dois cães, Jackson e Bert. Mas ela tinha quase trinta e
três anos, e ainda estava por conta própria, sozinha.
Era, naturalmente, o mesmo dilema que ela ponderou por anos. Graças
aos seus dois irmãos mais velhos, que agora viviam viajando por todo o país e pelo
exterior, Rowan não teve problemas com os homens. Ao crescer, ela estava
sempre pronta para um jogo de hóquei, e ela batia em Michael e Palmer com a
mesma força com que eles batiam nela. E quando ela ficou mais velha, ela e alguns
de seus amigos bonitos fizeram muito mais do que apenas assistir futebol. As
meninas da sua classe falavam sobre apenas ter relações sexuais quando elas
estivessem apaixonadas, mas Rowan pensava que tudo isso que era quase tão
ingênuo quanto acreditar que colocar um vestido de cetim te transformaria na
Cinderela.
Claro que, no momento essas mesmas meninas já namoravam sério,
enquanto Rowan ganhava apenas amigos com benefícios. Ela tentou mudar seu
jeito, copiando o que viu nas meninas que namoravam firme que ela conhecia,
tornando-se mais suave, carente, uma versão mais frágil de si mesma que
simplesmente não funcionava. E assim ela se estabeleceu no papel de garota que
topa tudo por excelência. Uma pessoa que ia a um clube de strip
despreocupadamente. Uma pessoa que andava em pé de igualdade com os caras.
Uma garota que não dava a mínima para as sessões de pedicure com as amigas,
que não se importava se a pornografia estava passando na tv, que quase parecia
que ela não precisava de um namorado.
Isso não significava que Rowan não queria o que as outras garotas tinham.
Mas agora, ela se sentia velha demais para mudar quem ela era, e ela nem sabia se
deveria. Seus pais não tornavam sua vida difícil só porque ela ainda era solteira. A
mãe dela, Leona, tinha sido uma liberal em sua vida pré-Saybrook, explorando
casamentos abertos e exigindo direitos iguais a ambos os sexos — tudo isso para o
constrangimento de Edith. Seu pai, Robert, tratava Rowan da mesma maneira que
tratava seus filhos, incentivando-a para ser ambiciosa e bem-sucedida em tudo. E
seus irmãos sempre lhe disseram para não se contentar. Era Poppy que
ansiosamente empurrava rapazes após rapazes no caminho de Rowan. Embora
todos fossem agradáveis e legais e Rowan tivesse permanecido amiga de um bom
número deles, nenhum deles exatamente... deu certo. Rowan tinha sentido o amor
verdadeiro uma vez antes, e ela não iria se contentar até que ela sentisse de novo.
Houve uma batida na porta do banheiro, e Rowan olhou para cima.
— Rowan? — Alguém sussurrou. — Você está aí?
Rowan abriu uma fresta da porta e viu James com seu cabelo castanho
encaracolado, olhos claros e sorriso ligeiramente torto. — Não é justo que você
comece a se esconder aqui dentro — disse ele severamente.
A pele de James cheirava a sabonete de hortelã. Um brilho de uma das
varinhas de princesa ficou grudado em sua bochecha. Rowan impediu-se de
limpar.
— Eu só precisava de um minuto — ela disse a ele.
Ele olhou para o corredor. — As princesas te deixaram para baixo? As
mais crescidinhas, eu quero dizer?
Rowan olhou para as toalhas com monograma penduradas na barra de
prata através da parede. Em uma havia as iniciais de Poppy, na outra as de James.
— Pode-se dizer que sim.
— Você quer que eu dê um jeito de tirar você sair daqui, Saybrook? —
perguntou James, seu olhar mudando para um olhar conspiratório. — Nós
podemos escapar pela varanda. Usar as gárgulas como uma escada.
Ela imaginou os dois escalando a Dakota, indo para a Central Park West,
e se misturando com os biatletas. Eles rindo juntos, como nos velhos tempos.
James entrou no banheiro. — Há espaço para mais um? — ele perguntou,
fechando a porta. — Estou oficialmente farto das princesas também.
Rowan fungou. — Por favor. Todos os homens estão assistindo tênis.
James inclinou-se contra a pia e fez uma careta. — Alguma vez você já
ficou perto de Mason por qualquer período de tempo? Ele é a maior princesa de
todas. — Então ele sentou num canto remoto na borda da banheira e apontou para
uma pequena TV no canto. — E de qualquer maneira, temos o jogo aqui também.
O torneio apareceu na tela. Rowan permaneceu plantada no meio do
banheiro, seus braços firmemente em torno de seu torso. Embora ela visse James
regularmente, ela não conseguia se lembrar da última vez que tinha estado a sós
com ele.
Eles tornaram-se amigos na Universidade de Columbia, quando eles
viviam no prédio de calouros. O pai de Rowan se ofereceu para lhe comprar um
apartamento, mas ela gostou da ideia de ser como todos. Ela passava a maior parte
do tempo no quarto de James, jogando videogames e conversando sobre as
pessoas que viviam no prédio deles, especialmente as meninas. Eles
permaneceram para os programas de pós-graduação na Universidade da
Columbia, James para o Negócios Empresariais, ele sempre quis ser um
empreendedor e Rowan para Direito. Eles tiveram um encontro em um jantar
numa noite de segunda-feira em um restaurante mexicano na Broadway com
guacamole picante. Nos fins de semana, eles jogaram sinuca no SoHa, o bar sujo
em Amsterdã onde os bartenders faziam os mais potentes chás gelados Long
Island. Como de costume, Rowan tinha caído em seu papel como a garota amiga
do cara, a garota parceira de James. Muitas vezes Rowan tinha consolado James no
final da noite, quando ela pegava James saindo com alguém novo do banheiro
unissex.
— Você é um cachorro — Rowan sempre brincava com ele no café da
manhã aos domingos de manhã. James apenas dava de ombros e mostrava os
dentes. — Au-au.
Agora James olhava para a mini-TV sobre a banheira. Estava no terceiro
set, o jogo seguia amarrado. — Ok, Saybrook — começou ele, apontando para a
tela. — Djokovic ou Federer?
Rowan engoliu em seco. Era um jogo antigo que costumavam jogar — um
deles escolhia duas pessoas, e o outro teria que escolher com qual deles teria
relações sexuais. Às vezes, havia um confronto geek, como Sylvia Plath contra
Emily Dickinson, ou Iago de Shakespeare contra Oberon de Sonho de Uma
Noite de Verão. Outras vezes, eles brincavam com pessoas de seu dia a dia —
Veronica, a secretária peituda, ou Colette, a estudante de intercâmbio francesa.
Mais frequentemente do que o normal, James acabava realmente indo para casa
com alguma estudante quente de intercâmbio.
Às vezes, Rowan pensava que James tinha esquecido a sua velha amizade
inteiramente, agora que ele estava casado com Poppy. Embora talvez ele não
quisesse se lembrar de parte dela, especialmente a parte sobre todas as meninas.
James tinha mudado completamente por Poppy. Poppy era muito bonita e
perfeita para qualquer um. Qualquer cara entraria na linha por ela.
Rowan olhou para os jogadores de cada lado da quadra. — Federer com
certeza — decidiu. — Djokovic é muito arrogante.
— Alto, moreno e europeu. Eu gosto. — James inclinou a cabeça para
baixo, sua expressão era séria. — Então me diga: quem você tem na rédeas hoje em
dia?
Rowan fingiu secar um ponto de água invisível da pia. — Eu me nego a
responder. Eu já fui perguntada sobre isso vezes demais hoje.
James sentou-se na borda da banheira. — Você tem que dar às pessoas
uma chance, Saybrook. Na verdade, sair com alguém mais de uma vez.
— Eu saio — Rowan insistiu.
— Eu sei que sim. — James colocou as mãos em seu colo. — Mas de quem
você realmente gostou?
Rowan olhou intensamente para a tela da TV, tentando lembrar a última
vez que tinha saído com alguém de forma consistente. Alguém que ela realmente
tivesse algum sentimento.
— Está vendo? Você nem lembra. — James brincou cutucando seu
tornozelo com o pé. — Todos eles não podem ser como eu, você sabe — disse ele,
abrindo os braços e dando-lhe um sorriso de menino.
Rowan congelou. Ele estava brincando, não estava? Seu pulso batia em
suas palmas.
Cinco anos atrás, quando eles estavam no SoHa pouco antes dos exames
finais, James tinha tomado uma respiração profunda e olhou para Rowan sobre
sua cerveja. — Então, Saybrook. Eu estava pensando em conferir este lugar
Meriweather, de que você sempre fala.
— Oh? — Rowan inclinou a cabeça. — Você gostaria de visitar? Há espaço.
— Na verdade... — James brincou com o canudo em sua bebida. — Eu
aluguei um lugar no Vinhedo de Martha. Durante todo o verão.
— O quê? — Rowan perguntou.
O olhar de James parecia entrar dentro dela. — Sim, eu estava pensando
que seria bom sairmos juntos fora da faculdade ou dessa jornada de bares.
Seus olhos e sorriso eram tão perigosos, a atraindo instantaneamente. Mas
Rowan sabia como ele era. Ela tinha visto ele trabalhar sua magia sobre outras
mulheres. E, no entanto, quando ele olhou para ela, ela estava tão fraca como
todas as outras. Naquela noite, quando ela foi para casa, ela fantasiou sobre os
caminhos que a vida ia tomar naquele verão. As refeições que eles iriam cozinhar,
as coisas que eles falariam sobre os membros da família que eles encontrassem. E,
em seguida... o quê? Depois de horas e horas de conversa e risadas, naquele belo
cenário, com as estrelas cintilantes ao seu redor, o que iria acontecer?
Ela sabia que não era sábio pensar dessa forma. Ela estava sendo ingênua,
como uma das muitas meninas lamentáveis que caíam sob o feitiço de James. Ela
estava com medo de seus sentimentos por James, principalmente por causa de
quão forte eles eram. Mas exista aquele grande se. Se James se sentia da mesma
maneira, também...
Ela o levou em uma festa na noite em que ele chegou. Todos os primos,
incluindo Natasha, esperavam no hall de entrada para cumprimentá-lo. Poppy
caminhou em primeiro lugar e estendeu a mão. — Rowan me contou muito sobre
você — ela disse. — Eu sou sua prima, Poppy Saybrook.
— Outra Saybrook — James disse, sorrindo aquele sorriso de lobo, os
olhos deslizando de cima a baixo. Era a mesma coisa que ele tinha feito para
inúmeras meninas na presença de Rowan, mas algo dentro de Rowan cambaleou.
Ele não deveria fazer isso ali, com sua prima.
Naquela noite, James deu um brinde no pátio, agradecendo a todos por
dar-lhe uma recepção calorosa, especialmente sua “melhor amiga, Saybrook”.
Toda vez que ela se virava para olhar, ele estava conversando com Poppy, e logo
ela percebeu que ele não estava apenas sendo educado. Rowan se escondeu atrás
do bar que havia à beira do pátio para se recompor, sentindo uma picada quente
infrequente atrás de seus olhos. Ela se sentia tão surpresa. E estúpida. Para piorar
a situação, ela sentiu alguém olhando para ela do outro lado do quintal. Era
Natasha. Seu olhar correu de Rowan para Poppy e James, como se ela tivesse tudo
planejado.
Sabendo que ela estava perdendo o jogo, Rowan correu para um quarto,
sentou-se na cama e olhou para o papel de parede cor de diamantes, buscando
refúgio, dela mesma e mais ainda de James e Poppy.
Lançando a lembrança para longe de sua mente, Rowan voltou-se para
James e disse. — Se você continuar dizendo coisas assim, eu vou ter que me
esconder de você também. — Ela abriu a porta. — Vamos lá. É melhor se juntar à
corte real.
Todos tinham se mudado para a sala de jantar. Flâmulas e tiaras brilhantes
cercavam o bolo-glacê de camadas em cima da mesa. A mãe de Corinne estava
colocando três velas pequenas no centro, e todas as jovens mães estavam ao redor,
com seus “oohs” e “aahs”. Aster tinha finalmente aparecido, parecendo cansada,
mas ainda mantendo um sorriso. Rowan procurou Poppy com o olhar e
encontrou-a de pé no canto com Mason. O rosto de Mason estava vermelho e a
boca de Poppy enrugada. Rowan nunca tinha visto eles discutirem, desde que os
pais de Poppy morreram, Mason a tinha colocado sob sua asa, assim como
Candace e Patrick tinham, tratando-a como uma terceira filha.
Eles estavam falando tão acaloradamente que Poppy parecia alheia à festa
e ao bolo. Mais importante, ela não pareceu notar que Rowan tinha acabado de
sair do banheiro com o seu marido.
Mas alguém tinha notado. Natasha estava no final do corredor, a cabeça
inclinada, o olhar diretamente no rosto de Rowan. Ela levantou uma sobrancelha,
para demonstrar conhecimento de causa, como ela havia feito naquela noite em
que Poppy e James se conheceram. Rowan olhou para o lado, observando James
beijar sua radiante filha no rosto.
Todos eles não podem ser como eu. Mal sabia James o quão verdadeiro
aquilo era. Ela conhecia James por quase 15 anos, e ela o amava mais a cada
minuto.
4
Traduzido por Ivana

P
oucos dias depois, Aster sentou-se para o temido, mas obrigatório jantar
semanal de quarta-feira na casa de seus pais no Upper East Side. A enorme
mesa na sala de jantar em estilo barroco estava montada para doze pessoas,
com castiçais de prata no centro. As cadeiras de espaldar alto de mogno eram tão
grandes e pesadas que poderiam ter servido como tronos para os reis. O gabinete
de mogno, uma herança do século XVIII, pegava uma parede inteira e abrigava
inestimáveis pratos Sèvres, artefatos trazidos das viagens pelo mundo de seus pais,
e um jogo de chá de prata que tinha pertencido a uma rainha. Haviam muitos
retratos de parentes mortos, paisagens que mostravam uma caça de raposas sobre
os mouros, e uma enorme pintura de Edith e Alfred com seus filhos pequenos, de
pé sobre a sua escada. Na ponta estavam Mason e Lawrence, o pai de Poppy, os
dois com o cabelo alisado; em seguida, o pai de Rowan, Robert, e a mãe de
Natasha, Candace, na parte inferior. Candace, lutava para conter Grace, um bebê
rechonchudo e mal humorado. Anos atrás Aster amava aquela sala, e inventava
histórias sobre as pessoas nas pinturas e os anteriores proprietários dos artefatos.
Ela contava seus contos a seu pai no café da manhã. Ele sempre ouviu
atentamente, e riu de todas as histórias. — Talvez você seja uma escritora um dia,
Aster — ele dizia a ela.
— Muito obrigada, Esme — Penelope Saybrook murmurou enquanto seu
chef particular colocava um frango assado banhado em vinho tinto ao lado de um
prato de aspargos grelhados e couve de Bruxelas. Como de costume, a mãe de
Aster estava reorganizando algumas das guarnições, e acrescentou uma pitada de
pimenta no frango. Você não pode fingir que você cozinhou só por que você
colocou a pimenta, Aster pensou.
— Sim, obrigada, Esme — Corinne ecoou. Dixon, que estava sentado ao
seu lado, acenou com a cabeça em agradecimento, e Poppy, que estava ao lado de
Mason, sorriu docemente. Desde que os pais de Poppy morreram, ela tinha tido
um convite permanente para jantar. Às vezes Aster se perguntava se a recente
proximidade de Poppy com Mason resultava de culpa por ter sobrevivido ao
acidente aéreo; ele também deveria estar no avião que matou os pais de Poppy.
Normalmente Poppy trazia James e as crianças, mas hoje ela veio sozinha. Ela
trouxe com ela uma torta de morango caseira, utilizando os frutos que ela pegou
na semana anterior durante uma visita à propriedade rural de sua família em
Massachusetts. Só Poppy, que provavelmente trabalhava 23 horas por dia, também
poderia encontrar tempo para fazer uma torta.
— Você arrasa, Esme! — Aster gritou com entusiasmo, ajustando a alça de
sua blusa em forma de bustiê. O pai olhou para ela com desaprovação. Tanto faz
— todos usavam bustiês hoje em dia, até a sua avó. Bem, exceto Corinne, que meio
que parecia uma avó em um vestido de seda azul sem mangas Wedgwood e
brincos de pérolas Mikimoto.
Aster olhou para sua irmã do outro lado da mesa. Corinne não tinha
sequer olhado em sua direção, no entanto, e Aster certamente não iria fazer o
primeiro movimento. Seu olhar, em seguida, se dirigiu para um outro retrato na
parede, este tirado cerca de dez anos atrás. Era de si mesma, Corinne, Poppy, e
todos os outros primos de primeiro grau, incluindo os irmãos de Rowan e os
jovens filhos da tia Grace, Winston e Sullivan, que viviam na Califórnia com a
agora divorciada tia Grace. Natasha também estava lá, na frente e no centro.
Bastava olhar para Natasha para Aster ficar irritada. A menina agiu como
a sua melhor amiga durante anos, monopolizando os holofotes, pedindo-lhes para
ir para cada peça da escola que ela estava, inclusive uma vez arrastando Aster para
acompanhá-la a uma audição aberta na Broadway quando ambas tinham 14 anos
de idade. E então, de repente, ela apenas... não precisava mais deles. Aster ainda
não podia acreditar que Natasha estava no casamento de Corinne; Poppy de
alguma forma a convenceu.
— Isso é sangue? — perguntou a avó de Aster, Edith, puxando seu
cachecol de pele de marta mais apertado em torno de seus ombros — ela nunca o
tirava, apesar de estar atipicamente quente para maio. Seu cabelo branco estava
penteado para trás de seu rosto, mostrando sua boa estrutura óssea, as maçãs do
rosto salientes e o nariz empinado minúsculo que Aster tinha felizmente herdado.
Jessica, a assistente e enfermeira pessoal que acompanhava Edith em todos os
lugares, inclinou-se para examinar o prato.
Mason, que estava mais magro, agora que ele estava malhando com um
personal trainer, olhou também. — Não, mãe — disse ele, cansado.
— É apenas o molho — Poppy acrescentou amavelmente, dando uma
mordida. — Está vendo? Humm.
Edith considerou por um momento, provavelmente só porque Poppy era
sua neta favorita e ela odiava desapontá-la. Finalmente, ela empurrou o prato. —
Bem, isso está muito mal cozido para o meu gosto. — Ela olhou acusadoramente
para Penelope, assim como ela sempre fazia quando ela encontrava defeito em
alguma coisa na casa de sua enteada. Penelope estalou para o chef, que correu
para tirar o prato de Edith. — Eu vou querer um ovo cozido em um copo de ovo,
por favor — Edith zurrou alto.
Após o frango ir embora, Corinne pigarreou. — Então, eu verifiquei o
registro, e um monte de pessoas têm doado para a City Harvest.
— Isso é maravilhoso, querida — disse Edith em aprovação.
Aster pegou um rolo fresco e mordeu-o. Estava quente e escamoso do
forno, e tinha gosto de manteiga. — Eu não posso acreditar que vocês não
registraram para os presentes — disse ela entre garfadas.
Corinne moveu o queixo para a direita, o seu olhar sobre sua mãe. —
Fizemos quase dez mil dólares — ela continuou, como se Aster não tivesse falado.
— E eu tenho certeza que vamos conseguir muito mais.
— Você poderia ter conseguido algumas coisas incríveis da Bendel,
Barneys, ABC Carpet... — continuou Aster.
Edith limpou a boca. — É muito respeitável pedir por doações de
caridade, Aster.
Aster franziu o nariz, imaginando se ela tinha sido trocada ao nascer.
Quando ela era pequena, ela costumava ter fantasias que seus pais verdadeiros
eram estrelas do rock. Como Keith Richards. Aster tinha visto uma sessão incrível
de fotos de sua família em St. Barts na Vanity Fair do mês passado. Eles sabiam
como festejar.
Ela olhou interrogativamente para Dixon do outro lado da mesa. O noivo
de Corinne estava vestindo um terno chato de negócios cinza, mas Aster sempre
gostou de Dixon — ele tinha um sotaque bonito do Texas, ele e seus amigos
geralmente curtiam boas noitadas, e ele podia transformar qualquer coisa em um
jogo de beber. Certamente ele gostaria de presentes. Mas ele apenas deu de
ombros. — Eu não me importo com o que fazemos, contanto que nós ainda vamos
para a lua de mel.
— Onde vocês vão mesmo? — perguntou Aster.
Dixon se iluminou. — Safari. Mas também Cidade do Cabo. Eu já tenho
ingressos para um jogo de futebol.
— Isso soa incrível — disse Poppy calorosamente.
O garfo de Corinne raspava ruidosamente no prato. — Eu vou me
encontrar com meus contatos na Cidade do Cabo e visitar algumas minas —
acrescentou ela, ainda a seus pais. Ela deve ter pego Aster revirando os olhos,
porque ela suspirou alto. — O quê?
Aster piscou, surpresa com o descontrole no comportamento perfeito de
Corinne. — Você vai trabalhar em sua lua de mel?
— Exatamente como eu penso — disse Dixon, levantando uma taça.
Corinne lhe lançou um olhar. — Não concorde com ela!
— Meninas! — Mason vociferou. Ele olhou para Poppy, impotente. — Peço
desculpas em nome da minha família.
— Oh, pare — disse Poppy, golpeando-o alegremente. Aster sentiu a facada
adolescente de ciúme. Poppy sempre foi próxima da família de Aster, mas desde a
morte de seus pais, ela se tornou “a favorita de Mason” — posto que pertenceu a
Aster, antigamente.
Em seguida, o celular de Aster, que estava posto na mesa ao lado dela,
apitou para indicar uma nova mensagem de Clarissa: Estamos indo para o PH-D.
Aster cerrou os dentes. Todos eles estavam indo jantar no Catch sem ela,
provavelmente para beber o seu martini favorito de lavanda-com-yuzu. Chego lá
em uma hora, Aster digitou furiosamente de volta.
Hoje é noite temática, Clarissa respondeu. Donas de casa inúteis. Estou
usando meu vestido curto de couro.
Aster prendeu a respiração de emoção. Ela vivia para noites temáticas. Ela
estava tão animada que ela nem sequer lembrou Clarissa do fato de que o vestido
em questão era na verdade dela; Clarissa nunca tinha devolvido. Legal, ela
escreveu de volta. Muito louco se eu colocar o meu biquíni?
— Aster — disse sua mãe bruscamente. — Não mande SMS no jantar.
— Um segundo. — O celular soou novamente. Não, vá em frente! Clarissa
escreveu de volta.
Estou pensando em colocar meu biquíni Missoni, calça jeans branca, e
cinto. E talvez extensões no cabelo? Aster digitou rapidamente.
— Aster. — Mason bateu a mão na mesa. Quando Aster olhou para cima,
os olhos do seu pai estavam frios como aço. — Largue. O. Telefone.
Aster colocou o telefone de volta na bolsa. Superem isso, ela queria dizer.
Todos vocês.
Quando Aster era pequena, todo mundo dizia que ela tinha sorte de ser
uma herdeira, e que a vida dela seria extraordinária. Ela tinha uma sala de jogos e
uma equipe rotativa de babás, e aviões particulares. Mas ser uma herdeira também
significava seguir um determinado molde ao qual Aster nunca conseguia aderir.
Quando ela tinha oito anos e sua prima de segundo grau Madeleine se
casou, Aster tinha sido a dama de honra no casamento. Ela nunca iria esquecer
como ela se queixou para a mãe que seus sapatos de verniz branco estavam
doendo. — Não posso usar outra coisa? — ela implorou. — Não, Aster — sua mãe
tinha sussurrado, seus lábios franzidos em frustração. — Ninguém nunca disse que
seria fácil. — Ninguém nunca disse que o que seria fácil? — Aster tinha perguntado,
mas Penelope já estava saindo do quarto, revirando os olhos. — Ser uma herdeira,
bobinha — Corinne respondeu do outro canto, fazendo piruetas nos sapatos
brancos estreitos que não pareciam incomodá-la de jeito nenhum.
Tinha sido Mason quem veio em socorro de Aster naquele casamento,
puxando-a para o seu colo no jantar e dando a ela uma fatia extra de bolo quando
Penelope não estava olhando. — O que sua mãe quis dizer, Aster — ele tentou
explicar, — é que ser uma herdeira nem sempre é fácil. Existem partes boas, e
existem partes ruins.
— Eu tenho que ser uma herdeira? — Aster tinha perguntado.
— Oh, querida — Mason disse, e inclinou-se para beijá-la na testa. — Você
é uma Saybrook.
Existem partes boas, e existem partes ruins. Aster só não tinha percebido
que as partes ruins muitas vezes superavam as boas — e que o seu uma-vez-amado
pai viria a ser o pior de tudo. Ela encontrou seus olhos na mesa e sentiu-se encher
de raiva. Ele não tinha o direito de estar zangado com ela, não depois do que ele
tinha feito a esta família. Não depois de todos estes anos que Aster manteve seu
segredo.
— Aster, eu preciso falar com você — disse Mason, olhando para ela como
se tivesse sido testemunha de seus pensamentos. — Vamos para o meu escritório —
ele acrescentou, e se levantou.
Aster olhou de soslaio para a mãe, e em seguida para Corinne, Dixon, e
Edith, mas todos os quatro desviaram o olhar. O momento parecia estranho,
como se todo mundo estivesse rindo de uma piada à qual Aster não conseguia
entender. Só Poppy estava olhando para ela, encorajando, acenando na direção do
escritório.
Aster se levantou de sua cadeira, de repente instável em suas botas de tiras
de couro. Esme apareceu da cozinha para retirar os restos de comida. A música
clássica que a família de Aster sempre colocava durante o jantar aos poucos
desaparecia enquanto ela seguia o pai da sala de jantar para o seu escritório na
parte de trás da casa.
A sala cheirava a fumaça de charuto e cedro, do jeito que Aster lembrava.
Ela não tinha posto os pés naquele lugar há anos, desde que ela e seu pai se
afastaram. Ainda havia o mesmo tapete de pele de urso no chão, as mesmas
ferramentas de corte e lupas velhas sobre a mesa, e os vários rifles vintage da
Segunda Guerra Mundial montados nas paredes. Em uma prateleira havia uma
linha de fotografias antigas, incluindo uma de Vovô Alfred em seu uniforme
durante a Segunda Guerra Mundial. De pé ao lado dele estava Harold Browne,
um amigo que ele tinha feito durante seu tempo lá. Ao lado havia uma imagem
que Aster não tinha notado antes, de Mason e outros executivos da Saybrook em
um passeio de golfe. Steven Barnett estava ao lado, seu sorriso bonito e amplo.
Aster desviou o olhar. Parecia estranho que seu pai tivesse uma foto de
Steven em seu escritório depois de tudo que havia acontecido. Mas, enfim, seu pai
sempre dava um jeito de separar as coisas.
Alinhados em outra parede haviam cabeças de animais empalhadas de
suas caçadas favoritas. Um enorme alce, um carneiro com longos chifres, até um
elefante Africano, com orelhas ventiladas e um tronco estendido. Haviam bolinhas
de vidro no lugar onde antes estariam os seus olhos. Quando criança Aster tinha
medo daquele elefante; mas Mason tinha trazido ela uma vez em seu escritório e
pediu-lhe para olhar para ele. — É como o elefante do Museu de História Natural
— disse ele, segurando-a para encará-lo. — Qual era o nome dele?
— O nome dele é Dumbo — Aster respondeu. — Mas eu ainda não gosto
dele. — Para Aster, Dumbo era completamente diferente do elefante do museu —
ou do desenho animado. O elefante estava morto porque o pai dela tinha matado
ele.
Aster olhou para Mason, em seguida, pulou para o sofá de couro
estofado. — Então, o que foi? — ela perguntou friamente.
Mason acendeu um charuto. — Estou cancelando o seu subsídio.
— Como é? — Aster soltou uma risada.
— Eu acho que você ainda não viu isso. — Ele colocou o charuto em um
cinzeiro e inclinou a tela de computador em sua direção. Havia uma tela já aberta.
Aster quase desatou a rir, ela nunca teria imaginado que seu pai leria o site de
fofocas.
E então ela viu as fotos. A primeira foto era de Poppy conduzindo ela
para fora da prova do vestido de Corinne, a maquiagem de Aster estava borrada e
seu cabelo um emaranhado. A segunda era de sua dança em Badawi mais tarde
naquela noite. A alça do seu vestido tinha caído fora de seu ombro, mostrando um
pouco demais enquanto ela olhava para a câmera vagamente. Ela parecia tão
perdida como ela se sentia realmente.
— Aster Saybrook Está Fora de Controle! — dizia a manchete.
Aster sentiu o sangue sair de seu rosto. Esta não era a primeira vez que ela
tinha sido destaque em um site estúpido, mas esta era a primeira vez que seu pai a
tinha chamado para conversar por causa disso.
Seu pai suspirou. — Você arruinou a prova de vestido da sua irmã. Do seu
vestido de casamento. E este negócio no clube — vamos, Aster. Você é melhor que
isso.
Aster piscou com força. — Melhor do que o quê?
Seu pai apenas olhou para ela. Ela procurou em seu rosto por um sinal de
seu pai ali, do homem que costumava levá-la em seus ombros e dizer a ela que
tudo ficaria bem. Tudo o que ela viu refletido foi decepção.
— Deanna pode lidar com isso. Ela pode tirar essas fotos de circulação —
Aster tentou apaziguar. Deanna era a assessora da família; ela poderia fazer quase
qualquer coisa desaparecer.
Mason sacudiu a cabeça. — Eu não quero que Deanna resolva isso, não é
esse o ponto. Você precisa aprender a ter alguma responsabilidade. — Ele deu
outra baforada. — É hora de você arrumar um emprego. Eu falei com HR, e eles
estão procurando uma vaga de assistente para você em um dos departamentos.
— Um trabalho? — Aster balbuciou.
Mason olhou para ela. — Você começa na próxima quarta-feira.
— Tipo, em uma semana a partir de agora? — Aster gritou. — Você não
tinha o direito de fazer isso!
— Eu tenho todo o direito. Eu sou o único que paga suas contas. — Mason
levantou-se, a discussão estava claramente encerrada. — Você tem que crescer
algum dia, Aster. E a hora é agora.
Lágrimas formaram na frente dos olhos de Aster. — Qual departamento
que eu vou trabalhar? — ela perguntou. Não o de Corinne; por favor, não me
deixe trabalhar para Corinne.
— Eu não sei — HR está vendo isso — respondeu Mason. — E,
francamente, eu não me importo.
Aster foi em direção a porta, sentindo lágrimas nos olhos. Ela virou-se
para que seu pai pudesse vê-la chorando, mas ele apenas olhou para ela friamente.
Esse truque não funcionava mais nele.
Ela se imaginou indo para o trabalho na Saybrook, sendo alvo de todo
tipo de fofoca por causa de seu sobrenome. Por um momento, Aster pensou em
desmascarar seu pai revelando o mentiroso que ele realmente era, voltando para a
sala de jantar e anunciando o que ela descobriu sobre ele há cinco anos. Mas,
então, a raiva retirou-se dela como o ar deixando um balão. Dizer a verdade sobre
Mason não resolveria nada.
— Tudo bem — ela retrucou. — Vou aceitar esse trabalho estúpido. Mas
estou avisando, eu vou estragar tudo.
Ela saiu do escritório, correu para o fundo do corredor, e cruzou a porta
da frente, sem dizer adeus a ninguém. Por que ela deveria? Eles provavelmente
estavam rindo dela na sala de jantar. Ou dando risinhos irônicos como se fossem
boas pessoas. Deus, ela odiava todos eles.
Um emprego. Jesus. Ela chamou um táxi e deu ao motorista o endereço
dela no centro, em seguida, encostou-se à janela e fechou os olhos. Pela primeira
vez, ela sentiu como se a maldição da família fosse real. Porque a partir da
próxima semana, Aster estaria vivendo isso.
5
Traduzido por Ivana

N
a noite seguinte, depois do trabalho, Corinne passava por um ponto de
táxi na esquina da West Tenth and Bleecker no West Village. A
Primavera já dava seus primeiros sinais por toda a cidade. As árvores
perfumavam o ar com as novas flores de cerejeira, todos tinham vasos de flores em
seus alpendres, uma velha canção de Gwen Stefani, que sempre lembrava de seus
passeios ao redor de Meriweather no Jaguar conversível que eles guardavam lá,
saía por uma janela aberta alguns metros dali. Enquanto ela andava delicadamente
sobre o meio-fio, cuidando para não raspar suas meias calças de nylon e sapatos
de camurça, ela colocou o telefone entre a orelha e o ombro.
— Eu não acho que Aster tenha noção do que faz — disse Poppy na outra
extremidade da linha. — Quero dizer, Corinne, ela está realmente fora de controle.
Corinne esperou na calçada até a luz do semáforo mudar, distraidamente
observando a multidão do outro lado da rua. Um grupo de rapazes de jeans
conversava com uma mulher em um enorme vestido néon, fingindo não perceber
um ator famoso que passava nas proximidades. As pessoas ali pareciam tão
diferentes de todos no Upper East Side, e ela sempre se sentia como uma turista
ali. Seu olhar se focou em uma velha senhora em um suéter rosa brilhante na
esquina. Ela estava empurrando um carrinho pequeno e portátil cheio de compras
do D’Agostino, um sorriso cheio de dentes brancos em seu rosto.
Ela suspirou ao telefone. — Eu acho que Aster vai ficar bem — ela disse
para Poppy, mas ela não tinha certeza se acreditava nisso realmente. Ela sentiu
então uma inesperada onda de simpatia por Aster: ela até queria que seus pais
parassem de bancar a vida ridícula de Aster, mas agora que eles tinham feito algo,
o ultimato de seu pai parecia tão dramático. Corinne ficou ferida também por
Aster preferir Poppy em vez dela. Mas, no entanto, sua irmã ainda não tinha se
desculpado por estragar a prova do vestido — ou pela postagem no Abençoados e
Amaldiçoados sobre o drama por trás dos holofotes de seu casamento perfeito.
Corinne teria que dar uma breve entrevista ao editor on-line da revista New York,
esta manhã, dizendo o quão útil suas primas e irmã tinham sido no processo de
planejamento. — Minha irmã realmente sabe como fazer uma festa — ela riu.
Problema resolvido, sem a ajuda de Aster. Como sempre.
E era assim que Corinne navegava ao longo da vida; as águas sempre estavam
agitadas, mas ela era constante, nunca virando fora do curso. Ela perguntava-se,
por vezes, como ela e Aster tinham acabado sendo tão diferentes, o quanto suas
reações sempre eram diferentes e o quanto talvez estivesse definido em seu DNA.
Desde que ainda era uma criança, Corinne havia sido orientada a ser sempre a
melhor amiga, a tirar sempre A, a encontrar o tipo certo de pessoas. A única vez
que ela se desviou do caminho ela estava no colégio interno, quando um grupo de
meninas mais velhas a tinha alistado para ajudar a roubar uma estátua de cavalo de
bronze da mesa do diretor. Era algo que os alunos tentavam todos os anos e,
apesar de ser pego poder significar uma ação disciplinar, essas meninas eram as
mais determinadas a conseguir. Na verdade, quando seus pais haviam se mudado,
sua mãe tinha apontado para algumas dessas mesmas meninas, dizendo que
Corinne deveria apresentar-se. Mas quando ela tinha sido pega, sua mãe também
lhe disse como ela estava desapontada com Corinne. — Eu esperava mais de você
— ela disse. Corinne ainda carregava a memória em sua mente, mesmo agora. Era
uma coisa pequena, o que doía muito mais. Às vezes era difícil fazer as escolhas
certas, especialmente quando todo mundo estava assistindo.
Agora Corinne já podia ver o toldo que ela estava procurando, um
restaurante chamado Coxswain. — Ei, Poppy, eu tenho que ir — disse ela, pegando
o ritmo. — Eu falo com você mais tarde, ok?
— Claro — respondeu Poppy. — Mas escute, talvez você devesse falar com
Aster. Ela provavelmente precisa de você agora.
— Falo com você em breve. — Corinne deixou cair o telefone de volta em
sua bolsa e passou pelas plantas em vasos e estatuetas de ferro forjado na porta do
Coxswain. O interior do restaurante era escuro e fresco, a vibe era como estar na
sala de estar de alguém. As cadeiras não combinavam, nem as mesas — algumas
eram de tampos redondos de ladrilhos, outras eram de madeira, e o bar era feito
de mármore lascado. Centenas de remos formavam uma treliça no teto. Cada
mesa e cadeira estava ocupada, mas então ela viu Dixon esperando no bar com
uma cerveja. Seu paletó estava aberto, sua gravata estava solta, e seu cabelo
castanho havia sido empurrado para trás de seu rosto. Sentado ao lado dele havia
um garoto com uma camisa oxford tipo Wall Street, a quem ela reconheceu como
Avery Dunbar, um dos irmãos da fraternidade de Dixon.
Ela suspirou interiormente. Parecia que eles sempre tinham companhia
quando eles saíam.
Quando Dixon viu Corinne, ele lhe acenou entusiasticamente, seus olhos
cinza-verde enrugando nos cantos. Ele saltou de seu banco e beijou sua bochecha,
em seguida, fez um gesto para Avery. — Ele estava no bairro. Ama este lugar. Está
tudo bem, não é?
— Claro — disse Corinne; ela estava muito cansada para se importar. Ela
tinha chamado Dixon para jantar sem seus amigos juntos, mas ele pareceu
confuso. — Quanto mais, melhor, certo? — ele disse uma vez. E então — Espera,
isso incomoda você?
Ela olhou para Avery. — Então você sugeriu este lugar?
— Na verdade, Evan Pierce me disse para experimentá-lo — disse Dixon,
sinalizando para o barman. Um chardonnay para Corinne apareceu em segundos.
— A Gourmet diz que é um restaurante para se dar uma olhada. Ou talvez fosse
Bon Appétit. Uma coisa dessas.
Avery, que tinha um queixo quadrado e um anel grosso de casamento de
platina no dedo, riu. — Olhe para você. Citando a revista Gourmet.
Uma garçonete em uma camisa de algodão e jeans apertados de lavagem
escura apareceu e disse ao trio que a sua mesa estava pronta. Dixon cambaleou
um pouco — Corinne se perguntou há quanto tempo eles estavam bebendo e
ambos os homens seguiram atrás da garota para uma mesa no canto. Ela tomou
um gole de vinho, enquanto seguia atrás, ouvindo-os comentar sobre um grande
lançamento de ações que tinha acontecido durante a negociação naquele dia, e,
em seguida, sobre se eles teriam uma casa nos Hamptons, em agosto. Quando eles
se acomodaram nas cadeiras em uma pequena mesa de canto redonda, Dixon
sorriu. — Poderia ser divertido para fugir nos fins de semana? Após a lua de mel,
eu quero dizer?
Corinne deu de ombros. — Eu ainda prefiro a Vineyard.
Então ela olhou para Dixon, que tinha acabado de pedir outra cerveja. —
Espere. Por que você estava conversando com Evan Pierce sobre restaurantes? —
Corinne tinha tratado todos os detalhes do casamento, até agora, além do fim de
semana de golfe de Dixon.
Dixon voltou o seu olhar para a direita. — Oh. Uh, eu tinha uma pergunta
sobre as acomodações para os convidados. Para os meus pais, eu quero dizer.
Corinne olhou para ele. — Tive uma longa conversa com eles sobre isso
na semana passada. — Ela tinha convidado Herman e Gwendolyn Shackelford
para ficar na propriedade em Meriweather, onde o jantar de ensaio e o casamento
aconteceria, mas eles decidiram ficar em Edgartown dessa vez.
Dixon puxou o colarinho. Parecia que ele estava prestes a dizer algo, mas
foi interrompido pelo retorno da garçonete, desta vez trazendo três pratos de
comida. — Suflê de lagosta — disse ela enquanto colocava os pratos.
Corinne franziu o cenho. — Nós não pedimos isso. — A garçonete sorriu
misteriosamente. Corinne olhou para Dixon e Avery. — Vocês pediram sem mim?
Avery apenas deu de ombros. A garganta de Dixon balançava. —
Experimente.
Corinne deu de ombros e deu uma mordida. A consistência era cremosa,
e a lagosta era fresca e perfeitamente cozinhada. Ela lembrou imediatamente de
algo que ela tinha comido em Meriweather. — Incrível — ela murmurou, dando
outra mordida.
Dixon olhou para Avery, e seu amigo lhe deu um aceno cúmplice. —
Estou feliz de ouvir você dizer isso, porque o chef daqui vai fazer nosso
casamento.
Corinne pousou o garfo. — Mas já temos um serviço de buffet. O chef do
L’Auberge. — Todo mundo queria o novo chef francês na cena culinária de
Manhattan. Seus três restaurantes ao redor da cidade já haviam sido premiados
com estrelas no guia da Michelin. Evan lhe confirmou mais de um ano atrás.
Dixon pigarreou. — Não se desespere, ok? Mas houve um problema. É
por isso que Evan me ligou hoje. Ele teve que voltar atrás.
— Voltar atrás? — O coração de Corinne acelerou. — Mas nosso
casamento é em menos de um mês! — Seus dedos procuraram a bainha da toalha
de mesa. Lentamente, ela começou a pegar em um fio solto.
— Eu sei — disse Dixon com calma. — Evan também sabe. Como eu disse,
ela nos enviou aqui. Todo mundo que veio a este lugar adora. E veja só: o chef
costumava trabalhar no vinhedo, ele conhece os pescadores locais, ele conhece
todos os bons produtos para produzir, e ele está livre no fim de semana do
casamento. Ele e eu já conversamos, e tudo está definido, desde que você esteja de
acordo com isso também.
— Ele parece ser um cara decente — Avery soltou, e em seguida teve o
bom senso de se calar e desculpar-se para ir ao banheiro.
Quando Avery tinha ido embora, Dixon olhou nos olhos de Corinne. —
Problema resolvido, certo? Certo?
— Eu não sei — disse Corinne, sentindo-se dispersa.
— Bem, eu garanto. Isso vai ser ótimo. — Dixon entregou à Corinne o
garfo. — Agora, pegue outro pedaço de suflê.
Corinne fez o que lhe foi dito, mastigando bastante antes de engolir. —
Você e Evan sabiam disso o dia todo, e você não me contou? — perguntou ela,
magoada. Ela olhou para a cadeira vazia de Avery. Mesmo que ele soubesse, ela
imaginou Dixon preparando-o de antemão. Cara, ela vai entrar em pânico. Ajude-
me a acalmá-la.
— Ei. — Dixon estendeu a mão e pegou a mão de Corinne. Ela olhou para
baixo. Inconscientemente, ela havia arrancado toda uma linha de costura da toalha
de mesa; uma longa linha vermelha pendia para o chão. — Evan não queria
preocupá-la — disse Dixon suavemente. — E nem eu. Você tem trabalhado tão
duro. E realmente, o chef aqui vai ser um sucesso — na verdade, lá está ele agora.
— Seu olhar passou por Corinne, em direção à parte de trás do restaurante. — Ele
queria se apresentar.
Corinne se virou para o bar e viu quando uma figura com uniforme
branco de chef caminhava em direção a eles. No início seu rosto estava na sombra,
mas, em seguida, ele caminhou para a luz, oferecendo-lhes um sorriso suave.
Corinne observou sua ampla estrutura, com o rosto esculpido, o nariz fino e olhos
profundos. Ele tinha cabelos escuros ondulados, alguns pêlos no rosto, e o tipo de
sorriso que parecia um pouco brincalhão, como se soubesse algo que você fez.
A mandíbula de Corinne caiu. Ela realmente sentiu-se encolher na
cadeira. Era um homem que ela não via há anos, mas nunca poderia ter
esquecido. O rosto dele estava menos bronzeado, o cabelo mais longo, o corpo
um pouco mais tonificado, se isso era mesmo possível.
Por um segundo, ela foi transportada de volta para o verão em
Meriweather, quando Dixon tinha terminado com ela e ela se sentiu tão perdida,
percebendo pela primeira vez que não importava o quanto ela planejasse as coisas,
não importava o quão certo era eles ficarem juntos, ela não poderia forçá-lo a
querer voltar com ela.
Ela tinha saído com Poppy para a cidade, uma noite, para beber muito
vinho rosé em um bar com vista para o mar. Quando terminaram a garrafa, outra
apareceu, depois outra, tudo grátis; Poppy tinha esse efeito nas pessoas. As horas
passaram em um borrão de conversas bobas com os rapazes que paravam para
cortejar a sua prima, uma mistura de risos e piadas que nunca seria tão engraçado
novamente. Mas quando ela olhou para cima, havia alguém observando-a. Will
Coolidge, ele finalmente se apresentou. Mas só quando ele já estava levando-a
para a doca, com a visão do Atlântico como cenário enrolando sobre a areia, que
ela percebeu que ele estava esperando por ela a noite inteira.
Ela tirou os sapatos; a areia estava fria e granulada sob seus pés.
Encorajada com o vinho, ela se inclinou em direção à ele e eles se beijaram.
Parecia estranho para Corinne beijar alguém depois de somente estar com Dixon
por tanto tempo. E o beijo foi tão diferente do de Dixon. Ela queria mais, mas ela
se conteve, respirando com dificuldade e olhando para ele. — Eu não faço coisas
como esta — ela anunciou.
— Nem eu — disse Will.
Corinne riu. — Você parece ser exatamente o tipo que faz.
Will balançou a cabeça. — Você não sabe quem eu sou.
— Você não sabe quem eu sou — ela desafiou.
Will olhou para ela. — Sim, eu sei. Todo mundo sabe. — E então ele a
beijou novamente.
— Olá, senhorita Saybrook.
Corinne piscou, de repente de volta na penumbra do restaurante. Sem
pensar, ela girou seu anel de casamento em torno do dedo, de modo que o
diamante amarelo ficou no interior de sua mão. — O-oi.
Depois de tantos anos juntos, Corinne às vezes pensava que Dixon podia
ler sua mente. Mas quando ela olhou por cima da mesa, ele apenas sorria
cortesmente, alheio ao seu desconforto. — Vocês se conhecem?
Will olhou para Corinne, em seguida, desviou o olhar abruptamente,
virando seu corpo mais para Dixon. — Sim. Nós nos conhecemos.
— Bem, isso é ainda melhor. — Dixon estendeu a mão para Will. — Muito
obrigado por nos ajudar, cara. Você é tudo para nós agora, certo, Corinne?
Corinne engasgou. A cicatriz em seu torso começou a coçar. Mas ela não
podia ficar sentada, sem dizer nada, então, finalmente, ela olhou para Dixon e
sorriu. — Eu não posso acreditar que você manteve isso em segredo.
Will olhou fixamente para Corinne. — É incrível o que as pessoas podem
manter em segredo, se quiserem — disse ele.
E então ele balançou a cabeça e voltou para a cozinha.
6
Traduzido por Matheus Martins

M
ais tarde naquela noite, Rowan se atrapalhou com a tranca para o seu
apartamento de cobertura em Horatio, na Avenida Greenwich, que ela
possuía desde a graduação da faculdade de direito. Ela caiu no sofá de
couro cor de conhaque na sala de estar, a cabeça zumbindo dos dois Maker nas
rochas que ela teve com um cara da sua equipe de corrida. Greg estava em grande
forma e pode executar uma maratona abaixo de 3:30, mas a sua velocidade de
conversação era mais lenta do que a sua avó. Ela pediu a segunda bebida apenas
para passar por isso, as palavras de James dando laços através de sua mente o
tempo todo: Você tem que dar às pessoas uma chance. Mas ela simplesmente não
podia deixar de comparar Greg com James a curto prazo. Poppy sempre disse que
mais encontros aumentariam as chances de encontrar alguém legal, mas Rowan
temia que mais encontros falhos apenas provariam que ela nunca iria encontrar
alguém à altura.
Uma grande forma correu para a sala de estar, estalando as garras pelo
piso de madeira. — Jacks — Rowan gemeu quando seu cão de montanha Bernese
de cem quilos, Jackson, pulou em seu colo. Bert, o Chihuahua, apareceu ao lado e
latiu aos seus pés. Rowan colocou Jackson gentilmente de volta para baixo e
acariciou a cabeça de Bert. Ambos os animais decolaram para o final do corredor
e começaram a latir no quarto.
Rowan fechou os olhos, sabendo que eles estavam morrendo para dar
uma caminhada. Ela poderia ter pago alguém para fazer isso durante a noite, mas
ela gostava de ir sozinha. O Hudson River Park era tão tranquilo durante a noite, e
ela podia deixá-los fora de suas coleiras. Mas era quase dez, e ela estava muito
cansada.
Uma luz brilhou do escritório de Rowan, que estava fora da sala de estar.
O monitor do computador ainda estava ligado, provavelmente desde que sua
empregada, Bea, estivera ali no início do dia. Mesmo de seu sofá, Rowan poderia
dizer que o Abençoados e Amaldiçoados estava na tela. Bea jurou que não havia
lido, mas Rowan não era burra. Devia ter sido como passar por um acidente de
trânsito — você não pode não parar e olhar.
Rowan levantou, caminhou até seu escritório, e olhou para a tela. Fotos e
fofocas sobre os membros de sua família enchiam a página inteira. — Aster
Saybrook está fora de controle — dizia a manchete ousada no topo. — A vida desta
menina é definitivamente amaldiçoada — disse um comentário abaixo do artigo. —
Eu transaria com ela — afirmava um outro; e mais duzentos e seis comentários se
seguiam. Abaixo disso, havia um artigo sobre o casamento de Corinne: — Afundar
ou Nadar: Novo Chef do Coxswain Navega Nas Águas do Casamento
Meriweather. — Depois havia uma foto do irmão gêmeo de Rowan, Michael, a
caminho de sua prática dermatológica em Seattle, e um flagra de seu outro irmão,
Palmer, com sua família em sua propriedade na Itália, onde Palmer liderava o
marketing da equipe de Fórmula 1 da Ferrari. O site especulava que os irmãos de
Rowan não funcionaram para a Saybrook porque Vovô Alfred não achava que eles
eram espertos o suficiente, mas isso não era verdade, eles simplesmente não
estavam interessados em joias.
Havia também um segmento que citava novas evidências do acidente de
avião que matou os pais de Poppy dois verões antes. Baboseira. Se os peritos
tivessem finalmente encontrado a caixa preta nas profundezas do Atlântico, Rowan
e sua família seriam os primeiros a saber, e não esse blog idiota. E, finalmente, na
parte inferior, havia uma parte sobre a própria Rowan correndo no parque. — Ro
na Ativa.
Ela clicou no link, ampliando a foto. Seu rosto parecia confiante, e suas
pernas aparentavam ser fortes e flexíveis. Sempre que ela via fotos de paparazzi de
si mesma, ela se sentia como se estivesse olhando para outra pessoa totalmente
diferente — alguém mais glamorosa, mais completa do que ela realmente era. Ela
fechou o site, desejando que pudesse desligar o fascínio do público com a sua
família com a mesma facilidade.
A campainha tocou, e os cães voltaram correndo para o foyer. Rowan
apressadamente silenciou-os enquanto caminhava até a porta. Um rosto familiar
apareceu no olho mágico.
— James?
— Ei, Saybrook. — O marido de Poppy ofereceu um sorriso de menino,
quando ela abriu a porta. Seu cabelo estava despenteado, de forma bagunçada-
moderna, e as suas unhas pareciam roídas, algo que ele costumava fazer antes de
sua antiga banda, Cavalo e Cenoura, se apresentarem.
Rowan olhou por ele para o corredor vazio.
— Onde está Poppy?
— Na verdade, sou apenas eu. — James trocou seu peso. — Eu vim do
trabalho — eu fiquei até agora terminando um lançamento. — Ele era um diretor
de criação de uma empresa de tecnologia. — Você se importa se eu entrar por um
segundo?
Rowan ficou de lado para que ele pudesse entrar. Jackson saltou e
colocou as patas sobre seus ombros.
— Oh, Jackson — Rowan repreendeu.
— Está tudo bem. — James afagou a cabeça macia do cão.
Rowan entrou na sala de estar, e James a seguiu. Ele sentou-se no sofá e
olhou em volta. O relógio de pêndulo no canto balançava ruidosamente. — Você
redecorou?
— Dois anos atrás — Rowan admitiu.
— É muito você.
Rowan tentou ver seu apartamento através dos olhos dele. Ela tinha várias
peças de couro e mesas laterais de metal gasto. Havia uma grande hélice de um
velho avião da era Charles Lindbergh na parede, e uma placa de metal antiga de
uma marca de cigarros extinta pendurada perto da janela. Comparado com os
toques femininos de Poppy e seu lar, o apartamento de Rowan parecia o interior
de um bar de charutos.
Ela limpou a garganta.
— Posso pegar algo para você beber? Eu tenho água, limonada, cerveja...
— E quanto a uísque?
Ela sustentou seu olhar por um momento, então se agachou para o
armário antigo onde ela guardava garrafas, como se fosse tudo completamente
normal. Havia uma garrafa meio bebida de Glenfiddich; ela pegou ela e dois
copos de cristal. O líquido âmbar queimava suas narinas enquanto ela servia a
ambos.
Ela entregou um para James.
— Então, o que está acontecendo? — perguntou Rowan casualmente. O
coração dela, ela percebeu, estava batendo forte, mas ela não tinha certeza
exatamente o que ela estava esperando.
James inclinou a cabeça.
— Um velho amigo não pode vir ver sua amiga? — Ele mudou de posição
no sofá. — Eu me diverti bastante na festa de Skylar. Estou com saudades.
Algo dentro de Rowan desconjuntou. Ela levantou o copo e o fez tinir no
dele.
— Bem. Saúde.
James brindou de volta. Então, ele levantou a cabeça e limpou a boca.
Rowan entregou-lhe a garrafa, e ele derramou mais no copo. Alguns momentos de
silêncio se passaram.
— Lembra do tempo que fugimos da conta no Plaza? — disse James de
repente.
Rowan piscou para ele.
— Isso foi anos atrás.
James fechou os olhos.
— Eu esqueci o meu cartão de crédito. E você ficou tipo, Ei, vamos fugir!
Eu nunca ri tanto na minha vida.
— Foi ideia sua, não minha — Rowan repreendeu. Um barman, vestido em
um smoking e caudas, tinha saído correndo atrás deles. James e Rowan olharam
um para o outro, e cada um jurou que o outro tinha pagado. Após o barman sair,
com o dinheiro na mão, eles dobraram de tanto rir, imaginando as manchetes no
jornal do dia seguinte.
— Herdeira Come e Foge Sem Pagar? — disse James agora, pensando
claramente a mesma coisa.
Rowan bufou.
— Ro-Ro Não Tem Nenhum Dinheiro.
— Aquele velho consegui se mover rapidamente, no entanto. — James deu
mais um gole de uísque. — Apesar de não ser tão rápido como as doses de Jell-O
do Alex.
Rowan gemeu.
— Jesus. Você está tentando me matar? — Alex tinha estado no
departamento de filosofia na Universidade de Columbia e pediu para Rowan ir a
uma festa que ele estava dando. Apesar do fato de que ele poderia debater os prós
e contras de Foucault e Derrida, ele bebeu um lote de doses de Jell-O em menos
de um minuto e, em seguida, tentou apalpar Rowan.
— Eu não sei por que você saiu com aquele cara — James repreendeu.
Porque eu não tive coragem de sair com você, Rowan queria dizer,
tomando uma bebida em seu lugar.
Ela pensou em voltar mais uma vez à noite que ela deu a festa para ele em
Meriweather, quando ela quase tinha dito alguma coisa. Poppy a tinha encontrado
no banheiro. — Você está perdendo toda a diversão! — ela disse, explodindo
quando Rowan se sentou na beirada da banheira, tentando não chorar. Poppy
tinha se inclinado sobre a vaidade para retocar a maquiagem, mas depois ela
pareceu sentir a angústia de Rowan. — Você está bem? — ela havia perguntado,
piscando forte. — Estou monopolizando James?
— Claro que não — Rowan balbuciou.
Poppy ficou de joelhos sobre o tapete do banheiro e olhou diretamente
nos olhos de Rowan.
— Ro. Ele é apenas um amigo?
Rowan engoliu em seco. Natasha tinha dito alguma coisa? Era óbvio? Era
humilhante, de repente, especialmente porque James claramente não estava
interessado nela. Rowan não era o tipo de garota que ele gostava. E ela não era o
tipo de garota que ficava em segundo lugar.
Uma casca dura se formou ao seu redor, bloqueando seus sentimentos.
— Claro que ele é apenas um amigo — disse ela com firmeza, voltando o
olhar para Poppy. E foi isso. Ela fez sua escolha.
Agora, ela e James esvaziavam a garrafa de uísque, e Rowan encontrou um
pouco de vinho tinto na cozinha. Enquanto ela enchia os copos, eles falaram sobre
como eles uma vez caíram na despedida de solteira de uma menina e acabaram
em sua limusine. Eles relembraram a banda de James e seus shows mais
memoráveis, incluindo o tempo que eles alugaram uma casa de salto inflável para
ficar ao lado do palco. — Ah, a cabana do sexo — disse James, apertando as mãos
atrás da nuca. — Uma das minhas melhores ideias. — Um olhar distante atravessou
seu rosto. — Essa casa do salto era como uma cama de água.
Rowan corou. Eles não tinham falado sobre as conquistas de James há
anos; ela estava fora de prática.
— Eca — disse ela, meio-enojada.
James sorriu.
— Ela não pensava assim. Até que eu perfurei a coisa.
— Você perfurou-a? — Rowan recordou como a casa do salto tinha se
inclinado à esquerda no final da noite, uma das torres do castelo ficando flácidos.
Como um pênis, tinha sido a piada.
— Minhas chaves estavam no bolso — explicou James. — A coisa quase me
engoliu. Eu tive que caçar as minhas calças com a bunda de fora.
Rowan imaginou James preso dentro da casa do salto sem roupa. Então,
ela sentiu uma pontada de culpa. Era uma traição falar sobre as conquistas do
passado de James assim? Ela não tinha certeza se Poppy sabia sobre isso — ela
nunca tinha perguntado, e Rowan não tinha compartilhado. Rowan não tinha
certeza por que ela não tinha dito, exceto que ela pareceria manipuladora, como
se ela estivesse esperando que isso fizesse Poppy gostar menos de James. Além
disso, ele tinha mudado por causa de Poppy; ela o fazia bem, como ela fazia todo
mundo se sentir bem.
Um sentimento renovado de euforia bêbada invadiu Rowan, e ela decidiu
que ela estava dando muita importância a tudo isso. Ela olhou para James e
desabafou: — Eu esqueci que você era assim.
— Assim como? — James inclinou a cabeça. — Um grande deflator de
casas infláveis?
— Bem, sim. Você conta boas histórias.
— Bem, eu não me esqueci de que você pode escutá-las — disse James,
inclinando-se e colocando a mão sobre sua coxa.
Rowan olhou para sua mão, pensando em como ela costumava se
maravilhar com seus dedos longos e finos. Ela engoliu em seco e lembrou-se de
que ele não a tocaria agora mesmo se ele não estivesse bêbado.
Mas então ele se inclinou em direção a ela. Um chiar correu pela espinha
de Rowan. Com o canto do olho, ela avistou uma fotografia de si mesma e Poppy
sobre a lareira, os seus braços nos ombros uma da outra, os sorrisos de êxtase em
seus rostos.
Ela se afastou.
— Eu acho que nós estamos desperdiçando tempo.
— Eu não acho. — A voz de James de repente estava sóbria. Ele colocou as
mãos sobre os joelhos, com uma expressão de dor no rosto. — Rowan... Acho que
Poppy vem me traindo.
A temperatura subiu alguns graus.
— O quê?
James passou a mão pelo cabelo.
— Ela está tão distante. É como se eu não existisse. — Ele parecia
desolado. — Quero dizer, olhe. Eu sei os sinais. Eu já fiz isso com as pessoas. Algo
está realmente errado com a gente.
Rowan pensou na festa de aniversário de Skylar. Poppy parecia um pouco
distante. Ela não tinha notado quando James desapareceu no banheiro, e ela não
estava olhando para ele quando eles reapareceram. — Ela está sobrecarregada. Ela
tem um trabalho louco, dois filhos pequenos, e a imprensa ainda está falando
sobre o acidente de seus pais — disse Rowan, pensando no que tinha lido no
Abençoados e Amaldiçoados.
— Ela sempre lidou com isso antes. Agora, há momentos depois do
trabalho quando ela simplesmente... desaparece — explicou James. — Eu ligo para
ela, e ela não atende. E eu já vi ela fazer ligações secretas. Desligando rápido
quando eu chego perto. É por isso que eu não posso voltar lá hoje à noite. Eu
simplesmente não consigo lidar mais com isso. Eu tinha que dizer isso a alguém. —
Ele agarrou a mão de Rowan. — Eu quase disse alguma coisa para você sobre isso
na festa da Sky. Você sabe o que está acontecendo?
— Claro que não — gritou Rowan. Ela olhou para suas mãos, sua cabeça
girando. Os dedos de James se entrelaçaram nos seus. Lentamente, ela os puxou
para longe. — Isso é tudo coisa da sua cabeça. Poppy nunca faria isso.
— Você ficaria surpresa com o que as pessoas fazem.
— Não ela — Rowan insistiu. — E não com você. Você é um pai
maravilhoso e um marido incrível. Você é incrível... em geral.
A frase ficou suspensa lá. James encontrou seu olhar. Rowan apertou os
lábios fechados, horrorizada com o que havia dito.
Um sorriso surpreso apareceu no rosto de James. — Você quis dizer isso
mesmo, Saybrook?
O uísque ficou grosso no céu de sua boca. — Talvez — ela sussurrou.
— O que você quis dizer?
Ele olhou para ela. Rowan engoliu em seco, uma porta se abrindo. Todas
as vezes ela teve que mentir. Aqui, bêbada, às onze horas em uma noite de quinta-
feira, talvez ela pudesse dizer a verdade.
— Eu quis dizer... — ela fechou os olhos e se virou. — Em todos os
sentidos.
Os cílios de James baixaram. Então, em um movimento confiante, ele
puxou-a para si. Sua boca se fechou em torno da dela. Ele passou as mãos pelos
seus cabelos. Ela tocou a parte de trás do seu pescoço. Ela absorveu o cheiro de
seu sabonete, seu aperto forte, a destreza com que ele a tocava. Deus, ela se
perguntava sobre isso há anos. Toda vez que ele se encontrava com outra garota,
cada vez que ele contava a Rowan que ele tinha dormido na cama de outra pessoa,
ela se perguntava.
Em minutos eles estavam em seu quarto.
— Isso não está certo — Rowan murmurou enquanto ele a deitava no
colchão.
— Sim, está, Saybrook. Esta é provavelmente a coisa mais certa que já
fizemos. — Ele beijou seu pescoço. — Eu sabia que você me queria. Eu queria você
também.
Rowan olhou para ele.
— Não, você não queria. — Mas o olhar no rosto de James disse que talvez
ele quisesse.
James acariciou seu rosto, sua respiração rápida.
— Eu acho que até Poppy sabia como nos sentíamos, no fundo. — Ele
afundou em um cotovelo. — Você é tão inteligente. E bonita. E legal.
— Pare — disse Rowan timidamente, mas ele a puxou de novo antes que
ela pudesse dizer qualquer outra coisa. Suas palavras caíram sobre ela, uma e outra
vez, até que eles eram o único refrão em sua mente, a única coisa que existia entre
eles.
Por algumas horas preciosas, ela finalmente conseguiu tudo o que ela
sempre quis.

***
Rowan abriu os olhos. Ela estava deitada em cima do edredom de seda
dela em uma camisola cor-de-merlot que ela não se lembrava de ter comprado. O
ventilador de teto girava sobre sua cabeça; lá fora, ela podia ouvir o silvo suave da
cidade acordando. A julgar pela luz fraca que entrava pela janela, provavelmente
tinha acabado de amanhecer. Sua cabeça latejava do uísque e do vinho. James
estava ao lado dela, inconsciente. Uma figura estava sobre a cama. Tinha olhos
vazios, a boca voltada para baixo, um corpo disforme.
— Que vergonha — uma voz rouca sussurrou.
Rowan se encolheu para trás. Mas quando ela levantou os seus olhos mais
uma vez, a figura tinha ido embora. O relógio digital piscava 05:50. Luz do sol
entrava pelos altos batentes das janelas.
Rowan soltou um suspiro. Um sonho. Não havia nada no canto, exceto
por uma pilha de roupas. Calça jeans. Sua camiseta. E sapatos pretos de homem.
— Oh meu Deus — ela sussurrou. James estava aqui.
Mas ele não estava na cama, como tinha estado no sonho. Rowan
levantou, caminhou até a porta, e escutou. A voz abafada de James flutuava fora da
sala de estar. Ele estava de cueca, suas costas fortes e bronzeadas viradas para ela.
Seu celular estava no ouvido.
— Eu sei, eu sei — ele sussurrou. — Mas eu disse a você, algo aconteceu. —
Ele mudou de posição. — Eu te vejo hoje à noite, ok?
Rowan tentou escapar em silêncio, mas ela pisou em uma tábua rangente
no chão. James virou-se. Seus olhos se arregalaram, e ele apertou o botão
DESLIGAR no telefone.
— Eu sinto muito — Rowan sussurrou com um nó na garganta. Ele tinha
que estar falando com Poppy. Mentindo sobre por que ele não tinha voltado para
casa ontem à noite, ela pensou com pesar.
Rowan não podia sequer pensar em sua culpa, era tão avassalador. Ela
não conseguia olhar para as mãos, sabendo que elas tinham tocado James em
todos os lugares. O que ela fez? Ela pensou em como o futuro se desdobraria: ela
deixaria escapar para Poppy, com certeza. Não havia nenhuma maneira que ela
pudesse enfrentar sua prima, como se nada tivesse acontecido. Poppy poderia
perdoar Rowan, mas sempre haveria um abismo entre elas — em cada jantar,
durante todas as celebrações de feriados, a cada vez que vissem uma a outra,
ambas se lembrariam do que Rowan tinha feito.
E então, calmamente, Poppy diria as outras primas, explicando que ela
entendia por que isso aconteceu, de qualquer forma — a pobre Rowan tinha estado
sozinha por tanto tempo, e James tinha sido seu amigo, e realmente, alguém
poderia culpá-la?
Ela voltou para o quarto. James deixou cair o telefone no sofá e correu em
direção a ela.
— Ei. Onde você está indo?
Ele tentou envolver seus braços em volta da cintura dela, mas Rowan se
afastou, quase sentindo como se o cenário futuro que ela tinha traçado em sua
mente já tivesse acontecido. — Oh, Deus, James. O que diabos aconteceu? O que
vamos fazer?
Ele inclinou-se para trás e olhou fixamente para ela.
— Acalme-se. Vai ficar tudo bem.
Lágrimas encheram os olhos dela, quentes e salgadas.
— Como você pode dizer isso? Nada vai ficar bem.
Ele tentou beijá-la, mas ela abaixou a cabeça para o lado de modo que ele
acabou beijando sua orelha.
— Eu tenho que sair daqui — disse ela, olhando para o relógio. Eram
06:03; ela tinha uma chamada de conferência com o escritório de Cingapura às
7h30. Ela se atreveu a olhar para James. Só de olhar para ele, ela sentiu uma
atração inegável na direção dele.
— Você deveria ir para casa — ela ordenou. — Resolva as coisas com
Poppy. Por favor.
James balançou a cabeça.
— Eu acho que estamos além disso. Estou falando sério. Eu vou dizer a ela
que acabou.
Rowan sentiu o sangue de seu rosto drenar. Ele não podia fazer isso.
— Ok, então fique aqui e pense. Fique sóbrio. Você vai mudar de ideia.
Você vai ver como isso é errado.
— Saybrook. — James se adiantou e pegou seu rosto em suas mãos
grandes. — Só acalme-se por um minuto, e talvez você vai ver como isso é certo.
Vai ser confuso, sim, mas você é minha melhor amiga. Você me conhece melhor
do que todos. Eu te amo. Isso devia ter acontecido anos atrás.
Ele a puxou para perto e a beijou. Rowan fechou os olhos. Se alguma vez
ela se sentiu horrível, duas formas encaixavam muito mal. Ela se esforçou para
afastar-se, sentindo seus lábios tóxicos.
— Eu tenho que ir — ela murmurou.
Era seis e meia quando ela tomou banho, vestiu-se e pegou suas chaves,
enquanto James penava na cama. Rowan evitou olhar para James, com medo de
outra onda de vergonha — ou desejo. Era mesmo certo deixá-lo ali? Mas se eles
saíssem do apartamento juntos, alguém poderia vê-los, o que seria pior.
A cabeça de Rowan balançou quando ela parou na Starbucks da esquina.
Ela mal percebeu o moedor alto, a música batucando, ou a mulher com o sotaque
de Staten Island em frente a ela. Depois de esperar em uma longa fila para tomar
um café e um muffin, ela decidiu comer em um pequeno parque perto de seu
apartamento. Ela não estava com pressa para chegar ao trabalho e enfrentar sua
prima.
Quando ela se sentou, os pedestres se movimentando por ela, sua mente
revirou sobre o que tinha acontecido. Será que James realmente a amava? E
Poppy realmente tinha um caso? Rowan não podia imaginar, mas ela supunha que
tudo era possível. Isso não tornava o que Rowan tinha feito mais perdoável, é
claro. Mas certamente explicava por que James se virou para ela.
Finalmente, quando ela não aguentava mais pensar sobre isso por mais
tempo, Rowan levantou-se e dirigiu-se para baixo do Hudson. Vinte minutos
depois, ela se virou para Harrison — e parou um pouco. Cavaletes do
Departamento de Polícia de Nova York bloqueavam o cruzamento na Harrison e
Greenwich. O edifício da Saybrook, uma laje de calcário cinza brilhante e vidro
que parecia particularmente bonita contra o céu azul brilhante, se encontrava no
canto. Fitas amarela da polícia cercavam a entrada da frente, e várias ambulâncias
e caminhões de bombeiros estavam estacionados de modo torto na frente, as luzes
piscando.
Rowan caminhou cautelosamente ao longo da calçada, o coração
acelerando. A fita da polícia isolava um pequeno retângulo na calçada do lado de
fora do edifício; paramédicos estavam sobre algo coberto por um lençol. Ela olhou
para cima. Do outro lado da rua, as pessoas estavam em suas varandas, os homens
em camisas de manga e as mulheres em vestidos de primavera, as suas mãos sobre
a boca, olhando para o chão.
Corinne nadou para fora da multidão, com o rosto branco como um
fantasma. Ela correu para Rowan e agarrou-lhe o braço.
— O que está acontecendo? — gritou Rowan.
Corinne olhou para Rowan como se estivesse vendo através dela. Em
seguida, ela caiu nos braços de Rowan e começou a soluçar. O relógio da igreja
bimbalhava a poucas quadras dali.
— Corinne, o que foi? — Rowan olhou para o rosto de sua prima. — O que
é isso?
Corinne olhou para Rowan com os olhos vermelhos molhados.
— É Poppy — disse ela, com a voz rouca e embargada. — Ela está morta.
7
Traduzido por Andresa Lane

—C
orinne — chamou uma voz quando Corinne saiu do carro de seus
pais na segunda-feira de manhã. — Você pode comentar sobre o
suicídio de sua prima?
— Aster, ela tinha um histórico de uso de drogas? — perguntou outra,
colocando uma câmera em Aster. — Ela era doente mental?
Corinne puxou sua bolsa de cetim preta mais perto de seu corpo, segurou
a mão de sua mãe, e correu mais rápido em direção à Igreja de São João do
Divino na Avenida Amsterdam. Havia uma banca de jornal no meio-fio; o rosto
de Poppy estava espalhado em cada página. “Quilates, Lapidações, Clareza,
Calamidade,” dizia uma manchete. “Cidade de Luto por um Perfeito Diamante,”
dizia outra. “Uma Queda da Elegância”. Havia uma foto de Poppy em uma festa
de gala no Metropolitan, olhando para o espaço, com os olhos grandes, boca
franzida e sua mandíbula tensa. Outro jornal mostrava uma foto de forma irregular
de Poppy sob o lençol na calçada em frente à sede dos escritórios Saybrook.
Corinne não conseguia tirar a manhã da morte de Poppy da sua mente.
Ela chegou aos escritórios Saybrook apenas seis minutos depois de Poppy saltar,
ainda se recuperando de ver Will Coolidge no dia anterior. Havia uma multidão
de pessoas em torno da entrada, e no início ela estava irritada. Mas, então, ela
notou um paramédico inclinando-se sobre alguém na calçada.
Corinne estava empurrando a multidão quando, de repente, um guarda da
Saybrook a agarrou. — Afaste-se, Corinne — disse ele em uma voz firme. Ele era
um cara irlandês doce, chamado Colin, que sempre convidava Corinne e Dixon
para ir beber com ele e seus amigos no dia do São Patrício.
— O que está acontecendo? — Corinne exigiu, seu coração batendo contra
suas costelas.
Colin olhou para ela. E então murmurou um nome. Poppy.
Anos atrás, em um parque de diversões no Cabo, Poppy tinha falado para
Corinne sobre ir a um passeio chamado Rotor, um barril que girava e girava, até
que, de repente, o chão saía de debaixo de seus pés e as pessoas eram jogadas para
os lados por causa da força. Foi assim que ela se sentiu ao ver o corpo de Poppy
espalhado pela calçada. Fazia vários dias agora, e todas as manhãs ela esperava
acordar e ver um e-mail de Poppy, ou uma chamada não atendida. Tem que ser
um erro, ela não parava de pensar, ao mesmo tempo que se tornava
dolorosamente claro que não era.
— Rowan! Houve um escândalo nos negócios? — outro repórter gritou
para Rowan, que estava atrás de Corinne. — Ela tinha problemas em seu
casamento?
— Ela estava deprimida com a morte de seus pais? — outro repórter gritou.
— Ela deixou um bilhete?
O coração de Corinne disparou. A polícia tinha ido no escritório de
Poppy, e lá estava, digitado em um documento do Word na tela de seu
computador. — Eu simplesmente não aguento mais — dizia. — Eu sinto muito.
Adeus. — A prova de que Poppy, a mais tranquila de suas primas, tirou sua
própria vida.
Assim que todos estavam dentro da arejada catedral de teto alto, longe da
imprensa, Corinne foi para Rowan e deu-lhe um grande abraço. Ela parecia muito
pálida; Rowan não tinha ido trabalhar durante toda a semana, e agora Corinne se
perguntou se estava sendo mais difícil para ela do que para o resto deles. Aster
estava ao lado dela, com o olhar no chão.
Corinne tocou o braço de sua irmã. — Ei — ela disse suavemente, sua voz
embargada. Agora sua briga parecia tão insignificante.
Aster olhou para cima. Seus lábios se separaram. Corinne abriu os braços,
e Aster caiu neles. — É tão horrível — Aster soluçou no ouvido de Corinne. — Isso
não faz sentido. Ela tinha tudo.
— Eu sei — Corinne sussurrou.
Uma luz colorida entrava pelas janelas com vitrais no interior da catedral.
Pessoas de luto paravam em pequenos grupos, alguns verificando seus telefones,
outros enxugando os olhos com lenços. Uma grande pia batismal com água benta
estava de um lado; várias pessoas mergulhavam seus dedos e faziam o sinal da
cruz.
A família Saybrook não era religiosa, mas tetos altos de catedral e espaços
frescos e escuro sempre fizeram Corinne se sentir calma e em paz. Era menos
chamativo do que na igreja São Patrício, onde o velório de Steven Barnett tinha
sido cinco anos antes.
A memória do funeral do avô de Corinne voltou para ela. Foi no início do
que já estava provando ser um horrível verão — Dixon havia anunciado que ele
estava indo para Londres para estagiar no Grupo FTSE, e, oh, sim, ele estava
terminando com ela. Duas semanas depois, ainda completamente sem rumo,
Corinne recebeu a notícia de que seu avô tinha morrido de repente. Ela tinha
acabado de ver Alfred em Meriweather alguns dias antes. Ele tinha dado a ela um
par de brincos de diamantes de três quilates em formato de lágrima; quando
Corinne perguntou qual era a ocasião, ele apenas sorriu e beijou sua bochecha. —
Simplesmente porque você é minha doce menina. — Ela ainda podia sentir o
cheiro dele e o aroma de sabão e de charuto de sua pele. Ela ainda podia ouvir
sua voz grave. Ela ainda podia sentir o cheiro do limão em sua gin tônica.
O caixão de seu avô tinha sido fechado, então Corinne não tinha sido
capaz de dar-lhe um beijo de adeus e colocar os brincos sob o travesseiro de
cetim. Uma imagem de Corinne chorando tinha aparecido no Abençoados e
Amaldiçoados no dia seguinte. Alguém tinha realmente enviado uma imagem do
interior da igreja.
Agora um porteiro entregou a Corinne um guia e indicou-lhe a direção da
porta. Corinne andou, como um zumbi, para a frente, o olhar cintilando sobre o
mar de pessoas de luto que se aglomeravam na entrada. Havia pessoas do
trabalho, colegas de outros impérios de joias, modelos, atores, músicos e
designers. A editora de moda da Vogue encostava-se à parede, ao lado de uma
mulher loira de aparência séria em um terno de negócios.
Pessoas correram para Corinne, oferecendo palavras de simpatia.
Winston e Sullivan, seus primos adolescentes da Califórnia, abraçaram-na com
força. Sua mãe, a tia Grace, que quase nunca ia para Nova York, se aproximou de
lado, abraçando Rowan apertado. Os irmãos de Rowan, Michael e Palmer, que
tinham vindo de avião, puxaram-na para abraços de urso. — É uma tragédia —
disse Beatrice, de vinte e cinco anos de idade, prima em segundo grau de Poppy
do lado de sua mãe. Suas palavras pareciam especialmente ocas; Corinne se
perguntou se era porque Poppy a tinha ignorado para uma promoção há alguns
meses.
Corinne abraçou mais alguns Saybrook e um editor de acessórios da
Vogue. As pessoas passavam por ela, seus rostos se misturavam. Danielle Gilchrist
segurou a mão dela. — Eu sinto muito, eu não posso acreditar — ela murmurou. E
a mãe de Danielle, Julia, estava ao lado dela, com os olhos cheios de tristeza.
Corinne não tinha visto Julia há anos, desde que ela se divorciou do marido, mas
parecia que ela não tinha envelhecido um dia.
— Meus pêsames — Julia disse a ela. — Chame se você precisar de alguma
coisa — murmurou a Sra. Delacourte, a velha babá de Poppy, que devia ter quase
oitenta anos. — É tão horrível — cochichou Jessica, assistente pessoal de Edith,
antes de fugir para a frente da igreja, onde Edith estava sentada.
— Oh, querida — disse Deanna, abraçando Corinne apertado. — Se você
estiver bem com isso, deveríamos conversar mais tarde — ela sussurrou no ouvido
de Corinne. — Sobre algumas entrevistas. Mas só se você se sentir pronta.
— Eu não estou — disse Corinne, se afastando para trás. Essa era Deanna,
ela era parte mãe Judia, parte viciada e incansável por trabalho, sempre pensando
sobre a reação da mídia. Haveria uma edição especial da People sobre a maldição
da família, e a 20/20 iria criar uma história sem uma única fonte. Mas neste
momento, Corinne não via sentido em dar entrevistas. Ela já tinha dado uma
breve declaração que ela não tinha ideia do porquê Poppy poderia ter feito uma
coisa tão horrível. Ela não tinha mais nada a acrescentar.
Em seguida, outra mão tocou as costas de Corinne, e ela olhou para o
rosto de Jonathan York, presidente da Gemologique Internationale, uma das
maiores concorrentes da Saybrook. Ele também era tio de Corinne por
casamento, mas ele e tia Grace haviam se divorciado anos atrás. Jonathan era alto
e elegante em seu terno escuro, com cabelo arrumadinho e os olhos azuis de aço.
Sua esposa troféu, Lauren, não estava pendurada em seu braço — Corinne tinha
ouvido falar que haviam se divorciado recentemente. Ele a surpreendeu, na
verdade, estando aqui. Ele era a única pessoa com quem Poppy nunca conseguiu
se dar bem. Eles ocasionalmente tiveram de fazer negócios, e mais de uma vez
depois de uma chamada com Jonathan, Poppy apareceu no escritório de Corinne
perturbada e irritada.
— Corinne — disse Jonathan agora, tocando-lhe a mão. — Eu não posso
imaginar o que sua família está passando. É uma tragédia.
Corinne sorriu firmemente. — Obrigada por sua simpatia.
Ela tentou seguir em frente, mas ele segurou a mão dela. — A cura leva
tempo — acrescentou ele, com a boca perto de seu ouvido. — O negócio sempre
estará lá. Eu gostaria de ter sido capaz de dizer isso a Poppy. Eu sei que ela estava
lutando.
Ele olhou para ela, pacientemente, como se ela devesse saber do que ele
estava falando. Lutando... com o quê? Com a morte de seus pais? E ele estava
sugerindo que Corinne ou os Saybrooks de modo geral apenas deixassem os
negócios? A Gemologique adoraria isso. Talvez ela devesse apenas encerrar sua
participação no mercado com um lacinho perfeito e entregá-lo.
Corinne se mudou para o corredor. A maioria de sua família estava na
frente da igreja. Edith, Mason e Penelope sentaram-se na primeira fila junto com
os pais de Natasha, Candace e Patrick, que estavam chorando. James sentou-se lá
também, observando fixamente Briony caminhar até o altar. Uma das babás,
Megan, seguiu-a. Skylar sentou educadamente ao lado de James, com um olhar
dormente no rosto.
Corinne deslizou para o segundo banco, com o coração doendo
fisicamente. Ela apertou a mão no peito, entendendo com o coração partido o que
aconteceria a seguir; que essas meninas iriam crescer sem a mãe, que ela iria
envelhecer sem sua prima, parecia impossível. Corinne lembrava de perambular
ao redor da fazenda de família de Poppy, renomeando todos os porcos barrigudos
e bois galês dos cercados. Poppy era tão diplomática, permitindo que cada prima
se revezasse na escolha de um nome, desde Natasha até Rowan, mas os dela eram
sempre os mais bonitos. Corinne ainda podia lembrar um monte deles: Briar
Rose. Hadley. Elodie. A mãe de Poppy lhes tinha dado tintas de cartaz e permitiu-
lhes decorar uma parede do celeiro com todos os novos nomes; até onde Corinne
sabia, eles ainda estavam lá.
Dixon estava esperando por ela no final do banco, com o cabelo penteado
para trás de seu rosto. Ele usava um terno preto e sapatos. Enquanto se movia
para o lado dele, ele passou o braço em torno do seu ombro e puxou-a com força.
— Você está bem? — ele perguntou suavemente.
— Não — disse Corinne miseravelmente. Ela olhou para o guia. Havia uma
foto de um buquê de rosas brancas fúnebre na capa. Dentro havia uma foto
recente de Poppy, algumas mechas de seu cabelo loiro caídas em seu rosto, e por
baixo, suas datas de nascimento e morte. A garganta de Corinne parecia que estava
pegando fogo.
Do outro lado de Dixon, Natasha se inclinou e olhou para Corinne. Seus
olhos estavam arregalados, seu cabelo escuro estava despenteado, e as unhas
foram mordidas. Melodramáticas lágrimas escorriam pelo seu rosto, e ela parecia
como se não tivesse dormido. O mesmo guia estava em seu colo também. — Oi —
ela sussurrou.
— Oi — Corinne respondeu friamente, olhando para a frente. Depois de
anos de ausência, a presença de Natasha parecia uma intrusão.
Anos atrás, as duas eram muito próximas, era rotina dançar na areia na
praia privada, fingir ensaiar comerciais da Saybrook no sótão, rir sobre os meninos
mais velhos que vieram para as festas de família. Filha única, Natasha tinha
agarrado a Corinne, confiando que a via como uma irmã mais velha. E Corinne
via Natasha como a irmã mais nova que ela desejava que Aster fosse. Mas tudo
isso mudou quando Natasha desertou. Ela não queria ter nada a ver com a família,
nem mesmo com Corinne. Ela não respondeu as chamadas de Corinne e
começou a dizer coisas negativas sobre a família para a imprensa. Corinne tinha
levado para o lado pessoal. O que ela tinha feito a Natasha?
Ao mesmo tempo, Corinne podia praticamente ouvir Poppy em seu
ouvido, dizendo-lhe para dar uma chance a Natasha, persuadindo-a a incluir
Natasha em sua festa de casamento, como Poppy tinha feito. — Somos uma família
— Poppy insistiu. — Um dia vocês vão se conciliar, e você vai se arrepender de que
ela não estava de pé ao seu lado.
— É inacreditável. — A voz de Natasha estava embargada.
— Umm-hmm — Corinne murmurou.
— Eu não posso acreditar que o bilhete... — Natasha continuou.
Corinne assentiu levemente. Ele não tinha sequer soado como Poppy.
— Ela não falou nada para você? — Natasha persistiu.
Corinne olhou para sua prima sobre o colo de Dixon. — Não, Natasha —
disse ela, ouvindo o desgosto de sua voz. — Porque se ela tivesse, eu a teria
ajudado, e ela ainda estaria aqui.
A música de órgão começou a tocar, e o clero na frente da igreja indicou
que todos deveriam se levantar. Corinne o fez, observando como o resto da
congregação ao redor dela fazia o mesmo. E então eles começaram o processo de
dizer adeus a Saybrook mais perfeita de todas.
Duas horas mais tarde, depois de uma recepção no Clube University,
Corinne e os outros primos, incluindo Winston, Sullivan, e até mesmo Natasha,
saíram de carros na Seventh-Third e Park Avenue e subiram as escadas do Queen
Anne, para a mansão renascentista de Edith.
A casa com doze metros foi construída em tijolo e mármore, com uma
porta azul-pavão. Hoje, porém, Corinne mal percebeu, nem parou para cheirar
suas peônias favoritas no jardim da frente, admirar a escadaria no hall de entrada,
ou cobiçar o enorme lustre de cristal antigo que, secretamente, ela esperava herdar
um dia. A sala oferecia uma visão do chão até a parte de trás da propriedade, que
dava para um jardim deslumbrante e uma cascata gloriosa de dois andares, mas
Corinne não via nada disso, nem quando ela atravessava o corredor e ia para o
grande salão, onde todos estavam reunidos.
Megan estava tentando encurralar Skylar e Briony perto da primeira das
duas lareiras de mármore do grande salão. James sentou-se ao lado delas em um
longo sofá, parecendo atordoado. A mãe de Corinne e os pais de Rowan estavam
esmagados ao lado dele, segurando canecas de café. Os pais de Natasha sentaram
em frente a eles em um sofá. Uma mulher loura em um terno estava perto da
janela, quase engolida pelas enormes cortinas de seda de Edith.
— Quem é essa? — Corinne sussurrou para Rowan, percebendo que ela
também a tinha visto na igreja. Edith pedira aos Saybrook para se reunir ali,
ressaltando que era só a família.
— Não tenho ideia — disse Rowan, seu rosto pálido.
Corinne, Rowan e Aster se sentaram no sofá oposto aos dos pais de James
e de Rowan. Winston e Sullivan encostaram contra a parede, brincando com seus
colares estalados e seus cabelos loiros e desgrenhados estilo garotos surfistas.
Natasha estava em silêncio em uma cadeira de seda perto da segunda lareira da
sala. Ela pegou o celular e estudou a tela, enquanto todo mundo se acomodava.
Finalmente Edith levantou-se da poltrona à frente da sala, envolveu seu
casaco de pele firmemente em torno dela, e dispensou um de seus empregados,
que estava empurrando um carrinho de bebidas de prata. — Eu sei que não sou a
única que tem dúvidas sobre a morte de Poppy — disse ela gravemente. — Eu
trouxe todos vocês aqui para dizer-lhe que Poppy não se suicidou. Ela foi
assassinada.
James rapidamente levantou-se e fez sinal para que Megan levasse as
crianças de volta para a sala. Tia Grace olhou para Winston e Sullivan e falou para
eles saírem da sala também. Por um momento, todo mundo ficou em silêncio.
— Mãe — disse Mason debilmente do sofá. — Nós já passamos por isso.
Edith apertou sua mandíbula. — Eu não sou a única que acredita nisso. —
Ela se virou para a loira ao lado da janela. — Ela vai provar isso.
A estranha deu um passo adiante. Ela era um pouco mais velha do que
Corinne, com grandes olhos azuis e uma figura atlética. — Katherine Foley, FBI —
ela disse em uma voz confiante. Em seguida, ela enfiou a mão no bolso e revelou
um distintivo em forma de escudo.
Mason fez uma careta. — Mãe, você não fez isso.
Os olhos de Edith brilharam. — Eu certamente fiz. E de qualquer
maneira, eu confio na senhorita Foley. Eu a conheço.
Todo mundo a olhou. — Você a conhece? — perguntou Aster.
— Como? — Mason saltou.
— Tenho certeza que eu a conheço, mas... — Edith parecia dispersa.
A Agente Foley pigarreou. — Eu receio que a Sra. Saybrook possa ter me
confundido com outra pessoa — disse ela delicadamente. — Mas vocês estão nas
melhores mãos.
Ela puxou uma cadeira Chippendale do canto ao lado de Edith e abriu
um laptop. — Edith veio até mim no dia em que Poppy morreu, e eu pedi a minha
equipe para dar uma olhada em algumas coisas, incluindo o próprio bilhete.
Ela digitou algo no laptop, então virou a tela para enfrentar o círculo. Era
o bilhete de Poppy; ao lado havia uma janela de diálogo. — A assinatura eletrônica
no arquivo mostra que Poppy escreveu este bilhete às 7:07. No entanto, várias
testemunhas disseram que o corpo de Poppy estava no chão às 7:05. Uma câmera
de segurança no prédio do outro lado da rua registrou o final de sua queda e o
tempo também não bate.
James abaixou a xícara de café. — O que isso significa?
Edith levantou as palmas das mãos. — Uma mulher não pode escrever
uma nota de suicídio depois que ela está morta.
Mason parecia cético. — Será que os relógios não estavam
dessincronizados?
Foley virou o laptop de volta para encará-lo. — Verificamos isso, mas o
relógio no computador de Poppy corresponde exatamente ao da câmera de
segurança na rua. Temos de cogitar a possibilidade de que alguém escreveu aquele
bilhete para fazer a morte de Poppy parecer suicídio.
Aster se atirou para a frente. — Espere um minuto. O quê?
— Alguém a empurrou? — Rowan perguntou, e por um momento Corinne
se perguntou se ela parecia quase aliviada.
— Nós não queremos tirar conclusões precipitadas — disse Foley. —
Infelizmente, a câmera de segurança do prédio do outro lado da rua não se
estendeu alto o suficiente para nos dar uma visão do escritório de Poppy. Não
houve testemunhas.
O irmão de Rowan, Michael, tocou a testa. — Não há um suspeito?
— Ainda estamos conferindo com quem estava ao redor. Ainda é cedo.
— E quanto a autópsia? — perguntou James.
— O relatório ainda não está completo, mas não há nada conclusivo de
qualquer forma — disse Foley. — Poppy caiu de cerca de 15 metros, e isso é tudo
que os resultados mostram. Mas a discrepância entre a sua hora da morte e do
tempo do bilhete de suicídio é preocupante. Alguém poderia argumentar que um
espectador estava em seu escritório o tempo todo e digitou o bilhete a pedido de
Poppy depois que ela pulou. Mas por que essa pessoa não pediria ajuda? As coisas
não batem. E por causa disso, estamos abrindo oficialmente uma investigação de
assassinato.
— Eu sabia que isso não foi um suicídio — disse Edith firmemente. — Mas
quem iria ferir a nossa Poppy?
— Nós temos que descobrir o que aconteceu exatamente com Poppy na
manhã da sua morte. Quem estava no seu escritório? Por que eles estavam lá?
Não sabemos se alguém poderia ter estado bravo com Poppy, por qualquer
motivo? Alguém dentro da empresa, por exemplo? Ou talvez um rival de
negócios? — perguntou Foley.
A pele de Corinne se arrepiou. O sorriso bajulador de Jonathan York. Eu
sei que ela estava lutando.
— Eu não estou assumindo nada — Foley falou rapidamente. —
Infelizmente, o escritório do Poppy não tem uma câmera, e a câmera no elevador
não mostrou ninguém saindo na hora do assassinato de Poppy. Mas quem quer
que fosse poderia ter tomado as escadas, onde não há câmeras.
Rowan pigarreou. — Os guardas nos pisos inferiores não iriam notar
qualquer um que saísse do escritório de Poppy?
— É uma equipe reduzida antes do horário comercial. A maioria das
pessoas, incluindo muitos dos guardas e todos os assistentes de Poppy, não
estavam no trabalho ainda, então não temos um quadro completo. Nós estamos
procurando por dados eletrônicos de cartão magnético usado para entrar no
edifício e para certos andares. Vamos entrevistar qualquer um que estava no
prédio naquele momento.
Corinne franziu o cenho. — E quanto a câmera de vigilância do lobby?
Foley puxou o colarinho. — Nós não terminamos de vê-la ainda. Mas
vamos combinar as pessoas vistas lá com os dados dos cartões chaves.
— E quanto às impressões digitais no teclado de Poppy? — Natasha saltou,
sua voz gutural surpreendendo a todos. — Se alguém digitou o bilhete, elas
estariam lá, certo?
Foley balançou a cabeça como se tivesse antecipado a questão. — Nós
testamos o teclado. Mas as únicas impressões digitais são de Poppy. Não tem de
mais ninguém. O assassino pode ter usado luvas, no entanto. Isso indicaria que o
assassinato foi premeditado, o assassino pode ter planejado matar Poppy antes de
entrar em seu escritório. Não é exatamente uma luva de inverno. — Ela apontou
para o céu ensolarado lá fora, em seguida, limpou a garganta. — Com base em
tudo isso, eu vou ter de falar com cada um de vocês separadamente.
Natasha parecia irritada. — Mas eu nem sequer trabalho na Saybrook. —
Corinne mal podia processar tudo o que ela estava ouvindo. Poppy não se matou;
ela tinha sido assassinada. Quem quer que tenha feito isso, o fez dentro do
escritório Saybrook, e sabia que Poppy estaria no trabalho muito mais cedo.
— Você acha que nós somos suspeitos? — Corinne ouviu-se perguntar.
— Claro que não — disse Foley, mas ela não parecia querer olhar qualquer
um deles nos olhos. — Mas eu preciso saber onde todos estavam naquela manhã,
apenas para apuração dos fatos. Eu também quero saber se vocês sabem alguma
coisa sobre Poppy que poderia indicar por que alguém iria querer machucá-la. Se
ela cometeu erros no trabalho ou se ela se envolveu com drogas, se envolveu com
pessoas perigosas que podem ter um motivo para machucá-la.
— Poppy? — Rowan balbuciou. — Poppy era... perfeita — ela terminou
tristemente.
E ela era, Corinne pensou. Ela imaginou Poppy aqui, seu fantasma
voando de área de estar para área de estar, agradecendo a todos por terem vindo,
lembrando os mais pequenos detalhes da vida de todos — e os nomes dos animais
de estimação, planos de verão, o iate que o pai de Natasha estava reconstruindo.
— Nunca se sabe — disse Foley. — E eu não quero preocupar todos vocês,
mas há também a possibilidade de que este poderia ser um ataque pessoal aos
Saybrook.
Mason franziu o cenho. — Como assim?
Foley pigarreou. — Vocês são uma família proeminente. Um monte de
pessoas tem inveja de vocês. Alguém pode querer machucá-los por causa de sua
força, sua riqueza, sua influência, ou talvez apenas para derrubá-los.
Mason acenou com a mão. — Por favor.
— Eu gostaria que levassem isso a sério — advertiu Foley. Ela digitou
alguma coisa em seu laptop, então girou a tela ao redor novamente. Um site
familiar apareceu. O website.
Foley rolou a página para baixo. Abaixo do banner com o nome do site
havia uma grande manchete que tomava toda a tela. — Uma Herdeira Caiu — lia-
se. — Restam Quatro.
A sala ficou em silêncio. O estômago de Corinne caiu no chão, e sua
mente ficou em branco. Os únicos sons eram as batidas do salão de trás, onde as
crianças estavam brincando.
— Q-quem escreveu isso? — Rowan gaguejou.
— Nós não sabemos — disse Foley. — Nós estamos tentando descobrir
isso. Nós temos monitorado a última atualização do site, e o endereço de IP é de
um computador na Biblioteca Pública de Nova York. Eles não mantém registros
completos de quem utiliza as máquinas, mas nós estamos tentando obter alguma
coisa em vídeo das salas para ver se encontramos. Isso poderia ser apenas
especulação pública, a ideia de alguém de uma piada de mau gosto. Mas também
pode ser muito mais sinistro.
— Você está dizendo que nós poderíamos ser as próximas? — Corinne
sussurrou.
— Eu estou dizendo para levarem isto a sério, e se for uma ameaça, nós
vamos mantê-las seguras — disse Foley, e, em seguida, fechou o laptop com um
clique sólido. Ela se virou para Edith. — Muito obrigada por me receber em sua
casa, Sra. Saybrook. Entrarei em contato.
Mason, Penelope, Edith e a mãe de Rowan, Leona, seguiram a Agente
para fora. James saiu da sala para verificar seus filhos. Logo as únicas pessoas que
ficaram foram as primas. A cabeça de Corinne girou.
Uma herdeira caiu, restam quatro.
Finalmente Rowan respirou fundo — Quem iria querer matar Poppy?
— Quem iria querer nos matar? — Aster sussurrou.
Natasha estava olhando, sem piscar, com o rosto determinado. Na mesma
hora, algo que ela disse para as pessoas quando ela desertou cruzou sua mente. Os
Saybrook não são o que parecem. Eu preciso me cercar de gente mais confiável.
Natasha finalmente baixou os olhos, mas Corinne ainda estava abalada até
os ossos. Ela não podia entender nada disso, mas uma coisa estava clara. Alguém
tinha assassinado Poppy. E uma delas poderia ser a próxima.
8
Traduzido por Manoel Alves

P
oucos dias depois, Rowan parou na porta de James, no corredor do
Dakota. Quando esteve ali, para o aniversário de Skylar, o ar tinha sido
festivo e feliz. Agora alguém tinha deixado um buquê de flores para Poppy
na porta. Rowan pegou-os e tocou a campainha.
James abriu a porta, com o cabelo revolto e olheiras escuras sob os olhos.
Ele usava uma camiseta e jeans escuros, e estava descalço.
— Muito obrigado por ter vindo — disse ele. Ele a chamara quinze minutos
atrás, em pânico, dizendo que a babá havia tido uma emergência familiar, Briony
estava doente, e Skylar precisava de cupcakes para a pré-escola, no dia seguinte.
Uma excitação percorreu o corpo dela — de todas as pessoas em sua vida, James a
tinha chamado. No mesmo instante, porém, ela se sentiu horrorizada que uma
coisa tão mesquinha havia cruzado sua mente, e retornou para a culpa e dor que a
consumiu toda a semana. Sua prima estava morta, e Rowan a tinha traído em suas
horas finais.
Ela não fez contato visual com James quando entrou no apartamento em
direção às crianças na sala de estar. Um desenho da Disney estava sendo exibido
na tela plana, glitter e colares enchiam a pesada mesa de centro de madeira.
Briony estava sentada no chão, olhando com indiferença um brinquedo eletrônico
que estava cantando o ABC. Skylar estava no sofá, usando um vestido rosa de
cetim, no estilo princesa, e uma tiara de prata, segurando uma varinha mágica de
prata. Lágrimas corriam pelo seu rosto.
Quando viu Rowan, Skylar correu em sua direção e abraçou
cuidadosamente as pernas de Rowan. Mesmo com três anos de idade, já era uma
pequena herdeira em treinamento. — Tia Rowan, eu senti sua falta.
Rowan a suspendeu. A menininha colocou os braços em volta dos ombros
de Rowan firmemente. Outra onda de tristeza tomou conta dela quando ela
percebeu que Skylar nunca iria receber um abraço de sua mãe novamente.
— O papai te disse que preciso de bolinhos? — disse Skylar quando Rowan
a colocou no chão. — É a minha vez!
— Que tal ir na Padaria Magnolia? — Rowan sugeriu. — Ou Crumbs?
Manchas rosa apareceram no rosto de Skylar. — Mamãe sempre os fazia.
O coração de Rowan congelou. Ela ajoelhou-se ao nível de Skylar e olhou
em seus olhos. — Bem, eu vou fazê-los também hoje. Eu sou a melhor cozinheira
de cupcakes deste lado do rio Hudson.
Ela estendeu a mão para fazer cócegas em Skylar, o que normalmente
causaria na menina um ataque de risos, mas desta vez Skylar apenas se contorceu
para longe. — Onde está a mamãe? — ela perguntou, na sua voz de três anos de
idade alta e inocente.
Lágrimas brilharam nos olhos de Rowan. Ela olhou para James, mas ele
estava olhando para suas mãos.
— Ela teve uma queda muito grave — Rowan se atrapalhou. — Mas ela está
sempre te observando. E se você falar com ela, ela estará sempre escutando.
O rostinho de Skylar registrou uma mistura incongruente de obediência e
confusão. — Meu pai disse que eu poderia pintar minhas unhas, se eu quiser —
disse ela depois de um momento.
— Bem — Rowan pegou a mão dela. — Eu acho que isso soa bem. Talvez
eu pudesse lhe maquiar também.
— Você? — James bufou. Rowan lhe lançou um olhar, e ele deu de
ombros. — Desculpe. Skylar, Rowan vai lhe maquiar maravilhosamente.
Isto pareceu animar Skylar, e ela entrou na cozinha com Rowan. James
entrou por último, parando na ilha e olhando para uma caixa fechada de mistura
de cupcake. Ele parecia tão desamparado e confuso. Rowan não tinha certeza se já
o havia visto daquele jeito, e foi apreendida com o desejo de cuidar dele também.
Ela se virou para Briony, que os havia seguido e estava pressionando a
bochecha vermelha contra a porta da geladeira de aço inoxidável. — Você está
bem, querida? — Rowan disse suavemente, e colheu a menina em seus braços.
Briony, como um coala, enrolou suas pernas ao redor de Rowan e começou a
chorar. — Parece que ela está com febre — disse Rowan por cima do ombro de
James.
James assentiu. — Eu lhe dei um Tylenol há dez minutos.
Rowan assentiu. — Eu vou segurá-la até que comece a fazer efeito. E fazer
cócegas nela! — Ela enfiou os dedos na dobra entre o queixo e o pescoço de
Briony até que a menina finalmente abriu um sorriso.
No balcão, o telefone de James tocou, notas afiadas de piano berrando
pelo apartamento. O aparelho estava pousado mais perto de Rowan, e ela
inconscientemente olhou para ele. Um número 917 apareceu na tela. — Você
precisa atender? — Rowan lhe perguntou, mudando Briony de braço.
James olhou para o número, em seguida, apertou IGNORAR. — Não.
Nós estamos no meio de uma emergência de cupcake, afinal de contas — ele disse
com um sorriso fraco. — Isso pode esperar.
Rowan olhou para a caixa que James estava segurando. — Você está se
perdendo nisso? Nós só precisamos de três ingredientes, e um deles é água.
James abriu a geladeira e olhou para dentro. — Minha cabeça não está
funcionando direito. — Ele suspirou.
— Isso é bom, porque a minha cabeça está exatamente onde deveria estar.
— Rowan olhou para Skylar e fingiu ajustar a cabeça em seu pescoço. Skylar
ofereceu um sorriso divertido. Rowan pegou a caixa de Duncan Hines novamente.
— Tudo bem, papai. Pegue alguns ovos. Você se lembra como eles são, certo?
Redondos, brancos? Vindo de galinhas? — Ela olhou para Skylar novamente,
dobrado os punhos em suas axilas, fazendo os movimentos de uma galinha. Skylar
riu.
— Esses? — James tirou um pote de manteiga, juntando-se a brincadeira.
— Isso não são ovos — gritou Skylar.
James olhou para elas confusamente. — Eu podia jurar que eram ovos. —
Em seguida, ele abriu a gaveta mais clara e tirou um pepino. — Isso é um ovo?
— Papai! — Skylar gritou, marchando ela mesma para a geladeira. — Isso
são ovos!
— Sério? — James parecia atônito. — Skylar, você é a garota mais
inteligente que já existiu.
Rowan escondeu um sorriso e pegou a caixa de James, então, ensinou a
menina como quebrar três deles em uma tigela.
Uma vez que os cupcakes foram postos em seus pequenos invólucros e
estavam assando no forno, ela olhou na geladeira. Estava cheia de coisas
empilhadas em Tupperware, caixas para viagem e pacotes Dean & DeLuca — de
vizinhos e familiares, ela adivinhou. Ela pegou uma caixa branca e inspecionou o
que havia dentro. Três peitos de frango marinados em um purê de batatas de alho.
Perfeito.
Ela ligou o segundo forno de parede, passou Briony para James e colocou
a refeição em uma assadeira. James ficou para trás, mas ela sentia seu olhar sobre
ela enquanto ela se movia em torno da cozinha. Ele não atendeu o seu celular
quando ele tocou de novo.
James puxou uma cadeira e disse: — O que você acha, Sky? Se tia Rowan
ficar?
— Sim, por favor! — Skylar juntou as mãos, os olhos implorando.
Rowan pensou em seu próprio apartamento tranquilo e sentou-se em uma
cadeira vazia — a cadeira de Poppy.
Foi mais fácil do que Rowan imaginou que seria manter as crianças
entretidas. Ela fez o truque de equilibrar a colher com o nariz. James fez várias
moedas dos seus bolsos desaparecerem. Rowan cantou “Itsy Bitsy Spider” com a
voz do Pato Donald que ela e seu irmão Michael tinham passado horas
aperfeiçoando. Ambas as crianças riram alegremente e comeram bem. O forno
apitou, e Rowan pegou os biscoitos e, depois de terem esfriado um pouco, os
decorou com a ajuda de Skylar.
No momento em que o sol se pôs sobre o Hudson, Briony havia
adormecido nos braços de Rowan, no sofá. Rowan gentilmente colocou-a em seu
berço, apenas para encontrar Skylar atrás dela, pedindo que lesse um livro
chamado Madeline — uma primeira edição, assinada para Adele, a mãe de Poppy,
do autor. James colocou Skylar na cama. — Tia Rowan na cama também — Skylar
insistiu, e James deu um passo para trás, permitindo que Rowan subisse. Ela
colocou as pernas debaixo das cobertas, seu coração quebrando-se sob os lençóis
rendados de Skylar, no qual a menina agarrava-se bem forte a uma tartaruga de
pelúcia que Poppy tinha comprado para ela em Meriweather no ano passado.
— Você está bem, tia Rowan? — perguntou Skylar.
Rowan olhou para ela, percebendo que havia lágrimas em seus olhos. Ela
estava olhando para uma página do livro, mas não tinha começado a ler. — Estou
ótima — disse ela rapidamente, engolindo o soluço. — Estou muito feliz de estar
aqui com você.
Finalmente Skylar adormeceu. Rowan cuidadosamente colocou sua
cabeça no travesseiro, puxou o cobertor para cobrir seus ombros, e, na ponta dos
pés, saiu do quarto. James estava esperando no corredor, os braços cruzados sobre
o peito. — Obrigado.
Rowan baixou os olhos. — Não foi nada. — Ela entrou na cozinha. Havia
uma pilha de pratos na pia.
— As crianças parecem bem, considerando todas as coisas — disse ela
enquanto enchia a pia com água borbulhante.
James moveu-se para o lado dela. Rowan podia sentir seu familiar
sabonete de hortelã. — Bem, Briony realmente não entende, e eu não tenho
certeza quanto Skylar entende, também. Mas ela realmente sente falta de sua mãe.
Rowan assentiu. — É claro que ela sente. — E nunca deixaria de sentir.
Mesmo aos trinta e dois anos, Rowan ainda ligava para a mãe várias vezes por
semana e tentava visitar sua casa de infância em Chappaqua, pelo menos uma vez
por mês. Era importante para Leona que a família ficasse em contato,
especialmente com seus dois filhos tão longe. Naquela manhã, Leona havia ligado
para relatar que sua árvore lilás, no quintal, estava começando a florescer.
James afastou-se da pia, enxugando as mãos em uma toalha. — Eu estava
procurando no serviço memorial por, você sabe, ele. Qualquer um que
parecesse... desconhecido.
Rowan suspendeu a cabeça. — Você ainda acha que ela estava tendo um
caso?
James passou a mão pelo cabelo. — Eu sei que não deveria estar pensando
nisso agora, mas eu não consigo parar. Eu só fico imaginando ela sussurrando no
telefone. Houveram tantas noites em que ela não voltou para casa. — Ele olhou
para fora da janela. — Eu estava pronto para dizer alguma coisa para ela.
Não sobraram pratos para serem lavados, mas Rowan manteve as mãos na
água de qualquer maneira. — Você disse algo para o FBI sobre isso? — ela
perguntou. Ela tinha falado com Foley ontem.
— Sim. Eu pensei que eles deveriam saber.
— Oh. — Rowan engoliu em seco. — Você disse a eles... onde você estava
naquela manhã?
James pegou um prato e o enxugou — Eu não lhes disse onde eu acordei.
Eu achei você não quisesse que eles soubessem.
Rowan sentiu um nó na garganta. Mantendo os olhos na pia, ela balançou
a cabeça levemente. — Sim. — Ela tentou soar forte e não afetada. — Quero dizer,
afinal de contas, não é como se... significou alguma coisa.
Ela não tinha dito à Foley também, simplesmente disse para a Agente que
caminhava para o trabalho quando aconteceu. Ela pode não ter empurrado sua
prima, mas Rowan mal se sentia inocente.
Uma sirene soou do lado de fora. Rowan estremeceu, preocupada que
poderia acordar as meninas, mas não havia sons de seus quartos. James pegou um
pequeno pássaro de vidro na janela. Era uma lembrança da lua de mel de James e
Poppy na Tailândia — eles haviam encontrado em sua suíte, e Poppy pensou que
iria trazer-lhes boa sorte.
Ele fez um pequeno ruído na parte de trás de sua garganta. — É tão
horrível — disse ele com a voz embargada. — Como isso pode ter acontecido?
O peito de Rowan estremeceu. — Eu não sei — ela sussurrou. Um copo de
plástico com canudinho em uma cremalheira de metal ao lado da pia de repente
tombou. Quando ela olhou para cima de novo, James estava discretamente
olhando para ela do outro lado da pia. Ele respirou fundo, e então disse: — Como
você está com tudo isso?
O olhar de Rowan desviou imediatamente para o chão. — Você não devia
pensar em mim em tudo isso.
— Não devia?
As palavras permaneceram no ar. As possibilidades se espalharam em
tantas direções diferentes. Mas quando Rowan olhou em volta, tudo o que ela viu
foi Poppy — sua coleção de cardápios de comida para viagem, taças de vinho e
livros de receitas orgânicas. Fotos de Poppy, James e as meninas. Listas de
compras e lembretes na familiar escrita de Poppy.
— Eu deveria ir — ela deixou escapar, atravessando a cozinha em
segundos. Ela alcançou a porta e começou a destrancá-la, lutando com o trinco.
James, que havia seguido ela, inclinou-se e o fez facilmente.
— Muito obrigado por ajudar com as crianças. — Sua voz falhou.
Rowan pendurou a bolsa no ombro. — Claro. A qualquer hora.
Ele retirou as mãos dos bolsos. Depois de um momento, ela encaminhou-
se para o corredor ricamente acarpetado. Peça pra eu ficar, ela desejou
silenciosamente, surpresa com a ferocidade de quanto, apesar de tudo, ela queria
isso.
Mas alguns segundos se passaram, e James não disse uma palavra. — Tudo
bem — disse Rowan, sacudindo as mãos. — Vejo vocês em breve, James.
— Vejo você em breve — disse ele em voz baixa.
O elevador apitou e abriu. James ainda não havia fechado a porta, e
Rowan ainda não conseguia fazer a pergunta. E assim que ela lhe deu um pequeno
aceno desajeitado, ela entrou no elevador e caminhou até o fundo, em seguida,
voltou para o seu apartamento, sozinha.
9
Traduzido por Manoel Alves

N
a quarta-feira de manhã, Aster, usando um vestido curto de renda com
mangas sino, saiu de seu carro na Rua Hudson. Homens de ternos sob
medida, carregando maletas de crocodilo, passavam ocupados, não lhe
dando uma segunda olhada, mesmo que o vestido mostrasse suas pernas
torneadas pelo Pilates. Havia no ar algo fresco e estranho, e tudo soava com um
senso de propósito desconhecido. Aster percebeu por que tudo parecia não
familiar: ela não tinha levantado tão cedo há anos. Todo mundo estava correndo
para o trabalho — algo que ela nunca precisou fazer.
Até hoje.
Ela pisou na calçada, olhando furiosamente para as outras abelhas
operárias que vão para seus escritórios. Ela olhou ao redor procurando os
repórteres também. A polícia tinha acabado de divulgar os detalhes do assassinato
de Poppy para a imprensa naquela manhã, e Aster sabia que não demoraria muito
para que o circo começasse.
Assassinato. Quando Aster fechava os olhos, ela ficava imaginando a cena
grotesca de alguém invadindo o escritório de Poppy e empurrando-a sobre a
sacada. Ela tentou não pensar nisso, mas seu cérebro continuava forçando a cena
ainda mais, imaginando a espinha de Poppy exposta, quando ela bateu no chão,
explodindo seus órgãos, seus belos olhos saindo das órbitas. Uma pessoa tão boa,
tão bonita... destruída.
Aquela mensagem no site permanecia com ela também. Uma Herdeira
Caiu, Restam Quatro. E se alguém estava atrás delas, todas elas? Mas por quê?
Por ciúme? E como a polícia não sabia quem estava comandando esse site? Tudo
não era hackeável nos dias de hoje?
Algo frio roçou o braço de Aster, e ela gritou e virou a tempo de ver
alguém em um casacão desaparecer por uma porta de metal em um beco. Seu
coração batia em seus ouvidos. Essa pessoa a tocara intencionalmente? Ela estava
caminhando em torno de Manhattan com um alvo em suas costas?
Quando seu telefone tocou com uma mensagem, ela pulou novamente.
Mas era só Clarissa. Boa sorte hoje! ela dizia. Você está bem?
Claro que eu não estou bem, Aster pensou. Que coisa ridícula de
perguntar. Mas em vez disso, ela apenas escreveu: Eu estou levando. Era doce da
parte de Clarissa conferir como ela estava, pelo menos.
Você tem uma pausa para o almoço? Clarissa respondeu. Poderíamos ir
no Pastis?
O coração de Aster afundou. Poppy estava planejando levá-la ao Pastis
hoje. Talvez, ela digitou de volta, no momento em que seu telefone começou a
vibrar com uma chamada recebida. Ela franziu o cenho para o nome na tela —
Corinne. Respirando fundo, ela atendeu.
— Bem, você está acordada — disse Corinne, em uma voz entrecortada.
Aster deu alguns passos em direção ao prédio da Saybrook. —
Infelizmente.
— Você já está no trabalho?
Portanto, este era um lembrete maternal sobre a vinda para o trabalho. —
Eu estou do lado de fora — Aster respondeu.
— Tudo bem. Era só para ter certeza — disse Corinne, e Aster cerrou os
dentes. — Eu deveria avisá-la — Corinne continuou, um outro telefone tocando
discretamente em segundo plano. — O clima aqui está um pouco... estranho.
— Estranho? — Aster olhou para o edifício de pedra que abrigava os
negócios de sua família por quase 70 anos. O local onde Poppy tinha caído ainda
estava bloqueado com fita amarela. Alguém tinha deixado flores do lado de fora.
Tentando livrar-se da imagem do corpo quebrado de Poppy, ela empurrou as
portas duplas — e congelou no lugar. O lobby estava repleto de oficiais do
Departamento de Polícia de Nova York e cães policiais. Todo mundo parecia
impassível, alerta, e muito nervoso.
— Cristo — ela sussurrou ao telefone.
— A polícia está mantendo os jornalistas longe do edifício, por enquanto.
— A voz de Corinne era solene. — Mas é melhor se preparar para muito mais
perguntas. — Ela suspirou. — Boa sorte hoje.
— Obrigada — disse Aster, pega de surpresa pelo toque raro de Corinne de
bondade. Ela desligou e se dirigiu para as catracas que levavam até o elevador, só
para saber que ela não podia passar por eles sem um cartão de identificação. Aster
não tinha ideia que seu escritório, que qualquer escritório, era tão seguro. Será que
eles realmente achavam que as pessoas iriam tentar esgueirar-se para o trabalho? E
como alguém poderia ter invadido ali para matar Poppy?
— Está tudo bem, Srta. Saybrook — disse o segurança, examinando o seu
cartão para deixá-la passar. — Eu vou fazer uma exceção para você. — Aster deu-
lhe o melhor modelo de sorriso em agradecimento. Ele deve tê-la reconhecido a
partir da campanha publicitária que ainda estava estampada em todos os lugares.
Ela entrou no elevador e seguiu até o oitavo andar, onde deveria se
encontrar com o RH para que eles pudessem lhe dizer onde ela iria realmente
trabalhar.
— Aster?
Danielle Gilchrist estava no hall de entrada, usando um vestido branco,
verde e laranja de aparência cara. Seu cabelo vermelho caía em linha reta e
brilhante em suas costas, e um amontoado de pulseiras grossas forravam seus
braços.
Por um momento, Aster perguntou-se, confusa, o que sua velha amiga
estava fazendo ali. Então ela notou a pasta roxa e prata com o logotipo da
Saybrook na frente. — Bem-vinda à família Saybrook! — Danielle exclamou. Claro,
Aster lembrou instantaneamente. Mason havia conseguido um emprego para
Danielle no RH da Saybrook, depois que ela se formou na Universidade de Nova
York. O pensamento fez seu estômago revirar.
— Eu já estou na família Saybrook — disse Aster, dando um passo para
trás.
Danielle encolheu-se por um momento, depois se recuperou. — Certo. É
apenas uma figura de linguagem. — Ela girou nos calcanhares. — Bem, vamos lá.
Poderíamos muito bem começar.
Ela abriu a porta para uma grande sala de conferências, com vista para o
Hudson. Nas paredes havia fotos de celebridades de Hollywood usando antigos
diamantes da Saybrook. Aster permaneceu na porta, finalmente entendendo o que
estava acontecendo. — Espere. Você vai me orientar?
Danielle assentiu enquanto conectava ao computador e abria um
PowerPoint. — Sim, é a política da empresa. Todo mundo tem que passar por
orientação. Até mesmo um Saybrook. — Então ela sorriu. — Você estava no
Badawi na outra noite, não foi? Eu amo aquele lugar.
Aster fechou os olhos. Ela tinha evitado interagir com Danielle por tanto
tempo. Ela virava para o outro lado se a via na rua, evitava as festas se Danielle
estivesse na lista de convidados. Qualquer coisa para evitar pensar no verão. Mas,
de uma só vez, ela foi afogada numa enchente de memórias.
— Ei, Aster. — Uma Danielle Gilchrist, de treze anos, caminhou até Aster
na praia em Meriweather. Aster sempre conhecera Danielle — ela era filha dos
caseiros — mas neste verão ela estava diferente. — Tem algum Robitussin?
— Por que eu iria andar com isso por aí? — perguntou Aster
arrogantemente.
— Porque ele lhe dá uma grande agitação — respondeu Danielle. — Você
nunca experimentou?
Agora foi a vez de Aster se sentir estúpida. Ela balançou a cabeça.
Danielle se virou em direção à costa. Ela era bonita, Aster subitamente percebeu —
alta e magra, com longos cabelos ruivos e ondulados e olhos azuis. — Eu vou
roubá-lo da farmácia, eu acho. Quer vir comigo?
Elas tomaram Robitussin naquela noite, e Aster sentiu-se bêbada pela
primeira vez. Elas sorrateiramente entraram no quarto de Corinne para ler seu
diário, que era tão chato como elas pensavam que seria. — Ela é muito...
organizada, não é? — perguntou Danielle, olhando ao redor do quarto metódico
com um sorriso. Aster deu uma risadinha. — Você quer dizer obsessiva. — Era
bom rir de sua irmã. Corinne poderia ser protetora de Aster quando era mais
jovem, mas à medida que elas cresciam, ela havia começado constantemente a
mandar nela. E não era como se Aster pudesse falar sobre Corinne com qualquer
uma de suas primas.
Danielle dormiu lá naquela noite, e na manhã seguinte ela estava
escrevendo furiosamente em um diário. — O que você está fazendo? — perguntou
Aster.
— Eu sempre escrevo meus sonhos — disse Danielle em uma voz séria. —
E então eu analiso os simbolismos.
À medida que o verão avançava, Danielle apresentou Aster à vodca,
trotes, a como obter uma identidade falsa através do correio. Elas passavam toda
noite sussurrando segredos e piadas sujas e assistindo filmes franceses que faziam
Aster corar. Elas foram ao Finchy, o bar do outro lado da ilha, e afirmaram serem
irmãs, deixando caras mais velhos e desalinhados flertarem com elas e comprar
doses de uísque, que desciam queimando por suas gargantas. Elas mantiveram
contato no ano seguinte, enviando mensagens sobre os meninos que haviam
beijado e festas as quais haviam comparecido, e os seus grandes planos para viver
na Bleecker Street juntas quando completassem dezoito anos. Quando as duas
entraram na NYU, se inscreveram para serem companheiras de quarto.
Mas então a Saybrook precisou de um novo rosto para a sua marca, e
Aster parecia ser a garota certa. Mason ficara entusiasmado com aquilo, o que foi
suficiente para convencer Aster que, talvez, este fosse o seu caminho. Uma semana
antes de ir à Europa, para as sessões de fotos, ela estava de volta a Meriweather
com Danielle, na praia do lado de fora da propriedade. Danielle tomou um gole
de vodca de limonada que Aster havia preparado para elas na cozinha de sua
família. Então, ela disse: — Minha mãe me disse a coisa mais estranha hoje. Isso
me fez pensar duas vezes.
— O quê? — perguntou Aster, sem jeito. Ela sempre se sentiu
desconfortável falando sobre os pais de Danielle. Eles brigavam constantemente e
Aster podia ouvi-los gritando da propriedade, e neste verão as brigas haviam
aumentado consideravelmente. Danielle estava certa de que eles estavam se
encaminhado para o divórcio.
— Só coisas estranhas — disse Danielle, traçando com o dedo do pé um
caminho na areia.
— Venha para a Europa comigo — Aster deixou escapar. Por que ela não
tinha pensado nisso antes? — Eu vou para Paris, Londres e Milão. Eu pago por
tudo, apenas venha. Você poderia passar algum tempo longe daqui por um tempo.
Os olhos de Danielle eram difíceis de ler por trás das sombras Gucci que
Aster tinha comprado para ela. Ela girou o bracelete de diamantes, que Aster lhe
dera como presente de aniversário, em torno do pulso. — Eu não sei.
— Vamos — Aster implorou. — Podemos beber sangria na garrafa, flertar
com homens europeus, se bronzear em Saint-Tropez... — Ela calou-se quando
algo surgiu e um vulto chamou sua atenção. O pai de Aster estava de pé na beira
do pátio, olhando para elas.
Aster acenou, pensando que seu pai estava olhando para ela. Mas Mason
parecia estar olhando além dela. Aster seguiu o olhar de novo e percebeu que na
verdade ele não estava olhando para ela — ele estava olhando para Danielle. Ela se
virou para a amiga e percebeu que Danielle estava usando nada além de um
biquíni. Danielle tinha desatado a parte superior, enquanto elas estavam no
bronzeamento, o tecido precariamente agarrado ao peito.
Uma sensação de desconforto preencheu Aster. Mas no momento em
que ela olhou para cima do pátio, Mason havia ido embora.
Agora Danielle limpou a garganta. Aster acordou. O passado não
importava mais; fora há muito tempo. — Vamos acabar com isso — disse ela
levianamente, entrando na sala de conferências e se sentando. — Faça o que sabe.
Danielle jogou a pasta sobre a mesa da sala de reuniões, em seguida,
olhou para Aster como se quisesse dizer alguma coisa. Aster incisivamente se
virou.
Depois de um momento de silêncio constrangedor, Danielle limpou a
garganta e começou a recitar um discurso sobre as políticas de funcionários da
Saybrook. Em seguida, ela diminuiu as luzes, e um filme veio na tela. Uma música
clássica tocava, enquanto as palavras “Saybrook: Um Legado de Família’’
apareciam. — Eu gostaria de levá-la através da ascensão do falecido Alfred
Saybrook — a voz de Donald Sutherland entoou. — Seu pai, Monroe, abriu a
Joalheria Saybrook & Browne em Boston, Massachusetts, em 1922. Era um
estabelecimento local, principalmente negociando ouro. Monroe nunca teve
planos de expansão.
Então apareceu uma imagem da loja, que o bisavô de Aster abriu perto de
Beacon Hill. A loja de 1920 era modesta, com uma cortina antiquada na janela e
pequenos diamantes nas vitrines.
Aster olhou para Danielle. — Eu já sei de tudo isso. — Seu avô costumava
contar este conto o tempo todo.
— Desculpe — Danielle murmurou, mas não parou o DVD.
— Monroe morreu de tuberculose em 1938 — Sutherland continuou. —
Alfred foi obrigado a tomar o seu lugar. — Em seguida, apareceu uma foto de
Alfred na frente da loja. Uma Edith muito jovem, provavelmente adolescente,
estava ao lado dele. Mesmo que a foto fosse preta e branca, era claro que ela era
loura, e que estava usando batom escuro. — Mas em pouco tempo, a Segunda
Guerra Mundial começou, e Alfred bravamente se ofereceu para lutar.
Na foto seguinte — a mesma foto que Mason mantinha em seu escritório
— Alfred estava em um uniforme militar, ao lado de seu amigo Harold. — Edith
manteve a loja funcionando nos Estados Unidos o melhor que pôde, mas os
tempos eram difíceis, ninguém queria comprar diamantes durante a guerra. E
então as coisas mudaram. Enquanto Alfred estava no exterior, ele encontrou...
Isso.
Uma pedra amarela apareceu na tela. Sim, sim, Aster pensou. Não que
ela não adorasse o gigante Diamante Corona amarelo canário que seu avô tinha
encontrado em um bazar em Paris. Mas ela tinha praticamente saído do útero
sabendo sobre ele.
O vídeo passou a discutir como o Diamante Corona elevou a empresa a
uma nova estratosfera. Alfred abriu uma loja na Quinta Avenida e escritórios no
TriBeCa, fazendo crescer o negócio. Logo, os diamantes da Saybrook tornaram-se
o lugar para anéis de noivado, alianças de aniversário e pulseiras. Celebridades
ostentavam seus diamantes no tapete vermelho. Dignitários compravam joias para
suas esposas. Houvera uma famosa foto de Jackie Kennedy usando um pingente
Saybrook, em um baile presidencial, e uma citação sua, dizendo que a Saybrook
era o único lugar que valia a pena comprar algo precioso.
— A morte de Alfred Saybrook abalou a comunidade internacional de
joias — disse a narração, mostrando uma foto de Alfred pouco antes de sua morte,
cinco anos antes, vestindo seu terno preto, sua marca registrada, e pequenos
óculos redondos. — Mas agora, o negócio é mais forte do que nunca, e a Saybrook
se sustenta pelos princípios de Alfred de integridade, qualidade e profissionalismo.
Em seguida, a tela ficou escura, e as luzes se acenderam. Danielle limpou
a garganta. — Hum, eu espero que você tenha achado informativo.
Aster olhou para ela. — Você está falando sério?
— Eu sinto muito. Está no meu roteiro de RH. — Danielle passou a mão
pelo cabelo vermelho longo, sua expressão ilegível. — Olha, eu sei que você não
quer estar aqui, mas realmente é uma boa empresa para se trabalhar. E eu sinto
muito por Poppy — ela acrescentou.
Aster fez um pequeno ruído na parte de trás de sua garganta.
— E eu ouvi falar... você sabe. — Os olhos de Danielle dispararam para
trás. — Que pode ter sido um assassinato. Normalmente chego no trabalho cedo,
mas eu tive uma intoxicação alimentar do dia... que aconteceu. Se eu estivesse
aqui, talvez eu tivesse visto alguma coisa. — Quando Aster não respondeu, ela
suspirou. — Eu espero que isso não tenha nada a ver com os problemas no
trabalho...
Aster inclinou a cabeça, perguntando-se o que Danielle queria dizer. Mas
ela não queria lhe dever nada, então deixou as coisas como estavam. — Então,
aonde eu irei trabalhar mesmo?
Danielle olhou para a papelada de Aster. — Grupo de clientes privados —
disse ela, dirigindo-a para os elevadores. — É um cargo com a finalidade de fazer
negócios com clientes de alta renda líquida à procura de peças de um único tipo.
Você estará trabalhando para Elizabeth Cole. — Um olhar estranho cruzou o rosto
de Danielle, mas Aster decidiu não perguntar sobre isso, também.
A sala dos Clientes Privados era demarcada por portas duplas
transparentes. No interior, a música era um pouco mais alta, e havia um carrinho
de bar bem abastecido e várias taças de cristal no canto. Legal, Aster pensou,
inspecionando as taças. Eles tinham Gim Hendrick, conhaque Delamain e três
tipos de vodca. Aster avançou mais e começou a desapertar uma das tampas. Um
pouco de álcool iria extravasar a tensão, já que estava sendo uma manhã muito
louca.
— Nem pense nisso.
Uma mulher com cabelo louro-acinzentado, em um terno preto, estreitou
os olhos cinzentos, marchando em direção a Aster. Havia algo familiar nela, Aster
pensou. Ela provavelmente a conhecia de alguma festa da Saybrook. Ela
conhecera a maioria das pessoas pela Saybrook, em algum ponto ou outro. —
Acho que vou levar isso também. — Ela arrancou o iPhone da mão de Aster.
— Ei! — Aster protestou.
— Sem celulares no trabalho. — A mulher começou a voltar para o que
deveria ser seu escritório. — Eu também não tolero perfumes excessivamente
fortes, sair mais cedo por qualquer motivo, ou roupas como essa. — Ela encarou o
vestido de renda de Aster, fixando-se em sua curta bainha.
Aster puxou os joelhos juntos. — É um Valentino.
A mulher olhou para ela. — Eu sou Elizabeth Cole. A partir de hoje, você
trabalhará para mim, e eu não me importo qual seja seu sobrenome.
Elizabeth marchou para um grande escritório decorado em branco e
cinza, com linhas limpas e ângulos agudos. Três paredes estavam cobertas com
fotos dela posando com vários clientes de alto nível, a maioria empresários que
Aster não reconheceu, mas também com Steven Tyler e Beyoncé. Dramáticas
janelas, que iam do chão ao teto por trás do balcão, exibiam o rio Hudson, que
estava cinza agora, sob um céu nublado. Combinava com o humor de Aster
perfeitamente.
Elizabeth pousou uma pilha de papéis, pegou uma garrafa de café, e
apontou para o rosto de Aster. — Café com leite diet, sem espuma, e um muffin
sem glúten da padaria na esquina da Greenwich e Harrison.
Aster olhou para a caneca. — Você quer que eu pegue um café para você?
A testa de Elizabeth franziu. — Há um monte de meninas qualificadas que
realmente querem esta posição. Não socialites com papais que lhes arrumam
empregos. Se você não está aqui para trabalhar, por favor, retire-se.
Aster não queria nada mais do que ir para casa e passar o resto de sua vida
sob o edredom Frette. Mas algo a impedia de se mover. Ela já estava aqui. Ela
tinha se levantado cedo, enfrentado as memórias dolorosas de Poppy e a aparição
surpresa de Danielle Gilchrist, e ela ainda estava de pé. Ela pensou em Poppy, que
tinha tanta certeza que ela teria sucesso. — Você é inteligente, Aster — Poppy tinha
dito depois que Mason a demitiu. — Mais esperta do que você pensa. Você pode
fazer grandes coisas, eu sei disso.
— Eu vou ficar — disse Aster com firmeza.
Elizabeth levantou as sobrancelhas e ofereceu um aceno rápido. — Tudo
bem. — Então ela se virou, passando por Aster, e caminhou pelo corredor
novamente. Na metade do caminho, ela virou para trás e olhou para ela. — Você
vem?
Aster piscou confusa, segurando a garrafa. — E o seu café?
— Depois — Elizabeth estalou.
Ela levou Aster para um pequeno cubículo com uma mesa baixa e um
computador empoeirado. Um cara alto, magro, com cabelo despenteado e óculos
no estilo Clark Kent estava digitando algo e apertando os olhos para o monitor.
Aster se perguntou se ela teria que sentar no colo dele.
Elizabeth olhou com raiva para ele. — Você não terminou ainda, Mitch?
O cara moveu-se para frente na cadeira. — O servidor está agindo estranho
de novo.
Elizabeth levou a mão à testa, em seguida, olhou para Aster. — Bem,
quando ele terminar, eu quero que você comece com isso. — Ela apontou para
uma grande pilha de papéis sobre a borda da mesa de Aster.
Aster levantou a folha de rosto e olhou para uma página. Era uma lista de
nomes, endereços, números de telefone e outras informações pertinentes. — O
que é isso?
— A nossa lista de clientes. Eu vou precisar que você a digitalize
manualmente no Excel. — Ela franziu a testa para o olhar vazio de Aster. — Você
sabe como usar o Excel, certo?
— É claro que ela sabe — disse o cara da TI rapidamente. Aster virou e
olhou para ele. Ela nunca tinha realmente usado o Excel, mas ela sabia que não
devia admitir isso agora.
Elizabeth marchou de volta para o corredor. — Não vá ao meu escritório
quando eu não estiver lá. E nunca me ligue. Só mensagens instantâneas, entendeu?
Aster piscou. — Perdão?
Elizabeth suspirou. — Mitch, por favor, explique para a herdeira como um
computador funciona. — Então ela olhou ameaçadoramente para Aster. —
Meninas como você sempre têm o que merecem, no final — ela acrescentou antes
de virar-lhe as costas. Aster estremeceu com o som de sua porta batendo no
corredor.
— Uau. Ela bancou uma vilã da Disney para cima de você. — Mitch, o cara
da TI, se virou e encarou Aster. Ele tinha olhos castanhos, cabelo loiro, e uma
protuberância fofa na ponta do nariz. Ao contrário de todos os outros na
Saybrook, ele usava tênis Vans e nenhuma gravata.
— Espera, eu sei quem é você! — Aster exclamou. — Eu o conheci na festa
de Natal do ano passado, não foi? — A festa de Natal da empresa geralmente era
chata, mas Aster lembrou que no ano passado ela flertou com um geek bonito.
Este geek bonito.
— Boa memória. — Os olhos de Mitch se iluminaram. — Bem-vinda à
empresa. E — ele fez uma pausa para tossir em seu punho, — eu sinto muito pela
sua prima. Ela era muito querida por aqui.
— Você a conhecia?
— Um pouco. — Mitch deu de ombros. — Ela era legal comigo. Algumas
pessoas caçoam os caras da tecnologia. — Ele inclinou a cabeça, desviou o olhar e
apontou dramaticamente para a porta do escritório de Elizabeth.
Aster folheou os papéis sobre a borda de sua mesa. A pilha era mais
grossa do que uma lista telefônica — Eu faço isso antes de levar o café, ou depois?
— Definitivamente pegue o café primeiro. Essa inserção de dados no
computador levará dias. — Mitch se aproximou. — O Excel é um programa de
planilha, por sinal. Não é difícil de entender. Eu posso ajudar, se quiser.
— Obrigada — disse Aster, tentando sorrir. Mas ela sentiu lágrimas no
canto dos olhos. Ela estava tão fora da sua zona de conforto.
— Ei. — Mitch aproximou-se mais. Ele cheirava a detergente e limão. —
Você vai ficar bem. Sério, eu posso ajudar com qualquer coisa técnica. Eu sou
muito bom com essas coisas — ele acrescentou timidamente.
— Eu vou manter isso em mente. — Aster respirou fundo e virou-se para o
corredor. — Ok, estou indo pegar o café.
— Boa sorte — Mitch disse atrás dela. Aster suspirou. Ela tinha a sensação
de que iria precisar.
Meia hora e um derramamento de café depois, Aster correu de volta para
o edifício Saybrook, até o nono andar. Não havia uma padaria na Greenwich e
Harrison, mas Aster tinha encontrado uma na Greenwich e King que parecia ser
boa. Ela esperava que fosse a que Elizabeth mencionou.
Ela bateu na porta do escritório de Elizabeth e, quando ninguém
respondeu, ela timidamente a abriu. O escritório estava vazio. Ela rapidamente
colocou o café com leite e o bolo sobre a mesa e, no instante que se virava para
sair, uma imagem na estante de Elizabeth chamou sua atenção. Era uma foto
emoldurada de Elizabeth em um vestido de casamento, o que parecia estranho,
uma vez que Aster podia jurar que ela não estava usando uma aliança antes.
Ela deu um passo à frente para examinar a foto mais de perto. Elizabeth
parecia muito mais jovem, sua pele suave e os olhos também. Ao lado dela estava
o noivo, um homem alto, de cabelo escuro penteado para trás, um sorriso
travesso, e ombros largos.
O sangue de Aster se transformou em gelo. Ela conhecia aquele homem.
Era Steven Barnett.
Era por isso que Elizabeth parecia familiar. Aster sempre soube que
Steven era casado, com alguém chamado Betsy... Que era, é claro, um apelido
para Elizabeth. Elizabeth — Betsy — certamente fora na festa de fim de ano há
cinco anos também. Aquela em que ele tinha morrido. Aquela em que ele foi visto
pela última vez sozinho na praia com Aster.
— Ahã. O que eu disse sobre vir ao meu escritório quando eu não estiver
aqui?
Elizabeth estava atrás de Aster na porta, olhando. Aster rapidamente deu
um passo atrás. — Hum, eu sinto muito — ela murmurou, e voltou-se
desajeitadamente em seu calcanhar, mas não antes de ela ver os olhos de Elizabeth
fitando a foto de casamento.
Quando ela correu pelo corredor, ela jurou que ouviu Elizabeth emitindo
uma risada suavemente atrás dela.
10
Traduzido por Manoel Alves

A
pós o trabalho, alguns dias depois, Corinne se sentou no sofá Luís XIV
na sala de estar de seu apartamento no Upper East Side. O sofá era uma
peça de época com entalhes nos braços e pernas e com estofamento de
pelo de camelo totalmente novo, mas não era totalmente confortável. Ele viera da
bisavó de Dixon, que havia estado na nobreza francesa e quem a família chamava
de grand-mère. Muitas das outras cadeiras e sofás na sala grande vieram do lado
Saybrook, juntamente com um tesouro de lâmpadas Tiffany, gravuras botânicas,
uma aquarela Monet, e uma vasta coleção valiosa de porcelana e vidro. Dixon
queria uma foto do rancho no Texas de sua família na sala também, mas o
decorador de Corinne, Yves, tinha insistido que a pintura iria arruinar o ambiente
do século XIX da sala.
Evan Pierce se sentou em frente a ela, uma grande pasta de couro no colo.
— Então, teremos hortênsias e peônias para o altar — ela repetiu.
— Isso mesmo — respondeu Corinne, cruzando as pernas nuas, que
pareciam pálidas e com celulite em contraponto das finas e suaves de Evan. — E
eu quero adicionar lírios às mesas.
— As favoritas de Poppy. — Evan suspirou, colocando uma mecha preta
atrás da orelha e escrevendo no livro em sua caligrafia espetada. Apesar da
amizade de Poppy e Evan ter sido algo que ela nunca entendeu muito bem,
Corinne encontrou conforto em saber que Evan havia sido próxima de Poppy
também.
Hoje Evan usava um grande anel de platina com uma enorme pedra ônix.
Corinne se perguntou quem tinha dado a ela. Ela se perguntou muito sobre Evan,
na verdade. Ela imaginou seu apartamento como um set de filmagem do futuro,
todas as linhas brancas e duras. E qual era a sensação de estar solteira tantas vezes?
Evan namorava muito, tipicamente homens mais velhos com um monte de
dinheiro, mas era geralmente Evan que terminava as coisas. E havia algo na
maneira que Evan se movia, furtiva como um gato, que fez Corinne achar que ela
era uma amante voraz.
— E você irá escolher o vinho hoje à noite? — disse Evan, ainda olhando
para a sua lista. — O chef do Coxswain irá encontrá-la lá.
O estômago de Corinne deu uma guinada. Evan tinha arranjado uma
degustação no St. Regis, onde Will era amigável com o sommelier mestre.
— Esse é o plano — disse Corinne tremulamente, depois limpou a
garganta. — Na verdade, eu estava querendo saber por que você escolheu o
Coxswain.
Evan franziu o cenho. — É um restaurante renomado. Eu pensei que você
ficaria satisfeita.
— Eu estou — disse Corinne rapidamente. — Eu só...
Ela parou. Que diabos ela poderia dizer? Eu não quero usar este
restaurante porque eu tive um caso secreto há cinco anos com o chef? Não era
como se Evan soubesse. Poppy nunca teria dito a ela o que aconteceu.
Dixon entrou na sala, de banho tomado do ginásio e com uma toalha
branca macia pendurada nos ombros. Sua pele cheirava a produtos masculinos
Kiehl, e seu cabelo estava escovado de seu rosto. — Ei, senhoritas encantadoras —
ele sussurrou.
— Estou de saída — disse Evan, se levantado em um salto. Ela beijou o
rosto de Corinne, então o de Dixon, e caminhou em direção ao foyer. Em
momentos, a porta da frente bateu.
Dixon abriu o console de mídia e pegou o controle remoto de dentro.
Após a verificação dos mercados na CNBC, ele mudou para o Campeonato de
Pôquer, que era o seu programa favorito desde seus dias de fraternidade. — Então,
escuta. Eu realmente sinto muito, mas não posso ir para a degustação de hoje à
noite.
Corinne olhou para ele. — O quê? Por quê?
— Uma das nossas ofertas foi para o sul. Eu tenho que fazer algumas
ligações, apagar alguns incêndios.
Seus pensamentos se dispersaram como bolas de gude. — Não é possível
que outra pessoa faça isso? — Ela queria que Dixon fosse para servir como uma
proteção em relação à Will. Ela precisava que ele fosse.
Dixon parecia despedaçado. — Querida, me desculpe, mas eu vou reparar
isso com você. Qual é o próximo compromisso? Florista? Designer? Eu vou testar
o seu vestido para você, se você quiser.
— Eu já fiz a minha prova final. — Corinne fez beicinho, não querendo
brincar logo em seguida. Ela quase pensou que poderia chorar. Ela não poderia
fazer aquilo sozinha. Ela simplesmente não podia. E pior, ela não conseguia nem
explicar para Dixon por que ela não podia.
Dixon inspecionou o rosto dela. — Qual é o problema?
Corinne apertou os lábios com força. Talvez ela pudesse lhe dizer. Isso já
havia acontecido há muito tempo; certamente ele tivera os casos dele durante
aquele ano, também. Mas dizer-lhe significaria explicar todo o resto?
— Por que você terminou comigo naquele verão? — ela desabafou. Então
ela piscou, surpresa que tinha saído de sua boca.
Dixon baixou o remoto. — De onde veio isso?
Corinne manteve os olhos no tapete. — Bem, eu só estava me
perguntando. Nós nunca conversamos sobre isso, e estamos prestes a nos casar.
Ela sabia o que estava fazendo. Vê Will tinha mexido em um monte de
memórias, a maioria delas desagradáveis. Ela queria encontrar uma maneira de
reescrever a história, torcer as coisas até que Dixon fosse o responsável por tudo o
que deu errado. Se ele não tivesse terminado comigo, eu nunca teria conhecido
Will. Se ele tivesse respondido meus telefonemas, a minha vida não teria mudado
tão descontroladamente de curso. Não era justo. Ela sabia disso. O que ela tinha
feito com Will tinha sido sua decisão — incluindo as consequências.
Dixon esticou os braços atrás da cabeça. — Eu não sei se vale a pena falar
sobre isso, para ser honesto.
— Tudo bem — ela disse com altivez, e mergulhou a mão na sua bolsa para
pegar sua caderneta de couro Mrs. John L. Strong — ela precisava introduzir os
novos compromissos que ela e Evan tinham acabado de discutir. Ela ainda não
tinha tido a chance de escrever sobre o teste de hoje, e ela sabia que algo iria cair
através das rachaduras se ela não anotasse em breve. Mas a caderneta não estava
lá. O olhar de Corinne esquadrinhou a sala — talvez ela tivesse deixado sobre a
mesinha no canto? Mas quando ela foi até ela, o livro não estava lá, também.
Ela franziu a testa e olhou para Dixon. — Você viu o meu diário?
— Você tem um diário? — Dixon parecia divertido.
— Margaret esteve aqui esta manhã? — Sua faxineira era meticulosa em
colocar tudo em seu devido lugar.
Dixon balançou a cabeça. — Eu acho que não.
Que estranho — ela nunca perdia as coisas. Mas talvez ela tivesse deixado
ele no trabalho.
— Eu devo estar perdendo a cabeça — ela murmurou.
Dixon deu de ombros. — Eu entendo... — disse ele, com um sorriso
brincalhão.
Ela deu a Dixon uma olhada cansada. — Vejo você em breve — disse ela,
em seguida, foi para o corredor.
Mais tarde naquela noite, enquanto a umidade incomum para maio
começou a mudar, Corinne passou correndo pelas lojas no Rockefeller Center em
direção ao hotel St. Regis. A calçada estava cheia de turistas, um concerto ao ar
livre estava ocorrendo em algumas ruas, e o ar cheirava a frutos do mar frescos do
restaurante na pista de patinação no Rockefeller. Ela olhou para seu reflexo nas
janelas da 30 Rock e franziu a testa. Talvez ela não devesse ter usado uma saia
curta. Pelo menos ela tinha vestido um suéter. Em seguida, ela se perguntou se
estava pensando muito sobre tudo isso. Ela não deveria ter se trocado. Ela estava
indo para uma degustação de vinhos do seu casamento, não indo a um encontro.
— Corinne!
Natasha estava do outro lado da J. Crew. Ela estava vestida com calças de
ioga, um saco de lona impresso com um tigre pendurado no ombro. Seu cabelo
escuro estava preso em um rabo de cavalo, e seu bonito rosto estava livre de
maquiagem.
Corinne piscou, procurando uma fuga, mas Natasha vinha tão rápido que
não deu tempo. — Como você está? — perguntou ela, beijando cada bochecha de
Natasha no ar, com sinceridade.
— Oh, simplesmente fantástica. Você? — Natasha perguntou, embora ela
não tenha esperado pela resposta. — Você está indo para uma degustação de
vinhos, certo?
— Como é? — disse Corinne. Todo o som sumiu, até mesmo o alto
zumbido do baixo que vinha do concerto. — Como você sabe disso? — perguntou
Corinne, trêmula.
O sorriso ainda estava no rosto de Natasha quando ela pegou o telefone e
colocou no Abençoados e Amaldiçoados. — Como uma Herdeira Planeja um
Casamento — dizia o título. A primeira imagem era a capa de couro de um diário.
Corinne rolou para baixo, seus olhos ampliando-se cada vez mais. Cada
imagem era uma página de seu diário. Havia listas de reuniões com a florista e o
padeiro; pontos de negócio para um novo escritório em Bangkok; o número do
celular da sua esteticista. Havia coisas pessoais também. Como a palavra Lexapro
com um ponto de interrogação ao lado — sua terapeuta havia sugerido que ela
tentasse por causa da ansiedade. Havia até mesmo listas do que ela comeu em um
determinado dia, e uma mensagem que dizia “Treino de Pilates Três Vezes Esta
Semana!” escrito em caneta vermelha. E no último dia, hoje, as palavras
“Degustação de Vinho, 08:00h” estavam azuis.
Corinne quase deixou cair o telefone. Era sua caligrafia, mas ela não tinha
escrito as palavras ainda. Como tinham imitado tão perfeitamente a letra dela? Ou
como havia dito Dixon: Ela estava realmente perdendo a cabeça?
— Está tudo bem? — Natasha observou-a com atenção. A realidade caindo
sobre seu rosto. — Oh, meu Deus. Deanna não arranjou que as páginas estivessem
nesse site, não foi?
Corinne fechou os olhos, odiando que Natasha, de todas as pessoas,
estivesse testemunhando a reação dela. — Não — ela admitiu. — Mas está tudo
bem.
— Esses animais. Eles não se cansam de nós? — Mas havia uma cadência
estranha na voz de Natasha, quase como se ela estivesse se divertindo. — De
qualquer forma, eu tenho que ir. Divirta-se na degustação! E eu vou vê-la na
próxima semana para a despedida de solteira — ela gritou, sendo arrastada pela
multidão.
Corinne piscou. Vá para casa, disse uma voz em sua mente. Parecia como
um prenúncio sinistro do que estava por vir. Ela deveria apenas ter ficado na
cama, puxado as cobertas sobre a cabeça, e esperado para acordar casada. Mas ela
virou para o leste, passando pela Quinta Avenida para o St. Regis. Ela respirou
fundo quando empurrou as portas duplas douradas no lobby brilhante. Quando
ela avistou Will esperando por ela na entrada, ela baixou os olhos e contou os
quadrados do tabuleiro de damas no chão enquanto atravessava a sala. Seu
coração batia forte.
— Desculpe o atraso — disse ela a Will quando se aproximou, tentando
não olhar diretamente para ele. Ele parecia tão bonito como sempre. Muito
bonito.
Will olhou para trás dela. — Onde está o seu noivo? — Ele disse “noivo”
da mesma forma que alguém poderia dizer “molestador infantil”.
Corinne engoliu em seco. — Teve um imprevisto. — Infelizmente, ela
queria acrescentar.
— Sem problemas — ele disse a ela suavemente — e um pouco impessoal.
Eles começaram a descer um lance de escadas atapetadas, passando pelo Bar King
Cole, onde Corinne havia passado horas incontáveis com Dixon e seus amigos, e
então para mais abaixo para outro lance de escadas, onde eles entraram em uma
pequena sala privada iluminada por centenas de velas tremeluzentes. Cremalheiras
do vinho Oak cobriam as paredes em torno deles, e o lugar tinha um cheiro de
uvas e azeite e um toque de fumaça de charuto. Havia um bar criado no final da
sala; duas cadeiras vazias.
Will olhou para Corinne. — Bem-vinda à sua degustação privada. — Ele
deslizou para um dos bancos. — Eu acho que já que Dixon não pode fazê-lo, eu
vou ajudá-la.
Corinne sorriu nervosamente para um homem que saiu de dentro da
adega. Ele cumprimentou Will com um abraço feroz e apertou a mão de Corinne.
— Andrew Sparks. Eu sou o sommelier do hotel.
Ele começou a olhar para o menu, que Will tinha selecionado para
Corinne e Dixon, e desapareceu de volta para a adega para pegar algumas garrafas.
Seu corpo desapareceu no abismo de vinhos, e Corinne tentou ao máximo evitar
que seu pé tremesse.
Will olhou para ela. — Estou feliz que você aprovou o menu.
Corinne engoliu sem jeito. — Sim. Acho que vai ser muito bom. — Pelo
menos, ele não está me congelando, ela pensou. Ela não sabia o que esperar, mas
depois de sua frieza no restaurante, talvez isso.
Andrew reapareceu e começou a derramar pequenos copos para cada um
deles degustar uma variedade de vinhos tintos, brancos, rosés de acordo com cada
prato no menu. Corinne bebeu o primeiro copo, um chardonnay frutado, em
seguida, tomou outro gole. Ela podia sentir os olhos de Will sobre ela novamente.
Seu olhar deslizou para um copo pequeno no lado da mesa que servia para cuspir
os sabores. Mas depois de seu encontro com Natasha — e de enfrentar este
passado há muito esquecido — ela precisava de uma bebida. Ela pegou o copo e
bebeu rapidamente o resto.
— Este é adorável — disse ela, enquanto colocava o copo vazio sobre a
mesa, já se sentindo mais leve.
Will riu. — Dia longo?
— Às vezes parece que tem durado décadas — disse Corinne,
surpreendendo a si mesma. Ela perguntou-se como um pensamento tão honesto
tinha escapado de seus lábios.
Will mudou de posição no banco. — Fiquei triste ao ouvir sobre a sua
prima. Nós só nos encontramos algumas vezes, mas eu me lembro que vocês eram
próximas.
Então. Lá estava ele. Corinne sentiu o nó dentro dela desfraldar no peito.
É claro que o verão não era um segredo para qualquer um deles, mas ao ouvi-lo
reconhecê-lo, ela de alguma forma sentiu como se um grande peso tivesse sido
tirado de seus ombros. Então ela imaginou Poppy, dançando com um dos amigos
de Will na noite em que eles se encontraram, nunca se importando com o que
alguém pensasse dela, e ainda de alguma forma fazendo com que todos pensassem
somente as melhores coisas. — Obrigada — disse ela em voz baixa, um pouco mais
calma. Tudo vai ficar bem, ela disse a si mesma. Apenas respire. Apenas enfrente
isso.
Em seguida, eles testaram um tinto da região de Lagrein, em seguida, um
Barolo inebriante, seguido de alguns vinhos de sobremesa. Em pouco tempo, a
postura de Corinne não estava tão rígida, e ela não estava enxugando a boca
depois de cada gole. Ela olhou para Will, que estava conversando animadamente
com Andrew, firmando as suas escolhas finais. Um inesperado sentimento sensual
a encheu. De repente, ela quase podia sentir a areia fria entre os dedos dos seus
pés, a água salgada revestindo sua pele, a primeira noite que eles se conheceram. E
agora, quando ela olhou para os sensuais lábios rosa de Will, ela lembrou-se
claramente o que se sentiu quando o beijou.
Andrew deu um beijo de boa noite em ambas as faces, e depois os deixou
com as garrafas inacabadas. Em pouco tempo eles se serviram de mais um copo.
Em seguida, outro. A cabeça de Corinne estava nadando; ela se sentia como se
estivesse flutuando. E embora ela soubesse que deveria ir para casa, ela não
conseguia que seu corpo levantasse daquele banco.
Will se virou para ela e sorriu. — Você trabalha na Saybrook, não é?
— Sim — disse Corinne, tentando permanecer equilibrada. — Eu sou a
chefe de negócios estrangeiros.
— A chefe. — Will não parecia surpreso. — Claro que você é.
Corinne baixou os olhos, sentindo como se ela tivesse sido muito
arrogante. — Bem, mas ajuda se o seu sobrenome está no papel timbrado.
— Não faça isso. — Ele pegou a mão dela, e a força disso a surpreendeu. —
Tenho certeza de que você merece o cargo. Que é bom para você. Já pensou em
trabalhar em outro lugar?
Corinne piscou. — Eu realmente nunca pensei nisso.
— Sério? Nunca?
Ela foi transportada de volta para o verão mais uma vez. Não muito tempo
depois deles se beijaram na areia, Will tinha encontrado Corinne novamente
quando ela estava fazendo compras na cidade. Ele olhou para ela do outro lado da
rua, e, em seguida, se aproximou e colocou uma nota em sua mão. — O estaleiro
em Carson e Main. Meia-noite — dizia.
Tinha sido uma noite quente e pegajosa. Corinne ficara sozinha nas docas,
em uma saia longa e sandálias de couro caríssimas. Mas, então, Will apareceu
através da névoa e pegou a mão dela, levando-a a um pequeno barco de pesca no
meio do estaleiro. Corinne não havia perguntado de quem era o barco; ela ainda
não tinha pensado sobre isso. Ela sentou-se no casco. E então, em vez de beijá-la,
ele tocou as chaves da casa de Corinne. O chaveiro era do Iate Clube
Meriweather. — Você tem um barco?
— Só da minha família. — Ele não era apenas um barco, exatamente — era
um iate enorme que abrigava doze pessoas — mas ela esperava que ele não
soubesse disso. Ele tinha sido tão cuidadoso com seus tênis perto da água, com
medo de molhá-los, enquanto Corinne, que estava usando sandálias de quinhentos
dólares, esquecera-se completamente.
— Claro. Da sua família — disse Will.
Corinne percebeu seu olhar. Não era uma surpresa que ele soubesse
sobre sua família; o que a surpreendeu, no entanto, foi que ele pareceu se
importar. — Eu sinto muito. Eu não quis fazer perguntas sobre a sua família. Eu
não quero saber quem eles são. Eu quero saber quem é você. A verdadeira você.
A verdadeira você. Foi um conceito que ela não entendera muito bem.
Havia os fundamentos óbvios. Eu sou Corinne Saybrook. Eu fui para um colégio
interno em Exeter. Eu tinha uma média de 3,87 em Yale. Eu gosto de jogar
hóquei, lacrosse, e andar a cavalo; passo os verões em Meriweather e vou para
Portofino ou St. Barts durante as férias de primavera. Eu li todos os livros de Jane
Austen duas vezes. Eu acabei de romper com Dixon Shackelford e, a partir do
próximo mês, vou trabalhar no departamento de negócios estrangeiros da empresa
da minha família.
E ela disse tudo aquilo — até mesmo a parte sobre Dixon. Will lhe de um
olhar inquisitivo. — Isso soa como um currículo. Você é mais do que isso.
Será que ela era? Mas, de repente ela viu-se dizendo-lhe coisas que
ninguém mais sabia. Ela lhe disse que seu professor do primeiro grau tinha algo
por ela, por algum motivo — e ela nunca soubera o porquê — ainda assim, Corinne
sempre contou aos pais que era animal de estimação do professor. Ela falou sobre
como sua mãe costumava fazê-la andar por aí com um livro sobre a cabeça e a
fazia ir a todos os eventos de caridade na cidade, mesmo que as outras meninas
não fossem muito simpáticas com ela. Ela falou sobre como seu pai parecia
preferir Aster. Ela ainda admitiu que havia rumores de que sua irmã estava se
metendo em confusão na Europa, e disse-lhe como estava preocupada com ela.
Mas com raiva também.
Ela não tinha certeza por que ela disse tudo aquilo para Will. Mas ela o
fez, e naquela noite um pensamento flutuou em sua mente, espontaneamente. Eu
já te amo, algo profundo dentro dela tinha sussurrado.
Agora, ela olhou através do bar para Will. Ele ainda estava olhando para
ela. — Eu nunca pensei em me ramificar, porque nunca senti que me permitiriam
— disse ela, abrindo as comportas confessionais novamente. — Eu sempre fui uma
boa menina. Eu sempre fiz o que meus pais pediram. Isso significava trabalhar
para a família. Isso significava ir às escolas certas, usar as roupas certas e se casar...
— ela parou.
— O quê? — Will perguntou, inclinando a cabeça.
Corinne olhou para baixo. — Casar bem — ela admitiu.
Will olhou para ela, e por um longo tempo ele ficou em silêncio. Em
seguida, seus dedos tatearam seu copo. — Me desculpe, eu fui frio com você no
outro dia — disse ele, sua voz aprofundando-se no frio. — E isso pode me fazer
parecer um idiota, mas você nunca mais terá que lidar comigo novamente depois
de hoje à noite, então eu posso muito bem dizer isso. — Seus lábios tremeram por
um instante. O coração de Corinne começou a bater forte. — A vida é muito curta
para se preocupar em se casar bem.
Ela agarrou sua taça de vinho. Ela queria defender Dixon, mas, de
repente, Dixon parecia muito longe. Corinne não podia sequer imaginar o seu
rosto, a forma de seus olhos, se ele tinha covinhas, o jeito que ele cheirava. Por
outro lado, ela fez uma imagem mental de todos os contornos do rosto e do corpo
de Will por cinco anos. Ela poderia tê-lo desenhado perfeitamente, se alguém
tivesse perguntado. Talvez isso significasse alguma coisa; se você ainda pode
desenhar alguém quando ele se foi. Se você lembra dele perfeitamente. Se você
fosse o espelho dele, mesmo depois que muito tempo tinha passado...
Ela esfregou as palmas das mãos contra os olhos, manchando a
maquiagem. O que ela estava pensando? Ela fechou um guardanapo em suas
mãos e se levantou. — Eu acho que eu bebi muito. Eu devo estar horrível.
Will levantou também. — Você está maravilhosa.
Ele colocou a mão em seu braço. Sua cabeça zumbia. E, de repente, era
como se ela tivesse flutuado para fora de seu corpo e estivesse observando de
cima, em alguma outra dimensão. Ela imaginou-se sentada na primeira fila de um
teatro, Poppy ao lado dela, com as mãos em uma bacia de pipoca, a sua boca
aberta, enquanto Corinne estendia a mão para Will, puxando-o para ela. Ele
jogou-se nela, sua boca avidamente procurando-a. Batendo um contra o outro, eles
saíram da sala privada para uma das adegas, um espaço seco e escuro. Will
colocou Corinne para baixo e olhou para ela. Ele abriu a boca, como se quisesse
dizer algo, mas ela a cobriu. Ele agarrou o cós da saia dela desesperadamente.
A noite no barco voltou para ela mais uma vez. Depois de Corinne ter lhe
dito todos os seus segredos, ele a levou em seus braços. Era quase como se algo
estivesse inchando dentro dela e se não acontecesse logo, nesse momento, ela iria
estourar.
Na adega, Will beijou seu pescoço quando ele arrancou o suéter dela, e
ela arqueou as costas contra o chão surpreendentemente frio. Ele empurrou a saia
em torno de sua cintura. E então eles respiraram um no outro, suas bocas com
gosto de vinho. — Oh, meu Deus — Will ficava dizendo, de vez em quando
fazendo uma pausa para olhar para ela. Lágrimas formaram-se nos olhos de
Corinne, embora ela não estivesse triste. Era só que ela se lembrou de Will
fazendo a mesma coisa na primeira vez que eles estavam juntos. Olhando para ela
assim, como se não pudesse acreditar que aquilo estava acontecendo.
Na primeira noite, o barco tinha sacudido com seus movimentos. Seus
sons ecoaram através da baía. Corinne nunca se sentiu particularmente
entusiasmada pelo sexo, mas com Will em cima dela, coberta por um dossel de
estrelas, algo aconteceu. Algo que a fez se sentir muito diferente. Um alinhamento
dos planetas, talvez. Um big bang, criando um universo.
E esse era problema. Eles tinham, na verdade, criado algo naquela noite.
Eles haviam criado alguém.
11
Traduzido por Matheus Martins

R
owan estava sentada em sua mesa às sete horas na quarta-feira à noite,
olhando com os olhos turvos um contrato em sua tela. Ainda estava claro
lá fora, as horas ao anoitecer se alongavam mais e mais como se eles
estivessem em maio. Alguns telefones tocavam em cubículos do lado de fora de
seu escritório. De vez em quando, um assistente jurídico ou um assistente passava,
mas as maiorias das pessoas estavam se arrumando para sair.
Ela olhou para a tela de novo, prestes a abrir um documento diferente.
Mas então o cursor começou a derivar em direção ao canto inferior direito do seu
monitor, embora ela não tivesse tocado o mouse. Rowan endireitou-se e virou a
cadeira para trás alguns centímetros. Ela observou que a pequena seta lentamente
migrou para o ícone do Windows no canto inferior esquerdo.
— Olá? — ela gritou, mas para quem ela não tinha certeza. Como aquilo
tinha acontecido?
Houve uma tosse no corredor, em seguida, um pequeno conjunto de
arrastar de passos.
— O-olá? — Rowan chamou, se levantando um pouco. O escritório de
repente estava muito quieto, muito vazio. — Tem alguém aí?
Rowan saltou quando Danielle Gilchrist enfiou a cabeça, o rosto cheio de
preocupação.
— Oh meu Deus, eu não queria te assustar.
Rowan alisou o cabelo dela.
— Eu estou bem. O que está acontecendo? — Ela ofereceu um sorriso
vacilante, olhando os longos cabelos ruivos de Danielle e seu vestido preto e rosa
de lã de aparência moderna. Ela e Danielle trabalhavam juntas de vez em quando
— como assessoras jurídicas, Rowan ocasionalmente teve de aconselhá-la sobre
contratações e incêndios.
Danielle verificou por cima do ombro, em seguida, entrou no cubículo e
fechou a porta.
— Algo vem, tipo, passando pela minha cabeça.
— Sente-se — disse Rowan, apontando para o sofá em frente a sua mesa.
Danielle empoleirou-se em cima de uma almofada e cruzou as mãos no
colo, um olhar conflituoso em seu rosto. Alguns momentos se passaram antes que
ela falasse.
— Eu tenho pensado muito sobre o assassinato de Poppy, e em quem
poderia querer machucá-la... e eu tinha esse pensamento. Algo que eu não tenho
certeza que o FBI saiba a respeito.
Uma onda de choque percorreu Rowan.
— O que você quer dizer?
Danielle respirou fundo. — Eu costumava ser amiga da assistente de
Poppy, Shoshanna. Você se lembra dela, não é? Ela, basicamente, gerenciava a
vida de Poppy? Eu a contratei. Ela foi altamente recomendada.
— Claro — disse Rowan. Muitas vezes ela entrou no escritório de Poppy
quando Shoshanna, uma menina magricela com cabelo preto encaracolado, um
rosto comprido e uma predileção por vestidos baby-doll, instruía Poppy sobre
uma coisa ou outra. — Ela deixou a empresa há alguns meses atrás, certo? Para a
De Beers?
— Isso. Ela teve uma grande oferta no departamento RP, melhor do que
qualquer um poderia igualar. — Danielle limpou a garganta. — Antes de sair,
porém, ela meio que deixou escapar uma coisa sobre Poppy.
Fora da janela, um refletor irradiava através do céu. Rowan o olhou por
um momento, e então olhou para a tela de seu computador. O cursor não se
moveu novamente.
— O que Shoshanna disse? — ela perguntou, virando-se para Danielle.
— Talvez não seja nada, mas ela mencionou algumas... discrepâncias na
agenda de Poppy. Poppy começou a colocar compromissos misteriosos em sua
agenda — coisas vagas, como “reunião”, sem dizer com quem era. E quando
Shoshanna perguntava — era seu trabalho perguntar — Poppy dizia a ela que tinha
tudo sobre controle. Shoshanna disse que ela era meio arrogante quando se tratava
disso.
— Tudo bem — disse Rowan, tocando a superfície da sua mesa. Nada
disso parecia tão estranho para ela.
Danielle puxou o lábio inferior em sua boca.
— Ou quando ela escrevia coisas como “almoço com James”, mas, em
seguida, James ligava durante o almoço, sem saber nada sobre um almoço.
Shoshanna tinha que cobrir ela.
Rowan se recostou. Isso era estranho. Mas Poppy poderia ter escrito a
data errada, ou James podia ter esquecido. Havia um monte de explicações. —
Hum.
— Shoshanna disse que ela começou a receber chamadas bloqueadas
misteriosas, também. E uma vez, Shoshanna tentou pegar o telefone para escrever
anotações para Poppy, e Poppy não deixou ela pegá-lo. Ela não explicou de onde
as chamadas vinham ou sobre o que elas eram. Mas eu acho que Shoshanna
chegou a algumas conclusões. — Danielle passou a língua em sua bochecha.
Rowan procurou seu rosto. Os únicos sons no escritório eram os
pequenos zumbidos e cliques do disco rígido de Rowan. Seu cérebro parecia ter
dado um curto circuito temporariamente, ficando preto. Finalmente, ela disse: —
Você acha que Poppy estava tendo um caso?
Danielle apertou os lábios.
— Eu não sei. E talvez haja outra explicação. — Ela colocou as mãos em
seu colo.
Rowan considerou a mulher sentada em frente a ela no sofá, por um
segundo imaginando a jovem que dirigia Edith em torno de Meriweather em um
carrinho de golfe. Ela tinha sido amiga de Aster, não de Rowan, mas Rowan
sempre tinha achado ela divertida. Um verão, quando elas estavam todas sentadas
juntas na praia, elas assistiram a um casal mais velho brigando, enquanto
caminhavam ao longo da borda da água. O vento tinha levado as palavras
verdadeiras do casal, mas Danielle havia adotado um gemido nasal agudo para a
mulher e um estrondo catarrento para o homem.
— Eu lhe disse para não usar essa Speedo — ela disse em uma voz
comprimida.
— Você está preocupado com a concorrência? — ela então murmurou,
segurando seus braços para fora, ao mesmo tempo que o velho.
Rowan conhecia o casal que discutia — os Coopers eram um dos poucos a
irem a Meriweather há anos — e Danielle tinha imitado sua voz perfeitamente. A
mãe de Danielle, Julia, passou naquele momento em sua corrida matinal.
— Seja agradável, Danielle — ela advertiu, com o cabelo vermelho
brilhante voando atrás dela.
— Você já disse ao FBI? — Rowan perguntou agora.
Danielle balançou a cabeça.
— Eles não entraram em contato comigo. E, em vez de ir diretamente a
eles, eu pensei que eu deveria falar para você primeiro. Especialmente já que eu
nem sei se é alguma coisa. Espero que essa seja a coisa certa a fazer.
— É claro que é. — Rowan se ajeitou na cadeira. — Você fez o que
qualquer um na família faria, e eu aprecio isso. — Ela se ajeitou na cadeira. — Você
não tem ideia de quem estava na outra linha nessas chamadas bloqueadas?
Danielle balançou a cabeça. — Shoshanna sabe, mas ela não me disse.
Rowan olhou para fora da janela. Luzes brilhavam no prédio do outro
lado da rua.
— Eu me pergunto se Foley olhou a agenda de Poppy. Talvez esses
compromissos pudessem ser uma pista sobre o que ela poderia ter visto — ela
murmurou mais para si mesma, quase não acreditando nas palavras que saíam de
sua boca. Ela tinha assumido que a teoria de James sobre a traição de Poppy era
apenas isso: uma teoria. Um pensamento que justificava a sua própria infidelidade
com Rowan. Mas aqui estava outra pessoa ecoando as suspeitas de James. A ideia
de Poppy tendo um caso ainda não processava, no entanto.
Alguém bateu na porta, e James enfiou a cabeça dentro.
— Oh, eu sinto muito. Estou interrompendo?
— Oh, oi. — Ela piscou confusa para ele. — Hum, não, claro que não.
— Nós estávamos terminando. — Danielle levantou-se e alisou a saia lápis.
— Bem, se você precisar de alguma coisa, me ligue, ok?
— Ok — disse Rowan, e Danielle saiu da sala.
Rowan se voltou para James.
— Então... o que você está fazendo aqui?
— Estou vindo do trabalho — explicou James. Ele enfiou as mãos nos
bolsos da calça jeans de lavagem escura, parecendo de repente envergonhado. —
As crianças estão com Megan. Achei que você ainda poderia estar aqui. Eu só...
queria ver como você estava indo.
Rowan piscou rapidamente, sentindo-se desorientada.
— Como foi que você entrou?
James deu de ombros.
— Minha esposa era a presidente. Eles sempre me deixam entrar.
Rowan assentiu. É claro.
Ela esfregou os olhos.
— Deus, eu sinto muito. É tão tranquilo aqui. É meio assustador. — Ela se
perguntou se ele tinha ouvido a conversa que ela acabara de ter com Danielle. Mas
ele parecia inocente, um canto de sua boca levantou em um sorriso, revelando a
covinha que ela não tinha visto em muito tempo.
Ela colocou a cabeça entre as mãos e esfregou seu couro cabeludo. Ela
deveria dizer a ele o que Danielle tinha dito? Compromissos trocados, ligações
secretas — parecem coisas que apontaria para uma traição. Talvez os sinais de
sensoriamento de James estivessem realmente lá. De repente, Rowan sentiu-se
ofendida de alguma forma, como se ela fosse a pessoa que tinha sido traída. A
mulher que ela considerava sua melhor amiga parecia tão incognoscível como uma
estranha em um bar.
A raiva de Rowan estava formigando quente na superfície de sua pele. Ela
olhou fixamente para uma foto dela e Poppy que estava em sua mesa, desejando
de repente virá-la de cabeça para baixo. Lágrimas encheram os olhos dela, e ela se
arrependeu imediatamente de seus pensamentos. Sua prima, sua melhor amiga,
tinha sido assassinada. Ela não podia ficar brava com ela.
— Ei, tudo bem? — James se aproximou e estendeu a mão como se
quisesse colocar a mão em seu braço, em seguida, retirou, como se preocupado
que ela o recusasse.
— Sim. Tem sido um longo dia — disse ela, piscando para conter as
lágrimas. — Então, como estão as crianças?
— Briony está se sentindo melhor. — James sentou-se no sofá de Rowan.
— E como você está?
James olhou para ela pelo que pareceu uma eternidade.
— Você quer a verdade?
— Claro.
Ele tomou uma respiração profunda.
— Eu não consigo parar de pensar em você.
Rowan apertou os lados da cadeira. Sua boca se contraiu, e ela podia
sentir seu rosto ficando vermelho. James levantou-se, atravessou a sala, e foi até a
mesa de Rowan. Ele sentou-se na borda, ainda olhando para ela. Rowan estava
com medo de se mover, muito menos de falar. Ela sentia-se como duas pessoas: a
Rowan que tinha desesperadamente perdido sua prima, sua melhor amiga e a
Rowan que tinha dormido com James... e que queria fazê-lo mais uma vez.
Em seguida, o telefone dele tocou. Eles pularam. — Você precisa atender
isso? — perguntou Rowan.
James balançou a cabeça. — Isso não importa.
— Mas e se for a babá?
Ele acenou para longe. — Não é.
— Pode ser importante.
Um sorriso apareceu em seu rosto. Ele balançou a cabeça. — Saybrook,
você não entendeu? Ninguém é mais importante do que você.
A espinha de Rowan formigou, mesmo quando ela protestou. — James,
não deveríamos.
Ele se aproximou e passou a mão pelo cabelo. — Sim, nós devemos.
Ele apertou seus lábios contra os dela, e todo o seu corpo se derreteu
nele. James ergueu-a sobre a mesa, e um por um, ele desfez os botões em sua
camisa de trabalho azul-cinzenta, expondo o sutiã preto rendado por baixo,
beijando-a em todos os lugares. Em segundos seu sutiã e sua camisa estavam
retirados, suas mãos acariciando seus seios.
— Mais — Rowan gemeu, envolvendo suas pernas em volta dele e
desafivelando suas calças. Ele empurrou sua saia até a cintura e em um momento
rápido se empurrou dentro dela, os lábios e as mãos explorando todo o seu corpo.
Ele começou lento, mas logo ele estava se movendo contra ela com urgência, e ela
combinava com seu ritmo, nunca quebrando o contato visual. — Mais — ela disse a
ele novamente. — Por favor.
Mas tudo acabou muito rapidamente, e em pouco tempo, James estava
puxando as calças e amarrando seus cadarços.
— Venho amanhã — ele sussurrou em seu ouvido. Ele apertou a mão dela
uma vez, deu-lhe um beijo demorado, então fugiu.
Ele fechou a porta levemente, e Rowan olhou em torno de seu escritório,
com o coração batendo rápido no silêncio repentino.
Um minuto inteiro se passou antes de ela notar seu computador. Ela deve
ter acidentalmente clicado no aplicativo iMovie; uma pequena janela mostrava o
ponto de vista a partir do topo do monitor de Rowan, onde sua webcam estava.
Um relógio de tempo estava correndo, a câmera ainda gravando. Rowan estudou
sua imagem na webcam, vendo sua pele corada, seus cabelos despenteados, seus
lábios inchados. Ela ficou parada com agitação, os dedos em pânico.
Então ela rebobinou o vídeo para o começo. Por alguns momentos, houve
apenas uma respiração pesada, mas, em seguida, a cabeça de Rowan mergulhou na
visão da câmera. Então apareceu uma parte de seu peito nu, seu torso nu, o
pescoço arqueado. Um homem montou em cima dela, com o rosto escondido.
— Mais — Rowan exigia com fôlego. — Por favor.
As bochechas de Rowan queimaram. Ela pausou, constrangida por sua
exibição sem vergonha de paixão. Ela moveu o mouse para o topo da tela e, com
um decisivo clique horrorizado, apagou o vídeo para sempre.
12
Traduzido por L. G.

A
ster saiu da última coluna do Excel e recostou-se com um suspiro
satisfeito, entrelaçando os dedos atrás de sua cadeira e alongando as
costas para estalá-la. Ela não podia acreditar. Após mais de uma semana
inteira de entrada de dados, ela finalmente tinha acabado. Não tinha sido fácil — o
Excel era terrível, mas lidar com Elizabeth era pior. Cada interação era cheia de
tensão. Será que ela sabia sobre Aster e Steven? E quanto?
Ela olhou para o relógio: 6:00 em ponto. Ela teria apenas tempo suficiente
para correr para casa, jogar algumas roupas dentro de uma mala, e chegar a
Teterboro a tempo de sair para o fim de semana de despedida de solteira de
Corinne. Normalmente a perspectiva de três dias inteiros cheios de atividades de
noiva planejadas por Corinne teria feito Aster revirar os olhos, mas agora ela não
queria nada mais do que estar em Meriweather. Ela não podia esperar para se
jogar em sua cama de dossel e dormir até a hora que quisesse.
Ela mandou por e-mail a planilha para Elizabeth, e em seguida, levantou-
se e começou a arrumar suas coisas. — Aster! — ela ouviu Elizabeth gritar de seu
escritório. Aster rapidamente ajustou seu vestido longo rosa claro — um dos
poucos vestidos que ela possuía que se encaixava na regra rigorosa “abaixo do
joelho” de Elizabeth — e caminhou para o escritório de sua chefe, tropeçando em
uma pilha de papeis no caminho.
— Você está indo embora, eu pressuponho — perguntou Elizabeth, sem se
importar em olhar para ela.
— Sim, e eu estarei fora amanhã — disse Aster, rangendo os dentes. Ela
tinha pedido para ter esse tempo de folga durante seu primeiro dia, e tinha sido
pré-aprovado pelo RH. Elizabeth sabia disso; ela só estava tentando incitar Aster.
Elizabeth suspirou melodramaticamente, como se Aster tirar uma folga no
trabalho em uma sexta-feira fosse o pedido mais ridículo que se podia imaginar. —
Bem, não saia ainda. Eu quero fazer a nossa lista de afazeres para segunda-feira.
Sente-se ali, enquanto eu olho meu e-mail.
Aster empoleirou-se na cadeira, segurando seu caderno e uma caneta na
mão, enquanto Elizabeth encarava a tela de seu computador. Toda noite elas
faziam uma lista de coisas necessárias para Aster fazer no dia seguinte: programar
entregas, ligações a serem retornadas, agendar viagens para convidados
importantes. Aster nunca tinha reservado passagens em sua vida. A primeira vez
que Elizabeth lhe pediu para fazê-lo, ela tentou mandar uma mensagem de texto
para a companhia aérea pelo seu celular. Ela havia aprendido muito nas últimas
semanas, ela pensou com uma sensação estranha de orgulho.
O olhar de Aster flutuou até a mesa de Elizabeth. Havia uma revista Us
Weekly aberta perto de seu telefone, com uma história de página inteira sobre o
rapper Ko dobrada. Outra revista mostrava uma foto de Ko e uma garota bonita.
Com um sobressalto, Aster percebeu que era Faun, com quem ela tinha
procurado apartamento. Ela e Ko estavam namorando? Desde quando?
— Você é uma grande fã de Ko? — perguntou Aster.
Os olhos de Elizabeth piscaram da sua tela rapidamente. — Nós estamos
tentando criar um anel de noivado para o seu “sabor do mês”. — Ela apontou para
a foto de Faun na revista, sua boca em uma linha fina. — Eles vieram há algumas
semanas atrás, e basicamente disseram: “Nos deslumbre”. Esses são o pior tipo de
clientes, aqueles que não têm nenhuma ideia do que eles querem. Eles quase
nunca acabam comprando o que nós projetamos.
Houve outra batida. Mitch apareceu na porta. — Você se importa se eu
der uma olhada em seu computador por um segundo, Elizabeth? — ele
questionou. — Eu tenho que executar uma verificação rápida. Vai demorar um
minuto, eu prometo.
— Tudo bem — Elizabeth retrucou. — Aster, não saia ainda.
Mitch entrou na sala, dando a Aster um sorriso simpático. Aster sorriu de
volta. Até agora Mitch era a única coisa boa sobre este trabalho. Ele verificava
como ela estava todos os dias, mandando piadas e trazendo peixe sueco vermelho
— seu favorito — para ajudá-la naquela planilha idiota. Ele tinha sido o único a
sentar-se com ela e pacientemente lhe ensinar a usar o Excel e a recuperar o
arquivo, quando ela acidentalmente o excluiu. Na vida antiga de Aster, ela já teria
realizado uma festa em sua homenagem a essa altura.
Elizabeth digitava furiosamente em seu telefone, claramente em seu
próprio mundo. Aster olhou para a foto de Faun e Ko na revista Interview. Eles
estavam posando para a câmera no Chateau Marmont, um dos lugares favoritos de
Aster em LA. — Faun vem de uma família rica — disse ela, pensando em voz alta.
— A mãe dela patenteou um novo tipo de técnica de cirurgia plástica que lhes
rendeu uma fortuna. Ela só morreu há alguns anos atrás. Faun ainda está
devastada.
A cabeça de Elizabeth virou de repente. — Onde você leu isso?
— Eu não li isso. Ela me disse. — Aster pensou por um momento. — Você
sabe, sua mãe teve uma das coleções de joias mais insanas que eu já vi. Você devia
tentar usar isso no anel de Faun. Talvez você pudesse fazer uma peça com um
tema vintage que lembre algo da coleção. Eu aposto que você poderia encontrar
uma foto antiga na Vogue ou algo assim.
Mitch parou de olhar para o que estava fazendo e olhou para cima, com a
cabeça inclinada. — Essa é uma ótima ideia.
Elizabeth fez um movimento com as mãos. — Atenha-se a entrada de
dados, Aster. Deixe a gestão de clientes para os profissionais.
— Terminei aqui — Mitch interrompeu, parado atrás do computador. Ele
voltou-se para a porta, piscando para Aster na saída.
Aster olhou para o relógio enquanto Elizabeth entrava novamente no seu
e-mail, tentando não entrar em pânico. Corinne iria enlouquecer se ela tivesse que
atrasar o voo. Ou pior, ela deixaria Aster para trás, e Aster teria que pegar um
ônibus.
— Aster. — A voz de Elizabeth era fria. — Esta planilha não está completa.
Aster sentou-se em linha reta. — O quê? — ela perguntou estupidamente.
Ela tinha checado cada dado várias vezes; não havia nenhuma maneira que ela
houvesse perdido alguma coisa.
Elizabeth bateu a unha bem cuidada contra a tela, as linhas ao redor de
sua boca crescendo mais profundas. — Eu não vejo as compras passadas em
nenhum lugar aqui.
Aster olhou para ela sem entender. — Você não me pediu as compras
passadas.
— Bem, você vai ter que adicioná-las, então — disse Elizabeth. — Você
pode fazer isso amanhã.
— Eu não vou estar aqui amanhã.
Elizabeth olhou para Aster por muito tempo, tanto tempo que Aster não
tinha certeza do que ela deveria fazer. — Você acha que pode simplesmente ir e vir
quando quiser, não é? — ela finalmente disse.
— Eu sinto muito. — Aster tentou não levantar a voz. — Eu estou tentando,
eu realmente estou. Prometo resolver isso. É a primeira coisa que farei na
segunda-feira. Mas eu já te disse que eu preciso tirar um dia de férias amanhã,
então...
Elizabeth levantou a mão, cortando-a. — Você acha que você está
tentando? Isso é uma piada, minha querida. — Seus olhos brilhavam. — Toda a sua
família é assim, mas você é a pior de todos eles. Você acha que não há regras.
Vocês fazem o que querem, não importa o que acontece com qualquer outra
pessoa ao longo do caminho.
— Então por que você trabalha para nós? — Aster revidou.
Elizabeth elevou o queixo para o alto. — Isso não é da sua conta.
Veias incharam no pescoço da mulher mais velha. E então, de repente,
Aster entendeu. Elizabeth não estava falando de trabalho. Ela sabia.
Poucos dias antes de Aster sair para modelar na Europa, ela voltou para
Meriweather para ver Danielle. Ela não podia sair para o verão sem dizer adeus a
sua melhor amiga. Danielle não sabia que ela estava vindo; seria uma surpresa.
O pneu do carro esmagou o cascalho na estrada e parou entre a
propriedade de sua família e a casa de hóspedes. Aster fechou a porta do carro
silenciosamente atrás dela, segurando um pedaço de bolo crocante Magnolia — o
favorito de Danielle — em uma mão e uma garrafa de prosecco na outra. Ela se
arrastou pelo caminho, passando pela bicicleta rejeitada de Danielle e um monte
de vasos de cerâmica vazios, e estava prestes a irromper pela porta da frente,
quando duas formas se moveram em frente da janela. Aster havia parado quando
se deu conta: Danielle estava com um cara.
Aster tinha começado a avançar e bater de qualquer jeito, Danielle
também já havia interrompido sua cota de ficadas, afinal de contas, quando ela
ficou estupefata. Danielle estava lá com Mason; os braços do pai de Aster estavam
agarrando apertado em volta da ruiva.
Aster parou ali, congelada, por um bom tempo. Ela pensou em como seu
pai havia olhado para Danielle apenas algumas semanas atrás. Que idiota que ela
tinha sido.
Ela correu cegamente em direção à casa, soluços altos irrompendo de seu
peito. Seu pai e sua melhor amiga. Parecia coisa de algum programa de entrevistas
ruim. Como ela poderia enfrentar algum deles novamente? A resposta, Aster
decidiu depois de beber uma garrafa de prosecco sozinha e olhar fixamente para a
parede da cozinha, foi a de que ela não iria.
Aster durou apenas alguns meses em Paris. Todas as suas fotos eram
excelentes, mas a maioria dos fotógrafos se recusou a trabalhar com ela
novamente. Ela não podia culpá-los, considerando que ela, bêbada, insultou todos
eles, chegou chapada em todas as sessões, e quase incendiou um dos estúdios.
Quando ela conseguiu voltar aos Estados Unidos no final do verão, ela nem
sequer quis ir à festa anual da família no Dia do Trabalho. Ela contou aos pais que
ela iria para os Hamptons, ao invés. Para sua surpresa, foi Edith quem ligou e
insistiu para que ela fosse.
— Aster — sua avó havia ordenado, — eu não me importo com as razões
para você não querer vir, você vai estar em Meriweather para a festa de fim de
verão. Sem desculpas. Estamos celebrando por Poppy este ano. Venha por ela,
pelo menos.
— Ok — Aster havia dito, intimidada. Ninguém jamais podia dizer não
para Edith.
E assim Aster tinha aparecido em Meriweather, seu estômago um nó
nervoso de pavor.
E se ela pegasse Mason e Danielle juntos novamente? Eles ainda estavam
se vendo? Será que alguém sabia?
Aster conseguiu evitar seus pais por grande parte da noite. Mas,
eventualmente, Mason e Penelope conseguiram encontrá-la. Eles estavam
acompanhados por Steven Barnett, o diretor de criação da Saybrook de longa data
e braço direito do Vovô Alfred. Aster se perguntou se ele estava chateado com a
promoção de Poppy; antes da morte de seu avô, um monte de gente tinha
pensado que ele poderia ser o próximo presidente. Mas ele parecia bastante feliz,
sorrindo amplamente e segurando um copo cheio de uísque.
— Ora, ora. Olá, Aster — disse Penelope friamente, seus olhos focando no
vestido branco muito curto de Aster. Ela sabia o quanto Aster tinha estragado as
coisas na Europa. Estava escrito em todo seu rosto.
Mason olhou para Aster com uma mistura de confusão, mágoa e raiva. —
A conta no George V foi astronômica.
— Eu tive alguns encontros — disse Aster rigidamente, cruzando os braços.
— Oh, você pode pagar, Mason — disse Steven Barnett, sorrindo para
Aster. Suas palavras estavam arrastadas; Aster se perguntou o quão bêbado ele
estava. — Só se é jovem apenas uma vez.
Mason só olhava para Aster. Ela olhou para trás.
— Eu preciso de outra bebida — ela anunciou, e se virou para ir para longe
de seus pais, sem uma segunda olhada.
— Eu também — disse Steven, e para sua surpresa, ele foi com ela em
direção ao bar. — Então — ele disse em voz baixa. — Você pode me dizer a
verdade. Você agiu assim em Paris porque estava tentando superar um coração
partido?
Aster fungou. — Mais ou menos. — Isso era dolorosamente perto da
verdade.
— Pobre, pobre Aster — Steven murmurou, seu tom leve e provocante. Ele
olhou para ela por um longo tempo. Aster sabia que ele estava despindo-a
mentalmente — e para sua surpresa, ela meio que gostou.
Sem dizer nada, eles se viraram e começaram a se afastar do resto da festa.
— E o que foi isso que eu ouvi de você parar de modelar? — perguntou Steven.
Aster brincou com o longo colar que estava oscilando em seu decote. —
Eu não chamaria isso de parar — disse ela. — Eu chamaria isso de nunca mais ser
chamada a modelar novamente.
— Tsk. — O hálito de Steven estava quente em seu rosto, e cheirava a
uísque e goma de hortelã. — Nós nem sequer tivemos a oportunidade de trabalhar
juntos.
As notas graves do palco bateram em seus ouvidos. Aster deu-lhe um
tapinha de brincadeira, mas ele pegou a mão dela e segurou forte. Seu estômago
revirou. Quando ele estendeu a mão e tocou a nuca de Aster, ela estremeceu.
Steven fez um gesto com a cabeça para os juncos. — Quer ir ver o meu
iate?
— Você diz isso para todas as garotas? — Aster deu uma risadinha. De
repente, ela se sentiu imprudente e estúpida, e ela não dava a mínima, da mesma
forma como ela se sentiu em Paris depois de fazer uma linha de cocaína. Ela
procurou a mão de Steven e a segurou, seguindo-o em direção à praia, como se
não estivesse fazendo nada de errado. Ela ouviu alguém suspirar e vacilou por um
instante. Poppy estava congelada, com uma bebida na mão, olhando para Aster
com uma expressão cautelosa. Mas então Aster pensou em tudo que seu pai havia
feito, e descobriu que ela não se importava mais, nem mesmo se Poppy a julgasse.
Seu coração batia forte enquanto ela seguia Steven para a praia. Sim, ela
decidiu, ela iria ficar com o velho e gostoso Steven Barnett, mesmo sendo
terrivelmente inadequado — talvez porque fosse terrivelmente inadequado. Seu pai
e Danielle não eram os únicos que poderiam fazer o que quisessem e escapar
disso.
Agora, no escritório de Elizabeth, Aster fechou os olhos, tentando centrar-
se. — Nós podemos parar com essa merda — disse ela. — Nós duas sabemos do
que se trata.
— De qualquer modo — disse Elizabeth, — me ilumine.
— A noite com Steven. — Aster olhou para ela. — Você sabe que ele e eu...
Elizabeth se inclinou para trás, de repente fria e avaliativa. Ela não parecia
surpresa.
— Eu sinto muito, ok? Não era sobre o Steven, se isso ajudar. Era mais
para irritar o meu pai e...
— Jesus Cristo. Pare.
Aster olhou para cima. Havia um sorriso estranho no rosto de Elizabeth.
— Você acha que eu me importo com isso? Você foi uma das muitas, minha
querida. E esses foram apenas os casos que eu sabia, das pessoas ao redor da
cidade.
Aster olhou para o chão, sem saber o que dizer. — Oh, hum...
— Para ser honesta, eu estou feliz que meu marido esteja morto. Sua
prima nos fez um favor.
Aster olhou para cima. — Espere. O quê?
Elizabeth inclinou a cabeça. — Sua prima Poppy nos fez um favor,
matando Steven.
Aster piscou forte. — Como é? — Ela acabou de dizer que Poppy matou
Steven? Aster soltou uma gargalhada. — Isso é loucura.
Elizabeth parecia divertida. — Você não sabia?
Aster passou a língua sobre os dentes. — Steven Barnett bebeu demais e se
afogou.
— Oh, isso foi o que os jornais disseram. Mas eu vi aquela vadia louca de
pé sobre o meu marido na marina da sua família na noite da festa. Ele estava
definitivamente morto... e ela era a única que estava por lá.
— O quê? — disse Aster lentamente. Elizabeth apenas olhou para ela, sua
expressão grave. Ela realmente falava sério, Aster conseguia dizer.
Mas isso não podia ser verdade. Aster lutou para se lembrar daquela
noite. Steven a tinha levado até a praia, onde eles se despiram. Ela manteve-se na
areia por um longo tempo depois que ele saiu, olhando para as estrelas. Onde
estava Poppy durante esse tempo? Seguindo Steven para seu iate? Matando-o?
Aster piscou para sua chefe. — Você contou a alguém sobre isso?
Elizabeth sacudiu a cabeça. — Eu sou a única que sabe, querida. Eu não
acho que sua prima tenha saído contando para todo mundo. E eu tenho certeza
que se alguém na sua família sabe, manteve como segredo — do jeito que vocês
Saybrooks fazem. — Ela riu maldosamente.
— Você perguntou a Poppy sobre isso?
Elizabeth bufou. — Poppy e eu não éramos exatamente amigas. Mas como
eu disse, Poppy me fez um favor. Fico feliz que ele se foi.
Aster estendeu o braço em volta da sala. — Então por que você ainda tem
a sua fotografia de casamento levantada? — Algo não batia ali. Um pensamento
horrível a atingiu, e ela olhou de volta para Elizabeth, de repente aterrorizada. —
Você matou Poppy? — ela sussurrou. — Foi por vingança?
Elizabeth revirou os olhos. — Não, Magnum, investigador particular. Eu
estava em Los Angeles naquela manhã. E eu não sou uma assassina. — Ela
apontou para a fotografia de casamento. — Eu mantive como uma homenagem, eu
suponho. Steven era um idiota, mas eu o amei uma vez. E eu amo tudo o que eu
herdei.
Aster se sentia sem ar. — Tudo bem. Ok. Se o que você disse é verdade,
por que você não disse nada a polícia?
— Jesus, você é lenta. — Elizabeth pegou um maço de Parliaments de
dentro de uma gaveta da mesa e tirou um cigarro. — Eu já te disse que eu estou
feliz que ele se foi. Eu só queria que tudo acabasse.
As palavras dela enviaram um arrepio pela espinha de Aster. — Parece
mais que você pode ter matado Steven, não Poppy.
Elizabeth riu. — Eu queria. O que sua prima fez foi brilhante, realmente,
eu nunca teria pensado em apenas empurrá-lo na água e fazer com que parecesse
um afogamento. — Seus olhos brilhavam. — Meus planos eram sempre um pouco
mais... animados.
Aster olhou pela janela para o Hudson lá embaixo. — M-mas por que
Poppy mataria Steven? — Poppy tinha acabado de ser promovida, afinal de contas.
Ela havia conhecido James naquele verão; não muito tempo depois da festa, eles
noivaram. Ela tinha tanto para viver... e muito a perder.
Elizabeth deu uma longa tragada e soprou um anel de fumaça. — Talvez
você não seja a única na família com segredos, minha querida Aster.
— Então você está dizendo que Poppy estava encobrindo alguma coisa?
Elizabeth deu de ombros. — Talvez. Eu acho que agora nós nunca
saberemos.
Aster ficou de pé com as pernas trêmulas. — Eu estou indo agora — ela
anunciou.
— Tenha um fim de semana divertido com a família — disse Elizabeth, de
alguma forma conseguindo fazendo isso soar como um palavrão. — Você pode
consertar essa bagunça de planilha na segunda-feira. Ah, e Aster? — ela
acrescentou. — Eu manteria a nossa pequena conversa em segredo, se eu fosse
você.
13
Traduzido por Lua Moreira

P
ara Corinne, sempre pareceu como se o complexo em Meriweather
tivesse surgido através de uma parede grossa de névoa como um castelo
de conto de fadas, e não foi diferente quando ela e suas primas
retomaram o caminho aquela noite no fim de semana de despedida. A mansão
brilhava ao sol poente. O ar cheirava a sal e flores. Narcisos brilhantemente
coloridos explodiam de vasos enormes. Alguém tinha pendurado um cartaz sobre
a porta da frente que dizia “Feliz Despedida de Solteira, Corinne”.
Corinne se sentiu aflita. — Gente, vocês não deveriam ter feito isso.
— Na verdade, nós não fizemos. — Aster deu de ombros.
— Oh.
Aster olhou para Corinne por muito tempo, então levantou sua mochila
com monograma sobre o ombro. Algo em Aster parecia fora do comum hoje —
havia círculos sob os seus olhos e um olhar cansado no rosto dela, e ela quase não
tinha dito nada no voo.
Talvez ela estivesse perturbada que eles estavam indo para Meriweather
sem Poppy. Ou talvez sua brusca mudança de estilo de vida estava cobrando
demais. Corinne queria falar com Aster, mas quem era ela para distribuir
conselhos? Ela acabou de dormir com um ex-namorado, semanas antes de seu
casamento. No chão da adega do St. Regis, ela acrescentou para si mesma, como
se isso fosse o que tornava tudo tão chocante.
Ela voltou para casa naquela noite, tropeçando pela Quinta Avenida em
seus calcanhares. A calçada estava finalmente começando a esfriar, mas o ar do
verão estava pegajoso e quente. Como ela tinha parecido ao porteiro enquanto
cambaleava através do lobby? No andar de cima, ela tinha encontrado Dixon
dormindo em suas calças cáqui e polo, uma cerveja na mesa de cabeceira, luzes
acesas. E se ele estivesse esperando por ela?
Mas, enquanto ela se despia e tomava banho, ela não conseguia parar de
pensar em Will, em suas mãos em cada parte dela. Ela estremeceu. Não
importava o quanto ela esfregava sua pele, ela ainda podia sentir onde ele a tinha
tocado. A pior parte era que ela queria que isso acontecesse novamente.
Não, você não quer, ela disse silenciosamente. Ou pelo menos ela pensou
que ela tinha dito isso a si mesma — quando ela olhou para cima, Aster, Rowan e
Natasha estavam na porta da frente, olhando-a com expectativa, como se estivesse
esperando que ela terminasse a frase. Ela sorriu para elas. Se ela continuasse
fingindo que nada estava errado, talvez ela pudesse convencer-se de que era
verdade.
Finja até que você consiga, ela podia ouvir Poppy dizendo a ela em seu
primeiro dia de trabalho lá na cidade. Se você estiver confiante, eles vão esquecer
o seu nome e confiar que você sabe o que está fazendo. Diabos, talvez você até
mesmo saiba. Ela piscou para Corinne — ambas sabiam que ela era mais do que
qualificada para o trabalho dela. Ela era bem viajada e falava várias línguas, mas o
ano passado a tinha abalado. Enquanto todos pensavam que ela estava em Hong
Kong, ela estava escondida na Virgínia, mantendo o maior segredo de sua vida.
Agora Corinne pegou as malas, apertou o código chave na porta da frente
e entrou na casa. A sala de estar cheirava a aromatizante de limão e lavanda;
mesmo que o imóvel estivesse desocupado principalmente durante o período de
entressafra, a família mantinha uma equipe de quatro pessoas durante todo o ano.
Havia uma garrafa de vinho esperando em um balde de gelo, e uma bandeja de
mármore com queijo e biscoitos apoiados na mesa de café. Houve um miado alto,
e Kalvin, o gato da propriedade, se esgueirou para fora de um quarto dos fundos e
esfregou-se contra os tornozelos de Corinne.
Corinne acariciou seu pêlo laranja e branco, sentindo uma pontada.
Poppy tinha encontrado Kalvin anos atrás, no lado da estrada perto da fazenda da
família e trazido ele aqui no avião particular de seu pai; elas tinham se dividido em
turnos para alimentá-lo com leite e trazê-lo para suas camas. Na verdade, tudo
neste lugar — a cadeira de veludo que Poppy tinha se enrolado com um livro, as
longas cortinas que Poppy tinha se escondido atrás em jogos de esconde-esconde,
a escadaria que Poppy tinha descido no dia de seu casamento — fazia Corinne
lembrar da sua prima. Ela olhou ao redor, notando as expressões tristes de Rowan
e Aster. Elas provavelmente estavam pensando em Poppy também.
— Ok, senhoritas — ela disse a suas primas e irmã, tremulamente
orientando a todas para a sala de estar. — As primeiras coisas primeiro. Isso são
para vocês. — Ela apontou para um saco que trouxera, cheio de presentes
embrulhados.
— Isso é tão gentil da sua parte — disse Rowan, com a voz estranhamente
melancólica, como se ela fosse explodir em lágrimas.
Natasha se afundou em uma poltrona. Tê-la aqui era chocante. Quando
elas estiveram juntas, além de funerais? Uma pontada atingiu Corinne, quando ela
se lembrou do quão fofa Natasha costumava ser. Um ano, quando Natasha tinha
uns sete anos, ela decidiu que queria ser uma patinadora olímpica quando
crescesse. Todas elas, até mesmo Poppy, que era muito mais velha então,
colocaram saias fofas, tiraram suas meias, e patinaram no chão de madeira como
se fossem suas concorrentes, embora fosse implícito que Natasha iria ganhar. —
Um dez perfeito! — As primas haviam gritado para a menina, sufocando-a de
beijos.
Agora Natasha rasgou o pacote. — Lindo! — ela gritou quando revelou o
cachecol pashmina. — Assim como o que nós usamos no casamento de Poppy.
— Foi isso o que me deu a ideia — disse Corinne timidamente. Poppy
tinha se casado em Meriweather há quatro anos. Elas se sentaram nesta mesma
sala antes de seu casamento, e ela havia dado a cada uma delas presentes
semelhantes. Era um casamento em dezembro, então esses cachecóis eram
forrados de pele. Ela também tinha dado para as meninas casacos de pele e
chapéus; todas elas embarcaram em um carro puxado a cavalo para ir à Igreja
velha da ilha principal. O terreno tinha estado coberto de neve fresca, intocada, as
estrelas brilhavam no céu, e a igreja já tinha sido decorada com bolas de Natal
pratas e douradas em todos os lugares, e todo o altar estava cheio de narcisos.
Depois de Poppy e James se casarem, elas tinham ido em um segundo passeio de
trenó de volta para casa, cantando músicas natalinas. Corinne e Dixon,
solidamente juntos até então, tinham se aconchegado perto um do outro para se
aquecer.
Os olhos de Aster encheram de lágrimas. Rowan deixou cair o cachecol
da caixa, com o rosto contorcido de dor. Corinne tentou respirar, mas era como se
houvesse uma carga de tijolos em seu peito. Ela olhou para a porta, imaginando
Poppy correndo, com exultação, Ha, ha! Foi tudo uma brincadeira!
Aster agarrou a garrafa de vinho e serviu quatro taças. Ela pegou uma e
segurou-a no ar. — Um brinde a Poppy. Eu não sei o que vamos fazer sem ela.
Corinne escolheu uma taça das três restantes. — A Poppy.
Todo mundo bebeu em silêncio, o estranho humor ficando em torno
delas novamente. Corinne sugou seu estômago, esperando que todas se
animassem. Em seguida, o telefone de Natasha, que estava apoiado na mesa de
café, tocou. Por instinto, Corinne olhou para baixo. Um familiar número 212
apareceu na tela.
Aster estava olhando para o telefone também. — Agente Foley?
Natasha pegou o telefone e o silenciou. — Ela quer me interrogar. Eu
gostaria que ela tivesse apenas caído.
Aster se encolheu. — Você não foi interrogada ainda?
Natasha deu de ombros. — Coisas continuam aparecendo.
— Mas todas nós já falamos com ela — disse Corinne baixinho, irritada
com a atitude desdenhosa de Natasha, como se encontrar o assassino de Poppy
fosse apenas um grande inconveniente.
Natasha virou o telefone de novo. — Para ser honesta, o FBI parece meio
inútil. Vocês não acham? Eles não têm sequer um único suspeito.
Todas trocaram um olhar.
— Você não tem certeza disso — disse Rowan.
Natasha cruzou os braços sobre o peito. — E quanto a James? — Kalvin
pulou no colo de Natasha e começou a se enrolar em suas pernas. — Não se ouve
sempre que o marido é o principal suspeito? Talvez James tivesse um motivo.
— James não fez isso — disse Rowan, descartando a ideia.
— Eu concordo — disse Corinne. James parecia tão dedicado a Poppy, tão
orgulhoso de tudo o que ela tinha feito. Uma vez, quando todos estavam em
Meriweather, Poppy estava sendo destaque na capa da revista Time. James tinha
levantado às seis da manhã para dirigir até a banca de jornal do continente para
comprar os primeiros exemplares no dia em que saiu, apesar de a família ter
recebido cópias antecipadas no dia anterior. Ele estava tão animado quando
entrou de volta na garagem.
Aster cruzou os braços sobre o peito. — Vamos falar de outra coisa.
— Sim, talvez devêssemos ir para as fotos? — Corinne disse alto. Ela queria
escolher algumas fotos da família para exibir no casamento. O casamento. Mesmo
na mente de Corinne, ela não podia chamá-lo de seu casamento.
— Como você pode ter tanta certeza? — Natasha desafiou, olhando para
Rowan. — A menos que... você estivesse com ele?
Vergonha passou pelo rosto de Rowan. — De fato, eu estava, ok? — ela
deixou escapar. — Ele estava no meu apartamento. Na minha cama. Você está feliz
agora? — Rowan escondeu o rosto entre as mãos.
— Oh meu Deus — Corinne se ouviu dizer. A sala ficou em silêncio,
exceto pelo ronronar de Kalvin. Ela encontrou o olhar de sua irmã; por uma vez,
ela parecia tão chocada quanto Corinne se sentia. Ela limpou a garganta e olhou
para Rowan. — Quero dizer, como é que isso aconteceu?
Com a cabeça ainda abaixada, Rowan explicou como James tinha vindo,
convencido de que Poppy estava tendo um caso. — Nós estávamos tão bêbados, e
uma coisa levou à outra — disse ela no final. — E quando cheguei ao escritório e
Poppy estava morta, eu pensei que era minha culpa. Eu pensei que James disse a
ela... e ela pulou.
Corinne se lembrou de como Rowan parecia quase aliviada ao saber que
Poppy foi assassinada. Ela não podia imaginar a culpa que ela devia carregar em
torno dela. E ela não podia julgar Rowan por dormir com James. Não depois do
que ela tinha feito. Você devia dizer a elas, Corinne pensou, a ideia piscando em
sua cabeça.
Os ombros de Rowan se soltaram de cima para baixo. — Eu não sei o que
pensar agora. Eu só queria... — ela parou de falar, o seu olhar para as escadas.
— Isso vai continuar? — Corinne se atreveu a perguntar.
Rowan olhou para ela com os olhos redondos. Ela piscou uma vez, em
seguida, olhou para o chão. — Aconteceu de novo — ela admitiu, encolhendo-se
quando ela disse as palavras. — Mas se Poppy estava com outra pessoa, talvez... oh,
eu não sei. — Ela balançou a cabeça. Corinne podia ver duas ideias em conflito em
sua mente: a de que o que ela tinha feito era errado e imperdoável, mas que se
Poppy tinha feito isso primeiro, então talvez...
— Você realmente acha que Poppy estava tendo um caso? — perguntou
Corinne.
Rowan concordou, explicando o motivo da suspeita de James. Ela
também disse a elas sobre sua antiga assistente perceber compromissos incomuns
em sua agenda. — Ela estava saindo escondida — disse ela. — Contando mentiras.
Eu não sei.
— Nós temos alguma ideia de quem estava com Poppy? — perguntou
Natasha, com a testa franzida.
Rowan bebeu o resto de seu vinho. — Nenhum indício. Eu não tinha ideia
de nada que estava acontecendo.
— Nem eu — Corinne disse.
— Definitivamente não — Aster concordou.
— Mas dizer que ela estava tendo um caso — Natasha saltou, agarrando os
lados da cadeira. — Não é ainda mais um motivo para suspeitar de James? Ele
achou que ela estava tendo um caso. Talvez ele mesmo flagrou ela. Poderia haver
mais nessa história.
Rowan olhou para ela duramente, com a boca pequena. — Ele está
dizendo a verdade.
— Talvez você só pense assim porque você está com ele agora —
argumentou Natasha. — Você tem que olhar para o quadro geral.
A voz na cabeça de Corinne ficou mais alta. Você deve dizer a elas. Você
não pode simplesmente sentar-se aqui, e fingir que é perfeita.
Rowan sacudiu a cabeça com veemência. — Eu saí de casa antes de James.
No momento em que eu cheguei ao escritório, Poppy estava morta.
Natasha cruzou os braços sobre o peito. — Bem, alguém o viu ir embora?
Rowan deu um salto da cadeira e caminhou até a janela que dava para o
mar. — Ele não matou Poppy, ok, Natasha? Ele simplesmente não fez isso.
— Mas...
Corinne ouviu a voz de novo, e desta vez ela estava aumentando. Diga a
elas, ela dizia. Diga, diga, diga. — Eu traí Dixon — ela deixou escapar, apenas para
silenciá-las.
Todas as cabeças se viraram. A boca de Aster caiu aberta, e seu rosto
estava com uma expressão de chocada. Rowan piscou duro, um pouco da cor
deixando suas bochechas. As sobrancelhas de Natasha ficaram juntas.
— Com quem? — perguntou Rowan, caminhando de volta da janela.
Corinne tomou um longo gole do copo à sua frente. — Will Coolidge. —
Era uma tortura até mesmo pronunciar seu nome.
Todo mundo ficou olhando fixamente. Foi Natasha quem falou primeiro.
— O cara do Coxswain? O nome dele estava em seu jornal.
Corinne apertou os dentes. Natasha deve ter realmente estudado aquela
postagem no Abençoados e Amaldiçoados para ter encontrado isso. — É isso
mesmo — disse ela em voz baixa. — Eu o conheci no verão em que Dixon e eu
terminamos. — Ela limpou a garganta. — Só Poppy sabia sobre nós.
Ela espiou sua família, um clarão quente de vergonha em seu rosto.
Rowan parecia atordoada. Natasha estava com os braços cruzados sobre o peito. E
Aster estava piscando rapidamente, como se sua visão estivesse borrada e ela
estivesse esperando o mundo endireitar-se novamente.
— Agora ele é um chef, fazendo a comida para o nosso casamento. Dixon
não pôde ir à degustação de vinhos, e isso simplesmente... — ela parou. Então ela
olhou para seu colo, temendo as expressões no rosto de todas. — Eu não sei o que
aconteceu.
Uma pequena mão tocou seu joelho. Aster estava olhando para ela. —
Está tudo bem. Todos nós cometemos erros.
Corinne engoliu em seco. — Mas eu não — ela retrucou, com os olhos
cheios novamente.
Rowan retornou ao seu lugar e bebeu um copo de vinho. — Ok, perdoe-
me por dizer isso, mas você tem certeza que quer se casar? Tem certeza que
Dixon é a pessoa certa para você?
— Claro que ele é — respondeu Corinne. — É só pé frio1. Eu tinha que
dizer a vocês para tirar isso do meu peito. Mas agora está tudo bem. Acabou. —
Ela tentou respirar, mas ainda sentia como se tivesse uma pilha de tijolos em seu
peito.
Natasha recostou-se no sofá. — Por que você e Will terminaram?
A memória caiu sobre ela como uma onda. Foi na noite da festa de fim de
verão, na mesma noite em que Steven Barnett morreu. Corinne estava descalça no
chão de mármore frio no banheiro do andar de cima de Jack e Jill que dava para o
seu quarto e o de Poppy. Todo mundo estava lá embaixo no pátio, celebrando a
promoção de Poppy, mas Corinne tinha recuado ao andar de cima para ter
privacidade. Ela desembrulhou um teste de gravidez do plástico e olhou para ele
por um longo tempo.
Sua cabeça tinha estado girando durante todo o dia, seu estômago tinha se
revirado com a salada de frango que a cozinheira tinha preparado para o almoço,
seus seios pareciam inchados por uma semana, e sua menstruação estava atrasada
— muito atrasada. Mais cedo, ela tinha ido de carro a uma farmácia do outro lado
da ilha, com a intenção de comprar o teste, mas ela estava tão assustada para levá-

1
Pé Frio: Em inglês “Cold Feet”, é uma expressão usada quando uma pessoa teme o compromisso do
casamento e tem “pé frio” antes da cerimônia de casamento.
lo para o caixa que ela colocou-o no bolso do casaco de cashmere e saiu sem
pagar. Em um verão, ela se tornou uma garota que ela não reconhecia.
Ela se sentou no vaso sanitário, fez xixi na varinha, e, em seguida,
levantou-se, com a varinha de teste na mão. Lentamente o corante completou o
resultado. A linha de controle apareceu, e a segunda linha apareceu
imediatamente, o corante rosa alegre e brilhante. O coração de Corinne acelerou.
Suas orelhas pareciam molhadas e cheias, como sempre acontecia quando ela
sentia que ia desmaiar. Seus dedos começaram a tremer. Estúpida, garota
estúpida.
Uma onda particularmente alta colidiu contra as rochas, e Corinne olhou
para cima. — Eu tinha um plano para a minha vida. E tudo tinha ido sempre de
acordo com o meu plano. — Até aquele verão, ela acrescentou para si mesma. —
Will não fazia parte do plano. Assim, Dixon e eu voltamos e eu fui para Hong
Kong a trabalho. — Ácido encheu a garganta de Corinne, pensando no segredo
que ela ainda não podia dizer em voz alta. No que aconteceu em seguida. — Poppy
disse a ele que eu estava indo embora. Eu estava muito ocupada para fazer isso eu
mesma — ela mentiu.
Aster estava olhando para ela. — Eu tenho uma coisa louca para dizer a
vocês também. É sobre a minha chefe, Elizabeth. A esposa de Steven Barnett. Ela
me disse uma coisa... estranha. Sobre Poppy. — Ela alisou seu vestido. — Elizabeth
disse que viu Poppy em pé sobre o corpo de Steven na noite da festa. Ela disse
que Poppy o matou.
Um choque passou por Corinne. — O quê? Isso é loucura.
— Ridículo — Rowan concordou.
— Bem, Elizabeth parecia ter certeza. E quando eu perguntei a ela qual era
o motivo dela, Elizabeth fez uma referência a algum tipo de segredo na família.
Algo que ela achava que Poppy estava escondendo. Ela disse para não contar a
ninguém, mas eu achei que vocês deveriam saber.
Natasha tossiu alto.
Rowan torceu o nariz. — Steven se afogou. Não é nenhum segredo. E
Poppy não é uma assassina.
— É verdade — disse Corinne, trêmula.
Poppy matando alguém? Seria como descobrir Edith afogando cachorros
na banheira. Isso simplesmente não era algo que um Saybrook faria. Mas então ela
pensou no verão, e no ano que ela ficou longe de sua família. O bebê que ela teve
em segredo e deu. A noite que ela passara com Will. Um Saybrook não faria
qualquer uma dessas coisas, também.
— Talvez tenha sido um acidente — Aster sugeriu. Mas, então, ela franziu a
testa. — Poppy teria dito alguma coisa para a polícia, no entanto.
Natasha bateu o pé. — E se Poppy matou Steven? E se seu assassinato teve
a ver com a morte de Poppy?
Aster inclinou a cabeça. — Como?
— Bem... — Natasha pensou por um momento. — E se alguém próximo de
Steven viu o que aconteceu? E se essa pessoa queria vingança?
— Como quem? — perguntou Rowan.
Todas olharam para as outras sem entender. Natasha se levantou. — Eu
não sei, mas esta parece ser uma peça de informação muito importante.
Precisamos contar a alguém.
Corinne sacudiu a cabeça, permanecendo sentada. — Provavelmente não é
verdade. Pelo que sabemos, Elizabeth matou Steven.
— Ela disse que não matou — Aster saltou, mas então seus olhos
deslizaram para a direita. — Mas ela disse que estava feliz que Steven estivesse
morto.
— Está vendo? Lá vai você — disse Corinne, uma história desabrochando
em sua mente. — E se Elizabeth apenas lhe disse isso esperando que você fosse
para a polícia com a história? Lembre-se, Poppy tomou o trabalho de Steven — no
fundo, Elizabeth ainda pode estar amargurada. Talvez ela culpe Poppy pela morte
de Steven — se ele tivesse sido promovido em vez de Poppy, talvez ele não teria
bebido tanto naquela noite e caído do barco. Mas ela diz que Poppy na verdade o
matou na esperança de manchar sua reputação. Os policiais iriam vazar isso para a
mídia, toda a nossa família seria envergonhada, e Poppy seria uma desgraça.
Aster inclinou a cabeça. — Você pode imaginar o dia de trabalho que a
imprensa teria com isso? Poppy, uma assassina em segredo todos esses anos.
— Estou com Aster — disse Corinne. — Nós não vamos arrastar o nome de
Poppy para o meio da lama.
— Mas e se isso for uma vantagem séria? — gritou Natasha. — E se Steven
sabia um segredo que Poppy precisava manter guardado?
Rowan estreitou os olhos. — Você parece muito certa sobre esta teoria.
Existe algo que você não nos contou?
Natasha desviou o olhar rapidamente. — Por que eu saberia de alguma
coisa?
Aster pôs-se de pé também, e colocou as mãos nos quadris. — Se você está
escondendo algo de nós, Natasha, agora é a hora de dizer.
— Eu não sei do que você está falando — Natasha rosnou impaciente. — É
só que todo mundo enaltecia Poppy demais. Ela não era perfeita. Ela era humana.
Olhe o que James disse — ela o estava traindo. Talvez ela estivesse mentindo sobre
outras coisas também.
Corinne se arrepiou. Natasha estava lá apenas por causa de Poppy. — O
que você tem contra ela? — ela perguntou. — Ela era tão boa para você, apesar de
eu realmente não saber por quê.
Natasha endireitou sua espinha. — Eu só estou tentando fazer com que
vocês tirem suas vendas. Vocês são todas como ovelhas. Vocês vão onde vocês
deveriam ir. Vocês pensam o que vocês supostamente deveriam pensar. Mas o
que vocês sabem? Às vezes, as coisas não são o que parecem.
Rowan bateu os braços nos lados. — O que diabos aconteceu, Natasha?
Por que você nos odeia tanto? Nós costumávamos ser próximas, e, tanto quanto
eu posso ver, nenhum de nós fez nada com você. Talvez você possa me esclarecer,
porque eu estou muito confusa agora.
Natasha piscou. Sua boca ficou aberta por muito tempo. Em seguida, ela
baixou os olhos.
— Não é nada, não é? — Aster exigiu. — Você cortou a si própria por
atenção? Isto foi apenas a sua maneira de conseguir mais imprensa para si
mesma? Você nunca poderia ficar fora do centro das atenções.
Um olhar feroz brilhou nos olhos de Natasha. De repente, Corinne não
aguentava mais. — Estamos terminando essa conversa agora — ela disse em voz
alta.
Aster e Rowan pararam e olharam para ela. — Estamos?
— Sim — disse Corinne trêmula, sentindo as lágrimas vindo aos olhos.
Todas aquelas confissões horríveis... era demais. — E nós não vamos dizer nada a
ninguém — ela acrescentou. — Não até que saibamos algo real.
Natasha suspirou. — Tudo bem — ela murmurou, caminhando de volta
para o centro da sala e puxando sua taça de vinho da mesa de café. — Mas eu acho
que você está cometendo um grande erro.
Lá fora, as gaivotas gritavam. Corinne tentou pensar em uma maneira de
mudar de assunto, mas o que havia para falar agora? Elas já tinham falado demais.
De repente, ela não podia acreditar que ela tinha admitido a elas. Ela não podia
acreditar que elas sabiam sobre Will agora. Em duas semanas, elas iriam estar
atrás dela no altar, e iriam saber que ela era uma farsa. Eu não posso acreditar que
ela está seguindo com isso, elas pensariam. Pobre Dixon. Ela já podia sentir os
olhos em julgamento em suas costas. Ela se levantou e reuniu todas as taças de
vinho vazias. — Vocês sabem de uma coisa? Eu não acho que este seja o fim de
semana certo para uma festa de despedida de jeito nenhum.
— O que você quer dizer? — perguntou Aster.
— Eu quero dizer que eu quero ir embora. — Corinne marchou para a
cozinha e colocou as taças de vinho na pia. Em seguida, ela entrou na sala de estar
e pegou a bolsa com monograma gasto pelo tempo que ela sempre trouxe para
Meriweather. — Eu acho que todas nós devemos ir embora.
— Corinne. — Aster seguiu até a porta. — Acabamos de chegar aqui.
Mas Corinne estava decidida. — Nós estamos indo — disse ela, pegando as
chaves e abrindo a porta. — Não é assim que eu quero comemorar o meu
casamento.
Ela saiu na varanda, sugando o ar quente e úmido. Uma tempestade
estava rolando, e as árvores cortadas formavam formas escuras contra o céu
nublado. Ramos raspavam através dos tijolos, tão agudos quanto lamentos. Por
uma fração de segundo, Corinne pensou ter visto uma sombra.
Mas, em seguida, a porta se abriu de novo, e sua irmã, Rowan e Natasha
caminharam para a varanda também. No momento em que Corinne olhou para
aquela seção de árvores de novo, os ramos estavam imóveis. Ou talvez eles jamais
tenham se movido.
14
Traduzido por Andresa Lane

A
ster colocou a bolsa no ombro e seguiu sua irmã para o caminho de
cascalho recém varrido. Corinne caminhou decidida para o carro que
mantiveram na ilha. — Corinne, por favor — Aster chamou. — Devíamos
ficar. Nós ainda podemos nos divertir.
Corinne se virou para ela com olhos torturados e vermelhos. — Eu só
quero ir embora — disse ela, com a voz baixa.
Aster sentiu-se como Alice quando ela atravessou o espelho e o mundo de
repente estava de cabeça para baixo. Poppy pode ser uma assassina, Rowan estava
dormindo com o marido de Poppy, e a perfeita Corinne havia traído Dixon. Aster
não poderia imaginar o quão difícil deve ter sido para a sua irmã admitir em voz
alta. Não muito tempo atrás, ela teria se sentido satisfeita que Corinne finalmente
tenha rachado. Agora ela só se sentia mal por ela.
— Sinto muito — disse ela, sabendo que as palavras não eram suficientes.
— Não é culpa sua. — Corinne fez uma pausa para arrumar sua mala de
rodinhas, que ela estava puxando atrás de si.
— Não. Sinto muito sobre... mim. Eu não estive muito com você
ultimamente.
Corinne parou e olhou para Aster, com um sorriso surpreso no rosto. Ela
abriu a boca algumas vezes, mas as palavras não saíram. — Obrigada — ela disse
finalmente. — Mas eu ainda quero sair daqui.
— Tudo bem — disse Aster. — Mas quando chegarmos na cidade, nós
compraremos batatas fritas. — Quando elas eram pequenas, Mason costumava
comprar para as duas meninas batatas fritas gordurosas, envoltas em calda e quatro
tipos de queijo.
— Contanto que possamos levá-las pra viagem.
— Feito. — Aster pegou a mão de sua irmã, e Corinne apertou em
resposta, conseguindo dar um sorriso débil. Elas se voltaram para o carro,
caminhando em passos lentos. Assim que Corinne apertou o botão de destravar,
Natasha parou elas. — Eu posso dirigir — ela se ofereceu para Corinne. — Por
favor. Você pode se sentar na parte de trás e descansar.
Corinne olhou para Natasha com cautela, depois deu de ombros e
entregou as chaves. Natasha as pegou e foi até o carro. Houve um ping, e ela abriu
seu celular para responder a uma mensagem, os dedos voando pela tela.
Aster endureceu. Depois de tudo o que tinha acabado de acontecer, tudo
o que tinham acabado de confessar e discutir, Natasha estava mandando
mensagens de texto? — Com quem você está falando? — ela perguntou.
Natasha parou de digitar. — Um cliente. Já que nós estamos indo embora,
eu achei que eu poderia arranjar algumas sessões privadas amanhã. Tudo bem?
Aster fechou as mãos em punhos nas costas de Natasha. Depois que
Corinne tinha sido boa o suficiente para convidá-la, ela tinha causado tantos
problemas e agora elas estavam indo embora. E pior ainda, todas elas tinham se
aberto... e Natasha apenas ficou lá, como Buda, absorvendo tudo, não revelando
nada.
Aster ficou no banco de trás com Corinne ao lado dela, enquanto Rowan
foi para o banco do passageiro. Aster olhou ansiosamente para a propriedade que
se afastava. Ela nem chegou a subir e visitar o seu antigo quarto. Seu olhar se
desviou para a casa dos caseiros através do gramado. Parecia vazia, todas as janelas
estavam escuras. Ela se perguntou se o pai de Danielle ainda morava lá; a mãe de
Danielle, Julia, tinha se mudado no verão que Aster passou na Europa. Aster
sempre se perguntou se era porque ela tinha descoberto o caso que Danielle tinha
com Mason, ou porque seu casamento havia acabado.
O SUV andou o longo caminho, que circulava a praia, passou pelos
campos de tênis, e, por fim, ofereceu uma visão do cais privado da família. O
Edith Marie, o veleiro da família, era o único barco balançando na água, com seus
mastros nus e uma grande lona encerada encobrindo o casco. O resto do cais
estava vazio, a água batendo forte na costa. Aster olhou para a faixa de areia. Ela
sabia que as outras estavam olhando também. Era onde o corpo de Steven Barnett
tinha sido descoberto há cinco anos.
Natasha parou o carro por um momento. Ela não disse uma palavra, e
nem as outras primas, mas estava claro o que elas estavam pensando. Depois de
alguns momentos, ela acelerou novamente e seguiu em frente.
A única maneira de ir para a ilha principal era atravessando a ponte de
aço que transpassava o estreito canal. A ponte estava vazia quando Natasha se
aproximou dela. O céu parecia ficar ainda mais escuro. As ervas altas de ambos os
lados da estrada balançavam de um lado para o outro. Névoa rolou para fora da
água, envolvendo o carro em finas nuvens.
— Acenda os faróis — Aster pediu inquieta.
Natasha encontrou o botão para os faróis e continuou a ir para a ponte. —
Olha, eu não fui inteiramente sincera lá dentro — ela começou a dizer, com a voz
estranhamente alta e ofegante. — Há algo que vocês precisam saber.
Aha! Aster pensou, triunfante. — O quê?
Natasha engoliu alto. O motor do carro balançou. — É sobre Poppy. E é
sobre...
— Cuidado! — Corinne gritou com urgência, apontando para algo no para-
brisa.
Faróis brilharam na frente delas, de repente muito perto. Um carro estava
dirigindo direto para elas na direção oposta, ocupando toda a ponte. A visão de
Aster ficou branca enquanto o carro se aproximava. Antes que ela soubesse o que
estava acontecendo, Natasha tinha girado o volante para a direita, pisado nos freios
e apertado a buzina.
O carro derrapou e girou. Houve um baque quando algo as atingiu. Aster
sentiu seu corpo ser arremessado para a frente; seu rosto bateu contra a traseira do
assento de Natasha. Alguém gritou. Aster se sentiu momentaneamente e
inesperadamente sem peso, e de repente, houve um grande estrondo e ela sacudiu
para trás. Finalmente o carro parou, e tudo estava estranhamente silencioso.

***
Aster estava no chão do banco de trás, as pernas abertas acima dela. O
interior do carro estava escuro. Quando ela olhou pela janela, Aster viu... bolhas.
Ela levantou-se, horrorizada.
Elas estavam na água, e afundando rapidamente.
— Ei! — ela gritou. Estava tão escuro no interior do carro, que tudo o que
podia ver eram sombras cinzentas. — Está todo mundo bem?
Ninguém respondeu. Quando Aster estendeu a mão, ela sentiu algo
pegajoso. Sangue? Seu coração batia rápido, mas ela tentou não entrar em pânico.
— Rowan? — ela chorou. — Corinne?
Houve um sussurro no banco da frente. — O que aconteceu? — veio a voz
de Rowan.
— Oh meu Deus — disse Corinne, ao lado de Aster. E então, de forma
mais acentuada, — Oh meu Deus!
— Onde está Natasha? — Aster gritou, tateando ao redor na escuridão.
Couro rangeu quando Rowan se moveu. — Ela está bem aqui — Rowan
falou do banco da frente. — Natasha? — ela gritou. — Natasha!
Nenhuma resposta.
— Ela está... — Corinne parou, trêmula.
Aster tateou ao redor, em seguida encontrou o vidro duro e plano das
janelas. Ela bateu nelas, mas elas não cederam. Ela sentia a água se acumulando ao
redor de seus pés. O carro estava enchendo, a água entrava através de uma fenda
no chão.
— Merda! — Corinne gritou.
Aster tentou as maçanetas das portas, mas elas não se mexeram. Ela virou
ao redor — ou pelo menos o que ela achava que era ao redor — e subiu no assento
traseiro, seus dedos procurando cegamente ao longo do tapete. Finalmente, ela
tocou em algo rígido, de metal, e pesado. Um ferro de desmontar pneus.
— Todo mundo para trás! — ela gritou. — Precisamos quebrar essa janela.
Houve batidas na frente quando sua irmã e sua prima subiram em cima
dos assentos. Rowan resmungou em voz alta, arrastando Natasha com ela. Mesmo
na penumbra, Aster podia ver que a cabeça de Natasha estava para trás em seu
pescoço, pendurada.
Uma vez que todas estavam na parte de trás, Aster entregou sem nenhuma
palavra a chave de roda para Rowan, que era a mais forte. Rowan tomou impulso
para trás da cabeça e a golpeou na porta do porta-malas. O vidro apenas rachou.
Ela respirou fundo, e atingiu o vidro novamente. Desta vez ele quebrou.
Água gelada inundou o carro, forçando-as fortemente para trás. Aster
cerrou os dentes e nadou contra o dilúvio, lutando para passar por aquela janela e
sair.
— Vamos! — ela gritou para suas primas, puxando-as com ela em direção
ao buraco.
Juntas, elas agarraram a forma inerte de Natasha sob seus braços e
desajeitadamente levaram-na para a água escura. Aster segurou firme a panturrilha
de sua prima com uma mão e nadou furiosamente com a outra. Seus pulmões
pediram imediatamente por ar. Ela tentou abrir os olhos debaixo d’água, mas tudo
o que ela viu foi escuridão. Ela sentiu Natasha escorregar de sua mão e agarrou-a
tão firmemente quanto pôde ao redor de sua cintura. Rowan e Corinne estavam
chutando abaixo dela, cada uma delas segurando um dos braços de Natasha.
Finalmente, com seus pulmões em chamas, Aster emergiu à superfície
buscando por ar.
O ar estava quente em seu rosto. Ondas marulhavam em torno delas.
Tossindo, Aster olhou através da noite enluarada para a ponte acima. Havia um
grande arranhão onde o carro tinha atravessado as grades laterais. A ponte estava
vazia.
Rowan apareceu um momento depois, o peso morto de Natasha em seus
braços. As três lutaram para arrastar sua prima para a costa e deitá-la na areia. Ela
caiu de costas, com os braços estendidos. Havia uma palidez cinzenta estranha em
sua pele, e seus lábios estavam azuis. — Ela está viva? — perguntou Corinne
histericamente.
Rowan montou no corpo de Natasha e ouviu seu peito. — Eu acho que
sim. — Seus olhos estavam cheios de medo. — Mas precisamos de uma
ambulância.
Corinne procurou em seus bolsos. — Meu celular ainda está... lá. — Ela
apontou para as bolhas subindo à superfície da água. O SUV estava
completamente imerso agora.
— O meu também — Aster sussurrou.
— O mesmo aqui. — Rowan parecia que ia explodir em lágrimas. —
Natasha — ela gritou para ela. — Natasha, por favor, acorda!
— Natasha — Lágrimas escorriam pelo rosto de Aster. — Natasha, por
favor. — Os últimos momentos com Natasha invadiram sua mente. Como ela
começou a dizer-lhes algo sobre Poppy.
— Por favor, acorde — Aster sussurrou.
Mas não importava o quão alto elas gritavam, os olhos de sua prima
permaneciam firmemente fechados.
15
Traduzido por Matheus Martins

Q
uando Rowan abriu os olhos, ela estava sentada em uma cadeira de vinil
laranja. Uma reprise de Friends passava em uma televisão na parede do
outro lado da sala. Próximo a ele um relógio marcava 11:30 — da noite,
presumivelmente, já que estava escuro lá fora. Suas primas inclinaram-se umas
contra as outras em um sofá, usando uniformes que diziam “Propriedade do
Hospital Martha Vineyard.”
Então ela notou uma mulher em uma cama de hospital a poucos metros
de distância, com tubos no nariz e um aparelho de respiração em sua boca. Seus
olhos estavam fechados, suas mãos estavam quietas em seus lados, e um monitor
registrava seu batimento cardíaco estável.
Natasha.
Rowan engoliu em seco. Depois que elas subiram à terra, um outro carro
finalmente passou na ponte, e elas tinham sinalizado e chamado uma ambulância.
Todas as suas roupas estavam encharcadas, então os paramédicos tinham
emprestado roupas de hospitais.
Corinne esfregou os olhos e pegou uma garrafa de água.
— Aconteceu alguma coisa? — ela disse, grogue, olhando para Natasha. —
Ela está...
— Não. Ela ainda está inconsciente — disse Rowan roboticamente, olhando
para sua prima imóvel. Ela parecia em paz, quase como se ela estivesse apenas
dormindo. Ainda assim, Rowan não conseguia afastar a sensação de que algo
estava muito errado aqui. Quais eram as chances de que no justo momento em
que Natasha disse que tinha algo a confessar, um carro as acertou? Tinha mesmo
sido um carro? Tudo tinha acontecido tão rápido, Rowan não tinha certeza. Ela
achou que tinha visto faróis. Ela tinha certeza de que tinha ouvido uma buzina. E
se era a buzina delas?
A porta se abriu, e Katherine Foley correu em direção a elas, vestida com
uma camiseta cinza do FBI e calças cáqui. Rowan levantou e empurrou o telefone
a uma das enfermeiras que foi gentil o suficiente para emprestar-lhe para ligar para
sua família.
— Vim assim que soube. — Foley parou na porta. — Seu carro passou por
cima de uma ponte?
Rowan olhou para suas primas.
— Isso mesmo.
Foley olhou para Natasha e fez uma careta.
— Ela era a motorista?
— Sim. — Corinne assentiu.
— O que aconteceu?
Rowan olhou para os azulejos no chão.
— Eu acho que um outro carro estava em nossa pista. Natasha tentou
virar, mas ela perdeu o controle.
— O que aconteceu com o outro motorista?
Rowan olhou para as outras.
— Nós não temos nenhuma ideia — disse Aster.
— Vocês não reconheceram o veículo?
— Tudo é meio que um borrão — Rowan admitiu, percebendo o quão
patético isso havia soado.
Foley parecia em conflito. Seu olhar viajou de volta para Natasha. Aster
pigarreou. — Você sabe onde ela estava na manhã da morte de Poppy?
Foley enfiou as mãos nos bolsos. — Eu não sei, na verdade. E agora... —
Ela parou e enrolou as mãos sobre as grades na cama de Natasha. — Bem, eu
gostaria que ela estivesse acordada para esclarecermos isso.
O estômago de Rowan se agitou com a implicação de Foley.
Foley olhou para as primas. — Onde vocês estavam indo hoje à noite?
Rowan ficou de pé, tomando cuidado para não ficar presa nos fios que
serpenteavam do corpo de Natasha para as máquinas.
— Para o aeroporto. Estávamos na casa para a festa de despedida de
Corinne, mas depois decidimos voltar para a cidade.
— Por que vocês terminaram a festa tão cedo?
Houve uma longa pausa. — Nós não... — Corinne começou.
— Eu não... — Aster disse ao mesmo tempo.
De repente, Rowan não podia segurar por mais tempo.
— O que você sabe sobre Steven Barnett?
Foley se encolheu quando a máquina começou a apitar ruidosamente.
Um ícone de coração pequeno indicou que a frequência cardíaca de Natasha tinha
mergulhado abaixo de sessenta batidas por minuto. Depois de um momento, ele
regulou e se acalmou.
— O que tem Steven Barnett? — perguntou Foley, brincando com um
botão em sua jaqueta. — Eu pensei que ele estava morto.
— Ele está, mas ele queria o trabalho de Poppy — disse Rowan. — Steven
era protegido do nosso avô. Eles eram próximos, e ele era muito ambicioso. Havia
rumores sobre ele, não Poppy, tornar-se presidente. E se alguém estava com raiva
de Poppy?
Foley encostou-se à parede.
— Isso foi há cinco anos, no entanto. Não parece provável que alguém
próximo a Steven mataria Poppy cinco anos depois de uma promoção perdida.
— Nós pensávamos assim também — disse Rowan, olhando para ambas as
primas. Aster e Corinne acenaram para ela ir em frente. Depois do que tinha
acontecido, elas não poderiam manter o que Elizabeth tinha dito em segredo. —
Até que descobrimos que Poppy poderia ter matado ele.
A expressão de Foley acalmou. Ela não disse nada, apenas piscou para
elas.
Aster contou o que Elizabeth tinha lhe dito. Com cada palavra, o rosto de
Foley ficava cada vez mais vermelho.
— Você tem certeza disso? — ela vociferou.
— Não temos certeza sobre nada — Rowan admitiu. — E nós preferimos
que você não torne isso público — tanto pelo bem de Poppy como pelo nosso.
Praticamente segundos depois que começamos a conversar sobre isso, um carro
bateu em nós. Como se alguém quisesse nos calar. — Ela engoliu em seco. — Estou
um pouco preocupada até mesmo de confessar isso para você.
Foley fez uma careta.
— Então você acha que alguém estava ouvindo na casa? Alguém sabia que
vocês estavam vindo para Meriweather neste fim de semana?
Aster deu de ombros.
— Todo mundo.
Foley fechou os olhos e apenas ficou em silêncio por um tempo. Rowan
trocou um olhar preocupado com as outras. Talvez tenha sido errado ter dito
alguma coisa.
Finalmente, a agente olhou para cima.
— Bem, obrigada por essa teoria. É definitivamente... interessante.
— Interessante? — Aster repetiu, parecendo confusa. — E que tal
assustadora? Ou perigosa? Ou plausível?
— Você vai investigar mais sobre isso, certo? — Rowan protestou. — E se
foi por isso que alguém bateu em nós?
— Nós ainda não temos certeza de que alguém tentou bater em vocês de
propósito. — O olhar de Foley estava disperso, como se seus pensamentos
estivessem longe. — Mas eu vou investigar. Tentem descansar um pouco, ok?
Entrarei em contato.
— Espera! — Rowan gritou. Foley se virou. Rowan queria mais — ouvir o
que ela estava pensando, que conclusões ela estava chegando, e o que ela pensava
sobre Poppy e Steven — mas ela não sabia bem como fazer as perguntas.
— Quanto a imprensa sabe sobre o acidente? — ela perguntou.
Foley enfiou as mãos nos bolsos, o olhar atordoado ainda em seu rosto. —
A pessoa que vocês sinalizaram já chamou um repórter local. E, obviamente, as
autoridades locais apresentaram um relatório sobre os danos na ponte. Agora ela
está bloqueada, e é a única maneira de entrar e sair da ilha.
Rowan fechou os olhos. Se havia alguma coisa envolvendo a maldição
Saybrook, a imprensa estava lá.
— Existe alguma coisa que você possa fazer para manter os jornalistas
longe?
Foley bateu as unhas contra a grade da cama de Natasha.
— Só não comentem nada.
E então ela se foi. Por um momento, o único som no quarto era a música
tema de “Friends” conforme os créditos rolavam na TV. Finalmente Rowan
trocou um olhar perplexo com as outras.
— É impressão minha, ou Foley apenas agiu como um zumbi?
Os olhos de Corinne estavam redondos. — Foi como se ela tivesse
adormecido no meio da conversa.
— Eu acho que ela não acreditou em nós sobre Steven — Aster murmurou.
Rowan colocou seu dedo em um pequeno buraco na roupa de hospital.
— Então, talvez nós estejamos tirando conclusões um pouco precipitadas.
É de Poppy que estamos falando.
— Então você acha que Elizabeth está fazendo tudo isso? — Aster mordeu
uma unha. — Eu não sei. E se Steven ameaçou Poppy, e ela revidou?
— Mas eu nem me lembro de vê-los juntos naquela noite — Corinne
argumentou. — Exceto bem no início da festa, quando Steven a parabenizou.
Rowan fechou os olhos. Ela não tinha certeza se tinha visto Steven
naquela noite, no entanto, mas ela tinha visto Poppy bastante. Embora ela tenha
saído com seus irmãos e um monte de outros caras naquela noite, jogando boliche
de gramado e pôquer, ela parecia ter um radar apurado sempre que Poppy e
James nadavam em sua visão periférica.
Então ela olhou para Aster. — Você estava... com Steven naquela noite —
ela disse delicadamente. Depois do funeral de Steven, Aster confessou que ela
tinha ficado com ele. Foi meio que uma maneira de dizer Eu fiquei com esse cara,
e então ele apareceu morto. Quão estranho é isso? — Ele estava agindo de forma
estranha? Ele falou sobre Poppy?
As bochechas de Aster adquiriram um tom vermelho. — Nós não falamos
muito, para falar a verdade.
Rowan olhou para uma lâmpada fluorescente no teto. — Tudo bem. Se
Poppy fez isso, e se isso tem algo a ver com o seu assassinato, quem era próximo
de Steven? Quem poderia ter feito isso com ela — e com a gente?
Corinne olhou fixamente para frente. — Eu não sei. Uma namorada?
— Quando falei com Elizabeth, ela disse que eu era uma de muitas. Talvez
alguma delas tenha realmente se importado com ele. Talvez ela estivesse na festa
também — Aster sugeriu.
— E quanto ao que Natasha queria nos dizer? — Rowan sussurrou,
olhando para a forma silenciosa de Natasha debaixo dos cobertores. A névoa se
formando no interior da máscara de respiração quando ela exalava. — O que vocês
acham que ela sabia?
— E onde vocês acham que ela estava na manhã que Poppy morreu? —
Aster sussurrou.
Corinne engoliu em seco. — Talvez nós nunca saibamos.
Rowan inclinou a cabeça contra a parede. — Ou talvez haja uma maneira
de descobrirmos isso por nós mesmas.
— Descobrir o que por nós mesmas? — perguntou Corinne.
— Bem, pelo menos a teoria de Poppy matar Steven ainda é plausível.
Quero dizer, pode haver pessoas que a viram em outro lugar quando Steven
morreu. E nós poderíamos tentar descobrir quem mais se preocupava com Steven.
Mas, se ela fez isso, talvez ela tivesse dito a alguém. Como o seu pai. Ou Evan. —
Ou James, Rowan pensou com uma pontada.
As outras pareciam céticas. — Papai pode saber — disse Aster em voz alta.
Rowan assentiu. — E eu vou falar com James.
Corinne levantou-se e espreguiçou-se. — Acho que eu poderia perguntar a
Evan — eu vou vê-la esta semana para passar os detalhes finais do casamento. —
Ela se virou para a porta, com os ombros arqueados. — Eu preciso de café.
— Eu vou verificar se os pais de Natasha ainda estão aqui. — Aster alisou
sua roupa de hospital e olhou para o relógio.
— Eu vou ficar aqui, caso ela acorde — disse Rowan.
A porta se fechou novamente. Rowan se inclinou para trás na cadeira e
ouviu os sons sibilantes das máquinas da intravenosa. Lentamente o líquido
escorria de um saco para as veias de Natasha. Seus olhos permaneceram fechados,
os cílios nem vibravam. Em algum lugar por trás daqueles olhos fechados, um
segredo estava trancado. Algo tão terrível, que alguém pode ter jogado elas para
fora de uma ponte por causa disso.
Em seguida, o telefone emprestado de Rowan apitou, e ela olhou para a
tela. Ela entrou no e-mail através do navegador de Internet e uma nova mensagem
chegou. NOVA POSTAGEM NO ABENÇOADOS E AMALDIÇOADOS, lia-
se no e-mail. VOCÊ VAI QUERER VER ISSO! A pele de Rowan arrepiou. Que
estranho. Ela nunca tinha configurado para receber alertas do site. Ela clicou no
link, de repente cheia de medo. E se fosse uma postagem sobre o acidente?
A página apareceu na tela. Mas o topo da história era sobre outra coisa. —
“Sexo explícito no local de trabalho”, dizia a legenda.
Um vídeo do QuickTime carregou. Com os dedos trêmulos, Rowan
pressionou reproduzir, em seguida, gritou. Lá estava ela em sua mesa, arqueando
as costas e gemendo “Sim” e agarrando as costas firmes de um homem. Sua placa
de identificação, “Rowan Saybrook, Esq.,” estava claramente à vista, juntamente
com o logotipo da Saybrook. James desabava contra ela quando eles terminaram
juntos, a câmera nunca pegando seu rosto.
Ela parou o vídeo imediatamente. Arrepios irromperam em sua pele. Ela
tinha apagado esse vídeo. Ela mesma tinha excluído de seu lixo. Não tinha?
Algo parecido com uma risadinha soou do outro lado da sala. Rowan
olhou duas vezes para a forma adormecida de Natasha. Suas mãos ainda estavam
em seus lados, o cabelo espalhado e os pés apontados para cima. Mas uma coisa
havia mudado. Agora havia a sugestão de um sorriso em seu rosto. Parecia que ela
estava zombando. Provocando.
Oh, suas tolas ingênuas, ela parecia estar dizendo. Como se ela estivesse
enganando a todos.
16
Traduzido por Ivana

N
a segunda-feira seguinte, Corinne se sentou no escritório de seu pai, uma
grande sala com duas paredes de janelas, um teto abobadado, uma área
de lazer separada, e um pequeno banheiro privado, elegantemente
decorado. Rowan se sentou ao lado dela, nervosamente balançando sua grossa e
musculosa panturrilha esquerda. Aster estava no sofá ao lado de Rowan, olhando
para uma xícara de café, e Deanna estava em uma cadeira de couro contra a
janela.
Mason estava sentado atrás de sua mesa, com o cenho franzido e os lábios
apertados. Haviam três latas de Coca Diet vazias ao lado dele. Desde que Mason
parou de fumar — além de um ocasional charuto de vez em quando — ele bebia
Coca Diet sempre que estava estressado.
— Eu nem sei por onde começar — disse ele, apertando a área entre os
olhos. — Este acidente não é exatamente o que precisávamos agora. — Ele olhou
diretamente para as três.
— Uma de vocês vai ter que fazer a entrevista da CNN — Deanna alertou,
olhando para um iPad, um BlackBerry e um iPhone em seu colo. — Mas tentem
não falar muito, ok? Nós não precisamos dar mais assunto para alimentar rumores
sobre a maldição. E não deem muitos detalhes sobre a condição de Natasha.
— Eu vou fazer a entrevista — Rowan se ofereceu.
O olhar de Mason voltou-se para ela. — Não, você não vai. — Seus olhos
brilhavam. — Eu nem sei o que dizer sobre você e esse vídeo. Nos escritórios da
Saybrook, Rowan.
— Eu sei — murmurou Rowan, olhando para seu colo. Ela parecia
mortificada. Corinne estava envergonhada por ela. Ela não tinha visto o vídeo, é
claro, mas ela podia imaginar.
Deanna virou uma página do seu bloco amarelo. — Na verdade, Mason,
talvez seria bom para Rowan ser a nossa porta-voz. Ela podia pedir desculpas pelo
vídeo de sexo. Seria uma maneira de humanizar a sua imagem. Talvez esclarecer
algumas coisas sobre o homem misterioso — todo mundo está morrendo de
vontade de saber.
— Como é? — Rowan gritou, parecendo como se fosse dar um soco em
Deanna. Corinne ficou tensa também. Às vezes, sua assessora ia longe demais.
— Não, obrigado — disse Mason, suas narinas dilatando. — Aster vai fazer
isso.
— Eu vou? — Aster pareceu surpresa.
— Sim, você vai. — Então Mason olhou para Rowan. — E se eu te pegar
trazendo outro homem para o seu escritório de novo, você está ferrada.
Entendeu?
— É claro — disse Rowan, com o rosto vermelho brilhante de tão corada.
— Tudo bem, agora saiam todas da minha frente — disse Mason, fazendo
um gesto de enxotar com as mãos. Elas se levantaram e se dirigiram para a porta.
— Corinne, você fica — Mason gritou quando ela estava quase fora da sala.
Corinne se virou e olhou para seu pai. Ele tinha acabado de abrir uma
quarta lata de Coca Diet, e ele girou a cadeira para o outro lado para encarar a
janela que dava para o rio Hudson. Alguns caiaques oceânicos estavam na água. O
relógio Colgate indicava que já havia passado das 18:00 horas. Corinne deslizou
seu anel de noivado para cima e para baixo no dedo, querendo saber do que se
tratava. Por uma fração de segundo, ela temeu que Aster houvesse contado sobre
Will, mas ela não faria isso, faria?
Mason virou-se e olhou para Corinne. — Eu só queria saber como você
está suportando.
— Eu? — Corinne tocou seu peito. — Por quê?
— Seu casamento está próximo. Eu sei que você não precisava deste
estresse. — Ele deu um sorriso triste. — Foi por isso que pedi a sua irmã para fazer
a entrevista em seu lugar.
— Oh. — Corinne tocou a gola da blusa de seda. Ela ouviu seu novo
celular vibrar em sua bolsa. A tela branca iluminou o forro de cetim escuro. —
Bem, obrigada.
— Eu estou orgulhoso de você, você sabe disso. — A voz de Mason estava
um pouco embargada. — Resolvendo as dificuldades de seu trabalho, planejando o
seu casamento — você é o alicerce de todo mundo. Especialmente agora que
Poppy se foi.
A garganta de Corinne apertou. Toda a sua vida, o afeto de seu pai tinha
sido raro. Mas Corinne ainda precisava dele, e ela precisava de mais do que isto,
não só ele simplesmente dizendo que ele reconhecia o quão difícil era suportar
tudo junto.
— Ob-obrigada — disse ela, tentando sorrir. Seu telefone vibrou
novamente. Desta vez, ela olhou para ele. Duas mensagens de texto tinham
chegado. Eu preciso te ver, dizia a primeira. Você pode me encontrar?
Will. Os pensamentos de Corinne foram interrompidos. Ela não podia ir.
Ou talvez ela tivesse que ir.
— Algo importante? — perguntou Mason, olhando para o telefone de
Corinne.
— Acho que sim — disse ela ao seu pai, ficando de pé rapidamente e
correndo para fora da sala antes que ele pudesse perguntar mais. Porque, ela
percebeu, ela não estava suportando coisa nenhuma.
Ela estava mantendo as coisas separadas... e ela não conseguia nem
mesmo ajudar a si mesma.
Meia hora depois, Corinne estava do lado de fora de um prédio de
apartamentos na Bank Street. Ela olhou para os números dourados na parede, e
depois para o nome de Will no diretório. Apenas olhar aquilo já a deixou
horrorizada, e ela disparou ao virar da esquina, tentando recuperar o fôlego. Um
café chamou sua atenção do outro lado da rua. Ela iria para lá. E iria pensar. E,
em seguida, voltaria para onde ela pertencia.
Mas suas pernas não se moviam, ou melhor, elas se voltaram para a
direção errada, de volta ao prédio. Uma mulher na casa dos vinte anos de idade
saiu, e Corinne se afastou do caminho, com medo de ser vista. Seu telefone tocou.
Ela olhou para a tela. Dixon.
Ela apertou em SILENCIAR. Corinne tinha enviado um SMS dizendo
que ela não ia fazer o jantar hoje à noite, mas ela não tinha explicado o porquê.
Ela não podia falar com ele agora. Sua culpa seria óbvia em sua voz. Ela passou as
mãos ao longo do rosto. Endireitando os ombros, ela virou-se para o painel da
campainha e apertou o botão para o apartamento de Will. A porta destrancou, e
ela entrou em um vestíbulo com piso ladrilhado, uma lâmpada fluorescente
piscando no teto, e uma fila de caixas de correio de metal pequenas ao longo da
parede. Mais caixas de correio ficavam também em cima de um radiador. Uma
bicicleta com um pneu furado estava encostada contra a parede.
Depois de abrir uma outra porta, ela encontrou um conjunto de escadas
desgastadas. Ela começou a subir, os degraus rangendo. Algumas portas
apareceram no corredor, uma mistura heterogênea de cheiros emanando delas.
Ela subiu outro degrau.
Ela imaginou o rosto de Dixon, se ele pudesse imaginar que ela estava em
um lugar como este. Ela suspirou pensando no julgamento de sua mãe. Ela
pensou no que ela disse a suas primas: É só pé frio.
Ainda assim, ela continuou subindo.
Finalmente ela chegou no quarto andar. Will estava parado na porta. —
Você está bem? — ele gritou, puxando-a em sua direção.
Corinne se afastou, deixando um espaço entre eles. — O que você quer
dizer?
Will a encarou. — Eu li que você sofreu um acidente de carro. Eu estava
tão preocupado.
Corinne olhou para baixo. Claro. Cada jornal da cidade estava falando
sobre o acidente. — Eu estou bem — disse ela rigidamente. — Foi apenas um
acidente.
— E a sua prima? Ela vai ficar bem?
Corinne assentiu fracamente. Não havia inchaço no cérebro de Natasha, o
que significava que ela deveria acordar em breve. Então ela também lembrou que
alguns pacientes nessa condição nunca recuperavam a consciência.
Houve uma longa pausa. Corinne olhou para o corredor acarpetado,
olhando para a porta vermelha do outro lado. — Bem, vamos lá — disse Will sem
jeito, dando um passo para o lado e gesticulando para Corinne entrar no
apartamento. Corinne abaixou a cabeça e o seguiu.
Eles entraram numa pequena sala com uma parede de tijolos expostos.
Um sofá cinza de aparência moderna estava encostado no canto, rodeado por
duas mesas da metade do século. Livros de receitas antigos e de capa dura estavam
em uma estante vintage encostada na parede. Um corredor revelava uma quitinete;
facas estavam penduradas ao longo de uma faixa magnética na parede, e tachos e
panelas penduradas em uma prateleira sobre o fogão. Corinne imaginou que a
maioria das pessoas em Manhattan pensaria que Will estava se virando muito
bem. Só não as pessoas com quem ela andava.
Na parede do fundo havia um letreiro enorme que levava o nome do
restaurante local que Will tinha trabalhado em Vineyard, o Sextant. — Oh meu
Deus — Corinne deixou escapar, baixando a guarda por um momento. — Esse é o
letreiro da estrada?
— Oh. — Will sorriu timidamente. — Sim.
— Eles permitiram que você o pegasse?
— Não exatamente. Eu meio que... o roubei.
Embora o Sextant funcionasse desde 1920 e alguma coisa, na única vez
que Corinne tinha estado lá, ela estava com Will. Foi a quarta vez que eles saíram
juntos, a primeira vez que eles se atreveram a ir a algum lugar em público —
embora certamente não seria um lugar que Corinne seria reconhecida. Corinne
lembrava de ter perguntando por que os bartenders não tinha varrido a serragem
ou os mexilhões no chão, e Will riu e disse, — Aqui costuma ser assim.
Agora Will olhou para o letreiro com um olhar distante no rosto. Corinne
se perguntou se ele o fazia lembrar dela. Ela gostou da ideia de que ele pensasse
nela enquanto ele estava cozinhando. E então, instantaneamente, ela se odiou por
ter pensado nisso. Suas emoções estavam tão confusas que ela sentiu as lágrimas
picarem seus olhos.
Will deu um passo à frente. — O que foi?
— Eu não sei — disse Corinne, inclinando em direção à parede. — Estou
confusa. E eu menti para você.
Will olhou para cima e piscou. — Eu sei.
— Sobre este fim de semana. O acidente. Eu não estou bem. — Então
Corinne inclinou a cabeça. — Espere. Como você sabia que eu menti?
Will levantou um ombro. — Eu senti — disse ele, sua voz não muito firme.
— Você quer me falar sobre isso?
Corinne sacudiu a cabeça, se perguntando se não deveria ter falado do
acidente. Tudo que saia da sua boca estava errado.
Will sentou-se no sofá. — Eu ouvi dizer que o carro começou a afundar.
Os olhos de Corinne se encheram de lágrimas. — Tudo aconteceu muito
rápido. Graças a Deus minha irmã estava lá. Ela assumiu o comando. — E então
ela contou a ele que nadaram para a margem, correndo para encontrar um carro
que passou naquela hora, as ambulâncias vindo e levando-as para longe. Will
ouviu pacientemente, seu olhar nunca deixando seu rosto.
Ele limpou a garganta. — Há todos os tipos de conversas malucas, você
sabe. Depois do que aconteceu com Poppy... e aquele site. Algumas pessoas
temem que alguém esteja atrás de todas vocês.
Corinne se encolheu. — Eu não quero mais falar sobre isso — ela decidiu.
— Você está segura agora. — Will estendeu a mão. — Eu vou mantê-la
segura.
Ele disse aquilo tão ternamente, que Corinne de repente lembrou-se do
verão, como ela olhou para ele — ele era alto, muito mais alto do que Dixon — e
como ela se sentia segura em seus braços. E ela viu agora como aquela ternura
faria dele um bom pai. Poderia tê-lo feito um bom pai, ela se corrigiu. Era como
acordar de um sonho. Meu Deus, você não tem que dizer a ele, ela pensou.
Ela tinha que sair dali. Já era ruim o suficiente ter traído Dixon, mas havia
muito mais do que isso. Ela tinha traído Will também. Ela queria mais do que
nunca conversar com Poppy, para perguntar-lhe o que fazer. Poppy era a única
pessoa no mundo que sabia tudo sobre ela — a parte que amava Dixon, que sabia
que ela poderia ser feliz com ele, seu futuro previsível e agradável. A parte que
tinha se envolvido com Will, que por um breve momento imaginou uma vida que
era completamente desconhecida. E a parte dela que ela tinha deixado para trás,
na Virgínia, o bebê que ela nunca tinha tido a oportunidade de conhecer.
Ela queria dizer para Will tudo isso; ela queria que ele entendesse o
emaranhado complicado que era sua vida. Mas ela também queria ir embora, e
voltar para seu lindo apartamento de três quartos, onde cada quarto era
climatizado e tudo existia em tons de cinza e pastel. Mas quando ela olhou para
cima novamente, o rosto de Will estava se movendo em direção ao dela.
Só um beijo, Corinne disse a si mesma. Apenas um beijo de despedida.
— Não deveríamos fazer isso — ela murmurou, mas ela deixou ele puxar
seu vestido por cima da sua cabeça.
— Não, nós não deveríamos — Will concordou, guiando-a em direção ao
seu quarto.
A cama de Will cheirava a sabão e açúcar. Ele subiu em cima de Corinne
e começou a beijar cada centímetro de seu corpo. Ela fechou os olhos e tentou
adormecer, mas ela estremeceu quando as mãos ásperas de Will se moveram ao
longo de sua pele nua. Ele foi rápido com ela, lascivo e louco, desesperado e
carente. Ele não tocou sua cicatriz da cesariana. E o mais importante, ele não
perguntou sobre isso, também. Ela tentou não pensar em Dixon e no escuro
segredo trancado em seu interior. Mas em pouco tempo, ela não conseguia mais
nem pensar. Tudo desapareceu; apenas o físico ficou.
Corinne deslizou seus pés contra os lençóis, suas pernas estavam trêmulas.
Era como se Will entendesse inerentemente, sem ela ter que dizer uma palavra, o
que a fazia se sentir melhor. Isso o havia separado dos outros namorados que ela
teve quando era jovem — todos eles a irritavam com muitas perguntas, riam
quando não deveriam. E Will — bem, ele apenas sabia.

***
Corinne abriu os olhos para descobrir que estava escuro lá fora. Ela
provavelmente devia ter cochilado. A cama estava vazia, e ela ouviu panelas e
frigideiras batendo na cozinha. Ela ficou lá por um momento, pensando sobre o
que ela tinha feito. O que ela tinha feito mais uma vez, ela lembrou-se. Mas em
vez de sentir a vergonha e a culpa que ela sentiu da última vez, ela se sentia
relaxada. Ela se sentia como se estivesse brilhando. Levantando-se, ela vestiu suas
roupas e caminhou na direção dos barulhos.
Will estava de cueca e pés descalços segurando uma panela no fogão. Seu
cabelo estava despenteado, sua pele corada, e havia um olhar de concentração em
seu rosto quando ele virou algo na panela. Quando ele a notou na porta, ele
sorriu. — Eu fiz um lanche. — Ele deslizou um sanduíche no prato. — Sanduíche
com queijo e azeite.
— Você não tinha que fazer isso — disse Corinne suavemente, aceitando o
prato. E embora ela soubesse que azeite, queijo brie, e pão eram, provavelmente, a
pior coisa que ela podia fazer pelo seu corpo, ela mordeu o sanduíche e delirou. —
Oh meu Deus. Isso é muito bom.
— Fique comigo, e eu vou fazer para você um desses todos os dias — disse
Will quando ele se sentou em uma banqueta ao lado dela.
— E eu vou pesar 100 quilos.
— Então eu vou te fazer um a cada dois dias. — Will tocou-lhe o queixo,
girando a cabeça para que ela olhasse para ele.
— Você sabe que não é assim tão fácil.
— Nem me fale. — Ele suspirou. Will levantou-se do banco, foi até uma
mesa bagunçada embutida no canto da cozinha, e arrancou um pedaço de papel
do topo da pilha. — Isso é para você.
Corinne enxugou os dedos sujos em um guardanapo e estudou o papel. —
Nota Fiscal — lia-se no topo, ao lado do logotipo do Coxswain. — Clientes: Dixon
Shackelford e Corinne Saybrook. Descrição do evento: Jantar de ensaio (175
convidados) e casamento (260 convidados) na casa da família Saybrook em
Meriweather, Massachusetts.
Um nó duro se formou em seu peito. Era quase perverso ver os nomes
dela, de Dixon e de Will no mesmo pedaço de papel. Ela queria embaralhar os
nomes, fazendo Will ser o noivo e Dixon o ajudante contratado.
Will mordeu sua metade do sanduíche. — Você realmente vai seguir com
isso?
Os olhos de Corinne queimavam com lágrimas iminentes. — Eu não sei.
— Você o ama?
Um nó se formou em sua garganta. — Não se trata disso.
— O casamento não se trata de amor? Isso é novo para mim.
Sua voz estava extraordinariamente severa. Corinne concentrou-se no
prato branco sobre o qual o sanduíche estava. Ela amava Dixon, mas amava o
suficiente? Era o tipo de amor com o qual você poderia construir uma vida junto
com a pessoa? Era o tipo de amor que durava para sempre? — É complicado. —
Ela riu, um pouco amargamente. — Quero dizer, obviamente — disse ela, olhando
ao redor.
Will caminhou para o fogão. — Eu simplesmente não entendo. Se você o
ama, por que você está aqui?
— Eu sei. É só... — Ela suspirou e olhou para fora da janela. — Isso
destruiria a minha família. — Ela pensou na voz embargada de seu pai mais cedo.
Eu estou orgulhoso de você. — E é quem eu sou também — ela acrescentou. — Isso
é o que eu devo fazer. Esta é a pessoa com quem eu devo me casar.
Will arqueou as sobrancelhas. — Não é a Idade das Trevas, Corinne. Os
casamentos não são mais arranjados. — Will cruzou os braços sobre o peito. — Há
algo mais, não é?
O silêncio prolongou-se entre eles. Corinne desviou o olhar primeiro. —
Não — ela mentiu, o segredo revirando em seu interior. Ela queria dizer a ele, mas
como ela começaria? Eu estava grávida naquele verão. Nós temos um bebê em
algum lugar. Você é um pai.
Ele se aproximou. — Você não quer viver uma vida honesta? Você não
quer ser quem você é de verdade?
Ela encolheu os ombros, tentando se esconder. — Eu não posso lhe dar a
resposta que você quer agora. Preciso de mais tempo.
— Você não tem mais muito tempo.
Algo na cozinha quebrou. Foi só depois que o prato estava em pedaços no
chão, que Corinne percebeu que Will tinha quebrado ele. Ele ficou lá, com o
peito arfando, os ombros, os bíceps e os músculos do peito tensos.
Corinne olhou para seus pés. — Você está me assustando — disse ela, de
repente nervosa.
Will olhou para ela, seu queixo duro. — Por que você não consegue
entender que você não é a única com emoções? — Sua voz falhou. — Que você
não é a única pessoa nessa equação?
— Você está me fazendo parecer tão egoísta. — Ela virou-se para a porta de
entrada, piscando para conter as lágrimas, enquanto olhava para os sapatos. — É
isso que você acha?
Will não respondeu. Corinne pegou seus saltos gatinho Jimmy Choo e
começou a colocá-los, sua garganta estava apertada. Ela não conseguia encaixar seu
calcanhar na correia do sapato, então ela a deixou desatacada, tão desordenada
como ela se sentia. — Eu vou embora — ela murmurou.
Will começou a caminhar até a porta, mas Corinne caminhou a alguns
passos à frente, recusando-se a olhar para ele. Will limpou a garganta. — Corinne,
pare. Eu sinto muito. Eu quero ficar com você. E eu acho que você quer ficar
comigo. Deveria ser tão simples.
Corinne parou e se virou. Ele estava na porta, com um olhar torturado em
seu rosto. — Bem, não é — ela sussurrou, e começou a descer as escadas.
17
Traduzido por Ivana

D
epois de uma entrevista nos estúdios da CNN New York, Aster voltou
para seu minúsculo escritório dos Saybrook, e estava olhando para uma
pasta enorme em sua mesa que listava todas as pedras da Saybrook
ainda armazenadas na empresa. A pasta estava categorizada por cores e, em
seguida, por quilates e depois por outras categorias, como onde o diamante foi
encontrado e se ele foi cortado. Elizabeth havia lhe pedido para acrescentar toda a
informação e fazer o upload das imagens para um servidor na nuvem, seja lá o que
isso significasse. Mas Aster precisava de um momento para respirar. Ela conseguiu
se conter bem durante a própria entrevista — na verdade, ela pensou, ela tinha
feito um trabalho fantástico, mas falar sobre Poppy a afetou mais do que ela
imaginava. Depois disso, ela começou a chorar no caminho para o banheiro. Ela
se abaixou em um dos compartimentos do banheiro e silenciosamente chorou por
um minuto, depois ela cuidadosamente refez a maquiagem pesada e forte que ela
havia usado ao aparecer na TV antes de se despedir e sair do estúdio. Aster sabia
que não devia deixar ninguém vê-la chorar.
Seu telefone tocou, e ela olhou para baixo. Nova postagem no
Abençoados e Amaldiçoados, dizia a mensagem. Mitch a tinha ajudado a se
inscrever para poder receber estes alertas de fofocas há algumas semanas. Talvez
fosse masoquista acompanhar quase em tempo real como alguém jogava no ar a
roupa suja dos Saybrooks por toda a Internet, mas Aster achava que era melhor
saber o que estava sendo dito do que ser pega de surpresa.
Ela respirou fundo para preparar-se, em seguida, clicou no link. Como
esperado, uma nova postagem estava carregando. Duas imagens foram
posicionadas lado a lado sobre a tela. À esquerda, uma foto de uma figura em uma
calçada lotada de Manhattan, uma mecha de cabelo loiro espreitando para fora de
uma lona, um elegante escarpim de pele de cobra emergindo de outro canto.
Aster arfou. Poppy.
A outra foto era de Natasha deitada em uma cama de hospital. Tubos
saíam de seu nariz. O cabelo escuro e encaracolado emoldurava seu rosto oval, e
um sorriso misterioso aparecia em seus lábios. A boca de Aster caiu aberta. Como
alguém havia chegado perto o suficiente para tirar uma foto de Natasha?
— Duas Herdeiras Caíram, Faltam Três — dizia a manchete em letras
vermelhas brilhantes.
Aster imediatamente discou para Foley, mas ela não atendeu. Tentando
manter a calma, ela rolou o texto para baixo e leu os comentários sob a postagem.
Alguns deles condenavam o escritor do título da notícia e exigiam que o
administrador do site tirasse aquilo. Outros diziam, — Vocês não suportam nem
uma piada? — Outros ainda escreveram que Aster e suas primas mereciam aquilo.
— Vadias arrogante — estava escrito em uma postagem anônima. — O que vai,
volta.
O telefone de Aster tocou, assustando-a. O site tinha minimizado, e o
nome de Clarissa aparecia na tela. Aster sentiu uma onda de satisfação, ela não
tinha visto Clarissa desde antes da morte de Poppy, mas é claro que sua amiga
ligaria para Aster quando estivesse em grande necessidade.
— Eu suponho que você me viu na CNN? — perguntou Aster em vez de
dizer alô, ainda sentindo-se trêmula pelo que havia lido.
— Por que você estava na CNN? — A voz de Clarissa estava rouca, do jeito
que sempre ficava quando ela fumava muitos cigarros. Aster se perguntou onde ela
estava na noite passada. Alguns dos lugares de sempre, ou um novo clube do qual
Aster não tinha sequer ouvido falar?
— Porque alguém tentou me matar? — disse Aster lentamente, tremendo
ao som disso. — Há um serial killer louco deixando mensagens em um site de
fofocas sobre a minha família.
— Você não deveria ler esse site — disse Clarissa. — Você sabe que é tudo
mentira.
Só que não contaram mentira nenhuma ultimamente, Aster pensou.
— De qualquer forma. — Clarissa bocejou. — Você vem hoje à noite, ou
não?
Aster segurava o telefone com força, surpresa por Clarissa ter mudado o
assunto sobre ela. Ser perseguida por um assassino não era uma grande coisa? —
Hum, para onde?
Clarissa zombou. — Para a Boom Boom, é claro! Jake vai estar lá.
Aster acessou o Abençoados e Amaldiçoados em seu computador. As
fotos de Poppy e Natasha ainda estavam na frente e no centro; ela minimizou a
janela. — Jake?
— Gyllenhaal? Aster, eu te enviei as imagens dos SMS dele. Você não viu?
— Clarissa estava soando cada vez mais descontente. Ela contou uma história sobre
como ela tinha trocado mensagens com Jake e que eles iam se encontrar lá às doze
e trinta.
— Eu adoraria, — disse Aster, — mas como eu disse, a minha vida está mais
ou menos em perigo. Eu provavelmente deveria ficar em casa, quieta.
Clarissa bufou. — Você parece uma Kim Kardashian super dramática,
querida. As pessoas que postam coisas nesse site fazem isso por diversão.
E você sabe disso porque você é uma delas? Aster sentiu uma pontada de
irritação. Então ela notou uma figura passando no corredor. — Eu tenho que ir. Eu
te ligo mais tarde — ela disse à Clarissa, e desligou. — Mitch! — ela gritou. Ele virou-
se para ela, seu rosto se iluminando.
— Oi — ele disse suavemente. — Como você está se sentindo?
— Eu estou bem — disse Aster. Mitch não tinha se barbeado naquela
manhã; a barba realçava o quão angulado seu queixo era. Ele não estava usando os
óculos, também. Aster nunca tinha percebido o quanto seus cílios eram longos,
maiores do que ela já tinha visto em um cara.
Mitch olhou para ela, inspecionando seu rosto. — Sabe, eu não estaria
bem se eu passasse por tudo o que você passou neste fim de semana. — Ele olhou
para o corredor. — Elizabeth disse alguma coisa sobre isso? — ele sussurrou.
Aster balançou a cabeça. — Nem uma palavra. Ela estava chateada, na
verdade, que eu tinha que fazer uma entrevista hoje. — A porta de Elizabeth havia
permanecido bem fechada quando ela retornou ao trabalho, mas ela enviou para
Aster um e-mail com uma lista de coisas para fazer, tudo em letras maiúsculas. —
Ela acha tudo isso uma grande inconveniência.
Mitch fungou. — Eu diria que ela é o tipo de pessoa que gostaria de
empurrar o seu carro para fora da ponte, mas então ela não teria ninguém para
fazer o seu trabalho ridículo.
Aster já tinha considerado essa mesma ideia. Elizabeth odiava claramente
todos os Saybrooks — talvez ela tivesse matado Poppy também, e quem sabe o
resto das primas na sequência. Mas ela olhou a agenda de Elizabeth esta manhã
antes da entrevista; e ela realmente tinha estado fora na manhã em que Poppy foi
assassinada. Havia até mesmo comprovantes do Four Seasons de Los Angeles e
Katsuya para provar isso.
Quando Aster olhou para cima, Mitch ainda estava encarando-a. Ele
balançou a cabeça. — Honestamente, eu não sei como você pode estar aqui agora.
Se você precisar de alguma coisa hoje, me ligue, ok? Eu posso te trazer um café,
pra variar — ele acrescentou ironicamente.
Aster riu. — Obrigada — disse ela, e em seguida, olhou para a tela de seu
computador novamente. — Quer descobrir quem gerencia o Abençoados e
Amaldiçoados para mim?
Mitch franziu o cenho. — O FBI não está fazendo isso?
— Sim, está. — Mas não parecia que eles estavam trabalhando muito duro.
Aster pressionou os dedos contra as têmporas. Sua cabeça latejava,
provavelmente porque ela não tinha conseguido ter uma boa noite de sono desde
o assassinato de Poppy. Nas últimas noites, sua mente tinha feito horas extras
enquanto ela lutava pensando em quem poderia estar atrás delas. Natasha, talvez —
ela odiava tanto sua família que talvez ela quisesse pegá-las uma por uma, só que o
seu mais recente plano tinha saído pela culatra e ela mesma que se feriu ao invés.
Ou uma namorada aleatória de Steven? Talvez Elizabeth. Talvez alguém que
Aster nem sequer conhecesse. E será que Poppy tinha um segredo? Por que
Natasha era a única que sabia sobre isso?
— Mitch? — ela perguntou, tendo uma ideia. — Alguma vez você já olhou
os e-mails da empresa?
— Eu não tenho certeza se eu deveria responder isso com sinceridade.
— Eu não vou colocar você em problemas. Estou apenas curiosa sobre
Poppy. — Ela limpou a garganta. — Eu meio que descobri que ela tinha... algumas
lutas. — Foi a mesma palavra Jonathan York tinha usado com Corinne no funeral
de Poppy. — E talvez um segredo.
Mitch franziu o cenho. — Você quer dizer a coisa das joias?
— Que coisa das joias?
Mitch parecia em conflito, então deslizou para a frente em sua cadeira. —
Eu pensei que era isso que você quis dizer. Há alguns meses, o RH estava
preocupado que Poppy estivesse... pegando coisas.
Aster hesitou. — Pegando coisas? O que você quer dizer?
— Eu vi isso no e-mail. Eu acho que ela pegou e saiu com algumas peças
para mostrar aos clientes e nunca devolveu. As pessoas estavam preocupadas que
ela... as tivesse roubado, eu acho. E então talvez vendido elas.
Aster riu, incrédula. — Por que Poppy precisaria de dinheiro?
Mitch deu de ombros. — Eu não sei. De acordo com os e-mails, as joias
nunca foram devolvidas.
— Então ela estava em apuros? — perguntou Aster, sua mente se movendo
lentamente.
Mitch olhou para o teto. — Eu acho que isso acabou passando. Mas eu
não tenho ideia de como isso foi resolvido.
— Jesus. — A mente de Aster ficou ainda mais confusa agora. Quem era
essa nova Poppy, e porque Aster nunca a tinha conhecido? Ela se perguntou se
Rowan sabia sobre as acusações de roubo. Provavelmente não, ela teria
mencionado. — Eu odeio isso — ela sussurrou, sentindo-se sobrecarregada.
— Ei — Mitch murmurou. — Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. — Ele
estendeu a mão como se fosse tocar o seu ombro, depois pareceu pensar melhor e
deixou sua mão cair para o lado. O silêncio estendeu-se entre eles.
Finalmente Aster virou e começou a clicar aleatoriamente em seu
computador. — É melhor você sair daqui, ou Elizabeth vai empurrar nós dois de
uma ponte.
— Certo. — Mitch parecia um pouco desapontado. — Vejo você mais tarde,
Aster. — Ele se virou e caminhou para o corredor. Seu sapato estava desamarrado,
e ele tropeçou nos cadarços, então se virou e deu de ombros. Aster balançou a
cabeça, sorrindo.
Seu telefone tocou, e ela pulou. O nome de seu pai apareceu no
identificador de chamadas. — Pai — disse Aster, trêmula. — O que foi?
— Tem algo que eu preciso falar com você. — Mason parecia muito sério.
— Agora? — Aster indagou. Ele ia repreendê-la por causa da entrevista na
CNN? O que ela tinha feito de errado desta vez?
— Você pode vir ao meu escritório?
Aster espiou o corredor. — Eu não tenho certeza se Elizabeth vai gostar
disso.
— Eu resolvo com ela. Desça agora.
Ele desligou antes que Aster pudesse responder. Ela levantou-se e alisou o
vestido azul que ficava bem diante da câmera e levantou a cabeça. Talvez esta fosse
uma boa oportunidade, na verdade. Ela podia perguntar a ele sobre Steven.
Ela voltou a pensar naquela noite, na festa no fim de verão, há cinco anos.
Tinha sido um caminho sem volta. Se ela tivesse escolhido diferente naquela
noite, ela e seu pai poderiam ter salvado as coisas.
Mas, em vez disso, Aster tinha seguido Steven para longe do grupo,
alimentada pela adrenalina e pela raiva. Esta era a vingança perfeita contra seu pai.
Se ele podia arruinar seu relacionamento com sua melhor amiga, então ela
poderia destruir um dos dele também.
Quanto a Danielle, tudo o que Aster sentiu foi ódio. Ela tinha jogado fora
a amizade delas para estar com o pai de Aster.
Ela e Steven andaram por entre os juncos e desceram para a praia.
Embora Steven tivesse dito que queria mostrar para Aster seu iate, tão logo eles
estavam fora de vista, ele a agarrou pela cintura e puxou-a para perto dele. Eles se
deitaram, e as mãos dele viajaram por todo o corpo dela. Em poucos minutos ele
abriu o zíper do vestido que ela usava e jogou-o na areia. O vento frio beijou a pele
nua de Aster. Ela abriu os botões da camisa dele e afrouxou a faixa do smoking. —
Oh meu Deus — ele respirou no ouvido de Aster. — Você está tão molhada. —
Aster não sentiu aquilo como algo sujo, então em resposta ela apenas abriu o zíper
de suas calças e puxou-a para baixo.
A lua tinha subido mais alto no céu. Aster fechou os olhos e puxou Steven
para mais perto dela, deixando a raiva abastecer seus movimentos no lugar do
desejo. Sua boca era quente, e tinha gosto de uísque e sal. Em um momento ela
pensou sentir cheiro de charuto, mas então o vento mudou de direção e o cheiro
sumiu.
Ela não ouviu o pai chegar até que ele estava quase diretamente sobre ela.
Steven saltou para longe, puxando as calças. Mason estava lá como um
bloco de madeira, sólido e firme, com os braços ao lado do corpo. Seus olhos
brilhavam. Seu corpo tremia de raiva.
— O que há de errado com você? — ele rosnou para Aster.
Ela sentou-se, puxando o vestido de volta e cruzando os braços sobre o
peito, sentindo-se mais estável do que ela jamais havia se sentido em um longo
tempo. — Se você pode foder a minha amiga — ela disse em uma voz forte, —
então eu posso foder o seu.
Bip.
Aster virou a cabeça de volta para a tela de seu computador. O
Abençoados e Amaldiçoados havia sido atualizado, uma nova postagem aparecia
acima das fotos de Poppy e Natasha. Era uma foto dela, ela percebeu, chorando
quando ela entrava no banheiro do Time Warner Center. Seus olhos estavam
fechados, a maquiagem borrada, enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto.
“Chorando Como um Rio,” dizia a manchete.
Seu coração pulou acelerado. Ela não tinha notado ninguém no corredor
com ela após a entrevista. Como o site conseguiu aquela foto?
Ela estremeceu e fechou a janela, em seguida, virou-se e dirigiu-se para o
elevador. Fosse o que fosse que o seu pai tinha a dizer não podia ser mais
assustador do que isso.
Aster subiu dois andares para onde os executivos e advogados dos
escritórios estavam. Ela virou-se para a direita, em direção ao grande escritório de
canto. — Olá — ela chamou suavemente, enfiando a cabeça dentro.
O escritório do pai dela estava vazio, a cadeira virada para a janela. Aster
entrou e inspecionou sua mesa. Não havia nenhum bilhete dizendo que ele
voltaria logo. Ela sentiu um dardo familiar de aborrecimento. Isso era tão a cara
dele — chamá-la ali, só para fazê-la esperar.
Uma página da web com o logotipo do banco Chase estava aberta na tela
do computador. Aster começou a olhar para longe, então parou quando viu
quantos zeros estavam lá. Era a confirmação do recebimento de uma liquidação de
ações da empresa: — 100,000 ações — dizia. — No valor de US$ 10 milhões. — A
boca de Aster fez um pequeno O, e ela se inclinou um pouco mais perto. A
transação era de cinco anos atrás. Ela perguntou por que seu pai estava olhando
para isso agora, e o que significava aquilo. Por que Mason queria livrar-se de tantas
ações de uma só vez?
— Aster.
Seu pai estava na porta. — Oh, oi — disse Aster, dando a volta para o sofá
e sentando-se.
Outra figura saiu de trás dele — Jonathan York, seu antigo tio. Ele estava
vestindo um terno bem cortado cinza e sapatos brilhantes, e um grande relógio de
ouro em seu pulso esquerdo. Havia um sorriso desconcertante e presunçoso em
seu rosto.
— Oh, oi, Jonathan — disse Aster, dando-lhe um pequeno sorriso. Quando
ele era oficialmente um Saybrook, ela nunca soube como lidar com ele. A família
era cheia de pessoas de personalidades fortes, mas havia algo nele — seu silêncio,
seus ombros desmedidos, seu olhar penetrante — que a colocava em alerta. Dizia-
se que ele e sua tia Grace se divorciaram porque ele era muito controlador.
— Jonathan estava de saída. — Mason voltou-se para apertar sua mão. — Eu
te ligo amanhã. — E, em seguida, oferecendo um rígido aceno de cabeça, Jonathan
tinha ido embora.
Mason entrou em seu escritório e fechou a porta. — O que ele estava
fazendo aqui? — perguntou Aster.
— Oh, causando problemas, como de costume — disse Mason
rapidamente, passando por ela para chegar à sua mesa. Ele girou a cadeira para
trás e se sentou. Quando ele olhou para a tela de seu computador, um olhar
cauteloso brilhou em seu rosto, e ele olhou atentamente para Aster. Ela manteve o
rosto inexpressivo. Então Mason estendeu a mão e fechou o monitor.
— Então. — Mason abriu uma Coca Diet. Ele tomou um longo gole e
engoliu em seco. — Você fez um bom trabalho na CNN.
— Eu fiz?
— Sim, você fez. Deanna e eu estamos ambos satisfeitos. Assim como sua
avó. Agradecemos a você por fazer isso no último momento.
Aster puxou o colar, incomodada por não estar acostumada a elogios. —
Sem problema — disse ela em voz baixa.
Mason tamborilou com os dedos sobre a mesa. — Eu também queria
agradecer-lhe a sua boa ideia, sobre o anel de noivado para Ko e Faun.
Aster franziu o cenho. — Como é?
— Fazer um anel como o que a mãe de Faun tinha. Elizabeth me contou
esta manhã.
— Elizabeth usou essa ideia? Ela me disse que era estúpida.
Mason tossiu. — Bem, ela apresentou-me hoje mais cedo. Ela tentou levar
o crédito também, mas Mitch Erikson estava aqui, trabalhando no meu
computador, e ele começou a falar que tinha sido sua ideia desde o princípio.
Perguntei para Elizabeth se era verdade, e ela admitiu que era.
Elizabeth tinha ficado ofuscada? Mitch se levantou para defendê-la diante
do pai dela? Aster sorriu com o pensamento.
Mason se inclinou para frente, suas feições se suavizaram. — Eu gostaria
que você trabalhasse mais diretamente com os clientes. Aparentemente, a sua
experiência pessoal faz de você uma consultora perfeita para alguns de seus
desejos e necessidades. Talvez os últimos anos não tenham sido um desperdício,
afinal de contas.
Aster olhou para ele. — Você está me promovendo por causa da minha
vida festeira?
Mason pareceu triste. — Eu prefiro não colocar dessa maneira.
— Eu só... eu não esperava isso.
— De nada — disse Mason.
Eles olharam um para o outro em silêncio. Aster odiava aquilo, mas ela
sentia falta do seu pai. Falta de seu pai para animá-la, acreditar nela, incentivá-la. —
Aster, eu sou seu maior fã — ele costumava dizer. — Nunca se esqueça disso.
Mas, então, ela lembrou dele abraçando Danielle, dormindo com sua
melhor amiga e pensando que ele poderia esconder aquilo dela, e a janela que ela
tinha aberto dentro dela se fechou novamente.
Ela limpou a garganta. — Eu tenho uma pergunta. — Mason assentiu e
Aster seguiu em frente. — Você sabe se Steven Barnett teve uma namorada séria
antes de morrer?
Mason encolheu. Seus dedos correram para o mouse. — O que isso tem a
ver com alguma coisa?
— Quero dizer, Elizabeth é minha chefe — disse Aster rapidamente. Ela
olhou para ele incisivamente, à espera de uma reação. — De qualquer forma, ela
fez uma referência a ele — Aster continuou. — Eu só estava me perguntando.
— Eu tento não ouvir fofocas pessoais — disse Mason bruscamente. —
Steven fez um monte de coisas que eu não aprovo.
— Mas Vovô Alfred não foi buscá-lo assim que ele saiu da faculdade de
administração? Ele sempre deu a Steven todo o crédito pelo negócio ser tão bem
sucedido.
— Sim, bem. — Mason arrumava os papéis sobre o lado de sua mesa. —
Nem todos nós pensávamos em Steven como seu avô pensava.
Aster não se atreveu a levar o assunto adiante. Mas já que o clima já havia
mudado, ela achou que poderia muito bem continuar. — Poppy roubou joias?
Mason recuou com raiva. — Onde você ouviu isso? — ele exigiu. — Foi
naquele site?
— Não. É verdade?
Os dedos de Mason se enrolaram em um punho tão apertado que as veias
saltavam na parte de trás de sua mão. Ele respirava com dificuldade, com os olhos
baixos. — Isso já foi resolvido.
Ela franziu o cenho. — O que significa isso?
— Isso significa, pare de perguntar sobre isso.
— Por que Poppy fez algo assim? Será que Foley sabe sobre isso?
Mason levantou de sua mesa. Aster pressionou sua coluna na almofada e
deu um pequeno grito. — O que eu acabei de dizer? — ele exigiu.
— Eu sinto muito. — Aster respirou tremulamente. — Eu só...
— Eu lhe disse para parar de perguntar sobre isso! — Mason berrou.
— Ok — Aster sussurrou, curvando em si mesma.
As narinas dele queimavam. Parecia que ele ia dizer outra coisa, mas foi
interrompido pelo telefone em sua mesa. — Eu preciso atender isso — disse ele,
dando um pequeno aceno com a mão, como se dissesse, Você está dispensada.
Aster levantou-se e correu em direção à porta, pisando duro atrás dela.
18
Traduzido por Ivana

N
a sexta-feira, Rowan parou do lado de fora do Scarpetta no Distrito
Meatpacking. Esse costumava ser um dos restaurantes favoritos de
Poppy. Antes de Poppy casar com James, ela e Rowan iam ali depois do
trabalho e bebiam vinho tinto que os homens no bar invariavelmente costumavam
comprar para elas. — Deixe-os pagar — Poppy sempre dizia, jogando seu cabelo
loiro por cima do ombro. — Isso faz eles se sentirem necessários — e é um
pequeno preço a pagar para falar com alguém tão impressionante como você é,
Ro. — Agora, só de ver o toldo, Rowan se encheu com nostalgia e tristeza.
Mas essa emoção foi varrida rapidamente enquanto ela sentia o olhar de
alguém em suas costas. Ela virou-se e dois homens, vários anos mais jovem,
viraram a cabeça rapidamente, fingindo que não estavam olhando. A luz do
semáforo mudou, e eles atravessaram a rua. — Vídeo de Sexo — Rowan ouviu um
deles dizer.
Ela suspirou. Todos em Nova York agora sabiam como ela era durante o
sexo. Advogados pessoais de Deanna e da família tinham enviado vários e-mails
ameaçadores ao Abençoados e Amaldiçoados, e a postagem finalmente tinha sido
retirada. Mas eles ainda não sabiam quem estava editando o site ridículo — ou
quem estava lhe dando informações.
O vídeo foi como um grande X em sua alma. Seus irmãos tinham
chamado ela para conversar sobre isso, fazendo perguntas embaraçosas e
preocupadas. Sua mãe, a feminista, tinha conduzido até a cidade apenas para ver
Rowan. Entre grão de bico e salada de quinoa no Café Peacefood, Leona tinha
doutrinado Rowan sobre como ela tinha trinta e dois anos de idade agora e deveria
ser um pouco mais cuidadosa com seus envolvimentos românticos, para não
mencionar que, se ela não estivesse trabalhando para a empresa da família, ela
poderia ter sido demitida. Até mesmo James tinha surtado, embora Rowan tenha
garantido mais de uma vez que ninguém sabia que era ele. Toda a situação era
humilhante.
Seu telefone tocou, o volume estava tão baixo que Rowan quase não ouviu
seu toque em meio aos sons do tráfego da Rua Fourteenth. Rowan verificou a tela
e viu um número 212. Quando ela atendeu, a voz de uma mulher jovem disse, —
Rowan Saybrook? Aqui é Shoshanna Aaron. Estou retornando a sua chamada.
— Oi — disse Rowan enfaticamente, colocando as mãos em torno do
telefone. — Muito obrigada por falar comigo.
Um ônibus passou, abafando a voz de Rowan por um momento, mas
depois ela lançou-se no discurso que tinha ensaiado. — Eu não vou tomar muito
do seu tempo. Eu sou a assessora jurídica da Saybrook, fiquei sabendo que você
poderia ter informações pertinentes sobre Poppy.
Papéis se amassavam do outro lado da linha. — O que você quer dizer?
Rowan imaginou a velha assistente de Poppy. Cabelo escuro e longo, pele
morena, um rosto bonito, um relógio incrustado de diamantes da Chopard,
certamente pago por seu pai e não pelo seu salário de assistente. Ela havia
estudado bem a cultura das joias, sempre andando com um bando de meninas
para o almoço ou happy hour.
— Eu falei com Danielle Gilchrist recentemente, e ela me disse que notou
Poppy agindo estranhamente antes de você ir para a De Beers.
Houve uma longa pausa. — Eu realmente sinto muito por Poppy —
começou Shoshanna. — Eu me sinto tão culpada de dizer algo ruim sobre ela,
sabe?
— Eu sei — disse Rowan rapidamente. — Isso não vai acabar nos
noticiários, tampouco. Estou apenas curiosa sobre o que exatamente aconteceu.
— Bem, ela estava agindo de forma estranha — disse Shoshanna, inquieta.
— Ela me pediu para sair durante várias ligações. Ela tinha compromissos
agendados, mas não dizia com quem ou para onde estava indo. Era difícil de
explicar para Mason e para os outros executivos por que ela não iria participar das
reuniões em que eu sabia que ela tinha que estar. Mas o que realmente me fez
pensar foi a suíte que ela reservou no Mandarin.
— O que você quer dizer?
— Eu recebi uma ligação do hotel confirmando a reserva de Poppy para
uma das suítes em uma quarta-feira. Não estava em sua agenda, então eu pensei
que era um erro. Eu estava dizendo a eles para cancelar quando Poppy
interrompeu na outra linha. — Shoshanna, eu resolvo isso — ela disse, e então disse
a pessoa da reserva que ela iria usar o seu cartão privado. — Shoshanna tossiu sem
jeito. — Então eu saí da linha. Mas parecia mais ou menos... óbvio, sabe?
Rowan fechou os olhos. — Mas você nunca pegou um nome? Nunca... viu
alguém?
— Oh, não. Nada disso. — Um telefone tocou no lado de Shoshanna. — O
que significa que pode não ser nada. Quer dizer, eu tenho certeza que não é nada.
— Ela engoliu em seco. — Poppy era realmente uma boa chefe. Eu não quero que
você pense que eu já, eu não sei — vendi essas informações.
— Claro que não — disse Rowan, embora ela ainda não tivesse pensado
nisso.
Ela agradeceu a Shoshanna, depois desligou e entrou no restaurante em
transe. Lá estava, provavelmente, a maior prova que Rowan poderia ter de que
Poppy não era quem Rowan tinha pensado que ela fosse. Mas tão doloroso como
a revelação de Shoshanna era, também era libertador. Ficar longe de James
significava estar sendo fiel a um fantasma que não tinha sido fiel a James. Poppy
tinha seguido em frente e encontrou o amor em outro lugar, e agora talvez James e
Rowan poderiam encontrar também.
Corinne acenou para ela de uma mesa nos fundos, e Rowan acenou de
volta e passou através da sala de jantar para chegar até ela. Um iPad carregado
com fotos estava na frente de sua prima; Corinne estava buscando por fotografias
para mostrar em seu casamento. Quando Corinne viu a expressão de Rowan, ela
inclinou a cabeça. — Aconteceu alguma coisa?
Rowan explicou sua conversa com Shoshanna. — Então, talvez Poppy e
quem quer que seja o cara tenham se reunido em uma suíte no Mandarin — ela
concluiu.
— Hum — disse Corinne baixinho, embora ela não demonstrasse ter
acreditado muito. — Eu me pergunto quem poderia ser.
— Não tenho ideia — disse Rowan.
— Você vai dizer a James?
— Eu já lhe disse o que Danielle contou. — Rowan correu o dedo ao longo
de um sulco na mesa de madeira. Ela finalmente mencionou sua conversa com
Danielle quando ela dormiu na casa dele na noite passada. — Bem, isso prova algo,
então — ela disse.
James queria deixar isso de lado; deixe as mentiras para lá, ele disse. Eles
tinham um ao outro agora. Mas Rowan não podia deixar pra lá. E se o assunto
tivesse algo a ver com a morte de Poppy?
Uma garçonete colocou dois copos com o malbec favorito de Corinne e
Rowan em cima da mesa, tirando Rowan de seus pensamentos. — Então. Como
está a seleção de fotos?
— Ah — disse Corinne miseravelmente, folheando algumas imagens.
— E quanto a esta? — Rowan apontou para uma fotografia de Corinne e
Dixon alguns anos depois que eles se conheceram na Universidade de Yale. Eles
estavam em uma festa em Kentucky Derby — Corinne estava usando um chapéu
enorme, e Dixon estava bebendo de uma taça de prata. — É muito bonita —
acrescentou Rowan.
Corinne sacudiu a cabeça. — Eu estou terrível nessa.
Ela passou para outra foto perfeitamente boa, rejeitando-a também. Em
seguida, outra. Finalmente, ela deixou escapar um longo suspiro e passou os dedos
pelo cabelo. Rowan pensou sobre o que Corinne tinha confessado na casa de
praia.
Rowan pôs as mãos em cima do iPad e deu a sua prima um olhar longo e
sério. — Querida. O que você vai fazer?
Corinne deu um suspiro e depois deixou cair a testa na mesa. Seu cabelo
estava repartido em uma linha que dividia sua cabeça em dois lados. — Eu vou me
casar — disse ela em uma voz abafada.
— Você quer se casar?
— Claro.
— As pessoas vão te perdoar se você não fizer isso, sabe.
Corinne olhou para cima, sua boca torcida. — O que você acha que Poppy
faria?
Rowan traçou seu dedo ao redor da parte superior do copo de vinho. —
Eu honestamente não sei — disse ela em uma voz distante. — Eu me sinto como se
ela fosse uma estranha agora.
— Eu sei. — Corinne engoliu em seco. — Primeiro nós perdemos Poppy...
e então perdemos o que pensávamos que Poppy era. Eu sinto que tenho de rever
toda a minha história com ela. — Um olhar torturado atravessou seu rosto, mas
então ela suspirou e pareceu deixá-lo ir. Ela olhou para o iPad de novo e sorriu
tristemente para algo na tela. — Oh.
Rowan olhou para baixo também. A foto seguinte era de James. Ele estava
sozinho no pátio em Meriweather, vestindo um blazer. Rowan lembrava daquele
blazer — logo depois que ele tinha reservado a casa naquele verão, ele chegou em
seu apartamento na cidade com uma sacola da Brooks Brothers. — As pessoas
realmente se vestem assim lá? Ou eu vou parecer um idiota?
Rowan tinha bufado. — Você está me pedindo conselhos de moda?
James riu. — Bom ponto, Saybrook. Você é tão desesperada como eu. —
Mas ele lhe lançou um olhar amistoso, como se dissesse, Nós estamos nisso
juntos.
Ela pegou o telefone de sua bolsa e verificou a tela. Ela enviou um SMS
para James mais cedo dizendo Eu sinto sua falta, mas ele não tinha respondido.
Haveria uma reunião de pais e professores de Skylar esta noite, e ela queria saber
como ele estava lidando.
— Você sabe, eu realmente estou feliz por você — Corinne murmurou
baixinho.
Rowan olhou para cima e tocou a mão de sua prima. — Obrigada. Mas
você não tem que estar. Eu sei que é estranho.
Corinne deu de ombros. — No grande esquema das coisas, depois de tudo
o que aprendemos, isso não é nada. — Ela tocou a haste de sua taça de vinho. —
Não houveram mais postagens sobre... o vídeo on-line?
Rowan sacudiu a cabeça. — Não, mas eu ainda não entendo quem poderia
ter conseguido isso do meu computador — disse ela, preocupada.
Corinne assentiu. — Você acha que foi alguém no trabalho?
— Talvez — disse Rowan. — Mas... — Então ela parou, notando algo do
lado de fora. Um homem que parecia exatamente com James estava caminhando
por ali. Mesma altura, mesma constituição física, mesma cor de cabelo. Mas a
escola de Skylar era no caminho oposto. Então ela deve ter se enganado.
Mas então ela o viu novamente nas janelas ao longo da parede oeste do
edifício. Era definitivamente James. Sua cabeça estava abaixada, e ele estava
digitando algo em seu telefone. Por instinto, Rowan olhou para seu próprio
telefone, antecipando um SMS, mas nenhum chegou.
— O que foi? — perguntou Corinne, notando que Rowan tinha inclinado
para a frente para ter uma visão melhor.
James tinha parado e estava olhando para algo do outro lado da rua. Ele
deu alguns passos para a frente, aparentemente em direção a alguém. Havia um
sorriso em seu rosto. A pele de Rowan arrepiou. Ela reconheceu aquele sorriso.
Ela se levantou da mesa, batendo o joelho no fundo da mesa. — Onde
você está indo? — Corinne gritou.
— Eu volto em um segundo — Rowan gritou por cima do ombro. Ela só
iria sair pela porta e ver quem era. Pelo que ela sabia, poderia ser Skylar; talvez ela
tivesse entendido mal alguma coisa.
Ela passou pelo bar e saiu pelas portas duplas para a rua, quase
derrubando um homem de negócios que ia na outra direção. Seus saltos batiam
forte na calçada enquanto ela caminhava até a esquina e olhava para a rua, mas
James não estava mais lá. Rowan hesitou, então caminhou alguns passos até a rua;
talvez ele tivesse virado em alguma esquina. Ela examinou pelas lojas na avenida:
uma delicatessen suja, uma farmácia Duane Reade, e uma dessas lojas de quadros
de Nova York que vendiam as mesmas cinco obras de Monet.
E então, lá estava ele, de pé na entrada do Dream Downtown. Uma
mulher de cabelo escuro em um vestido sem mangas segurava a mão dele, e os
dois caminharam em direção às portas giratórias. O estômago de Rowan capotou.
Quando a mulher inclinou a cabeça na direção dele e afastou uma mecha de
cabelo de seu rosto, Rowan percebeu que ela conhecia muito bem aquela mulher.
Era Evan Pierce. A organizadora do casamento de Corinne. Amiga de Poppy.
Rowan foi de repente para o lado deles sem sequer se dar conta de como
chegou lá. Evan olhou primeiro. — Oh! — ela disse agradavelmente. — Olá, Rowan.
James parou ao ouvir o som de seu nome. Ele largou a mão de Evan, mas
não se afastou dela. — Rowan — ele disse, com a voz tensa. — Merda.
Eles pararam em frente da porta giratória; um fluxo de pessoas teve de se
que espremer em torno deles para entrar no edifício. Mas Rowan não podia se
mover para fora do caminho. — Você não está com Skylar — foi a única coisa que
ela conseguia pensar para dizer. Ela odiava o quão fraca sua voz soou.
James deu um passo adiante. — Eu sei. Mas eu posso explicar.
Rowan se afastou de seu toque. Evan cruzou os braços sobre o peito,
estudando James, intrigada. — Está tudo bem?
Mas Rowan manteve seu olhar em James. — Ok, então. Explique. —
Talvez eles estivessem ali para uma reunião de negócios. Talvez Evan quisesse
criar um aplicativo de planejamento de casamento. Talvez...
Os olhos de James se lançaram para trás com culpa. Ele mudou de
posição e passou a mão pelo cabelo. O coração de Rowan afundou. Ela
reconheceu este olhar também. Ela tinha passado por isso inúmeras vezes quando
James trazia uma garota para uma festa e saia com outra.
Mas ela nunca pensou que ele iria fazer a mesma coisa com ela.
— Jesus — ela gritou, sentindo uma casca dura se formando em torno dela.
Então ela se virou em direção à rua, de repente desesperada para escapar.
— Rowan! — James gritou, correndo atrás dela. — Espere! Por favor!
Sua caminhada se tornou uma corrida. Ela correu até o fim da rua, com
os olhos borrados com lágrimas vergonhosas. Idiota, uma voz dentro dela ecoava.
E ela pensou que James havia mudado. Era revoltante o quão surpreendida ela se
sentiu, quando na verdade, ela deveria ter sentido isso ocorrendo a quilômetros de
distância.
— Rowan! — a voz de James avançou pela rua.
Ela caminhou pelo centro da cidade, concentrando-se em um ponto à
frente e nada mais. Se ela parasse de andar, ela pensou, ela poderia desabar. Se ela
parasse de andar, ela poderia começar a pensar sobre o que tinha acontecido. E
ela poderia desmoronar.
— Rowan! — James gritou, a meio quarteirão de distância. — Rowan, volte
aqui!
Suas palavras caíram sobre ela. Ela pensou em um milhão de coisas
horríveis que ela poderia dizer a ele, mas ela não podia se imaginar nem mesmo
olhando para ele naquele momento. Então ela pegou o ritmo, saindo da avenida e
correndo em ziguezague por uma rua lateral. Dois pequenos quarteirões mais
tarde, ela percebeu que a voz de James havia cessado. Ela olhou por cima do
ombro, e James tinha desaparecido. Ela estava cheia em parte com satisfação e em
parte com aversão. Ele não tinha sequer se preocupado em segui-la.
Ela virou uma esquina para uma rua que ela não reconhecia. Matadouros
abandonados pairavam acima dela como carcaças de ferro velho. Rowan ouviu
sons de tráfego, mas sua cabeça estava girando tão loucamente que ela não poderia
dizer para qual caminho a Avenida Tenth ficava. Seu coração começou a bater
acelerado. Como é que ela não tinha ideia de onde estava em sua própria cidade
natal?
Ela correu, seus calcanhares torcendo, seus braços amortecidos. Quando
ela desceu de um meio-fio, seu tornozelo virou. Ela sentiu seu corpo no ar e
gritou. Seu joelho bateu na rua de tijolo primeiro, e depois o cotovelo. Uma dor
quente atravessou seu corpo, e ela levantou tão rápido quanto podia. Mas então
ela sentiu uma onda de vento a esquerda, e uma buzina soou em seu ouvido. Os
faróis estavam mirando para ela e ela virou a cabeça.
— Rowan! — alguém gritou atrás dela, e ela sentiu uma força puxando-a
para trás.
Ela tropeçou em cima do meio-fio novamente enquanto um táxi passava
rapidamente, e o motorista ainda apertou sua buzina. — Oh meu Deus! — Corinne
gritou, girando em torno de Rowan e olhando em seus olhos. Ela puxou Rowan
para perto e jogou os braços ao redor dela.
— Esse carro veio do nada — Rowan sussurrou, sentindo seu coração bater
contra sua caixa torácica. Ela olhou para a rua vazia. As lanternas traseiras do táxi
desapareceram em um canto. Graças a Deus sua prima estava lá.
Rowan começou a soluçar baixinho. Corinne poderia ter sido capaz de
salvá-la de uma colisão frontal, mas quem iria salvá-la da queda livre de um
coração partido?
19
Traduzido por Matheus Martins

C
orinne atravessou as portas do seu prédio. — Senhorita Saybrook! — seu
porteiro a chamou. Corinne virou cautelosamente. Ele estava segurando
uma pasta de arquivo grande em sua mão. — Para você. De uma ruiva.
Corinne avançou e pegou dele, dizendo obrigada. “Turquia—Novas
Contratações” dizia em uma letra arredondada na frente. Ela desfez o fecho e tirou
alguns currículos gordos. Havia um Post-it rosa no topo. — Desculpe te chatear
com o trabalho, mas eu preciso disso aprovado para amanhã. Obrigada, Danielle.
— Ela está solteira? — Markus perguntou depois que ela caminhou para o
elevador.
Corinne enfiou os arquivos em sua bolsa. — Eu acho que não — ela falou
por cima do ombro. Ela lembrou-se de Danielle trazendo um homem atraente
chamado Brett Verdoorn para a festa de Natal do ano passado.
Ela abriu seu apartamento e jogou as chaves na enorme ilha de mármore
da cozinha. Dixon, ainda em seu terno de trabalho e mocassins, estava sentado na
sala, a TV piscando contra o seu rosto. Quatro jogadores estavam sentados em
uma mesa de pôquer, comprando cartas com o distribuidor. Corinne fechou as
gavetas e portas dos armários da cozinha, suspirando alto quando percebeu que
Dixon havia deixado uma tigela suja de sorvete derretido na pia de porcelana — ele
não podia nem lavar um prato? Ela abriu a geladeira e a fechou de novo, odiando
seu conteúdo. Ela tirou os sapatos e não se importou quando eles foram
deslizando pelo chão de mármore.
— Ei, querida — ele gritou agradavelmente, então passou um braço sobre o
sofá e inclinou o pescoço para trás para obter uma visão dela. — Onde você
estava? Mais coisas do casamento?
Corinne se sentou ao lado dele, irritada que ele não parecia sentir sua
aflição. — Eu acabei de ver uma coisa horrível — ela falou.
Dixon cruzou os braços sobre o peito. — Algo em um site?
— Não. Pior. — Corinne disse a ele sobre encontrar James com Evan. —
Eu só espero que Rowan esteja bem. Ela não está atendendo.
— Espere, espere. Evan Pierce? Puta merda. — Dixon começou a
desapertar as abotoaduras. — Quero dizer, isso é foda. Mas por que Rowan se
importa mais do que o resto de vocês?
Corinne mordeu o interior de sua bochecha. Às vezes, ela esquecia o
quanto ela não disse a Dixon. — Eles estavam juntos.
A boca de Dixon caiu aberta. — Espere um minuto. James é o cara no
vídeo? — Ele pegou seu gim tônica sobre a mesa lateral ao lado do sofá. Uma fatia
de limão balançava alegremente em cima. — Quero dizer, isso não é meio
estranho? Dar em cima do marido de sua prima morta? — Ele levantou uma
sobrancelha para Corinne.
— Dixon. James é o único culpado nisso — disse Corinne. — Eles estavam
consentindo como adultos — Rowan não estava dando em cima de ninguém.
Dixon riu. — Ela com certeza parecia no comando naquele vídeo.
— Ela é minha prima, Dixon. Você assistiu mesmo aquilo?
Dixon deu de ombros, bem-humorado. — Eu e o resto da América.
Corinne fechou os olhos, se esforçando para deixar o comentário passar.
— Ele está dormindo com outra pessoa. A melhor amiga de Poppy... e
nossa planejadora de casamento. — Ela esfregou as têmporas, de repente
percebendo uma coisa. — Isso significa que eu deveria demiti-la? Eu
provavelmente deveria, não deveria?
— Ei, ei, ei. — Dixon levantou a palma da mão. — Nós não vamos demitir
Evan. O casamento é na próxima semana.
Corinne levantou-se e caminhou até a grande lareira na parte de trás da
sala. Ela não sabia por que estava tão indignada. Ela traiu Dixon. Ela, de todas as
pessoas, sabia como era fácil de fazer. Como isso poderia simplesmente acontecer.
— Você está agindo como se ninguém tivesse feito nada de errado, exceto
Rowan. E quanto a James? Pelo menos me diga que o que ele fez é terrível. Pelo
menos me dê isso. — Mesmo quando ela ouviu as palavras saindo de sua boca, ela
sentiu como se estivesse em um jogo, fazendo o papel de Corinne Saybrook.
Dixon tomou um gole de seu coquetel. — James não foi sempre um
galinha? Caras como ele nunca mudam.
Seu olhar voltou para o pôquer quando um dos jogadores — um garoto
aparentemente convencido em um moletom — ganhou uma rodada e pegou um
monte de fichas. Corinne apertou as mãos contra a lareira de mármore frio e
tentou respirar, mas havia um fogo queimando em seu peito.
— Então é assim que você raciocina? — ela perguntou com a voz trêmula.
— Rowan deveria ter pensado melhor, por isso é culpa dela.
Dixon colocou a taça de volta para baixo. — Por que você está querendo
brigar comigo?
— Eu não estou. Eu só...
— Espere, espere. — Dixon levantou a mão, apontando para algo na tela.
Os jogadores estavam dando novos lances.
Corinne engoliu um grito e saiu da sala. Ela contou até cinco, mas Dixon
não a seguiu. Ela sentou-se em uma das cadeiras de espaldar alto e colocou as
mãos no colo. Mas a cadeira não era confortável. A multidão aplaudiu na TV no
outro cômodo. Dixon aplaudiu exuberantemente.
Corinne sabia o que iria acontecer: em poucos minutos, ele iria vir aqui e
dizer, — Ei, vamos sair — em uma tentativa de acalmá-la. E então eles iriam a
algum lugar barulhento e caro, e eles não iriam falar sobre a discussão, porque eles
nunca falavam sobre suas discussões, assim como eles nunca conversavam sobre
alguma coisa realmente.
De repente, isso a atingiu: o tempo todo que eles estavam namorando, ela
estava esperando que ele tornasse aquilo sério. Não sério como eu-quero-casar-
com-você, mas sério em sua própria pele. Amadurecer o suficiente para ter
discussões reais. Adulto o suficiente para querer passar toda uma noite a sós com
ela, em vez de convidar todo mundo, como se eles ainda estivessem na faculdade.
Quanto mais, melhor? Talvez fosse porque ele não tivesse nada para lhe dizer.
E talvez ela concordava com ele porque ela não tinha nada a dizer a ele,
também.
Ela se levantou e apertou as mãos na janela como um prisioneiro em uma
cela, observando os semáforos na Quinta Avenida mudarem de vermelho para
verde, para amarelo, para vermelho, para verde, para amarelo, as pequenas mãos
de não-ultrapasse piscando num ritmo perfeito. Era lindo, na verdade. Uma
minissinfonia de luzes abaixo de sua janela, e ela nunca tinha notado isso antes.
Você não quer viver uma vida honesta?
O rosto de Will apareceu diante dela, e subitamente, ela achou que podia.
Ela sentia-se mais forte, de repente, como se ela pudesse romper com o molde do
que ela deveria ser. Poppy tinha quebrado esse molde, ao que parecia — assim
como Rowan, Aster e certamente Natasha. Parecia como se todas elas tivessem
quebrado um contrato importante que cada mulher Saybrook deveria defender.
Elas deveriam ser fieis e íntegras. Elas deveriam dar o exemplo.
Por que ela tinha que carregar a tocha por todas elas? De repente, não
parecia justo. E talvez Rowan estivesse certa: a sua família iria perdoá-la por
romper com Dixon. Talvez não amanhã, mas o fariam — eventualmente. Ela era
forte o suficiente, ela percebeu, para enfrentar a tempestade. Porque ela teria Will.
Mas viver uma vida honesta significava confessar tudo, também. Corinne
respirou fundo, ousando considerar o que isso significava. Ela imaginou o rosto de
Will quando ela lhe contasse toda a verdade. Imaginou as perguntas que ele faria.
Ela imaginou o que ele diria — ou não diria. Ela tinha de reconhecer que ele
poderia não querer falar com ela novamente. Mas se ela queria que eles tivessem
uma chance, ela teria que revelar tudo.
Ela só tinha que fazer uma coisa primeiro.
20
Traduzido por Matheus Martins

S
ábado de manhã, Áster entrou no saguão do prédio de Elizabeth, usando
um chapéu floppy, um cafetã cor de areia e sandálias douradas. Estava um
dia escaldante, e Clarissa a convidara para a SoHo House mais tarde. Aster
continuou tentando reunir alguma excitação sobre ir — normalmente ela amava as
tardes de verão na SoHo House, sentada à beira da piscina no último andar
bebendo rosé gelado. Mas ela ainda estava irritada com a completa indiferença de
Clarissa com o que estava acontecendo com a sua família. Alguém tinha matado
Poppy e tentou matar o resto delas, e ela deveria se sentar lá e falar sobre Jake
Gyllenhaal e se ele gostava de loiras ou morenas?
Respirando fundo, ela deu seu nome para o porteiro e disse que estava
aqui para ver Elizabeth.
— Ela está esperando por você? — ele perguntou.
— Eu sou assistente dela. — Aster deslocou-se nervosamente, perguntando
se isso era uma má ideia. E se Elizabeth não estivesse em casa? Mas, depois de se
agitar e revirar toda a noite passada, assombrada por pesadelos sobre o site
estúpido e suas manchetes, Aster tinha acordado determinada a obter algumas
respostas.
O porteiro pegou o telefone, e depois de um momento, ele deu um aceno
de cabeça para Aster.
— Você pode subir.
Respirando fundo, Aster entrou no elevador e esperou todo o caminho
até o apartamento, olhando para o seu reflexo nos espelhos na parede inteira que
ladeava o elevador. Algo brilhou em sua visão periférica, mas quando ela se virou,
o elevador estava vazio. Ela alisou seu cabelo. Ela precisava parar de ficar tão
nervosa.
As portas se abriram, e Aster entrou timidamente no interior. Ela tinha
deixado inúmeros pacotes para Elizabeth no lobby, mas nunca tinha estado
realmente no apartamento antes. Havia uma cozinha em design gourmet à
esquerda de Aster, feita em pedra exótica e madeira escura. Havia uma sala de
estar cheia de móveis angulares de aparência moderna e um fogão de bronze
intimidante pendendo do teto como uma língua. Vistas deslumbrantes da cidade
saudavam das enormes janelas. Em uma parede havia uma grande exposição de
fotografias de Elizabeth e Steven juntos: os dois andando pela nave da igreja no dia
do casamento, em frente à Torre Eiffel e em trajes de banho em uma praia
tropical. Sobre a lareira havia a mesma fotografia de casamento que Elizabeth
mantinha em seu escritório.
Elizabeth saiu de um de seus quartos, vestida com um robe de seda longo
e chinelos Louis Vuitton, e com uma toalha de banho enrolada na cabeça.
Aster corou. — Oh, eu sinto muito. Eu deveria ter ligado antes.
— Sim, você deveria — disse Elizabeth. — Eu só estava me dando um
tratamento facial. Mas já que você está aqui, você pode me dizer por que você
veio. Esse chapéu é horrível, por sinal — ela acrescentou, voltando para o quarto.
É um Hermès, Aster queria dizer. Mas em vez disso, ela apenas tirou o
chapéu e colocou-o cuidadosamente sobre o balcão da cozinha.
Ela seguiu Elizabeth para o quarto enorme, onde uma cama king-size
extragrande feita toda em branco presidia o espaço. Perto da janela havia três
cadeiras de cor hortelã-verde e uma mesa lateral antiga. Havia um carrinho cheio
de produtos de pele pousado em um tapete Oriental, assim como uma grande
máquina com o que parecia uma mangueira de vácuo saindo de uma grande caixa
branca. Elizabeth se estabeleceu na cadeira, esguichou loção nas mãos, e começou
a massageá-la em seu rosto.
— Então, o que você quer esta manhã, Aster? — ela perguntou. — Você
está aqui para pedir demissão?
Aster olhou para fora das janelas do chão ao teto. Ela podia ver
diretamente os apartamentos através do pátio. Qualquer um poderia olhar e vê-la,
e ver Elizabeth também.
Aster empoleirou-se à beira da cadeira em frente a sua chefe.
— Desculpe desapontá-la, mas não. Eu estava na verdade pensando se
você poderia responder uma pergunta para mim. Sobre... seu marido.
Elizabeth levantou uma sobrancelha, mas não disse nada. Aster tomou
isso como permissão para continuar.
— Eu queria saber se ele poderia ter tido um caso com alguém na
mesma... na mesma época que ele esteve comigo. — Ela olhou para o tapete.
— Sabe, o ciúme não combina com você — Elizabeth repreendeu.
Aster ignorou a investida. — Eu só... com tudo isso ligado a investigação do
assassinato de Poppy, eu pensei que poderia ser importante. E se quem a matou
era alguém próximo de Steven? E matou Poppy por vingança?
— Se alguém queria vingança pela morte de Steven, por que eles iriam
esperar cinco anos para empurrar Poppy pela janela? — perguntou Elizabeth. A
máquina apitou, e ela moveu o bastão facial em sua testa quando começou a
zumbir. — Alguém poderia ter feito isso no dia seguinte.
— Eu sei que não faz sentido. Mas talvez essa pessoa não tivesse certeza
que Poppy matou ele. Talvez ela tenha encontrado uma peça final do quebra-
cabeça ou algo assim. Talvez você tenha dito a outra pessoa o que você viu?
Uma buzina soou fora da janela. Elizabeth fez um gesto para a máquina
facial.
— Microdermoabrasão. — Ela suspirou. — Facas minúsculas estão
queimando todas as minhas células mortas da pele. Eu adoro pensar nisso assim.
— Olha, você sabe alguma coisa ou não? — Aster perguntou, tão
impaciente quanto ela ousava.
Elizabeth apertou os lábios. — A única coisa que posso dizer é que o meu
marido tinha uma queda por garotas de idade universitária da cidade. Elas
olhavam para ele como se ele fosse um deus. Ele adorava isso. Às vezes, eu
encontrei coisas que elas deixavam pra trás — etiquetas com nomes de
lanchonetes, batons de farmácias, um apito de salva-vidas, até mesmo um holerite
uma vez. Entrei na loja de chocolates na Main Street, e essa coisinha loira
caminhou para os fundos. Foi quando eu soube que Steven tinha ficado com ela
também.
Aster olhou para as fotos de Steven sobre a lareira. Ele parecia estar
sorrindo para elas. A ideia de que ela esteve com ele de repente a fez ter náuseas.
— E você nunca disse nada a ele? — ela perguntou.
— Por que eu deveria me importar? Antes elas do que eu. — Elizabeth
olhou atentamente para Aster. — Steven não tinha um saco muito grande, como
você sabe — ela acrescentou incisivamente.
Aster corou. — Ninguém merece ser enganada.
Elizabeth virou a mangueira de volta e vasculhou o queixo.
— Isso é muito profundo, vindo de você. — Ela suspirou. — Além disso,
tínhamos feito um acordo pré-nupcial. A maneira como Poppy fez foi muito mais
limpa.
— Nós não sabemos com certeza se Poppy o matou.
Elizabeth bufou. — Sim, querida. Nós sabemos.
O sol saiu de uma nuvem, enviando um raio de luz através das janelas. —
Você disse alguma coisa antes sobre Poppy ter um segredo. Você acha que isso é
verdade?
Elizabeth sorriu conscientemente. — Steven costumava dizer que as
Saybrooks nascem mentirosas.
— Você sabe o que ele quis dizer com isso? Especificamente, eu quero
dizer?
Elizabeth olhou para ela por um longo tempo. Aster vacilou, antecipando
um grande golpe, mas Elizabeth simplesmente se levantou e tirou a toalha da
cabeça. Sua pele brilhava. Seus cabelos molhados escorriam de seus ombros. Ela
pegou um copo de água na mesa e tomou um longo gole, lentamente.
— Sabe, agora que você mencionou, havia uma garota que parecia que
faria qualquer coisa por ele — disse ela.
— Você sabe onde ela trabalhava? Ou seu nome, talvez?
Elizabeth fechou a toalha na mão. — Eu nunca perguntei. Mas eu não
perderia meu tempo se fosse você, querida — eu não acho que a ex-namorada
desprezível do meu marido matou sua prima. Pessoalmente, eu acho que foi um
trabalho de dentro.
— Dentro... de onde?
Elizabeth sorriu levemente. — Dentro da família. — Ela então pegou
delicadamente o braço de Aster e levou-a até a porta. — Hora de ir agora.
— O que você quis dizer? — Aster perguntou, aproveitando que a porta
ainda estava aberta. — Por que você disse isso?
Elizabeth praticamente empurrou-a para fora. — Meu psiquiatra chegará
em poucos minutos. — Ela jogou o chapéu de Aster em seu peito. — Meu
conselho, querida? Vá perguntar ao seu pai. — Ela piscou. — Você não pode ser a
garota do papai para sempre.
21
Traduzido por Lua Moreira

S
egunda-feira, Rowan distraidamente esbarrou o joelho machucado em um
cubículo construído recentemente e, em seguida, caiu em prantos. Nem
sequer machucou tanto; pareceu apenas outro acidente em uma série de
muito, muito azar.
— Deus, isso é tão assustador — Jessica, uma das assistentes jurídicas,
sussurrou enquanto Rowan se arrastava ao seu escritório. — Duas Saybrooks em
duas semanas.
— Natasha ainda não acordou — Callie, uma segunda assistente, continuou.
— Elas são totalmente amaldiçoadas.
— Ela ainda está no hospital em Massachusetts? — Jessica mexeu o café, a
colher tilintando contra a cerâmica.
— Não, eu ouvi que eles a transferiram para algum lugar da cidade. Lenox
Hill, talvez?
Beth Israel, Rowan queria corrigi-la quando ela se sentou em sua mesa.
Natasha tinha sido transferida para lá alguns dias antes, para que estivesse mais
perto de sua família. Rowan a tinha visitado ontem, sentando ao lado da cama e
olhando para o rosto plácido de Natasha. Algumas vezes as pálpebras mexiam, e
ela virava a cabeça um pouco, como se estivesse acordando de um sonho. Rowan
se levantava com ansiedade. Ela vai acordar, e eu vou arrancar a verdade dela, ela
tinha pensado. Mas, então, as feições de Natasha se acalmaram e ela pareceu
escorregar de volta para o escuro, bem incognoscível, com seu segredo trancado.
Rowan colocou a cabeça entre as mãos. Não era apenas com Natasha que
ela estava chateada. Era algo muito mais trivial: coração partido. Mas era ridículo.
Claro que James a tinha traído. Ela tinha um lugar na primeira fila para suas
traições dezenas de vezes. Ela sempre ria daquelas meninas idiotas que achavam
que havia algo real entre eles. Mas ela era a garota mais estúpida de todas. Ela
pensou que ele tinha mudado, que Poppy tinha mudado ele. Mas ele traiu Poppy
com ela. O que mais ele tinha feito?
Respirando fundo, ela rolou sua cadeira para trás, abriu uma gaveta de
arquivo, e encontrou uma pasta marcada com “Saybrook-Kenwood.” Dentro havia
o acordo pré-nupcial entre Poppy e James que ela ajudou a elaborar anos atrás.
Ela folheou-o lentamente. Como previsto, James não iria receber nada do
espólio de Poppy se eles se divorciassem. Nem um centavo de seu enorme fundo
fiduciário. Nem um dólar de seus ganhos consideráveis como presidente da
Saybrook. Rowan tinha discutido com Poppy sobre isso quando estavam fazendo
o acordo pré-nupcial juntos. — Isto é excessivamente brutal — ela advertiu Poppy.
Ainda assim, Poppy foi firme: a família tinha trabalhado muito duro para
qualquer parte de sua fortuna simplesmente ser doada. Rowan tinha sido a
portadora das más notícias para James, mas ele tinha lidado muito bem. — Eu não
estou com Poppy pelo seu dinheiro — ele disse simplesmente.
Mas se Poppy morresse — quando Poppy morresse — ele teria tudo. Não
era impensável que um marido traidor iria querer construir uma nova vida para si
mesmo. Não era improvável que alguém fizesse qualquer coisa para tornar isso
uma realidade, tampouco.
Será que James faria?
Rowan esfregou os olhos. É claro que ele não faria. Além disso, James
tinha um álibi: o apartamento de Rowan. Ela saiu antes dele, e no momento em
que ela chegou ao centro, Poppy já tinha caído.
O ar-condicionado zumbia, soprando um pedaço de papel para fora da
abertura. Rowan abriu seu e-mail e tentou trabalhar, mas sua mente ainda estava
zumbindo. Ela se sentia insatisfeita.
Ela voltou para a primeira manhã que ela e James estavam juntos. E se
James não tivesse permanecido em seu apartamento, como ela pensava? E se ele
tinha escapado quando ela não estava olhando? Ela parou para comprar café
naquela manhã. Esperou um longo tempo na fila, e então comeu no parque. Ele
poderia ter saído sem que ela visse. James poderia ter levantado assim que ela saiu,
vestido as roupas, e chegado a Saybrook a tempo. Era possível.
Horrível, impensável, mas possível.
Ela pegou o telefone em sua mesa e discou o número de seu apartamento,
com o coração batendo contra suas costelas. Harvey, seu porteiro, respondeu em
uma voz animada, e depois que Rowan se identificou, ela perguntou, — Eu estou
querendo saber se você poderia olhar quando alguém saiu do meu apartamento
em um determinado dia. Você mantém as fitas de vigilância, não é?
— É claro — disse Harvey. — Que dia que você gostaria que eu verificasse?
Rowan deu a data da morte de Poppy. Se Harvey sabia o seu significado,
ele não deu nenhum indício. — E quem estamos procurando, e por volta de que
horas? — ele questionou.
— Um homem alto, cerca de trinta anos — Rowan disse a ele. — Cabelo
ondulado, meio comprido. Camisa listrada. Jeans escuro. Em algum momento da
manhã, depois das seis e meia.
Harvey disse que iria procurar por ele e que telefonaria de volta, pedindo
um número para que ele pudesse ligar. Ela deu seu celular. Então ela desligou,
pressionando o receptor profundamente no gancho, sua mente paralisada.
— Toc toc?
Rowan disparou para cima. James estava na porta.
— O-o que você está fazendo aqui? — ela gaguejou, saltando de forma tão
abrupta que derrubou uma caneca de café vazia.
James inclinou-se para pegá-la, uma vez que rolou pelo tapete. — Eu quero
explicar.
Rowan pensou na conversa por telefone que ela tinha acabado de ter e
estava ciente do acordo pré-nupcial em seu colo. Em seguida, outra coisa veio-lhe
à mente: Minha esposa era a presidente, James tinha dito a última vez que ele
tinha inesperadamente aparecido no escritório dela. Eles apenas acenaram para eu
entrar. Teriam acenado para ele na manhã em que Poppy morreu também? O
nome dele não estaria em uma folha de assinatura. Não haveria nenhuma
evidência de ele ter entrado no edifício.
— Na verdade, eu acho que você deveria sair — ela disse duramente,
tentando mascarar a instabilidade que ela sentia.
James se jogou no sofá. — Saybrook.
— Não me chame assim — Rowan quase gritou, cobrindo os olhos. — Pelo
menos não agora.
— Rowan, eu cometi um erro. — Ele se inclinou para a frente. — Eu quero
ficar com você. Realmente e verdadeiramente. É você quem eu quero.
Sua voz falhou. Rowan estudou-o com mais cuidado. Seu cabelo estava
despenteado, sua pele estava pálida, as linhas ao redor da sua boca pronunciadas.
Isso lhe deu uma pontada de culpa, mas depois ela endureceu. Ele merecia se
sentir terrível. E por tudo o que ela sabia, era apenas fingimento.
— A coisa com Evan... foi ao acaso — James continuou quando Rowan não
respondeu. — Ela veio ao apartamento na outra noite para pegar um casaco que
ela tinha deixado lá. Começamos a conversar, tinha um par de bebidas, e... — Ele
estufou as bochechas e respirou. — Eu não sei como isso aconteceu. E eu nunca
quis que isso acontecesse uma segunda vez.
— Você deve ter meio que desejado que isso acontecesse — disse Rowan,
antes que pudesse se conter. — Porque você e Evan estavam entrando em um
hotel, James. Eu não sou uma idiota.
James se levantou e caminhou em direção a ela. Ele se inclinou e colocou
a mão sobre a mesa. — Diga-me que o que tínhamos não significou nada.
Rowan fez o possível para desviar o olhar. — Eu não quero falar sobre isso
agora.
— Bem, eu falo. — A voz de James estava mais alta agora. — Eu sou louco
por você, Saybrook. Eu sei que você é louca por mim. — Ele se inclinou para
frente, com os olhos arregalados. — Eu já perdi Poppy. Eu não posso te perder.
— Por favor. — Rowan se inclinou para longe dele. — Eu preciso que você
vá embora.
James deu um passo em torno de sua mesa, em direção a sua cadeira. Em
pânico, Rowan girou a cadeira de modo que ele não pudesse ver os papéis,
cobrindo o topo da página com a mão. — Não se afaste de mim — ele suplicou,
pegando a parte de trás da cadeira e virando-a de frente para ele.
Os papéis caíram com a força repentina; Rowan se esforçou para mantê-
los no colo, mas alguns deslizaram para o chão. James inclinou a cabeça, seu olhar
flutuando em direção ao tapete. O nome dele estava no topo da página. Em
negrito. Um momento passou. O relógio Nelson no canto em forma de estrela
tiquetaqueava muito alto. Rowan quase pôde detectar o momento exato em que
James percebeu o que ela estava escondendo.
— O que você está fazendo com isso? — disse James em uma voz firme
que Rowan nunca tinha ouvido antes.
— Nada — disse Rowan rapidamente, pegando e empurrando os papéis
para trás.
Ele se atirou para a frente para pegar os papéis. Bloqueando-o com seu
corpo, Rowan empurrou-os em uma gaveta da mesa e a fechou com força. A testa
de James franziu. Ele se inclinou sobre ela para puxar a maçaneta, metade de seu
peso sobre ela.
— Ei! — Rowan gritou, empurrando-o. — Isso é confidencial!
James se inclinou para ela novamente, seus olhos brilhando. — Eu pensei
que éramos mais próximos do que isso.
— Nós não somos mais um nós — Rowan disse com firmeza, empurrando-
o de cima dela mais uma vez. — Como eu disse antes, James. Vá embora.
Lentamente, James se levantou, sem tirar os olhos de cima dela. Sua
mandíbula estava apertada, e suas narinas alargadas. Havia algo contido e tenso
sobre ele, como se ele fosse uma cobra pronta para atacar. Terror deslizou sobre
ela. Talvez ele tenha vindo aqui para testar as águas. E agora, com ela pegando o
acordo pré-nupcial, agindo de modo estranho, ele sabia que ela suspeitava dele.
Rowan pensou na varanda fora de seu escritório, o mesmo que a algum
tempo fora de Poppy. Tudo o que a separava do destino de Poppy era a fina porta
de correr de vidro atrás dela, o muro baixo do terraço, e então a longa queda para
a rua. A porta estava trancada? Ela não conseguia se lembrar.
James deu um passo mais perto de Rowan. Rowan rolou para trás,
acertando sua mesa. James deu mais um passo, prendendo-a.
— Rowan, Rowan, Rowan — disse James calmamente, seu hálito quente
em seu rosto. Ele estendeu a mão e tocou-lhe o rosto. Rowan recuou e fechou os
olhos, sentindo seus dedos passarem pela sua pele. Seu queixo começou a tremer.
Ele não seria tão estúpido a ponto de machucá-la agora. Havia gente do lado de
fora do escritório. Mas e se ele estivesse louco? E se ele queria vingança, mesmo
que isso significasse que ele seria pego também?
— Você vai me fazer parecer um idiota traidor para que todos tenham um
bode expiatório fácil, não é? — James sussurrou com raiva.
— Você é louco. — A voz de Rowan soou forçada, não como a dela
própria. — Eu vou chamar a segurança. — Seus dedos avançaram em direção ao
telefone.
— Não, você não vai. — James prendeu seu pulso contra a mesa com a
palma da sua mão. Rowan tentou chegar até o telefone com a outra mão, mas
James a pegou também. Ele a prendeu em uma posição tipo Twister, uma mão
cruzada sobre a outra. Suas unhas cravaram na pele dela.
— Por favor — ela sussurrou, tentando se soltar. Todo o seu corpo
começou a tremer. — Isso dói. Pare.
— Está tudo bem por aqui?
Rowan olhou para cima. James saltou para longe dela, com as mãos ao
lado do corpo. Danielle Gilchrist estava na porta, com uma pasta debaixo do
braço. Sua cabeça estava inclinada, e havia um vinco em sua testa. Seu olhar
passou de James para Rowan. Rowan estava bem ciente do quão profundo os dois
estavam respirando.
— Eu estava de saída — disse James, pisando através do escritório e
passando por Danielle.
Danielle assistiu James caminhar rapidamente pelo corredor e, em
seguida, olhou para Rowan, com uma expressão preocupada no rosto. — Você
precisa de mim para chamar a segurança? — ela perguntou em voz baixa.
Rowan passou a mão sobre a parte de trás de seu pescoço. Estava suado.
Ela tinha certeza de que seu rosto estava corado também, e seu coração ainda
estava batendo forte. — Apenas certifique-se que ele foi embora — ela murmurou.
Danielle balançou a cabeça lentamente. Um entendimento pareceu passar
entre elas, e então ela se virou na direção que James tinha ido.
Um momento depois, o celular de Rowan vibrou, assustando-a.
Engolindo em seco, ela puxou-o de sua bolsa. Na tela havia um número familiar.
— Harvey? — ela perguntou hesitantemente.
— Sim — respondeu-lhe o porteiro. — Só avisando que eu procurei pela
fita. Eu tenho uma gravação de quando seu amigo foi embora.
Rowan olhou nervosamente para a porta de seu escritório. — A que
horas?
— Seis e quarenta da manhã.
Os joelhos de Rowan dobraram. Ela deve ter murmurado “Obrigada”; ela
realmente não lembrava. Seis e quarenta. Apenas dez minutos depois que ela saiu.
E com tempo de sobra para chegar ao centro da cidade antes que Poppy
morresse.
22
Traduzido por Matheus Martins

—A
Virginia é para os amantes! — uma aeromoça alegre disse enquanto
Corinne abria caminho para fora de um avião de porte médio
naquela mesma manhã. — Obrigada por voar conosco!
Corinne assentiu e deu um passo para o desembarque. O ar estava mais
quente e mais úmido do que tinha estado em Manhattan, e o cenário ao redor
dela era genérico e utilitário, cheio de estacionamentos e sinalização. Ela
caminhou em direção à saída do aeroporto, não necessitando reivindicar bagagens.
O lado de fora da estrada de chegada estava vazio. Finalmente uma minivan
branca e limpa com “Norfolk Táxis” estampado em sua lateral chegou. Um
homem mais velho e amigável em uma camisa havaiana sorriu para ela. — Para
onde?
Corinne olhou para o pedaço de papel amassado que ela agarrou durante
toda a viagem de avião.
— Estrada Waterlily, número 1840 — ela leu. Era um endereço que ela
tinha recebido há muito tempo, a única coisa além de sua cicatriz para lembrá-la
do que tinha acontecido. Corinne ficou surpresa que ela ainda tivesse isso por
tanto tempo. Talvez, no fundo, ela sabia que um dia iria precisar.
O taxista empurrou a porta de Corinne para fechá-la e manobrou em
torno de um ônibus da Hertz Aluguel de Carros. Ele seguiu as indicações para a
saída do aeroporto e, em seguida, seguiu para a estrada principal. Quase
imediatamente, havia uma pequena tenda ao lado da estrada. — Morangos frescos,
melões, brócolis — dizia um cartaz escrito em papelão. E um segundo proclamava,
— Fogos de artifício!
Observando o cenário verde passar por sua janela, aquela fatídica noite
voltou à mente de Corinne mais uma vez. Após o teste confirmar que ela estava
grávida, ela levantou-se, enrolou o bastão em um papel higiênico, e escondeu-o no
fundo de sua bolsa, prometendo jogá-lo fora muito longe dali. Em seguida, ela
espiou pela janela para os convidados e tentou imaginar Will misturando-se com a
sua família. Era tão inconcebível; ela podia imaginá-lo apenas como um garçom,
ou talvez um hóspede que estava claramente fora do lugar, como Danielle
Gilchrist e sua mãe, duas ruivas que estavam na borda do grupo, bebendo vinho
branco sem jeito.
Todo aquele verão, ela se sentiu-se como outra pessoa, como se uma
pessoa diferente tivesse tomado todo o seu corpo, fazendo-a fazer coisas que ela
nunca faria normalmente.
E agora ela precisava desfazê-las.
Meia hora depois, ela se atreveu a entrar na festa, a náusea que ela
finalmente entendia ondulando através de seu estômago. Ela viu Poppy do outro
lado da sala conversando com algumas pessoas da GIA e caminhou em direção a
ela. Poppy deve ter percebido que algo estava errado, porque ela se desculpou e
seguiu Corinne para a despensa da cozinha.
— O que foi? — disse ela, preocupada, firmando-se entre as prateleiras de
manteiga de amendoim e toalhas de papel.
— Você não pode dizer a ninguém o que estou prestes a lhe dizer — disse
Corinne, depois de fechar a porta. A pequena sala estava escura.
— Tudo bem. — Poppy pegou as mãos de Corinne seriamente, e quando
Corinne não conseguiu dizer as palavras, ela a abraçou. — Seja o que for, vai ficar
tudo bem.
— Eu estou grávida — Corinne sussurrou, mal capaz de dizer as palavras. —
Mas eu tenho um plano — ela acrescentou rapidamente. — Eu estou indo alugar
um lugar em outro estado. Vou a um médico, e eu vou ficar lá até que esteja
acabado.
Poppy limpou delicadamente as lágrimas do rosto de Corinne.
— Querida, você nem sequer pensou nisso.
— Sim, eu pensei. Eu não posso ter um... — Ela não conseguiu dizer a
palavra. Bebê. — Mas eu não posso não tê-lo também.
— Você vai querer a sua mãe lá.
A última coisa que ela queria era sua mãe. — Você não entende? — ela
sussurrou. — Eu tenho que sair daqui, e eu não posso deixar que alguém saiba
sobre isso... Eu não posso deixar que me vejam assim. Isso vai arruinar a minha
vida inteira.
Poppy puxou o lábio inferior para dentro de sua boca. — Você está sendo
tão dura consigo mesma. — Ela olhou para o teto. — E não é como se você fosse se
esconder por um mês, você sabe — você vai ficar lá por nove meses. Talvez um
ano, dependendo da sua recuperação. Como você vai explicar isso para as
pessoas?
— Eu já pensei nisso também — disse Corinne, trêmula. A ideia tinha
chegado a ela tão rapidamente, como se um lugar escuro em sua mente estivesse
se preparando para este dia. — Você pode dizer a todos que me mandaram para
Hong Kong como a minha primeira ordem de negócios em desenvolvimento
estrangeiro. Você é a presidente agora — você pode fazer isso, não pode?
— E se alguém quiser visitá-la lá? E se alguém te pegar? Eu vou ser
responsabilizada também, Corinne.
— Ninguém vai nos pegar — disse Corinne desesperadamente. — Apenas...
por favor. Eu preciso sair daqui. Eu preciso que você faça isso por mim.
Os olhos de Poppy abaixaram. Ela olhou para o chão de ladrilhos por
muito tempo.
— Mas esse seria o primeiro bisneto Saybrook.
Corinne olhou fixamente para uma prateleira cheia de latas de sopa, com
um nó doloroso na garganta. Ela tentou fingir que Poppy não tinha acabado de
dizer isso. Em volta delas havia os sons jocosos da festa: garfos tilintando contra
pratos, o som de um baixo, a voz de sua avó erguendo-se sobre a dos outros
convidados.
— Eu não sei mais o que fazer — ela sussurrou. — Eu não sei mais a quem
recorrer.
Poppy assentiu levemente. — Tudo bem — disse ela, em voz baixa. — Eu
só espero que você não esteja cometendo um erro.
— Eu não estou — disse Corinne vigorosamente. — Eu sei que é pedir
demais. Mas você é a única pessoa em quem eu posso confiar.
Poppy colocou as mãos sobre os olhos e ficou assim durante o que
pareceu um longo tempo.
— Tudo bem — ela disse finalmente. — Eu vou falar sobre Hong Kong aos
seus pais esta noite.
Corinne pigarreou. — Você pode fazer mais uma coisa? Você pode dizer
ao Will que eu... fui embora? Certifique-se de fazê-lo entender. — Não havia
nenhuma maneira que ela mesma pudesse dizer a Will que ela estava indo. O
segredo estaria estampado em seu rosto, ou ela deixaria escapar quando ele
perguntasse por que ela estava terminando com ele.
— Ok. — Corinne espiou Poppy. Ela estava tentando, Corinne sabia, não
julgá-la. E por isso, Corinne a amava com todo seu coração.
Pouco tempo depois dessa conversa, ela recebeu um telefonema. Ela
olhou para a tela, espantada ao ver o nome de Dixon na tela de identificação de
chamadas. Ele não tinha ligado para ela há meses; ele entrar em contato justo
naquele dia parecia predestinado. — Alô? — ela respondeu hesitantemente,
esperando que sua voz não soasse cheia de lágrimas.
— Corinne. — A voz de Dixon estava um pouco rouca. — Oi.
Houve uma pequena conversa — Dixon mencionou que ele tinha voltado
de Londres, Corinne disse que Poppy era agora a presidente da Saybrook. A
próxima coisa que ela se lembrava era de Dixon respirando fundo.
— Então, suas mensagens. Eu acabei de recebê-las. Meu correio de voz
não funciona no exterior.
— Oh. — A mente de Corinne ficou em branco. Ela tentou se lembrar de
quando ela tinha deixado essas mensagens. Antes de Will, tudo parecia ter sido há
várias vidas atrás.
— Eu não... — disse Dixon hesitantemente. — Eu senti sua falta... — ele
parou e tossiu. — Estou em Corpus agora, mas talvez pudéssemos... eu não sei...
— Eu também senti sua falta — disse Corinne. E ela sentia falta dele. Ela
sentia falta como era fácil estar com ele. E ela o amava. Ela adorava que os dois
nunca precisassem se esconder por aí, que eles preenchessem os vazios um do
outro. Ela podia ver o futuro que ela já havia planejado com ele ao alcance
novamente. Tudo o que ela tinha a fazer era agarrá-lo, deixar este ano passar,
nunca olhar para trás.
Sim, ela voltaria para Dixon. O verão tinha sido cheio de erros, mas isso
iria consertar alguns desses erros.
— Ok, ótimo — disse Dixon com facilidade. Corinne poderia dizer em sua
voz que ele estava sorrindo. — Vou visitá-la em breve, então.
— Na verdade, isso não vai ser possível — disse Corinne rapidamente. —
Eu estou indo para Hong Kong.
— Oh. — Dixon parecia surpreso. — Por quanto tempo?
— Quase um ano — respondeu Corinne. E então ela disse-lhe que ele não
deveria visitá-la, tampouco — ela ficaria ocupada dia e noite. Ela sabia que parecia
que este era o seu castigo por acabar com tudo durante todo o verão. Bom, deixe-
o acreditar nisso.
Os e-mails que ela escreveu para Dixon ao longo dos próximos nove
meses foram alguns dos mais sinceros que Corinne já tinha escrito. As respostas de
Dixon eram mais leves, mas ele esperou até ela voltar. Nem uma vez sequer ela
insinuou o que realmente estava passando. Nem uma vez sequer Dixon havia
adivinhado — mas, no entanto, ele não saberia nem em um milhão de anos.
E quanto a Will? Um dia depois de chegar na Virgínia e estabelecer-se na
casa de praia que ela tinha alugado, ela tinha ligado para Poppy para checar. —
Você disse a Will que eu fui embora? — ela perguntou. — Sim, eu disse — foi tudo
o que Poppy havia dito.
— Senhorita?
Corinne abriu os olhos. O táxi tinha parado em frente a uma agradável e
bem conservada casa de dois andares em uma rua tranquila. Havia cortinas de
renda penduradas nas janelas. Uma cesta de basquete fora fixada em cima da
garagem. A porta da frente estava aberta; através da tela Corinne podia ver um
amontoado de bonecas, Legos e outros brinquedos de criança na escada. Seu
coração deu uma guinada.
— Nós chegamos — disse o motorista para Corinne.
Corinne empurrou algumas notas de vinte em sua mão e assistiu ele ir
embora. Pânico tomou conta dela quando ele virou no cruzamento e desapareceu.
Talvez ela devesse ter dito a ele para esperar. E se fosse a casa errada? E se ela
não pudesse seguir em frente com isso? Que diabos ela iria dizer?
Ela enfrentou a casa novamente, respirou fundo e subiu os degraus de
concreto para a porta da frente. Havia uma pequena placa de madeira onde se lia
“Os Griers” pousada em uma pequena mesa de plástico ao ar livre na pequena
varanda.
Antes que perdesse a coragem, Corinne estendeu a mão e bateu na porta
de tela metálica.
De dentro da casa flutuava os sons de um programa de entrevistas da
tarde e uma torneira de cozinha aberta. Havia passos vindo do nível inferior. De
repente, uma jovem descalça apareceu na porta e a abriu ruidosamente, revelando
um pequeno patamar e dois conjuntos de escadas, um que ia até a cozinha e a
sala, o outro descendo para um porão. — Quem é você? — perguntou a menina.
Os grandes olhos azuis de Corinne olharam de volta para ela. Lá estava
sua boca pequena, e as orelhas redondas e as sardas de Will. Seu nariz de botão e
o queixo quadrado. A menina tinha as mãos pequenas de Corinne e os pés longos,
até o segundo dedo do pé um pouco maior. Seu cabelo loiro estava pendurado
pelas costas num emaranhado de cachos, da mesma forma que Aster estava
acostumada a usar.
Uma mistura de tristeza e culpa percorreu Corinne. Houve tantas vezes
em que ela se perguntou como sua filha seria e aqui estava ela, uma mistura
perfeita dela mesma e de Will. Eu te dei. Eu te dei. Eu te dei, uma voz dizia em
coro em sua cabeça.
Corinne tentou sorrir. — A... a sua mãe está em casa?
A menina girou no meio do caminho. — Mamãe! — ela gritou subindo as
escadas.
O som da torneira da cozinha cessou, e uma mulher apareceu no topo da
escada. Ela olhou para Corinne, então caminhou lentamente em direção à tela.
Ela usava um moletom azul marinho, e tinha um pequeno rosto em forma de
coração, que não parecia em nada com sua filha. Ela colocou um braço em volta
da menina e abriu a porta.
— Posso ajudar?
— Eu sou Corinne Saybrook — disse Corinne, oferecendo-lhe a mão.
A mulher apenas olhou para ela. — Sadie Grier.
— E esta é? — Corinne olhou para a menina.
Sadie olhou para Corinne cautelosamente. Em seguida, ela colocou as
mãos nos ombros da menina. — Michaela, por que você não vai lá para baixo
desenhar? Mamãe vai descer em breve, ok?
— Ok. — Michaela deu de ombros e deslizou para baixo das escadas para
o nível mais baixo. O estômago de Corinne afundou. Sua própria filha tinha
olhado indiferente para ela. Ela não tinha qualquer ligação com essa garota; outra
mulher era sua mãe. Seu bebê não a amava, não a conhecia, não sentia nada por
ela. Ela era apenas uma estranha na porta.
Sadie se virou para Corinne. — Eu sei quem você é. E eu não quero ser
rude, mas não tínhamos resolvido isso? — Ela olhou para as escadas. — Eu sei que
vocês se arrependem do que fizeram, mas vocês não podem continuar vindo aqui,
interrompendo nossas vidas. Ela é jovem demais para entender. Nós somos os
pais dela agora. Você e seu namorado fizeram suas escolhas.
Corinne recuou. — Do que você está falando?
Sadie estreitou os olhos. — Estou muito grata pelo que você fez, mas vocês
têm que nos deixar em paz.
Corinne sacudiu a cabeça, sem entender.
— Seu namorado esteve aqui no mês passado. No aniversário de Michaela.
Ele fez tantas perguntas. E ele foi tão agressivo. Tivemos que explicar para
Michaela que não éramos seus pais verdadeiros. Como você acha que a fizemos se
sentir?
— Espere um minuto. — Corinne apertou o corrimão da escada da
varanda. — O meu namorado?
— Cara alto. Cabelo encaracolado. Sardas iguais as de Michaela.
Obviamente o pai dela.
De repente, ela sentiu-se mal. — Mas isso é impossível. Eu nunca contei a
Will sobre ela.
Sadie franziu a testa. — Bem, eu acho que alguém contou.
— Ele lhe disse quem?
Sadie levantou as mãos. — Isso é para vocês resolverem. — Ela assentiu
com a cabeça em direção à porta da frente. — Mas parem, ok? Isso está nos
assustando.
— Assustando você?
— Mamãe?
A cabeça de Sadie virou-se para o porão. — Eu estarei aí em um segundo,
querida.
Corinne tentou dar outra olhada em sua linda filha. — Eu vim de tão longe
— disse ela com a voz embargada. — Eu posso pelo menos falar com ela?
Sadie balançou a cabeça, sua expressão firme. — Nós somos os pais dela
agora. Sinto muito.
E então ela fechou a porta. Corinne ficou na varanda e a encarou sem
expressão. Um caminhão de lixo passou, a sua forma virando na próxima esquina.
Um lixo derrubado rolou rua abaixo. Corinne apertou a mão ao peito, sentindo
como se fosse vomitar. Will sabia.
Mas como? Ninguém sabia que ela tinha se escondido aqui ou que ela
teve um bebê. Nem seus pais, nem Edith, nem um único amigo. Apenas Poppy.
Uma conversa pouco antes de Poppy morrer vibrou em seus pensamentos.
Naquele dia, na prova de seu vestido. Poppy a tinha puxado de lado: — Amanhã é
primeiro de maio. Como você está... se sentindo? — E Corinne havia dito que se
sentia tão egoísta por nunca ter dito. Poppy tinha dito, — Ainda há tempo.
E se Poppy sabia que Will estava em Manhattan? Ela poderia ter
encontrado ele no Coxswain. Ela e Evan poderiam ter ido lá juntas, na verdade.
Corinne apertou a mão ao peito novamente, sentindo seu coração batendo com
força contra suas costelas. E se Poppy tivesse dito tudo a Will? Ela deve ter
pensado que estava fazendo uma boa ação. Sadie disse que Will tinha visitado um
mês atrás, no aniversário de Michaela.
1 de maio. Corinne havia bloqueado os pensamentos sobre sua filha nessa
data. Então, nessa semana, ela e Dixon tinham ido ao Coxswain. Ela tinha visto
Will pela primeira vez.
Na manhã seguinte, Poppy estava morta.
Pare de nos assustar. Corinne pensou na grande estrutura de Will. Sua
língua afiada da outra noite. O prato quebrado. Qualquer homem ficaria furioso
sobre um enorme segredo sendo escondido dele por tanto tempo. Qualquer
homem poderia ficar um pouco assustador, um pouco maluco. E se Will tivesse
assustado outras pessoas além de Sadie? E se ele tivesse assustado a mensageira?
Corinne puxou tremulamente seu telefone para chamar o táxi para levá-la
para longe deste lugar. Ela agarrou o telefone com as duas mãos. Imagens
horríveis do que poderia ter acontecido passaram rapidamente através de sua
mente, e ela sentiu lágrimas vindo aos seus olhos. — E se alguém te pegar? —
Poppy tinha dito. — Eu vou ser responsabilizada também, Corinne.
Talvez Poppy tivesse sido.
A culpa que ela sentiu de repente foi avassaladora. Se Corinne não tivesse
pedido para Poppy cobri-la, se ela não tivesse cometido o erro, em primeiro lugar,
sua prima não estaria morta agora. Corinne estudou o telefone, em seguida, abriu
uma nova mensagem e começou a escrever para Will, com o coração na garganta.
Eu vou continuar com o casamento. Adeus.
23
Traduzido por I&E BookStore

N
a noite seguinte, a governanta que os pais de Aster contrataram, Livia, a
deixou entrar na casa para o jantar. — Ela virá em um momento, querida
— Livia murmurou, antes de voltar para a cozinha.
O estômago de Aster estava agitado enquanto ela caminhava ao redor da
sala da frente. Pinturas de gerações de Saybrooks olharam para ela. No canto
estava Edith; o artista tinha capturado perfeitamente seu sorriso descontente. Ao
lado dela estava Alfred, com suas grandes mãos cruzadas em seu peito. Aster
sentiu uma pontada de tristeza ao pensar em seu avô; ela sentia falta dele. E no
centro da parede havia uma pintura da família em que todos eles estavam, os
irmãos de seu pai e seus cônjuges alinhados ao longo da varanda, todos os primos
sentados no gramado em Meriweather. Aster olhou cada rosto, de um por um, o
seu olhar finalmente parando em seu pai. Mason estava na parte de trás, com a
mão no ombro de Edith, com um sorriso de satisfação no rosto.
Ela podia ouvir a voz de Elizabeth. Eu acho que é um trabalho interno.
Como, de dentro da família. E, em seguida... Pergunte ao seu pai.
Por que ela disse isso? O que Mason tinha contra Poppy?
— Aster?
Aster pulou e olhou para cima. Danielle Gilchrist estava na porta, vestida
com um vestido justo vermelho-cereja e carregando uma grande bolsa amarela.
Seu cabelo vermelho derramava-se por suas costas, e ela tinha um par de óculos
de sol aviador apoiados em sua testa.
— O que você está fazendo aqui? — Aster estalou.
Danielle sorriu timidamente. — Sua mãe me convidou.
— Sim, eu convidei! — Penelope falou, aparecendo do fundo do corredor.
— Bem-vinda, Danielle! — Ela se inclinou e beijou as bochechas de Danielle,
depois olhou para Aster. — Eu encontrei com ela no Pilates. Nós temos o mesmo
instrutor. — Ela deslizou através da sala e ajustou algumas flores no vaso enorme
no meio da mesa. — De qualquer forma, eu disse a Danielle que ela tinha que vir
ao jantar para que pudéssemos pôr a conversa em dia.
Um sentimento azedo encheu a boca de Aster. Pôr a conversa em dia?
Sua mãe tinha sido tão cautelosa com Danielle quando as meninas eram mais
jovens. — Ela é uma má influência para Aster — ela ouviu Penelope dizer a Mason
uma vez. Mas agora que Danielle trabalhava na Saybrook, agora que ela possuía
um par de Louboutins e uma bolsa Chanel — e como ela tinha pago por essas
coisas? Aster se perguntou. Certamente não com seu salário do RH — agora ela
era aceitável?
Aster cerrou os punhos. Chocava-lhe que Penelope nunca descobriu o
que aconteceu há tantos anos atrás. Ela tinha sido tão cega; Danielle estava bem
ali.
Por um momento Aster pensou em ir embora, a raiva em guerra com o
desejo de descobrir a verdade sobre seu pai e Poppy. Suspirando, ela entrou na
sala de jantar e caiu em uma cadeira. Vamos acabar logo com isso, ela pensou.
Então ela percebeu que havia apenas quatro lugares na mesa. Edith já estava
sentada em um deles, e o lugar que Poppy costumava ocupar estava
deliberadamente vazio. Aster desviou o olhar.
— O papai não está aqui esta noite? — ela perguntou.
Penelope sacudiu a cabeça. — Ele tem uma reunião.
Aster assentiu. Talvez tenha sido melhor assim. A última coisa que ela
queria era ver Mason e Danielle no mesmo lugar juntos. — E quanto a Corinne? —
ela perguntou, de repente ansiando por sua irmã mais velha. Ela tentou ligar para
Corinne hoje cedo para contar a ela sobre o que aconteceu em Elizabeth, mas ela
não atendeu.
— Eu não soube de Corinne o dia todo. — Penelope sentou-se e serviu-se
de um copo de vinho. — Eu imagino que ela esteja ocupada com os últimos
preparativos do casamento.
— Só falta uma semana — Edith entrou na conversa.
— Vocês devem estar tão animadas! — exclamou Danielle.
Aster torceu um guardanapo de pano em suas mãos, tentando não rolar
os olhos. Como se você se importasse com a minha família, ela pensou
amargamente. Seu telefone apitou, e ela olhou para ele, grata pela distração. Acho
que não vou vê-la na Boom Boom hoje à noite, não é? Clarissa tinha mandado
uma mensagem. Nigel está aqui, a propósito. Só pra você saber.
Aster quase riu. Ela não poderia se importar menos com Nigel; ela
honestamente tinha esquecido que ele existia. Ela não tinha pensado nele
nenhuma vez desde que saiu do seu apartamento na manhã que Poppy morreu. É
engraçado, ela pensou, deslizando seu telefone de volta em sua bolsa sem
responder. Toda aquela cena parecia a mundos de distância.
Esme passou com pratos de cordeiro assado e raízes comestíveis. Edith
inspecionou, como de costume, e empurrou o prato. — Então, Danielle, o que
você está fazendo ultimamente? — perguntou Penelope, claramente ignorando
Aster.
Danielle sorriu docemente. — O trabalho tem me mantido muito ocupada
— disse ela quando começou a cortar seu cordeiro. — Estamos contratando um
monte de pessoal extra para cobrir as linhas de primavera.
— E você tem um namorado, certo? — perguntou Penelope. — Qual é o
nome dele?
— Brett Verdoorn — disse Danielle, orgulhosamente. — Ele é dono de
uma empresa de relações públicas chamada Lucid.
— Que maravilhoso. Ele mesmo é o dono da companhia?
— Isso mesmo — Danielle sorriu com afetação.
— Brett quem? — Edith resmungou, virando seu ouvido bom para
Danielle, e Danielle repetiu o sobrenome dele. Edith deu de ombros. — Nunca
ouvi falar dele.
Dez pontos para a vovó Edith, Aster pensou, escondendo um sorriso.
— E a sua família? — perguntou Penelope. — Como está sua mãe?
— Hum, muito bem. — Danielle colocou uma mecha de cabelo atrás da
orelha. — Ela voltou com o meu pai, na verdade. Eles estão tentando resolver as
coisas.
Aster parou com o garfo a meio caminho da boca. — Sério? — ela
perguntou ceticamente, lembrando das brigas épicas de Julia e Greg.
Danielle sorriu. — Eu sei — eu fiquei surpresa ao ouvir isso também. Eu
acho que o tempo cura todas as feridas.
— Estou feliz por eles. Espero que eles possam fazer dar certo — Penelope
murmurou.
Aster olhou para seu prato, irritada consigo mesma por cair na isca de
Danielle. O tempo não cura todas as feridas. Não no seu caso, de qualquer
maneira. O que Danielle tinha feito era imperdoável.
As palavras de Elizabeth vibraram em sua mente novamente. Pergunte ao
seu pai. Aster pensou em Poppy e Mason, brigando na festa de aniversário de
Skylar logo antes da morte de Poppy. Era sobre Poppy ter roubado joias? Ou algo
mais?
De repente, Aster não podia esperar mais nenhum momento. Ela deixou
cair o guardanapo na mesa e levantou-se. — Com licença — ela disse, como se ela
estivesse indo usar o banheiro.
Ela correu para o corredor, passando pelo banheiro, e parou na porta do
escritório de seu pai. Olhando rapidamente para a direita e para a esquerda, ela
empurrou a porta do escritório de Mason com o seu dedo do pé. A luz estava
apagada, mas a tela do computador brilhava.
Ela passou por Dumbo, o elefante, e sentou-se na mesa de Mason. Havia
um ícone para o sistema de e-mail da empresa Saybrook na tela; Aster clicou nele.
Mason tinha configurado o computador para registrá-lo automaticamente. Seus e-
mails do trabalho carregaram instantaneamente no Outlook.
— Poppy — ela digitou na caixa de pesquisa. Centenas de e-mails de Poppy
apareceram. Aster passou através deles rapidamente, mas nenhum deles parecia
indevido. Todos eles eram sobre reuniões, estratégias de marketing, novos clientes
— realmente coisas de trabalho. Nada sobre joias roubadas. Nada sobre segredos.
Aster mordeu o lábio. Então ela notou outro ícone na área de trabalho,
para uma conta do Gmail. Ela clicou sobre ele, mas o computador solicitou uma
senha. Aster fechou os olhos, tentando imaginar qual a senha de Mason poderia
ser, mas ela não tinha ideia. Ela simplesmente não conhecia mais tão bem o seu
pai.
Ela cavou em sua bolsa e encontrou o seu telefone, apenas para perceber
que ela não tinha o número do celular de Mitch. Ela tentou ligar para ele no
escritório e cruzou os dedos enquanto tocava duas vezes, três, quatro vezes... Justo
quando estava prestes a ir para o correio de voz, ele atendeu.
— O que você ainda está fazendo no trabalho? — perguntou Aster,
momentaneamente distraída.
— Aster? — Mitch balbuciou. — Hum... bem, eu poderia estar usando os
servidores do trabalho para participar de um grande torneio de Word of Warcraft
on-line. — Aster quase podia ver suas orelhas avermelharem através do telefone.
Ela sorriu.
— Eu estava pensando se você poderia me ajudar com uma coisa — ela
sussurrou.
— Onde você está? — Mitch sussurrou de brincadeira de volta. — Na
igreja?
— Eu não posso explicar agora — disse Aster apressadamente. — Mas eu
preciso saber se você pode me ajudar a hackear o e-mail pessoal de alguém.
Houve uma pausa. — Você realmente quer ler os e-mails de Elizabeth?
— Não os de Elizabeth. Os do meu pai.
Mitch fez um barulho na parte de trás da garganta. — Aster, eu não...
— Você não vai entrar em apuros. Eu só preciso descobrir algo bem
rápido, e eu tenho medo de lhe perguntar. Ele é um pouco intimidante.
— Uh, é. — Mitch riu conscientemente. — E é exatamente por isso que eu
não quero fazer isso.
— Por favor. Eu vou compensar isso com você. — Aster olhou para cima,
ouvindo um barulho vindo da cozinha. Era apenas o cozinheiro lavando pratos. —
Qualquer coisa que você quiser.
— Qualquer coisa? — Mitch repetiu. — Que tal um encontro?
— Feito — disse Aster, surpresa com a rapidez com que ela concordou.
Então ela teve uma ideia. — Na verdade, eu posso fazer melhor. Você seria meu
acompanhante no casamento da minha irmã?
— Sério? — Mitch pareceu surpreso. — Quero dizer, eu só estava
esperando ir em um bar na esquina ou algo assim.
— Vamos — Aster seduziu. — Haverá dança, e o melhor bolo que você já
provou, e você vai poder tirar sarro de mim em meu embaraçoso vestido de dama
de honra...
— Você me ganhou com o bolo — Mitch provocou, e então ficou sério. —
Mas, por favor, Aster. Seja o que for que está acontecendo com o seu pai, apenas
me prometa que você não vai fazer nada estúpido.
— Eu prometo — disse Aster.
— Você está perto do computador dele? — perguntou Mitch.
— Eu estou sentada na frente dele.
— Tudo bem. Vou enviar um e-mail para você com um URL. Digite-o no
navegador de Mason corretamente, e então faça o download do aplicativo.
Aster entrou em seu e-mail da Saybrook. Como esperado, Mitch tinha
enviado um URL. Ele também tinha mandado um e-mail para ela com algo
chamado de aplicativo key logger, que ela precisava instalar na máquina de Mason;
isso daria a Aster acesso a qualquer coisa que Mason já tinha digitado — inclusive
suas senhas. Ela baixou os dois e os instalou no computador de Mason. Uma série
de letras veio à tona, incluindo a senha de Mason do Gmail: Dumbo. Aster sentiu
uma pontada de culpa.
Ela digitou a senha no Gmail, e como previsto, o e-mail pessoal de Mason
começou a carregar. Aster inclinou para frente, olhando para a tela. — Funcionou
— ela sussurrou.
— Eu lhe disse que funcionaria. — Mitch pigarreou. — Agora desinstale os
programas imediatamente. Eu não quero que o seu pai os veja em sua máquina.
Mitch guiou Aster sobre como remover o programa e, em seguida, disse
que ele tinha que ir. — Eu não vou esquecer isso — disse Aster significativamente.
— É melhor que não — brincou Mitch. — Espero dançar muito no
casamento.
— Certo. — Aster gemeu, mas ela estava sorrindo. — Vejo você amanhã.
Divirta-se com essa coisa de torneio on-line.
Ela desligou e olhou para a tela do computador de seu pai. Havia tantos e-
mails — atualizações dos clubes de campo e filiações universitárias que ele
pertencia, bem como atualizações de viagens, recibos de compra e e-mails pessoais
de amigos. Nada sobre joias roubadas.
Por um capricho, ela voltou para cerca de cinco anos atrás, para o verão
que Poppy foi nomeada presidente e Steven morreu. Seu olhar capturou um
registro de transação, a liquidação de um grande número de ações. Aster pausou.
Era a mesma transação que ela tinha visto no computador de seu pai no outro dia.
Ela clicou no e-mail; ele listava alguns detalhes da transação, mas nada
sobre para onde o dinheiro tinha ido. O que Mason tinha feito com todo esse
dinheiro? Então Aster viu um segundo recibo de uma transação no mesmo dia,
este de US$ 1 milhão. Não havia nada listado sobre a conta bancária, exceto as
iniciais GSB. Quem era? Aster vasculhou seu cérebro, mas ela não tinha ideia.
Com as mãos trêmulas, ela voltou para a caixa de entrada e digitou o
nome de Poppy. Nada. Pense, Aster. Então ela verificou a pasta de Excluídos — e
um e-mail apareceu. Mentir foi a primeira palavra que ela viu.
Precisamos confessar tudo, Poppy escreveu. Especialmente sobre o
dinheiro. Estou cansada de mentir.
Sobre o meu cadáver. Ou do seu, Mason tinha respondido. É sério,
Poppy, pare de pressionar ou você vai se arrepender.
Aster olhou para cima, diretamente para os olhos do elefante. Confessar o
quê? E que dinheiro? Fosse o que fosse, parecia que era algo que Mason tinha
feito — não Poppy. Então, talvez não fosse sobre as joias desaparecidas em tudo.
Talvez tenha sido algo maior. O que será que Poppy estava tentando convencer
Mason a contar? E até que ponto Mason tinha ido para mantê-la quieta?
Seus pensamentos caíram como dominós. Ela levantou-se, sentindo-se
tonta. Não. Ela estava exagerando. Elizabeth não podia estar certa. Aster fechou os
olhos, não querendo considerar a possibilidade.
Sua mente voltou mais uma vez para aquela noite na praia com Steven. A
brisa quente beijando sua pele nua, os sons da festa à distância, e a maneira como
o coração de Aster tinha batido quando ela se virou e viu seu pai olhando. Steven
tinha se atirado para os arbustos para pegar suas roupas; ele poderia estar ouvindo,
mas Aster não se importava. — Se você pode foder a minha amiga, então eu posso
foder o seu — ela estalou.
O rosto de Mason tinha nublado com confusão. — O que diabos você está
falando? — ele gritou.
— Não se faça de bobo. — A voz de Aster subiu sobre o som das ondas. —
Eu vi você e Danielle juntos. Eu sei o que vocês andam fazendo.
O rosto de Mason empalideceu. Ele olhou na direção que Steven tinha
ido, então agarrou o pulso de Aster, com força. — Isso não é da sua conta — ele
disse em seu ouvido.
— É sim. Ela é minha melhor amiga. Como você pôde?
Ela tentou se afastar, mas Mason apertou-lhe o pulso com mais força.
Aster sentiu seu pulso pulsar sob a pele. — Se você sabe o que é bom para você,
você vai se virar, voltar para a festa, e não vai dizer nada — seu pai disse com uma
voz assustadoramente calma. — Se você proferir sequer uma palavra sobre isto a
alguém, você vai se arrepender.
— Eu não tenho medo de você — Aster avisou.
Os olhos de Mason brilharam. — Bem, você deveria ter.
Ele deu-lhe um empurrão. Aster gritou, girando pela areia. Seu calcanhar
ficou preso em um torrão e voou diretamente para seu pé. Ela se deitou onde
estava, esperando que seu pai a ajudasse e pedisse desculpas profusamente, mas
quando ela se virou, ele tinha ido embora.
Foi só na manhã seguinte que Aster ouviu a comoção.
— Aster — Corinne havia dito, aparecendo em sua porta. Aster piscou para
o relógio; era apenas seis horas. — Venha depressa. — Ela não se preocupou em
colocar um sutiã, apenas correu escada abaixo em sua camiseta do Black Dog e
shorts grandes, seguindo Corinne em direção à marina. Seus pais, Poppy, e vários
outros convidados e empregados já estavam lá embaixo, reunidos em torno dos
grandes barcos ancorados nos estaleiros.
— Afastem-se — tio Jonathan estava dizendo, tentando gerir a multidão. À
luz cinzenta do amanhecer, o rescaldo da festa mostrava toda a sua feiura — as
tendas brancas tristemente deflacionadas, o chão cheio de guardanapos de papel
que tinham virado mingau na grama orvalhada. Todo mundo estava de pé em
uma moita na beira da água, mas Aster conseguiu passar através deles. Quando ela
viu o que eles estavam olhando, ela gritou.
Um corpo jazia com o rosto na água. Ondas rodavam sobre sua cabeça, e
os seus braços estavam espalhados em seus lados. Aster reconheceu seu sapato
oxford rosa e a calça de linho branca, que estava agora translúcida, revelando as
boxers brancas abaixo.
Era Steven.
Aster tinha começado a chorar em choque. Ele tinha estado tão vivo
poucas horas antes. Ela sentiu a presença de suas primas em volta dela, Poppy e
Rowan e o rosto de Corinne borrou em sua visão. Mason estava furioso do outro
lado, falando em seu telefone em voz baixa, em um tom abafado. Aster desviou o
olhar, acometida por um pensamento repentino e terrível: seu pai tinha feito isso.
Ele estava tão furioso que Steven tinha ficado com ela que ele o tinha matado.
Ela não tinha certeza por quanto tempo ela se agarrou a essa noção —
algumas horas, no máximo, porque nessa tarde, a polícia havia questionado a
todos. Aparentemente, ninguém tinha estado perto das docas naquela noite. Mas
uma coisa permaneceu clara: Aster tinha achado concebível que seu pai era um
assassino. Algumas pessoas não tinham instinto assassino, mas ela sentia
profundamente dentro de si que Mason tinha.
— O que você está fazendo aqui?
O pai de Aster estava na porta. Ele estava com um casacão, e estava
segurando uma maleta nas mãos de tal forma que parecia que ele poderia jogá-la
nela. Seus ombros estavam rígidos de raiva.
Aster levantou-se rápido, saindo de seu Gmail. — Hum, meu iPhone não
estava funcionando e havia uma emergência de trabalho. Elizabeth é uma vadia —
ela acrescentou como um extra, contornando ao redor dele. Ela estava tão
desesperada para escapar que ela bateu o pé com força contra o batente da porta.
Estremecendo, ela continuou andando pelo corredor e passou pela sala de jantar.
Danielle e Penelope pararam de comer, com os olhos arregalados. — Aster? —
Penelope chamou, mas Aster não lhe respondeu.
Ela correu para fora da casa o mais rápido que podia. Assim que ela
estava na calçada, ela se atrapalhou para discar o número de Corinne. Sua irmã
atendeu no segundo toque. — Onde você estava? — gritou Aster.
— Apenas... por aí — Corinne falou.
— Você pode me encontrar na escada do escritório do FBI em meia hora?
— disse Aster rapidamente. — Eu vou ligar para Rowan, ela também precisa estar
lá. Acho que descobri alguma coisa.
— Eu estarei lá — respondeu Corinne. — Eu tenho algo para dizer a vocês
também.
24
Traduzido por Matheus Martins

M
eia hora depois, Rowan estava com as mãos nos quadris sobre as
escadas do escritório do FBI em Manhattan. Eram quase sete e meia, e
as ruas estavam entupidas com as pessoas indo para casa do trabalho,
suas pastas balançando, celulares colados a seus ouvidos. Cada som fazia o coração
de Rowan saltar: o metrô resmungando sob seus pés, o barulho do ônibus da
cidade passando, um trecho de uma música de salsa saindo pela janela aberta de
um carro. Ela procurou freneticamente as suas primas, esperando que elas
chegassem logo. Agora que ela sabia o que James tinha feito, ela queria dizer a
Agente Foley antes que algo mais terrível acontecesse.
Aster e Corinne chegaram quase ao mesmo tempo de duas direções
diferentes.
— Eu sei quem matou Poppy — disse Aster, logo que elas estavam todas
juntas.
Corinne piscou para ela. — Eu também.
A mandíbula de Aster caiu. — Você sabe que o papai fez isso?
— Mason? — Rowan gritou, olhando de uma para outra.
Aster assentiu tristemente. — Eu acho que ele estava tentando encobrir
algo — Poppy sabia sobre isso e queria que ele confessasse. Ele queria Poppy fora
da empresa, e ele empurrou-a para fora — literalmente.
Corinne franziu o nariz. — Encobrir o quê?
— Eu não sei. Algo sobre dinheiro e o trabalho.
Corinne franziu o cenho. — O papai nunca faria isso.
Aster pareceu em conflito. — Você realmente não o conhece, Corinne.
Porque o papai... bem, ele teve um caso com Danielle Gilchrist anos atrás. Eu os
vi.
— Espera, o quê? — Rowan explodiu.
— Danielle Gilchrist? — Corinne repetiu, sua pele empalidecendo.
Aster calmamente contou exatamente o que ela tinha visto anos atrás — e,
em seguida, o que ela tinha encontrado no e-mail de Mason. Rowan olhou para
Aster, não compreendendo bem. O rosto de Corinne ficava cada vez mais pálido.
— Eu não posso acreditar — ela sussurrou.
— Eu sinto muito — disse Aster, olhando para Corinne com culpa. — Eu
não queria te dizer. Eu não queria arruinar a sua imagem da nossa família.
Corinne colocou o queixo no peito. — A mamãe sabe?
Aster baixou o olhar. — Eu não podia suportar dizer a ela.
Alguns pombos pousaram perto de um pedaço de pretzel descartado e
começaram a brigar por ele. Corinne fungou, então respirou fundo.
— Apesar de tudo isso, eu não tenho certeza que o papai fez isso — disse
ela levemente após Aster ter terminado. — Eu acho que foi Will.
Aster piscou para ela. — O cara que você... — Ela parou. — Por quê?
Agora foi a vez de Corinne parecer atormentada. — Eu não disse tudo a
vocês sobre o meu tempo com Will todos aqueles anos atrás. — Ela engoliu em
seco e, em seguida, explicou a razão real por ela ter desaparecido misteriosamente
durante tantos meses daquele ano seguinte. Quando ela pronunciou a palavra
gravidez e se escondendo, Rowan sentiu como se seu cérebro pudesse estourar. E
então, quando ela explicou que ela tinha colocado o bebê para adoção, o coração
de Rowan se partiu. Corinne teve uma criança, uma filha.
Corinne falou apressadamente. — Eu acho que Poppy disse a Will a
verdade sobre o que aconteceu... e Will ficou furioso — explicou Corinne. —
Vocês conheciam Poppy — ela provavelmente disse que ela tomou a decisão de
me mandar embora, para salvar minha reputação. Talvez ele a tenha culpado.
Lágrimas correram pelo rosto de Corinne. Ela olhou para Aster, que
estava na calçada, parecendo igualmente atordoada. Corinne deixou escapar um
suspiro, as mãos enroladas em torno de sua cintura. Rowan foi até Corinne e
gentilmente abraçou seus ombros.
— Eu odeio que você tenha passado por isso sozinha. — Sua garganta
apertou quando ela pensou em sua prima mais nova escondendo-se, afastada por
tantos meses, não dizendo a ninguém o seu segredo por anos. O peso deve ter
sido insuportável.
Depois de um momento, Aster correu para a irmã dela e abraçou-a
também.
— Você vai ficar bem — disse ela suavemente. — Eu prometo.
Quando elas se separaram, Rowan olhou para elas. — Eu ia dizer a Foley
que James fez isso.
Corinne enxugou as lágrimas. — Mas James estava em sua casa quando
aconteceu.
— Não, ele não estava — disse Rowan, explicando que o porteiro tinha
visto ele sair, enquanto ela estava na fila do café. — Eu nunca perguntei a James
onde ele estava. Então, eu realmente não tenho ideia.
E ela certamente não tinha perguntado a ele agora, também. Desde o
incidente em seu escritório hoje cedo, ela esteve em estado de alerta, esperando
que ele a agarrasse quando ela saísse do elevador da Saybrook ou que ele estivesse
esperando por ela quando ela fosse para casa. E era por isso que ela não tinha ido
para casa.
Ela colocou as mãos nos quadris e assistiu o tráfego. Um cara pedalando
um riquixá deu a volta na avenida. Dois turistas parecendo impressionados
estavam sentados na parte de trás. Então Aster se virou e encarou o edifício.
— Vamos. Talvez Foley já saiba quais desses caras podem ter feito isso.
Elas se apressaram ao subir os degraus. Depois de passar rapidamente
suas bolsas pelo detector de metais e abrir seus braços para os scanners, as três
entraram no elevador para o andar de Foley. O escritório ainda zumbia com a
atividade, apesar da hora — telefones tocando, pessoas correndo de um lado para
o outro, uma impressora cuspindo papéis em uma pilha grande e organizada.
A segurança pareceu surpresa ao ver as três Saybrooks no saguão. Ela fez
uma chamada para o escritório de Foley e, em seguida, anunciou, — Ela ainda está
aqui. Ela vai vê-las agora.
Todas caminharam por um corredor longo e cinza para um escritório
onde Foley estava sentada atrás de uma mesa cheia, olhando alguma coisa na tela
do computador. Seu cabelo estava preso em um coque, seus olhos pareciam
cansados, e seu batom estava um pouco borrado. Quando ela viu as três, ela se
levantou.
— Entrem — disse ela apressadamente, apontando para dentro.
As três mulheres entraram e se sentaram em um sofá de tweed. A sala era
decorada com flores e estampas de arte peculiares. Havia um par de chifres de
veado pintado de rosa pendurado em uma parede alta. As persianas de metal
genérico, padrão dos outros escritórios, tinham sido trocadas por de madeira,
como se estivessem em uma fazenda mexicana.
Finalmente Aster pigarreou. — Cada uma de nós tem pensamentos sobre
quem matou Poppy.
Foley cruzou as mãos sobre a mesa. — Isso ainda é sobre Steven Barnett?
Elas balançaram a cabeça e, uma por uma, disseram suas teorias.
Conforme Rowan ouvia suas primas falarem, suas mãos tremiam. Seus suspeitos
pareciam tão plausíveis quanto James parecia ser. Era difícil acreditar que três
pessoas separadas poderiam querer matar Poppy. E ela se viu frustrada com
Poppy mais uma vez pelos segredos que ela guardava. Por nunca ter dito nada a
elas. Ela deveria ser a melhor amiga de Rowan.
A testa de Foley vincou no momento em que elas terminaram de contar.
— Vocês acham que isso tem alguma coisa a ver com a pessoa que nos
atingiu em Meriweather? — perguntou Aster, voltando-se para suas primas.
— Eu não sei — disse Rowan, não tendo considerado isso antes. Ela tentou
imaginar James empurrando todas elas ponte abaixo, e seus olhos arderam com
lágrimas não derramadas.
Foley girou em sua cadeira para encarar uma pequena janela com vista
para um conjunto de edifícios cinzentos.
— Bem, nada que vocês me disseram é útil, infelizmente. Eu entrevistei
todas essas pessoas, e todos eles têm álibis sólidos.
Corinne cravou as unhas no sofá. — Will? Como você sabia que deveria
entrevistar ele?
Havia um vestígio de um sorriso no rosto de Foley. — Porque eu sou uma
agente do FBI, Corinne. Eu faço o meu dever de casa. Eu tenho seguido você. Eu
sei que você está passando um tempo com ele. Eu não sabia qual a ligação disso
com Poppy, mas eu sabia que ele morava em Meriweather, e eu pensei que
poderia haver uma ligação. Falei com o Sr. Coolidge eu mesma; dezenas de
pessoas podiam atestar que ele estava no mercado da Union Square naquela
manhã.
O rosto de Corinne empalideceu. — Você estava me seguindo?
— Eu tinha que fazer isso. É o meu trabalho mantê-la a salvo.
— Alguém na família sabe sobre... ele?
Foley ajeitou alguns papéis. — Não. Embora eu tenha que dizer, eu estou
ficando um pouco cansada de cobrir as coisas para vocês. — Ela olhou para
Rowan.
Rowan sentiu uma rajada desconfortável de emoção que ela não conseguia
identificar, no tom de voz de Foley. Ela se inclinou para frente.
— E quanto ao James? Eu falei com o meu porteiro. James saiu assim que
eu saí na manhã que Poppy morreu — ele poderia ter chegado ao escritório e
empurrado Poppy nesse tempo.
— Eu falei com James também — disse Foley, sacudindo a cabeça. — Ele
também tem um álibi para esse dia.
— Sim, meu apartamento.
Foley fez uma careta. — Na verdade, não no seu apartamento. Ele estava
em outro lugar.
— Onde? — Rowan exigiu.
Foley não disse nada por um momento, olhando para as três. Finalmente
ela suspirou. — Ele estava com uma mulher chamada Amelia Morrow.
O cérebro de Rowan ficou disperso. Ela conhecia aquele nome... por
quê? Em seguida, a memória veio a ela: a festa de aniversário da filha de Poppy. A
mãe cuja filha tinha chamado os biatletas de “bissexuais”.
— Oh meu Deus — ela sussurrou, levando uma mão à boca. Ele tinha ido
da cama de uma mulher para a de outra? Poppy sabia?
Foley olhou para Aster. — E antes mesmo de você dizer, seu pai não
matou Poppy também. Ele estava se preparando para a chamada de Singapura
naquela manhã, e dezenas de pessoas o viram. Eu não sei o que o e-mail entre
Mason e Poppy queria dizer — isso era coisa deles. Também não sei sobre essa
transação. Isso é para um auditor descobrir. — Ela se recostou na cadeira e olhou
severamente para elas. — Eu aprecio o quanto vocês se importam, senhoritas, mas
a partir de agora, deixem o trabalho da polícia para mim, ok?
Em seguida, ela levantou-se, o que parecia ser um sinal claro para as
outras saírem. Rowan abriu e fechou a boca, sentindo-se menosprezada e
diminuída, mas ela não sabia mais o que dizer. Ela caminhou entorpecida e
silenciosamente pelo corredor como uma cachorra repreendida.
Foley andou por todo o caminho até o elevador, com o telefone na mão.
Quando ela apertou o botão para baixo, Rowan pigarreou.
— Se não foi nenhuma das pessoas que nós pensamos, você sabe quem
pode ter sido? — ela perguntou desesperadamente. — Há algum suspeito?
O olhar de Foley não levantou de seu telefone. — Quando eu souber
alguma coisa, vocês saberão.
— Isso quer dizer que você não sabe de nada? — gritou Aster. — E quanto
a Natasha? Você encontrou alguma coisa sobre onde ela estava naquela manhã?
— Você já tinha entrevistado essas pessoas? — Rowan exigiu. — Danielle
Gilchrist me disse que nunca entraram em contato com ela.
— Eu falei com Danielle no telefone. Ela não sabia nada de útil — Foley
respondeu em um tom grosseiro. — Sério, gente, deixe-nos fazer o nosso trabalho.
— Houve um ding, e as portas do elevador abriram. Foley praticamente empurrou-
as para dentro.
Elas desceram em silêncio. Aster fez uma careta para as portas fechadas. —
Ela não tinha que ser tão rude.
Corinne puxou sua gola. — Eu não posso acreditar que eles estavam me
seguindo.
— Eles provavelmente devem ter seguido todas nós — disse Rowan
friamente. Seu rosto queimou com a ideia de agentes assistindo enquanto ela
invadia o apartamento de James e fingia ser uma mãe para os filhos de James. Eles
provavelmente tinham visto ela descobrir sobre Evan também — aliás, eles
provavelmente sabiam sobre Evan muito antes dela descobrir. Parecia como mais
uma das invasões dos repórteres ou dos fofoqueiros da Abençoados e
Amaldiçoados, provavelmente porque Foley deveria estar do lado deles.
Um caminhão de lixo passou, trazendo consigo o mau cheiro de lixo todo
misturado.
— Bem, eu acho que estamos de volta à estaca zero — disse Rowan
friamente, voltando-se para suas primas.
Corinne e Aster assentiram. E então elas se separaram, Rowan deslizando
para seu carro. — Leve-me para casa — ela murmurou para o motorista. Ela
supunha que não havia nenhum risco agora de James estar à espreita procurando
por ela. Ele era um traidor, não um assassino.
Mas o fato de que ele tinha sido absorvido fez ela ter mais medo do que
nunca. Era como se alguém pudesse estar um passo além delas. Qualquer um
poderia estar assistindo. Qualquer uma delas poderia ser a próxima.
25
Traduzido por L. G.

N
a sexta-feira à noite, Corinne estava em seu antigo quarto na casa em
Meriweather, olhando em um antigo espelho de corpo inteiro suas
pernas finas e compridas. Faltava apenas meia hora para começar o
jantar de ensaio de seu casamento. Seu vestido de cetim com uma estampa floral e
as costas abertas assentava perfeitamente. Uma estilista tinha arrumado seu cabelo
em cachos soltos, e sua maquiagem estava perfeita, disfarçando a marca que havia
se formado em seu rosto depois de passar dias chorando. Seus olhos pareciam
maiores e já não estavam vermelhos; sua cintura parecia menor, provavelmente
por estar muito estressada para comer.
— Querida, você está maravilhosa — disse sua mãe suavemente, parando
um momento para tirar um fio de cabelo do rosto de Corinne. Em seguida, ela
franziu a testa. — Por que você não está sorrindo?
Corinne desviou o olhar, odiando que seus sentimentos estivessem tão
transparentes. Ela tinha repetido sua conversa com Sadie Grier uma centena de
vezes. A ideia de que Corinne pudesse ter tido algo a ver com o assassinato de
Poppy — que ela a tivesse colocado em perigo e que Will tivesse enlouquecido —
tinha abalado ela, mesmo que isso não fosse verdade. E ainda havia o sofrimento
de ver Michaela, a filha que ela nunca nem ao menos havia segurado. Ainda por
cima, essa nova informação sobre seu pai e Danielle parecia demais para suportar.
A garota ruiva, magra, com a boca sarcástica e a mente de aço. A melhor amiga de
Aster. O estômago de Corinne embrulhou só de pensar nisso. Ela mal conseguiu
olhar para o pai dela nos olhos esta tarde quando ele carregava uma caixa de
champanhe.
Ela se sentia culpada demais por ter sido tão insensível com Aster por
tantos anos — agora a rebelião descarada de Aster contra sua família fazia sentido.
Era como se o mundo tivesse mudado durante a noite, mas Corinne não. Na
verdade, isso a fez se sentir desesperada por algo sólido. Sem mais surpresas, sem
mais bagunças. Ela ia se casar. Ela tinha que fazer isso. Era como se ela estivesse
na fila para sair de uma garagem; se ela desse marcha ré agora, seus pneus iriam
passar por cima de coisas afiadas, causando danos irreparáveis. Afinal, as pessoas
já tinham se reunido no andar de baixo, ela podia ouvi-los murmurando felizes no
salão e no gramado. O dia tinha amanhecido perfeito, quente e ensolarado, e se
ela olhasse para fora, ela veria a grande tenda montada para a recepção e os
assentos dispostos para a cerimônia. Dixon estava em algum lugar lá embaixo,
misturando-se com os convidados e, a julgar pelo cheiro de lagosta, creme de leite
e legumes refogados, Will provavelmente estava aqui também.
Will. Uma dor atravessou Corinne. Depois da mensagem que ela tinha
enviado, ele não tinha respondido. Embora talvez tivesse sido melhor assim.
— Estou nervosa — Corinne respondeu finalmente, piscando com força
para não chorar.
— Por quê? — Penelope acenou com a mão com desdém. — Todos os
detalhes estão no lugar.
— Eu sei — disse Corinne, com o queixo tremendo.
— Você tem certeza que não é outra coisa?
As palavras de Poppy de muito tempo atrás flutuaram de volta para ela:
Você está sendo tão dura consigo mesma, Corinne. E de Rowan: Todo mundo vai
te perdoar se você não for em frente com isso. Ela tinha subestimado a sua mãe?
Talvez ela se simpatizasse. Talvez ela não fosse tão rígida e regrada como Corinne
pensava.
Então Penelope deitou a cabeça no ombro de Corinne. — É Poppy, não
é? Todos nós sentimos falta dela. Mas eu estou tão orgulhosa de você, querida.
Você tem sido tão forte. Um exemplo brilhante. — Ela se inclinou e beijou a testa
de Corinne.
Corinne estremeceu com a sensação dos lábios finos como papel de sua
mãe em sua pele. Não muito tempo atrás, era para ouvir essas palavras que ela se
esforçava tanto. Mas agora elas pareciam um pouco ridículas. Um exemplo
brilhante? Sério?
— Mãe, você pode me dar um minuto? — disse ela, oferecendo à mãe o
que ela esperava que fosse um sorriso nervoso, típico de uma noiva.
— Claro, querida. — Os dedos de Penelope se arrastaram ao longo do
braço de Corinne quando ela deslizou para fora da sala.
Corinne a ouviu descer as escadas e, em seguida, sentou-se na cama. Este
era o lugar onde ela dormia quando ela era menina, e ele ainda estava cheio de
suas coisas favoritas: a casa de bonecas vitoriana no canto, as estatuetas de
porcelana de bailarinas e princesas nas prateleiras, os organizadores de plástico de
sua mãe cheio de bijuterias velhas, com que ela enfeitava suas bonecas antes de
fazê-las se casarem.
A memória girou em sua mente, pura e nítida: o verão em que ela estava
com Will, ela tinha permanecido nesta mesma cama, olhando para o teto,
revivendo seus momentos juntos. Sentindo-se tão viva, com o coração batendo
rápido, sua respiração rápida. Ela lembrou-se de ligar para ele uma vez,
sussurrando, — Eu gostaria que você pudesse vir.
— Eu vou se você deixar — Will havia respondido. — Eu vou subir pela sua
janela.
— Mas é no terceiro andar — Corinne havia protestado.
— E daí? — Will tinha rido. — Eu vou subir em uma árvore. Vou escalar o
lado da casa. Eu vou chegar em você de alguma forma.
Uma nova rodada de lágrimas arrepiou os olhos de Corinne. Will a
queria, realmente a queria. Mas agora tudo estava arruinado.
Houve uma batida na porta, e Corinne olhou para ela, esperando que sua
mãe houvesse retornado. Mas alguém entrou em seu lugar.
Will, que usava um avental branco de cozinheiro chefe e um boné de
beisebol do Boston Red Sox, caminhou com cuidado para o quarto e se sentou
em uma cadeira de madeira perto da janela. — Eu vou demorar apenas um minuto
— disse ele, mantendo os olhos no chão. — Eu só queria te encontrar antes de...
você sabe. — Então, ele olhou para ela. — Você pode pelo menos explicar?
Por um breve momento, Corinne sentiu-se tão culpada quanto ela havia
sentido durante todos esses anos, quando ela tinha deixado Will sem lhe dizer
nada. Mas em seguida ela se lembrou: ele era um mentiroso também. Ambos
tinham escondido alguma coisa.
— Eu sei que você sabe — ela resmungou. E então, com uma voz mais
forte: — Eu sei que você sabe sobre o bebê.
A cor rosa encheu suas bochechas. — Oh — ele disse em uma voz grave.
— Eu fui vê-la. Pela primeira vez. Eu queria vê-la antes de lhe contar sobre
ela. E a mãe dela me disse que você já tinha estado lá. Que você sabia. — Um
caroço cresceu em sua garganta. — Por que você não me contou? Por que você
não disse que a viu?
— Por que você não me contou? — Ele balançou a cabeça. — Eu estava tão
confuso naquele verão. Você... desapareceu. E depois que você enviou a sua
prima, que eu nem ao menos conhecia... — Ele fechou os olhos. — Eu pensei que
o que nós tínhamos tinha significado mais do que isso
— E significou — Corinne falou, mortificada. — Eu não deveria ter ido
embora.
Ela ouviu um rangido nas escadas e olhou para o corredor. Sua mãe
estava longe de ser vista. Ela voltou para o quarto e olhou para Will. — Então,
quando é que Poppy lhe disse?
Will franziu a testa. — Poppy? Na verdade, primeiro eu pensei que você
tivesse enviado a carta — não estava assinada. Mas explicava tudo, e tinha o nome e
o endereço de Michaela. Eu não acho que eu realmente acreditei até que eu fui lá
e vi. — Ele fez uma pausa. — Ela se parece com a gente, Corinne.
Por que Poppy deixaria uma carta anônima? Corinne olhou para baixo. —
Você os assustou, aparentemente. Tanto é que a mãe de Michaela basicamente
me chutou para fora antes que eu pudesse vê-la.
Will franziu a testa. — Foi isso o que ela disse? Eu não assustei ninguém.
Eu só... — ele parou, suspirando. — Eu estava tão surpreso com a ideia de uma
filha. E eu quero dizer, você a viu, não é? Ela é perfeita.
— Eu sei — disse Corinne fracamente, o rosto de Michaela claro em sua
mente.
— Mas eu não fiz nada para assustá-los. Eu não sei do que ela está falando.
— Ele fez uma careta. — Jesus, Corinne. Se você tivesse lidado com isso como uma
pessoa normal, talvez nós pudéssemos vê-la. Ela poderia ser nossa.
Lágrimas rolavam pelo rosto de Corinne, provavelmente fazendo rios em
sua maquiagem. — O que eu deveria fazer? Eu não tive escolha.
Will a encarou loucamente. — Talvez eu não seja Dixon Shackelford, e
talvez eu não seja quem você esteve esperando, mas você ainda poderia ter feito a
coisa certa. Você tirou uma filha de mim. Uma neta de toda a sua família. Você
mentiu para eles tanto quanto para mim. Você realmente tem tanto medo deles
assim?
— Eu não sei do que eu tenho medo! — Corinne deixou escapar, sua voz
ecoando pela sala cavernosa. — De cometer um erro, eu acho! De todos... me
julgando. Você tem alguma ideia de como é isso? Você tem alguma ideia de como
é difícil manter esta imagem para toda a sua família?
Will piscou em sua direção. — Por que você tem que fazer isso sozinha?
— Eu não sei! — Corinne soltou, sentindo-se desequilibrada. Ela cobriu o
rosto com as mãos. — É isso o que eu venho percebendo. Eu pensei que todas
nós, minhas primas e eu, eu pensei que todas nós estivéssemos tentando ser
perfeitas, boas e... exemplos. Mas acontece que eu era a única. Ou então eu sou a
única pessoa que se abate tanto quando estraga tudo. — Ela olhou para Will com
os olhos lacrimejantes. — É que a busca da perfeição é quem eu sou — ela admitiu.
— É tudo o que sei. Eu não sei quem eu seria se não fosse assim.
A confissão soou boba na luz do dia. Corinne fechou os olhos e ouviu o
quarteto de cordas aquecendo no jardim. Ela imaginou Dixon e seus padrinhos,
meninos dentuços e bronzeados do colégio interno como ele, se divertindo na ala
dos homens.
Ela olhou para Will, de repente exausta. — Eu gostaria de poder voltar no
tempo. Eu queria ter ouvido Poppy — ela não queria que eu me escondesse, ela
queria que eu enfrentasse as coisas.
Will suspirou. — Eu também gostaria. E acredite em mim, desde que eu
descobri, houve dias em que eu acordei odiando você, o que é bastante
complicado, pois eu continuo acordando amando você também.
Amor. Lá estava, pendurado no ar. Um enorme peso pressionou contra o
peito de Corinne. — Todo mundo já está aqui. Eles estão me esperando.
Ele se aproximou dela. — E daí? Eu saio escondido com você pelos
fundos, se for preciso. Corinne, eu te amo e eu quero estar com você, não importa
as consequências.
Os olhos de Corinne se encheram de lágrimas. Mesmo depois de tudo o
que ela tinha feito, o segredo horrível que ela manteve, as mentiras terríveis que
ela tinha dito, ele ainda queria estar com ela. Ele é tão bom, ela pensou. Eu não o
mereço.
Ela se afastou dele. — Eu acho que é tarde demais.
— O que você quer dizer?
Corinne se inclinou sobre a cama, com lágrimas borrando sua visão. —
Como podemos confiar um no outro depois disso?
— Nós vamos ganhar essa confiança. — Will tocou suas costas. — Nós
vamos trabalhar nisso, dia após dia.
Corinne se virou para encará-lo. Ele parecia tão lindo e comovente que
ela de repente agarrou o seu rosto com as duas mãos e o beijou na boca com
força. Will se inclinou para ela, colocando as mãos sobre os seus ombros. Toda
lembrança de seus beijos correu de volta para ela em uma onda espumante. Todo
o seu corpo começou a tremer, das pontas dos dedos dos pés, correndo por sua
espinha até a cabeça. Estamos fazendo isso? Ela não tinha ideia. Um tornado tinha
acabado de atingir toda a sua vida, arrancando fazendas, vacas e carros. Ela estava
enterrada sob os escombros. Ela não conseguia respirar.
Ela se descobriu querendo puxá-lo para a cama e deixá-lo arrancar o seu
vestido, arrancando os botões delicados um por um. Tudo o que ela disse a ele
era tão cru, verdadeiro e honesto, mais sincero do que qualquer coisa que ela já
tinha dito ou feito. Ela pressionou mais na boca de Will, beijando profundamente.
Ela queria que isso nunca acabasse.
— Corinne, querida? — Sua mãe chamou do pé da escada. — O fotógrafo
está pronto para você.
Corinne atirou Will para longe. — Eu desço em um segundo — ela gritou,
com o coração acelerado. Sua boca parecia inchada, a pele suja, o rosto em
chamas. — Eu tenho que ir.
Ela passou por Will e cambaleou pelo corredor como se estivesse bêbada,
a marca do beijo pulsando em seus lábios. Mas ao invés de descer a escada
principal da sala de jantar, ela fugiu pela escada dos fundos.
Estava escuro e cheirava a poeira. Ela colocou os dedos em torno do
antigo corrimão de madeira e desceu às pressas, mas com cuidado, tentando não
rasgar seu vestido. As escadas levavam logo atrás da cozinha; panelas soaram atrás
de portas francesas fechadas. A porta lateral levou para um caminho obscurecido
do pátio; Corinne correu para ele, não querendo que ninguém a visse agora. Nem
a sua família, nem o fotógrafo, e certamente nem Dixon.
Ela navegou por todo o caminho de pedra até a praia. A areia estava vazia
quando ela chegou lá, o céu de um azul perfeito. Um avião monomotor girava em
cima, aparentemente ali apenas para o seu dia especial. Ela olhou para as ondas,
desejando-as de uma forma que ela nunca havia feito antes.
Eu fui perfeita durante toda a minha vida. Tenho medo de não ser.
Nós vamos ganhar essa confiança. Nós vamos trabalhar nisso, dia após
dia.
O beijo latejava em seus lábios. Ela olhou para trás, verificando mais uma
vez que ninguém estava olhando. Então ela se virou e correu o mais rápido que
pôde em direção à água. Sem hesitar, ela tirou o vestido e os sapatos e entrou na
água com apenas suas roupas de baixo, mais nua do que jamais esteve.
26
Traduzido por Ivana

A
ster estava um pouco nervosa, voltando para Meriweather após o
desastre que foi a despedida de solteira de Corinne. Mas ela tinha que
ajudar Evan — mesmo que ela fosse uma vadia traidora por dormir com
James, ela tinha feito um trabalho fantástico. Todo o mobiliário grande da sala de
estar era em azul e branco, as rodas de barco e as esculturas entalhadas estavam
perfeitamente organizados em volta das mesas elegantes e cadeiras que agora
enchiam o espaço. As janelas tinham sido abertas, as pesadas cortinas de brocado
bloqueavam a luz, as tiras de gaze e o enorme lustre Baccarat foram retirados e
substituídos por uma escultura de arame fino que carregava centenas de velas
votivas. A sala cheirava a gardênias, uma banda de jazz tocava no canto, e a linha
até o bar era de três metros.
— Aqui estamos — disse Mitch, caminhando até Aster e entregando um
copo de cobre. — Um Moscow Mule, com limão extra.
— Você é o melhor — disse Aster, brindando seu copo com o dele. Depois
de ver Mitch tantas vezes em camisetas e calça jeans, ela ficou surpresa com a
forma adulta e polida que ele aparentava em um terno. Ele havia mudado o seu
corte de cabelo — só para ela? ela se perguntou — ele estava bem barbeado, e a
roupa realçava seus ombros e acentuava sua cintura fina. Aster gostou muito de
perceber que ele se manteve espreitando com cuidado suas pernas, que pareciam
especialmente longas em seu vestido Versace.
— Deixe-me te mostrar tudo — disse ela, tomando o braço dele para levá-
lo para o corredor. Ela mostrou-lhe os antigos artefatos marítimos que seu avô
costumava colecionar. — Ele sempre tentava encontrar coisas como esta em
mercados de pulga. Ele tinha uma sorte insana, encontrando coisas que todos os
outros pensavam que eram inúteis. Nós sempre dizíamos que ele deveria ir no
Antiques Roadshow 2. — Sua voz falhou um pouco com a lembrança de seu avô.
Ela desejou que ele pudesse estar ali esta noite, por Corinne.

2
Antiques Roadshow: É um programa de televisão britânico no qual avaliadores de antiguidades viajam
para várias regiões do Reino Unido (e, ocasionalmente, em outros países) para avaliar antiguidades
trazidas pela população local. Ele está em exibição desde 1979. Há também versões internacionais do
programa.
— Parece que ele era um cara muito especial — disse Mitch baixinho,
pegando sua mão.
Aster entrelaçou os dedos com os dele. — Aqui está uma foto dele — disse
ela, apontando para uma foto antiga de Alfred e seu amigo Harold na frente da
loja principal da Saybrook em Nova York, usando chapéus combinando e óculos
de aros de arame.
— Ele parece exatamente como no vídeo de doutrinação — Mitch brincou.
Então ele olhou através da multidão. — Então, onde está a noiva?
Aster franziu o cenho. — Eu não sei. — Ela não tinha visto Corinne desde
aquela tarde. Edith estava no canto, conversando com os Morgans, uma família
que morava na mesma rua e tinha feito uma fortuna com gás natural. Dixon estava
conversando com algumas pessoas de sua empresa de investimentos; seu pai estava
ao lado dele, e parecia estranhamente como um Dixon mais velho, só que mais
grisalho. Mason e Penelope apertavam as mãos com força, conversando com os
pais de Natasha no canto.
O olhar de Aster permaneceu em seu pai. Ele pode ter tido um álibi para
o assassinato de Poppy, mas ele ainda tinha um monte de segredos.
— Aster — alguém chamou do outro lado da sala. Uma figura saiu do meio
da multidão, e Clarissa abordou-a em um abraço. — Como você está, sua vadia
louca? — Ela deu um passo para trás e deu uma olhada em Aster. — Você está tão
linda hoje à noite. Eu te odeio um pouco. E eu particularmente te odeio por furar
comigo na Soho House na semana passada. Além disso, você perdeu uma grande
noite na Boom Boom.
Clarissa parecia mais magra e festeira do que nunca. Seu cabelo escuro
caía pelas costas em cachos longos, e ela usava um vestido frisado que mal cobria o
topo de suas coxas. Por um segundo, Aster pensou que Clarissa tinha invadido a
festa, mas depois ela lembrou-se que a tinha convidado.
— Desculpe — disse Aster fracamente, percebendo que ela nunca
respondeu o SMS que Clarissa mandou no jantar naquela noite. Esse foi o mesmo
dia que ela tinha invadido o e-mail de seu pai e ido para o FBI com Corinne e
Rowan. — Uma certa coisa veio à tona.
Clarissa colocou as mãos nos quadris e olhou ao redor da sala enorme. —
Portanto, este é o lugar onde você gastou seus verões? — Ela torceu o nariz.
— Sim. Por que? — perguntou Aster, sentindo-se na defensiva.
— Oh, por nada. — Clarissa sorriu docemente. — Parece apenas... Eu não
sei. Mais ou menos como a casa da Família Addams. — Ela passou um braço em
volta dos ombros de Aster. — Você acha que há alguma maneira de nós podermos
chamar um jato particular da sua família e fugir para fora desta coisa mais cedo?
Há uma festa incrível esta noite no sótão de um executivo de uma gravadora em
Tribeca. E adivinha quem vai estar lá? Nigel! E ele está solteiro novamente! — Ela
bateu no quadril de Aster e piscou.
Mitch pigarreou. — Uh, quem é Nigel?
Aster nervosamente agarrou sua mão. — Mitch, este é minha amiga,
Clarissa.
— Melhor amiga — corrigiu Clarissa.
— Nós nos conhecemos há muito tempo — Aster admitiu. — Clarissa,
Mitch.
Clarissa olhou para Mitch de cima a baixo. Um pequeno sorriso apareceu
em seu rosto. — Qual é o seu sobrenome?
— Erikson — respondeu Mitch.
— Dos Darien Eriksons? — perguntou Clarissa.
Mitch olhou para Aster buscando ajuda. — Eu tenho uma tia-avó que vive
em Stamford? — ele ofereceu.
Clarissa olhou para Aster, dando-lhe um olhar que dizia você tá falando
serio? Aster mordeu o lábio. Então, Mitch não se encaixava exatamente no tipo de
caras com que Aster normalmente saía. Mas talvez isso fosse uma coisa boa.
Então Clarissa arregalou os olhos para alguém do outro lado da sala. —
Puta merda, é o Ryan! — Ela apontou para um dos amigos de Dixon, então se
inclinou para Aster. — Lembra quando eu fiquei com ele no Lot 61?
E com isso, ela se foi.
A banda de jazz tocava uma batida empolgante. Aster olhou para Mitch,
que estava calmamente tomando seu Moscow Mule. — Desculpe — disse ela. —
Clarissa é meio... intensa.
Mitch levantou uma sobrancelha. — Ela é sua melhor amiga?
Antes que ela pudesse responder, Edith deu um passo adiante em seu
campo de visão. — Ora, olha quem está aqui! — sua avó falou.
Aster virou, esperando Corinne aparecer no topo das escadas. Mas Edith
— usando seu habitual cachecol de pele de marta — tinha corrido para a porta da
frente. Ela colocou as mãos nos ombros de uma loira e conduziu-a para dentro.
Demorou um momento para Aster perceber que a convidada recém-chegada era
Katherine Foley, vestida não com sua saia preta costumeira, mas com um lindo
vestido de festa de cor champanhe e saltos gatinho.
Aster correu para a agente. — Aconteceu alguma coisa com o caso de
Poppy? — ela perguntou. — Você achou o assassino?
Edith fez uma careta. — Meu Deus, Aster. A senhorita Foley está aqui
porque eu a convidei.
Aster tentou o seu melhor para sorrir para Foley, murmurando um
pedido de desculpas. — Olá, Aster — disse Foley. Seu tom de voz era tão
condescendente como tinha sido no outro dia na estação.
Alguém tocou o cotovelo de Aster, e ela virou-se mais uma vez, sentindo-
se arrastada em muitas direções. Desta vez, Rowan estava atrás dela, parecendo
feminina e suave em um vestido cinza claro. Aster congelou, vendo a expressão de
pânico no rosto de Rowan. — O que foi? — Ela sabia que Evan estava em algum
lugar. Talvez James também. Se eles fizeram mais alguma coisa para magoar
Rowan...
— Não faça uma cena, mas nós temos um incidente na praia — Rowan
murmurou entre dentes, apontando com o queixo em direção às grandes janelas
na parte de trás da casa. — Corinne entrou no mar.
— O que você quer dizer com entrou no mar? — Aster espiou por cima do
ombro. Mitch estava ouvindo, seu rosto cheio de preocupação. Aster sentiu uma
pontada momentânea de gratidão por ele ser um cara tão bom, e saber que ele
não iria postar isso no Abençoados e Amaldiçoados como a maioria das pessoas
fariam.
— Ela simplesmente está lá de pé, na água, quase nua — Rowan balbuciou.
— Lá fora, onde qualquer um pode ver. O que está acontecendo?
Aster estremeceu. Ela sabia exatamente o que estava acontecendo.
— Eu vou resolver isso — Aster prometeu a Rowan. — Você vai buscar
Corinne. — Então ela pegou a mão de Mitch e disparou contra a multidão. — E
você vai me ajudar.
— A sua irmã está bem? — perguntou Mitch, tropeçando para acompanhar
Aster.
Aster correu, passando por uma mesa de canapés. — Minha irmã está um
pouco insegura sobre se casar — ela sussurrou. Ela correu para Evan, que estava na
frente da sala, falando com alguns convidados. Aster queria manter um olhar
complacente no rosto, mas ela estava mesmo morrendo de vontade de estapeá-la
para tirar aquele olhar presumido da cara dela. James já esteve com toneladas de
mulheres, ela estava morrendo de vontade de dizer. Você não é nada especial.
Evan olhou e levantou uma sobrancelha para Aster.
— Por que não propomos um brinde — a Poppy? — Aster sugeriu.
As sobrancelhas de Evan franziram. — Isso não parece adequado.
— Pelo contrário — disse Aster, se esticando em cima de seus 1,75 m de
altura, — é totalmente apropriado. Poppy deveria ser a dama de honra esta noite.
Ela merece ser lembrada. — Vendo a hesitação de Evan, Aster a pressionou. Ela
imaginou Rowan persuadindo Corinne perto da água. — Vamos lá. Vamos reunir
todos aqui.
Evan apertou os lábios juntos, então deu de ombros. — Acho que todo
mundo está ficando um pouco inquieto.
— Obrigada. — Aster sorriu docemente. Ela tilintou uma colher contra um
copo de vidro, e os convidados se acalmaram. — Eu gostaria de propor um brinde
— ela disse. — O primeiro é para a minha linda prima Poppy, que perdemos há
pouco tempo. Alguém gostaria de dizer algumas palavras? — Ela ficou surpresa
quando a primeira pessoa a se aproximar da frente foi seu pai.
Mason pigarreou, então olhou para a multidão.
— Como vocês sabem, a nossa família sofreu algumas tragédias
recentemente. — Ele tossiu e girou seu uísque. — As tragédias abalaram a todos
nós. Eu não falei no memorial de Poppy, principalmente porque eu não sabia
como falar. E embora eu não queira estragar a celebração deste fim de semana
com a tragédia de sua morte, eu quero dizer o quão devastado todos estamos por
tê-la perdido. Não é suficiente dizer que Poppy foi embora antes do tempo. Não é
suficiente dizer que sinto falta dela, tampouco. Há um buraco enorme em nossas
vidas, que nunca será reparado. A única coisa que me manteve são desde que a
perdi é a minha linda família — minha esposa, Penelope, e minhas duas filhas
preciosas, Corinne e Aster. — Ele olhou para Aster, e em seguida, para sua mãe. —
Eu amo vocês garotas, com todo o meu coração.
Um suspiro se elevou por toda a multidão. Aster piscou, chocada. Ela
nunca tinha visto seu pai mostrar tanta emoção. Lágrimas corriam nos cantos dos
seus olhos.
Mason respirou fundo. — Eu espero que haja justiça neste mundo — disse
ele, olhando para o seu público, agora extasiado. — Poppy não merecia o destino
que teve. E eu quero ter certeza de que ninguém mais passará por isso. Então, eu
quero fazer um brinde a Poppy e a minha outra sobrinha linda, Natasha Saybrook-
Davis, cujos pais viajaram até aqui, mesmo com sua filha ainda no hospital. A
Poppy e Natasha.
Ele ergueu a taça, e todo mundo copiou. Tinidos soaram por toda a sala.
Aster olhou para Mitch e tocou seu copo no dele.
Ele balançou a cabeça em descrença. — O FBI ainda não descobriu nada?
Aster olhou para Foley, que estava nas sombras, bebendo água com gás. —
Eu acho que não — ela murmurou.
— É uma loucura, dado o número de varreduras que fazem e o nível de
segurança daquele prédio — ele continuou. — Quero dizer, eu tenho medo de
roubar um lápis do almoxarifado, há tantas câmeras em mim.
Aster assentiu, pensativa. — Eu pensei que eles teriam pego alguma coisa
também, embora eu acho que o escritório de Poppy é um pouco fora da faixa de
onde as câmeras estão. E eles disseram que a fita de vigilância do lobby não
mostrou nada suspeito. Mas não é como se o assassino tivesse aparecido de
repente dentro do escritório. Ele ou ela tem que estar em algum lugar.
Mitch olhou para ela com curiosidade. — Você acabou de fazer uma
referência a Harry Potter?
— Talvez. — Ela encolheu os ombros, sentindo uma vibração em seu
estômago que ela ignorou. — Eu só gostaria de poder ver a fita de vigilância. Talvez
ela perdeu alguma coisa. — Ela apontou um polegar em direção à Foley.
— Você sabe que há um arquivo de backup, certo? — perguntou Mitch.
— Arquivo de backup? — Aster repetiu.
— Há sempre um backup na nuvem — explicou Mitch. — Dessa forma, se
algo acontecer com o servidor, há uma rede de segurança. Em teoria, você pode
olhar isso.
A respiração de Aster ficou mais rápida. — Eu poderia? Como?
Mitch bebeu o resto de sua bebida e colocou na bandeja de um garçom
que passava. — Não é difícil. Quer dizer, eu provavelmente poderia acessar os
arquivos através do servidor.
— Sério? — perguntou Aster.
— É claro — disse Mitch, sem hesitação. — Meu laptop não está aqui, no
entanto. Está no meu hotel.
— Você pode fazer isso agora?
Mitch balançou as chaves no seu bolso, parecendo devastado. — O único
problema é que, se eu for agora, eu provavelmente vou perder o resto do jantar.
— Isso é mais importante — disse Aster rapidamente. — Quero dizer, se
você não se importar, isso é...
— Claro que eu não me importo. — Mitch arrastou os pés. — E, eu quero
dizer, se você decidir voltar para a cidade, com a sua amiga, está tudo bem
também. Para ver Nigel.
Aster fitou-o por alguns instantes antes de perceber que ele estava falando
de Clarissa, e seu pedido por um jato para voltar a Manhattan naquela noite. Não
muito tempo atrás, era exatamente o que Aster teria feito: farras num loft seriam
muito mais divertidas do que o jantar. Mas agora ela não podia nem pensar em
fazer isso com Corinne — ou com qualquer outra pessoa da sua família. Ela não
queria mais Nigel ou qualquer um dos outros caras de fala mansa dessas festas que
se gabavam por ficar com uma herdeira Saybrook. Ela queria que aquele nerd alto
e adorável na frente dela, com os seus torneios de World of Warcraft e o seu
olhar dolorosamente esperançoso em seus olhos castanhos.
Ela olhou ao redor da sala. Clarissa estava de pé perto das portas francesas
que levavam ao pátio; quando ela notou Aster olhando, ela acenou. Em vez de
acenar de volta, Aster deslizou sua mão nas de Mitch. E então ela o puxou ainda
mais perto, envolveu seu outro braço em volta de sua cintura, e o beijou. Mitch
hesitou por um momento, depois abriu a boca para beijá-la de volta. Aster
inclinou-se para o beijo, envolvendo ambas as mãos em torno de sua cintura e
brincando com a bainha de sua camisa.
No último instante Mitch se afastou, soltando suavemente seus braços ao
redor dele. — Tudo bem — disse ele, sua respiração um pouco irregular. — O que
foi isso?
— Por ser você — disse Aster. Ela enfiou a mão no bolso, pegou as chaves
e entregou a ele. — Agora vai. Eu prometo que vou estar esperando quando você
voltar.
Mitch assentiu, com um olhar sonhador ainda em seu rosto, e passou
através da multidão para a porta da frente. Aster se encostou na parede, ouvindo
mais brindes. Ela podia sentir o olhar de Clarissa sobre ela, mas pela primeira vez
ela não se importava com o que Clarissa pensava. Seus pensamentos estavam em
outro lugar. Em Mitch... e naquele arquivo.
O assassinato de Poppy poderia finalmente ser resolvido — naquela noite.
27
Traduzido por Ivana

N
o momento em que Rowan chegou no mar, Corinne já havia saído da
água e estava sentada na praia. — Olá — disse ela agradavelmente para
Rowan enquanto ela ia ao seu encontro.
— Você está bem? — Rowan gritou, entregando-lhe uma toalha de praia.
Corinne envolveu a toalha ao redor de seu corpo e roboticamente secou
suas pernas. Seu cabelo e maquiagem ainda estavam impecáveis. — Eu só precisava
de um momento. Mas eu estou bem agora.
Ela recolheu seu vestido da areia, caminhou para dentro da casa, e subiu
as escadas de volta para seu quarto. Rowan a seguiu nervosamente. — Isso é por
causa de Will? — ela perguntou. — Ou de Dixon? Porque ainda há tempo,
Corinne. Você não tem que seguir em frente com isso.
Corinne se inclinou sobre a mala e pegou um novo sutiã e calcinha. Ela
abotoou de volta o vestido que ela estava usando antes, um sorriso estranho
aparecendo em seu rosto. — Eu disse que estou bem.
Ela manteve o sorriso em seu rosto enquanto ela dava um ajuste final em
seu cabelo e descia as escadas para a festa. A sala cheirava a uma mistura de
charutos, sal do mar e suflê de lagosta. — Finalmente! — Rowan ouviu Mason
dizendo abaixo, e todo mundo explodiu em aplausos. Corinne passou através do
grupo, beijando as bochechas e apertando as mãos, tomando um momento extra
para dar a sua avó um grande abraço. Então ela foi em direção à Dixon, que estava
sentado em uma mesa com os pais. Ele se levantou para cumprimentá-la, e ela
deu-lhe um beijo longo e apaixonado na boca. Todo mundo gritou.
Rowan permaneceu nas escadas, sem saber da decisão de sua prima.
Corinne estava tentando provar alguma coisa? E a quem — a todos os outros, ou a
si mesma?
— Por que você demorou tanto? — Rowan ouviu Dixon provocar Corinne
quando ele se inclinou para outro beijo rápido.
Corinne sorriu timidamente. — A noiva precisa de tempo para ficar
perfeita para o seu marido.
Rowan engoliu o nó em sua garganta e olhou ao redor do resto da sala,
analisando os rostos. As amigas de Corinne de Yale estavam sentadas em uma
mesa, algumas delas com crianças pequenas. Outro grupo de crianças brincava
com os navios em garrafas do Vovô Alfred, que estavam alinhadas em uma
prateleira perto das janelas. Tia Grace estava perto dos canapés com o pai de
Natasha, Patrick. Tio Jonathan — Corinne teve de convidá-lo por razões de
negócios — estava no lado oposto da sala, deliberadamente evitando o contato com
sua ex-esposa. Os filhos de Grace e Jonathan, Winston e Sullivan, estavam
conversando com alguns amigos de Dixon, tentando beber alguns goles de uísque.
Os irmãos de Rowan, que tinham voado na noite passada, brincavam com seus
pais junto à lareira. Um bando de primos de segundo grau estavam perto das
janelas do chão ao teto, que davam para a praia. Edith gargalhou alto de algo que
Mason disse. Rowan viu Danielle Gilchrist e seu namorado, Brett, apertando a
mão de Corinne e desejando-lhe tudo de bom.
Em seguida, ela viu uma menina de vestido listrado vir na direção de
Rowan, a faixa cor-de-rosa do vestido dela balançando atrás. — Tia Rowan! — ela
gritou, correndo para as pernas de Rowan. Skylar olhou para Rowan, com grandes
olhos azuis. — Onde você esteve? Sinto saudades de você!
— Oh, querida, eu sinto sua falta também — disse Rowan, curvando-se
para abraçá-la. — Você está linda! — Então, ela sentiu alguém chegando atrás de
Skylar, e se levantou. E ali, com as mãos enfiadas nos bolsos, estava James.
A garganta de Rowan apertou. Ela deu um tapinha na cabeça de Skylar
rapidamente, e depois se afastou. — Uh, eu tenho que ir fazer uma coisa para sua
tia Corinne, querida. Eu volto logo, ok?
— Ok! — disse Skylar, correndo em direção à Aster.
Rowan caminhou por um longo corredor em direção à parte de trás da
casa e abriu a porta para a varanda, com vista para o mar. Ela cambaleou até a
grade e segurou-a firmemente, respirando profundamente. Isso não importa, ela
tentou dizer a si mesma.
Mas importava sim. Não muito tempo atrás, ela e James deveriam ter
chegado neste casamento juntos. Eles discutiram como eles iriam explicar à família
que estavam juntos, que eles estavam levando as coisas devagar, para não
confundir suas filhas ou denegrir o que o casamento de James e Poppy tinha sido.
Que idiota ela tinha sido.
A porta rangeu, em seguida, bateu. Rowan sabia que James estava ali, sem
nem mesmo ter que olhar. Seus passos se aproximavam, e, em seguida, lá estava
ele, de pé no parapeito ao lado dela.
— Por favor, vá embora — disse ela, em voz baixa.
— Rowan. — A voz de James fraquejou. — Eu sinto muito. Eu sei que eu
fui um louco no outro dia. Desde que Poppy morreu... eu estive meio maluco.
Rowan ficou ali em silêncio, abraçando apertado o próprio corpo.
James bebeu seu coquetel com aroma de gengibre. — Se você está se
perguntando sobre Evan, eu ainda nem falei com ela a noite toda.
— Eu não estava pensando em Evan. — Rowan olhou para o mar cinza à
distância. — Para ser honesta, James, eu estava pensando em você.
Ela virou-se e olhou para seus olhos injetados de sangue, seu rosto abatido
e o quão magro ele estava. — Foley me contou sobre seu álibi, na manhã em que
Poppy morreu. Você saiu da minha casa para se encontrar com uma mulher
chamada Amelia Morrow. Ela é mais uma das amigas de Poppy, não é?
A pele de James empalideceu. Ele olhou para baixo. — Sim.
— Poppy sabia sobre ela?
Seus ombros caíram. — Eu não sei. Talvez. Provavelmente.
Ela levou as mãos ao rosto. — Você fez isso com ela... muitas vezes?
James riu amargamente. — Você realmente quer saber?
— Por que, James? — gritou Rowan. — O que há de errado com você?
Suas mãos se atrapalharam com sua bebida. Ele virou o copo, mesmo que
o copo já estivesse vazio. — Você me conhece. É realmente difícil dizer não a
alguém no bar no final da noite. Ou no trabalho. Ou em uma viagem de negócios.
Eu sempre fui assim. Eu simplesmente não posso fazer nada.
Calor subiu para o rosto de Rowan. — Você tem o livre arbítrio, você sabe.
Você pode controlar a si mesmo se você realmente quiser. Se alguém importar o
suficiente. — Ela fechou os olhos. — Então eu fui apenas uma garota no bar
também? E Poppy?
— Não — disse James enfaticamente. Parecia que ele estava prestes a pegar
a mão de Rowan, mas depois ele pensou melhor. — Foi real com você. Era sempre
verdadeiro com você. E foi real com Poppy. — Ele respirou fundo. — Eu não
merecia Poppy. E eu não mereço você, também.
— Você está certo — disse Rowan rigidamente, dobrando em seus ombros.
— Você não merece.
Ela respirou fundo, sentindo-se desmoronar. Ela deveria odiá-lo, mas em
vez disso ela só se sentia... vazia. Ela se agarrou a uma fantasia do homem que ela
acreditava que James era — um mulherengo que tinha mudado quando conheceu a
mulher certa — e perder isso foi tão doloroso como perder o próprio James. Ela
virou a cabeça em direção às nuvens rosadas no céu, com uma certeza dentro dela:
Poppy sabia que James a traía. E ela ficou com ele de qualquer maneira.
Foi a descoberta mais chocante que Rowan tinha feito nas últimas
semanas, de alguma forma ainda mais chocante do que o pensamento de que
Poppy poderia ter matado Steven Barnett. Poppy era o tipo de mulher que vivia
propositadamente. Ela estava em completo controle — e ela sempre tinha estado.
Por que ela iria ficar com um homem que a traía várias vezes? Ela poderia ter tido
qualquer pessoa no mundo, e ainda assim Poppy tinha olhado para o outro lado.
E se ela achava que ela merecia isso?
Foi por isso que ela não tinha confiado em Rowan ou nas outras? Foi por
isso que ela fingiu ter um casamento perfeito? De repente, Rowan sentiu-se
estrangulada por todas as mentiras. Corinne e seu sorriso falso quando ela beijou o
noivo que ela não ama verdadeiramente. Mason e Danielle com o seu caso
secreto. E Rowan certamente não podia retirar-se dessa contagem.
E o que dizer de Poppy? Quem tinha sido ela realmente? Será que
Rowan saberia?
Espontaneamente, uma memória flutuou à tona em sua mente. Na festa
de fim de verão, quando Steven morreu, a banda tocou “Nothing Compares 2 U,”
a música que Poppy sempre amou. Ela correu para James e passou os braços ao
redor dele, aninhando em seu ombro. Eles balançaram durante a música inteira,
abraçando-se apertado. Rowan tinha ficado num canto, a inveja pulsando dentro
dela como um segundo coração. Um soluço tinha escapado de seus lábios, e ela
olhou ao redor, esperando que ninguém tivesse visto.
Só Danielle Gilchrist estava por perto. Ela estava bonita e de faces rosadas
naquela noite, e quando ela viu a expressão de Rowan, ela entregou a Rowan seu
copo cheio de vinho. — Não é justo, não é? — Danielle disse baixinho, com um
sorriso triste. — Tudo cai dos céus para ela, enquanto o resto de nós tem que lutar.
Rowan assentiu. Ela estava com tanto ciúmes de Poppy naquele
momento. Sua prima fazia as coisas parecem tão... sem esforço. Rowan teria
matado por apenas um pouco daquela graça. Por um pouco dessa sorte.
Mas era real a vida perfeita e sem esforço de Poppy? Ou era apenas uma
ilusão que ela cuidadosamente cultivou e manteve?
James suspirou ao seu lado, e Rowan olhou para ele. — Então isso significa
que não há mais jeito entre você e eu... — Ele parou de falar, as sobrancelhas
levantadas. Havia um olhar tímido, mas esperançoso em seus olhos. — Eu vou
tentar mudar, Rowan. Vou tentar tão duro quanto eu puder.
Rowan queria acreditar nele. Mas James tinha dito por ele mesmo: ele era
quem ele era, e ele não podia mudar a si mesmo. Ela via isso agora. Ela poderia
perdoar e, em seguida, fingir que não era nada quando ela descobrisse batom
manchado em seu colarinho ou uma mensagem suspeita em seu telefone. Talvez
foi isso o que Poppy tinha feito.
Mas Rowan não era Poppy. Ela tinha uma escolha, e ela não queria fingir.
Ela tocou o topo da sua mão. — Sinto muito, James — ela disse
suavemente. — Mas eu acho que eu vou ter que deixá-lo ir.
E então, só assim, ela finalmente se foi.
28
Traduzido por Ivana

O
solário da casa de Meriweather sempre tinha sido o lugar favorito de
Corinne para passar o tempo, provavelmente porque o lugar foi utilizado
principalmente por seus pais. Edith reclamava que cheirava a mofo e sal
e estava cheio de bichos, mas Corinne adorava. Isso a lembrava das longas noites
nos sofás de vime antigo ligeiramente úmidos, as velas de citronela acesas por toda
parte, os diversos balanços e cadeiras rangendo, e os sons barulhentos das ondas
em seus ouvidos. Ela e suas primas costumavam contar seus segredos naquele
cômodo pequeno e úmido — sobre meninos, brigas com os pais, seus sonhos.
Naquela época, seus futuros pareciam tão ilimitados quanto suas fortunas.
É estranho pensar nisso agora, Corinne pensou enquanto ela estava
deitada no balanço da varanda tarde da noite, com a cabeça no ombro de Rowan.
Através dos anos, ela se fechou, pouco a pouco. Agora era como se alguém
estivesse colocando uma tampa na caixa definitivamente.
— Foi realmente um bom jantar de ensaio — disse Aster, que havia
colocado calças de ioga e uma camiseta comprida e gasta. — Grande banda.
— Sim, todo mundo passou um bom tempo dançando — disse Corinne
levemente. — Especialmente as crianças.
— Sky parecia realmente feliz — disse Rowan. A menina tinha ficado na
pista de dança a noite toda, finalmente dormindo no ombro de James enquanto
ele a levava para cima. Todo mundo tinha sorrido ao ver Skylar feliz, mas ainda
havia uma tristeza lá também. Ela não tinha mais os pais de Poppy. Ela já não
tinha uma mãe. E o que dizer de um pai? James estava aqui esta noite, mas ele
parecia totalmente vago.
— Os homens são uns idiotas — Aster murmurou, como se estivesse lendo
seus pensamentos.
Corinne queria concordar, mas tudo o que ela sentia era tristeza. Dixon
não era um idiota. Will não era um idiota. Mas as coisas eram assim. Ela iria se
casar amanhã. Qualquer outra coisa seria demais. Muito difícil. Ela sentiu como se
estivesse olhando para uma estrada longa e reta; sem reviravoltas, sem curvas
inesperadas. Ela perguntou-se como algo poderia trazer alívio e pesar ao mesmo
tempo.
O telefone de Aster tocou, um som rangente contra o bater suave das
ondas e dos grilos cantarolando. Ela sentou-se e olhou para a tela. — Eu já volto —
ela sussurrou.
A porta bateu, e seus passos rangeram através do piso de madeira para a
frente da casa. Corinne olhou para o lugar, que tinha uma equipe de limpeza
limpando tudo após o jantar de ensaio. Nem uma única taça permaneceu sobre
qualquer mesa lateral; o chão tinha sido varrido e as mesas de jantar e cadeiras
foram retiradas e dobradas para serem reutilizadas amanhã, na tenda do lado de
fora. A única indicação de que haveria um casamento no dia seguinte era uma
coleção de fotos com moldura de prata de Corinne e Dixon sobre a lareira.
Amanhã, essas imagens cumprimentariam os convidados enquanto eles
caminhassem para o quintal. Corinne mal lembrava das fotos que ela e suas
primas tinham escolhido.
Ela caminhou até lá para olhar para elas, carregando as fotos de volta ao
solário. A maior delas era dela e de Dixon em New Haven, em seu primeiro ano
em Yale. Ela estava nas costas de Dixon, as pernas abertas para fora, brincando.
Dixon tinha acabado de dar uma entrevista para a sociedade secreta Skull and
Bones, Corinne lembrou, e ele tinha ficado emocionado porque os caras que o
tinham entrevistado haviam deixado claro que ele era um dos favoritos para se
juntar ao grupo. Ambos estavam radiantes. Corinne não se lembrava de ser tão
feliz.
Outra, no canto esquerdo, foi tirada em uma festa no quintal desta casa
com vista para o mar. Haviam fotos individuais deles — uma foto de Corinne bebê
em um vestido de algodão, uma de Dixon em um cavalo, Corinne novamente no
pátio em mais uma festa, com o olhar fixo em algo fora de vista. Corinne olhou
para aquela foto em especial, reconhecendo o vestido floral Lilly Pulitzer que ela
usava. Ela tinha usado esse vestido apenas uma vez: na noite que ela descobriu que
estava grávida.
Corinne era a única pessoa em foco; um enxame de outros convidados da
festa passava em torno dela em segundo plano. Mason conversava com Penelope.
Steven, embaçado, inclinava a cabeça para trás e ria. Uma garçonete loira servia
uma bebida em uma bandeja com o braço estendido. Um casal se beijava em
segundo plano.
Ela mostrou para Rowan. — Quem escolheu essa foto?
Rowan olhou duramente. — Não sei. Por quê?
— É da noite que Steven morreu — Corinne apontou.
— Hmm. — Rowan pensou por um longo tempo. — Bem, você certamente
parece feliz.
As aparências enganam, Corinne pensou. Especialmente naquela noite.
Os passos de Aster se aproximavam, e então ela apareceu na porta. Seu
rosto estava vermelho, ela estava respirando com dificuldade, e ela carregava um
iPad na mão direita. — Eu tenho algo para mostrar a vocês.
Ela entrou na varanda e sentou-se. — Então, o meu acompanhante, Mitch,
conseguiu acessar o vídeo de vigilância da manhã em que Poppy morreu. Está
nisso aqui agora.
Rowan enxugou os olhos. — Espera. Foley disse que o vídeo não deu em
nada.
Aster deu de ombros. — E daí? Talvez Foley não soubesse o que
procurar. — Ela olhou para elas. — E se isso nos mostrar tudo?
Corinne inclinou para frente, com o coração de repente batendo com a
possibilidade. — Abra!
— Vai logo. — Rowan sentou.
Aster colocou o iPad em uma mesa de café de vime, em seguida, tocou
um ícone de um aplicativo rotulado Câmera Remota. Um vídeo no QuickTime
apareceu. Um relógio no canto inferior direito da tela dizia que o vídeo era de
6:30 da manhã de sexta-feira, 6 de maio — a data da morte de Poppy. A tela era
dividida em quatro imagens de câmera separadas, cada uma de um ponto de vista
diferente do edifício Saybrook. Uma delas era de uma porta lateral que ia direto
para um elevador. Outra dava em uma entrada lateral da rua para os trabalhadores
da manutenção. A terceira dava para a entrada principal, onde os funcionários
passavam suas identificações através de uma catraca ou registravam-se com um
guarda. O quarto quadrante era um conjunto de escadas de emergência que
levavam para a rua.
Elas continuaram assistindo, a imagem em preto e branco e,
ocasionalmente, tremendo com a estática. Em alguns momentos, elas viram Poppy
caminhando pela entrada principal. Todo mundo pulou. Corinne colocou a mão
sobre sua boca. Era como ver um fantasma.
Poppy deu à segurança um olhar distraído e entrou pela catraca. Corinne
tocou o rosto de Poppy na tela.
Rowan se inclinou para frente. — Ela parece... bem. — Sua voz estava
embargada.
— Ocupada — Aster concordou. Havia lágrimas em seus olhos. — Mas não
assustada.
— Ela não sabia que iria morrer — Corinne sussurrou.
Poppy entrou no elevador, apertou o botão para o seu andar, e
desapareceu através das portas. Corinne engoliu em seco. Lá vai ela, ela pensou.
Poppy nunca mais desceria por esse elevador.
Ela recostou-se para assistir, com o coração ainda batendo acelerado.
Rowan agarrou seus joelhos. Aster não piscou. Ninguém passou pelo saguão por
um tempo, embora um funcionário da manutenção entrasse pela entrada lateral e
algumas mulheres de aparência despretensiosa apertavam o botão para baixo no
elevador lateral para o refeitório do porão. O pai de Corinne e Aster apareceram
no vídeo que mostrava a entrada principal. Algumas outras pessoas que Corinne
não reconheceu passaram também, mas eles eram empregados de outras
empresas no prédio, indo para a outra margem do elevador. Uma mulher parou
na porta do elevador, também pressionando o botão para baixo para o refeitório.
Finalmente uma outra mulher entrou. Mesmo que a imagem fosse em preto e
branco, Corinne reconheceu o perfil de Danielle Gilchrist e aquele vestido brega.
— Danielle chegou cedo no trabalho — ela comentou, observando
enquanto o elevador apitava e Danielle entrava nele.
— Puxa saco — Aster murmurou.
— Oh meu Deus — disse Rowan.
Ela estava apontando para algo na entrada principal. Outro rosto familiar
passou, mas a princípio Corinne não conseguiu reconhecer. Então, algo em seu
cérebro captou algo — essa pessoa não deveria estar no edifício. Ainda não, de
qualquer maneira.
— Essa é... — Rowan apontou um dedo trêmulo para a tela.
— Acho que sim — Aster sussurrou.
Corinne parou a fita e deslizou seu dedo ao longo da barra de tempo,
rebobinando para que ela pudesse olhar de novo. A figura empurrou as portas
giratórias e assentiu para o guarda de segurança. O guarda pareceu confuso, mas
então ele se distraiu com outro cliente entrando, e a mulher entrou, sem dar baixa
na entrada. Corinne se inclinou para perto, com o coração batendo forte. Todos
os tipos de alarmes soaram em sua cabeça. Era quem ela pensava que era, certo.
Uma jovem de cabelos claros em um terninho com saia preta. Boca reta. Testa
franzida. Sua postura rígida de mulher de negócios, determinação de aço.
Era Katherine Foley.
Corinne se recostou, manchas formando na frente de seus olhos. — Eu
não entendo.
Mas então algo estalou nela. Ela pegou de Rowan a foto dela, da noite que
Steven morreu. Ela se concentrou em duas das figuras no fundo, ambas um pouco
fora de foco. Uma delas era Steven Barnett. Seu rosto estava de perfil, a mão
estendida para aceitar uma bebida de uma garçonete loira. Agora que ela olhava
mais de perto, havia um olhar secreto e conspiratório entre Steven e a garçonete;
um pequeno momento compartilhado que ninguém mais viu.
Corinne tinha acabado de ver o mesmo cabelo loiro.
— O que foi? — perguntou Rowan, se levantando.
Corinne correu e acendeu a luz. A sala se encheu com fluorescência, e
todas apertaram os olhos. — Olhem — ela gritou, colocando a imagem na mesa ao
lado do iPad.
Ela comparou a imagem borrada na foto com o rosto congelado na tela do
iPad. Os rostos eram os mesmos.
— Oh meu Deus — Aster sussurrou. E Rowan afundou de volta na cadeira.
Katherine Foley tinha estado em Meriweather antes. Ela estava lá na noite
em que Steven foi morto. E ela estava lá na manhã que Poppy morreu.
Talvez elas estivessem procurando nos lugares errados. Talvez Katherine
tenha estado no foco o tempo todo.
29
Traduzido por Matheus Martins

A
s primas ficaram em silêncio pelo que pareceu eras. A respiração de
Rowan tremia quando ela inspirava e expirava. O peso do que elas
tinham acabado de descobrir lentamente entrou em suas cabeças. Ela
olhou novamente para as duas imagens, uma da câmera de vigilância e uma da
festa cinco anos atrás, servindo a Steven Barnett uma bebida. Sorrindo para Steven
Barnett, como se compartilhassem um segredo.
— Foley esteve naquela festa — Corinne sussurrou, caindo para trás no
assento. — Ela nos conhecia.
— Ela nunca deixou transparecer o que ela fez, no entanto — Rowan
murmurou. — Por quê?
Aster ficou de pé, olhando para a foto de Katherine da festa novamente. —
Elizabeth me disse que Steven Barnett tinha uma coisa com as meninas em torno
da cidade. Ela ainda disse que havia uma garota em particular, com cabelos loiros.
— Ela apontou para o rosto de Katherine Foley. — Olhe para o jeito que eles estão
olhando para o outro.
Corinne passeou ao redor da sala rapidamente como um brinquedo de
corda enrolado com muita força. — Talvez Katherine estivesse apaixonada por
Steven?
— É possível, não é? — disse Aster. — Talvez ela tenha ficado devastada
quando ele morreu — mas talvez ela não saiba quem fez isso. Talvez ela de alguma
forma descobriu recentemente que tinha sido Poppy... e ela teve sua vingança.
Rowan balançou a cabeça lentamente. — E pegou esse caso para que ela
pudesse controlá-lo. Quando ela disse que a fita de vigilância não mostrara
nenhum suspeito, nós acreditamos nela sem questioná-la, porque ela é do FBI.
Mas ela convenientemente deixou de fora o fato de que ela estava nisso.
Aster colocou a mão sobre sua boca. — E pensem na rapidez com que ela
chegou ao hospital na noite da nossa queda. E se ela estava na casa? E se ela nos
ouviu falar sobre Steven e estava preocupada que estávamos chegando muito perto
da verdade?
— E lembram o quão estranha Foley ficou depois que mencionamos que
Poppy tinha matado Steven? — acrescentou Rowan.
— Ela poderia ter grampeado a casa — e invadido nossas casas — Corinne
sussurrou, com os olhos arregalados. — Ela teve acesso a Saybrook, Rowan. Você
acha que ela roubou o vídeo do seu computador?
— Talvez — disse Rowan, de repente pensando no cursor se movendo em
seu computador de trabalho. — Ou ela pode ter encontrado uma maneira de
acessar remotamente minha máquina.
— Mas eu não entendo por que — Aster sussurrou, seu olhar deslizando de
um lado para o outro. — Não temos nada a ver com a morte de Steven.
Rowan inclinou a cabeça. — Não, nós não temos. Mas talvez ela pense que
temos. Éramos tão próximas de Poppy. Ela poderia ter pensado que Poppy nos
contou tudo.
— Ou ela pode estar tentando encobrir o assassinato de Poppy — Corinne
sugeriu. — Colocando a culpa em outra pessoa.
Todas trocaram um olhar assustado. Aster saltou de pé. — Temos que
contar a alguém.
— Quem? — perguntou Corinne. — Não para o FBI — ela é o FBI.
Rowan levantou do sofá. — Vamos ao departamento de Boston. Tem que
ter alguém acima do posto dela — alguém que nos leve a sério. — Ela colocou seus
pés em suas sandálias. — Devíamos ir. Foley pode estar nos ouvindo agora. — Ela
olhou para Corinne. — Você pode ficar aqui se quiser. Descansar para amanhã.
— Você está brincando? — Corinne colocou um casaco de lã sobre os
ombros. — Eu não vou deixar vocês sozinhas nessa. — Ela acendeu uma luz na sala
principal e encontrou as chaves do seu SUV. — Vamos.
Elas saíram pela porta da frente e entraram na noite fria. O ar estava
pesado com o cheiro de água salgada, e a noite estava sem lua e com neblina. A
única luz era a da varanda e uma única luz na casa dos empregados. Rowan correu
para o SUV na garagem, sentindo que se não saísse dali neste momento, algo
terrível pudesse acontecer com elas. Sua cabeça zumbia com o terror do que elas
tinham acabado de descobrir. Ela pensou em todas as vezes que ela tinha estado
na presença de Foley. Ela tinha estado em seus escritórios, suas casas. Edith tinha
até convidado ela para o casamento de Corinne.
Rowan abriu a porta do Range Rover e virou para o banco do motorista.
Corinne deslizou ao lado dela, enquanto Aster subia na traseira. Mas quando
Rowan colocou a chave na ignição e girou-a, nada aconteceu. Franzindo a testa, ela
tentou de novo. Ainda nada.
— O que há de errado? — Aster sussurrou.
— Eu não sei. — Rowan tentou ligar os faróis, mas a garagem permaneceu
escura. — Talvez seja a bateria.
— Você tem que estar de brincadeira. — As mãos de Aster caíram
molemente no colo. Em seguida, seus olhos se arregalaram. — E se ela drenou a
bateria de propósito?
Rowan estendeu a mão e trancou as portas, de repente com medo de
voltar para casa.
— O que vamos fazer? — Sua voz gritou em pânico. — Nós temos que sair
daqui!
De repente, houve uma batida forte na janela do carro. Todo mundo
gritou para a figura sombria quase invisível por trás do vidro fumê. Foley, foi o
pensamento singular de Rowan.
— Olá?
Lágrimas correram pelo rosto de Rowan enquanto ela tentava a ignição
novamente e novamente.
— Olá? — a voz chamou mais uma vez. — Corinne? Rowan? Aster?
Rowan piscou. Sobre o coração batendo forte, de repente ela percebeu
que não era a voz de Foley em absoluto. Ela tirou a chave da ignição. — Quem está
aí?
— É a Julia.
— Mãe? — chamou uma voz fora do carro. Houveram passos. — Rowan?
— a voz chamou. — É Danielle.
Rowan clicou seu telefone no modo lanterna. Duas ruivas entraram na luz.
Danielle e Julia Gilchrist. Rowan trocou um olhar com as outras, em seguida,
abriu a janela.
Danielle estava em uma camiseta, e seu cabelo estava bagunçado com o
sono. Julia usava calças de ioga e um moletom Sherpa. Ambas as mulheres
olharam para elas preocupadamente. — Vocês estão bem? — perguntou Julia.
Rowan sacudiu a cabeça. — N-não.
— Nosso carro não quer ligar — Corinne desabafou.
— Talvez ele precise de um empurrão? — Danielle ofereceu.
— Ou podemos apenas levar vocês para algum lugar — disse Julia, incerta.
— Sim, por favor — disse Aster, atirando-se para fora do carro. — Se você
não se importar.
— É claro. — Julia fez um gesto em direção à casa dos empregados. O
Subaru estava pousado sob o pórtico da entrada coberta. — Deixe-me pegar minha
bolsa.
As outras primas saíram do carro e correram em frente à entrada. Um
vento forte bateu contra o rosto de Rowan, e ela ouviu um estrondo ao longe.
Enquanto subiam no veículo, faróis apareceram na outra extremidade da garagem.
O coração de Rowan apertou.
Ela inclinou-se no banco da frente e tocou o ombro de Julia.
— Nós temos que sair daqui — disse ela, nervosa. — Agora.
30
Traduzido por Ivana

A
ster se amontoou no banco de trás com suas primas. — Dirija — ela
ordenou à Danielle. — Por favor.
Danielle deu a Aster um olhar circunspecto, e então ligou o
motor. Julia saltou para o banco do passageiro e fechou a porta, enquanto Danielle
pisou no acelerador e o carro se impulsionou para frente. O Subaru passou por
um outro veículo indo em direção à casa. Aster olhou para a janela da frente, mas
ela não conseguiu ver quem estava dirigindo. Alguns dos amigos de Dixon tinham
ido a um bar local para celebrar; talvez alguém estivesse trazendo-os de volta?
Ou talvez fosse Foley.
— Mais rápido — Aster pediu a Danielle.
— Ok, ok — disse Danielle.
A noite estava calma e silenciosa. Uma névoa ameaçadora e grandes gotas
de orvalho cobria tudo. Quando o carro virou para a estrada principal, Danielle
olhou para o banco de trás. — Para onde?
Aster trocou um olhar preocupado com Corinne e Rowan. Rowan
respirou fundo. — Para o aeroporto. Precisamos chegar ao departamento do FBI
em Boston.
Aster mordeu o lábio, ainda sentindo-se pouco à vontade sobre Danielle
se envolvendo em assuntos familiares privados. Mas não era como se elas tivessem
muita escolha. Elas precisavam de ajuda agora.
Os olhos de Danielle se arregalaram. — É sobre Poppy?
Rowan sacudiu a cabeça como se dissesse, Não podemos falar agora.
Danielle encarou seu rosto, claramente confusa. — Ok — ela finalmente
disse, abaixando os ombros. Aster queria jogar os braços em volta dela para que
assim ela obedientemente seguisse suas ordens.
Todo mundo ficou em silêncio quando o carro virou para a estrada
sinuosa que beirava o mar. Aster tocou sua mão levemente sobre os lábios,
pensando no beijo de Mitch. Ela se perguntou se deveria mandar um SMS para
ele, para que ele soubesse o que elas tinham encontrado no vídeo de vigilância.
Mas agora ela tinha certeza de que Foley estava lendo suas mensagens.
Elas passaram por uma trilha que descia para a areia — o lugar onde
Steven levou Aster na noite em que ele morreu, onde ela se vingou de seu pai por
ter um caso com sua melhor amiga. Ela olhou para a parte de trás da cabeça de
Danielle, de repente sentindo uma nostalgia dos tempos em que ela e Danielle
costumavam sair juntas. A última vez que elas tinham conversado, conversado de
verdade, havia sido neste ponto exato, na noite em que Steven morreu.
Aster tinha permanecido na areia depois que seu pai a empurrou e foi
embora, sentindo a necessidade de estar sozinha. Ela esfregou o braço
machucado, revoltada com o comportamento de seu pai. Ele nem parecia
arrependido do que tinha feito. Era como se Aster e sua mãe não tivessem
importância, como se sua família não importasse.
Ela tinha ouvido passos nas dunas e olhou para cima, seu coração
acelerando. Talvez seu pai tivesse voltado para pedir desculpas. Mas foi outra
pessoa que apareceu por entre os juncos. Danielle estava vindo no caminho, com
as mãos em seus lados, os olhos abaixados recatadamente. Ela estava usando um
vestido de praia listrado e chinelos, os cabelos soltos ao redor do rosto.
— Aster — foi tudo o que ela disse no início. — Eu sinto muito.
Aster sentiu um surto repentino de raiva e, por dentro, magoada. Ela
abraçou os joelhos com força contra o peito e olhou para as ondas. Sente muito
pelo quê? ela queria dizer. Por dormir com meu pai, ou pelo fato de que eu
descobri? Mason provavelmente tinha ido bater na porta dos Gilchrists e mandou
Danielle. O que ele tinha dito a ela? Aster descobriu, talvez. Ela está surtando.
Certifique-se de que ela não diga nada. Ele enviou a sua amante para fazer seu
trabalho sujo.
Aster olhou para sua velha amiga, com os olhos em chamas.
— Aster. — A voz de Danielle falhou. — Você não entende, Aster? Você é
como uma irmã para mim. Eu não posso te perder.
O queixo de Aster vacilou. — É por isso que dói tanto.
Danielle deu um passo adiante, mas Aster recuou, jogando as mãos para
cima como uma barreira entre elas. — Apenas vá embora — ela sussurrou.
Danielle tinha inclinado a cabeça. E então, suspirando profundamente, ela
se virou e fez exatamente isso.
O carro passou por cima de uma lombada, sacudindo Aster de volta ao
presente. Ela piscou para a estrada escura, com aquele nevoeiro intenso na frente
delas. Algo incomodava seu cérebro, uma pequena farpa que ela não conseguia
entender. Ela olhou para o rabo de cavalo vermelho brilhante de Danielle no
assento em frente a ela, pensando.
E então ela se lembrou. Durante a sua orientação, Danielle disse que ela
não tinha estado no trabalho na manhã em que Poppy tinha morrido. Intoxicação
alimentar, ela alegou. Mas agora, dado o que elas tinham visto na fita de segurança,
isso não fazia sentido.
As palmas das mãos de Aster começaram a coçar. Ela se inclinou para a
frente entre os assentos. — Hum, Danielle? Você disse que estava em casa doente
quando Poppy morreu?
Danielle inclinou a cabeça, seu olhar ainda na estrada. — Isso mesmo. Eu
comi um sushi ruim na noite anterior.
— Quanto tempo você esteve doente?
Danielle encontrou os olhos de Aster no espelho retrovisor. — Cerca de
um dia, talvez dois.
— Você tem certeza disso?
Corinne se moveu de lado. Rowan olhou para Aster, mas Aster manteve o
olhar fixo no espelho retrovisor, esperando por Danielle. — É que nós vimos você
no vídeo de vigilância na manhã em que Poppy foi morta — disse Aster com
cuidado.
Danielle desacelerou o carro ligeiramente. — Isso é impossível. Não era
eu.
— Era você — Aster insistiu. Seu coração estava batendo três vezes mais
rápido. — Era o seu cabelo, seu vestido. Eu tenho certeza disso.
— Eu estava em casa, doente — ela insistiu. Danielle olhou para as
mulheres no banco de trás, em seguida, para Julia.
A cabeça de Aster parecia querer se dividir em dois. Todas as peças
começaram a se encaixar de uma vez, peças que não tinham nada a ver com
Katherine Foley. Danielle sabia de Meriweather; ela certamente poderia ter uma
chave para a propriedade. Trabalhando no RH, ela tinha rédea solta no edifício, e
acesso a todos os tipos de informações pessoais dos funcionários. Ela poderia ter
simplesmente batido na porta de Poppy naquela manhã, e Poppy teria deixado ela
entrar, pensando que ela tinha alguma pergunta inocente. E, em seguida...
Mas por quê? Porque Aster tinha rejeitado ela? Porque, talvez, Mason
tinha rejeitado ela? Não era o suficiente que eles tinham estado juntos em
primeiro lugar? Não era o suficiente para Danielle ter conseguido um emprego
além desse affair?
— Sério, eu não estava nem perto do escritório — disse Danielle
novamente.
Corinne olhou interrogativamente para Aster. Aster fechou os olhos. Ela
parecia estar sendo sincera. Aster não tinha ideia do que acreditar. Ela olhou pela
janela para o céu da noite enevoado, e um arrepio subiu pela sua espinha. Elas
estavam na ponte para sair da cidade — a mesma ponte onde elas haviam tido o
acidente há algumas semanas. A ponte onde elas tinham quase morrido.
— Pare o carro — ela ordenou. — Pare agora.
Danielle pisou no freio. O carro derrapou. Todo mundo gritou quando
elas cambalearam para a esquerda. O carro deslizou quase até a borda da ponte,
mas os freios finalmente funcionaram, e elas pararam de se mover. Por um
momento, tudo ficou em silêncio. Então Aster puxou a maçaneta da porta,
desesperada para dar o fora daquele carro e ficar longe de Danielle. Mas de
repente ela sentiu que tudo estava errado. Algo ruim estava para acontecer.
— Não tão rápido — disse uma voz.
Aster congelou, com a porta entreaberta, e virou-se para olhar dentro do
veículo. Havia um clarão vindo do banco da frente, um brilho de prata piscando
na luz do teto. Aster engasgou — era uma arma.
Porém, não era Danielle que a segurava. Era Julia.
— Mãe! — Danielle ficou boquiaberta com a arma. — O que você está
fazendo?
— Todas, por favor. Saiam. Do. Carro — Julia disse muito lentamente.
Danielle se atrapalhou com a maçaneta da porta e tremulamente saltou
para fora do veículo. Aster não se lembrava realmente de se mover para algum
lado, mas ela deve ter feito, porque a próxima coisa que ela notou, era que ela,
Corinne e Rowan estavam fora, na ponte. Um trovão estourou com força no céu, e
o céu ficou escuro como breu. Aster apetou seu bolso, buscando um telefone,
apenas para perceber que ela tinha deixado no carro.
Julia deu um passo adiante, apontando a arma para as três mulheres
Saybrook. — Contra a amurada, vocês três. Agora. Danielle, você vem aqui
comigo.
O rosto de Danielle estava pálido. — Mãe. Eu não entendo. — Ela deu um
passo em direção à sua mãe. — Isso é por causa do que Aster estava me
perguntando sobre a fita de vigilância? Eu não estava lá. Eu não matei Poppy. Eu
juro.
— Por favor, Julia — Rowan tentou, usando sua voz mais calma. — O que
está acontecendo?
— Todos esses anos, e vocês ainda não sabem? — Julia desafiou,
apontando para Danielle. Ela olhou para Aster. — Nem mesmo você? Você não
tem ideia de quem Danielle é para a sua família?
Aster olhou para a arma, em seguida, para o rosto de Danielle. O lábio
inferior de sua velha amiga estava tremendo. Danielle era a amante do meu pai,
ela queria dizer, mas de repente ela não tinha certeza se essa era a resposta certa.
Você é como uma irmã para mim. Eu não posso te perder. As palavras se
repetiram na mente de Aster. Ela olhou para cima e encontrou os olhos de
Danielle — os olhos azuis brilhantes, tão parecidos com os de Aster. Elas
adoravam isso; era um bônus para atuarem como irmãs nas conversas nos bares.
Ela lembrou o dia em que ela pegou Mason e Danielle juntos. A forma
como ele a segurava... ele estava tão terno e amoroso. E então tinha havido aquele
olhar mais cedo, naquele dia na costa — o jeito que ele olhou para Danielle com
uma intensidade quase feroz. Mas era sexual? De repente Aster já não tinha
certeza. Agora que ela pensava nisso, ela percebia que era quase a mesma
aparência que ele tinha em seu rosto hoje à noite, quando ele mencionou sua
família no discurso sobre Poppy. Uma expressão cheia de amor, sim; mas também
de proteção, e um pouco de arrependimento.
— Você nunca teve um caso com o meu pai, não é? — disse ela
lentamente. — Você é filha dele.
— Ding, ding, ding! — Julia cantou.
A cabeça de Corinne virou. — Espere. O que está acontecendo?
Julia agarrou o braço de Danielle e a puxou mais perto. Ela olhou para
Aster. — Minha filha sabe disso há cinco anos.
Aster piscou com força, tentando concentrar sua mente em torno do que
estava acontecendo. Ela olhou para Danielle novamente. — Foi isso o que
aconteceu entre você e meu pai naquele verão. Foi quando você descobriu, não
foi?
O lábio inferior de Danielle tremeu. — Ele me disse para não dizer nada.
— Isso é porque ele não queria que fosse verdade — Julia interrompeu. —
Ele é um merda para ela.
Danielle bateu os braços do lado dela. — Ele não é, mãe! Ele tem sido
bom para mim.
— Sério? — Julia rosnou, com a voz irônica. — Uau, ele a deixou viver em
sua propriedade, mas não em sua casa real. Ele permite que você fique com a sua
verdadeira filha, deixa que ela lhe empreste roupas e agracie você com a sua
presença, e você deveria ser grata por isso? Você deveria ter tudo o que ela tem! —
Sua voz elevou-se a um grito estridente.
— Eu estou bem com isso — Danielle implorou. Lágrimas corriam pelo
seu rosto. — Eu entendo por que ele não quis dizer a verdade para a sua esposa.
Achei que você tinha entendido, também. Mãe, eu pensei que você já houvesse
superado as coisas com ele. Eu pensei que havia acabado quando você saiu de
casa. — Ela deu um passo em direção a sua mãe. — Você pode, por favor, abaixar a
arma?
Julia fungou. — É meio difícil superar depois de tudo que fiz por aquela
família. Você não sabe os riscos que eu corri por eles, Danielle. Eu pensei que eu
poderia ganhar o meu lugar — e eu consegui. Eu consegui naquela festa de fim de
verão. Eu me livrei de alguém que teria destruído eles. E eles ainda nos rejeitaram.
Aster sentiu como se um raio de eletricidade tivesse caído nela. Ela trocou
um olhar com Corinne e Rowan; todas elas pareciam estar pensando a mesma
coisa. Festa de fim de verão. Se livrar de alguém.
— Você está falando de Steven? — Rowan arriscou.
A mandíbula de Danielle caiu. Ela deu um passo para longe de sua mãe.
— Aquele homem que se afogou? — ela guinchou. — O que você...
Julia olhou para sua filha, mantendo a arma apontada para Aster e para as
outras. — Não é o que parece, querida. Steven Barnett era um homem terrível. Ele
sabia algo sobre Mason. Se eu não o tivesse matado, ele teria arruinado a família
Saybrook.
— O que era? — Aster não poderia deixar de perguntar.
O olhar de Julia se voltou para ela. — Você não sabe? E você, Senhorita
Advogada Bem Sucedida? — Ela encarou Rowan. Rowan sacudiu a cabeça, com os
olhos arregalados de terror, e Julia riu amargamente. — Típico dos Saybrook.
Vocês nem mesmo compartilham seus segredinhos sujos uns com os outros. — Ela
deu um passo para a frente, mantendo a arma apontada. — A verdade é que eu
não sei, mas eu ainda estava disposta a matar por isso. Isso não soa como lealdade
para vocês? Isso não soa como alguém que merece fazer parte da sua família?
Aster olhou para suas primas. Ninguém disse nada. De repente, ela se
sentiu tola. Ingênua.
— Foi naquela noite, na festa de fim de verão — disse Julia, voltando para a
história. Ela claramente adorava o fato de ter um público cativo. — Eu estava com
o seu pai, e com o seu pai também — ela apontou a arma para Corinne e Aster —
em seu escritório, fazendo... bem, vocês sabem. — Aster estremeceu. — Então,
quando alguém bateu na porta, vocês sabem o que ele fez? Ele me empurrou para
o maldito armário.
— Pare com isso, mãe! — disse Danielle, se afastando.
— Mas eu ouvi eles conversarem — Julia continuou. — Steven sabia alguma
coisa, algo grande. Ele disse que iria expô-los, porque ele não tinha sido nomeado
presidente. Eu não ouvi o que era, mas pela reação de Mason, tinha que ser
terrível. — Ela se virou para Aster e Corinne, com um brilho perverso nos olhos. —
Eu nunca tinha visto seu pai preocupado assim, meninas. Ele quase perdeu a
cabeça. Pediu a Steven para não fazer isso. Tentou suborná-lo. — Isso vai nos
arruinar — ele continuava dizendo — a família, a empresa, todos nós. — Ótimo,
disse Steven. Eu quero arruiná-los. — Julia fez uma pausa. — Os Saybrooks
ferraram ele como ferraram eu e a minha filha.
Aster estremeceu, tentando entender o que Julia estava dizendo. Ao lado
dela, Rowan estava cobrindo sua boca. Aster olhou para Danielle mais uma vez,
para ver se Danielle tinha conhecimento de algo disso. Sua velha amiga estava ali
parada, chorando baixinho.
— Eu tive que calar Steven — disse Julia em um tom racional. — Eu fiz isso
por você, Danielle, por sua herança. Não foi difícil. Eu segui aquele babaca
bêbado naquela noite, o empurrei na água e o mantive lá. Fácil e simples. — Seu
rosto endureceu. — Eu pensei que Mason ficaria grato — eu tinha acabado de
resolver um grande problema para ele. E como ele reagiu? Ele terminou comigo!
Ele me ameaçou.
— Mãe, eu... — Danielle começou a dizer, mas Julia continuou falando, sua
voz ficando mais estridente.
— Ele prometeu cuidar de você, é claro. Mas ele me disse que estávamos
acabados, que desta vez era pra sempre. Que eu tinha ultrapassado os limites.
Bem, eu ultrapassei, e eu jurei que ultrapassaria novamente. Eu ia fazer de
Danielle uma Saybrook mesmo se isso me matasse — ou se eu tivesse que matar
de novo.
— Você acha que eu queria entrar na família dessa forma? — Danielle
gritou.
Corinne se adiantou um pouco. — O que você quis dizer quando disse
“matar de novo”?
Julia sorriu sinistramente. — O que você acha que eu quis dizer?
A boca de Danielle caiu aberta. O sangue de Aster gelou. Ela olhou para
suas primas, que estavam pálidas e imóveis.
Danielle tocou sua garganta. — Não era eu no vídeo de vigilância — ela
sussurrou. — Era você.
— Foi necessário, minha querida — explicou Julia. Ela manteve a arma
levantada, pegando sua filha com a outra mão. — Você não vê? Você merece ser
uma herdeira tanto como elas são.
— Mas por que Poppy? — Rowan perguntou com a voz rouca.
Julia virou-se para elas. — Eu queria fazer Mason pagar por me deixar, e
recusar-se a reconhecer Danielle. No começo eu planejava matá-lo. Foi assim que
os pais de Poppy morreram — era para Mason estar naquele voo para
Meriweather, mas ele desistiu na última hora porque ele tinha negócios a tratar.
Era tarde demais então. O avião já estava caindo. — Ela encolheu os ombros. —
Quando eu vi o quão triste ele ficou com o acidente, eu percebi que essa seria a
melhor vingança — matar todos da família dele, um por um. — Os olhos de Julia
brilhavam à luz do luar. — Eu tentei machucar a pequena e doce Penelope, a vadia
que nunca saía do caminho, mas eu não consegui matá-la. Então, mudei o foco
para Poppy em seu lugar.
— Por que esperar tanto tempo? — Corinne sussurrou.
Julia riu. — Por que não? Foi muito divertido ser sua maldição. Eu mandei
segredos para aquele site por anos. Eu deveria escrever uma nota de
agradecimento a quem o edita. Eu enviei a Will aquela carta sobre sua filha,
Corinne — eu achei que ele merecia saber. E enviei cartas iradas de Will para os
Griers, exigindo passar mais tempo com ela.
A boca de Corinne caiu aberta. — Como você descobriu isso?
— Isso não é ciência espacial — Julia estalou. — Nenhuma de vocês
esconde as coisas muito bem. E a tecnologia faz com que seja tão fácil nos dias de
hoje. Certo, Aster? — ela perguntou, olhando para cima. — Basta perguntar ao seu
namoradinho tecnológico. — Ela sorriu, apontando a arma para a cabeça de Aster.
— Eu te odiava mais, pela maneira fria com que você tratou Danielle. Mas eu
nunca quis realmente fazer alguma coisa com vocês — vocês só caíram por sua
própria conta. E Natasha acabou se protegendo no dia em que deserdou a si
mesma. — Julia balançou a cabeça. — Agora eu vou terminar o que comecei. — Ela
acenou para Danielle se aproximar. — Fique comigo, querida. Podemos acabar
com elas, uma por uma.
Danielle não se mexeu. Seu queixo ainda estava balançando. — Você
fingiu ser eu — ela disse lentamente. — Você usou o meu vestido. Você usou o
meu passe. — Os olhos dela se arregalaram. — A polícia poderia ter suspeitado de
mim. Você não tinha ideia de que não seria pega, não é? Mas estava tudo bem,
porque se você fizesse o que fez, a polícia iria se focar em mim.
Julia zombou. — Você está sendo dramática. Aconteceu alguma coisa com
você? Não. Eu me certifiquei disso. Eu até liguei para o FBI do seu celular,
fingindo ser você. Eu sabia que eles estavam entrevistando todo mundo que estava
lá naquela manhã.
As mãos de Danielle tremiam. — Eu não posso acreditar em você. Você
não sabe o que o FBI está pensando. Eles poderiam estar me investigando agora.
Mas Julia apenas sorriu. — O FBI, hein. Agora que vocês viram o vídeo de
vigilância, a sua amiguinha agente tem algumas explicações a dar, não é? — Seu
sorriso ficou mais amplo. — Ela estava no escritório de Poppy antes de mim. Elas
estavam conversando, suas cabeças inclinadas juntas, sussurrando. Estranho Foley
nunca mencionar isso, hein?
Ela virou-se para Danielle. — Tudo o que eu fiz, eu fiz por você, para que
você pudesse ter uma vida melhor.
A garganta de Danielle balançava enquanto ela engolia. — Eu tenho uma
vida boa — ela finalmente disse. — E se você tivesse me escutado, você teria
entendido isso.
Engolindo um soluço, ela se afastou de sua mãe e caminhou até onde
Aster, Corinne e Rowan estavam amontoadas contra a amurada e parou na frente
delas. Então ela se virou e olhou para Julia, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Julia abaixou a arma. — O que diabos você está fazendo?
— Sinto muito — disse Danielle. — Mas isso acabará agora. Se você quiser
matá-las, você tem que me matar também.
Os olhos de Julia brilharam. O olhar protetor e amoroso em seu rosto
desapareceu, e ela olhou para a filha com um brilho frio e psicótico. — Você é
uma delas. É como se eu nem soubesse quem você é mais — ela disse em uma voz
morta. Houve um clique agudo quando ela soltou a trava de segurança. — Tudo
bem, então. Se essa é a maneira que você quer, que seja.
Ela deu um passo para a frente. Danielle, Aster, Corinne e Rowan se
juntaram. Aster fechou os olhos, a mente girando com tudo o que soube esta
noite. Estranho, que em seus últimos minutos de vida, tudo o que ela podia pensar
era como ela estava errada sobre seu pai e Danielle. Ela pegou a mão da outra
garota, e Danielle aceitou. Aster deu-lhe um aperto. Sinto muito, ela tentou
transmitir através do toque. Eu nunca deveria ter tomado conclusões precipitadas.
Eu deveria ter deixado você explicar, confiado em nossa amizade.
E então, de repente, uma voz ecoou na escuridão. Aster abriu os olhos e
imediatamente levantou a mão para protegê-los. Faróis a cegaram, e pneus
guincharam no final da ponte.
— Largue a arma! — um homem gritou, saltando do SUV e avançando em
direção a Julia. Um agente saiu de outro SUV e deu um passo adiante, com a
arma apontada para a cabeça de Julia. Katherine Foley apareceu do banco da
frente e correu para as meninas. Ela estava usando um colete à prova de balas, e
seus olhos estavam brilhantes. — Não se mexa! — ela gritou para Julia.
Julia olhou para a direita e esquerda, os olhos rolando
descontroladamente. Ela apertou a arma em suas mãos, não mostrando nenhum
sinal de que iria soltá-la. Ela apontou para os agentes.
— Peguem-na! — um dos policiais gritou.
— Mãe! — Danielle gritou, com a voz entrecortada.
De repente, Julia correu para a borda da ponte. Nenhuma das mulheres
Saybrook estendeu a mão para detê-la. Ela subiu no parapeito, com o cabelo
vermelho brilhante soprando na brisa. Ela ainda segurava firme a arma, que
brilhava nos faróis brilhantes.
— Largue a arma! — os agentes gritaram novamente. — Mãos ao alto, ou
vamos atirar!
Mas Julia apenas sorriu. E, em seguida, um tiro ecoou.
Aster gritou e abaixou a cabeça. O barulho ecoou pelo ar, perfurando seus
tímpanos. Um segundo grito soou a partir da borda da ponte, e quando Aster
olhou para cima, os olhos de Julia estavam arregalados e atordoados.
— Não! — Danielle lamentou, afundando até os joelhos.
Julia girou de lado. Aster se inclinou para frente, tentando ver se a bala
havia acertado ela. Mas antes que ela pudesse, as pernas de Julia ficaram frouxas.
Uma expressão estranha e triste cruzou seu rosto.
— Adeus — disse ela em voz baixa. E então ela se virou, abriu os braços e
caiu na água.
31
Traduzido por Ivana

A
s portas do hospital se abriram, trazendo com elas o cheiro adstringente
de produtos de limpeza. Rowan correu pelo saguão de mármore,
esquivando-se dos pacientes em cadeiras de rodas e dos médicos
apressados em aventais cor de hortelã. Uma loja de presentes estava à sua
esquerda, com prateleiras de doces, bichos de pelúcia e revistas. A capa de quase
todos os tabloides e jornais exibiam fotos de Rowan, Corinne e Aster logo após a
sua ocorrência com Julia na ponte. — A Maldição Veste Kors — uma manchete
estava escrita em letras garrafais. Abaixo dela havia uma imagem granulada de Julia
Gilchrist posando como Danielle na manhã que ela matou Poppy. O que a
maioria dos jornais comentava era o fato de que Julia ainda estava desaparecida.
As autoridades tinham feito buscas e não encontraram nada. Estava tão escuro, e
tudo tinha acontecido tão rápido, ninguém sabia se a bala realmente havia acertado
ela.
Rowan virou-se e correu para o elevador, seguindo para a unidade de
terapia intensiva neurológica no quarto andar. Os últimos dois dias tinham sido
um turbilhão — primeiro o interrogatório policial, em seguida os abraços
comoventes de membros da família, e depois o encontro com Deanna para
decidir como conduzir a história. Em uma noite, tudo o que os Saybrooks tinham
trabalhado tão duro para criar havia se desintegrado, seus segredos obscuros
finalmente foram expostos.
Os advogados da família ficaram furiosos porque as primas não os
consultaram antes de falar com o FBI. Como advogada, eles disseram, Rowan
deveria ter pensado melhor antes de implicar Mason. Rowan amava seu tio, mas
era hora de ele jogar limpo. Seu caso tinha dado uma nova vida à maldição, e
muitas pessoas haviam pagado o preço por sua mentira. Eles tiveram sorte de
Foley ter descoberto Julia exatamente na hora certa — do contrário, Rowan,
Corinne, Aster e talvez até mesmo Danielle estariam mortas também.
Rowan tinha falado com Foley logo após o resgate. Foley tinha explicado
que os faróis no final da garagem naquela noite eram dela; Julia estava em sua lista
de suspeitos, e ela queria falar com Danielle para saber se a mãe dela teve acesso
ao cartão-chave da Saybrook. Mas quando ela chegou lá, somente o pai de
Danielle estava em casa.
— Ele disse que Danielle e Julia tinham acabado de sair com vocês,
meninas. E assim eu segui o carro, e pedi reforços.
Foley também pediu desculpas por ter mentido para Rowan e as demais
escondendo que ela tinha conhecido Poppy, que tinha estado naquela festa, e
ainda tinha tido um breve caso com Steven Barnett. — Meus superiores sabiam —
explicou Foley. — Mas eu não achava que era necessário você saberem.
— Você achava que Poppy tinha matado Steven? — Rowan havia
perguntado.
Foley balançou a cabeça. — Isso nunca pareceu certo. Mas eu olhei para o
caso e descobri o que realmente aconteceu. Foi isso o que me levou a Mason... e,
em seguida, a Julia.
Aparentemente, Mason pagou o legista para falsificar os resultados da
autópsia depois da morte de Steven, relatando que seu nível de álcool no sangue
era muito maior do que realmente era. Tudo para garantir que ninguém soubesse
o verdadeiro motivo pelo qual Steven morreu.
Mas Rowan não tinha conseguido de Foley os detalhes de porquê ela
visitou Poppy na manhã em que ela morreu. Uma questão de negócios pendentes,
foi tudo que ela disse. — Sempre tem que haver um segredo? — perguntou Rowan,
e então um pensamento marcante saiu de dentro dela. — Alguma vez você esteve
no Mandarin Oriental? — Foley apenas inclinou a cabeça sem se comprometer,
mas a mente de Rowan se acendeu, de repente percebendo que Poppy poderia
não ter traído James depois de tudo. Mas o que ela estava fazendo?
Agora Rowan passava através de uma porta marcada com 414, um quarto
privado, com vista para Manhattan. Com Julia ainda desaparecida, Natasha tinha
sido secretamente removida para o NYU de Beth Israel. Só a família sabia disso;
até mesmo a imprensa não tinha conhecimento de nada ainda. Se alguém
descobrisse, a família de Natasha a removeria para outro lugar novamente.
Qualquer coisa para mantê-la oculta e segura, especialmente agora que ela estava
acordada. Ontem à noite, os médicos haviam telefonado com a boa notícia.
Rowan esperava ver Natasha encostada em travesseiros, lendo uma revista,
mas ela estava dormindo, e com um emaranhado de tubos e fios ainda
serpenteando em suas veias. Seu peito subia e descia com cada respiração. Suas
pálpebras se moveram levemente, e depois, elas abriram. A marca registrada dos
Saybrook — os olhos azuis — olharam para Rowan.
Respire fundo, Rowan pensou. Antes do acidente, ela suspeitava que
Natasha havia matado Poppy. Sua última conversa não tinha sido exatamente
agradável. Mas sua prima apenas sorriu timidamente. — Oi — ela disse em uma voz
grave.
— Como está se sentindo? — perguntou Rowan hesitantemente.
Natasha levantou lentamente a mão em direção à sua bochecha. — Não
estou tão mal. — Ela tossiu alto. — Meus pais estavam aqui antes. Eles me disseram
o que aconteceu. E eles me disseram sobre Julia. — Ela baixou os olhos.
Rowan assentiu. — É muito impensável, não é?
A cabeça de Natasha balançou fracamente. — Eu não consigo acreditar
nisso.
Rowan não conseguia também. Julia Gilchrist. Mas quanto mais ela
pensava nisso, mais fazia sentido. Ela tinha acesso já que era a zeladora, bem como
através do trabalho de Danielle — e ela tinha um verdadeiro motivo.
Ainda não estava claro quantos estragos Julia havia causado. Teria sido ela
que pegou o vídeo de sexo do computador de Rowan e roubou o diário de
Corinne? Uma foto de Julia tinha sido entregue para o pessoal de todos os
edifícios dos Saybrook, no resort de esqui onde Penelope tinha sido ferida, e no
aeroporto privado de onde os pais de Poppy tinham voado quando o avião
explodiu. Eles ainda estavam à espera de ouvir maiores informações sobre os
passos de Julia, mas uma porteira no Four Seasons em Aspen tinha ligado para
informar que ela lembrava de ter visto uma mulher de cabelos vermelhos
marcantes no hotel quando o acidente ocorreu. Não havia registro de Julia como
hóspede, mas ela poderia ter se registrado com um nome falso.
A obstinação em tudo isso era o que mais inquietava Rowan. Julia tinha
perseverado por cinco longos anos depois de matar Steven. O que ela teria feito se
Foley não tivesse ligado os pontos? Será que Rowan e as outras estariam mortas
agora?
— Eles não encontraram Julia ainda? — Natasha perguntou.
Rowan sacudiu a cabeça. — Não. — Ela deu um tapinha desajeitado na
perna de Natasha. — Você não deve se preocupar com isso, no entanto. Você
precisa se concentrar em ficar boa.
A porta rangeu, e Rowan olhou para cima. Corinne e Aster atravessavam
para dentro do quarto, segurando fumegantes copos de café. Ambas deram à
Natasha abraços desajeitados.
Rowan pigarreou. — Natasha sabe sobre Julia.
Natasha assentiu. — É uma loucura.
Aster cruzou as pernas. — Esse pode ser um bom momento para... vocês
sabem. Perguntar a outra coisa?
Corinne franziu o cenho. — Ela acabou de acordar — ela sussurrou. — É
muito cedo.
— Sim, eu não sei — disse Rowan hesitantemente.
— Hum, olá? — A voz de Natasha veio da cama. — Eu estou bem aqui.
Seja o que for que vocês têm que perguntar, é só perguntar.
Todo mundo continuou com a boca fechada. Rowan olhou para as outras.
Corinne levantou as sobrancelhas e, em seguida, deu um aceno de cabeça. Aster
acenou também. Respirando fundo, Rowan disse, — Aparentemente, há um
segredo de família. Mason sabe disso — assim como Steven Barnett sabia.
— Julia disse que era algo que poderia ter destruído a família —
acrescentou Aster. — Você sabe o que é, não é?
Natasha acenou com a cabeça, com o rosto cheio de incertezas. Ela olhou
para suas mãos. — Sim.
Um alarme soou no corredor, e uma enfermeira passou rápido. Rowan
colocou seu copo de café na mesinha ao lado da cama de Natasha. — Nos conte.
Eu não me importo o quão devastador possa ser. Somos uma família. Podemos
lidar com isso.
Corinne tocou-lhe a mão e acenou com a cabeça.
Natasha ficou em silêncio por um longo tempo. Rowan se preocupou
pensando se elas não haviam se precipitado demais, mas, em seguida, Natasha
lambeu os lábios secos. — A história de Alfred, de como o negócio começou, é
uma mentira.
— O quê? — Rowan sussurrou, o coração batendo rápido.
Natasha moveu a cabeça para o lado. — Tem certeza que vocês querem
saber?
— Sim — todas disseram em uníssono.
Natasha respirou fundo. — Depois da guerra, vovô e Harold Browne, seu
amigo da guerra? Bem, eles estavam em um batalhão que classificava a pilhagem
que os nazistas tinham armazenado no Musée du Jeu de Paume, em Paris. Eles
deveriam levar tudo para um repositório em Munique para que os itens pudessem
ser catalogados e devolvidos aos seus legítimos proprietários, mas acho que o vovô
e Harold encontraram algumas coisas que eles quiseram manter para si mesmos.
— Espera, o quê? — Rowan perguntou. — Você está dizendo que os
diamantes que ele trouxe eram roubados?
Natasha assentiu. — De famílias enviadas para campos de concentração.
Rowan franziu o cenho. — Mas os diamantes podem ser rastreados —
especialmente os valiosos. Ele não teria corrido esse risco.
— Ele era um cortador incrível, lembram? Ele simplesmente cortou eles
para parecerem diferentes.
— E quanto a pedra amarela? — perguntou Aster. — O Corona?
— Foi um dos muitos, mas era joia da coroa. Eu acho que ele e Harold
tinham um pacto; eles levariam os seus segredos para o túmulo.
Rowan sentiu-se enjoada. — Eu acho que eu só vi Harold uma vez. Talvez.
— Quando ela era muito jovem, ela se lembrou de seu avô estar bebendo com um
homem da sua idade no pátio em Meriweather. Eles falavam sobre golfe e seus
filhos, ela tinha certeza.
— Bem, aparentemente Harold mudou de ideia cerca de seis anos atrás —
Natasha continuou. — Seu filho contatou Mason e vovô Alfred, dizendo que o
desejo de morte de Harold era ir a público para contar tudo e corrigir seus erros.
Eles se recusaram, é claro, e logo Harold morreu, mas o filho não desistiu disso.
Eles acabaram pagando ele, e fazendo uma grande doação para a Fundação dos
Sobreviventes do Holocausto.
Os olhos de Aster se arregalaram. — Como você sabe tudo isso?
Natasha ajustou o travesseiro atrás de sua cabeça e suspirou. — Mason foi
falar com a minha mãe para ajudar, porque ele não podia liquidar suas ações da
empresa rápido o suficiente para pagar o filho de Browne — ele precisava da
aprovação da minha mãe. Eles tiveram uma grande discussão no escritório do meu
pai e eu ouvi. Minha mãe me pediu para não contar.
— É por isso que você se deserdou? — perguntou Rowan.
Natasha assentiu. — Esse dinheiro não é nosso, não realmente. Eu não
poderia viver com isso na minha consciência.
Corinne tocou a mão de Aster. — Você disse que encontrou um e-mail
entre Poppy e papai onde ele estava tentando dizer a Poppy para guardar silêncio
sobre alguma coisa.
— Isso mesmo. — Aster olhou para Natasha. — Será que Poppy sabia?
— Acho que sim — respondeu Natasha. — Eu pensei que vocês sabiam de
tudo, sinceramente, e estavam guardando o segredo. Mas cerca de um ano atrás
Poppy veio até mim e disse, “Eu sei porque você está tão chateada com a família.”
Ela tinha acabado de descobrir o segredo. Ela estava se encontrando com a Agente
Foley — ela estava ajudando a rastrear quais as famílias que os Saybrooks
roubaram e descobrir uma maneira de reparar isso.
Rowan balançou a cabeça, sentindo isso entrar em sua cabeça. Então, lá
estava. A razão pela qual Foley e Poppy estavam se encontrando. Poppy não
estava tendo um caso; ela estava tentando corrigir um erro antigo. Ela colocou a
mão em seu estômago, enojada por ter presumido o pior sobre sua prima.
Ela virou-se e viu quando Corinne olhou para seu bracelete de diamantes,
parecendo como se quisesse tirá-lo. Rowan o reconheceu: Alfred tinha dado a
todas as primas há uns anos atrás.
Seu doce avô. Rowan ainda podia recordar a sensação de sua mão forte na
dela. Ela se lembrou dela pequena correndo atrás dele pelos corredores do
mercado de pulgas de Meriweather, animada com a perspectiva de encontrar
outro diamante Corona como ele tinha encontrado em Paris.
Mas não havia um mercado de pulgas em Paris, havia? Era uma mentira
infantil, e todas foram tolas ao acreditar.
— Eu me pergunto se Steven sabia porque ele era o protegido de Alfred —
Corinne meditou.
— Talvez — disse Aster, afundando-se numa cadeira ao lado da cama de
Natasha. — E se Julia está dizendo a verdade, Steven iria contar isso publicamente
na noite em que foi morto.
— Vocês acham que foi por isso que Mason promoveu Poppy em vez de
Steven? — Rowan meditou.
Natasha assentiu. — Soa como se Steven estivesse questionando a
liquidação dos estoques. Eles estavam fazendo artimanhas para demiti-lo e
promover alguém em seu lugar.
— Mas Steven ainda conseguiu descobrir — disse Aster. — E ele estava com
sede de vingança por ter sido ignorado.
Rowan fez uma pausa para deixar todas aquelas informações serem
filtradas por sua mente. Todo esse tempo, todas elas pensavam que Poppy foi
promovida a presidente ao invés de Steven porque ela realmente e
verdadeiramente merecia. E agora esse não era exatamente o caso. Rowan se
perguntou se Poppy sabia disso o tempo todo. Talvez não o porquê exatamente,
mas que era uma substituta, um preenchimento rápido para encobrir algo. Jesus.
A infidelidade de James, a verdadeira razão pela qual ela conseguiu seu emprego
— Poppy provavelmente se sentia insegura sobre tudo. Rowan nunca teria
imaginado.
Corinne olhou para Natasha. — Eu não posso acreditar que você teve que
carregar esse fardo todos esses anos.
Natasha levantou lentamente a mão cheia de tubos para empurrar um fio
de cabelo de seu rosto. — Minha mãe me pediu para nunca mais falar sobre isso.
Ela odiava saber disso, e mais ainda por mim.
— Nós pensávamos que você matou Poppy — Aster desabafou. — Você
estava agindo de forma estranha antes do acidente, recusando-se a se reunir com
Foley...
Natasha deu de ombros, parecendo envergonhada. — Eu só não via um
objetivo. Ela já sabia sobre os diamantes, e eu não tinha mais nada a acrescentar.
Foi estúpido da minha parte.
— O que vamos fazer, gente? — perguntou Aster. — Agora que nós
sabemos. Nós não podemos apenas manter isso para nós mesmas. Meu pai
claramente sabe — e quem mais? E vocês não acham que devemos terminar o que
Poppy começou? Reparar isso, de alguma forma?
— É claro que o papai sabe — disse Corinne amargamente.
— Assim como os meus pais — Natasha lembrou.
Isso era difícil de engolir. Rowan fechou os olhos e relembrou dos pais de
Natasha, deles segurando Briony logo após ela ter nascido. Os pais de Poppy
tinham morrido até então, mas eles tinham assumido o papel de avós, fazendo
turnos de fim de noite, andando com Briony para cima e para baixo pelos
corredores para acalmar seu choro, deleitando-se com seus primeiros sorrisos e
risadas. Eles eram tão... doces. Ternos. Durante todo o tempo escondendo um
segredo horrível e não fazendo nada sobre isso.
Rowan olhou para suas primas. Sua família sempre foi cercada por
tragédias, e talvez eles trouxeram isso para si mesmos. Eles quiseram muito e
devolveram muito pouco. Eles eram como Ícaro, voando muito perto do sol e
ficando destruído: era tudo culpa deles mesmos.
— Se depender de mim, eu conto tudo — disse Corinne. — A empresa vai
se recuperar, ou não. E se isso acontecer, talvez a gente mereça.
Rowan concordou e, em seguida, Aster e Natasha também.
— Eu acho — Rowan começou lentamente, — que todas nós fomos
individualistas demais ao longo dos anos. Mas agora isso termina aqui. Somos uma
família, e é hora de começar a agir como tal. Nós temos umas às outras, e a
verdade, não importa o quanto vai doer.
Aster assentiu, e Corinne pegou a mão de Natasha. Rowan olhou para
suas primas, sentindo-se estimulada novamente. Elas passaram por uma tragédia
impensável e a perda de um dos seus, mas um novo vínculo havia se formado
entre elas. E isso deu a Rowan conforto e força.
Corinne se inclinou para frente, tirou quatro copos de plástico de uma
pilha em uma pequena bandeja de Natasha, e encheu cada um deles com água
gelada. — Acho que devemos fazer um brinde — disse ela. — A nós. E a família.
Rowan levantou o copo, e Aster a seguiu. Um sorriso travesso apareceu
no rosto de Natasha. — Isso significa que eu posso forçar vocês a assistir minhas
performances de patinação de novo?
— Não — todas disseram de uma só vez, e Rowan sorriu com a lembrança.
E assim, parecia que elas tinham sua prima de antes novamente — a Natasha
esperta, vivaz e totalmente contagiante. Quando Rowan olhou para ela novamente,
Natasha estava radiante, sua expressão plácida e finalmente relaxada. Rowan
conhecia a expressão “O peso de um segredo”, mas ela nunca tinha realmente
acreditado nisso até agora. Natasha parecia literalmente mais leve e mais livre,
como se pudesse finalmente viver sua vida sem mentiras obstruindo seus
caminhos.
E talvez o resto delas poderia também.
32
Traduzido por Ivana

P
oucos dias depois, Aster e Mitch entraram na casa dos pais dela,
atravessando a sala de jantar em direção à sala de estar um pouco menos
abafada. Para a surpresa de Aster, a última edição da People estava na
mesa de café. Praticamente toda a revista era sobre sua família. Ela sentou-se no
sofá de seda amarelo e a folheou, mesmo ela já tendo lido toda a revista, página
por página. Várias vezes.
Havia uma história, é claro, sobre Julia. Uma exposição sobre o passado
de Julia Gilchrist — aparentemente, ela tinha um diploma do ITM, mas ela
também passou vários anos trabalhando como stripper. Como os repórteres
descobriram essas coisas, Aster nunca saberia.
O marido de Julia, Greg, tinha dado uma entrevista — foi estranho, ele
disse, que Julia quis voltar com ele, do nada, já que eles não tinham se falado há
anos. — Meu palpite é que ela queria chegar mais perto das Saybrooks — Greg
havia concluído. — Ela deve ter planejado atacar o resto das meninas no
casamento. É verdadeiramente inacreditável.
— Você não devia ler essas coisas — Mitch murmurou, roçando os dedos
contra a perna de Aster. Quando ela não respondeu, ele suspirou e virou a página
para a próxima história. A próxima história eram duas páginas sobre Poppy.
Quando ele virou a página novamente, ele engasgou. — O que ela está fazendo
aqui?
Havia uma foto de Elizabeth Cole parecendo glamorosa em um vestido
preto, saltos altos e batom vermelho. — Íntima dos Saybrook Diz Tudo — dizia a
manchete.
Aster releu o primeiro parágrafo.
Às vezes, uma história sobre uma dinastia pode ser melhor contada por
alguém próximo à família, e Elizabeth Cole, diretora de relações com clientes
privados dos Diamantes Saybrook, esteve por dentro dela. Viúva de Steven
Barnett, que foi uma vez o segundo-em-comando no império Saybrook, Elizabeth
viu momentos pessoais e privados da família que outros jamais viram, e agora ela
está pronta para compartilhar suas histórias com o mundo em seu novo livro A
Maldição da Riqueza: Minha vida com os Saybrooks, em lançamento neste
outono.
Aster revirou os olhos. — Eu sei. Bem típico. Ela tem que fazer tudo girar
em torno dela.
Mitch bufou. — Ninguém vai comprar esse livro. Eu vou invadir a Amazon
e dar zero estrelas.
Aster se inclinou e beijou Mitch em resposta. Ele puxou suas pernas para
cima para o seu colo, e ela suspirou, aninhada em seu peito e fechando os olhos
por um breve momento de paz. As pessoas iriam comprar o livro, ela sabia disso.
As pessoas comprariam qualquer coisa com o nome de sua família nele, tendo
uma boa publicidade ou não. Mas, certamente, Elizabeth seria demitida por
escrever um livro contando tudo, certo? Aster sentiu-se um pouco animada. Isso
significava que ela iria ter um novo chefe.
Ela estendeu a mão para a revista de novo e virou para a próxima página,
que tinha uma história sobre Danielle. A foto dela era de seus dias na NYU,
provavelmente fornecida por um de seus colegas de classe. “A Filha Secreta” dizia
a manchete. Mas não havia uma única citação de Danielle; os repórteres tinham
feito a reportagem com base nos detalhes públicos da confissão de Julia sobre a
ponte, e um pouco mais. Pelo que Aster sabia, Danielle não tinha dito uma
palavra sobre qualquer coisa.
Ela pegou o telefone e digitou uma nova mensagem. Eu vi a história na
People, ela escreveu.
Alguns momentos depois, Danielle mandou uma mensagem de volta. Ah,
eu sei. Desastre.
Na verdade, você está muito bem nela, Aster respondeu. E eles não foram
malvados.
Ela e Danielle tinham conversado um pouco desde o incidente, por meio
de mensagens de telefone e e-mails. Aster não sabia o que isso significava ou
aonde terminaria, exatamente; ela ainda não tinha se acostumado com o fato de
que Danielle era sua irmã.
Em uma de suas primeiras conversas após o ataque de Julia, sentadas na
delegacia antes de darem seus depoimentos, elas relembraram aquela noite, há
cinco anos, quando Danielle tinha ido até Aster na praia. — Por que você não me
disse quem era? — Aster perguntou a ela.
Danielle enfiou as mãos nos bolsos. Suas bochechas ainda estavam
manchadas de tanto chorar, e suas unhas haviam sido roídas até a carne. Aster
estava surpreendida de como ela havia se mantido coerente — se sua mãe tivesse
tentado matá-la, Aster estaria um completo desastre. — Seu pai disse para não
dizer nada, mas eu pensei que você iria descobrir depois — disse Danielle. — Eu
pensei que era por isso que você brigava tanto com o seu pai. E então, quando
você me rejeitou, eu simplesmente pensei que... bem, que você não queria que eu
fosse parte da sua família.
— Eu pensei que vocês estavam dormindo juntos — Aster explicou.
Danielle concordou. — Eu entendo agora. O olhar em seu rosto quando
você percebeu tudo...
Aster tomou um gole do café amargo que um dos oficiais tinha dado para
ela. — Você se lembra quando nós fugimos para o bar do outro lado da ilha? O
Finchy?
A expressão de Danielle ficou melancólica. — Claro.
— E todos aqueles caras perguntando, Vocês são irmãs? E nós fingimos
que éramos?
Danielle mordeu o lábio. — Sim.
— Eu costumava fantasiar sobre você ser minha irmã — disse Aster
calmamente.
Danielle fez um pequeno ruído de dor. — Eu também. E quando eu
descobri... eu fiquei tão animada. Foi por isso que doeu tanto, quando eu pensei
que você tinha me rejeitado.
Uma tosse da sala trouxe Aster de volta à realidade. Seu pai abriu a porta,
vestido com um roupão e chinelos, embora fosse três da tarde. Seu cabelo grisalho
estava levantado em picos, e havia olheiras sob os seus olhos. Seu estômago se
apertou.
— Aster — disse ele em uma voz grossa e resmungona quando a viu.
A queda de Mason tinha sido tão rápida, movendo-se no mesmo ritmo de
um turbilhão como tudo mais, que Aster não tinha tido tempo para realmente
decidir o que sentia por seu pai. Ele calmamente deixou o cargo de diretor
executivo da Saybrook e a mãe de Natasha, Candace, o assumiu. A ideia dele
perder tudo trouxe lágrimas aos seus olhos, mas então havia a ideia dele esconder
um caso com Julia... esconder a morte de Steven... e esconder o terrível segredo
sobre a empresa. Ele pareceu um estranho para Aster por tanto tempo. Onde
estava o pai que ela tinha conhecido quando era criança, o homem amoroso e
encorajador que a ajudaria em qualquer coisa? Ele ainda estava lá em algum lugar?
Foi por isso que ela pediu para ele se encontrar com ela hoje. Era hora dele
finalmente responder a algumas perguntas.
— Você vai entrar no meu escritório? — perguntou Mason em voz baixa,
seu tom de voz suave.
— Claro — disse Aster, deslizando para fora do sofá.
Ela olhou para Mitch. Ele estendeu a mão e apertou a mão dela. Ela
abaixou-se e deu-lhe um beijo rápido. — Mais uma vez, obrigada por ter vindo —
ela sussurrou. Quando ela se afastou, Mitch parecia tão surpreso e encantado
como quando ela o beijou pela primeira vez no jantar de ensaio. Aster nunca,
jamais se cansava de ver essa expressão.
O escritório de seu pai parecia o mesmo de sempre, as armas nas paredes,
o equipamento de caça pendurado em ganchos, o elefante encarando com os
olhos vidrados em nada. Mas seu olhar pousou em outras coisas também. Como
um boneco de neve de bola de algodão que tinha vivido no topo da prateleira por
anos e anos. Ela não se lembrava de fazê-lo. Foi Corinne ou Danielle? E aquela
foto de Mason embalando uma menina enrolada em uma manta? Era realmente
Aster?
Mason sentou-se à mesa. Ele parecia muito menos substancial em sua
cadeira. De repente, Aster sentiu-se nervosa. Lá estavam eles, cara-a-cara; e, pela
primeira vez, os dois sabiam de tudo.
— Como foram seus dias de descanso? — perguntou Mason. A empresa
Saybrook tinha dado à Aster duas semanas de férias remuneradas, chamando de
“licença médica”.
— Foram bons — murmurou Aster.
— Você viu sua mãe?
Aster brincou com o punho de sua jaqueta. Naturalmente, Penelope tinha
deixado a casa imediatamente após a notícia sobre o caso de Mason; ela estava
com sua irmã em Connecticut. Ela permaneceu centrada durante o tempo todo,
excessivamente equilibrada. Ela sequer comentou sobre a situação de Mason. Mas
talvez ela estivesse zangada demais para comentar.
— Sim, eu a visitei — disse Aster rigidamente. — Ela está bem.
Mason assentiu. Então, ele engoliu em seco e olhou para ela. — Eu
realmente senti sua falta, Aster. Eu pensei muito sobre como eu falhei com você.
Era para eu estar com você durante os momentos importantes da sua vida,
especialmente naquele verão. Em vez disso, eu me deixei ser distraído por coisas
que não deveriam ter me distraído. Eu só quero dizer que eu sinto muito.
Por um momento, Aster olhou para ele, de queixo caído. — Você sente
muito? — ela retrucou. — Você acha que isso vai resolver todos os problemas?
A boca de Mason abriu e fechou, como um peixe. — Eu...
— Você me abandonou naquele ano — Aster o acusou. — Você agiu como
se não se importasse mais comigo. Porque você tinha que encobrir a situação de
Danielle, e você tinha que lidar com Julia e todos os seus outros segredos.
— Eu estava tentando manter as coisas juntas — disse Mason. — Tudo
estava saindo de controle. Eu não sabia o que fazer.
Aster virou as palmas das mãos, sem saber como responder. — Como é
que você descobriu sobre... a coisa nazista?
Após um longo momento, Mason suspirou, cruzando as mãos. — Meu pai
me disse, quando eu me tornei diretor executivo. Ele minimizou a situação, no
entanto. Somente quando Geoff Browne veio a mim que eu percebi a extensão do
que tinha acontecido. — Ele balançou a cabeça e olhou para o teto. — Ainda
haviam pedras em nossa coleção nessa época. Mas como é que eu ia saber?
— Mas, em vez de esclarecer as coisas, como Browne queria, você o
subornou.
— Sim. — O olhar de Mason sacudiu de um lado para o outro.
— E você pensou que tinha acabado, mas, em seguida, Steven Barnett
remexeu onde ele não devia, certo? Ele era próximo do vovô. Ele sabia onde
procurar.
Mason assentiu. — Ele estava sendo preparado para ser o próximo
presidente. Ele estava examinando as finanças, considerando os nossos próximos
movimentos. Ele viu que eu tinha liquidado um monte de ações da empresa e
começou a fazer perguntas. Eu me recusei a dizer, o que o irritou. Se ele iria ser o
próximo presidente, ele disse, ele tinha que saber. “Bem, então” eu disse a ele,
“acho que você não será o próximo presidente”. E nós promovemos Poppy em
seu lugar.
Aster assentiu. Combinava com a história de Julia.
— Mas, então, Barnett descobriu isso de qualquer maneira e veio na noite
da festa. — Mason olhou para Aster. — Ele fez todos os tipos de ameaças. O pior
de tudo era que mais cedo naquela noite, eu tinha visto ele com você. Eu pensei
que ele ia se desculpar por estar tirando vantagem de você. E, em vez disso, ele
ameaçou me arruinar. Eu não sei o que lhe fez agir assim.
— Ele não se aproveitou de mim — disse Aster, afastando os sentimentos
de culpa que se ergueram durante a história de seu pai. Nenhum de nós é
verdadeiramente inocente, ela pensou com tristeza.
Mason cruzou as mãos. — Bem. Não importa. A mente dele estava
corrompida.
— O que você teria feito se Julia não tivesse matado ele?
Mason suspirou. De repente, ele pareceu décadas mais velho. —
Honestamente, Aster, eu não sei.
— Mas, então, Julia veio a você e lhe disse o que ela fez.
— Isso mesmo. Mas eu nunca teria matado ele.
— E Poppy? — perguntou Aster. — Onde ela entrava em tudo isso? Porque
Elizabeth Cole tinha certeza que Poppy o matou.
— Eu recebi um telefonema histérico de Poppy, pouco depois de Julia me
falar o que ela tinha feito. Era, provavelmente — eu não sei. — Ele olhou para
cima. — Meia-noite? Poppy tinha caminhado até a marina e descobriu Steven na
água. Ela estava em pânico, querendo chamar a polícia, mas eu a convenci a não
fazer isso. Eu disse a ela para deixar Steven onde ele estava.
— Deixá-lo?
Mason baixou a cabeça. — Eu sei que não era o certo. Mas seu corpo seria
descoberto eventualmente. E eu não poderia deixar de me preocupar de ser ela a
pessoa que o encontrou. Poppy poderia parecer suspeita — o que poderia trazer
mais atenção indesejada para a família. Para me certificar, eu paguei o legista para
falsificar o seu nível de álcool no sangue.
Aster cobriu o rosto. — Oh meu Deus.
— Poppy estava sempre fazendo perguntas — Mason continuou com uma
voz oca. — Ela nunca acreditou que Steven se afogou. E então, não muito depois
disso, ela encontrou a mesma falha nas finanças que Steven tinha encontrado. Só
que, quando ela perguntou sobre isso, eu disse a ela a verdade. Ela era da família,
afinal de contas, eu sabia que podia confiar nela. Poppy queria consertar tudo, no
entanto. Ela não queria deixar pra lá.
Aster soltou um suspiro. Isso explicava o e-mail ameaçador que ela tinha
encontrado nos arquivos apagados de Mason. Então ela pensou em outra coisa. —
Então, o que é esse negócio com as joias roubadas?
Mason virou a boca. — Ela descobriu a quantidade de joias que tinham
sido roubadas e percebeu, como eu, que algumas das peças antigas ainda estavam
em nossa coleção. Ela rastreou os ancestrais dos donos. E então ela tirou as joias
dos cofres e devolveu aos proprietários originais sem pedir permissão.
Obviamente, isso levantou todos os tipos de bandeiras vermelhas com a auditoria
e a segurança — que não tinham ideia a quem aquelas joias verdadeiramente
pertenciam ou o que Poppy estava fazendo. Ela estava tentando me forçar a
confessar. Mas eu consegui encobrir tudo.
Aster gemeu. — Pai, por que você simplesmente não confessou?
— Eu queria — disse ele, e suspirou. — Mas eu não tinha certeza se os
negócios poderiam suportar o golpe.
— Portanto, tudo isso foi por causa dos negócios. Isso era mais importante
para você do que qualquer outra coisa.
Ela encontrou o olhar de Mason. Ele desviou o olhar, culpado. Sem a
mãe de Aster na casa, o lugar estava estranhamente quieto — não havia música
clássica na cozinha, nenhum som de sua voz enquanto falava ao telefone. O lugar
parecia como uma tumba.
Ela olhou para Dumbo, seu tronco estendido, suas grandes orelhas largas
em forma de sino. De repente, ela teve pena de seu pai. Ele é um covarde, ela
percebeu. E ele tinha sido um covarde toda a sua vida. Tudo o que ele fez foi viver
em torno de inventar desculpas e encobrir mentiras. Transferindo dinheiro para
encobrir pecados antigos da família, escondendo filhos ilegítimos, suportando o
estilo de vida de festas de Aster por anos para não ter de contar a sua mãe sobre
Danielle. Se esse elefante tivesse cobrado a Mason, ele teria corrido gritando.
— Você costumava ser o meu herói — disse ela em voz baixa, sentindo as
lágrimas chegarem aos olhos.
O queixo de Mason vacilou. — Eu amava quando você pensava isso.
Ela sentiu as lágrimas correrem pelo rosto. — Me desculpe por eu ter
entregado você, pai.
E com isso, Mason levantou-se da cadeira. Aster olhou para ele através
das lágrimas borradas enquanto ela caminhava em direção a ela e se ajoelhava. —
Aster — disse ele com firmeza. — Você fez a coisa certa.
Quando ele passou os braços em volta dela, um soluço subiu em seu
peito. Ele não deveria estar abraçando ela agora, e ela não deveria abraçá-lo de
volta.
E ainda assim ela não conseguia odiá-lo. Mesmo depois de tudo isso, ele
era o pai dela.
Então Mason se afastou e olhou para ela. — Os erros que eu cometi são
meus débitos a pagar, e eu não posso corrigir isso agora. Mas o que eu posso fazer
para corrigir... com você? O que você quer? Você pode parar de trabalhar na
Saybrook. Você pode voltar para a sua antiga vida.
Aster piscou. — Simples assim?
Ela olhou pela janela para o edifício do outro lado da rua e considerou a
possibilidade de não trabalhar mais. Acordar ao meio-dia, navegar no Twitter e em
blogs para ver o que estava acontecendo na noite. Decolar nos fins de semana para
as ilhas distantes, dançar a noite toda e falar sobre nada.
Tudo parecia estranhamente distante. Ela não tinha saído nas últimas
semanas. Clarissa não tinha telefonado. Embora Aster ainda estivesse em um
grupo de mensagens que mandava mensagens a cada início de noite, anunciando
os pontos quentes da noite e fofocando sobre pessoas que eles conheciam, seus
outros amigos não tinham sequer perguntado como ela estava, também. Pensando
nisso, do que ela realmente sentia falta? Da emoção? Este mês foi cheio de
emoções suficientes para durar uma vida. E estava claro que seus amigos não
sentiam falta dela. A cidade estava repleta de socialites fabulosas, afinal de contas
— e herdeiras para pagar a conta.
— Sabe, eu não sei se eu quero a minha vida antiga. — E assim que ela
disse isso, ela percebeu que era verdade. — Eu quero continuar trabalhando —
disse ela com firmeza.
Seu pai ergueu a cabeça. — Ótimo. Bom para você.
— Mas, na verdade. Há algo que você pode fazer. — Aster fitou-o de perto.
— Eu quero que Danielle seja parte da nossa família. De verdade.
Pânico cintilou no rosto de Mason. Ele engoliu em seco. — Você quer
dizer...
— Eu quero dizer que quero que ela se sinta como se fosse uma de nós.
Você é o pai dela. E agora ela não tem mãe. Eu só acho... — Aster fechou os
olhos. — Eu só acho que deveríamos.
Mason ficou em silêncio por um longo tempo. — Tudo bem — ele disse
finalmente. — Faça o que você achar que é certo.
Aster deixou a casa do seu pai poucos minutos depois, se sentindo fraca e
emocionalmente esgotada. Ela segurou a mão de Mitch enquanto eles
caminhavam pela calçada, sabendo que ele estava à espera de ouvir o que tinha
acontecido. Mas ela não estava pronta para dizer a ele ainda. Eles caminharam rua
após rua em silêncio pacífico, passando pelos pedestres com seus belos cães em
coleiras, com moradias belas, condomínios com lobbies de mármore e porteiros
eficientes. O ar estava fresco, o dia renovado. Aster se sentia renovada também —
estranhamente renascida. Um sentimento de esperança que ela nunca tinha
experimentado antes encheu seu coração. Ela sentia-se no controle de seu destino,
de repente. Ela se sentia... reparada.
Ela puxou o celular da bolsa e ligou para Danielle. — O-oi — disse
Danielle trêmula quando ela atendeu, como se ela não tivesse certeza se Aster
estava ligando mesmo ou se era trote.
— Oi — disse Aster com uma voz forte, parando no canto. — Quer vir
jantar comigo esta noite?
— Sério? — Danielle tossiu na outra extremidade. — Tem certeza?
O sinal ficou verde, e Aster puxou a mão de Mitch para o outro lado da
rua. — É claro — disse ela. — Eu tenho certeza.
33
Traduzido por Matheus Martins

U
ma semana mais tarde, vestida com um casaco e um chapéu flexível que
cobria a maior parte de seu rosto — tanto para evitar o sol e para dar-lhe,
pelo menos, um pouco de privacidade — Corinne passava através da
porta giratória da Bendel e olhava em volta. A vendedora arrastou-se para ela
imediatamente.
— Posso ajudá-la, senhorita? — ela perguntou, seu olhar caindo para a
bolsa Carry-alls nas mãos de Corinne. Então ela olhou para Corinne novamente, e
seus olhos se arregalaram. — Oh! Você é...
Corinne se inclinou em direção ao seu serviço ao cliente. Sim, ela era
Corinne Saybrook, a mulher que quase tinha morrido na véspera do seu
casamento. Sim, ela também era a mulher que cancelou o casamento com Dixon
Shackelford, o herdeiro da fortuna da Petróleo Shackelford. Tudo o que ela
queria era devolver seus presentes em paz e rastejar de volta para casa para se
esconder. Ela estava irritada que ainda tivesse presentes para devolver, depois de
todos os problemas que ela tinha passado para mandar todos doar para a caridade.
Todos eles vieram da família de Dixon, como se eles soubessem que ela ia
cancelar tudo e depois escapulir para a Bendels com o rabo entre as pernas.
— Olá — a mulher no serviço ao cliente disse uniformemente, em seguida,
deu o mesmo olhar que a menina perfumada da frente. — Oh, querida — ela sorriu
com afetação, pressionando suas longas unhas em sua bochecha. — Eu não sei o
que aconteceu, mas eu sinto muito. Você está bem?
Corinne torceu a boca em um sorriso educado. — Eu estou bem — disse
ela. — Obrigada.
Tinha sido óbvio, após a sua provação, que ela e Dixon não poderiam se
casar no próximo dia — Corinne estava muito traumatizada, a polícia precisava
delas para um interrogatório, e a única ponte de Meriweather tinha sido fechada
enquanto a polícia escavava o canal procurando o corpo desaparecido de Julia.
Depois disso, Corinne ficou com Rowan na cidade, tentando reunir seus
pensamentos e não atendendo as chamadas de Dixon.
Mas alguns dias depois de ver Natasha acordar no hospital, Corinne sentiu
uma clareza mental que ela não tinha experimentado há um longo tempo. Ela
sabia o que queria, e de repente ela não estava mais com medo. Ela voltou ao
apartamento dela e de Dixon, com seus nervos saltando e os lábios secos. Dixon
estava esperando por ela no sofá; ele sorriu para ela como se não tivessem passado
uma semana separados.
— Então, eu tenho uma boa notícia — disse ele. — Já que estamos
reprogramando, Francis do L’Auberge pode servir para nós novamente. Não é
ótimo?
Os lábios de Corinne se separaram. E então ela apenas... disse a ele. — Eu
não quero me casar.
Dixon tinha piscado, parecendo uma criança surpresa. — Oh — ele
finalmente disse, piscando forte antes das lágrimas começarem a correr pelo seu
rosto. Corinne ficou surpreendida: ela nunca tinha visto ele chorar. Ele colocou a
cabeça entre as mãos. Seus ombros tremeram. — Eu sou um idiota — ele disse em
uma voz abafada.
— Você não é — disse Corinne, sentando-se ao lado dele e acariciando
suas costas. — Mas, Dixon, olhe para nós. Você está realmente feliz?
Ela ficou com ele algumas horas depois disso, discutindo como iriam
contar a suas famílias, até mesmo decidindo vender seu apartamento — nenhum
deles queria viver lá sozinho. Depois disso, eles relembraram seu encontro em
Yale, todos os lugares que tinham viajado, e como ele tentou ensiná-la a montar
sem sela no rancho de sua família no Texas. Foi realmente agradável, como se
fossem dois velhos conhecidos colocando a conversa em dia, sabendo que não
deviam nada um ao outro e que eles provavelmente não se veriam outra vez.
Depois de Corinne deixá-lo, ela chorou por horas, surpresa que ela tinha feito essa
escolha que mudaria sua vida. Mas a cada dia que passava, ela tinha chorado
menos, e hoje ela não tinha nem chorado.
A representante do serviço ao cliente da Bendels desfez a caixa e olhou
para o presente.
— Oh, que lindo. — Ela tirou uma taça de cristal. A etiqueta flutuou para
fora também. “Boa sorte, Corinne! Com Amor, Danielle Gilchrist e Brett
Verdoorn.”
Pobre Danielle. Um monte de blogs de fofoca tinha implicado que ela
sabia o que sua mãe estava fazendo. Outros disseram que ela tinha estado
manipulando a sua mãe, incentivando-a a matar as herdeiras Saybrook, uma por
uma, na esperança de Danielle finalmente capturar todo o pote.
Mas Corinne não acreditava nisso. Ela tinha visto Danielle naquela ponte;
ela havia ficado arrasada ao descobrir que sua mãe era um monstro. Era possível
que Danielle sentisse que sua mãe estava desequilibrada, mas ela não tinha tido
nenhuma ideia de que ela era uma lunática completa. Mas havia alguém que tinha,
no entanto: o pai de Corinne.
Razão pela qual ela mal havia falando com ele. Ela ainda não tinha ligado
para ele depois de a notícia ter saído esta manhã no Abençoados e Amaldiçoados,
é claro — que Mason estava sendo acusado de obstrução da justiça no assassinato
de Steven Barnett. Sem dúvida, ele iria pagar alguém e fazer desaparecer.
Talvez um dia Corinne perdoasse seu pai, mas agora ela só precisava de
distância. Ela se sentia da mesma forma com seu avô. Pessoa por pessoa, seus
ídolos tinham caído de seus pedestais. Tudo havia mudado, ao que parecia, e
ainda assim, aqui estava ela, sem opção a não ser seguir em frente.
A vendedora colocou o item atrás dela e digitou algo na tela. Corinne
desembrulhou mais alguns pacotes e devolveu um cobertor de cashmere, uma
bandeja de Versace para aperitivos, e um par de taças de cristal com bordas
douradas. De repente, ela pensou nos pratos incompatíveis que ela e Will tinham
usado na noite que eles estavam em seu apartamento. Ele os comprou em
mercados de pulga por um dólar cada, e todos eles tinham uma história antes de
Will comprá-los. Isso era muito mais interessante do que uma bandeja de
aperitivos por trezentos dólares.
Will. Ela olhou para o telefone, mas é claro que ele não havia ligado. Será
que ela ainda queria que ele ligasse para ela? Ela tinha sido a única a dizer-lhe que
era tarde demais.
Ele tinha que saber que eles tinham cancelado o casamento. Mas será que
ele se importava? Corinne deixou cair o telefone de volta na bolsa.
A vendedora pegou o item final, e Corinne girou ao redor, inalando os
aromas florais em todo o salão. Ela examinou o diretório, seu olhar varrendo os
vários departamentos e pisos. Ela havia tirado o dia de folga, mas ela não tinha
para onde ir, e não havia nada que ela queria fazer. Ela pensou em visitar sua avó,
mas ultimamente Edith tinha estado de cama. Ela alegou que não estava se
sentindo bem, apesar de Corinne acreditar que na verdade ela não tinha ideia de
como lidar com a verdade sobre os negócios. As primas decidiram convocar uma
reunião familiar para anunciar o que sabiam. Em vez de balançar a cabeça
envergonhada, Edith tinha ficado chocada — ficou claro que ela não tinha ideia do
que o marido havia feito.
Na quinta avenida havia um enxame de pessoas e veículos, e Corinne
virou à direita, sem nada melhor para fazer do que andar em direção ao escritório.
Era um dia brilhante de junho, as calçadas e janelas brilhando ao sol. Em um
universo paralelo, ela ainda estaria em sua lua de mel com Dixon na África do Sul.
Em um universo paralelo, ela estaria com Will, sentada no bar de seu restaurante.
Em um universo paralelo, ela teria sua filha também. E Poppy não estaria
morta.
— Corinne?
Ela se virou. O sol estava em seus olhos, então a princípio a figura na
calçada era apenas uma forma escura. Ela protegeu os olhos. Will.
As mãos de Corinne ficaram moles. — O-olá — ela conseguiu balbuciar. —
Você está aqui.
Will caminhava em sua direção, uma sacola da Trader Joe balançando em
seu braço. — Eu estive pensando em te ligar.
Seu coração deu um salto. — Sério?
O sol inclinou-se contra as feições de Will. Ele sorriu tristemente para ela.
— Sim. Então. Você não vai mais se casar.
Corinne sacudiu a cabeça. — Eu não poderia ir em frente com isso.
— Como sua família reagiu?
Do outro lado da rua, três pombos empoleiraram-se no alto da Torre
Trump. Todos eles pareciam velhos gordos, estabelecidos em seus caminhos,
como se esse tivesse sido seu poleiro por anos. Corinne tinha se preparado para
contar aos pais dela que ela tinha terminado com Dixon. Os olhos da sua mãe
tinham se arregalado, seu pai ficou em silêncio. Mas Aster não se importou.
Tampouco suas primas. E os pais dela não tinham sequer dito que estavam
desapontados — na verdade, a mãe de Corinne a abraçou depois.
— Eu acho que foi tudo bem. Mas não tenho ideia de como julgar mais
nada — disse Corinne, de repente esmagadoramente cansada. — Eu nem sei o que
pensar sobre as coisas. Talvez eu nunca saiba.
— Sabe, você disse que era tarde demais para nós, mas eu não acho que
seja. Nunca é tarde demais.
— O que você quer dizer?
Ele pegou a mão dela. — Por que apenas não começamos de novo?
Começando novamente, aqui, agora.
Começar de novo? Simples assim? Ela olhou para a mão dele,
considerando o que ele tinha acabado de lhe oferecer. Havia algo na simplicidade
disso que trouxe à sua mente um dos poemas favoritos de Corinne, “A Canção de
Amor de J. Alfred Prufrock”. Edith costumava citar parte dele o tempo todo, a
frase sobre como preparar um rosto para encontrar os rostos necessários para
encontrar, mas Corinne estava pensando nas primeiras frases do poema em vez
disso, sobre um casal que vai para a noite enquanto a noite se espalha atrás deles.
Isso soava esperançoso.
Pedestres ocupados passavam correndo por eles. Os pombos elevaram-se
do topo dos arranha-céus do outro lado da rua, de repente era a mais bela vista
que Corinne já tinha visto. Ela enrolou os dedos nos de Will. Ela não tinha ideia o
que o futuro traria. Mas em outras palavras: ela iria esperar para ver.
34
Traduzido por Matheus Martins

N
uma sexta-feira à noite, Rowan abriu a porta do apartamento de Poppy e
deixou cair as chaves de volta no bolso. — Aqui estamos nós — ela
anunciou.
— Eu mal posso esperar para ver todos os meus brinquedos novamente! —
Skylar exclamou, empurrando Rowan para correr para dentro.
Rowan trocou um sorriso com Aster, Corinne, e Natasha, que estavam em
pé atrás dela. Corinne ajustou seu aperto em Briony, que estava chupando
loucamente uma chupeta, e olhava para o foyer. — Bem? Eu acho que todas nós
devíamos entrar.
Elas entraram em fila, uma por uma. A sala estava escura, as cortinas
fechadas. Havia coberturas para móveis sobre os sofás, os tapetes ainda tinham
linhas do aspirador de pó entre eles, e todos os brinquedos das crianças haviam
sido embalados, embora Skylar estivesse fazendo um bom trabalho ao puxar tudo
para fora e arremessa-los ao redor. Skylar e Briony tinham ido ficar com seus pais,
enquanto James estava em uma viagem de negócios de duas semanas. Enquanto
ele estava fora, ele pediu a Rowan e suas primas para pegarem as roupas de
Poppy, joias e outros itens, para decidir quais itens iam manter para as meninas e
quais iam leiloar para caridade.
— Vamos começar — disse Rowan rapidamente, voltando-se para o quarto
de Poppy com um dardo de apreensão. Ela não queria pensar em James
dormindo lá com mulheres que não eram Poppy.
No entanto, quando ela entrou no quarto, ela não sentiu... nada.
Nenhuma pontada de querer James de volta. Nenhuma memória dele piscando
em sua mente. A única coisa que ela pensou foi em um momento quando ela e
Poppy tinham passado um tempo aqui depois de Skylar nascer, quando James
teve que sair em uma viagem de trabalho. Elas se empilharam na cama, a pequena
Skylar nos braços de Poppy, e assistiam ao programa Food Network por horas.
Rowan pegava tudo o que Poppy precisava e pegou Skylar quando Poppy queria
cochilar, olhando para os lábios perfeitos de Skylar, sua pele lisa, sua expressão
plácida. Em um determinado momento, ela olhou para cima e encontrou Poppy
olhando para ela.
— Você vai ser uma boa mãe, Ro — Poppy dissera.
E Rowan seria uma boa mãe — algum dia, de uma forma ou de outra. E,
quanto a vida sem James, ela estava otimista sobre isso também. Um velho amigo
da faculdade de direito chamado Oliver tinha ligado há alguns dias, e eles
conversaram por quase uma hora. Rowan se lembrava de como ele era bonito; ele
a convidava para sair algumas vezes na época, mas ela sempre recusava. Ela só
tinha olhos para James.
Mas isso era antes. Ela e Oliver tinham feito planos para ir para a wd~50
amanhã à noite. Pela primeira vez em, bem, desde muito tempo, ela estava
realmente excitada sobre isso.
As primas abriram o armário de Poppy, e as luzes do teto se acenderam.
As roupas de Poppy estavam penduradas em fileiras alinhadas e organizadas. Seus
sapatos estavam alinhados nas prateleiras no chão, e ela tinha gavetas especiais
para cintos, bolsas pequenas, joias, chapéus e outros acessórios. Na parte de trás
do armário estavam os vestidos que ela usava para eventos especiais, as cores vivas
e os tecidos brilhantes, como uma fila de anéis em uma caixa de joias.
Skylar correu para o quarto também, e urrou suavemente. — Eu amo o
guarda-roupa da mamãe — ela disse em uma voz educada e reverente.
— Não toque em nada, ok? — Corinne aconselhou.
— Oh, eu sei. — Os olhos de Skylar brilhavam. — Uma boa menina
sempre pergunta antes de tocar.
Rowan escondeu um sorriso. Nos meses desde a morte de Poppy, Skylar
tornou-se séria, educada, e quase... sábia. Era como se ela entendesse que um dia
o manto Saybrook seria passado para ela, e que era melhor ela se preparar agora.
Rowan pôs a mão no ombro de Skylar, sentindo pena da menina. Ela
ainda não conseguia entender a ideia de não ter uma mãe durante a sua infância.
Mas, mesmo que James não tivesse sido um grande marido, tanto quanto Rowan
podia dizer, ele era um bom pai.
Natasha deu um passo adiante, tocando a frente de uma caixa de sapatos.
Sua respiração estava ofegante. Ela só tivera alta há dois dias, mas ela insistiu em
vir para ajudar.
— Você está bem?
Natasha assentiu. — Eu vou ficar. — Ela sorriu para Rowan e apertou a
mão dela.
Em seguida, a campainha tocou. Todas olharam uma para a outra, mas,
em seguida, uma luz se acendeu nos olhos de Aster, e ela correu para atender.
Segundos depois, Danielle Gilchrist apareceu na porta do guarda-roupa. Seu
cabelo vermelho pendia de seus ombros, e ela usava uma camisa branca feita sob
medida, calça lápis preta e botas pretas de aparência cara de couro. Havia algo
clássico na roupa, Rowan pensou; era tanto despretensioso como luxuoso.
Era, ela percebeu, exatamente o jeito que uma herdeira de Manhattan
deveria se vestir. Afinal, Danielle estava em treinamento também.
— Vocês têm certeza que está tudo bem eu estar aqui? — disse Danielle,
olhando nervosamente ao redor.
— É claro — disse Aster ansiosamente, agarrando-lhe a mão e puxando-a
para o grande guarda-roupa. — Nós estávamos apenas olhando algumas coisas.
Venha nos ajudar.
Elas começaram a vasculhar os vestidos. — Lembram-se disso? —
perguntou Corinne, segurando um vestido Chanel de penas e contas que Poppy
tinha usado para ir ao Metropolitan Opera alguns anos atrás.
Aster o arrebatou. — Oh, vocês acham que ela se importaria se eu ficasse
com esse?
Corinne deu-lhe uma olhada. — Onde você usaria isso?
— Em uma festa de Halloween — Aster brincou, deslizando o vestido
sobre seu corpo magro. Coube-lhe perfeitamente. Natasha se endireitou.
— Eu quero vestir algo também.
— E eu, por favor! — Skylar ofereceu, estendendo os braços. Rowan
encontrou um chapéu listrado que Poppy tinha comprado em uma viagem a Saint-
Tropez e deu a ela. Skylar colocou-o sobre a cabeça, rindo. — Podemos fazer um
desfile de moda?
— Oh, querida, eu não sei — disse Corinne com cautela, balançando
Briony para cima e para baixo.
— Vamos lá, vai ser divertido — Aster decidiu.
— Eu topo — Natasha concordou.
Corinne deu de ombros, colocou Briony no chão, puxou um vestido azul
da prateleira e começou a desfazer o fecho. — Tudo bem, vocês me convenceram.
— Eba! — Aster gritou, empurrando um vestido longo azul-pavão em
Danielle. — Vista esse! Vai ficar incrível em você!
Danielle parecia tocada. — Vocês querem que eu participe disso? — Ela
correu os dedos ao longo do tecido de seda.
Aster agitou as mãos. — Para de perguntar isso. Você é uma de nós agora.
Agora, vamos lá.
Você é uma de nós agora. Aster estava lidando com isso tão bem — mas
essa era Aster, sempre pronta para o que a vida jogava nela. Rowan olhou para
Danielle novamente quando ela calmamente abriu a parte de trás do vestido. Ela
queria gostar de sua nova prima. Ela queria abraçá-la, tanto quanto Aster havia
feito. Mas ela não tinha certeza se confiava muito nela ainda. Talvez não tivesse
nada a ver com Danielle e tudo a ver com Julia — afinal, Danielle era tão vítima
como todas elas.
Rowan selecionou um vestido preto de franjas e colocou-o em um minuto,
sentindo-se um pouco como Poppy enquanto fechava o zíper. Momentos depois,
quando Rowan olhou ao redor, todas elas tinham se transformado em Poppy, sua
pele brilhante, os olhos brilhantes, seus sorrisos confiantes. Até mesmo a pequena
Skylar com seu chapéu e uma túnica rosa de Poppy que ia até seus tornozelos se
parecia com ela. Na luz fraca do quarto, seu rosto virado em um ângulo particular,
ela se pareceu tanto com Poppy que fez Rowan ficar sem fôlego.
Então ela percebeu o quão ridículo elas pareciam em pé no meio de um
guarda-roupa em tais vestidos ornamentados e pés descalços, e ela começou a rir.
Parecia de repente como se elas fossem crianças em Meriweather novamente,
brincando de se vestir nos armários de suas mães.
Aster correu para o aparelho de som e colocou uma música dançante,
balançando com a batida. Então ela começou a deslizar pelo chão, balançando os
quadris e colocando um olhar confiante em seu rosto.
— Vai, garota! — Rowan gritou para ela, balançando com a música
também.
— Aster, você ainda desfila muito bem — Natasha admitiu.
— Definitivamente — acrescentou Corinne, o que fez o rosto de Aster se
iluminar. — Alguma vez você já pensou em modelar de novo?
Aster soltou uma gargalhada. — Eu fico com a Saybrook. Vocês não
ouviram? Chato é o novo preto. — Então ela enlaçou o braço em volta de Natasha.
— Talvez Danielle pudesse recrutar você também.
Danielle, que tinha acabado de vestir o vestido azul — que tinha ficado
incrível nela — olhou para cima. — Isso pode ser arranjado.
— Seria muito divertido! — Aster gritou, batendo palmas. — Todas nós
poderíamos estar lá. Almoçar todos os dias, sair para coquetéis depois do trabalho,
fazer retiros na conta de despesas da empresa...
Natasha balançou a cabeça. — Eu acho que não. Na verdade, eu estive
pensando em sair de Nova York por um tempo. Viajar para algum lugar remoto,
colocar minha cabeça no lugar.
Corinne parecia devastada. — Você está indo embora?
— Não vai ser por muito tempo — Natasha prometeu. Em seguida, um
sorriso malicioso apareceu em seu rosto, e ela disparou pelo corredor, balançando
os quadris como Aster. No final do corredor, ela enfiou os braços para o ar de
forma dramática, assim como ela costumava fazer no fim das suas coreografias ou
em um solo. Todas caíram na risada.
— É a vez de Rowan! — Corinne chamou quando Natasha acabou.
Rowan olhou para o vestido de Poppy. Era tão longo que se arrastava no
chão.
— Eu preciso de sapatos — ela anunciou. Ela vasculhou os sapatos no
guarda-roupa de Poppy.
— Ooh, eu sei que ela tem algum sapato-aberto prata que ficaria ótimo
com esse vestido — Aster anunciou, se ajoelhando também. Ela puxou uma
pequena escadinha da parte de trás e subiu nela para verificar as prateleiras
superiores, procurando o par em questão.
— É a minha vez! — Skylar puxou a saia de Rowan quando Rowan
terminou. — Olhem para mim!
Todas elas aplaudiram Skylar conforme ela empinava pelo longo
corredor. O chapéu flexível caiu pela metade da sua cabeça, mas ela o pegou com
um floreio. Após Skylar desfilar, foi a vez de Corinne, suas bochechas brilhando.
E depois Danielle. Elas selecionaram mais vestidos, testaram mais itens, e ainda se
divertiram com algumas das compras por impulso de Poppy, incluindo um par de
plataformas de pele de cobra verde neon e um casaco que parecia como se tivesse
sido feito de cabelo. Rowan se sentou por um momento, observando todas elas,
sentindo-se por um momento em paz absoluta. Tudo parecia tão bom. Tão
seguro. E ela percebeu, com um sobressalto, que ela adorava sua vida. Suas
primas, sua família, sua integridade. Isso finalmente parecia ser o suficiente. Mais
do que suficiente.
Do outro lado do quarto, o telefone soou alto. Franzindo a testa, ela olhou
para ele, então se virou para Aster, que tinha pego um vestido branco bonito, mas
totalmente impraticável, que era transparente em cima e tinha uma saia volumosa
que parecia como se tivesse sido feito de centenas de tranças de seda. — Nem
mesmo eu poderia tirar isso — disse ela.
— Parece um vestido de princesa! — Skylar gritou, estendendo a mão para
ele.
O telefone tocou novamente. Rowan disparou um sorriso rápido para suas
primas, em seguida, levantou-se e atravessou o quarto. Ela puxou o telefone de sua
bolsa e olhou para a tela. Seu estômago caiu a seus pés. Nova postagem do
Abençoados e Amaldiçoados.
O site tinha ficado estranhamente silencioso desde o desaparecimento de
Julia. Não tinha sequer um link para a história sobre o impasse na ponte, ou uma
dica de que Corinne tinha cancelado o casamento, ou tudo sobre Danielle, apesar
da Page Six e Gawker ter dedicado dias para todas essas histórias. Também não
haviam fotos espontâneas delas. Nenhum vídeo não autorizado. Nem conversas
ouvidas por acaso. Isso era uma prova de que Julia, apesar de seu protesto na
ponte, tinha estado gerenciando o site? Ou ela apenas fornecia ao gerenciador os
petiscos mais suculentos?
Rowan pressionou o link que a levou para a página. Como previsto, havia
uma nova postagem. Rowan piscou duramente. Palavras enormes enchiam a
página. Fotos, também.
— Uma herdeira, duas herdeiras, três herdeiras, quatro — dizia, mostrando
fotos de Rowan, Corinne, Aster e Natasha. Rowan rolou um pouco para baixo.
— Cinco herdeiras, nova herdeira. — Uma foto de Danielle. E depois: —
Eles sabem que há mais uma?
Os olhos de Rowan ficaram turvos. Ela entendeu essas últimas palavras
individualmente, mas não como um grupo. Do que o site estava falando? Havia
outra herdeira: Poppy, mas agora ela estava morta. Ou talvez isso significasse
herdeiros? Mas havia quatro herdeiros: seus irmãos, e também Winston e
Sullivan. De alguma forma, ela não achava que significasse nada disso, no entanto.
Seus dedos começaram a tremer. Um gosto metálico encheu sua boca.
Danielle colocou a cabeça para fora do guarda-roupa. — Você está bem,
Rowan?
Rowan levantou rapidamente, cobrindo a tela do telefone com as mãos. O
olhar de Danielle estava intenso. Ela sabia, talvez? Ou talvez Rowan estivesse
enlouquecendo.
— Eu estarei aí em um segundo — ela disse distraidamente, esperando que
ela não parecesse ansiosa. — Eu só preciso cuidar disso aqui.
Isso não significa nada, ela disse a si mesma, respirando fundo. Quem
quer que tenha postado aquilo estaria apenas ferrando com eles mesmos. Não
havia mais Saybrooks. Não havia mais segredos. Eles sabiam tudo o que
precisavam saber.
E ainda assim ela não pôde deixar de espreitar novamente. Mas quando
ela olhou para a tela mais uma vez, a página estava em branco. Ela clicou para
atualizar de novo e de novo, com o coração batendo forte.
Mas sem mais nem menos, a postagem tinha desaparecido.
Um Ano Depois
Traduzido por Manoel Alves

E
ra fim de tarde na festa anual da família Saybrook no fim do verão em
Meriweather. Edith Saybrook sufocou uma tosse enquanto caminhava até
a varanda. Embora o termômetro marcasse quase vinte e nove graus, ela
sentia um frio impenetrável. Ela puxou seu casaco de pele mais próximo do
pescoço.
Sua neta, Corinne, olhou para cima de sua cadeira Adirondack alarmada.
— A senhora está bem?
— É claro — Edith retrucou, agarrando seu Perrier sabor limão. — Eu sou
tão saudável quanto um boi.
Corinne tomou um gole de sua limonada. Seu novíssimo noivo, Will,
trocou um olhar preocupado com ela. Eles formavam um casal bastante agradável,
e ela certamente parecia mais feliz do que tinha estado com o rapaz Shackelford.
Que confusão que tinha sido, mas estava tudo acabado agora. Não que os
tabloides pensassem assim. Repórteres ainda estavam ligando para Edith para ela
comentar se Dixon e Corinne iriam se reconciliar. Desistam, ela sempre pensava.
Edith olhou da varanda para a festa no pátio. Embora eles quisessem que
a festa do Dia do Trabalho fosse uma cosia pequena, principalmente para celebrar
Loren DuPont, uma nova cliente que a irmã de Corinne, Aster, havia cortejado e
transformara aquilo em uma festança de duzentas pessoas. Ela viu Aster, usando
um vestido coquetel prata, conversando com a própria Loren, e o homem que ela
andava saindo — Michael? Mitchell? — em pé, desajeitadamente, ao seu lado.
Com Elizabeth demitida — Edith nunca gostara dela — Aster tinha sido
promovida à comunicação com clientes associados, e ela trouxera um monte de
novos negócios. É claro, Edith sempre tinha visto o prodígio que era aquela
menina.
Outra neta de Edith, Rowan, brilhando em um vestido branco curto,
exibindo sua figura atlética e de mãos dadas com um homem alto, cujo nome ela
nunca conseguia se lembrar — eles se conheceram na Columbia Law Review,
talvez? — estava deixando a filha mais velha de Poppy acariciar um daqueles cães
imundos que ela possuía.
E depois viu aquela novata, a ruiva que morava na casa dos cuidadores,
mas que agora ficava aqui. Era revoltante a forma como todos eles se apaixonaram
por Danielle agora. Ela era uma mulher adulta, pelo amor de Deus. Como eles
poderiam ter tanta certeza que Danielle não tinha feito parte do esquema de sua
mãe? Edith pensava seriamente em ir até lá e ter uma conversa com Danielle, de
uma vez por todas.
Mas ela se sentia tão cansada. E de repente ela não conseguia lembrar o
nome da neta que tinha ido para a Índia logo depois que ela se recuperou de seus
ferimentos. Ela ainda estava lá — acabara de enviar um cartão-postal há poucos
dias de uma criança na beira da estrada? Essa era a ovelha negra, a que por tanto
tempo fingiu não ser boa o suficiente para a família.
— Vovó? — Corinne olhou para ela com curiosidade novamente.
Então ela lembrou: Natasha. Claro. — Eu te disse, eu estou bem. — Edith
estava ciente de que Corinne tinha sido enviada até ali para bancar a babá. — Meu
Deus, eu estou apenas com gripe! Vocês estão agindo como se eu tivesse a peste.
Corinne e o fulano trocaram outro olhar secreto. Edith puxou a pele para
mais perto, de repente atingida por uma paranoia. Eles poderiam saber? Talvez
suspeitassem que não fosse gripe? Eles não podiam. Ela mantinha as aparências
tão bem.
Ainda assim, em sua mente, ela visualizou o médico, um arrivista
impertinente chamado Myers, exibindo seus exames de ressonância magnética em
uma tela brilhante. — É uma trajetória bem incomum para este tipo de câncer —
ele disse a Edith. Ela visitou-o sozinha naquele dia, assim como tinha ido sozinha
para o exame de sangue e a ressonância magnética também. — Normalmente,
esses tipos de lesões são de crescimento lento, fácil de parar. Mas esse... bem...
Ele havia descrito todos os medicamentos e os tratamentos que poderiam
tentar, embora não parecesse muito otimista sobre seu prognóstico. Seja o que
fosse, tinha se espalhado. Edith se levantou, lívida. — Eu vou consultar uma
segunda opinião. Você não sabe quem eu sou?
O médico pareceu assustado. — Senhora Saybrook, o câncer não tem
favoritos.
Soou como algo que se pode colocar em um adesivo. Edith saiu do
consultório, quase escorregando no linóleo duro. Mas, no elevador, ela apertou
cada andar só para ter alguns momentos de paz. Uma voz calma sussurrou
sedutoramente em sua mente. Você sabia que esse dia chegaria. No fundo, você
sabia de tudo.
Ela sabia? Ela poderia saber? Oh, ela se fez muitas perguntas sobre o que
suas netas revelaram que Alfred tinha feito. Mason sabia. Poppy também... e
Natasha, Candace e Patrick, e ele só era parente por causa do casamento. E então
todo mundo tinha olhado para ela, esperando que ela soubesse do segredo
também. E ela ficou lá, com cara de paisagem, mas por dentro ela só se sentia...
murcha. Perfurada. Meu Deus, ela pensou. Ali estava, depois de todos aqueles
anos. Estendido como um cadáver.
Ela se lembrava de quando Alfred voltou da guerra como se fosse ontem.
O quão orgulhoso ele estava para mostrar-lhe os diamantes que ele tinha
encontrado! — Eu arranjei isso em um bazar em Paris — ele disse, emocionado,
segurando uma grande pedra amarela contra a luz. Deus, era tão grande quanto
uma bola de beisebol. — Oh, Edie, não é lindo? Nós vamos ganhar uma bolada.
Mas algo a incomodava na história. Um bazar em Paris? O que eles
estavam fazendo naqueles mercados de pulgas em um momento como aquele?
E onde ele tinha conseguido dinheiro para comprar pedras? Perto do fim
da guerra, toda hora Alfred se queixava em suas cartas sobre mal ter dinheiro para
um filme e uma cerveja, praticamente esquecendo que Edith estava lutando em
casa tentando manter sua loja de joias aberta. E ela ouviu os sussurros também.
Coisas abaixo da moral acontecendo entre os soldados Aliados. Furtos de pessoas
que já tinham tido sua dignidade despojada. Eles raciocinaram isso, Edith supôs,
porque sentiram que eles deviam algo pelo seu sacrifício. E assim eles pegaram... e
não contaram. Mas seu Alfred não era assim, não é? Ele não era um homem bom,
um homem honesto?
Mesmo assim, ela tinha perguntado, de uma forma indireta, só para ter
certeza. Alfred disse a ela, uma e outra vez, que tudo era legítimo. — Apenas fique
feliz — ele disse a ela em seu caminho para o leilão naquela manhã. — E prepare-
se, porque toda a nossa vida vai mudar.
E então isso aconteceu. Aquela pedra foi vendida por uma fortuna. Alfred
ganhou reconhecimento nacional por ela, e ele investiu o dinheiro que ganhou de
sua venda na loja.
A Saybrook cresceu. Alfred vendeu os outros diamantes que ele havia
“adquirido” enquanto estava no exterior, ampliando a loja novamente. Ele fez
ligações com as melhores minas e fornecedores. Com uma parte dos lucros, ele foi
capaz de comprar os melhores diamantes, transformando-os em joias de alta
qualidade. Logo as pessoas de Nova York estavam vindo para Boston para vê-lo. E
logo depois disso, foi tomada a decisão de mover-se para Manhattan.
Cada vez que um Saybrook morria tragicamente, Edith não estava cem
por cento surpresa. Mas admitir que isso era carma, uma maldição? Acreditar
nisso, concordando com a imprensa que a sua família era amaldiçoada — bem, isso
significava admitir que eles tinham feito algo para merecer isso. E assim ela
dispensou aquilo como se fosse um disparate.
Agora Edith fechou os olhos. Isso foi há muito tempo. E o que Edith
estava sofrendo provavelmente era uma gripe, não algum tumor berrante e
amorfo, atacando-a de dentro para fora. Ela certamente não merecia esta doença
por ter mantido a boca fechada todos esses anos. Ela não acreditava em maldições.
Era isso.
Um barulho estranho a assustou, acordando-a. Ela abriu os olhos, não
tendo consciência de que havia cochilado, e olhou em volta. As duas cadeiras ao
lado dela estavam vazias agora. A música tinha parado. Os hóspedes congelaram,
com coquetéis na mão.
Um grito veio da praia. Edith levantou. Quem era? Então Patrick emergiu
dentre os pinheiros. — Socorro!
Todo mundo começou a se mover. Embora ainda desorientada, Edith
desceu pelo outro lado do gramado. Ela procurou freneticamente por suas netas,
mas não viu uma única sequer. Alguns homens passavam através do grupo,
oferecendo seus serviços. Mas onde estava Aster? Onde estava Rowan? Edith
queria chamá-las, mas sua voz não saía.
Havia um pequeno círculo em torno de um corpo na areia. O coração de
Edith deu uma guinada. — Liguem para a emergência! — uma voz gritou. Patrick
caiu de joelhos sobre o corpo. — Ela está respirando? — alguém gritou. — Há
pulsação?
— Quem é? — Edith gritou, lutando furiosamente para passar pela
multidão.
Um estranho que ela nunca havia visto antes se virou e arregalou os olhos.
— É um dos seus.
Aquilo acertou Edith como um golpe no peito. O estranho deu um passo
para o lado para Edith poder passar. Ela ajoelhou-se na areia, tocando os pés
descalços de uma menina. Patrick pairava sobre ela, tentando fazer reanimação
cardiopulmonar. — Saia da frente — Edith rosnou para seu filho, que rastejava
sobre o corpo. Ela olhou para o rosto da menina, reconhecendo aqueles familiares
olhos azul-gelo, o nariz inclinado, o pingente oval de diamantes que Edith havia
dado a cada uma de suas netas em seu décimo oitavo aniversário.
— Não — ela gritou, caindo contra a menina. Não podia ser. Não mais
uma. Seu tumor não era o suficiente? Ela não podia ser o sacrifício?
A maré aproximou-se, atingindo Edith com um choque de frio. As
pessoas corriam para lá e para cá, gritando instruções em pânico. Edith olhou para
as árvores, suspeitando que alguém estava olhando. Julia Gilchrist nunca tinha sido
encontrada. Poderia ser ela? Poderia ser outra pessoa?
Ou talvez fosse outra coisa. Talvez tivesse sido outra coisa o tempo todo.
Uma ambulância badalava pelo caminho. As pessoas correram para os
paramédicos, direcionando-os para o corpo. Mas o olhar de Edith permaneceu
fixo na mata, à espera de quem quer que seja — ou o que quer que seja — se revele.
De repente, ela tinha uma certeza: a maldição estava ali novamente.
Ou talvez nunca os tivesse deixado.

Fim!
Agradecimentos
Agradecemos a ajuda de todos os
tradutores que possibilitaram que esse livro
fosse traduzido. E também a todos os fiéis
frequentadores e seguidores do nosso blog e
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