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ISSN 1808-9984

COMUNICADO Extração de óleo essencial


TÉCNICO
de alecrim-do-mato
186
(Lippia grata Schauer –
Verbenaceae)
Petrolina, PE
Novembro, 2021

Ana Valéria Vieira de Souza


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Extração de óleo essencial de


alecrim-do-mato (Lippia grata
Schauer – Verbenaceae)1
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Ana Valéria Vieira de Souza, engenheira-agrônoma, D.Sc. em Horticultura, pesquisadora da Embrapa
Semiárido, Petrolina, PE.

Introdução antisséptico e antimicrobiano (Lorenzi;


Mattos, 2002).
Óleo essencial é definido pela O óleo essencial encontrado em
Organização Internacional de Padrões suas folhas apresenta diversas subs-
(ISO) como sendo os produtos obtidos tâncias com potencial medicinal e os
de partes das plantas por meio de desti- compostos timol e carvacrol são consi-
lação por arraste com vapor d’água, bem derados os componentes majoritários.
como os produtos obtidos por esmaga- Essas substâncias podem ser utilizadas
mento de pericarpos de frutos cítricos. como fungicida e bactericida frente a
São misturas complexas de substâncias diversos microrganismos de importância
voláteis, lipofílicas, líquidas, incolores ou para a saúde humana e animal, como
ligeiramente amarelados, que possuem Staphylococcus sp., Pseudomonas
como característica básica o cheiro e o sp., Candida albicans, Bacillus cereus,
sabor. Também conhecidos como óleo Escherichia spp., dentre outros (Costa
voláteis, essas substâncias apresentam et al., 2017), além de ser possível sua
diversas possibilidades de uso para aplicação na agricultura no controle de
várias aplicações na indústria química e microrganismos que causam doenças
farmacêutica, indústria de aromas e fra- em plantas, como Colletotrichum gloe-
grâncias e indústria alimentícia (Simões; osporioides, C. musae, C. fructicola, C.
Spitzer, 2004). asianum, Alternaria alternata, A. brassi-
Na Caatinga, diversas plantas pro- cicola, Fusarium solani, F. oxysporum f.
duzem óleos essenciais com potencial sp. Cubense, Lasiodiplodia theobromae
para exploração comercial, como por (França et al., 2020), Thielaviopsis para-
exemplo a espécie Lippia grata Schauer doxa (Pinto et al., 2012), dentre outros.
(Verbenaceae), conhecida popularmen- Considerando-se o amplo potencial
te como alecrim-do-mato, alecrim-da- de uso e aplicação do óleo essencial
chapada ou alecrim-de-tabuleiro. É um do alecrim-do-mato, neste trabalho
arbusto cujas folhas são aromáticas são apresentadas informações sobre o
e amplamente utilizadas na medicina processo de extração a partir do desen-
popular no tratamento de gripes e res- volvimento de pesquisas realizadas na
friados e para lavagem de ferimentos Embrapa Semiárido.
e machucados, pois apresentam efeito
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Obtenção do material Deve-se proceder a desfolha ou reti-


rada completa das folhas, que serão
utilizadas no processo de extração.
A obtenção do material é realizada
a partir da colheita da planta contendo Se o interesse for a extração do óleo
caules e folhas (Figura 1A). No mo- essencial a partir de folhas secas, o
mento da colheita, o corte das plantas processo de obtenção e secagem desse
deve ser realizado a uma altura entre material deve ser realizado com ante-
20 cm a 30 cm do nível do solo, para cedência e programação adequada. As
permitir a rebrota das plantas. O ma- folhas também devem ser retiradas em
terial colhido deve ser pesado para local sombreado (Figura 1B), conforme
registrar a produção da biomassa em descrito acima. Preferencialmente, de-
cada colheita. Em condições de clima vem ser secas à temperatura ambiente
semiárido, o alecrim-do-mato pode ser em local totalmente limpo e à sombra,
colhido em qualquer época do ano, no mas também podem ser secas em es-
período da manhã ou da tarde, uma vez tufas com circulação de ar forçada (To
que não ocorre interferência desses fa- ≤ 40 ºC). Durante todo o período de
tores no rendimento do óleo essencial. secagem, o material deve ser protegi-
do de insetos ou outros animais que
Para a extração, podem ser utiliza-
possam vir a comprometer sua quali-
das folhas frescas ou folhas secas, a
dade. O uso de folhas secas possibilita
depender da estrutura de secagem e
a obtenção de maior rendimento do
capacidade do destilador. Para folhas
óleo essencial e melhor programação
frescas, o processo deve ser realiza-
de escalonamento para a extração.
do logo após a colheita, para que a
qualidade do material seja mantida. O As folhas retiradas para secagem
armazenamento de folhas frescas para devem ser colocadas em estruturas ou
posterior extração do óleo essencial recipientes adequados que permitam
deve ser evitado, devido à possibilidade a circulação de ar, mas sem perda de
de ocorrência de fungos que inviabilizam material. O tempo de secagem varia
sua utilização, bem como a continuida- entre a estufa e a temperatura am-
de do metabolismo celular que pode biente. Na estufa, o tempo médio pode
alterar a composição química do óleo ser de 3 dias, aproximadamente, e, à
essencial. Porém, caso seja necessário temperatura ambiente, esse período
o armazenamento do material fresco, varia entre 5 a 7 dias. O importante a
isso deve ser feito no período máximo ser observado é que o material deve
de 24 horas em refrigerador ou local estar totalmente seco para que seja
com temperatura aproximada de 5 ºC. submetido ao processo de extração do
óleo essencial (Figura 1C, 1D e 1E).
O preparo do material deve ocorrer
em local sombreado, a partir da reti- Uma alternativa para a secagem
rada dos caules mais grossos com o do material à temperatura ambiente é
auxílio de tesouras de poda ou facões. deixar as plantas colhidas secarem sem
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proceder a desfolha logo após a colheita. Na Embrapa Semiárido, a extração


Ao final do período de 5 ou 7 dias, quan- do óleo essencial do alecrim-do-mato é
do as folhas já estiverem totalmente se- realizada a partir de folhas secas à tem-
cas, essas já estarão soltas dos galhos, peratura ambiente em local totalmente
o que proporcionará maior praticidade sombreado, por um período de 5 a 7
e rendimento do trabalho no campo. Se dias, aproximadamente.
não ocorrer a desfolha natural após esse
período, pode-se bater nos galhos para
que todas as folhas secas se soltem.
A B
Fotos: A, B, C e D - Ana Valéria Vieira de Souza

C D Foto: E - Clarice Monteiro Rocha E

Figura 1. (A) Colheita de plantas de Lippia grata; (B) desfolha ou retirada das folhas em local sombreado;
(C) folhas frescas; (D) folhas secas e (E) comparação da coloração de folhas frescas e folhas secas.

A extração
(≅100 ºC). O calor do vapor faz com
Como o óleo essencial do alecrim- que as paredes celulares das folhas se
do-mato é volátil, é recomendado que o abram e o óleo evapore com os vapores
processo de extração seja realizado por de água. Então, os voláteis são condu-
meio da destilação por vapor d’água ou zidos para um tubo de resfriamento e
destilação a vapor. Esse método não em seguida o óleo essencial pode ser
apresenta dificuldades e é o mais utiliza- coletado em um recipiente.
do por ser viável economicamente, com
bom rendimento do óleo essencial de Para pequenas quantidades, pode
alta qualidade. ser utilizado um sistema com vidrarias,
a partir de vidro borosilicato, por serem
Nesse sistema, a água com as fo- mais resistentes. Em balões volumétri-
lhas é aquecida a altas temperaturas cos de fundo redondo de 3 L, pode ser
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colocado 100 g de folha e 1,5 L a 2 L de entre 4 mL a 5 mL de óleo essencial do


água potável. O balão deve ser acoplado alecrim-do-mato.
a uma manta aquecedora com ajuste de
Atualmente, existem diversos tipos
temperatura. Para o início do processo
de destiladores de óleo essencial dis-
de ebulição ou fervura do material, a
poníveis no mercado, em aço inoxidá-
temperatura deve estar ajustada para
vel, com capacidades de extração que
100 ºC. Posteriormente, esta deve ser
variam entre 2 kg a 1.000 kg de folhas.
reduzida entre 70-80 ºC até completar
Empresas especializadas também
o processo, que dura, aproximadamen-
podem confeccionar destiladores es-
te, 3 horas (Figuras 2A e 2B). Com o
pecíficos de acordo com a demanda e
emprego desse sistema, na Embrapa
interesse do produtor.
Semiárido, obtém-se um rendimento
A B
Foto: Ana Valéria Vieira de Souza

Foto: Clarice Monteiro Rocha


Figura 2. Extração de óleo essencial de Lippia grata em sistema com vidrarias; A) detalhe da quantidade de
óleo essencial extraída a partir de 100 g de folha seca e B) vials contendo óleo essencial.

papel alumínio. Mas devem ser utiliza-


Armazenamento dos somente frascos de vidro.
Após o processo de extração, o óleo
essencial do alecrim-do-mato deve ser
Confirmação da com-
armazenado em frascos âmbar livre da posição química
incidência direta de luz em freezer, refri-
gerador ou local com baixas temperatu- Para o melhor controle de qualidade
ras, como câmaras frias. A temperatura do óleo essencial, deve-se realizar a
de armazenamento deve ser abaixo de análise fitoquímica a partir de pequena
15 ºC. Para longos períodos, esta deve quantidade da amostra – pode-se uti-
estar entre 1 ºC a 5 oC, aproximadamente. lizar até 100 µL. Este procedimento é
necessário para confirmar ou certificar a
Se não for possível o armazenamen- composição química do óleo essencial,
to em frascos âmbar, podem ser utiliza- principalmente em relação às substân-
dos frascos transparentes envoltos com cias de interesse.
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No Brasil existem laboratórios de Continuação.


química de produtos naturais em uni-
Composto IRa %
versidades e instituições de pesquisas
como a Embrapa, que fazem esse tipo Timol 1297 6,3
de análise. Carvacrol 1311 78,6
Para a análise da composição quími- Acetato de timol 1358 --
ca do óleo essencial do alecrim-do-mato
Acetato de carvacrol 1375 --
obtido na Embrapa Semiárido foi utiliza-
da a técnica de cromatografia gasosa E-cariofileno 1425 1,24
acoplada a espectrometria de massa Aromadendreno 1443 0,03
(GC/MS), em que foi possível identificar
29 compostos, sendo o carvacrol, timol α-humuleno 1458 0,26
e ρ-cimeno, considerados majoritários ar-curcumeno 1484 --
(Tabela 1).
α-zingibereno 1496 --
Tabela 1. Composição química do óleo es-
sencial do alecrim-do-mato (Lippia grata α-bisaboleno 1509 0,17
Schauer – Verbenaceae) extraído na Embra- α-cadineno 1526 --
pa Semiárido.
Espatulenol 1584 0,26
Composto IRa %
Óxido de cariofileno 1591 0,85
α-tujeno 945 0,03
α-pineno 951 0,02 Epóxido de humuleno 1616 0,03

1-octen-3-ol 984 0,16 Total detectado (%) -- 97,1


Mirceno 994 0,34
α –terpineno 1020 0,17
Considerações finais
ρ-cimeno 1027 2,51

1,8-cineol 1034 0,38


A extração do óleo essencial do ale-
crim-do-mato pode ser realizada sem
E-b-ocimeno 1048 0,02 dificuldades, com relação a destilado-
γ-terpineno 1061 1,00 res. Contudo, deve-se atentar para a
quantidade de material (folhas) que será
Cis-sabinene hydrate 1069 0,42
utilizada no processo de extração, pois
Linalol 1102 0,48 é esse fator que vai determinar a capa-
Ipsdienol 1148 0,53 cidade do destilador a ser empregado.

Terpinen-4-ol 1181 0,64 Sempre deverá ser feita uma pro-


gramação adequada entre o período da
Éter metil timol 1238 2,31
colheita e a etapa da extração, principal-
Éter metil carvacrol 1247 0,33 mente quando o tipo de material utiliza-
Continua... do for folhas secas.
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O armazenamento adequado do óleo FRANÇA, K. R. S.; ALVES, F. M. F.; LIMA, T. S.;


XAVIER, A. L. dos S.; AZEVEDO, P. T. M. de;
essencial é fundamental para manter ARAÚJO, I. G. de; NÓBREGA, L. P. da; PAIVA, Y.
seu padrão de qualidade até o momento F.; BARBOZA, H. da S.; MENDONÇA JÚNIOR, A.
da sua utilização. F. de; RODRIGUES, A. P. M. dos S.; CARDOSO,
T. A. L. In vitro fungitoxic potential of Lippia gracilis
(Schauer) essential oil against phytopathogens.
O óleo essencial do alecrim-do-mato Australians Journal of Crop Science, v. 14, n.
apresenta grande potencial para uso 4, p. 667-674, 2020.
comercial na fabricação de produtos LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medici-
biopesticidas e aplicação na agricultura nais do Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa:
Instituto Plantarum, 2002, 512 p.
e pecuária.
PINTO, J. A. O.; CRUZ, E. M. O.; WARWICK,
D. R. N.; SOUZA, R. C.; CARVALHO, R. R. C.
e; BLANK, A. F. Óleos essenciais de genótipos
Referências de alecrim-de-tabuleiro no controle da resinose
do coqueiro. Horticultura Brasileira, v. 30, p.
2169-2177, 2012.
COSTA, P. C.; SOUZA, E. B.; BRITO, E. H. S.; SIMÕES, C. M. O.; SPITZER, V. Óleos voláteis.
Raquel Oliveira dos Santos FONTENELLE, R. In: (org.). SIMÕES, C. M. O.; SCHENKEL, E. P.;
O. dos S. Atividade antimicrobiana e potencial GOSMANN, G.; MELLO, J. P. C.; MENTZ, L. A.;
terapêutico do gênero Lippia sensu lato PETROVIK, P. R. (orgs.). Farmacognosia: da
(Verbenaceae). Hoehnea, v. 44, n. 2, p. 158-171, planta ao medicamento. Porto Alegre: Editora da
2017. UFRGS, 2004. p. 467-495.
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Comitê Local de Publicações


da Embrapa Semiárido
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www.embrapa.br/fale-conosco/sac
Gislene Feitosa Brito Gama, José Maria Pinto, Magnus
Dall’Igna Deon, Paula Tereza de Souza e Silva, Pedro
1ª edição
Martins Ribeiro Júnior, Rafaela Priscila Antônio, Sidinei
Versão digital (2021)
Anunciação Silva

Supervisão editorial
Sidinei Anunciação Silva

Revisão de texto
Sidinei Anunciação Silva

Normalização bibliográfica
Sidinei Anunciação Silva (CRB-4/1727)

Projeto gráfico da coleção


Carlos Eduardo Felice Barbeiro

Editoração eletrônica
Sidinei Anunciação Silva

Fotos da capa
Clarice Monteiro Rocha

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