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Ceará foi a primeira província do Brasil a abolir a escravidão, em 25 de março de 1884

Um ano antes, no dia 1º de janeiro de 1883, a Vila do Acarape, atual município de Redenção,
a 55 km de Fortaleza, libertou os povos escravizados.
A proposta de criar um feriado para lembrar a data é de autoria do deputado Lula Morais,
como forma de celebrar o pioneirismo do Ceará na abolição da escravidão. O feriado foi aprovado
na Assembleia Legislativa em 1º de dezembro de 2011, sendo promulgada e publicada no Diário
Oficial do Estado em 6 de dezembro do mesmo ano.
Museu relembra escravidão
Em Redenção, o Museu Senzala Negro Liberto, tenta ressignificar um espaço anteriormente
utilizado para opressão dos escravos. Dividido entre casa-grande, engenho e senzala, as paredes
resgatam a história da escravidão no estado, na cidade pioneira da libertação dos negros.
ENTENDA A HISTÓRIA;
Em 27 de janeiro de 1881, Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, jangadeiro da
capital, moveu a classe a firmar posição diante do tráfico de escravos no Estado. Dragão do Mar
convenceu os colegas jangadeiros a se recusarem a transportar os escravos vendidos para o sul do
Brasil para os navios negreiros. Com esta atitude, eles conseguiram de fato abolir o tráfico de
pessoas na província.
Embora o Ceará fosse pioneiro no Brasil, o país foi o último do Ocidente a proibir a
escravidão. A Lei Áurea foi sancionada apenas em 13 de maio de 1888, quatro anos depois do
nosso Estado.
O destino dessas pessoas após libertas foi variado. Alguns recorreram a quilombos, como o da
Serra do Evaristo, em Baturité, outros foram para a capital.
Outros, diante da situação, aceitaram entrar em acordo com os senhores e passaram a prestar
serviço remunerado.
VIVA A LIBERDADE, VIVA O FIM DA ESCRAVIDÃO, VIVA O CEARÁ!

O historiador Carlos Pontes, do Memorial Deputado Pontes Neto da Assembleia Legislativa


do Ceará destaca que em 1881, Francisco José do Nascimento, também conhecido como Dragão
do Mar ou Chico da Matilde, teve papel fundamental na luta pela libertação dos escravizados,
quando convenceu colegas jangadeiros a se recusarem a transportar para os navios negreiros os
escravos que seriam vendidos para o sul do país.

"Ele fechou o Porto de Fortaleza, impedindo o embarque de escravizados para outras


províncias, nascendo um movimento que serviria como um forte incentivo para que no dia 1º de
janeiro de 1883, na Vila do Acarape, atual município de Redenção, um ato realizado em frente à
igreja Matriz, marcado pela entrega das cartas de alforria para 116 escravizados daquela região",
avisou.

O ato contou com a participação de alguns abolicionistas, dentre eles, José do Patrocínio, que
também era jornalista e escritor, além de participar ativamente dos movimentos para libertação dos
escravos. Quando os escravizados foram libertados, o baiano Manuel Sátiro de Oliveira Dias
presidia a província.

Repercussão
O historiador avalia que a ação repercutiu em boa parte do país, o que colaborou para o
fortalecimento das lutas de outros abolicionistas do Ceará, pertencentes à elite econômica e
intelectual do estado, contribuindo dessa forma para o fim da escravidão no Ceará. Dragão do Mar
faleceu em Fortaleza, no dia 5 de março de 1914. Sua luta pelo fim da escravidão lhe rendeu várias
homenagens, e uma delas aconteceu no dia 28 de abril de 1999, quando o Governo do Estado do
Ceará deu seu nome ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na gestão do então governador
Tasso Jereissati (PSDB).

Centro Dragão do Mar é denominado em referência a Francisco José do Nascimento, o Chico da


Matilde, de grande atuação em defesa da libertação dos escravizados - Divulgação/Governo do
Estado

Apesar da libertação dos escravizados no Ceará ser comemorada no dia 25 de março, alguns
historiadores consideram que o início da abolição ocorreu no dia 1º de janeiro de 1883, um ano
antes, na Vila do Acarape, atual município de Redenção, cidade que fica aproximadamente 55 km
de Fortaleza.

"Acarape, na época, pertencia ao município de Redenção, e se emancipou posteriormente. Os


escravizados libertos passaram a procurar formas de se reintegrar à sociedade. Muitos fugiram para
o quilombo na Serra do Evaristo, em Baturité. Com medo de serem perseguidos, lá eles
acreditavam estar seguros da fragilidade da alforria. Outros partiram para Fortaleza, de carta na
mão, e viajaram em busca das suas famílias", diz Carlos Pontes.

Havia também a parcela de libertos que não tinham família e não queriam se refugiar nos
quilombos. Parte dos que já estavam acostumados com a rotina escravista entrou em acordo com
os senhores e passou a prestar serviço remunerado.

Em Redenção, museus e prédios históricos reconstituem a abolição

Redenção, que também é conhecida como Rosal da Liberdade, é considerada representativa


da abolição da escravatura no Brasil. O município mantém símbolos da libertação como museus e
prédios históricos que contam a história da abolição. No Museu Municipal é possível encontrar
peças e documentos que contam parte da história da escravidão e abolição ocorrida em Redenção
e no Ceará.
A cidade também possui o Museu Senzala Negro Liberto, localizado no Sítio Livramento. Criado em
2003, o museu é composto por casa-grande, senzala, canavial e engenho, preservando todo o
conjunto arquitetônico original. No local, é possível visitar o porão da antiga fazenda onde está
preservado o cativeiro dos escravos que viviam ali.

Monumento Negra Nua, na entrada do município de Redenção - Divulgação/Diário do Nordeste

As referências ao tema, no Ceará, têm início com o próprio Palácio da Abolição, sede do Governo
do Estado. Inaugurado em julho de 1970, o Palácio sediou a administração estadual até 1986. Uma
história retomada em março de 2011, com a reinauguração do Palácio como sede da administração
estadual.

"Não à toa que o Ceará é conhecido como Terra da Luz, um estado revolto, rebelde que sempre
esteve à frente das principais lutas que marcaram as mudanças da vida política do nosso país e
prova isso mais uma vez quando, em 25 de março de 1884, determina por meio de sua Carta
Magna a Libertação dos escravos, nosso Estado foi a primeira província brasileira a libertar os
escravos. O Ceará se antecipou em quatro anos à abolição da escravatura em todo o Brasil, que
aconteceu somente em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea", acentua o históriador.

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