Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Era duplo, pois o nosso sufoco. E foi aí que um outro aluno noturno do Júlio de
Castilhos, e funcionário da Secretaria da Agricultura, “prendeu o grito” em setembro
de 1947 e mostrou novamente a Porto Alegre a bandeira rio-grandense, desaparecida
já havia dez anos. Paixão Côrtes não foi preso porque isto não se constituía mais em
ato subversivo: no mês anterior, com a promulgação da Constituição Estadual,
restabelecera-se oficialmente o velho pavilhão tricolor. Nessa mesma semana Paixão
Côrtes instituiu, com meia dúzia de gatos-pingados, a Chama Crioula, ponto de
partida para as comemorações populares da Semana Farroupilha. (LESSA, 1998).
[...] nós procurávamos divulgar, o objetivo desde os estatutos era divulgar as nossas
tradições nos países vizinhos e nos estados irmãos nós tínhamos um sentido de
expansão através de outros estados. E o primeiro CTG, a primeira resposta, veio de
Taquara da região de colônia alemã, que nos perturbou todos nossos objetivos. Nós
achávamos que viria eventualmente da campanha e veio da região de colônia alemã
(BARBOSA LESSA apud OLIVEN, 1992: 79).
Em 1934, durante as comemorações dos 110 anos de imigração alemã no Rio Grande
do Sul, o governador Flores da Cunha decretou que 25 de julho passaria a ser o “Dia do
Colono”, sendo feriado oficial no RS.
Essa data se tornou tão forte no Rio Grande do Sul, que durante a construção da Carta
de Princípios do MTG, aprovada durante VIII Congresso Tradicionalista Gaúcho, criou-se o
objetivo tradicionalista XXIV com a seguinte redação: “Lutar para que seja instituído,
oficialmente, o Dia do Gaúcho, em paridade de condições com o Dia do Colono e outros
‘Dias’ respeitados publicamente”. Com o tempo, o “Dia do Colono” foi perdendo sua força e
o “20 de setembro” acabou se consolidando no seio da sociedade gaúcha, sendo este um dos
únicos objetivos já alcançados da Carta de Princípios do MTG desde sua aprovação.
O Kerb Tradicionalista
Conforme KLAIN (1982) apud CAMPOS et al. (2004), o Kerb tem ligação com a
religiosidade dos imigrantes que aportaram no Rio Grande do Sul. A origem desta festividade
remete ao veleiro “Cacilda” que quase naufragou quando se dirigia ao Brasil.
Aflitos, os colonos prometeram fazer uma festa ao santo do dia caso chegassem ao seu
destino. Quando chegaram ao destino, em 29 de setembro de 1829, cumpriram sua promessa,
realizando uma festa de três dias a São Miguel1 (padroeiro da colônia), assumindo a obrigação
de construírem um templo.
E aí se deve a confusão da origem do Kerb. Alguns pesquisadores simplesmente
encurtam a história e simplificam a conceituação do Kerb, caracterizando-o apenas como uma
“festa de igreja” ou “festa de inauguração da igreja”.
O Kerb não pode ser apenas caracterizado como uma festividade alemã, mas sim uma
festividade genuinamente rio-grandense, pois nasceu neste solo através do cumprimento de
uma promessa.
1 É comum ouvirmos a expressão “Kerb de São Miguel”, principalmente no município de Dois Irmãos que
conserva esta tradição.
A tese de que o Kerb é uma tradição genuinamente gaúcha da colônia alemã foi
apresentada pelo Dr. Friedrich J. P. Tempel e defendida pelos integrantes do CTG “O Fogão
Gaúcho”, Eldo Ivo Klain e Índio Brasileiro Cesar, durante o VIII Congresso Tradicionalista
Gaúcho, onde deixam claro que o Kerb é uma comemoração tipicamente gaúcha e por isso
deveria ser acolhida nos CTGs, inclusive, no ano de apresentação da referida tese (1961),
Antonio Carneiro de Souza, do CTG “O Fogão Gaúcho”, fez uma enquete com outros países e
Estados brasileiros com colonização alemã e só aqui no Rio Grande do Sul havia este tipo de
festividade.
Desde a aprovação da tese no VIII Congresso Tradicionalista Gaúcho, realiza-se
anualmente no CTG “O Fogão Gaúcho” o “Kerb Tradicionalista”.
Durante a realização do Kerb há comida típica, cerveja e música de bandinha durante
três dias. Além de coroação do Rei do Kerb (kerbkonig), o qual ganha faixa ou distintivo.
Figura 1 - Reis do Kerb de 1966 a 1977 do CTG “O Fogão Gaúcho”. Da esquerda para a direita em cima:
Ivo Rubem Ostermann, Rauf Laube, Armindo Lauck, Anildo Dreger, Pedro Blauth, Hédio Muller e
Mario José Bangel. Da esquerda para a direita em baixo: José Marmor Marques, Mario Machado de
Oliveira, Iracildo Birck, Rubem Steffen e Antônio Marmor Marques, foto do acervo do CTG “O Fogão
Gaúcho”.
O Primeiro Kerb promovido pela entidade taquarense ocorreu nos dias 21, 22 e 24 de
julho de 1962. A partir de 1965 o Kerb passou a ser realizado juntamente com a Festa do
Colono e ter um Rei, como acontecia nos primórdios, tendo como 1º Rei de Kerb do CTG “O
Fogão Gaúcho”, Ivo Rubem Ostermann. A relação de reis do Kerb da agremiação taquarense
pode ser visualizada no Quadro 1.
RELAÇÃO DOS REIS DO KERB DO CTG “O FOGÃO GAÚCHO”
EDIÇÃO ANO REI DO KERB
1962
NOTA DE Não houve escolha do Rei do Kerb
1963
RODAPÉ2 nestas primeiras edições
1964
1º KERBFEST 1965
Ivo Rubem Ostermann
2º KERBFEST 1966
3º KERBFEST 1967 Siegfried Rauf Laube
4º KERBFEST 1968 Armindo Lauck
5º KERBFEST 1969 Balduíno Anildo Dreger
6º KERBFEST 1970 Pedro Blauth
7º KERBFEST 1971 Hédio Muller
8º KERBFEST 1972 Mário José Bangel
9º KERBFEST 1973 José Marmor Marques
10º KERBFEST 1974 Mário Machado de Oliveira
12º KERBFEST 1975 Iracildo Birck
13º KERBFEST 1976 Rubem Steffen
14º KERBFEST 1977 Antônio Marmor Marques
15º KERBFEST 1978 Odécio Sprandel
16º KERBFEST 1979 Nadir Fischer
17º KERBFEST 1980 Carlos Alberto Marmitt
18º KERBFEST 1981 José Eroni de Borba
19º KERBFEST 1982 Ivo Ew
20º KERBFEST 1983 Ivo Rainoldo Bauer
21º KERBFEST 1984 Ardy Muller
22º KERBFEST 1985 Claudionor Pacheco
23º KERBFEST 1986 Valdir Kohlrausch
24º KERBFEST 1987 Valdir Jung
NÃO FOI REALIZADO BAILE DE KERB
- 1988
40 ANOS DO CTG “O FOGÃO GAÚCHO”
25º KERBFEST 1989 Celso Gerhar
26º KERBFEST 1990 Osmar Pacheco de Farias
27º KERBFEST 1991 Vitor Jung
28º KERBFEST 1992 Mário Machado de Oliveira
29º KERBFEST 1993 Alenir Marques Jardim
30º KERBFEST 1994 Celio Bauer
31º KERBFEST 1995 Luiz Lima
32º KERBFEST 1996 Luiz Henrique Podlasinski
33º KERBFEST 1997 Salvador Braga dos Santos
34º KERBFEST 1998 Flávio Brussius
35º KERBFEST 1999 Genilton Nivaldo Altmeyer
36º KERBFEST 2000 Arnildo Kerper
37º KERBFEST 2001 Manoel de Deus
38º KERBFEST 2002 Marcelo Foscarini
39º KERBFEST 2003 Valmor Antônio Faoro
40º KERBFEST 2004 Mauro Santos
41º KERBFEST 2005 Luiz dos Reis
NÃO SE SABE QUEM FOI O REI DO KERB
42º KERBFEST 2006
ATA EXTRAVIADA
- 2007 NÃO FOI REALIZADO BAILE DE KERB
NÃO FOI REALIZADO BAILE DE KERB
- 2008
60 ANOS DO CTG “O FOGÃO GAÚCHO”
43º KERBFEST 2009/2010 Atalício Petzinger
44º KERBFEST 2010/2011 Sebastião Araújo
45º KERBFEST 2011/2012 Cassiano Dillenburg
2
As edições do Kerb passaram a ser numeradas em 1965 quando o evento passou a ser realizado junto com a
Festa do Colono e escolher Rei do Kerb.
46º KERBFEST 2012/2013 Sebastião Araújo
FOI REALIZADO BAILE DE KERB
47º KERBFEST 2013/2014
NÃO HOUVE CANDIDATO PARA REI DO KERB
48º KERBFEST 2014/2015 Elói Dillenburg
49º KERBFEST 2015/2016 Paulo Marques de Oliveira
50º KERBFEST 2016/2017 Júlio Cesar Welter
51º KERBFEST 2017/2018 Atalício Petzinger
52º KERBFEST 2018/2019 Júlio Cesar Welter
53º KERBFEST 2019/2020 Valmir Rotmann
Quadro 1 – Relação dos Reis do Kerb do CTG “O Fogão Gaúcho”, elaborado pelo autor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E foi assim que, em muitos lugares, os CTGs substituíram, como ponto de encontro
e convivência, as igrejas, as canchas de bocha, os antigos clubes, as associações de
canto, etc. (OLIVEN; 1998, p. 86).
REFERÊNCIAS
Atas do CTG “O Fogão Gaúcho”.
AGUIAR, L. M.; AGUIAR, N. “O Fogão Gaúcho”. In: BARROSO, Vera Lucia Maciel; SOBRINHO, Paulo
Gilberto Mossmann. Raízes de Taquara vol. Il. Porto Alegre: EST, 2008. p. 874 – 888.
CAMPOS, Sonia Siqueira et al. Rio Grande do Sul: aspectos do folclore. Aspectos do Folclore. 5. ed. Porto
Alegre: Martins Livreiro, 2004. 178 p.
CIRNE, Paulo Roberto de Fraga. O começo do tradicionalismo gaúcho. In: CARELI, Sandra da Silva;
KNIERIM, Luiz Claudio. Releituras da História do Rio Grande do Sul. Fundação Instituto Gaúcho de
Tradição e Folclore. Porto Alegre, CORAG, 2011. P. 265 – 282.
DACANAL, José Hildebrando. Origem e Função dos CTGs. In: GONZAGA, Sergius; FISCHER, Luís Augusto
(coord). Nós, os gaúchos. 4ª. Ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
GERTZ, Rene E. Eles, os alemães. In: GONZAGA, Sergius; FISCHER, Luís Augusto (coord). Nós, os gaúchos.
4ª. Ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
_______. O Estado Novo no Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2005.
FAGUNDES, Antonio Augusto. Alemães no RS, hino de guerra, canção de paz. In: GERTZ, René E.;
FISCHER, Luís Augusto (coord). Nós, os teuto-gaúchos. 2ª. Ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial do Estado, 2001.
FERREIRA, Cyro Dutra. 35 CTG: o pioneiro do Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG. Porto Alegre:
Martins Livreiro, 1987.
HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.
LABERTY, Salvador Fernando. ABC do Tradicionalismo Gaúcho. 8. Ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Fundação
Cultural Gaúcha; Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG; Martins Livreiro, 2014. 148 p.
LESSA, Barbosa. Porteira Aberta. In: GONZAGA, Sergius; FISCHER, Luís Augusto (coord). Nós, os gaúchos.
4ª. Ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
MERGULHÃO, Cláudia Bezerra. A reinvenção da identidade gaúcha: o caso Taquara. In: XI Encontro Regional
de História - Democracia e Conflito, 2004, Rio de Janeiro. Democracia e Conflito - Livro de Resumos. Rio de
Janeiro: ANPUH - RJ / UERJ, 2004. v. XI. p. 163-164.
OLIVEN, Ruben George. A parte e o todo: a diversidade no Brasil – nação. Petrópolis: Vozes, 1992.
_______. O renascimento do gauchismo. In: GONZAGA, Sergius; FISCHER, Luís Augusto (coord). Nós, os
gaúchos. 4ª. Ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998.
REINHEIMER, Dalva; NEUMAN, Rosana Marcia. Patrimônio histórico nas comunidades teuto-brasileiras:
história memória e preservação. São Leopoldo: Oikos, 2014.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
SAVARIS, Manoelito Carlos. Rio Grande do Sul – História e Identidade. Porto Alegre: Fundação Cultural
Gaúcha – MTG, 2008.
TEMPEL, Friedrich J. P. As Sociedades de Canto de Atiradores e de Ginástica da região Colonial Alemã. In:
CONGRESSO TRADICIONALISTA GAÚCHO, 8., 1961, Taquara. 50 anos Carta de Princípios e 8º Congresso
Tradicionalista. Taquara: Danna Produções Ltda, 2011. p. 55 - 66.
_______. Integração política e social do Imigrante Alemão do Rio Grande do Sul na comunidade brasileira. In:
CONGRESSO TRADICIONALISTA GAÚCHO, 8., 1961, Taquara. 50 anos Carta de Princípios e 8º Congresso
Tradicionalista. Taquara: Danna Produções Ltda, 2011. p. 154 - 167.
_______. Kerb, uma Tradição da Colônia Alemã no Rio Grande do Sul. In: CONGRESSO
TRADICIONALISTA GAÚCHO, 8., 1961, Taquara. 50 anos Carta de Princípios e 8º Congresso Tradicionalista.
Taquara: Danna Produções Ltda, 2011. p. 144 - 150.
VARGAS, Pedro Orsi. O CTG “O Fogão Gaúcho” e as diversas feições da identidade cultural sul-rio-grandense
(1948-1998). In: REINHEIMER, Dalva; Caminhando Pela Cidade: Apropriações históricas de Taquara em
seus 125 anos. Porto Alegre: FACCAT, 2011. p. 190 – 202.