Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
historiografia sergipana
Sergipe d’El Rey foi uma capitania e, posteriormente, província, nitidamente agrária.
Diferentemente de Salvador, Olinda e Recife, sua capital São Cristóvão não tinha uma
efervescência de pessoas a circular nas ruas e a oferecer serviços. Seus portos não tinham
autonomia para o escoamento da produção – que era realizado nos portos da Bahia – e não
ofereciam segurança na atracação das embarcações. No final do século XVIII, tardiamente,
portanto, passou a produzir açúcar em grande quantidade, necessitando, por isso, de maior
contingente de mão-de-obra escrava. Por não dispor de autonomia para a importação de mão-
de-obra diretamente da África, os escravos chegaram, sobretudo, de Salvador, com uma
menor quantidade de nativos africanos, ocorrendo à preponderância de crioulos e mestiços
(MOTT, 2008, p.98).
1
Museóloga pela UFRB, mestre em História pela UFS e professora efetiva da Graduação em Museologia UFS.
Diretora do Museu Galdino Bicho. Membro da SEO – Sociedade de Estudo dos Oitocentos. Contato:
suracarmo@yahoo.com.br.
diferentes nas regiões açucareiras do Nordeste do Brasil. Particularidades, como etnias
africanas que foram escravizadas na região, a origem dos senhores, a extensão das
propriedades agrícolas e situação geográfica, dentre outros fatores, reforçam a ideia de
cotidiano escravo dispare de uma região para outra. A busca por evidenciar o cotidiano
escravo em Sergipe desnuda as diferenças na realização das práticas sociais dos escravos
comparativamente a outras regiões.
Luiz Mott possui duas obras consideradas como importantes referencias para a
historiografia sergipana da escravidão Sergipe Del Rey: população, economia e sociedade
(1986) e Sergipe Colonial e Imperial: religião, família, escravidão e sociedade (2008).
Composto por artigos sobre diversos assuntos sobre Sergipe além da escravidão, entre os
séculos XVI e XIX, o autor, a partir de um vastíssimo levantamento documental, apesenta
informações sobre demografia, irmandades religiosas, festas, sublevação escrava, anúncios
em jornais de cativos fugidos em Sergipe, vestuário dos escravos, dentre outros assuntos. O
diferencial do autor está em ser o pioneiro em diversas pesquisas sobre a escravidão em
Sergipe e o aparato documental pesquisado e referenciado. Seguir as pistas de Mott é uma
importante ação para pesquisas a respeito do cotidiano escravo em Sergipe.
Uma biografia faz parte do rol de obras que podem contribuir para pesquisas sobre
cotidiano escravo, Leandro Ribeiro de Siqueira Maciel (2009) do historiador Ibarê Dantas.
Apesar dos poucos indícios do menino de engenho Leandro Maciel é possível perceber traços
do cotidiano de um engenho sergipano. Dantas apresenta pequenos indícios a respeito da
escravidão como a quantidade de escravos que possuía o bisavô do biografado, sublevação de
escravos no Natal e educação de escravos em engenhos do senador Diniz. Não é uma obra de
destaque para pesquisadores da historiografia da escravidão, mas fornece pistas para
pesquisas, sobretudo, do cotidiano escravo e dos engenhos da família de Leandro Maciel.
Uma obra também indicada como referencial para pesquisas sobre cotidiano escravo
em Sergipe oitocentista é o livro A diáspora negra em questão: identidades e diversidades
étnico- raciais, publicada em 2012 e organizada por Paulo Neves e Petrônio Domingues. A
obra é dividida em duas partes, a primeira, tratando temáticas relacionadas à escravidão; e a
segunda, relacionadas ao pós-abolição. Reúne textos de pesquisas atuais que estão vinculadas
à nova maneira de pensar a história dos afrodescendentes sem deixar de lado os trabalhos já
existentes. Sobre escravidão é possível visualizar os artigos de Joceneide Cunha sobre cultura
e cotidiano; Frank Marcon, sobre práticas de sociabilidade e mobilidade de africanos em
Sergipe; e por último, Lourival Santos e Sharise do Amaral, que tratam do movimento
quilombola em Sergipe.
Considerações finais
Ao analisar as obras que tratam de escravidão em Sergipe nos últimos vinte anos é
possível elencar os autores de maiores destaques no campo da escravidão. Maria Nely dos
Santos é um referencial para quem pesquisa o movimento abolicionista em Sergipe, contudo,
a questão ainda carece de outras pesquisas. Josué Modesto dos Passos Subrinho, no âmbito da
história econômica, aponta um arsenal de fontes a respeito da transição do trabalho escravo
para o trabalho livre, além da publicação de Os classificados da escravidão (2008), que
apresenta a lista dos escravizados de 1872. Entretanto, as maiores contribuições para a
historiografia sergipana da escravidão advém de Sharise Amaral e Joceneide Santos.
Referencias:
______. Uma unidade açucareira em Sergipe – o engenho Pedras. Separata dos Anais do VIII
Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História (Aracaju – setembro de 1975).
São Paulo, 1976.
______. A lei, as cartas e o silêncio senhorial: uma análise da alforria na Cotinguiba (1860-
1888). Revista do IHGSE, Aracaju, nº 37, 2008.
ANTONIO, Edna Maria Matos. A qualidade da terra e dos homens: colonização e posse de
terras na América Portuguesa (Sergipe – século XVI-XVII). SÆCULUM - REVISTA DE
HISTÓRIA [26]; João Pessoa, jan./jun. 2012, p.51-52. Disponível em:
http://periodicos.ufpb.br/index.php/srh/article/viewFile/15032/8539. Acesso: 25 mai. 2015.
CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Sol Quente, do Dira, a pecadora santa dos
umbandistas. Revista do IHGSE, Aracaju, v. 16, nº 21, p.240-246, 1955.
FIGUERÔA, Meirevandra Soares. “Matéria livre...espírito livre para pensar”: um estudo das
práticas abolicionistas em prol da instrução e educação de ingênuos na capital da província
sergipana (1881-1884). Dissertação (mestrado em educação) – Programa de Pós-Graduação
em Educação, Universidade federal de Sergipe, São Cristóvão, 2007.
MARCON, Frank N.; BEZERRA, Danile M.; SILVA, Willians S.; SILVA, Aline F.
Africanos livres e sociabilidades no vale do Cotinguiba. Revista do IHGSE, Aracaju, nº 38,
2009,
______. O escravo nos anúncios de jornal de Sergipe. Revista do IHGSE, Aracaju, n. 29,
p.133-148, 1987.
______. Sergipe Del Rey: população, economia e sociedade. Sergipe: Fundesc, 1986.
NASCIMENTO, Flávio Santos. Andando com fé: os atores e os atos das irmandades do
Rosário da vila sergipana do Lagarto em perspectivas (1850-1888). Dissertação (Mestrado em
História) – Programa de Pós-Graduação em História Social, Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2014.
NUNES, Maria Thetis. Sergipe Provincial II (1840/1889). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro;
Aracaju, SE: Banco do Estado de Sergipe, 2006.
______. Sergipe Provincial I (1820/1840). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Aracaju, SE:
Banco do Estado de Sergipe, 2000.
OLIVEIRA, Igor Fonseca de. “Os negros dos matos”: trajetórias quilombolas em Sergipe Del
Rey (1871-1888). Dissertação (mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em
História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2010.
OLIVEIRA, Vanessa Santos. A devoção a Nossa Senhora do Rosário em Sergipe Del Rey
(séc. XIX). Revista do IHGSE, Aracaju, n.44, p.313-338, 2014.
______. A Irmandade dos Homens Pretos do Rosário: etnicidade, devoção e caridade em São
Cristóvão-SE (século XIX). Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Núcleo de Pós-
Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão,
2008.
OLIVEIRA, Vanessa Santos e SOGBOSSI, Hippolity Brice. Devoção com diversão: a festa
de Nossa Senhora do Rosário de São Cristóvão (1860-1880). Revista do IHGSE, Aracaju, n.
37, 2008.
REIS, João Dantas Martins. As almas dos carnaíbas – um céu em Riachão – resquício das
intituladas “santidades”. Revista do IHGSE, Aracaju, v.11, n.16, p. 27-28, 1942.
RESENDE, José Mário dos Santos. Entre campos e veredas da Cotinguiba: o espaço agrário
em Laranjeiras (1850-1888). Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-
Graduação em Geografia. São Cristóvão: UFS, 2003.
SANTOS, Francisco José Alves dos. Calendário religioso da Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário de Estância. Revista do IHGSE, Aracaju, n. 31, p.69-80, 1992.
SANTOS, Joceneide Cunha. Senzalas de palha, choças e choupanas: fragmentos da história
da moradia escrava nas terras sergipanas (1801-1888). Revista do IHGSE, Aracaju, n. 46,
p.25-38, 2016.
______. Um olhar sobre homens e mulheres africanos: indícios da vivência africana nas terras
sergipanas (1790-1850). Revista do IHGSE, Aracaju, n. 40, p. 43-68, 2010.
______. Uma disputa à burguesa: homens e mulheres escravos lutam por sua liberdade na
justiça, Lagarto – Província de Sergipe, 1850-1888. Revista do IHGSE, n. 39, p.63-94, 2009.
______. Quilombos e quilombolas em Sergipe no século XIX. Revista do IHGSE, n. 31, p.31-
43, 1992.
SANTOS, Maria Nelly. A Sociedade Libertadora “Cabana do Pai Thomaz”, Francisco José
Alves, uma história de vida e outras histórias. Aracaju: J. Andrade, 1997.
______. As filhas da peste: fome, morte e orfandade – Sergipe 1855-1856. Revista do IHGSE,
Aracaju, nº 38, p.25-48, 2009.