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Justificativa
O lema da bandeira que representa a Rromá, foi instituído em 1971 e traz bem claramente o que
norteia nossa explanação abaixo. Uma das poucas expressões que de fato se adequam a maioria
dos braços familiares dessa etnia, desse povo.
Inicialmente a decisão de eliminar o então PLS 248/2015 e construir do zero e de forma mais
ampla, um novo estatuto, foi a opção da maioria dos que hoje se manifestam aqui. Cartas,
reuniões, encontros, falas e dados estatísticos, de quase nada serviram. Na versão inicial do
referido PLS 248/2015 continha o termo: “Situação análoga”, retirá-lo do texto foi um alívio. A
questão de gênero e o próprio nome do Estatuto “do Cigano” foram batalhas imensas, devido o
desconhecimento apresentado. Nossa primeira construção relacionada a esta discussão foi feita
naquela época pelo ofício 009/2015.
Contudo, apesar das cartas endereçadas e de toda a movimentação que fizemos entre 2015 até
2019, o Estatuto sofreu poucas alterações e continuou um documento raso, ao nosso parecer.
Em 2018 entregamos documento durante o Maio Cigano/PFDC - PGR e em 2019, realizamos
intensos diálogos a fim de construir um documento que subsidiasse o Estatuto. Mais tarde,
decidimos manter como material de estudo apenas, por não vermos mais, nenhuma condição
de avanço nas conversas sobre o tema.
Em 2020 entra o substitutivo - PL 2703/2020 e pudemos observar que muitos itens haviam sido
vistos e considerados, sendo que, se fosse de fato agregado, melhoraria muito em um possível
documento final.
Desta feita, pós pandemia e retorno do processo amplo e democrático, estamos novamente
imbuídos (as) de um esforço para a construção de um “Estatuto Agregador” e por isso
encaminhamos nossas considerações sobre o tema. São elas:
• Sendo um Povo formador, que possui seu berço na Índia e deles saem os diversos braços
étnicos, pensamos ser Povo Cigano e não Povos Ciganos. No Brasil a presença é de Rom,
Sinte e Calon (na bister – não esquecer);
• O Estatuto deve garantir os direitos em todas as fases geracionais; ex. hoje já estamos
inseridos na Lei da Primeira Infância – Marco Legal da Primeira Infância. LEI Nº 13.257,
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Na sua etimologia e de forma bem simples e direta, a palavra ESTATUTO (que vem do latim)
significa: Lei e regulamento. Traz na sua bagagem a proteção e está longe de ficar aquém dos
avanços, mas precisamos nos ater a alguns retrocessos (PL nº 1387/2022) que permanecem
distante desses avanços. Esse foi o mote das nossas discussões, agregar e garantir que nenhuma
supressão por desconhecimento ou ignorância seja feita, no que se trata de direitos já
adquiridos. Por esse motivo, somos a favor da união das duas propostas do Estatuto que se
encontram em tramitação na Câmara dos Deputados, a fim de garantir maior cobertura e
coerência da diversidade étnica existente no Brasil.
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O estatuto deve servir para que os direitos não sejam negados. Não significa ficar à margem
das obrigações constitucionais e sim, buscar o que cabe de forma ordenada, ou seja, a escuta
culturalmente adequada que respeite as especificidades étnicas do povo. Por isso o Estatuto
deve garantir:
• O respeito a transnacionalidade;
• O direito a história e a memória – sua justiça restaurativa e a valorização e
reconhecimento enquanto minoria étnica;
• A luta pelas cotas e as bolsas de estudo, a valorização da educação básica (fundamental
e secundária, em especial para as meninas) e assegurar a não violência e o
anticiganismo, expressados no racismo estrutural; (analfabetismo e violência não fazem
parte da cultura);
• O reconhecimento de todos os tratados internacionais de proteção de nossos direitos e
de nossa identidade étnica, das quais o Brasil é signatário;
• Se somos identificados e nos identificamos de várias formas, temos o direito a essa
identificação;
• O direito a retratação de injúrias, calúnias e difamação precisam ser efetivadas e o
estatuto precisa exercer esse papel. Identificar de forma clara esse direito, que garante
a condição de proteção. (tais agressões são muito comuns nos meios de comunicação,
redes e mídias sociais) – anticiganismo e rromafobiai;
• Inserir no texto do Estatuto, leis e tratados internacionais que reconhecem o Povo
Cigano ou Povo Cigano/Romani - os Rromá – os assim chamados ciganos: Rom, Sinte e
Calon são reconhecidos;
• "Solicitar o parecer técnico do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para
os Direitos Humanos (ACNUDH) sobre o estatuto, a fim de ajustá-lo às normas
internacionais de direitos humanos e às recomendações relativas ao Povo Rromà" –
solicitar que esse parecer técnico também leve em consideração, juntar Estatuto e do
substitutivo apensado a ele;
• Solicitar ao Grupo Temático Comunidades Tradicionais da DPU (GTCT) que possa
produzir igualmente um parecer técnico sobre a questão e com tal objetividade, solicitar
que o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, bem como o Ministério de Igualdade
Racial, participe ativamente dessa ação;
• Incluir as palavras Anticiganismo e Rromafobia1, como formas e mecanismos que
permitem a prática do racismo em todas as suas formas;
• Inserir que serão respeitadas todas as formas e nomenclaturas de autoidentificação dos
assim chamados ciganos – sem prejuízo dessas autoidentificações;
• A manutenção e inclusão dos Sinti como parte do Povo “assim chamados ciganos”;
• O respeito as datas celebrativas e marcos nacionais e internacionais de luta e memória:
Dia Internacional da Rromá – 8 de abril, Dia 24 de maio – Dia nacional do Cigano, Dia 16
de maio – Dia Internacional da Resistencia Romani; Dia 02 de agosto – Memória do
Holocausto Romani (Samudaripen); Dia 05 de novembro – Dia Internacional da Língua
Romani/Romanês, reconhecido pela UNESCO.
• O direito a moradia condigna e a inviolabilidade do lar (tendas, barracas ou casas).
1
A Aliança contra o Anti-Ciganismo define o anti-ciganismo da seguinte forma: "O anticiganismo é
o racismo específico contra os Roma, os sinti, os viajantes e outras pessoas estigmatizadas como
"ciganos" no imaginário popular". (http://antigypsyism.eu/). Essa é a definição também utilizada pela
ONU.
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Se temos uma política que nos beneficia, se estamos nomeados ou reconhecidos em alguma lei
de proteção, ela deve constar. Nesse ponto, o substitutivo PL 2703/2020 traz e nomeia pontos
bem mais completos e que devem constar no documento final. Inclusive na sua forma técnica
de apresentação, colocando e citando as áreas específicas.
Abaixo uma pesquisa AMSK/Brasil e outra pelo próprio site da Câmara dos Deputados sobre
audiência pública da casa em 14/08/2023.
Em uma pequena pesquisa, feita por uma rede social e finalizada em 05 de junho de 2023:
Pergunta: Você já ouviu falar e já leu sobre o Estatuto dos Povos Ciganos que está sob
urgência para votação na Câmara dos Deputados? Você já foi consultado?
Opção 1: Sim. Já fui consultado. 3%
Opção 2: Não, não fui consultado. 39%
Opção 3: Nunca ouvi falar. 57%
Resultados finais dos 94 votos.
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Notas finais:
“Precisamos ouvir a todos e todas e não deixar ninguém para trás.” Ao que pesem as
diferenças, estereótipos, desinformação e vaidades, esse pretende ser um Estatuto que servirá
a UM POVO, étnico e plural.
Não se constrói política pública sem respeito a identidade cultural, social, religiosa e política
de um povo. Respeitar sua forma de organização variada e suas múltiplas identidades se traduz
no fomento inicial de conhecer sua história e sua memória. É garantir o direito à livre
identificação. Sendo assim, não podemos aceitar números mágicos e achismos.
Não se constrói nada sem saber para que servirá, como servirá e a quem será dirigido,
inclusive e o mais importante, para quantas pessoas. O motivo é simples, atrás de cada número
há uma pessoa, que tem o direito de dizer que existe ou que prefere se manter sem se identificar.
O mais importante é dar a chance e a segurança de um censo estabelecido com as reservas de
segurança e integridade física, que só se alcançará através de mecanismos legais já existentes e
não utilizados.
Sendo um Estatuto o direito escrito desse povo, por que negar ou não mencionar os frutos
de tantas lutas e conquistas já celebradas? Jamais podemos nos esquecer que por trás de um
número sempre existe uma pessoa e que a falta de um censo também constitui grave violação e
que, portanto, precisamos construir o entendimento de que ele deve respeitar o direito da
autoidentificação. Nota: Não se trata de obrigação em se identificar, mas, de ter o direito de fazê-
lo, caso queira.
Portanto, trazer a ação de implementação jurídica, defesa social e identidade étnica é antes
de tudo, priorizar oportunidades que não se estabelecem em favores, mas sim, em direitos. O
direito de ser ouvido, o direito de ter sua vida respeitada, o direito a não violência, a educação,
ao trabalho e a todo um mundo de oportunidades que são culturalmente diferenciadas. O direito
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Sendo assim, assinamos, pelos motivos apresentados acima, os que discordam do atual
modelo PL 1387/2022 e os que não foram consultados ou ouvidos em várias regiões do país –
sendo representativos os Rom, Sinte e Calon, respeitando comunidades e indivíduos.
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