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Introdução à

Sociologia

Aula 3

Professora Raquel Emerique


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Ciências Sociais
Curso de Ciências Sociais

São Paulo: Boitempo, 2010. [Edição Revista]


❖ Nasceu em Barmen (Renânia). Seu pai era um rico industrial têxtil, pietista
(religião protestante) e sua mãe era uma mulher intelectualizada. Foi o
primogênito de uma prole de oito filhos do casal “Friedrich e Elisabeth”.

❖ Projeto familiar: seu pai queria fazê-lo sucessor dos negócios da família.

❖ Após os estudos secundários, cuidou dos negócios da família entre 1839-41 em


Bremen.

❖ Foi para o serviço militar voluntário em 1841 em Berlim e ali frequentou cursos
universitários livres e participando do debate intelectual, situando-se na
“esquerda hegeliana” como republicano e democrata.
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❖ Intelectual engajado: em 1842 foi para Inglaterra. O tempo que esteve ali foi de
suma importância para sua formação intelectual (ênfase no estudo da economia
política) e ativismo político (tornou-se comunista e participou de mobilizações
operárias). Foi quando fez observações e análises sistemáticas dos processos de
industrialização e urbanização.

Quem foi ❖ Retornou a Alemanha em 1844, quando começou a redação do livro A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra (1845). A convivência familiar deteriorou,

Friedrich Engels
pois seu pai não compreendia sua falta de interesse pelos negócios de família e
ocorreu uma ruptura.

❖ Mencionou em carta para Marx o “fanatismo religioso” do pai que despertava

(1820-1895)? seu “fanatismo burguês”.


❖ Na França, de passagem, encontra-se pela segunda vez com Karl
Marx que conhecera em 1842 na Inglaterra. Iniciam uma colaboração

“Os companheiros” intelectual, cujo primeiro fruto é Sagrada família ou a crítica crítica
(1845).

❖ Em 1947, o II Congresso da Liga dos Comunistas atribui a Marx e

Marx & Engels ❖


Engels a tarefa de redigir o Manifesto do Partido Comunista (1848).

Antes, porém, entre 1845-46, escrevem A ideologia Alemã.

❖ Eclosão do movimento operário revolucionário na França em


fevereiro de 1848 e Engels fica entre Bélgica e França, atuando na
organização do movimento.

❖ 1850-1869 retoma suas atividades comerciais em Manchester


(Inglaterra) como coproprietário de uma empresa, tornando-se um
“escravo dos negócios”, segundo ele mesmo. Foi o que possibilitou
subsidiar Marx para que pudesse escrever. Dessa atividade, Engels
formou um pecúlio que garantiu seus últimos 25 anos de vida.

❖ 1870-1895: passou a viver em Londres, assumindo tarefas na


Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) ou Primeira
Internacional (1864) e foi reconhecido com uma liderança
revolucionária mundial.

❖ Karl Marx morreu em 1883. Engels substitui o colega no campo


político; cuidou do seu legado intelectual e produziu suas próprias
análises.

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Por que A situação da classe
trabalhadora na Inglaterra é
um livro para fazer parte do
regime de leituras dos
Cientistas Sociais?

É leitura Trata-se de um marco documental sobre a história do


obrigatória capitalismo e da moderna sociedade industrial – o autor
porque... operou com dados oficiais e produzidos por ele em trabalho
de campo.
Possibilita a compreensão do pensamento marxista – alguns
autores consideram que Engels antecipou formulações de Karl
Marx e que é um autor com brilho próprio (não mero
coautor).
O livro possui qualidade literária – faz parte de uma época em
que os intelectuais do campo artístico e acadêmico estão
descobrindo as ”massas” urbanas. Engels oferece uma
perspectiva singular.

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Entre os anos trinta e cinquenta do século XIX, o brutal
pauperismo das camadas trabalhadoras urbanas,
derivado diretamente da produção capitalista,
impactou a consciência social europeia e deu origem
a uma larga e copiosa documentação. Intelectuais dos
mais diversos matizes – reacionários e conservadores,
liberais e democratas, reformadores e revolucionários –
ocuparam-se do que então era designado por todos
como “questão social” (...) [A situação da classe
trabalhadora na Inglaterra - 1845] se inscreve no marco
de uma literatura de que não é ponto de partida nem o
signo terminal; trata-se, antes, de uma obra que está
encharcada do esprit du temps – o jovem Engels,
nesse sentido, tão somente insere-se no debate social
Contexto intelectual mais significativo daqueles anos.
(Apresentação de José Paulo Neto, p. 30)
da primeira metade do A temática do livro estava na ordem do dia, mas foi
século XIX e o livro tratada com originalidade por Engels.
❖ Alguns comentaristas apontam Engels como pioneiro no emprego do termo
Revolução Industrial. No livro, esse processo ganha centralidade oferecendo
a compreensão de como o capital passou a controlar a produção de
mercadorias. Até a publicação do livro, não havia outra obra que tivesse
apreendido com acuidade o fenômeno industrial.

Originalidade do ❖ A solução para a questão social não era tratada como questão de filantropia
burguesa, moralização da sociedade ou aplicação de soluções utópicas. Engels
localiza o problema na propriedade privada dos meios de produção
fundamentais. Para superar o quadro social, seria preciso superar o padrão

livro ❖
societário estabelecido pelo capitalismo.
A descrição do proletariado não é amorfa – uma “massa” passiva, sofredora e
indiferenciada. Engels irá apreender o dinamismo, a rebeldia e os protestos

A situação da
proletários, colocando o trabalhador urbano-industrial como sujeito
revolucionário, autor de sua própria liberdade.
❖ Oferece um painel de misérias dos diferentes segmentos de trabalhadores,
pois analisa as condições de vida e de trabalho dos empregados dos diversos

classe ❖
ramos industriais e mesmo dos trabalhadores agrícolas impactados pelas
relações capitalistas.
Oferece uma imagem psicossocial dos burgueses: suas determinações e

trabalhadora na
mecanismos pelos quais constroem suas autoimagens.
❖ No domínio das Ciências Sociais é impossível produzir uma obra científica sem
ter se desembaraças das ilusões e naturalizações da sociedade. Engels segue
na direção da desnaturalização da sociedade capitalista e burguesa inglesa.

Inglaterra ❖ O livro é um clássico pela abrangência com que a pesquisa empírica se


articula com a matriz teórica – entre o cuidado com a factualidade e
exigência de generalização. A obra é exemplar pela forma como o
enquadramento teórico orienta e seleciona a análise factual e no tratamento
dialético entre teoria e empiria, possibilitando que os fatos corrijam a teoria.

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