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31/03/2024, 14:34 Epidemia de branqueamento ameaça sobrevivência de recifes de corais

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Opinião

Nova epidemia de branqueamento ameaça


sobrevivência de recifes de corais
Janaina Bumbeer* Colaboração para Ecoa, de Curitiba
31/03/2024 04h00

As mudanças climáticas estão transformando a Terra. São


tempestades, enchentes, deslizamentos de encostas, ondas
de calor e queimadas que prejudicam vidas e arrasam
cidades. No entanto, para além dos desastres ambientais
evidentes, o aquecimento global também desencadeia outras
consequências igualmente devastadoras, algumas delas mais
conhecidas por cientistas e pesquisadores. Branqueamento é
causado pelo
aquecimento e
Os recifes de corais, por exemplo, são "vítimas discretas ou
acidificação do
silenciosas" desse fenômeno. Uma das principais ameaças é
oceano
o branqueamento dos corais, processo causado pelo Imagem:
aquecimento e acidificação do oceano. O tecido desses Divulgação/Instituto
organismos fica translúcido, revelando seu esqueleto e de Meio Ambiente de

causando a diminuição da capacidade reprodutiva, redução Alagoas

das taxas de crescimento e de calcificação, o que pode


provocar a morte dos corais.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, os recifes de


corais abrigam 25% da fauna marinha, incluindo cerca de 65% dos peixes, muitos
deles de espécies comerciais. Ou seja, esses ecossistemas funcionam como
condomínios subaquáticos, onde moram diversas espécies de peixes, tartarugas
e invertebrados, como caranguejos e moluscos, além de ser fonte de alimento e
abrigo para outras espécies que estão de passagem. Um levantamento realizado
pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) alerta que, se
algo não for feito de maneira urgente, 90% dos recifes de corais podem
desaparecer até 2050.
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Entretanto, além de vítimas, os recifes de corais também são aliados na luta contra
as mudanças climáticas. O recente estudo "Oceano sem Mistérios - Desvendando os
recifes de corais", realizado pela Fundação Grupo Boticário, identificou que os corais
geram receita de até R$ 167 bilhões ao Brasil em serviços de proteção costeira e
turismo.

Ao evitar os efeitos de ressacas e outros eventos climáticos extremos, os recifes


protegem a infraestrutura pública e privada da força das ondas, como ruas, calçadas,
moradias, comércios e outras construções, evitando também gastos com obras para
erguer barreiras artificiais cada vez mais necessárias em regiões costeiras.
Segmentos de lazer e recreação do Nordeste chegam a arrecadar R$ 7 bilhões por
ano no Brasil nos destinos que contam com recifes de corais.

Infelizmente, a situação desses ecossistemas está se tornando mais grave a cada


dia. Em fevereiro deste ano, a temperatura da superfície do oceano foi a mais alta já
registrada na história, com média de 21,06 ºC, de acordo com o observatório
climático europeu Copernicus. A temperatura dos mares em março também deve ficar
acima da média histórica e, com isso, o mundo está enfrentando, neste ano, a quarta
epidemia de branqueamento de corais, que deve atingir todo o Hemisfério Sul,
inclusive o Brasil.

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Diante deste cenário tão desafiador, a redução na emissão de gases de efeito estufa,
bem como a descarbonização, são urgentes para conter o branqueamento dos
corais. No entanto, será necessário atuar também em outras frentes simultâneas e
complementares. Soluções inovadoras baseadas na ciência trazem esperança e
podem ajudar a natureza a resistir às pressões.

Exemplo dessa contribuição é a Biofábrica de Corais, projeto de uma startup


pernambucana que desenvolve atividades de turismo regenerativo, utilizando
ferramentas biotecnológicas para a restauração dos recifes, através do cultivo de
corais. Outra iniciativa promissora, desenvolvida por pesquisadores da UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), é a criação de corais de proveta. A
técnica de fecundação in vitro, que acaba de ser desenvolvida com sucesso pela
primeira vez no Brasil, pode significar uma chance para repovoar áreas de recifes
devastadas.

Essas iniciativas significam uma esperança real para aumentar a resiliência dos
recifes de corais. A morte desses organismos pode não impactar diretamente na sua
rua, que pode estar a milhares de quilômetros do mar, mas certamente impacta a
vida de todos, seja na economia do país, no pescado que não chega mais ao prato
ou mesmo na produção de fármacos.

Portanto, para garantir um futuro sustentável para os corais e toda a vida marinha, é
essencial que haja mais engajamento coletivo, políticas públicas eficazes e
investimentos contínuos em ciência e inovação. A conservação desses ecossistemas
é fundamental para assegurar a riqueza e a beleza do oceano para as próximas
gerações.

*Janaina Bumbeer é bióloga, doutora em Ecologia e Conservação, e gerente de


Projetos da Fundação Grupo Boticário

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação
de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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