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A Terapia Cognitivo-Comportamental No Universo Do Autismo
A Terapia Cognitivo-Comportamental No Universo Do Autismo
Abstract: This article presents the views of cognitive-behavioral therapy in autistic patients. The
objective is to understand how development occurs in children with autism, using the process of
cognitive-behavioral therapy, to identify therapeutic actions with the application of specific
techniques directed to this disorder that have been utilized over the years. To point out changes and
definitions described by various theorists based on the studies of Kanner up to the present where,
many theorists link the treatment of autism to an effective intervention through the cognitive
behavioral approach. Bibliographic research was the instrument used for the production of this
article.
Este trabalho apresenta o olhar da TCC para os pacientes autistas, definido como um
transtorno comportamental, de acordo com descrições clínica, diagnósticos, etiologias, avaliações,
pressupostos teóricos da Terapia Cognitivo-Comportamental, bem como os aspectos terapêuticos e
tratamentos deste transtorno. Também será feito um breve apanhado histórico sobre o surgimento
das terapias denominadas, atualmente, de cognitivo-comportamental.
O objetivo é compreender a visão da Terapia Cognitivo-Comportamental em pacientes
autistas, por ser uma área de constantes discussões, e apontar técnicas terapêuticas utilizadas no
decorrer dos anos, voltado para o tratamento deste transtorno. Este artigo trata-se de uma pesquisa
bibliográfica descritiva.
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Graduanda em Psicologia pelo UNIVAG - Centro Universitário. E-mail: flavianegarcia27@hotmail.com
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Orientadora Professora Especialista do Curso de Psicologia do UNIVAG - Centro Universitário.
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O autismo é um distúrbio de desenvolvimento humano estudado pela ciência há mais de 60
anos, mas sobre o qual ainda permanecem, dentro da esfera da ciência, divergências e várias
questões por responder.
De acordo com Assumpção Jr (2007) e Leboyer (1995), foi a partir das definições de Leo
Kanner em 1943, que houve a primeira conceituação do autismo, como uma síndrome psicótica,
relacionada a fenômenos da linha esquizofrênica. Este descreveu sob o nome distúrbios autísticos
do contato afetivo, um quadro caracterizado por autismo extremo, comportamentos do tipo
obsessivo com tendência a mesmice, movimentos estereotipados e ecolalia, repetição involuntária
de palavras ou frases que ouviu caracterizada por alterações de linguagem, representadas pela
ausência de finalidade comunicativa.
Ainda, conforme os autores, em 1944, Hans Asperger, descreveu sob o nome
psicopatologia autística da infância, na qual as crianças são bastante semelhantes às descritas por
Kanner, porém sem nenhum retardo no desenvolvimento da linguagem. Atribui-se tanto a Kanner
quanto a Asperger o conceito do autismo.
Segundo Watson (2008), em 1995, o Dr. Simon Baron-Cohen, propôs uma nova teoria
sobre o autismo. Ele sugeriu que, muitas pessoas com autismo sofriam de cegueira mental, isto é, a
incapacidade de entender que as outras pessoas têm seus próprios pensamentos e emoções, com
dificuldade em entender o ponto de vista, as idéias ou sentimentos alheios. É essa incapacidade de
relacionar-se às diferenças na maneira de pensar dos outros, que resulta nas dificuldades sociais e
comunicativas dos autistas.
O transtorno autista era caracterizado por uma dificuldade no contato com as pessoas, uma
ligação especial aos objetos, linguagem sem função comunicativa, dificuldades no contato e na
comunicação interpessoal.
A descrição de Kanner em 1943 organizava-se em torno do transtorno, que é a
incapacidade das crianças em desenvolver e estabelecer relações interpessoais e em reagir de forma
normal às situações, desde o inicio da vida.
Esse transtorno é definido como um conjunto de sintomas visualizado, como uma doença
específica de origem orgânica, com implicações neurológicas e genéticas. É considerado um dos
Transtornos Globais do Desenvolvimento, definido pela presença de desenvolvimento atípico que
se manifesta antes de três anos, e pelo tipo característico de funcionamento anormal, em três áreas
do desenvolvimento: interação social, comunicação e comportamento. Trata-se de uma condição
crônica que inicia sempre na infância, e afeta com freqüência, mais meninos do que meninas, cerca
de quatro vezes mais comum em meninos.
Pode-se verificar na literatura, que alguns autores, em suas abordagens, preferem ver o
autismo hoje, vinculado à questão cognitiva, ao contrário da idéia difundida até meados dos anos
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70, que a doença tinha suas origens em problemas de relações afetivas entre mãe e filho, o que
levaria ao comprometimento do contato social.
Sendo assim, na atualidade é raro, autores, por mais diversas que sejam suas linhas
teóricas, os que não considerem o autismo dentro de uma abordagem cognitiva.
Entretanto, pelos conceitos, temos de certa forma, remeter ao autismo a partir de um
universo cognitivo-comportamental, para que possa ser explorado delicadamente e para que as
possíveis causas possam ser estabelecidas dentro das possibilidades atuais.
Deste modo, o autismo manifesta-se através de uma tríade de perturbações: social;
linguagem e comunicação; pensamento e comportamento. Atualmente é um tema de constantes
discussões, inclusive, com muitos filmes de sucessos. Mesmo com tantas informações, o autismo
ainda surpreende pela diversidade de características que pode apresentar, e pelo fato de, na maioria
das vezes, a criança autista ter uma aparência normal.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A intervenção no autista tem-se tornado possível, graças a sua identificação cada vez mais
cedo. A identificação tem sido feita com base em dificuldades específicas na orientação para
estímulos sociais, contato social, atenção, imitação motora e jogo simbólico. Para tal intervenção, é
importante o ambiente de ensino favorecedor e estratégias para a generalização dos ambientes
naturais; programas estruturados e rotina; abordagem funcional para comportamentos considerados
problemáticos e transição assistida para a pré-escola.
Além disso, Elias e Assumpção Jr.(2008) lançam mão de que, também procurou-se
assegurar o envolvimento dos pais, através do ensino de técnicas de terapia e grupos de pais; o
envolvimento de pares com desenvolvimento típico, como promotores de comportamento social e
modelos, assim como a terapia ocupacional.
Assim, o tratamento para autistas é centrado, num primeiro momento em uma intervenção
medicamentosa com uso de doses baixas de neurolépticos, vinculados a problemas
comportamentais que reduzem os sintomas de agitação, agressividade, irritabilidade e as repetições,
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e em dosagens mais altas podem reduzir a hiperatividade, retração e a instabilidade emocional, eles
reduzem a quantidade do neurotransmissor dopamina no cérebro.
Em 2006, o Alimentar e Drug Administration (FDA), aprovou um novo medicamento
antipsicótico, a risperidona, para irritabilidade em crianças e adolescentes autistas entre 5 e 16 anos.
É o primeiro medicamento aprovado especificamente para comportamentos relacionados ao
autismo, como agressão, hostilidade, autoflagelo e agitação, e tende a ter menos efeitos colaterais
que os medicamentos mais antigos.
O uso de psicofármacos não é tratamento exclusivo, junto a esse tratamento é de extrema
importância o tratamento com uma equipe multidisciplinar.
Dentre vários autores, Bereohff (1991) e Schwartzman (1994) acreditam que não há cura
para o autismo, mas com tratamento, os autistas podem levar uma vida melhor. Por meio de equipes
multidisciplinares, há condições para ajudar o desenvolvimento da criança autista a melhorar a
comunicação e as habilidades físicas e sociais.
Dessa maneira, o mais adequado para crianças autistas é um tratamento que inclui escolas
especializadas e apoio dos pais. As crianças, geralmente, desenvolvem-se melhor, em instituições
educacionais bem estruturadas, com um programa de inclusão para pessoas com necessidades
especiais, em que professores sejam treinados adequadamente e que tenham experiência em lidar
com o quadro clínico do autismo. Programas comportamentais podem reduzir a irritabilidade,
agressividade, medos e os rituais, assim como promover um desenvolvimento mais apropriado.
Sendo assim Silvares (2000, p.231) diz:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo procurou trazer informações a respeito do universo autista na terapia cognitivo-
comportamental e as bases nas quais se fundamenta a prática desta abordagem. Para tanto, foi
necessário usar os conceitos e as técnicas da TCC para intervenção do transtorno autista.
A priori, pôde-se compreender que a TCC é uma abordagem eclética, ao integrar conceitos
e técnicas de duas abordagens diferentes tanto no que se refere aos pressupostos teóricos quanto na
forma como se dá a prática psicoterápica.
A Terapia Cognitiva aborda os fatores cognitivos, como os principais fatores envolvidos na
etiologia dos transtornos. Já a abordagem comportamental, valoriza os fatores ambientais e a forma
como se dá a interação de um organismo com o meio. Apesar das divergências iniciais entre estas
abordagens, ocorreu o que foi conhecido como a revolução cognitiva na Psicologia, à quais muitos
pesquisadores e psicoterapeutas aderiram.
Pesquisas na área e a própria prática da TCC mostra que, apesar das diferenças, a
integração destas duas abordagens apresentam resultados satisfatórios e demonstra viabilidade.
O olhar da TCC coloca o autismo em uma condição que prossegue da infância até a idade
adulta. Contudo, todas as crianças com autismo continuarão a demonstrar progresso no seu
desenvolvimento, ao usar da teoria e técnicas da TCC a muito que pode ser feito para ajudá-las,
bem como a seus familiares.
É muito difícil para a maioria dos pais, receberem um diagnóstico de autismo. O impacto
emocional sobre a família é imensurável. É importante lembrar que todas as crianças com autismo,
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se estimuladas e tiverem um tratamento adequado, poderão ter uma vida com um pouco mais de
autonomia, porém com algumas limitações.
Considerar o mundo do ponto de vista do outro, parece ser muito difícil para a maioria dos
indivíduos com autismo. Se tentarmos imaginar a incapacidade de compreender como alguém se
sente, pensa ou de levar em conta seu ponto de vista, percebemos como o mundo deve parecer
confuso, assustador e como as interações sociais devem ser difíceis. Portanto, não é nenhuma
surpresa, que os autistas tenham um comportamento distinto de outras crianças.
Crianças com autismo parecem ter grande dificuldade em reunir informações para entender
a essência do que se passa ao seu redor, na sociedade ou do que se espera delas. Elas podem não
entender o significado geral quando estão diante dos detalhes, mas se preocupam com elas. Essa
dificuldade em entender a essência, aplica-se ao uso da linguagem pela criança, bem como a sua
compreensão de figuras, histórias, eventos e objetos.
O transtorno autista se traduz em manifestações comportamentais, com expressões atípicas
de controlar. Para uma melhor afetividade em seu tratamento, é importante a elaboração e execução
de técnicas estruturadas dadas a carência de repertórios comportamentais nas crianças, com este
transtorno.
O autismo infantil é um transtorno complexo, e exigem que as abordagens
multidisciplinares sejam efetivadas e que visem a priori, questões educacionais, sociais e médicas,
para tentar estabelecer um quadro clínico bem definido com prognósticos precisos e intervenções
terapêuticas eficazes.
São descritos também nesse artigo, algumas das estratégias que podem ser usadas para
ajudar no controle de comportamentos. O mais importante não é usar determinada estratégia, mas
sim, empregar uma abordagem flexível e ponderada para tratar os problemas que surgem.
Cada vez mais, abrem-se os horizontes para o atendimento às crianças autistas, e assim,
valorizam-se a potencialidade e não a incapacidade do ser humano. Com isso a sociedade como um
todo em especial os autistas, só podem beneficiar-se com os interesses de acadêmicos, professores e
pesquisadores nesta área.
REFERÊNCIAS
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4.ed. Washington, DC: APA, 2000.
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<http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-
82312003000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 14. Set. 2008.
ELIAS. A. V. ASSUMPÇÃO JR. F. B. Qualidade de vida e autismo. São Paulo, 2006. Disponível
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LEBOYER, M. Autismo infantil: fatos e modelos. 2. ed. São Paulo: Papirus, 1995.
SAÚDE, bem - estar, nutrição e notícias para avançar medicina integrativa. Disponível em:
<http://ihealthbulletin.com/blog/2006/10/12/fda-approves-the-first-drug-to-treat-irritability-
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SERRA, A. M. Fundamentos da terapia cognitiva. Ciência e vida psique. São Paulo: Editora
Escala, ano 1, n. 3, 2008. p.10-12.