Você está na página 1de 6

ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE SARGENTOS

KAROLINE FRANCO DE SOUZA RIBEIRO,SD PM 158.136-2, Nº CURSO 274


LAYLA GUIMARÃES GUARALDO, SD PM 160.504-7, Nº CURSO 275

PATRULHA DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA:


A IMPORTÂNCIA DA 1ª RESPOSTA PARA QUALIDADE DO PROTOCOLO
DE SERVIÇO DA POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

Belo Horizonte
2021
2

RESUMO

O presente trabalho propõe reflexão sobre o aperfeiçoamento que a Polícia


Militar de Minas Gerais busca para o portfólio Patrulha de Prevenção à
Violência Doméstica (PPVD) que completa, em 2021, 11 anos de implantação
no Estado. O presente ano também é marco para o 15º aniversário da Lei
Maria da Penha e para os seis anos da promulgação da Lei do Feminicídio no
Brasil. Tais recortes temporais dão embasamento à visão de que as
atualizações no atendimento à mulher devem ser constantes devido ao fato de
acompanharem as mudanças que velozmente abarcam toda a sociedade: se o
cenário se adapta e a mulher, antes protegida, passa a ser alvo de novas
formas de violência, o Estado, mais que depressa deve inovar na sua forma de
combater a agressão. Ao longo da história da PPVD, nota-se ser esta
ferramenta com potencial de melhoria na atenção aos casos de violência contra
a mulher, principalmente devido à interface com a rede de proteção para além
do serviço policial militar. A evolução histórica da legislação de enfrentamento à
violência contra a mulher, com foco na Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006),
traçando o desenvolvimento da proteção feminina a partir da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará/1994), da Organização dos Estados
Americanos (OEA), dentre outros mecanismos, mostram que a teoria respalda
o combate, porém, é preciso que haja busca constante na melhoria do
atendimento, com a capacitação do efetivo para dar efetividade ao serviço.

Palavras-chave: Violência Doméstica; Prevenção; Primeira Resposta;


Segunda Resposta; Qualificação; Lei Maria da Penha.
3

1 INTRODUÇÃO

O Serviço de Prevenção à Violência Doméstica (SPVD) foi


implementado como portfólio da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), em
2010, sendo exercido pela Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica
(PPVD) por meio do protocolo de segunda resposta que consiste nas visitas
para acompanhamento da vítima e do autor. Desde 2019, o SPVD é
considerado serviço essencial – ou seja, aquele que deve, obrigatoriamente,
ser fornecido pela unidade da PMMG – nas sedes de Batalhões e Companhias
Independentes, além dos municípios com população acima de 30 mil
habitantes. Mas o enfrentamento a violência doméstica inicia-se, na verdade,
com a primeira resposta, efetivada pelo atendimento emergencial das
radiopatrulhas, bem como pelo registro posterior de ocorrências realizado, por
exemplo, pelas Bases de Segurança Comunitária (BSC).
Assim sendo, é de fundamental importância para o sucesso do
atendimento em segunda resposta – exercida por uma dupla de policiais
capacitados para esse serviço especializado – que todos os integrantes da
PMMG estejam aptos a realizar a primeira resposta adequada: são essenciais
as informações colhidas pelos militares do serviço ordinário,pois são elas
capazes de garantir efetividade da abertura e do acompanhamento dos casos.
Para isso, em 2020, a Diretoria de Operações (DOp), da PMMG, realizou o
Treinamento Complementar de Ensino à Distância (EaD) de Prevenção ao
Feminicídio e à Violência Doméstica com vistas a nivelar o conhecimento de
toda a tropa, criando procedimento operacional padrão para o atendimento
desta especifidade de natureza criminal, com ênfase no correto preenchimento
do Registro de Eventos de Defesa Social (REDS). A completude deste
documento institucional é primordial para que as vítimas que realmente
precisem de acompanhamento sejam acessadas pelas PPVDs.
Por meio dessa iniciativa, a PMMG mostra a preocupação constante
com a capacitação de seus colaboradores, buscando assegurar padrões de
excelência no atendimento por parte dos policiais militares frente à violência
doméstica. Assim, o objetivo do presente trabalho é refletir sobre as normas da
instituição, com constante atualização no atendimento à vítima de violência
doméstica, bem como atentar para importância das ações de primeira resposta.
4

2 DESENVOLVIMENTO

Desde a Instrução Nº 3.03.15/15-CG, que regulava a atuação da


PPVD, revogada pela Instrução 3.03.15/2020-CG, versão mais atualizada e
revisada do portfólio, a PMMG busca trazer excelência ao atendimento da
vítima de violência doméstica. Dentre as diretrizes iniciais ao atendimento em
primeira resposta está a verificação do nível de risco e perigo para os
componentes da guarnição, a avaliação da necessidade de cobertura e o
levantamento do entorno da residência para identificar possíveis rotas de fuga
e materiais capazes de potencializar os riscos da ocorrência. Isso significa que
o sucesso da primeira resposta e, em consequência, da segunda, está
intimamente ligado à segurança dos militares envolvidos.
Passada a constatação do controle para a atuação, os policiais
militares de todo Estado são orientados a entenderem o fato de que são eles a
autoridade pública que efetivamente comparece onde a violência doméstica
acontece ou acaba de ocorrer, sendo de extrema relevância tudo o que é visto
e apurado por ele e seu relato é peça fundamental para a continuidade da
persecução criminal por parte tanto da Polícia Civil, quanto do Ministério
Público e do Poder Judiciário.
Assim sendo, quanto aos procedimentos operacionais, além de a
guarnição procurar o estabelecimento de relação de confiança com a vítima,
procurando levantar o máximo de informações do fato, cabe aos militares
descreverem toda a condição do local onde se deu a ocorrência e se a vítima
possui medida judicial que impõe o afastamento do autor. Uma inovação
trazida pela legislação brasileira (Lei nº 13.827, de 13 de maio de 2019 que
alterou a Lei n° 11.340/06) dá à autoridade policial militar a prerrogativa de
autorizar medidas protetivas de urgência, não exigindo prévia autorização
judicial caso haja existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade
física da mulher ou de seus dependentes, no caso de cidades que não sejam
sedes de Comarca. O documento de 2020 já instrui o militar corroborando a
afirmação que a PMMG está alinhada com as atualizações afetas ao
atendimento excelente à vítima de violência doméstica. Por fim, reforça-se a
necessidade do correto preenchimento do REDS com objetivo de garantir que
o protocolo de segunda resposta e demais ações não careçam de dados.
5

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei Maria da Penha qualifica o sofrimento da mulher como


violências Física, Patrimonial, Moral, Psicológica e Sexual e tipifica o crime de
descumprimento de medida protetiva. Já o Código Penal Brasileiro, desde
2015, define o crime de feminicídio como o homicídio pela condição de mulher.
Nota-se, assim, a evolução histórica da legislação de enfrentamento à violência
e o desenvolvimento da proteção feminina. O embasamento teórico existe,
porém os órgãos de proteção não podem deixar de efetivar suas ações frente à
vulnerabilidade feminina.
Por ser um dos órgãos componentes das redes de enfrentamento, a
PMMG deve estar atenta ao correto atendimento às vítimas a fim de que a
mulher tenha condições de sair do ciclo da violência. A PMMG segue o
cumprimento de metas da Gestão do Desempenho Operacional (GDO) e do
Programa Minas Segura. Nesse contexto, o PPVD tem como uma de suas
metas principais a quebra do ciclo da violência e, para atingir tal objetivo, a
Instrução pontua a qualificação do atendimento de primeira resposta, sendo
considerada sua imprescindível participação na quebra desse ciclo: mulheres
bem atendidas de pronto pela Polícia Militar podem ser, mais rapidamente,
retiradas do papel de vítimas contumazes no caso da violência doméstica.
6

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto Federal nº 1.973, de 01 de agosto de 1996. Promulga a


Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher, concluída em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994.Brasília, DF,
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/D19 73.htm.
Acesso em: 7 abr. 2021

BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, alterado pela Lei


Federal Nº 7209, de 11 de Julho de 1984, e modificações posteriores. Código
Penal Brasileiro. Rio de Janeiro, DF, 1940.

BRASIL. Lei Federal nº 13.827, de 13 de maio de 2019. Altera a Lei nº


11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para autorizar, nas
hipóteses que especifica, a aplicação de medida protetiva de urgência, pela
autoridade judicial ou policial, à mulher em situação de violência doméstica e
familiar, ou a seus dependentes, e para determinar o registro da medida
protetiva de urgência em banco de dados mantido pelo Conselho Nacional de
Justiça. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2019/lei/L13827.htm.
Acesso em: 7 abr. 2021

CARVALHO, Adriano Nepomuceno de. O Serviço de Prevenção à violência


Doméstica: avaliação de sua execução na área do 41º Batalhão de Polícia
Militar. 2011. Monografia (Especialização em Segurança Pública) – Fundação
João Pinheiro, Minas Gerais, 2011. Disponível em:
http://monografias.fjp.mg.gov.br. Acesso em: 7 abr. 2021.

MINAS GERAIS, Instrução nº 3.03.15/2020-CG: Regula a atuação Policial


Militar na prevenção e enfrentamento à violência doméstica e familiar
contra mulheres no Estado de Minas Gerais. 2. ed. rev. Belo Horizonte:
PMMG -Comando-Geral, 2020.Disponível em:
https://ementario.policiamilitar.mg.gov.br/principal. Acesso em: 7 abr. 2021

PRADO, Débora; SANEMATSU, Marisa (org.). Feminicídio:


#invisibilidademata. São Paulo: Instituto Patrícia Galvão, 2017. E-book.
Disponível em https://assets-institucional-
ipg.sfo2.cdn.digitaloceanspaces.com/2017/03/LivroFeminicidio_InvisibilidadeMa
ta.pdf. Acesso em 7 abr. 2021.

SOUZA, Mércia Cardoso; BARACHO, Luiz Fernando. A Lei Maria da Penha:


égide, evolução e jurisprudência no Brasil. Revista Eletrônica do Curso de
Direito PUC Minas, Serro, n. 11, jan./ago. 2015. Disponível em:
http://periodicos.pucminas.br/index.php/DireitoSerro/article/view/8695. Acesso
em 7 abr. 2021.

Você também pode gostar