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“No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1).

São com essas palavras que se


inicia a Sagrada Escritura. Na oração do Credo Niceno-Constantinopolitano, símbolo da
nossa fé católica, afirmamos: “Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da
terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
Deus, Ser absoluto e eterno, não precisava de nós, nem de nenhuma criatura.
Entretanto, em sua misericórdia infinita, quis criar. Simplesmente por amor, para
manifestar seu amor todo poderoso e sua glória a todos os seres por Ele criado.
Fazendo-os participar de sua verdade, sua bondade e sua beleza.
O Catecismo da Igreja Católica (n. 326) explica que na Sagrada Escritura, a
expressão “céu e terra”, significa tudo aquilo que existe, a criação inteira. A terra é o
mundo dos homens. O céu é o “lugar” próprio de Deus e das criaturas espirituais, os
anjos, que estão ao redor de Deus. Sim os anjos existem, fazem parte das coisas invisíveis
criadas por Deus.
Deus criou uma multidão de criaturas, seres visíveis e invisíveis, inteligentes ou
desprovidos de razão. Estas criaturas estão dispostas em uma hierarquia, que corresponde
à ordem do universo. Todo este universo é reflexo da perfeição adorável do Ser infinito,
que só se manifesta totalmente, na plenitude dos tempos, por seu Filho Unigênito, Jesus
Cristo, o Verbo eterno encarnado.
No topo desta hierarquia, Deus colocou a natureza angélica: puros espíritos,
inteligentes e capazes de amar, cheios da graça divina. Distribuídos e ordenados por Deus
em nove coros: Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Virtudes, Potestades,
Principados, Arcanjos e Anjos. Eles constituem o exército celeste, que receberam as
seguintes missões: perpétuos adoradores da Santíssima Trindade, executores dos divinos
desígnios e protetores do gênero humano.
No Catecismo da Igreja Católica aprendemos que a existência destes seres é uma
verdade de Fé (n. 328), um dogma da Igreja Católica, são seres espirituais, não corporais,
a presença deles na Sagrada Escritura é frequente e dá testemunho deste fato. Então,
afinal, quem são os anjos? São servidores e mensageiros de Deus, como criaturas
puramente espirituais, dotados de inteligência e vontade, criaturas imortais (n. 329).
Segundo Santo Agostinho, a palavra “anjo” indica o ofício do ser espiritual, o
encargo dele. E não sua natureza. Sua natureza é espiritual. Nem todos os seres espirituais
são anjos. Anjos são aqueles encarregados de algum anúncio, são mensageiros. Os que
anunciam fatos menores são chamados anjos e os que anunciam fatos maiores, arcanjos.
Pela função que desempenham acredita-se que eles devem estar colocados nos mais
altos coros dos seres espirituais. Gabriel e Miguel aparecem na Sagrada Escritura, como
Arcanjos, conhecedores dos mais profundos mistérios de Deus.
Arcanjo São Miguel:
O grande capitão do exército celestial. Cujo nome Mika-El, significa, quem é igual a
Deus? Quando Lúcifer, cheio de orgulho, quis igualar-se a Deus, Miguel exclamou com
voz trovejante: “Quem como Deus?”. E na companhia dos outros anjos fiéis, precipitou do
alto dos céus, para o inferno, a tropa rebelde de Lúcifer. Assim se tornou o general do
incontável exército dos santos anjos. Na Sagrada Escritura, ele aparece como o protetor
do povo de Israel. Hoje é o protetor da Igreja.
Arcanjo São Gabriel:
Anunciador de grandes fatos, cujo nome significa Força de Deus. Ele que anunciou ao
profeta Daniel a época da grande obra de Deus. O mesmo Arcanjo que se dirigiu ao
sacerdote Zacarias, no templo, anunciando o nascimento de um homem que seria
chamado João, e que prepararia a vinda do Salvador. Foi o Arcanjo Gabriel, que visitou
uma humilde casa em Nazaré e anunciou à Virgem Maria a maior de todas as notícias:
que mesmo virgem, ela daria à luz ao Filho do Altíssimo, cujo nome seria Jesus, o
Salvador do mundo. É com este arcanjo que aprendemos a rezar: “Ave-Maria, cheia de
graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres!”
Arcanjo São Rafael:
Denominado pela Igreja como um Arcanjo, Rafael, cujo nome significa médico ou cura
de Deus, aparece a Tobias na Sagrada Escritura, guiando este em sua missão. O próprio
Arcanjo afirma estar diante de Deus: “Eu sou Rafael, um dos sete anjos que estão sempre
presentes e têm acesso junto a Glória do Senhor” (Tb 12,15).
Por se tratar de uma verdade da
nossa fé e uma graça dada a nós, pelo o
Altíssimo. Somos chamados a nos
aproximar deste mundo celeste,
buscando nestes seres espirituais,
perfeitos no amor a Deus, o auxílio
necessário para nossa Salvação.
Sabemos que cada pessoa recebe
de Deus, um anjo da guarda. A Igreja
ensina que desde o início até a morte, a
vida humana é cercada por sua
proteção (Sl90,10-13) e por sua
intercessão:“O anjo do Senhor acampa
ao redor dos que o temem e os salva” (Sl
33,8).
São Basílio Magno, afirmou:
“Cada fiel é ladeado por um anjo como
protetor e pastor para conduzi-lo à vida”.
Que maravilha! Temos um Anjo da
Guarda pessoal, nos protegendo e
defendendo das insídias do mal.
Devemos rezar a ele continuamente,
também, pedir a proteção e socorro
dos demais seres espirituais, que
sabemos seus nomes e suas missões,
como os arcanjos. A nossa fé, católica,
nada tem a ver com os anjos esotéricos.
Uma boa sugestão para o tempo
da Quaresma de São Miguel é a oração
“Augusta Rainha do Céus”, revelada
pela Virgem Maria ao
Bem-Aventurado Padre Luís-Eduardo
Cestac. Afinal, o tempo da Quaresma
de São Miguel deve nos aproximar,
mais intensamente, do relacionamento
com os anjos, na nossa luta incansável
pela santidade.
“Naquele dia vai prevalecer Miguel, o grande comandante, sempre de pé ao lado
do teu povo”(Dn 12,1).
A tradição da Igreja, desde muito tempo, professou a São Miguel um culto especial
e este sempre foi muito amado e venerado pelo povo de Deus. Com a Sagrada Escritura
a Igreja foi entendendo melhor o papel e a missão deste Arcanjo. Como vimos, o seu
nome significa “Quem como Deus?” e ele é um grito de humildade e de obediência.
Aparece cinco vezes na Sagrada Escritura: Dn 10,13; 10,22; 12, 1; Ap 12,7 ; Jd 1,9.
Várias são as funções atribuídas a Miguel, como no Livro do profeta Daniel, de guarda e
protetor da nação israelita. Mas, a sua missão principal é a de protetor da Igreja, que é
agora o novo povo de Deus, defensor do Cristianismo. Pois é ele, o Arcanjo Miguel, que
em uma batalha, reivindica os direitos inalienáveis de Deus.
Sabemos que Jesus afirmou em Mt
16,18, que as portas do inferno não
prevalecerão sobre sua Igreja, mas isso
não significa que as provas e batalhas
serão cessadas. Contra toda a investida
do maligno, ao lado da Igreja, está o
Arcanjo São Miguel. E para ajudar os
cristãos a resistirem ao diabo. A tradição
o tem, também, como auxílio dos
agonizantes, e aquele que leva as almas
que partiram deste mundo para o trono
de Deus, ao Juízo Divino, invocado
como nosso advogado na vida e na hora
da morte (Jd 1, 9).
São Francisco de Assis dizia:
“Devemos honrar de modo mais solene São
Miguel, porque é responsável pela
apresentação das almas a Deus”.
Este tem sua figura, sempre
representada, vestindo armadura e
espada empunhada, atacando o diabo,
que está derrotado aos seus pés. É
possível visualizarmos essa imagem em
Apocalipse 12,7-13:
"Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de
combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não
prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. Foi então
precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e
Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele
os seus anjos. Eu ouvi no céu uma voz forte que dizia: ‘Agora chegou a
salvação, o poder e a realeza de nosso Deus, assim como a autoridade de
seu Cristo, porque foi precipitado o acusador de nossos irmãos, que os
acusava, dia e noite, diante do nosso Deus. Mas estes venceram-no por
causa do sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram
a vida até aceitar a morte. Por isso alegrai-vos, ó céus, e todos que aí
habitais. Mas, ó terra e mar, cuidado! Porque o Demônio desceu para
vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta’."
“Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes” (Tg 4,6). A força do arcanjo
Miguel vem dessa docilidade ao Senhor e humildade perfeita, por isso ele vence a
serpente orgulhosa.
Além das 5 aparições na Sagrada Escritura, já citadas aqui, vários são os relatos de
intervenções e aparições do chefe dos anjos, na vida da Igreja. Muitas delas foram
confirmadas pelas autoridades eclesiásticas e inseridas na liturgia local e universal.
A mais conhecida foi no Século V, no Monte Gargano que vamos detalhar mais
adiante. Tem-se também a aparição à Joana d’Arc, proclamada santa após sua morte, foi
no século XV, na França, que havia sido invadida por ingleses.
São Miguel interveio para salvar este país, apareceu a uma pastorinha de Lorena,
que tinha 15 anos. Convidou-a a vestir uma armadura e comandar os exércitos franceses,
chorando a menina disse não ter tamanha capacidade. Disse-lhe então o General Celeste:
“Vai, sem temor, que combaterei em teu favor”.
Depois de muitas vitórias em batalhas, a
jovem é presa e condenada a morrer na fogueira.
Durante sua execução ela vê novamente São Miguel,
auxiliando no seu martírio triunfal, que a fez santa
de altar.
O Império Romano, no início do
cristianismo, durante três séculos, perseguiu a Igreja
Católica. Mandava executar de forma truculenta e
variada, todo aquele que professasse a fé cristã.
Contam-se mais de 12 milhões de mártires que
deram a vida por Cristo. A paz só veio a reinar neste
império quando o Constantino, o imperador, se
converteu ao cristianismo. Cuja mãe, a imperatriz
Santa Helena, já era convertida. Paz que tem como
mérito ter sido alcançada por São Miguel Arcanjo.
Em um combate, o Arcanjo apareceu-lhe, rodeado
de anjos, garantiu-lhe a vitória sobre os Maxêncio.
Constantino viu o Céu, com uma Cruz
luminosa e a seguinte inscrição: “Com este sinal
vencerás”. Não entendendo o grandioso sinal, em
sonho apareceu-lhe novamente São Miguel.
Mandou-lhe que colocasse aquele sinal em um
estandarte e o levasse a frente de suas tropas, para o
combate. Assim ele o fez. A batalha foi terrível mas
o inimigo foi derrotado, após cair em um rio. Ao
entrar em Roma triunfante, com a Cruz diante de
seu exército, Constantino decretou no mesmo ano,
312, a paz à Igreja.
A aparição de São Miguel Arcanjo no Monte Gargano, em Apúlia, Itália, é
comemorada no dia 8 de Maio. Foi no século V, ao pé do Monte Gargano, onde vivia
um pastor que apascentava uma manada de vacas. Um dia fugiu uma de suas novilhas e
ele a encontrou refugiada em uma gruta, no alto monte. Na tentativa de obrigar a novilha
fugitiva de sair do abrigo, tomou um arco, fez pontaria e lançou uma flecha em direção
a gruta. Esta retrocedeu, voltou-se com mesma velocidade e veio a ferir o próprio
lançador.
Todos os que acompanhavam o pastor na busca foram tomados de grande espanto
e a notícia se espalhou. O acontecimento chegou ao Bispo de Siponto, cidade que ficava
ao pé do monte, ele julgou se tratar de um sinal misterioso de Deus, ordenou aos seus
diocesanos três dias de jejum pedindo ao Senhor discernimento para interpretar o fato
misterioso.
Passado três dias, apareceu ao santo bispo o próprio São Miguel Arcanjo
declarando ser aquele local de sua especial proteção. Que o Senhor queria ali, um templo
para o culto e honra, deste defensor da igreja, tal como de todas as hierarquias angélicas
do céu. Para que a fé e a devoção dos fiéis fosse reavivada, tendo-o como o anjo custódio
da Igreja Católica, e seu amor e proteção para com o povo de Deus.
Se tratava de um caverna espaçosa, já em forma de templo, onde mais nada era
preciso, a não ser um altar-mor para as celebrações dos Mistérios Divinos. Com o tempo
a simples caverna se tornou um maravilhoso santuário, local onde Deus realiza grandes
graças e milagres, em favor dos que lá buscam socorro. Sinal de como Lhe agrada esta
devoção, ao grande General Celeste, que defendeu a fidelidade a Santíssima Trindade,
com seu poderoso brado: “Quem como Deus?”.
Este Santuário, é considerado o mais célebre em todo o mundo e o primeiro a ser
erguido em honra ao Grande Arcanjo Celeste, foi visitado por muitos Papas e Santos. No
dia 24 de maio de 1987 o Papa São João Paulo II o visitou e fez um importante
pronunciamento. Ele reafirmando a existência e a ação do Demônio no mundo,
destacando a importância de buscarmos a proteção de São Miguel.
Porque Deus escolheu este local para maior devoção a São Miguel Arcanjo e aos
Espíritos Celestes? Não é possível responder. Mas sabemos que certamente Ele nos
mostrou a importância desta devoção, como uma proteção de forma pessoal e também
da Igreja, aos ataques do demônio.
No Catecismo da Igreja Católica aprendemos que “Por trás da opção de
desobediência de nosso primeiros pais (Adão e Eva) há um voz sedutora que se opõe a Deus e
que, por inveja, os faz cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja vêem neste ser um
anjo destronado, chamado Satanás ou Diabo”(n. 391).
Logo, o pecado não foi uma iniciativa do homem, nós fomos de fato livres ao pecar,
mas fomos seduzidos. Foi o Diabo que seduziu nossos primeiros pais. O Tentador, em
forma de serpente, aparece a Adão e Eva, dizendo: “E vós sereis como deuses” (Gn 3,5).
Uma sedução mentirosa que induziu o homem a desobedecer a Deus.
A Igreja sabiamente nos ensina que Lúcifer, o anjo da luz, e os outros demônios,
foram criados por Deus como anjos bons. Mas,se tornaram maus por sua própria
iniciativa, a partir da liberdade que foram dotados. Portanto, ele é uma criatura, não um
“deus” mau, ou um semideus, ou um ser que se encontra em igual paridade com Deus.
Não. Esta é uma verdade de fé que precisamos saber: Lúcifer é um anjo, portanto, uma
criatura inferior a Deus.
Mas virando as costas para Deus, este anjo bom se tornou mau, Lúcifer se tornou
Satanás. Na Sagrada Escritura cita-se o pecado desses anjos, esta “queda”, onde livremente
rejeitaram a Deus e seu Reino: "Com efeito, Deus não poupou os anjos que pecaram, mas
lançou-os nos abismos tenebrosos do Tártaro, onde estão guardados à espera do Julgamento"(2
Pe 2, 4).
No Catecismo da Igreja, onde estão abordadas verdades de fé, afirma-se que esta
opção deles tem caráter irrevogável, não que Deus não seja misericordioso, mas, a escolha
definitiva destas criaturas fez deste pecado dos anjos imperdoável (n. 393).Logo se torna
vã, rezarmos para o demônio e seus anjos maus.
São João Damasceno disse, sabiamente, que “Não existe arrependimento para eles
(anjos) depois da queda, como não existe para os homens depois da morte”.
Já citamos aqui o trecho da Sagrada Escritura que fala sobre uma batalha no céu,
com o auxílio da teologia de Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, sobre este fato,
podemos trazer luz a estas verdades professadas pela Tradição da Igreja e pelas Escrituras,
que está no capítulo 12 de Apocalipse."Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos
tiveram de combater o Dragão”.
Mesmo os anjos sendo seres espirituais, foram dotados com dons superiores aos
que os homens receberam, estes tinham pleno conhecimento e entendimento. O que nos
leva questionar qual teria sido então, a motivação para a desobediência destes seres
celestes?
São Tomás, em sua teologia, nos sugere que Deus havia revelado aos anjos o Seu
grande plano de salvação para os homens. Que plano é esse?
Seu Filho Único, Jesus, também a segunda pessoa da Santíssima Trindade, iria
encarnar-se no seio de uma mulher virgem, viver de forma humana e morrer em uma
cruz. O plano foi encarado por estes anjos como algo absurdo. Como poderia a
Majestade Divina se submeter a pequenez humana? Então, Lúcifer teria se recusado a
servir o Deus encarnado como homem; cheio de mentiras convenceu a outros anjos do
mesmo. Isso teria sido o motivo do seu brado de rebeldia: "Não servirei!”, levando então
à grande batalha narrada em Apocalipse.
Eles foram, tomados por um ódio extremo contra Deus e contra os homens. O
Diabo traçou, então, seu grande plano de rebelião: destruir a criação, não só em sua
morte física, mas, principalmente, a morte espiritual, a perdição das almas.
Como já vimos aqui, a verdade professada pela igreja, é de que os anjos não
possuem corpos, são puros espíritos. Podemos nos perguntar então, como se deu esta
batalha? São Tomás de Aquino diz que a espada flamejante de São Miguel Arcanjo é a
Palavra de Deus. Que a batalha se deu no campo das ideias e teria sido uma luta
espiritual. Muitos anjos que estavam sendo levados pelo caminho da desobediência
foram salvos pela Palavra. E muitos anjos desobedeceram a Deus, levados pela mentira
de Satanás, cujo apelido é "o pai da mentira".
Portanto, é através destas mentiras, que Satanás, a antiga serpente, tenta e consegue
levar os homens ao pecado. O mais importante que podemos aprender com esta batalha
é que Deus envia a cada um a sua graça, desejando ardentemente que, escolhamos
amá-Lo. Cabe a cada um de nós, em nossa liberdade, escolher de qual lado queremos
ficar.
Apesar de não se tratar de uma prática oficial da Igreja, não pertencendo ao
calendário litúrgico, todos católicos são convidados, por Deus, ao longo de quarenta
dias, a travar este grande combate espiritual contra o pecado e as forças do inferno. Não
estamos sós neste combate. Existem duas figuras que são nossos modelos e grandes
aliados neste tempo de batalha, e rigorosa penitência: a Virgem Santíssima e São Miguel
Arcanjo.
Em Apocalipse 12, vemos a Virgem Santíssima, aquela “mulher vestida de sol” que
pisou a cabeça da serpente, cujo coração, só não foi mais humilde que o de Nosso
Senhor Jesus Cristo. E o Arcanjo São Miguel, que é o príncipe da milícia celeste sob cuja
espada serão derrotados Satanás e seu exército maligno. O anjo que, mesmo não sendo
o maior do coro angélico, derrotou Lúcifer, dizendo: Mîkhā'ēl, que quer dizer “Quem
como Deus?”
O que devemos imitar deste dois grande modelos? A virtude da HUMILDADE,
a virtude que derrota Satanás. É o que os une nessa guerra contra os anjos caídos, que,
por vaidade e soberba, foram expulsos da presença de Deus e buscam a todo custo levar
consigo ao fogo eterno o maior número de almas.
Logo, o segredo da Quaresma de São Miguel é a humildade, aos moldes da Virgem
Maria e de São Miguel, duas criaturas que deram um grande testemunho de humildade
diante de Deus. Que eles nos protejam e seja nosso auxílio durante essa Quaresma
devocional, deste combate, que é a luta dos filhos da Mulher contra a descendência da
antiga serpente, o diabo.

A origem dessa devoção está ligada à vida de intensa penitência de São Francisco
de Assis. Quando ele se converteu, entrou para a Ordem dos Penitentes, que eram
pessoas que faziam penitências públicas. O santo achava que o tempo entre a Quaresma
(Paixão do Nosso Senhor) e o Advento (Encarnação do Nosso Senhor), era um longo
tempo para se ficar sem a prática da penitência, e decidiu praticar um novo tempo de
mortificações em honra ao príncipe da milícia celeste, São Miguel Arcanjo. Foi durante
esse tempo, a propósito, que Deus coroou São Francisco, de uma grande graça, já no fim
de sua vida, recebeu os santos estigmas da Paixão de Jesus Cristo.
São Francisco , sabendo que cabia a São Miguel Arcanjo o papel de introduzir as
almas no Paraíso, lhe cultuava essa devoção especial. Pois havia no seu coração, o grande
desejo da Salvação para todos os homens.
Iniciando no dia em que a Igreja celebra no mundo inteiro a Assunção de Nossa
Senhora, 15 de agosto e terminando na festa de São Miguel Arcanjo, 29 de setembro.
São 40 dias de penitência, sem contar os domingos, um tempo onde nos dedicamos ao
COMBATE ESPIRITUAL. Desde então, essa nova quaresma tornou-se muito popular.
1. Por que é oportuno viver essa Quaresma?
Além de ser um tempo favorável e da graça de Deus, em nossas vidas, a
Quaresma de São Miguel reaviva em nós a nossa devoção e o nosso
relacionamento com os anjos, muitas vezes deixado de lado.
2. Todo fiel é obrigado a fazer a quaresma?
Uma vez que não está prevista no calendário litúrgico da Igreja, não se trata de
uma obrigação, à qual os fiéis cristãos têm de submeter-se, mas de uma decisão
livre e generosa por fazer um pouco mais, por ir um pouco além daquilo que
nos é exigido.
3. Preciso ter uma imagem ou estampa de São Miguel?
Não necessariamente. Mas as imagens são um grande auxílio para nós, somos
seres sensitivos. Ao ver uma imagem de santo nosso coração se eleva e se volta
para as coisas do alto.
4. Se eu me esquecer de rezar um dia, preciso abandonar a quaresma?
Não, você pode continuar se esqueceu de verdade e não teve a intenção, não
existe culpa. Caso deixe de fazer por desleixo ou preguiça, é preciso confiar na
misericórdia de Deus e retomar mesmo assim, pedindo a Ele a graça necessária.
Mas vamos nos esforçar para ser fiéis todos os dias.
5. Por que não se reza aos domingos?
De 15/08 a 29/09 temos 46 dias. Descontando os 6 domingos, temos 40 dias.
Domingo é o dia da Ressurreição, cada domingo é uma pequena Páscoa, dia
em que, por tradição apostólica, celebra-se o mistério pascal, não é dia de
penitência. A oração maior do nosso domingo é a Santa Missa, escolha o
melhor horário e vá (ou assista devido a pandemia) com sua família.
6. O que é penitência? Como fazê-la?
A penitência é uma mortificação da nossa carne, dos nossos sentidos e desejos.
Para nos lembrar do centro da nossa vida, que é Jesus. 40 dias significa um
longo tempo de luta, de provação. É abster-se de algo que gosta muito ou
deixar de fazer algo que não agrada a Deus. A penitência deve ser acompanhada
de um desejo profundo de mudança e crescimento na vida espiritual.
7. Quando devo fazê-la?
Geralmente é feita entre 15 de agosto e 29 de setembro, mas pode ser feita em
qualquer época.
8. Tem que rezar de joelhos?
Não, mas se você quiser, pode fazê-la de joelhos.
9. É uma vela por dia?
Não, você pode usar a mesma vela todos os dias.
Sugestão: deixar um altar montado em casa com a vela, a imagem (estampa,
foto) de São Miguel durante todo o período da quaresma. A casa fica no clima
de oração e todas as vezes que vemos a imagem, nosso coração se volta para este
espírito de oração e penitência.
10. A vela só acende na hora de rezar?
Sim.
11. A vela tem que ser de São Miguel ou benta?
Não precisa ser específica de São Miguel. Pode ser uma vela simples e pedir um
padre para abençoá-la. Caso não consiga que a vela seja abençoada antes do
início da quaresma, use a que tiver, e tente providenciar a vela abençoada.
12. Já tenho uma vela abençoada, preciso abençoar outra só para a
Quaresma?
Não, pode usar a que você já tem.
13. Preciso me confessar para a Quaresma?
Sempre é bom que estejamos reconciliados com Deus, mas isso não impede
que você reze a Quaresma. Caso você não consiga se confessar antes, se
comprometa em buscar a confissão quando tiver disponibilidade.
14. Confessei-me recentemente, preciso me confessar de novo?
A confissão vai da consciência de cada um, se você fizer um exame de
consciência e ver que é necessário se confessar novamente, vá. Confesse-se
quando for necessário, quando estiver em pecado mortal.

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