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EPISTEMOLOGIA E HISTÓRIA

DA PSICOLOGIA
TURMA 2023.02

RESENHA - Hildeberto V. Martins –


Práticas coloniais, ideias raciais e o papel da psicologia

ISABELLA BATISTA DE SOUZA

O contexto histórico brasileiro revela como uma parte da elite intelectual atuou como agente
político promotor de ideias colonialistas. Nesse sentido, o discurso médico-psicológico,
representado pela "Escola Nina Rodrigues", foi uma ferramenta na construção de soluções
alinhadas a essa lógica colonialista, especialmente no período de transição do modelo imperial
para um Estado independente. Durante essa transição, a (re)discussão sobre a cidadania tornou-
se central, demandando uma definição do povo em sintonia com o novo país republicano. Assim,
a influência do paradigma epistemológico europeu nas ciências psicológicas é destacada,
delineando uma lógica racional-positivista que excluía outras formas de pensamento. Essa
imposição epistemológica, gestada desde o século XVI, resultou em uma perspectiva
etnocêntrica que hierarquizou diferenças entre grupos, refletindo-se na divisão entre países
desenvolvidos e do Terceiro Mundo. Logo, as críticas pós-coloniais, notáveis pelo "giro
decolonial", desafiam esse paradigma oferecendo uma perspectiva crítica sobre o imperialismo
epistemológico ocidental e questionando a imposição de uma única forma de conhecimento
verdadeiro. À vista disso, o "giro decolonial" representa uma virada epistemológica essencial
para desmantelar estruturas coloniais, promovendo a diversidade de abordagens nas ciências
psicológicas. Já, a análise do "Credo Racial" brasileiro destaca como a questão racial foi um
mecanismo formador da identidade nacional devido a (re)discussão sobre a cidadania,
permeada por estratégias desumanizadoras que revela as complexidades da transição para um
projeto de nação civilizada, marcada por debates sobre o "problema negro".

Sob esse viés, a passagem “O elemento negro foi “capturado” nessa rede de significações como
o elemento portador de certas características patologizantes e contaminadoras, portanto,
passível de ser um “objeto da ciência”. O que o contexto político sinaliza é quanto à questão
da pertença a uma identidade “racial” esteve presente no cenário de uma ainda incipiente
nação brasileira” (P.20) menciona o "elemento negro" sendo "capturado" em uma rede de
significados, associando-o a características patologizantes e contaminadoras, revela uma
dinâmica de racismo epistêmico qual refere-se à produção e perpetuação de conhecimento que
marginaliza, estigmatiza ou inferioriza grupos com base em sua raça ou etnia. Isso ocorre quando
certos grupos são retratados de maneira tendenciosa, muitas vezes influenciados por
preconceitos e estereótipos. No contexto citado, a população negra é tratada como um "objeto
da ciência", indicando uma abordagem objetificante que desconsidera a complexidade e
individualidade dos sujeitos, sendo, assim, um exemplo de como o racismo pode se infiltrar no
próprio processo de produção de conhecimento, influenciando a forma como determinados
grupos são estudados e representados. Logo, quando colocado o termo "capturado" sugere que
o entendimento e a representação desse elemento foram moldados de acordo com
determinados padrões preconcebidos, muitas vezes ligados a ideias estereotipadas e negativas.
Também, indica que a comunidade científica, em particular, abordou a população negra como
um sujeito de estudo, frequentemente utilizando uma perspectiva patologizante.

Portanto, a Escola Nina Rodrigues, como paradigma exemplar, demonstra a dimensão dos efeitos
de um credo racial e como a população africana e afro-brasileira esteve na agenda social desses
intelectuais A revisão bibliográfica ancorada em estudos pós-coloniais amplia a análise,
proporcionando uma compreensão mais abrangente das relações entre os saberes psicológicos,
o colonialismo e a construção da cidadania. Destaca-se ainda a importância de questionar esses
saberes, considerando as críticas pós-coloniais e o "giro decolonial" para desmantelar o
imperialismo epistemológico ocidental presente na produção do conhecimento.

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