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Universidade Estadual Paulista – UNESP

Faculdade de Ciências e Letras


Campus de Assis

CULTURA PORTUGUESA
Prof.ª Fabiana Miraz de Freitas Grecco

Análise do poema de Camões


“Posto me tem Fortuna em tal estado”

Tarsilia Francisca Penheiro de Goes


1º Letras – Diurno
ASSIS
2023
Para falar de Portugal, é necessário considerar que houve muitas transformações que
abrangeram os campos político, econômico, social, religioso, cultural, que sem dúvida afetaram
grandemente a sua história. A cada fase, os acontecimentos se basearam em necessidades de
uma visão que permitisse novo rumo à história portuguesa, somando o ideário positivo às
manifestações transformativas. No âmbito cultural, com destaque à literatura, mais
propriamente ao Renascentismo. Este movimento propiciou a chegada de artistas como Luís
Vaz de Camões. Foi um modelo renascentista que atrelou a tradição medieval com a nova
estética adotada pela Itália. Camões absorveu as palavras em sua essência e construiu várias
formas poéticas. Contudo, foi considerado o maior escritor do período classicista. A obra
camoniana é marcada pelas mudanças das áreas em geral e o classicismo promoveu a
racionalidade, tornando o homem o centro das atenções. É desta ideia de antropocentrismo que
se faz a apresentação analítica do poema Posto me tem Fortuna em tal estado.
Sua 1ª estrofe é uma quadra com rimas ABBA, sendo estas interpoladas e emparelhadas.
Apresenta a figura de linguagem anafórica nos 1º e 2º versos aparecem repetições em “me tem”
e “não tenho que”. Assinala revolta e frustração. A 2ª estrofe é uma quadra de rimas ABBA,
interpolada e emparelhada. Expõe a figura de linguagem de eufemismo, suavizando as
desagradáveis expressões citadas. Destaca sua frustração e seu desânimo. A 3ª estrofe é um
terceto, com rimas CDE, em que aparece a figura de linguagem hipérbato, invertendo a ordem
direta dos termos no 1º verso “Se me basta querer a morte, a morte quero”. Transparece
desespero e sofrimento. A 4ª estrofe é um terceto, com rimas CDE, que mostram a figura de
linguagem de repetição, nas palavras “bem” e “remédio”, revelando aceitação e resignação. As
3ª e 4ª estrofes rimam entre si de modo atrelado, ao ver as terminações em RO, EM, AL.
Na interpretação, nota-se que o título já propõe a desventura que causa uma situação
deteriorante. Por todo o poema, permeia um sentimento de morte interiorizada. Descreve que
a má sorte o coloca em situação humilhante e degradante. Para ele, já não há mais o que perder,
foram muitas as transformações e nade sobrou de bom, que já vivera tudo o que tinha de viver;
passara por muitos momentos ruins e chegara a um ponto da vida que mais se morre do que se
vive. Tudo o que deseja é deixar de viver por completo, porque já se esvaíra toda esperança, e
a morte evitaria a dor de mais infortúnios. Não espera que ocorra nada que o agrade a despeito
de que sempre virá desolação. O eu lírico se desculpa pela desesperança e justifica isso pelos
períodos tristes e fases difíceis, tê-lo tornado um homem-vegetal, mergulhado no derrotismo.
Esse poema dialoga com uma obra contemporânea do intérprete NASAC – Isaac
Behrmann, nascido em São Paulo, representa o estilo Sad Songs, nascido pela fusão do Emo
rap, Trap e Neo Soul, no Brasil despontou em meados de 2016. Foi reconhecido como o
principal artista deste estilo, em 2019. A letra de sua música Dona Morte, segue a linha de
Camões, escancarando um teor depressivo, triste, explanando o tema do suicídio num tom
bastante intimista, canção quase falada como se fosse um apelo à reflexão:
“Esse é o meu último dia de vida Consegue te enxergar
Porque estou me importando Tu grita por socorro
Estava morto já faz dias Ninguém quer te escutar
O mundo tá vazio ninguém Cheguei no meu limite e
Falta o ar pra respirar
Dessa vez a dona morte
Veio me buscar Só quero que isso mude,
O dona morte Não precisa mais chorar
Cê tem tanta sorte Sei que tá difícil mas
De me livrar desse lugar Prometo, tudo isso vai passar
E pra você vou cantar O dona morte
E te fazer chorar Cê tem tanta sorte
Finalmente essa dor vai acabar De me livrar desse lugar
E agora de você irão lembrar Já me machuquei demais
E quando eu precisei Não aguento mais,
Ninguém queria conversar Pode vir me buscar

Verifica-se, portanto, nessa análise interpretativa, como a obra de Camões ainda é atual
e continua influenciando com seu estilo e seu modo de interpretar o mundo, mesmo que tenha
sido da época em que vivera.
Conclui-se, então que, se a poética camoniana é composta por elementos, dentro dos
quais repousa o desconcerto do mundo, Camões racionaliza-o e justifica seu sentimento de
derrotismo e aceitação deste descompasso, apenas vivendo-o e assimilando-o de forma direta.
REFERÊNCIAS

FIGUEIREDO, Maria J. de Fraias. As Faces da Lírica Camoniana. Guarabira/PR,


2011. Disponível em:
https://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1426/1/PDF%20-
%20Maria%20Jucineide%20de%20Farias%20Figueiredo.pdf

SOUZA, Paulo R. de, CORTEZ, Clarice Z. As Influências do Desconcerto do Mundo


Renascentista na Construção da Temática Camoniana. Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciLangCult/article/view/24292

DIANA, Daniela. Luís de Camões: biografia, obras, poemas e os Lusíadas.


Disponível em:
https://www.todamateria.com.br/luis-de-camoes/

ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática Metódica da Língua Portuguesa. 44ª edição.
Editora Saraiva. São Paulo, 2021.
https://www.amazon.com.br/Gram%C3%A1tica-Met%C3%B3dica-Portuguesa-
Napole%C3%A3o-Almeida/dp/8502054309

VALLOTO, Paulo Leandro. A Métrica do Poema e como Metrificar os Versos de um


Poema. Disponível em:
https://www.autores.com.br/publicacoes-artigos2/33-literatura/dicas-para-novos-
autores/26421-a-metrica-no-poema-e-como-metrificar-os-versos-de-um-poema.html

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