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A lírica de Luís Vaz de Camões

SOBRENOME, Nome do Aluno1


SOBRENOME, Nome do Orientador (se houver)2

1 INTRODUÇÃO

Luís Vaz de Camões é tido como um dos maiores poetas da língua portuguesa e
um dos principais expoentes do Renascimento português, período de grande
efervescência cultural e artística que muito influenciou sua obra (ao mesmo tempo que
ele mesmo enquanto viva era uma influência). Ele teve um papel fundamental na
construção e percepção da identidade cultural portuguesa e na difusão da língua
portuguesa pelo mundo. O poeta teve um papel importante na construção do mito do
"Império Português", que celebrava as descobertas e conquistas marítimas portuguesas
e estabelecia a língua portuguesa como um veículo de comunicação entre os povos.
Sua obra mais famosa, "Os Lusíadas", é uma epopeia que celebra a história e as
conquistas dos portugueses, em particular as grandes descobertas marítimas que
transformaram a Europa e o mundo, e revela-se um exemplo do seu compromisso com
seu patrimônio artístico.
Camões teve uma vida agitada e aventurosa, servindo nas Forças Armadas
portuguesas e viajando por várias partes do mundo. Ele também teve dificuldades
financeiras e problemas com a justiça, tendo sido preso várias vezes ao longo da vida.
Nascido em Lisboa em 1524, viveu em uma época de grandes transformações
políticas, sociais e culturais. Nesse tempo, Portugal era uma potência marítima que
buscava rotas comerciais e descobertas de novas terras. As grandes descobertas
marítimas portuguesas trouxeram riquezas para o país e contribuíram para a
consolidação de um império ultramarino que se estendia por várias partes do mundo,
incluindo a África, a Ásia e a América. As rotas comerciais estabelecidas pelos
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Informações do aluno (exceto o nome)
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Informações do orientador (exceto o nome)
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portugueses permitiram a circulação de produtos e mercadorias entre os continentes,


contribuindo para o desenvolvimento do comércio internacional e para a criação de
novas redes de relações comerciais e culturais.

2 DESENVOLVIMENTO & FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesse contexto discutido, havia uma transição entre a Idade Média e a Era
Moderna, que trouxe grandes mudanças na ciência, na filosofia, na religião e na política
do continente europeu. Vivenciava-se um momento de grandes acontecimentos, que
abriram novas fronteiras para o conhecimento humano e para a expansão – econômica,
principalmente – das civilizações colonizadoras.
Essas explorações representaram um grande avanço no poder da Europa e na
sua expansão. Além de trazerem novos recursos e riquezas para as nações
visitantes/invasoras, elas também permitiram o estabelecimento de novas relações
comerciais e culturais entre diferentes povos e regiões. No entanto, as consequências
negativas foram muito signiticativas, como é notório com a atestação da exploração e
escravização de povos locais, simultânea à destruição de suas culturas e tradições,
além da disseminação de doenças e conflitos que tiveram impactos definitivos na
história mundial.
Todo esse momento assistiu ao surgimento de novas correntes filosóficas e
religiosas, que questionavam a autoridade da Igreja Católica e propunham novas
abordagens para a compreensão do mundo e do ser humano. O humanismo, por
exemplo, defendia a centralidade do ser humano e a valorização da cultura clássica,
enquanto o protestantismo questionava o papel do Papa e da hierarquia eclesiástica na
mediação entre Deus e os fiéis (FERREIRA, 2004). Essa corrente propunha uma visão
mais antropocêntrica do mundo, em contraposição à visão teocêntrica da Idade Média,
e influenciou o surgimento de novas formas de arte, literatura e pensamento (GARIN,
2007).
No campo político, o período assistiu ao fortalecimento dos Estados nacionais e
à consolidação do absolutismo monárquico, que centralizava o poder nas mãos dos reis
e reduzia a influência dos nobres e dos parlamentos. Em Portugal, por exemplo, a
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figura do rei D. João III foi fundamental para a consolidação do império português e
para a expansão das atividades comerciais e coloniais.
Essas transformações tiveram impactos significativos no rumo da humanidade,
que organizou novas formas de estruturamento político-social, ao mesmo tempo que
foram causaram grandes estragos, como se observa com a exploração e a opressão de
povos e culturas subalternos, com a disseminação de conflitos e guerras, e a
culminância de desigualdades sociais e econômicas que persistem até hoje.
Tais tensões internas e externas se refletem de maneira muito clara em sua
obra, que muitas vezes apresenta um lirismo intenso e nostálgico, permeado por
mensagens que evocam tanto a glória quanto a decadência de Portugal.
Simultaneamente, seus versos revelam um profundo questionamento sobre a existência
humana e sobre o papel do indivíduo no mundo, em meio a um contexto de mudanças
profundas e de incertezas.
Todo esse cenário ampliava o acervo de imagens e o arcabouço do poeta, tanto
o de vivências quanto o de conhecimentos. Tudo direta ou indiretamente influenciaria
em seu desenvolvimento, logo em sua arte e vida, portanto também em seu lirismo.

3 A LÍRICA CAMONIANA

Segundo Schwarz (2008), a poesia lírica de Camões é um exemplo de como a


arte pode ser uma forma de expressão que transcende o tempo e o espaço, tocando o
coração humano em sua universalidade. Os sonetos de Camões são uma reflexão
profunda sobre a condição humana, sobre a fugacidade da vida e sobre a busca da
felicidade.
De acordo com Machado (2010), "Os Lusíadas" exemplifica como a poesia pode
ser uma forma de expressão artística que abrange temas históricos e culturais,
combinando o imaginário popular com a tradição clássica. Esse marco poético é uma
celebração da coragem, da perseverança e do espírito de aventura que marcou a
expansão marítima portuguesa.
A melodia é um aspecto importante do lirismo, pois a escolha das palavras e sua
disposição rítmica podem contribuir para a criação de um efeito sonoro que
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complementa a expressão de emoções e sentimentos. Os fonemas são importantes no


lirismo, pois a escolha de palavras que soam bem juntas pode conferir musicalidade e
daí reforçar a emoção que se quer transmitir. Em Camões, podemos ver versos
melódicos como:
Ondas, que eu vim vendo correr,
mar, que sempre estás a rugir,
perigos, que aqui vi pôr,
deixai-me aqui morrer,
deixai-me aqui fenecer

Nesse trecho, a repetição de sons nas palavras "ondas", "correr" e "rugir" cria um
efeito sonoro que evoca a ideia de movimento e fluidez. Além disso, o uso da rima em
"pôr" e "fenecer" acrescenta uma cadência musical ao verso. Os poemas desta fase de
Camões também são marcados por uma maior complexidade estrutural, com o uso de
estrofes e rimas variadas, bem como pela utilização de recursos sonoros como
aliterações e assonâncias.
As figuras de linguagem também são fundamentais no lirismo, pois permitem ao
poeta criar imagens e associações que reforçam o efeito emocional do poema. Em
Camões, podemos ver isso em versos como:
Perdigão que vais voando,
como te vais esquecendo
de quem fica cá pensando
naquele amor que te temendo.

Nesse trecho, a figura de linguagem utilizada é a personificação, que dá vida ao


pássaro perdigão e o faz parecer indiferente ao amor daquele que fica para trás. Essa
figura de linguagem reforça a dor do poeta em ser deixado para trás pelo objeto de seu
amor.
Vide mais outra peça de arte desse trabalhador das palavras:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,


Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve), as saudades.
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O tempo cobre o chão de verde manto,


Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,


Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

No poema "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades" se nota a reflexão


sobre as mudanças inevitáveis da vida, uma em que o autor compara o tempo passado
e o presente, destacando a transitoriedade de todas as coisas. Através de uma
linguagem rebuscada e de figuras de linguagem como a antítese, Camões expressa
uma visão de vida. Nesse poema e em outros contemporâneos, podemos perceber
uma transição entre o classicismo renascentista e o barroco, com uma maior presença
de temas como a morte, o amor, a religião e a natureza. Os poemas desta fase de
Camões também são marcados por uma maior complexidade estrutural, com o uso de
estrofes e rimas variadas, bem como pela utilização de recursos sonoros como
aliterações e assonâncias.

3.1 ENTRE ALMA E CORPO, PRESENTE E MEMÓRIA, VIDA E DESTINO

O lirismo de Camões está profundamente relacionado com as suas contradições


e conflitos internos. Como mencionado anteriormente, o poeta vivia em um período de
grandes transformações e incertezas, e seus poemas refletem essa tensão entre o que
é efêmero e o que é eterno, entre o amor terreno e o amor divino, entre a alegria e a
tristeza, entre a vida e a morte.
Essa dicotomia entre alma e corpo, presente em muitos dos seus poemas líricos,
é um exemplo disso. Camões expressa a angústia de um ser humano que se vê
dividido entre a sua parte material e a sua parte espiritual, entre as paixões mundanas e
as aspirações mais elevadas. Além disso, o poeta também está dividido entre o seu
presente, marcado pelas dificuldades e incertezas da sua época, e a sua memória, que
evoca tempos mais felizes e idealizados.
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Para expressar essa complexidade emocional, Camões utiliza uma variedade de


figuras de linguagem, tais como metáforas, hipérboles, antíteses, paradoxos, entre
outras. Através desses recursos, ele cria uma linguagem poética de grande intensidade
emocional, que visa captar a essência dos sentimentos humanos. Além disso, a
sonoridade dos seus versos, construída através de um cuidadoso trabalho com a
métrica, a rima e o ritmo, contribui para a criação de uma atmosfera envolvente e
emotiva em seus poemas.
Um exemplo de poema em que se pode perceber essa tensão entre corpo e
alma é "Alma minha gentil, que te partiste", em que o poeta lamenta a ausência da sua
amada e expressa a dor da separação:
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente
e viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,


memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te


alguma cousa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,


que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.

No poema "Alma minha gentil, que te partiste", é possível observar essa


construção lírica através da combinação de palavras que criam um ritmo musical e da
utilização de figuras de linguagem, como a personificação da alma e a comparação do
amor ardente aos olhos puros do eu lírico. A dicotomia entre o céu e a terra, a vida e a
morte, também contribui para criar uma atmosfera melancólica e emotiva, que é típica
do lirismo camoniano.
Antonio Candido (1981) destacou o lirismo de Camões em sua obra "Formação
da Literatura Brasileira", com enfoque na visão da construção de uma linguagem
poética rica em melodia, ritmo e imagens. Para Candido, a poesia lírica é caracterizada
pela subjetividade do eu lírico, que expõe seus sentimentos, emoções e pensamentos
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de forma intensa e emotiva. Segundo o crítico, Camões busca a expressão do que é


interior e subjetivo, através de um discurso que se utiliza de elementos da natureza e
do mundo sensível para construir imagens que revelam a emoção e o sentimento.

4 CONCLUSÃO

A presença de Camões no mundo transcende as fronteiras geográficas e


temporais. Sua obra, apesar de escrita há mais de quatrocentos anos, ainda é atual e
inspira novas interpretações e reflexões. O poeta é uma figura universal, cujas palavras
falam não somente à sociedade da época em que viveu, mas também aos indivíduos
de hoje. Seus versos exprimem a condição humana em sua naturalidade, com alegrias,
tristezas, paixões e desafios internos, e, portanto, permanecem eternos e relevantes.
Em resumo, a obra de Camões é uma das grandes obras da literatura universal,
que reflete tanto o contexto histórico de Portugal quanto o contexto mais amplo da
época em que ele viveu. Camões é um exemplo de como a arte pode ser uma forma de
expressão que transcende o tempo e o espaço, tocando o coração humano em sua
universalidade de mente e emoção. Suas obras são um testemunho da capacidade
humana de transcender as limitações e de buscar o conhecimento e a sabedoria.
Desse modo, Camões não é apenas um poeta, mas também uma figura emblemática
da história e cultura portuguesas, cujo legado continua a ser valorizado e celebrado até
os dias de hoje.
Assim, podemos dizer que sua figura é fascinante não apenas pelo seu talento
poético, mas também por representar uma síntese dos conflitos e tensões que
marcaram a história e a cultura portuguesas na época em que viveu. Seu patriotismo,
sua busca pela justiça e pela liberdade, sua habilidade de enaltecer as virtudes da
nação sem esquecer seus defeitos e limitações, são valores que continuam a ser
lembrados e celebrados como parte da cultura portuguesa. Em seu trabalho, o poeta
conseguiu expressar de maneira profunda e universal as inquietações e aspirações de
toda uma nação, deixando um legado que permanece vivo e inspirador.
REFERÊNCIAS
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CAMÕES, Luís Vaz de. "Sonetos". Edição crítica de Hernâni Cidade. Lisboa: Edições
Ática, 1960.

CAMÕES, Luís Vaz de. Rimas. Edição crítica, prefácio e notas de Jackson de
Figueiredo. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

CANDIDO, Antonio. "Formação da literatura brasileira: momentos decisivos". 2. ed.


Belo Horizonte: Itatiaia, 1981.
FERREIRA, José Ribeiro. Camões e a Cultura do Renascimento. Lisboa:
Universidade Aberta, 2004.

GARIN, Eugênio. O Humanismo. São Paulo: Paulus, 2007.

MACHADO, José Pedro. "Camões, Luís de (c. 1524-1580)." In: Enciclopédia Itaú
Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2010.

RENAULT, Márcia. O Humanismo em Questão. São Paulo: UNESP, 1999.

SCHWARZ, Roberto. "Os sonetos de Camões." In: Que horas são? Ensaios. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008.

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