Você está na página 1de 17

UNIFOR

Especialização em Gestão de Energias Renováveis

Aspectos Ambientais na Instalação de Projetos em Energias Renováveis

João Henrique Bessa Gomes

Análise do Estudo de Impacto Ambiental: Planta Fortescue de


Hidrogênio Verde – Fortescue Future Industries, 2023.

1. Identificação

Brasil Fortescue Sustainable


Empreendedor:
Industries Ltda.
Geo Soluções Ambientais Ltda.
Empresas responsáveis pelo EIA/RIMA: Wood Group Engineering and
Productions Facilities Brasil Ltda

Nome do projeto: Planta Fortescue de Hidrogênio Verde

Caucaia e São Gonçalo do Amarante,


Localização:
Ceará
Produção de hidrogênio verde e
Natureza do projeto:
amônia verde

Data de publicação do EIA/RIMA: Abril/2023

2. Dados do projeto

A Planta Fortescue de Hidrogênio Verde é um projeto de geração de


hidrogênio e amônia verde a ser instalado na Zona de Processamento para
Exportação (ZPE) do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) [1].

O projeto foi concebido contendo as seguintes unidades como


componentes:
• uma unidade de osmose reversa, para dessalinização da água do mar,
bem como adutora de captação de água do mar e emissário de efluentes;
• uma unidade de separação do ar atmosférico, para produção de
nitrogênio;
• uma unidade de eletrólise, para a produção de hidrogênio;
• uma unidade de produção de amônia;
• uma unidade de armazenamento e transferência de amônia;
• uma linha de transmissão em 500 kV com 7,2 km de extensão, ligando a
planta à subestação Pecém II (SE PECÉM II – CHESF);
• uma subestação elétrica interna;
• uma unidade de compressão de água purificada;
• instalações de apoio; e
• dutos de transporte de gases e líquidos.

A Figura 1 apresenta uma planta de situação mostrando a localização das


instalações do empreendimento.

Figura 1 – Planta de situação do empreendimento. Fonte: [1]

De forma resumida, a água do mar será captada e submetida ao processo


de dessalinização, resultando na água purificada que será insumo para o
processo de eletrólise. Essa água é bombeada através de 11,0 km de dutos até a
localização da planta de eletrólise. Aproximadamente na metade da distância
entre a planta de dessalinização e a planta de eletrólise, está localizada uma
unidade de compressão de água, que corresponde a um conjunto de bombas
responsável por fornecer pressão suplementar à água, de modo a compensar a
perda de carga sofrida ao longo dos 11,0 km de tubulação.

Ao chegar na planta de eletrólise, a água purificada é convertida em


hidrogênio e oxigênio gasosos. O oxigênio é purificado e liberado na atmosfera,
enquanto o hidrogênio é purificado e enviado para a unidade de produção de
amônia. Lá, o nitrogênio obtido pela unidade de separação do ar atmosférico
reagirá com o hidrogênio, produzindo a amônia. Esse produto será transportado
pressurizado na fase líquida por 12,95 km de tubos até o berço de atracação do
Porto do Pecém, onde será carregada como granel líquido nos navios que farão
seu transporte final.

O planejamento do empreendimento é de que se atinja a capacidade


máxima de produção de 1.724.625 toneladas de amônia liquefeita por ano.

O valor total orçado como custo de construção do empreendimento é de


R$ 14.128.651.629,52. Sua implantação está dividida em 3 fases e tem uma
duração total de 48 meses, com a 1ª e 2ª fases previstas para início de operação
comercial após o 36º mês de implantação.

3. Aspectos ambientais

3.1. Legislação ambiental pertinente

O contexto da importância do processo de Licenciamento Ambiental e da


apresentação do Estudo de Impacto Ambiental enquanto requisito está
inicialmente baseado na Constituição Federal de 1988, que, em seu Art. 225,
caracteriza o direito do povo ao meio ambiente ecologicamente equilibrado
enquanto bem de uso comum do povo, imputando ao poder público e à
coletividade o dever de preservá-lo e defendê-lo . Ademais, a Lei Federal nº
[2]

6.938, de 31 de agosto de 1981, que trata sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente, traz em seu Art. 9º os instrumentos da referida Política, incluindo a
avaliação de impactos ambientais e o licenciamento e a revisão de atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras [3]. Ainda com base na Lei 6.938/1981, por
se tratar de um empreendimento localizado totalmente dentro do estado do
Ceará e não se localizar em unidades de conservação federais, a competência
do Licenciamento Ambiental para o projeto em questão cabe ao órgão ambiental
estadual, no caso, a Superintendência Estadual de Meio Ambiente do Ceará
(SEMACE). Dessa forma, conforme a Resolução CONAMA 237/1997, foi feito
junto à SEMACE, o requerimento de Licença Prévia [4].

Devido à capacidade máxima de produção de amônia da planta, o


empreendimento é qualificado como de porte excepcional, obrigando o
empreendedor a apresentar Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto
Ambiental (EIA/RIMA) como parte do processo de obtenção da Licença Prévia [5].

As áreas destinadas à instalação do empreendimento, conforme


mostradas na Figura 1, estão localizadas dentro dos limites do Complexo
Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Foram destinados 121 hectares para a
planta de produção de hidrogênio e amônia, 10 hectares para a unidade de
recompressão, 3 hectares para a unidade de osmose reversa, além das áreas
correspondentes às extensões da linha de transmissão e dos dutos de transporte.
Por se tratar de uma área predominantemente industrial, localizada na Zona de
Processamento para a Exportação II (ZPE II) e no retroporto do CIPP, não há
necessidade de averbação de reserva legal.

3.2. Áreas de influência do empreendimento

De modo a delimitar a área de análise de parâmetros físicos, bióticos e


socioeconômicos ao redor do empreendimento em estudo, é necessário
delimitar sua área de influência. Ela pode ser categorizada [5] em:

• Área Diretamente Afetada (ADA), correspondendo à área efetivamente


destinada à implantação do empreendimento;
• Área de Influência Direta (AID), compreendendo a área passível a ser
afetada pelos impactos ambientais diretos e indiretos do empreendimento;
• Área de Influência Indireta (AII), correspondendo às áreas onde os
impactos são decorrentes das ações de implantação e operação do
empreendimento, como consequência de uma ação específica, ou
conjunto delas, tendo, portanto, uma abrangência regional.

Para o estudo em questão, a ADA corresponde a uma área total de 153


hectares, conforme mostrado na Figura 1, além da faixa destinada aos dutos (10,4
m de largura por 12,95 km de extensão) e faixa de servidão da linha de
transmissão ligando o empreendimento à subestação Pecém II (80 m de largura
por 7,2 km de extensão). A AID foi definida a partir de um raio de 1000 m no
entorno da ADA, além de considerar também as comunidades mais próximas aos
limites desse raio. Para a AII, por sua vez, foi considerada, para os meios físico e
biótico, a área composta pelo CIPP e seu retroporto. Para o meio
socioeconômico, considerou-se áreas dos municípios de Caucaia e São Gonçalo
do Amarante. A Figura 2 mostra as áreas de ADA, AID e AII em relação à
localização do empreendimento.

Figura 2 – Áreas de influência do empreendimento. Fonte: [1]


3.3. Diagnóstico ambiental

Essa seção visa descrever a situação atual relatada no EIA/RIMA no que


tange os meios físico, biótico e socioeconômico. Dada a vasta quantidade de
dados apresentada, esse relatório dará maior enfoque em aspectos que sejam
mais relevantes para a instalação de um empreendimento industrial.

3.3.1. Meio Físico

Os estudos do meio físico compreendem os aspectos relacionados ao ar


(clima, ruído e qualidade), à terra (solo, rochas e relevos) e à água (corpos
superficiais e águas subterrâneas) da região.

Dentre os estudos do ar, é importante ressaltar o levantamento feito em


relação à qualidade do ar na região. Sabe-se que a região em estudo abriga
instalações com grande capacidade de emissão de poluentes no ar, incluindo
uma indústria siderúrgica de grande porte (ArcellorMittal), além de usinas
termelétricas a gás natural (UTEs Termoceará, Fortaleza e Porto do Pecém), óleo
diesel (UTE Enguia Pecém) e carvão mineral (UTE Porto do Pecém II).

O estudo usou a base de dados coletados pela Estação de Monitoramento


do Ar Fixa do Pecém, de responsabilidade da SEMACE, entre 2016 e 2020. Foram
analisados dados de concentração de material particulado (MP10), dióxido de
enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx), ozônio (O3) e monóxido de carbono
(CO), conforme a Resolução CONAMA 491/2018. As médias diárias totais obtidas
para todos os poluentes, ainda que consideráveis, ficaram abaixo dos parâmetros
globais (OMS) e nacionais (CONAMA) limitantes, mostrando relativa qualidade
do ar monitorado na região.

O estudo das águas superficiais foi baseado na coleta de 6 amostras de


água para caracterização da qualidade físico-química e biológica nas áreas do
empreendimento e seu entorno. As amostras foram qualificadas de acordo com
os padrões da Resolução CONAMA 357/2005, sendo testadas para parâmetros
de coliformes termotolerantes, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), nitratos,
nitrogênio amoniacal total, oxigênio dissolvido, pH, salinidade, sólidos dissolvidos
totais e turbidez. Nos resultados obtidos, chama a atenção o fato de 5 das 6
amostras apresentarem DBO acima do parâmetro de referência da CONAMA
357/2005. Esse resultado indica alto teor de matéria orgânica presente na água,
que pode levar ao consumo completo do oxigênio dissolvido na água,
provocando o desaparecimento de peixes e demais formas de vida aquática.

3.3.2. Meio Biótico

Os estudos do meio bióticos são divididos entre levantamentos de fauna e


de flora. Ambos devem ser realizados em dois períodos distintos: uma vez
durante o período seco e uma segunda vez durante o período chuvoso.

A vegetação natural das áreas de influência do empreendimento é do


bioma Caatinga. Na ADA e AID, observou-se cobertura vegetal de savana
estépica adensada e aberta, de porte arbóreo-arbustivo, além de vegetação de
tabuleiro arbustiva e arbustiva-arbórea, vegetação arbustiva sobre dunas e
campos antrópicos. O levantamento florestal indicou 110 diferentes espécies no
local, com destaque para Coccoloba latifolia (coaçu), Mouriri cearensis
(manipuçá) e Copernicia prunifera (carnaúba).

Os levantamentos de fauna indicaram a presença de 80 espécies de aves


na AID do empreendimento, a qual está situada em área considerada de riqueza
de aves migratórias, embora não tenha sido observado a ocorrência de aves
ameaçadas de extinção.

Foram observadas 9 espécies de herpetofauna (répteis e anfíbios) na AID.


Por meio de entrevistas com a comunidade local, foram adicionadas mais 16
espécies, totalizando 25 espécies levantadas. Dentre essas espécies, pode-se
citar a Rhynella diptycha (sapo-cururu) e a Polychrus acutirostris (papa-vento)

Entre busca ativa, entrevistas com moradores e pontos de escuta, foi


possível identificar 25 espécies de mamíferos de diversas famílias diferentes.
Pode-se citar a Carollia perspicilata (morcego-do-rabo-curto), a Callithrix jacchus
(soim) e a Cerdocyon thous (cachorro-do-mato). Quanto à presença de
invertebrados terrestres na AID, observou-se 41 espécies de insetos e 10
espécies de aracnídeos.
Dentre todas as espécies identificadas, algumas integram pelo menos uma
das listas de espécies da fauna ameaçadas de extinção (MMA, IUCN, ICMBio,
ZEE, CITES).

Uma espécie de ave (jacuaca) foi listada como vulnerável por MMA e
IUCN. Seis espécies de mamíferos estão identificadas em diferentes listas: gato-
mourisco (vulnerável, ICMBIO), gato-do-mato (em perigo, ICMBIO; vulnerável,
IUCN), gato-maracajá (vulnerável, MMA e ICMBIO). A saber, o ICMBio estabelece
que uma espécie considerada vulnerável enfrenta um risco alto de extinção na
natureza, enquanto uma espécie em perigo enfrenta risco muito alto de extinção
na natureza. Essa avaliação é feita em termos quantitativos da população da
referida espécie e de sua distribuição geográfica[6].

3.3.3. Meio Socioeconômico

A avaliação desse quesito leva em conta a extensão da AID e AII ao longo


dos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, além da própria ADA do
empreendimento no interior do Complexo do Pecém. Na AID, estão situadas as
comunidades encontradas no distrito de Pecém (São Gonçalo do Amarante), na
localidade do Bolso (São Gonçalo do Amarante), na localidade de Matões
(Caucaia) e Planalto Cauípe (Caucaia). A AII, por sua vez, abrange o território dos
municípios supracitados.

O município de São Gonçalo do Amarante possui área de 842 km² e


população de 54.143 habitantes, dos quais a maior parte vivem em zona urbana,
de acordo com o Censo de 2022. A densidade demográfica de 64,25
habitantes/km² é consideravelmente maior do que o valor de 52,60
habitantes/km² obtido no Censo de 2010, mostrando um viés de crescimento
populacional do município. O Produto Interno Bruto per capita do município, em
2021, foi calculado em R$ 175.103,17, representando o maior entre os municípios
do estado do Ceará e 70º maior do país[7].

São Gonçalo do Amarante também abriga a Colônia de Pescadores


Profissionais Artesanais e Aquicultores Z-06, consistindo em comunidades
tradicionais de pescadores artesanais que vivem nas localidades de Pecém e
Taíba.

Não há tombamentos federais por parte do IPHAN no município de São


Gonçalo do Amarante.

Na AID, o distrito de Pecém possui uma população que corresponde a


cerca de 20% da população de São Gonçalo do Amarante. Inicialmente
identificada como uma localidade de veraneio, pelo seu litoral, o distrito teve seu
panorama socioeconômico modificado com a instalação do CIPP, passando a ser
um distrito majoritariamente industrial. Os empreendimentos industriais e
portuários abriram diferentes oportunidades de comércio e serviços para a
localidade.

A localidade do Bolso está localizada no interior da ZPE e é formada por


cerca de 450 famílias. A economia da localidade é focada em atividades
agropecuárias (produção de frutas), pesca, caça e atividades extrativistas. O
comércio é formado por estabelecimentos de pequeno porte, como mercearias,
restaurantes e bares.

O município de Caucaia possui área de 1.223 km² e população de 355.679


habitantes, predominantemente nas zonas urbanas. O PIB per capita do
munícipio, em 2021, foi de R$ 28.229,51, representando o 9º maior do estado. O
salário médio dos trabalhadores formais de Caucaia, em 2021, foi de cerca de 2
salários mínimos. A fins de comparação, São Gonçalo do Amarante registrou o
equivalente a 3,5 salários mínimos no mesmo período, enquanto Fortaleza teve
como resultado 2,7 salários mínimos.

É importante destacar, em relação ao município de Caucaia, a existência


de diversas comunidades tradicionais nele situadas. No estudo em análise foram
identificadas:

• Comunidades indígenas: reserva indígena Taba dos Anacé e terra


indígena declarada Tapeba;
• Comunidades quilombolas: Boqueirão das Araras, Caetanos de
Capuan, Cercadão dos Dicetas, Porteiras, Serra do Juá, Serra da
Conceição, Serra da Rajada, Deserto e Boqueirãozinho;
• Comunidades romani: cerca de 70 romani da etnia Calon vivem
na zona rural do distrito de Catuana;
• Pescadores artesanais: cerca de 228 pescadores vivendo
principalmente nas localidades de Iparana e Cumbuco.

O município de Caucaia possui tombamentos registrados pelo IPHAN,


como o prédio da Casa de Câmara e Cadeia Pública, localizado no centro
histórico da sede urbana do município. Além disso, 24 sítios arqueológicos
localizados em Caucaia estão cadastrados no IPHAN.

Na AID, a localidade de Matões é composta por cerca de 3.200 famílias,


correspondendo a aproximadamente 9.000 habitantes. A economia da localidade
está voltada para a agricultura de subsistência (feijão, milho, mandioca, hortaliças
e frutas) e pecuária (caprinos, ovinos, galinhas e suínos). Apesar da proximidade
ao CIPP, não grande influência do setor industrial na geração de empregos na
localidade, tendo mais relevância os setores de comércio e serviços.

A localidade de Planalto Cauípe é formada por cerca de 500 famílias,


correspondendo a cerca de 1.800 habitantes. A comunidade é essencialmente
rural, se dedicando à agricultura de subsistência (feijão, milho, batata doce e
mandioca) e pecuária (galinhas, caprinos, ovinos e suínos). Vale ressaltar a
existência de aldeias indígenas Anacé na comunidade, a saber: Carneiros,
Coqueiro, Jucurutu, Pirapora, Taboleiro e Tanupaba.

3.3.4. Restrições ambientais

A Figura 3 mostra o mapa de restrições ambientais do empreendimento,


produzido a partir dos estudos dos meios físico, biótico e socioeconômico. No
terreno da planta de produção de hidrogênio e amônia verde, percebe-se a
presença de Áreas de Proteção Permanente (APP) decorrentes da ocorrência de
corpos d’água no local. A linha de transmissão que compõe o empreendimento
Figura 3 – Mapa de restrições ambientais do empreendimento. Fonte: [1]
também cruza APPs, além de requerer que algumas de suas torres sejam
instaladas dentro dessas áreas de proteção.

A faixa de dutos que liga a planta ao porto cruza APPs, além de estar
parcialmente situada dentro de área de dunas, que, com base na Resolução
CONAMA 303/2002, deve ser protegida de intervenções antrópicas. Entretanto,
como a instalação dos dutos configuraria uma obra de utilidade pública e
interesse social, a intervenção nessa área é permitida, conforme previsto na Lei
12.651/2012, o Código Florestal.

3.4. Impactos ambientais

Essa seção visa identificar os impactos ambientais decorrentes da


instalação e operação do empreendimento e avaliar seu grau de intensidade. O
impacto ambiental pode ser definido como qualquer alteração das características
físicas, bióticas ou socioeconômicas do sistema ambiental causada pelas ações
do empreendimento, as quais possam afetar direta ou indiretamente o
comportamento das componentes do sistema ambiental nas áreas de influência
do empreendimento.

A identificação e análise dos impactos ambientais se valeu da metodologia


de listagem sequenciada de causas e efeitos. Os impactos foram avaliados em
relação a sua natureza (positivo ou negativo), magnitude (baixa, média ou alta),
importância (baixa, média ou alta), duração (temporário ou permanente),
reversibilidade (reversível ou irreversível), ordem (primária ou secundária),
temporalidade (curto, médio ou longo prazo), abrangência (direta ou indireta),
cumulatividade (cumulativo ou não cumulativo), sinergia (sinérgico ou não
sinérgico) e probabilidade (baixa, média ou alta).

Por brevidade, não é possível listar nesse relatório todos os impactos


identificados, mas, avaliando o panorama geral dos resultados da avaliação,
chegou-se a um total de 293 impactos, sendo 179 negativos e 114 positivos.

Os impactos sobre o meio físico se dividem em 85 negativos e 19 positivos,


em maioria ocorrendo durante a fase de implantação do empreendimento. Um
total de 112 impactos sobre o meio bióticos foram apontados, sendo 97 negativos
e 15 positivos, em maioria ocorrendo durante a fase de implantação. Já sobre o
meio socioeconômico, 102 impactos considerados positivos foram identificados,
enquanto 79 negativos foram totalizados.

Em relação às fases do empreendimento, 44 impactos foram previstos


durante a fase de projetos e estudos (43 positivos e 1 negativo), 212 impactos
durante a implantação (56 positivos e 156 negativos) e 37 durante a fase de
operação (15 positivos e 22 negativos).

3.5. Propostas de medidas mitigadoras

Com base nos impactos ambientais levantados, foram propostas medidas


com o objetivo de mitigar, anular ou corrigir os impactos causados. De modo a
viabilizar e direcionar sua execução, as medidas foram agrupadas e divididas em
planos e programas. São eles:

• Plano Ambiental para Construção (PAC): contendo programas de


sinalização das obras do empreendimento, de capacitação técnica
e aproveitamento de mão de obra, de proteção do trabalhador e
segurança do ambiente de trabalho, de conservação paisagística,
de desmatamento racional, de gerenciamento de resíduos sólidos,
de monitoramento de efluentes líquidos, de recuperação de áreas
degradadas e de prevenção e monitoramento de processos
erosivos;
• Plano de Gestão Ambiental: contendo programas de comunicação
social para comunidades circunvizinhas ao empreendimento, de
educação ambiental, de monitoramento da saúde das populações
circunvizinhas ao empreendimento, de salvamento, resgate e
destinação da fauna silvestre, de monitoramento dos níveis de
ruídos, de monitoramento de vibrações, de monitoramento da
qualidade da água superficial e subterrânea, de monitoramento da
qualidade do ar e emissões atmosféricas, de monitoramento da
qualidade do solo, de monitoramento da fauna atropelada, de
monitoramento da biota aquática e de monitoramento da fauna;
• Planos e Programas Especiais: compostos por programas de
resgate de achados do patrimônio arqueológico, de gerenciamento
de riscos, de ação de emergência, de auditoria ambiental e de
eventual desativação e desmobilização do empreendimento.

O prognóstico ambiental compara cenários de implantação e não


implantação do empreendimento para pôr em perspectiva os impactos positivos
e negativos levantados no estudo e estimar a evolução do meio ambiente
circundante.

De maneira geral, o cenário de implantação do empreendimento prevê


profundas alterações nos meios físico e biótico durante a fase de implantação,
afetando negativamente a qualidade ambiental da ADA durante o processo de
instalação. Nas AID e AII, alega-se que os efeitos serão em sua maioria benéficos,
como aumento de oferta de empregos e melhoria do nível de vida da população
circundante.

O cenário de não implantação do empreendimento é focado nos impactos


econômicos negativos, como atraso no desenvolvimento do estado e perda de
arrecadação tributária e de novos postos de trabalho. Do ponto de vista
ambiental, alega-se que, apesar de manter intocado o meio ambiente local, o
interesse público de instalação de uma planta de hidrogênio verde leva a crer
que outro empreendimento de mesma natureza se implantaria no local.

4. Análise

Frente ao exposto pelo Estudo de Impacto Ambiental e considerando o


prognóstico ambiental apresentado, é possível fazer algumas pontuações acerca
do empreendimento.

A implantação de um empreendimento de grande porte e alinhado com


objetivos governamentais, como o projeto em questão, exige atenção do ponto
de vista ambiental. Embora exista o interesse público em um projeto relacionado
à necessidade de descarbonização, não é razoável que se sacrifique o meio
ambiente e o bem-estar das comunidades locais em nome de um suposto bem
maior.

Ainda que o empreendimento esteja localizando em zona industrial,


estando afastado de grandes centros urbanos ou unidades de conservação, há
pontos de atenção no que toca a parte ambiental, como a necessidade de
intervenção em zona de dunas. A aderência aos planos e medidas mitigadoras
deve ser estrita para minimizar os danos a esse sistema ambiental. As propostas
de medidas mitigatórias poderão ser eficazes e eficientes, se aplicadas e
fiscalizadas de forma adequada.

Durante a operação da planta, é importante ressaltar o descarte da


salmoura concentrada efluente do processo de dessalinização da água do mar, o
qual está estimado em uma vazão de 55.318 toneladas por dia. O descarte dessa
grande quantidade de salmoura com alta salinidade concentrada em uma
pequena área pode causar danos à biota aquática da região, consequentemente
causando transtornos aos pescadores artesanais que porventura atuem naquela
área.

No âmbito socioeconômico, é inegável a necessidade de mão de obra para


a implantação de um empreendimento desse porte. Considerando, entretanto, o
alto grau de especialização necessário para grande parte das atividades de
construção da planta, e o modo como atuam as empresas de EPC (Engineering,
Procurement & Construction) que constroem e operam esse tipo de planta
industrial, é difícil crer que haja grande absorção da mão de obra das
comunidades locais para além de atividades temporárias braçais e de baixo grau
de especialização. Isso enfraquece a tese de que a instalação da planta traga um
impacto positivo a médio e longo prazo de geração de empregos para as
comunidades locais. A hipótese mais provável e mais replicada em outras
indústrias localizadas na região do CIPP é de que a mão de obra especializada
seja trazida de Fortaleza, ou até mesmo de outros estados ou países.
5. Conclusões

Esse relatório buscou apresentar e analisar o Estudo de Impacto Ambiental


e o Relatório de Impacto Ambiental do projeto de implantação da Planta
Fortescue de Hidrogênio Verde, de propriedade da Brasil Fortescue Sustainable
Industries Ltda. Apresentou-se os principais pontos abordados no EIA, além da
legislação pertinente e das propostas de medidas mitigatórias apresentadas.

O Estudo apresentado cumpre os requisitos da legislação para o processo


de obtenção da Licença Prévia, a qual foi emitida em novembro de 2023. As
propostas de medidas mitigatórias em geral podem ser eficazes na diminuição
ou anulação dos impactos previstos, se executadas e fiscalizadas de forma
adequada.

Como pontos de atenção em relação ao Estudo, pode-se citar a questão


do descarte de salmoura da dessalinização e seu efeito no bioma aquático e
atividade econômica de pesca artesanal. Além disso, merece atenção, e talvez
estudos mais aprofundados, o possível efeito da implantação e operação do
empreendimento sobre a população economicamente ativa das áreas de
influência do projeto e o verdadeiro grau de absorção da mão de obra local pelo
empreendimento.

6. Referências

[1] Geo Soluções Ambientais Ltda., Wood Group Engineering and


Productions Facilities Brasil Ltda., “Estudo de Impacto Ambiental - Planta
Fortescue de Hidrogênio Verde,” SEMACE, Caucaia e São Gonçalo do
Amarante, 2023.
[2] Brasil, Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, 1988.

[3] Brasil, Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, Brasília, 1981.

[4] Brasil, Resolução CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997,


Brasília, 1997.
[5] Brasil, Resolução CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986, Brasília,
1986.
[6] ICMBio, “Critérios de Avaliação de Espécies Ameaçadas - IUCN,”
2012. [Online]. Disponível em:
https://www.icmbio.gov.br/ran/images/Arquivos/especies_ameacadas/c
ategorias_criterios_iucn_2012.pdf.
[7] IBGE, “Censo 2022,” 2022. [Online]. Disponível em:
https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/.
[8] Brasil, Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, Brasília, 2012.

Você também pode gostar