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1- Introdução
O presente artigo analisa as estratégias recentes de expansão de
mercados das empresas do setor agroalimentar, enfatizando as mudanças na
demanda e a diversificação da oferta. Nas últimas duas décadas o consumo de
alimentos sofreu fortes alterações no Brasil, com introdução de novos produtos,
associados a novos hábitos e mesmo a novos tipos de consumidor. Com a
relativa estabilização do movimento de urbanização, a partir da década de
1990, e a consolidação de uma classe média e alta com bom poder aquisitivo,
somadas às mudanças no setor agroalimentar, possibilitaram nova mudança
qualitativa no padrão de alimentação, pouco explorada nos trabalhos sobre
a temática.
Uma das mudanças mais importantes refere-se ao aumento acelerado
da alimentação realizada fora do lar. Dados de ABIA (2003) dão conta que de
1994 a 2001 o mercado de alimentação fora do lar (“food service”) cresceu
190,7% (16,5% ao ano) ao passo que o varejo tradicional de alimentos cresceu
71,8% no mesmo período. O faturamento das redes de fast food passou de R$
1,83 bilhões em 1995 para 3,17 bilhões em 2001 (ABIA, 2003) 1. Os dados
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Um exemplo de como o fast food está se difundindo mesmo entre as camadas de mais baixa
renda é a rede Habibs. Esta comercializa, produtos de baixos valores acessíveis a todas as faixas
de renda (uma esfiha custa em torno de R$ 0,60 centavos). Segundo dados de ABIA (2003), o
Habibs está em expansão, já presente em 9 estados brasileiros com 165 lojas, 7 mil empregados
diretos e uma média de 8 milhões de clientes/mês. Já a rede Mcdonalds atende um público de
classe média e camadas de renda mais elevada. Há mais tempo no país, a rede possui mais de mil
pontos de venda com 34 mil funcionários. A indústria da alimentação percebeu que a conquista
do consumidor de menor renda é fundamental para a expansão do setor, como fica claro na
análise da própria ABIA: “Para tornar o potencial de crescimento em realidade de mercado, os
operadores Food Service e seus parceiros terão em suas mãos o desafio de conquistar e seduzir
consumidores com menor nível de renda e, portanto, mais seletivos na aquisição de produtos e
serviços” (ABIA, 2003, p. 110). Outro dado indicativo do aumento do consumo fora do lar, é o
número de estabelecimentos de alimentação. Em 1990 havia apenas 45 lojas de conveniência no
problemático, uma vez que este depende cada vez menos da relação preço/
quantidade ofertada e cada vez mais dos padrões da demanda.
Na tabela nº 1 constam os dados da elasticidade-renda da despesa
com alimentos, calculada por Hoffman (2000 e 2007) a partir dos dados da
POF 1996 e 2002-2003. Na tabela nº 2 constam os dados da evolução do
consumo físico de alimentos percapita a partir dos dados da POF, vários anos.
Tabela nº 1- Elasticidade-renda da despesa com alimentos selecionados
1996 2003
Alimento
Elasticidade Média Elasticidade Média
Arroz 0,016 0,000
Feijão -0,024 -0,038
Alface 0,462 0,638
Cebola 0,167 0,321
Tomate 0,264 0,369
Alho* 0,424 0,362
Batata-inglesa 0,263 0,437
Cenoura 0,331 0,504
Mandioca* 0,472 0,216
Farinha de Mandioca -0,361 -0,526
Farinha de Trigo 0,118 0,204
Macarrão 0,177 0,225
Macarrão sem ovos s/d 0,158
Macarrão com Ovos s/d 0,337
Pão Francês 0,091 0,343
Carne Bovina de Primeira 0,491 0,588
Carne Bovina de Segunda 0,037 0,147
Mortadela* 0,206 0,233
Presunto* 0,852 0,999
Frango 0,162 0,211
Leite de vaca 0,292 0,441
Leite Condensado s/d 0,706
Queijo 0,689 0,908
Iogurte s/d 0,674
Açúcar Cristal -0,199 -0,092
Açúcar Refinado 0,127 0,174
Maionese 0,379 0,646
Azeite 0,846 1,170
Óleo de Soja 0,038 0,086
Margarina* 0,194 0,345
Aguardente de Cana s/d 0,260
Cerveja 0,603 0,811
Vinho s/d 0,996
Café Moído 0,100 0,166
Fonte: Hoffmann (2000 e 2007). Com exceção dos produtos indicados com * cujos cálculos para 1996 foram
extraídos de Silveira e Menezes et al (2007).
PRODUTOS SELECIONADOS
períodos, sem perder o sabor, o frescor etc, como produzir salames e defumados
em grande escala, mas mantendo as características artesanais? Como produzir
industrialmente pratos com misturas complexas de ingredientes e temperos
com diferentes perecibilidades como o arroz carreteiro, com um sabor
agradável e prazo razoável de validade? Como produzir alimentos que ao
serem aquecidos no forno microondas mantenham suas qualidades?
Ao lado da produção industrial de alimentos tradicionais, ocorre
o desenvolvimento de novos alimentos que vem provocando aumento
da demanda pela substituição dos alimentos tradicionais, pela criação
de novos hábitos de consumo e pelo desenvolvimento do consumo
dos “alimentos funcionais”, o qual se constitui no único novo mercado,
rigorosamente falando, criado para a alimentação. Dentre os novos tipos de
alimentos, merecem destaque os produtos diet e light: margarinas, iogurtes,
sobremesas, refrigerantes, adoçantes, sucos entre muitos outros. As indústrias
desenvolveram inúmeras linhas de produtos dietéticos e de baixa caloria
objetivando conquistar os consumidores mais preocupados com o consumo
excessivo de gorduras e açúcares. Segundo dados da Associação Brasileira das
Indústrias de Alimentos Dietéticos- ABIAD, em ABIA (2003), as vendas de
alimentos diet e light passaram de US$ 160 milhões em 1990 para 1,5 bilhão
em 2000.
As empresas internalizam o desenvolvimento de inovações que
representem ganho imediato de posições de mercado e mesmo de criação de
novos nichos de mercado 6. Isto abrange, em geral produtos com características
exclusivas, passíveis inclusive de registro de patentes os quais exigem também,
estratégias exclusivas de marketing, em especial quando demandam novos
hábitos de consumo ou quando concorrem com produtos tradicionais.
No primeiro caso, podemos citar como exemplo o iogurte Activia,
desenvolvido pela Danone em seu laboratório de P&D localizado em Paris. O
Activia contém lactobacilos que auxiliam na regulação das funções intestinais
e no combate à prisão de ventre. A estratégia de divulgação abrangeu forte
campanha na mídia, bem como contato direto com consumidores nos pontos
de venda, com degustação e contatos com profissionais da área de saúde. A
estratégia de diferenciação, neste caso, não se limitou à novidade ligada à
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A busca de inovações em processos genéricos, que visem aumento de produtividade e redução
de custos são tratados como externalidades e deixados a cargo das indústrias de equipamentos,
das consultorias em gestão e organização da produção e empresas de pesquisa públicas, com
destaque para a Embrapa que possui grande abrangência setorial e espacial. Na indústria de
alimentos ocorre uma cooperação entre as empresas no âmbito da troca de informações quanto
aos processos básicos à obtenção e padronização de matérias-primas. As associações empresariais
oferecem informações, cursos, realizam seminários dos quais participam técnicos e dirigentes
de empresas concorrentes, além de manterem publicações a respeito de processos produtivos,
equipamentos, novas tecnologias, tendências de mercado etc.
Considerações Finais
A relação entre a diferenciação em produtos e a demanda por alimentos
é fundamental pois a inovação tornou-se motor da mudança nos padrões
da demanda por alimentos e na dinâmica e comportamento das empresas
do setor agroalimentar. Esta se relaciona diretamente às demais estratégias
de reestruturação que vem sendo adotadas, como inovação em processos,
construção de novas unidades produtivas, novas relações de contratos com
fornecedores e clientes, novas estruturas de transporte e armazenagem para
alimentos com novas características, F&A entre outras.
Referências Bibliográficas