Você está na página 1de 33

Solução de EDO via séries de potências

Exemplos

Pryscilla Silva1

1 UESC

13/01/2020
Exemplo de solução de uma EDO utilizando séries

y 00 − xy 0 + 2y = 0

I Tanto a função y 0 quanto a função y são multiplicadas por


duas funções analı́ticas em torno de 0, a saber p(x) = −x e
q(x) = 2;
I Isso nos permite tentar investigar uma solução por séries de
potências;
+∞
X
I Para isso, vamos supor que y = an x n uma série de
n=0
potências em torno de 0;
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
O cálculo de −xy 0
I Podemos derivar uma série de potências termo a termo,
dentro do seu raio de convergência;
+∞
X
y0 = (an x n )0
n=0

y 0 = 0 + a1 + 2a2 x + 3a3 x 2 + · · ·

+∞
X
y0 = (n + 1)an+1 x n
n=0
+∞
X
−xy 0 = −x (n + 1)an+1 x n
n=0
+∞
X
−xy 0 = −(n + 1)an+1 x n+1
n=0
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
O cálculo de y 00

Já temos:
+∞
X
y0 = (n + 1)an+1 x n
n=0
+∞
X
00
y = ((n + 1)an+1 x n )0
n=0

y 00 = 0 + 2a2 + 2 · 3 · a3 · x + 3 · 4 · a4 · x 2 · · ·

+∞
X
y 00 = (n + 1)(n + 2)an+2 x n
n=0
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an

+∞
X
2y = 2an x n
n=0

+∞
X
−xy 0 = −nan x n
n=0

+∞
X
y 00 = (n + 1)(n + 2)an+2 x n
n=0
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an

+∞
X +∞
X +∞
X
y 00 − xy 0 + 2y = (n + 1)(n + 2)an+2 x n + −nan x n + 2an x n
n=0 n=0 n=0

+∞
X
y 00 − xy 0 + 2y = ((n + 1)(n + 2)an+2 + −nan + 2an )x n
n=0

+∞
X
y 00 − xy 0 + 2y = ((n + 1)(n + 2)an+2 + (−n + 2)an )x n = 0
n=0
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an

+∞
X +∞
X
y 00 − xy 0 + 2y = ((n + 1)(n + 2)an+2 + (−n + 2)an )x n = 0 = 0 · xn
n=0 n=0

Séries de potências são como polinômios:

((n + 1)(n + 2)an+2 + (−n + 2)an ) = 0


(n − 2)an
an+2 =
(n + 1)(n + 2)
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an
Note que os termos são relacionados de 2 em 2,o que nos permite
analisar o que ocorre com os termos ı́mpares e com os termos
pares separadamente. Além disso, o termo seguinte depende do
termo anterior. Ou seja, nós temos uma recorrência.

(0 − 2)a0
a0+2 =
(0 + 1)(0 + 2)
a2 = −a0
(2 − 2)a2
a2+2 =
(2 + 1)(2 + 2)
a4 =0
(4 − 2)a4
a6 =
(4 + 1)(4 + 2)
a6 =0
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an , para n par

Por fim temos,

a2 = −a0
an = 0, para todo n par maior que 2.
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an , para n ı́mpar

(1 − 2)a0
a1+2 =
(1 + 1)(1 + 2)
−a1 −a1
a3 = =
6 3!
(3 − 2)a3
a3+2 =
(3 + 1)(3 + 2)
−a1
3!
a5 =
4·5
−a1
a5 =
5!
(5 − 2)a5
a5+2 =
(5 + 1)(5 + 2)
3 −a 1
a7 = 5!
6·7
−3a1
a7 =
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Descobrindo os an , para n ı́mpar

Por fim temos,


−a1
a3 =
3!
(n − 4) · an−2
an =
(n − 1)n
a1
−(n − 4) · (n−2)!
an =
(n − 1)n

−(n − 4) · a1
an = , com n ı́mpar
n!
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Uma provável solução geral

Com os cálculos anteriores obtemos:


+∞
X
y= an x n .
n=0

A série só tem termos pares até a2 .


+∞
X
y = a0 − a0 x 2 + a2n+1 x 2n+1
n=0

Assim como o a0 , a1 é um termo independente. Ele é o primeiro


termo da recorrência:
+∞
X
2
y = a0 (1 − x ) + a1 x a2n+1 x 2n+1
n=1
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Uma provável solução geral

+∞
X
2
y = a0 (1 − x ) + a1 x a2n+1 x 2n+1
n=1

Utilizando as fórmulas anteriores:


+∞
x3 X (2n + 1 − 4)x 2n+1
y = a0 (1 − x 2 ) + a1 x − a1 −a1
3! (2n + 1)!
n=2

+∞
2 x 3 X (2n − 3)x 2n+1
y = a0 (1 − x ) + a1 (x − − )
3! (2n + 1)!
n=2
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Uma provável solução geral: o que encontramos até agora

Considerando:
y1 (x) = 1 − x 2

+∞
x 3 X (2n − 3)x 2n+1
y2 (x) = x − − )
3! (2n + 1)!
n=2

O que obtivemos é que:

y (x) = a0 y1 (x) + a1 y2 (x)


É uma solução da EDO, dentro do seu raio de convergência
(VERIFIQUE COMO EXERCÍCIO).
Pelo Teorema de Existência e Unicidade, se o conjunto {y1 , y2 }
for LI, então y é na verdade a solução geral da EDO homogênea
de segunda ordem.
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Provando que y1 , y2 é LI.

Para isso vamos utilizar dois recursos.


(2n−3)x 2n+1
I Primeiro vamos reescrever a série +∞
P
n=2 (2n+1)! em termos
de algo conhecido;
I Depois, vamos usar um novo truque para verificar se um
conjunto de funções é LI.
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
P+∞ (2n−3)x 2n+1
Reescrevendo a série n=2 (2n+1)!

Sabemos que:
+∞ n
X x
ex =
n!
n=0

Note que, com os devidos ajustes, a série anterior é muito parecida


com a série da exponencial, se considerarmos apenas os termos
ı́mpares. Existem duas funções que fazem esse trabalho de
considerar só termos pares ou só termos ı́mpares da expansão
exponencial, a saber: seno e cosseno hiperbólicos.
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
P+∞ (2n−3)x 2n+1
Reescrevendo a série n=2 (2n+1)!

+∞
e x − e −x X x 2n+1
senh(x) = =
2 (2n + 1)!
n=0

+∞
e x + e −x X x 2n
cosh(x) = =
2 (2n)!
n=0
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
P+∞ (2n−3)x 2n+1
Reescrevendo a série n=2 (2n+1)!

Note que:

+∞ +∞
X (2n − 3)x 2n+1 X (2n + 1 − 4)x 2n+1
=
(2n + 1)! (2n + 1)!
n=2 n=2
+∞
X (2n + 1)x 2n+1 x 2n+1
= ( −4 )
(2n + 1)! (2n + 1)!
n=2
+∞ +∞
X (2n + 1)x 2n+1 X x 2n+1
= −4
(2n + 1)! (2n + 1)!
n=2 n=2
+∞ +∞
X x 2n X x 2n+1
=x −4
(2n)! (2n + 1)!
n=2 n=2
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
P+∞ (2n−3)x 2n+1
Reescrevendo a série n=2 (2n+1)!

Note que:

+∞ +∞ +∞
X (2n − 3)x 2n+1 X x 2n X x 2n+1
=x −4
(2n + 1)! (2n)! (2n + 1)!
n=2 n=2 n=2
x2 x3
= x(cosh(x) − x − ) + −4(senh(x) − x − )
2 6
x3 4x 3
= xcosh(x) − x − − 4senh(x) + 4x +
2 6
x3
= 3x + + xcosh(x) − 4senh(x)
6
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Verificando de {y1 , y2 } é LI

Por fim,
+∞
x 3 X (2n − 3)x 2n+1
y2 = x − − )
3! (2n + 1)!
n=2
x3 x3
=x− + xcosh(x) − 4senh(x)
+ 3x +
3! 6
= 4x + xcosh(x) − 4senh(x)
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Verificando se {y1 , y2 } é LI

Considere uma combinação

Ay1 (x) + By2 (x) = 0 = 0(x)

Suponha, por absurdo que B 6= 0. Em particular se x = 1,

A(1 − 12 ) + B(4 + cosh(1) − 4senh(1)) = 0

e + e −1 4e − 4e −1
B · (4 + − )=0
2 2

−3e + 5e −1
B · (4 + )=0
2

UM ABSURDO
Os cálculos para y 00 − xy 0 + 2y = 0
Verificando se {y1 , y2 } é LI

Considere uma combinação

Ay1 (x) + By2 (x) = 0 = 0(x)

Suponha, por absurdo que A 6= 0. Em particular se x = 0,

A(1 − 02 ) + B(4 · 0 + 0cosh(0) − 4senh(0)) = 0

A=0

UM ABSURDO
Assim não podemos ter A 6= 0 ou B 6= 0, o que obriga A = B = 0
e {y1 , y2 } é LI.
As equações de Legendre

(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + k(k + 1)y = 0


Com k um número inteiro positivo.

2x k(k + 1)
y 00 − 2
y0 + y =0
1−x 1 − x2

Note que, para x 2 < 1 (−1 < x < 1) temos



1 X
= x 2n
1 − x2
n=0

Logo a EDO está nas condições que precisamos.


As equações de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + k(k + 1)y = 0
Utilizando séries de potências
+∞
X
y0 = (an x n )0
n=0

y 0 = 0 + a1 + 2a2 x + 3a3 x 2 + · · ·

+∞
X
y0 = (n + 1)an+1 x n
n=0
+∞
X
−2xy 0 = −2x (n + 1)an+1 x n
n=0
+∞
X
−2xy 0 = −2(n + 1)an+1 x n+1
n=0

+∞
X
−2xy 0 = −2nan x n
n=0
As equações de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + k(k + 1)y = 0
Utilizando séries de potências

Já temos:
+∞
0 n
X
y = (n + 1)an+1 x
n=0

+∞
00 n 0
X
y = ((n + 1)an+1 x )
n=0

00 2
y = 0 + 2a2 + 2 · 3 · a3 · x + 3 · 4 · a4 · x · · ·

+∞
00 n
X
y = (n + 1)(n + 2)an+2 x
n=0

+∞ +∞
2 00 n n+2
X X
(1 − x )y = (n + 1)(n + 2)an+2 x + (−n + 1)(n + 2)an+2 x
n=0 n=0

+∞ +∞
2 00 n n
X X
(1 − x )y = (n + 1)(n + 2)an+2 x + −(n − 1)nan x
n=0 n=0
As equações de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + k(k + 1)y = 0
Utilizando séries de potências
2 00 0
(1 − x )y − 2xy + k(k + 1)y = 0

+∞ +∞ +∞ +∞
n n n n
X X X X
(n + 1)(n + 2)an+2 x + −(n − 1)nan x + −2nan x + k(k + 1)an x =0
n=0 n=0 n=0 n=0

+∞
n
X
((n + 1)(n + 2)an+2 − (n − 1)nan − 2nan + k(k + 1)an )x =0
n=0

+∞
n
X
((n + 1)(n + 2)an+2 + (−(n − 1)n − 2n + k(k + 1))an )x =0
n=0

+∞
n
X
((n + 1)(n + 2)an+2 + (n(−(n − 1) − 2) + k(k + 1))an )x =0
n=0

+∞
n
X
((n + 1)(n + 2)an+2 + (n(−n − 1) + k(k + 1))an )x =0
n=0

+∞
n
X
((n + 1)(n + 2)an+2 + (−n(n + 1) + k(k + 1))an )x =0
n=0
As equações de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + k(k + 1)y = 0
Utilizando séries de potências

((n + 1)(n + 2)an+2 + (−n(n + 1) + k(k + 1))an = 0

(n(n + 1) − k(k + 1))an


an+2 =
(n + 1)(n + 2)
As equações de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + k(k + 1)y = 0
Utilizando séries de potências

(n(n + 1) − k(k + 1))an


an+2 =
(n + 1)(n + 2)

I Assim como no exemplo anterior, os termos da sequência an


são descritos por recorrência e a caracterização se divide entre
os termos pares e ı́mpares;
I Note que, para k = n, an+2 = 0;
I Assim se k for par, termos apenas uma quantidade finita de
termos pares;
I Se k for ı́mpar, termos apenas uma quantidade finita de
termos ı́mpares;
Exemplo de equação de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + 2y = 0, k = 1
Utilizando séries de potências- termos ı́mpares

Neste caso,
(2 − 2)a1
a3 = = 0 = a2n+1 , n ≥ 2.
2·3
Exemplo de equação de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + 2y = 0, k = 1
Utilizando séries de potências-termos pares
Neste caso,
(0(0 + 1) − 2)a0 −2a0
a2 = a0+2 = = = −a0
(0 + 1)(0 + 2) 2
(2(2 + 1) − 2)a2 −4a0 −a0
a4 = a2+2 = = =
(2 + 1)(2 + 2) 12 3

(n − 2)(n − 1) − 2) · an−2
an =
(n − 1)n
−a0
(n(n − 1) − 2n + 2 − 2) · n−1
=
(n − 1)n
−a0
n(n − 1 − 2) · n−3
=
(n − 1)n
−a0
n(n − 3) · n−3
=
(n − 1)n
−a0
=
n−1
Exemplo de equação de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + 2y = 0, k = 1
Utilizando séries de potências

a0 4 a0 6
y = a0 + a1 x − a0 x 2 − x − x + ···
3 5
+∞
X x 2n
y = a1 x + a0 (1 − )
2n − 1
n=1
Exemplo de equação de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + 2y = 0
x 2n
P+∞
Reescrevendo n=1 2n−1

Agora vamos utilizar


+∞
X x 2n+1
1 1+x
arctgh(x) = ln( )=
2 1−x 2n + 1
n=0

+∞ +∞ 2n−1 +∞ 2n+1
X x 2n X x X x
=x =x = xarctgh(x)
2n − 1 2n − 1 2n + 1
n=1 n=1 n=0
Exemplo de equação de Legendre
(1 − x 2 )y 00 − 2xy 0 + 2y = 0
Verificando se {y1 , y2 } é LI

Ax + B(1 − xarctgh(x)) = 0
Para x = 0, temos B = 0. Calculando o limx→1− xln( 1+x 1−x ) = +∞,
obtemos que existe s 6= 0 tal que s · arctgh(s) = 1, isso é suficiente
para garantir que A = 0.

Você também pode gostar