Você está na página 1de 3

São Paulo, cidade-global: O fato mediático

Tendo como exemplo cidades como Nova York, Londres e Tóquio, as teorias de sobre a ''cidade-
global'' alegam que a perda da atividade industrial fordista-taylorista estariam submetendo as
cidades a uma nova dinâmica, devido as relações internacionais de capital, desregulação da
economia, sugerindo novos edificios, serviços e equipamentos para atender as exigências de um
moderno setor economico.

A cidade de Sâo Paulo então, passou a ser vista como uma potencial cidade-global, papel esse que
foi divulgado na midia, discutido na academia e causando grande festividade no capital imobiliario.
Com o aumento significativo de megaempreendimentos imobiliarios terciários, isto parece ser o
suficiente para afirmar que a cidade se tornou uma cidade-global, porém, podemos observar que os
motivos que levaram estes diversos setores, a defenderem a ideia do ''global'' são muito variados.

Segundo o autor, a academia nada mais fez do que reproduzir algo sem fundamentar, criando
teorias que muitas vezes não fazem sentido na prática, o mercado imobiliario por sua vez, inserido
no grupo social das ''classes dominantes'', age de maneira muito natural nesse cenário de
investimentos. Já o poder público, apoiou a cidade global por motivos mais complexos; na década de
80, cidades norte-americanas e européias estavam vivendo uma crise de desemprego e intensa
desconcentração industrial, surgiu a possibilidade de criar parcerias com milionárias com o setor
privado e consequentemente a construção de novos polos que seriam capazes de atrair grandes
empresas; esta foi a salvação de alguns prefeitos que estavam no poder. Grandes investimentos
culturais, podem trazer para a cidade visibilidade e transformar cidades quase fálidas, em
verdadeiros pólos, isso acontece inclusive com Copa do Mundo, Olímpiadas.

Fica muito claro que todas essas estratégias, favorecem o setor privado e na maioria das vezes são
aplaudidos pela população, que acredita que esses ''investimentos culturais'' são portas para o
crescimento da cidade, mas na verdade nada mais são do que máscaras ideológicas.

O primeiro atributo para uma cidade ser global, é um número considerável de sede de empresas
transnacionais, com bolsa de valores de importância internacional, aeroportos, rede de hotelaria de
primeira linha. Estes atributos criam uma hierarquia de centros que estão interconectados.

O segundo, é analisar até que ponto é importante para uma cidade, novas atividades terciárias de
comércio e serviço que substituem as atividades secundárias industriais e como esse novo setor
econômico chamado de ''terciário avançado'' (empresas ligadas à tecnologias, marketing, assessoria
jurídica) pode impactar na economia da cidade. (Região da marginal Pinheiros, tem um pólo terciário
avançado). A terceiro, é procurar entender a origem do capital imobiliário.

A cidade de São Paulo não tem nenhum destes atributos, sendo assim, podemos concluir que a
imagem de ''cidade-global'', é exatamente isso, apenas uma imagem ideológica para garantir seus
interesses.

O MITO DA TERCEIRIZAÇÃO DO EMPREGO E DAS ''CENTRALIDADES DO TERCIÁRIO AVANÇADO''

São Paulo, por ser o coração do país, sempre abrigou indústrias, principalmente na região do ABC,
mas a cidade é caracterizada por empresas terciárias e mesmo que tenha havido uma transformação
dos empregos industriais para os serviços, ainda assim, não é possível dizer que tem relação com os
avanços da ''globalização''.

A desindustrialização não está ligada ao fato de empresas terceirizadas terem um papel mais
evidente na economia da cidade e sim ao fato de que uma intensa urbanização está acontecendo e
com isto, havendo uma valorização fundiária e consequentemente não sobrando espaço para as
indústrias dentro do núcleo da cidade.

A região da marginal Pinheiros, aclamada por concentrar empresas (Denominadas de terciário


avançado), perde sua importância se comparada a avenida Paulista, pólo surgido muito tempo antes
(dec 70) e que hoje é dita como ''em decadência''. As duas regiões, comportam 5,66% das empresas
do ''terciário avançado'', o restante quase 95%, estão espalhadas pela cidade ao invés de estarem
centralizadas. A região da Marginal Pinheiros, perde ainda mais sua importância ao constatar que
estas empresas representam apenas 0,50% do total.

O MITO DA INTERNACIONALIZAÇÃO DO CAPITAL IMOBILIÁRIO

A terceira forma de analisar a globalidade de São Paulo, seria entender a origem do que fez a região
de Pinheiros se tornar uma suporta ''centralidade terciária global''.

A presença de grandes empresas internacionais como Microsoft, Compaq, Intel ou Nokia trouxeram
visibilidade para esta região e reforçou a ideia de globalidade, incentivando ideologos a se
inspirarem em cidades com cenários semelhantes, como ocorreu na Ásia (houve um forte
investimento de empresas internacionais, ocasionando um boom imobiliário, segundo David Harvey
quando um setor produtivo estagna, investe-se no setor imobiliário);

Apesar de vermos até os dias atuais, como estes escritórios da Ásia são de grande importância
mundial, isto não quer dizer que mudou a dinâmica nas cidades, a produção de escritórios foi muito
maior que a demanda, o que levou a crise de 1997. Isto também ocorreu em Londres, evidenciando
a fragilidade das centralidades terciárias globais, quando a empresa canadense (Olympia & York)
faliu em decorrência do fracasso empresarial da requalificação das docas londrinas. Londres ainda
nos mostra como projetos de revitalização e renovação urbana em regiões centrais, usando dinheiro
público na maioria das vezes, pode ser prejudicial para a igualdade social, quando estes projetos se
concretizam, a classe menos favorecida é substituida por uma classe mais rica.

A cidade de São Paulo, aparenta ser uma cidade global, mas a verdade é que a grande maioria das
empresas são nacionais. Os empreendedores locais, decidiram investir no mercado imboiliário
comercial e de serviço, por que estes são os que mais dão lucro.

A QUEM INTERESSA A ''CIDADE GLOBAL'' PAULISTANA?

É de interesse das elites fundiárias locais e investidores imobiliários, que a cidade de São Paulo seja
vista dessa forma, para a população crer que a cidade global é essencial para o desenvolvimento,
modernização, desta maneira ganha-se o incentivo da população e regiões da cidade que são
supervalorizadas. O grande conflito da cidade está na luta de classes entre incluidos e excluidos, há
um investimento muito maior na regiçao sudoeste, que privilegia elites no deslocamento pela
cidade, e incentivando uma valorização fundiária e imobiliária. No setor imobiliário de escritórios, há
uma disputa dentro dessa área para conseguir uma valorização através de recursos publicos.

Nesse processo de valorização dessas regiões, as periferias que realmente merecem atenção e
investimento público, são deixadas cada vez mais de lado, e as regiões que são revitalizadas estão
sempre expulsando para mais longe do centro da cidade, as classes menos favorecidas.

A região de Pinheiros, foi a que mais conseguiu canalizar esses investimentos e em maio de 1995
foram aprovadas duas grandes operações urbanas, ''Água Espraiada'' e ''Nova Faria Lima'', escolhidas
estrategicamente.

"Como, pela lei, os recursos arrecadados nas operações urbanas com a venda
de solo-criado devem ser, exclusivamente, aplicados na melhoria da infra-estrutura

viária da própria área da operação, tem-se a impressão que as avenidas saem “de

graça” para a cidade, financiadas pela iniciativa privada. Entretanto, se a

operação urbana se propõe a “vender” solo-criado para arrecadar fundos para a

melhoria viária, estima-se que ela só possa ser realizada em áreas nas quais o

mercado tenha interesse em comprar, sem o que a operação se torna, no jargão

do mercado, um “mico”. Assim, as decisões de políticas de planejamento urbano

acabam subordinando-se aos interesses do mercado e, para evitar “micos”, o

poder público acaba precisando fazer investimentos prévios para sinalizar ao

mercado que a área valerá o investimento. E esses investimentos nunca são

computados nos custos das operações, evidentemente. Somente na gestão Paulo

Maluf (1993-1996), a região da Faria Lima e da marginal do Pinheiros recebeu,

em cerca de três anos, pouco mais de R$ 4 bilhões em obras, a maioria

Municipais" (pag 044)

Vemos que aberturas de avenidas e tuneis, modernização das linhas de trens e de vias especificas,
interligando bairros de negócios, incentivam ainda mais a ideia de cidade global, favorecendo como
sempre, a classe mais rica da cidade. A população de certa forma, vive uma ilusão, apoiando setores
privados dominantes, pensando sempre no próprio interesse, o que prejudica o crescimento da
cidade e a torna a cada dia, mais desigual.

Você também pode gostar