Você está na página 1de 3

Curso de Arquitetura e Urbanismo - CAU

Disciplina: Estudos Sócio-Econômicos e Ambientais II


Acadêmica: Renata Lais Bogo

Análise do texto “Pátria, empresa e mercadoria”,


por Carlos B. Vainer
Com o liberalismo econômico advindo da ascensão do capitalismo, o comércio até então
local, onde os preços eram estabelecidos internamente, passou a sofrer concorrência dos preços
do mercado externo. Esse processo de globalização afeta não só as corporações de ofício, que
se tornaram fábricas e indústrias, mas também as cidades, pois atinge a economia e
consequentemente, a administração pública e a lógica dos espaços urbanos.

As cidades que estão inseridas nessa sociedade capitalista também precisam competir
pelo investimento do capital e tecnologia, já que a nova questão urbana se baseia na
competitividade urbana. Estas passam a ser vistas como mercadorias, sujeitas à propaganda e
mudanças para que haja especulação. O potencial natural, que normalmente atrai turistas, é
explorado de forma incansável, muitas vezes prejudicando a própria qualidade do ambiente
local. Investem em comércio, lazer e na especulação imobiliária, produzindo propagandas
extremamente convincentes com o intuito de atrair turistas, visando novos possíveis moradores.

Apesar de objetivo, em alguns trechos é um texto de difícil compreensão. O tema


abordado, de cidade como mercadoria e empresa reflete-se, infelizmente, em cidades do nosso
próprio estado. Balneário Camboriú é um exemplo próximo à nós onde, todos os anos, milhares
de turistas visitam e exploram a região. Essa ação não passa despercebida às grandes
empreiteiras, que estão investindo agora nos maiores arranha-céus da América do Sul. Possui
porto nacional, aeroporto e rodoviárias internacionais nas proximidades, belezas naturais que
atraem turistas e, consequentemente, se tornam mais visível aos olhos do restante do país.

Diversos famosos e pessoas influentes possuem apartamentos nessas áreas, que se


tornaram polos da especulação imobiliária. Grandes empresas já abrem filiais, além de
multinacionais que se inserem na cidade, alterando a paisagem à sua volta, construindo mais e
mais arranha-céus e ocultando as pessoas de classe baixa, que se concentram na periferia da
cidade. Florianópolis também serve como exemplo quando pensamos no bairro de Jurerê
Internacional, vista como a “Beverly Hills” de Santa Catarina, tendo o posto de terceiro bairro
mais rico do Brasil. Enquanto isso, as classes pobres tentam ser ocultadas das entradas da capital
do estado. Cidades como as citadas se vendem o tempo todo em anúncios, comerciais e
noticiários. É essencial que o marketing seja bem feito e pensado, mostrando somente as
vantagens em se morar e investir nestes locais.

Concordo com o autor quando este diz que “a venda da imagem de cidade segura muitas
vezes vai junto com a venda de cidade justa e democrática”. São vendidas como seguras pois
as classes pobres são expulsas ou realocadas à quilômetros de distância de onde moravam antes,
ou são inseridas em conjuntos habitacionais em condições insalubres, porém longe dos pontos
turísticos, das áreas centrais e dos novos e ricos moradores. Mostra-se o pensamento
preconceituoso existente nas cidades, onde a pobreza e a violência estão interligadas, e com
isso as famílias pobres devem ser ocultadas para embelezamento e segurança.

A violência se faz presente pela falta de investimento em saúde, educação, cultura e


trabalho, pois os governantes dão mais atenção à indústria turística e ao marketing, responsável
pela venda dessas “cidades ideais”, à venda de condomínios fechados e ao investimento em
infraestrutura atraente às multinacionais, que geram lucros para estes. Essas cidades
segregadas, com muros e câmeras se tornam pouco seguras pela falta de “olhos” voltados para
as ruas e pela falta de apropriação das cidades pelas pessoas.

A cidade se torna empresa quando assume voz, se torna sujeito. As cidades competem,
como se fossem empresas. Agem estrategicamente, como no mercado. Fazem parcerias entre o
público e o privado, onde o Estado intervêm a partir da necessidade e das ambições da iniciativa
privada, organizando a infraestrutura a partir da lógica das grandes empresas, detentoras de
capital financeiro. Os megaevento são estratégias na competitividade urbana. Eles servem como
pressupostos para novas obras e remodelações urbanas, muitas vezes desnecessárias para os
eventos propriamente ditos. As cidades são reconfiguradas para estarem na competição com
outras cidades.

Para a permanência desse pensamento de unidade, é preciso um consenso, uma união


para que o plano estratégico de mercadoria e o plano urbanístico de indústria vinguem. O
patriotismo é uma estratégia para que os locais sintam orgulho de sua cidade e nação. A
competição entre as cidades faz com que os habitantes participem de suas mudanças com a
crença de que usufruirão destas melhorias, tanto no âmbito das infraestruturas quanto do lazer.
Porém, esses investimentos são feitos para o interesse da iniciativa privada, não das massas.
Com esse modelo de planejamento estratégico, o Estado deixa em segundo plano o
investimento em políticas públicas, como educação, saúde, lazer e trabalho para a população
local. É um planejamento totalmente voltado aos interesses das grandes corporações e ao
mercado externo, onde a cidade se molda para atrair investimento destes, ou se une com a
iniciativa privada, usando megaeventos para maquiar investimentos que refletem o interesse de
poucos. E à população local, excluída dentro de sua própria cidade, resta a tentativa de se inserir
nas classes beneficiadas, enquanto as cidades se desenvolvem sem a participação política de
seus cidadãos.

Você também pode gostar