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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA ARTE


FACULDADE DE DANÇA
LICENCIATURA EM DANÇA
TIAGO VERGULINO DA PAIXÃO

DANÇA E RESISTÊNCIA: O CARIMBÓ DA FEIRA DO AÇAÍ EM BELÉM DO


PARÁ

BELÉM-PA
2024
INTRODUÇÃO

Na vastidão da região amazônica, onde a exuberância da natureza se entrelaça


com a complexidade das culturas humanas, emerge um cenário de constante conflito e
harmonia: uma pororoca de culturas. Desde tempos imemoriais, a identidade cultural na
Amazônia é moldada por uma diversidade intrínseca, um mosaico de etnias, tradições e
costumes que ecoam através dos séculos.

Mesmo antes da chegada dos colonizadores, quando a floresta ecoava os ritmos


dos povos indígenas, a homogeneidade era uma ilusão distante. Cada etnia que habitava
essa vasta terra, desde as margens dos grandes rios até as profundezas da selva, trazia
consigo uma riqueza única de hábitos, mitos e expressões culturais. Essa diversidade,
longe de ser um obstáculo, era o tecido que dava vida à tapeçaria cultural da Amazônia.

Neste contexto multifacetado, o carimbó da feira do açaí em Belém do Pará


emerge como uma expressão vibrante e resiliente da identidade amazônica. Num
encontro entre as águas do Rio Amazonas e as raízes culturais profundamente
enraizadas, o carimbó dança entre os estandes da feira, ecoando os ritmos ancestrais e a
resistência cultural que permeiam a história desta região.

Ao explorarmos o tema da dança e resistência no contexto do carimbó da feira


do açaí, mergulhamos não apenas em uma tradição folclórica, mas também em um
símbolo vivo da diversidade e da resiliência cultural amazônica. Este projeto se propõe
a desvendar os intricados laços entre a dança, a identidade e a resistência, destacando a
importância de preservar e celebrar as ricas tradições culturais do Carimbó como
manifestação cultural em Belém do Pará.

OBJETIVO GERAL:

Investigar e compreender o papel da dança do carimbó da feira do açaí em


Belém do Pará como uma forma de resistência cultural na região amazônica, explorando
suas origens, significados e impactos na identidade local.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

Analisar a história e as raízes culturais do carimbó, contextualizando sua


evolução e importância dentro da cultura paraense e amazônica.
Investigar o papel da feira do açaí como um espaço de encontro e expressão
cultural, examinando como o carimbó se integra nesse ambiente e contribui para a
preservação da identidade local.

Explorar as narrativas e experiências dos praticantes e espectadores do carimbó


da feira do açaí, buscando compreender como essa prática cultural se torna um meio de
resistência e afirmação da identidade cultural na Amazônia.

PROBLEMA

A problemática em questão se desdobra em uma série de aspectos que refletem


os desafios enfrentados pelo carimbó da feira do açaí em Belém do Pará como uma
manifestação cultural. Embora o carimbó seja percebido principalmente pela audição,
sua sobrevivência e preservação não estão limitadas apenas a esse sentido. Como uma
expressão cultural profundamente enraizada, o carimbó depende de uma série de
elementos materiais e imateriais para sua sustentação e transmissão às gerações futuras.

Essa problemática envolve não apenas a salvaguarda dos elementos materiais


que compõem o carimbó, mas também a implementação de políticas e ações que
promovam a sustentabilidade ambiental, econômica e social das comunidades
envolvidas na prática e preservação dessa manifestação cultural. A proteção desses
elementos materiais e imateriais é fundamental para garantir que o carimbó da feira do
açaí em Belém do Pará continue a ecoar como uma poderosa expressão de resistência
cultural na região amazônica.

HIPÓTESE

Considerando a importância do carimbó da feira do açaí em Belém do Pará


como uma expressão cultural arraigada na identidade amazônica, é possível conjecturar
que a preservação e revitalização dessa manifestação cultural dependem não apenas da
salvaguarda dos elementos materiais que a sustentam, como os espaços de prática e os
instrumentos musicais, mas também da promoção de políticas e iniciativas que
fortaleçam as comunidades locais, incentivem a participação ativa dos jovens e
promovam a conscientização ambiental e cultural.

JUSTIFICATIVA
O carimbó da feira do açaí em Belém do Pará representa mais do que
simplesmente uma forma de entretenimento ou expressão artística local; é um símbolo
vivo da rica e diversa cultura amazônica, enraizada em tradições ancestrais e permeada
por uma resistência cultural resiliente. Nesse contexto, a justificativa para a realização
deste projeto é multifacetada e fundamental para a preservação e celebração dessa
expressão única de identidade e resistência cultural.

Além disso, o carimbó da feira do açaí é um exemplo vívido de resistência


cultural em meio às rápidas mudanças sociais, econômicas e ambientais que afetam a
região amazônica. À medida que as comunidades enfrentam desafios como a
urbanização descontrolada, a perda de terras tradicionais e a descaracterização de
espaços culturais, o carimbó emerge como uma forma de resistir à homogeneização
cultural e afirmar a identidade única da Amazônia. Sua prática e celebração
proporcionam um espaço de empoderamento e resiliência para as comunidades locais,
permitindo-lhes reivindicar sua voz e sua história em meio a um contexto de mudança e
adversidade. A realização deste projeto é justificada pela necessidade de documentar,
valorizar e promover o carimbó da feira do açaí como parte integrante do patrimônio
cultural imaterial do Brasil e do mundo.

REFERENCIAL TEÓRICO

Origem histórica do Carimbó.

A questão da origem étnico-racial do Carimbó, que emergiu como um tópico


central de debate na década de 1970, transcendeu o âmbito meramente musical para se
tornar uma reflexão profunda sobre a formação do povo amazônico e sua identidade
cultural. Este debate ecoou não apenas entre jornalistas, folcloristas e intelectuais, mas
reverberou por toda a sociedade, destacando a relevância e complexidade desse
fenômeno cultural.

Segundo Costa (2013 p. 142) historicamente, o Carimbó é frequentemente


associado a uma mistura de influências étnicas e culturais que caracterizam a região
amazônica. Sua origem étnica remonta às interações entre povos indígenas, africanos,
europeus e caboclos que habitavam a Amazônia colonial e pós-colonial. Essa fusão de
culturas e tradições resultou na criação de uma expressão musical e dançante única, que
reflete a diversidade e a riqueza cultural da região.
A redescoberta da Amazônia, concomitantemente com a "descoberta" do
Carimbó, reflete um movimento mais amplo de reconhecimento e valorização das
culturas regionais e indígenas no Brasil. Ao colocar em foco as raízes étnico-raciais do
Carimbó, os debates da década de 1970 ajudaram a iluminar as múltiplas camadas de
identidade e pertencimento que permeiam a sociedade amazônica, desafiando narrativas
simplistas e eurocêntricas sobre a formação do povo brasileiro.

Feira do Açaí como manifestação cultural do carimbó

A ocupação cultural de espaços públicos, como expressão de protesto e


resistência, emerge como um tema central no contexto do Carimbó, refletindo as tensões
e desafios enfrentados pelos praticantes dessa manifestação cultural. A falta de apoio
governamental, conforme relatado pelos atores ligados ao Carimbó, ressalta as barreiras
enfrentadas pelos fazedores de cultura na busca por reconhecimento e suporte
institucional.

A crítica à insuficiência e burocracia dos editais de financiamento cultural revela


uma lacuna significativa na política cultural brasileira, onde os recursos disponíveis
muitas vezes não atendem às necessidades e demandas das comunidades artísticas
locais. Essa burocracia excessiva pode criar obstáculos adicionais para os fazedores de
cultura, dificultando o acesso aos recursos necessários para a produção e promoção de
suas práticas culturais.

A questão relacionada a ocupação cultural de locais públicos surge também


como uma forma de protesto. Durante a pesquisa, repetidas vezes, as falas
dos atores ligados ao Carimbó trazem uma queixa quanto a falta de apoio
governamental. Segundo estes atores os editais existentes seriam
insuficientes e muito burocráticos, o que dificultaria o acesso dos fazedores
de cultura aos recursos. A resistência a essa falta de apoio viria então do
próprio som do tambor e da ocupação cultural dos espaços públicos
(BENITEZ 2021, p.107)
Diante dessa falta de apoio institucional, a resistência surge como uma resposta
criativa e enérgica por parte dos praticantes do Carimbó. A ocupação cultural dos
espaços públicos não apenas reafirma a presença e importância dessa manifestação
cultural na paisagem urbana, mas também constitui um ato de afirmação política e
identitária. O som dos tambores ecoando nas praças e ruas não apenas celebra a riqueza
e vitalidade da cultura amazônica, mas também denuncia as injustiças e desigualdades
que permeiam o cenário cultural brasileiro.
Segundo Benitez (2021), a ocupação cultural dos espaços públicos pelo Carimbó
transcende o âmbito da mera performance artística para se tornar uma forma de ativismo
cultural, alimentada pela indignação diante da marginalização e falta de reconhecimento
enfrentadas pelos fazedores de cultura. É uma reivindicação de visibilidade, respeito e
apoio por parte das autoridades governamentais, bem como uma afirmação do direito
fundamental à livre expressão cultural e artística.

Ao analisar a relação entre a ocupação cultural de espaços públicos e a


resistência à falta de apoio governamental no contexto do Carimbó, é essencial
considerar não apenas os aspectos artísticos e culturais, mas também os contextos
políticos, sociais e econômicos mais amplos que moldam essa dinâmica. A ocupação
cultural dos espaços públicos pelo Carimbó não apenas desafia as estruturas de poder
dominantes, mas também inspira e mobiliza comunidades inteiras em defesa da
diversidade cultural e do direito à cidade para todos.

METODOLOGIA

A metodologia proposta para este projeto combina uma abordagem bibliográfica


detalhada com uma pesquisa de campo envolvendo entrevistas com indivíduos
diretamente ligados ao Carimbó da feira do açaí em Belém do Pará.

A revisão bibliográfica abrangerá uma variedade de fontes, incluindo literatura


acadêmica, estudos etnográficos e fontes históricas relevantes. O objetivo é
compreender profundamente a história, as origens étnico-raciais, os significados
culturais e a importância do Carimbó na região amazônica, com um foco específico na
feira do açaí em Belém do Pará.

Por meio da pesquisa de campo, serão realizadas entrevistas semiestruturadas


com uma variedade de participantes, como dançarinos, músicos, organizadores de
eventos e frequentadores da feira. Essas entrevistas permitirão uma compreensão mais
profunda das práticas, performances e interações sociais relacionadas ao Carimbó. Além
das entrevistas, a pesquisa de campo envolverá uma abordagem participativa e
observacional durante os eventos de Carimbó na feira do açaí. Isso fornecerá insights
valiosos sobre a dinâmica cultural e social desses eventos, enriquecendo ainda mais a
análise.
Os dados coletados serão analisados qualitativamente, utilizando métodos de
análise de conteúdo para identificar temas recorrentes, perspectivas divergentes e
insights significativos. Os resultados serão interpretados à luz do referencial teórico e
das discussões acadêmicas sobre o Carimbó e a identidade amazônica, gerando
reflexões críticas sobre os desafios enfrentados por essa manifestação cultural.

A apresentação dos resultados ocorrerá por meio de relatórios de pesquisa,


artigos acadêmicos e apresentações em conferências e eventos comunitários. O objetivo
é comunicar os resultados da pesquisa para acadêmicos, profissionais da cultura e o
público em geral, contribuindo para uma compreensão mais ampla do Carimbó e sua
importância na região amazônica.
REFERÊNCIAS

BENITEZ, Bruno Daniel das Neves; Guitarra e tambor: Territorialidade e expressões do


Carimbó em Belém-PA. In: Anais XVI Encontro nacional dos Geógrafos. ENG 2010.
Porto Alegre, 2021.

COSTA, Tony L. Música de subúrbio: cultura popular e música popular na


hipermargem de Belém do Pará. Tese (Doutorado em História Social) – Instituto de
Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de
Janeiro, 2013.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002. ,

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