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A!

igo Teoria sociológica

WEBER, RELIGIÕES E RACIONALIDADE: UMA RESENHA


CRÍTICA

JOÃO LUCAS DANTAS[1]

THIAGO SANTOS[2]

Resumo: O presente artigo visa apresentar uma resenha crítica sobre a reconstrução das
comunidades religiosas e o advento da racionalidade feita por Max Weber entre 1910 e 1920.
Além de propor uma breve reconstrução do debate da “evolução das religiões” e situar Weber
junto ao debate de outros autores como Durkheim e Freud.

Palavras-chave: Weber, Comunidades Religiosas, Racionalidade, Vida Religiosa,


Naturismo, Simbolismo

Introdução

Longe de apenas exercer forte influência nas Ciências da Natureza, as descobertas de


Charles Darwin abalaram o feto das Ciências Sociais em desenvolvimento no século XIX. Se é
possível realizar uma reconstrução evolucionista do surgimento dos seres biológicos, logo foi
proposto que esta reconstrução poderia ser feita no que diz respeito ao mundo cultural dos
seres humanos.

O dilema, porém, era como realizar uma construção deste tipo com algo que não existe
mais na natureza. Este foi contornado com a suposição de que os “povos primitivos” teriam
traços fossilizados ou pelo menos muito próximos dos que viveram em eras primevas
(FRAZER, 2018 [1890]) (DURKHEIM, 2008 [1912]). As palavras “Origem”, “Elementar” e
“Primitivo” estampavam artigos e livros de inúmeros autores da época que tentavam explicar,
majoritariamente através de documentos de terceiros, como a vida cultural “primitiva” destes
:
majoritariamente através de documentos de terceiros, como a vida cultural “primitiva” destes
povos poderia formar teorias de formação social e religiosa elementares.

No que diz respeito as religiões, três grandes teorias foram propostas: o Naturismo
(MULLER, 1873), Animismo (TYLOR, ****) (FRAZER, 2018 [1890]) e Totemismo
(SMITH, ****) (DURKHEIM, 2008 [1912]).

Enquanto as discussões eram trabalhadas, comumente, em qual destas seria a mais simples
e elementar, Max Weber considerou que, além de considerar o grau de simplicidade, era
possível estabelecer uma reconstrução da origem da racionalidade e do pensamento moderno
mediante um percurso histórico entre estas teorias.

Este artigo é organizado da seguinte forma: a introdução visa situar o leitor no debate da
época e na fagulha que levou Weber a utilizar a construção teórica de outra forma. As três
próximas seções visam refazer esta reconstituição na sequência proposta por Weber além de
sugerir algumas reflexões baseadas no debate feito por conterrâneos. A última sessão é
dedicada a discussão do caminho até a racionalidade.

A natureza e a força da palavra

A teoria escolhida por Weber (2000 [1916]) como a mais simples e elementar foi o
Naturismo de Max Muller (1873). Como linguista e filólogo, Muller colocou a linguagem
como fator fundador da vida religiosa, este nasceu quando os primeiros homens

A emergência e a consolidação do simbolismo

Após generosa reconstrução do processo de desenvolvimento do pensamento religioso


(Religiöse Gemeinschaft) centralizada a partir de certa disposição a teoria do naturalismo
como fundamento máximo disposto a gênese religiosa, Weber nos leva a mais um passo no
caminho a entender o surgimento da religião, a era do simbolismo. Esta, sendo remanescente
de ampla construção de enigmáticas relações socioculturais permeadas por crescentes
abstrações do pensamento humano. Vários pontos são chaves para entender a eclosão do
:
mundo simbólico.

A partir da passagem do naturalismo para o simbolismo, a crença em espíritos começara a


se fortificar e se realizar na mente humana, a constante emergência na crença generalizada em
tais forças espirituais trouxe consigo grande contribuição para alavancar o processo simbólico.
Ao mesmo tempo se desenvolve a distinção que viria a ser de grande discussão em certa
história da filosofia, a divisão entre corpo e alma, gerada segundo a teoria weberiana, por meio
de experiências de sonhos, desmaios, êxtase e mortes, acometidas ao corpo e à mente humana
durante suas vivências cotidianas culminando em uma complexificação das noções corpóreas e
extracorpóreas vinculadas aos espíritos e a ideia de alma, que até então não se fixavam em um
corpo ou objeto específico, passando com isso a poder “morar” ou “possuir” ou “encarnar” nos
seres e coisas. Ao dissertar sobre a transição entre o naturalismo ao simbolismo Weber mostra
que:

[...] Nos casos concretos, as transições entre o naturalismo pré-animista e o simbolismo


são totalmente fluidas. Quando se arranca do peito do inimigo o coração ou de seu corpo os
órgãos sexuais ou de seu crânio o cérebro, expõe-se em casa o crânio ou se o venera como
precioso presente de noivado e comem-se aquelas partes dos corpos de homens ou animais,
particularmente daqueles velozes e fortes, acredita-se realmente obter assim, de modo
diretamente naturalista, a propriedade das forças correspondentes. [...] (WEBER, 2000, pág.
283)

Todas essas adições ocasionadas ao decorrer da história com as concepções de corpo,


alma, e espírito trouxeram consigo, ao mesmo tempo, o reconhecimento da “agência” nos seres
e entes não-humanos, fazendo com que criassem em si e para si autonomia e poder próprio,
emanados. O espírito então passa a exercer posse, agência e autonomia sob um corpo ou
objeto, o direcionando a uma conjuntura de poder. A concentração de características atribuídas
ao espírito ao longo do tempo atravessaram as barreiras materiais ocorrendo a fundação de
seres espirituais dotados de poder e assim contribuíram para o nascimento das primeiras
concepções de “deuses” e “demônios” como seres suprassensíveis locais e temporários. A
respeito do caráter suprassensível o autor explica:

[...] O aspecto específico de todo esse desenvolvimento não é, em primeiro lugar, a


pessoalidade ou impessoalidade ou suprapessoalidade dos poderes "supra-sensíveis", mas o
fato de não serem apenas as coisas e fenômenos que existem e acontecem que desempenham
um papel importante na vida, como também aqueles que "significam" algo, e precisamente por
isso. Destarte, a magia passa da atuação direta de determinadas forças ao simbolismo. [...]
:
isso. Destarte, a magia passa da atuação direta de determinadas forças ao simbolismo. [...]
(WEBER, 2000, pág. 282)

Através da crença nesses deuses advindos do período de passagem entre o animismo e o


simbolismo houve grande aumento crescente da abstração dos poderes sobrenaturais e
evidenciando um novo sistema remanescente da ação mágica que agora entra em contato com
o simbólico permitindo assim que surgisse uma nova dinâmica transeunte entre esses dois
caminhos, sendo ela a mediação simbólica da ação mágica, sobre essa ação Weber comenta:

[...] A ação religiosa ou magicamente motivada, em sua existência primordial, está


orientada para este mundo. As ações religiosa ou magicamente exigidas devem ser realizadas
"para que vás muito bem e vivas muitos e muitos anos sobre a face da Terra". Mesmo rituais
como sacrifícios humanos, extraordinários sobretudo entre uma população urbana, foram
realizados nas cidades marítimas fenícias, sem qualquer expectativa dirigida ao além. A ação
religiosa ou magicamente motivada é, ademais, precisamente em sua forma primordial, uma
ação racional, pelo menos relativamente: ainda que não seja necessariamente uma ação
orientada por meios e fins, orienta-se, pelo menos, pelas regras da experiência. [...] (WEBER,
2000, pág. 279)

Com a mediação entre o simbólico e o mágica possibilitou-se um processo de


intelectualização e simbolização da ação mágica, ou seja, a ação mágica passa a ser
direcionada a uma abstração mental estando agora sujeita a uma conceituação da ação que
passa a transmitir um caráter de ideia objetivando-a e permitindo pensar a relação entre
símbolos ou associação de ideias. Com isso se tornou possível a significação ou simbolização
das práticas e coisas do mundo trazendo-as significado e exemplificando um novo caráter ao
espírito humano.

Considerações Finais
:
Referências Bibliográficas

DURKHEIM, E. As formas elementares de vida religiosa : o sistema totêmico na


Austrália. São Paulo (Sp): Paulus, 2008.
FRAZER, James George. The golden bough : A study in magic and religion. London: The
Folio Society, 2018.

[1] Bacharelando em Ciências Sociais e vinculado ao GCS/DAN pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN)
[2] Bacharelando em Ciências Sociais e vinculado ao ETAPA/DAN pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN)
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