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Principia
Caminhos da Iniciação Científica
Editores Responsáveis
Pró-reitora de Pesquisa: Profa. Dra. Marta Tavares d’Agosto
Coordenador de Programas de Pesquisa: Prof. Dr. Márcio Tavares Rodrigues
Conselho Editorial
Ciências Exatas e da Terra: Pablo Zimmermann Coura - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências Biológicas: Cláudio Galuppo Diniz - Universidade Federal de Juiz de Fora
Engenharias e Ciência da Computação: Marcelo Lobosco - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências da Saúde: Cláudia Helena Cerqueira Mármora - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências Sociais Aplicadas: Marcos Vinício Chein Feres - Universidade Federal de Juiz de Fora
Ciências Humanas: Ângelo Alves Carrara -Universidade Federal de Juiz de Fora
Lingüística, Letras e Artes: Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves - Universidade Federal de Juiz de Fora
Principia
Caminhos da Iniciação Científica
ISSN 1518-2983
Principia Juiz de Fora v.17 1-183 2013
Editora UFJF
Rua Benjamin Constant, 790 - Centro - Juiz de Fora - MG - Cep 36015-400
Fone/Fax: (32) 3229-7645 / (32) 3229-7646
distribuicao.editora@ufjf.edu.br - www.editoraufjf.com.br
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Lingüística, Letras e Artes: Ana Beatriz Rodrigues Gonçalves - Universidade Federal de Juiz de
Fora
Principia - Caminhos da Iniciação Científica/Universidade Federal de
Juiz de Fora, Pró-Reitoria de Pesquisa. - v. 17 (jan/dez 2013) -
Juiz de Fora: Editora UFJF; 2013 -
p.183
Anual
A partir de 2006 v.11 somente online
ISSN 1518-2983
1. Pesquisa - Periódicas
Disponível em www.ufjf.br/principia
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem prévia
autorização.
Conselho Editorial
Editorial.......................................................................................................................................11
Marta d’Agosto
Márcio Tavares Rodrigues
Editores Responsáveis
Resumo
Neste trabalho investigou-se o desempenho de substratos de vidro silanizados e recobertos com
nanoestruturas de prata para uso em espectroscopia de espalhamento Raman intensificado por
superfície. Foram realizadas sucessivas deposições de prata sobre as lâminas de vidro, previamen-
te impregnadas com partículas nucleadoras do mesmo metal, por redução do nitrato de prata
em solução aquosa, com boroidreto. Os espectros SERS foram obtidos, utilizando-se a molé-
cula de prova cristal violeta e o número de deposições foi otimizado para a obtenção da maior
intensificação do sinal SERS. Estas lâminas foram submetidas a recozimento para aumento da
cristalinidade e a adicional estabilidade permitiu sua reutilização, após a lavagem com etanol e
soluções ácidas, em novos experimentos SERS.
Palavras-chave: Espectroscopia SERS. Nanopartículas de prata. Adsorção. Química de super-
fície.
Introdução
As espectroscopias estudam as interações da radiação eletromagnética com a matéria, através
da determinação da energia dos fótons absorvidos ao provocarem transições envolvendo os níveis de
energia dos átomos ou moléculas. Os espectros no infravermelho podem ser obtidos através da absorção
Metodologia
Os reagentes utilizados foram acetato de etila VETEC 99,5%, ácido sulfúrico FMAIA 99,5% e
peróxido de hidrogênio para lavagem dos substratos. Para a silanização foi usado mercaptotrimetoxisilano
(MPTMS) ALDRICH 95%, ácido clorídrico (HCl) VETEC 37%, ácido fosfórico e álcool etílico
SYMTH 99,5%. Para a síntese das partículas nucleadoras e do filme metálico foi utilizado nitrato de
Fig. 1 - Espectros de extinção das lâminas de vidro com diferentes números de deposições de prata.
Pode-se notar uma diminuição da intensidade da banda em ca. 410 nm com o aumento do
número de deposições, bem como um aumento do sinal de extinção na região do vermelho, que
pode ser associado ao aumento do tamanho das partículas de prata existentes sobre o vidro. Esse
deslocamento pode ter levado ao aumento da ressonância entre a transição do plasmon de superfície
localizado com a radiação excitante nos espectros SERS, permitindo o surgimento deste efeito de
intensificação Raman.
Os espectros SERS do cristal violeta foram obtidos nas diferentes amostras de substrato de prata e
os resultados são apresentados na Fig. 2. Os espectros foram também obtidos com os substratos metálicos
submetidos ao recozimento e o sinal SERS ficou menos intenso (não mostrado). A partir destes foram
integradas as bandas mais intensas em 725 cm-1 e 1585 cm-1, e estes valores são mostrados na Tab. I.
Fig. 2 - Espectros SERS do cristal violeta obtidos sobre os diferentes substratos de prata, que não sofreram recozimento.
tab. i - Área integrada das bandas dos espectros SERS do cristal violeta obtidos sobre substratos de prata com diferentes números de
deposições, submetidos ou não ao processo de recozimento.
Algumas amostras foram escolhidas para imageamento por microscopia eletrônica de varredura
e estão apresentadas na Fig. 3. Pela análise destas imagens pode-se inferir que o maior sinal SERS
nas amostras não recozidas deveu-se à maior rugosidade superficial (menor cristalinidade) das
nanoestruturas metálicas formadas.
Analisando os espectros SERS apresentados na Fig. 4, pôde-se perceber que somente o substrato
submetido ao recozimento a 100 reapresentou o sinal SERS do cristal violeta, embora mais fraco
do que o obtido anteriormente (não mostrado). Esse resultado pode ser explicado pelo fato do
recozimento aumentar a cristalinidade do sistema, tornando-o mais estável, e conferindo-lhe assim
maior estabilidade do sinal SERS, mesmo após ser submetidos a um tratamento de limpeza.
Conclusões
Foram obtidos substratos de prata nanoestruturados, possíveis de serem utilizados em
experimentos SERS, utilizando-se como molécula prova o cristal violeta, em um espectrômetro FT-
Raman, com radiação excitante em 1064nm, obtendo-se espectros com boa razão sinal/ruído.
As nanoestruturas metálicas produzidas, por estarem fixas, não sofreram modificações nos
tamanhos com a adsorção do cristal violeta. A modificação feita, levando as lâminas de vidro ao
recozimento, diminuiu o sinal SERS obtido, porém aumentou a estabilidade do substrato. Com
isso, foi possível realizar lavagens com etanol e soluções ácidas, e reutilizar os substratos em novos
experimentos SERS.
As imagens de microscopia eletrônica de varredura mostraram a presença de partículas de
dimensões compatíveis com o esperado para que ocorresse ressonância entre o plasmon de superfície
localizado das nanoestruturas prata e a radiação excitante utilizada.
Agradecimentos
Os autores agradecem á UFJF, á FAPEMIG pelo auxílio com bolsa de iniciação, ao CNPq
pelos recursos e ao INMETRO pelas imagens de microscopia eletrônica, que tornaram possível o
desenvolvimento desse projeto.
Referências
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LE-RU E.; ETCHEGOIN P. Principles of Surface Enhanced Raman Spectroscopy, Elsevier,
Oxford, p. 9-10, 2009.
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ROY S., DIXIT C. K., WOOLLEY R., MACCRAITH B. D., O’KENNEDY R., MCDONAGH
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MULVANEY, S. P.; HE, L.; NATAN, M. J.; KEATING, C. D.. Three-layer substrates for surface-
-enhanced Raman scattering: preparation and preliminary evaluation. Journal of Raman Spectros-
copy, v. 34, p.163-171, 2003.
Resumo
O presente trabalho relata o desenvolvimento de um equipamento que mede a atividade meta-
bólica em até 96 amostras bacterianas interferometricamente. A finalidade deste equipamento se
destina a pesquisas sobre bactérias de crescimento lento como o Mycobacterium tuberculosis. Me-
didas interferométricas podem informar sobre a atividade metabólica de forma precisa e em tem-
po real. Tipicamente estas medidas levam algumas semanas e eles acontecem de forma contínua.
Por esta razão, o equipamento deve trabalhar de forma automática. Neste último ano avançamos
na construção de um robô que transporta amostras entre um armário e um interferômetro. Este
robô possui um braço que deve retirar uma fileira de 4 porta-amostras do armário, levá-la até
a posição do interferômetro, introduzir a fileira dentro do interferômetro, posicionar os porta-
-amostras com precisão, retirar a fileira do interferômetro e levá-la de volta para sua origem. A
maior parte da mecânica deste robô já foi construída, bem como grande parte da eletrônica que
controla os movimentos . No momento, estamos desenvolvendo software e firmware, sendo pos-
sível controlar movimentos do braço robótico em duas dimensões, bem como a eletrônica com
a correspondente firmware que coordena estes movimentos e se comunica com um computador
que controla todo o processo de medida interferométrica.
Palavras-chave: Interferometria. Automação. Micobactéria.
Fig. 2 - Exemplos de curvas de crescimento. A grandeza ∆n mostrada no eixo vertical é a diminuição do índice de refração causada pelo con-
sumo de nutrientes. As concentrações indicadas são do antibiótico rifampicina, que foi adicionado às amostras, exceto na amostra controle.
Metodologia
Defeitos e imperfeições de um Interferômetro de Atividade Metabólica, que havia sido
construído anteriormente, foram analisados criticamente. O método de planejamento quantitativo foi
usado na concepção de um novo interferômetro que corrige os defeitos detectados como explicitado
no desenvolvimento.
No equipamento anterior, os porta-amostras eram posicionados num disco rotativo que os levava
periodicamente para dentro do interferômetro (Machado 2008; 2012). Esta solução do problema de
manuseio de muitas amostras não seria praticável com 96 porta-amostras. O disco rotativo teria que
ser muito grande e isto dificultaria a tarefa de manter a temperatura do equipamento constante. A
interferometria reage muito sensivelmente a mudanças de temperatura e é necessário garantir uma
constância da mesma com precisão de um milésimo de grau. Por esta razão preferimos organizar os
porta-amostras numa espécie de armário com fileiras de 4 porta-amostras distribuídos em 6 colunas e
4 linhas.
É planejado que um braço robótico apanhe as fileiras de porta-amostras do armário e as leve para
dentro do interferômetro. A figura 4 mostra um desenho do braço na frente do armário. Apenas três
das seis colunas de porta-amostras são mostradas no desenho.
Depois de ter retirado uma fileira de porta-amostras do armário e ter levado ao interferômetro,
o braço deve depositar os porta-amostras um a um em três pinos que mantêm a amostra precisamente
posicionada dentro do interferômetro.
Estas tarefas precisam de movimentos em três direções x (movimento lateral na frete do
armário), y (para dentro e para fora do armário) e z (vertical). Os movimentos x e z são executados
com a ajuda de fusos e motores de passo. Os movimentos na direção y são efetuados com um motor
Fig. 6 - Transistores de potência para o motor z, e passagem de fios do cabo flexível (flat) para o cabo fixo (gay).
Além da substituição do disco rotativo por um braço mecânico que manuseia os porta-amostras,
há uma mudança fundamental na leitura do sinal interferométrico em relação ao interferômetro da
segunda geração. No interferômetro anterior, os dois feixes de luz que interferem se cruzam com
um pequeno ângulo de tal forma que se gerem franjas espaciais que eram captadas por uma câmera
CCD. As imagens destas franjas eram analisadas por um computador de maneira automática. A
informação relevante da fase relativa dos dois feixes era codificada pela posição destas franjas. Este
método tem uma desvantagem. Manchas escuras provenientes de imperfeições ópticas, por exemplo
sujeiras nas janelas dos porta-amostras ou colônias bacterianas grandes, causam necessariamente
pequenos erros na interpretação automática das franjas. Este efeito provoca erros periódicos nas
curvas de crescimento.
No Interferômetro de Atividade Metabólica III, usaremos feixes bem paralelos de tal forma que
o fotodetector receberá uma única franja de interferência. A determinação da fase relativa das ondas
será feita variando a posição de um dos espelhos do interferômetro com a ajuda de um elemento
piezo elétrico que é acionado por uma voltagem variável. Este movimento do espelho faz uma
varredura da fase relativa das ondas e provocará alterações periódicas na intensidade de luz captada
pelo fotodetector. A relação das voltagens que acionam o elemento piezoelétrico e sinal óptico
captado no fotodetector permite determinar a fase relativa das duas ondas de luz que interferem.
Para poder elaborar um programa de computador que determina a fase relativa das ondas de luz
a partir de um registro de pares de dados <Voltagem, Intensidade de Luz> é necessário conhecer
qual é a relação entre voltagem aplicada ao elemento piezoelétrico e magnitude de deslocamento
do espelho. Esta dependência foi medida interferometricamente e o resultado está representado
na figura 8. Cada unidade do eixo vertical corresponde a um deslocamento do espelho de 0,3164
micrômetros. Infelizmente podemos notar que a relação entre posição de espelho e voltagem não
é uma função. Existe uma histerese. Este fato tornará o programa de computador, que analisa os
dados, mais complicado.
Conclusão
Neste trabalho de Iniciação Científica avançamos no desenvolvimento de um equipamento
relativamente complexo que serve para um monitoramento automático e preciso do crescimento de
bactérias. A construção envolve tarefas de mecânica fina, automação, programação, interferometria e
estabilização de temperatura. No trabalho apresentado, concentramos esforços na parte de robótica
que cuida da troca e do posicionamento de porta-amostras. Foi possível estabelecer a comunicação
entre computador e um PIC18F4550 via porta USB e a comunicação entre PIC18F4550 e PICs
PIC16F628A. Conseguimos controlar os movimentos de um braço robótico na direção vertical.
Movimentos numa direção horizontal também foram testados, mas ainda precisam ser melhorados em
termos de precisão.
Agradecimentos: Agradecemos pelas bolsas de iniciação recebidas durante todo o projeto e pelo
auxílio da FAPEMIG (Projeto (CEX – APQ-00246-10 )
Referências
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Resumo
Nos últimos anos, devido ao processo de urbanização acelerada das cidades, o problema das en-
chentes urbanas tem atingido inúmeras cidades no Brasil. Essas enchentes prejudicam o desen-
volvimento das cidades e assustam os moradores. Neste sentido, este trabalho tem por objetivo
desenvolver estudos de mapeamento de áreas de risco de inundação, visando contribuir para o
processo de planejamento urbano e gerenciamento dos recursos hídricos na região hidrográfica
do rio Paraibuna. Foram realizadas simulações hidráulicas e hidrológicas utilizando programas
como Hec-Ras, Hec-GeoRas e ArcGis, para mapear as regiões de risco de alagamento, no âmbito
da Bacia do Córrego Yung, sub-bacia da Bacia do Rio Paraibuna, que se localiza no município de
Juiz de Fora, visando auxiliar o planejamento da cidade. A preparação da base de dados georre-
ferenciados foi realizada utilizando o programa Google Earth e dados de elevação do sensor “Li-
dar”, disponibilizados pela Prefeitura de Juiz de Fora. Como resultados foram obtidas manchas
de alagamento ao longo do curso do córrego Yung, para diferentes cenários de vazões. Verificou-
-se a maior intensidade e abrangência das áreas de alagamento no terço superior da bacia e menor
intensidade no terço médio, o que historicamente é comprovado pelas recorrentes enchentes na
região do bairro Linhares.
Palavras-chave: Inundações urbanas. Modelagem hidrológica. Modelagem hidráulica.
1. Introdução
Ao longo dos anos, inúmeras cidades são prejudicadas pelas enchentes. Muitas das vezes estas
cidades ainda estão se reerguendo quando a época de cheias retorna e tudo é levado, outra vez, pela
força da água.
2. Metodologia
2.1. Área de Estudo
Este trabalho tem como área de estudo a bacia do Córrego Yung, sub-bacia da Bacia do Rio
Paraibuna, afluente da margem esquerda do rio Paraibuna conforme mostra Figura 1. As características
do relevo no interior da sub-bacia são apresentadas na Figura 1.
Fig. 1 - Localização da bacia do Córrego Yung em relação à bacia hidrográfica do Rio Paraibuna e as características de relevo.
Com relação à divisão municipal, a bacia do Córrego Yung se localiza totalmente inserida no
município de Juiz de Fora (MG) entre os bairros de Linhares e Vitorino Braga, conforme apresenta a
Figura 2.
Primeiramente, o Córrego Yung (calha do rio e margens) foi digitalizado no Google Earth, em
seguida convertidos para o formato shapefile, para possibilitar o trabalho no software ArcGis. Esta
etapa permitiu uma análise bastante próxima à realidade da sinuosidade e abrangência dos cursos
d’água, além de permitir uma visão geral da situação de ocupação urbana nos leitos dos rios. Com as
próprias ferramentas do programa, foi possível digitalizar toda a extensão do rio de maneira detalhada,
o que teve bastante importância no desenvolvimento do projeto.
Após a digitalização do curso d’água e das margens do córrego no Google Earth, estes foram
convertidos do formato KMZ para o formato shapefile. Desta forma, o programa ArcGis pôde sobrepor
os novos dados ao MDE (Modelo Digital de Elevação do Terreno).
Os shapes River (calha do córrego), Banks (margens do córrego), XSCutlines (seções transversais
da calha do córrego) e Flowpaths (delimitação da planície de inundação) foram criados de acordo com
uma série de requisitos do programa ArcGis e suas tabelas de atributos preenchidas automaticamente
à medida que cada um foi sendo gerado.
2.4. Preparação dos dados de entrada no Programa Hec-Ras e geração das manchas de
alagamento
Após a criação dos 4 shapes: River, Banks, Flowpaths e XS Cutlines , os dados foram exportados
para o formato Hec-Ras.
Como dados de entrada no Hec-Ras para a geração das manchas de alagamento são necessárias:
seções transversais da calha do córrego, perfil longitudinal, a definição das condições de contorno e dos
coeficientes de rugosidade de Manning, assim como os valores de vazão a serem escoados no trecho.
As seções transversais da calha do córrego e o perfil longitudinal foram exportados do Hec-
GeoRas. Os Coeficientes de Manning utilizados foram n=0,040 para a margem esquerda do córrego,
n=0,030 para a calha e n=0,040 para a margem direita do mesmo e a condição de contorno selecionada
foi “Normal Depth”. Nesta etapa foram definidos também os valores de vazão à jusante de cada trecho
(Reis e Ribeiro, 2011). Foram considerados 4 períodos de retorno, ou seja, 4 intervalos de tempo
estimados para que tal vazão seja atingida ou superada, 10, 50, 100 e 200 anos.
Foi utilizado o Método Racional Modificado para determinar os valores de vazão máxima,
conforme apresentado a seguir.
Qmáx = 0,278.C.im.A. j 1
Onde:
Qmáx = vazão máxima na seção de interesse;
im = intensidade máxima de chuva (mm/h);
A = área de drenagem na seção de interesse (km2);
Φ = coeficiente de retardamento (adimensional). Este é um fator de correção em função da área,
conforme mostrado na Equação 2 a seguir.
C = Coeficiente médio de escoamento superficial
j = 0,278-0,00034.A 2
A partir de tais valores, foi obtido o valor do Coeficiente Médio de Escoamento Superficial, de
acordo com a Equação 3.
Onde:
Cméd = Coeficiente Médio de Escoamento
Au = Área Urbana
Cu = Coeficiente de Escoamento para a Área urbana
Af = Área de Florestas
Cf = Coeficiente de Escoamento para a Área de florestas
Ap = Área de Pasto
Cp = Coeficiente de Escoamento para a Área de Pasto
3. Resultados e Discussão
3.1. Valores de Vazão para diferentes Períodos de Retorno
Tab. II – Valores de Intensidade Máxima de Chuva calculados para 4 diferentes períodos de retorno.
Tempo de Retorno (Anos) Intensidade Máxima de Chuva (mm/h)
10 42.879
50 56.645
100 63.862
200 71.999
Fig. 3 – Bacia do Córrego Yung com as manchas de alagamento para o tempo de retorno de 200 anos
Agradecimentos
Os autores agradecem a Propesq-UFJF pela concessão da bolsa de Iniciação Científica BIC-
UFJF.
Referências
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tunidades, Palestra proferida na Semana de Geoprocessamento do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Outubro de 1996.
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Fora (PJF).
REIS, G. R. RIBEIRO C. B. M. Water Quality Management System for the Paraibuna Watershed,
World Water Congress, Porto de Galinhas, Recife (PE), 2011.
SANTOS, M. Estradas reais: introdução ao estudo dos caminhos do ouro e dos diamantes no Brasil.
Editora Estrada Real, Belo Horizonte, 2001.
TUCCI, C. E. M. Águas Urbanas. Inundações urbanas na América do Sul. Porto Alegre, Associação
Brasileira de Recursos Hídricos, 2003.
Resumo
Nesse trabalho, considera-se um procedimento para controle on-line por atributo que consiste
na inspeção de um único item a cada m itens produzidos. Baseado no resultado da inspeção, de-
cide-se se ocorreu um aumento na proporção de itens defeituosos (não conformes) produzidos.
Caso o item inspecionado seja classificado como não conforme, ajusta-se o processo produtivo
de maneira que a proporção de itens não conformes retorne a sua situação original. O modelo
probabilístico do sistema de controle emprega propriedades de uma cadeia de Markov ergódica
para se obter a expressão do custo médio desse sistema por unidade produzida, a qual pode ser
minimizada como uma função do intervalo de amostragem, m. Utiliza-se planilha eletrônica do
Microsoft Excel© 2010 para proceder à busca do parâmetro ótimo de planejamento (m0).
Palavras-chave: Controle de Qualidade por Atributos. Planejamento Econômico. Cadeias de
Markov. Planilha Eletrônica.
Introdução
Espera-se, em geral, que um processo de produção seja estável ou previsível, ou seja, que ele
tenha capacidade de operar com pequena variabilidade em torno de dimensões-alvo das características
de qualidade do produto. O controle de processo abrange técnicas de resolução de problemas e de
decisão que são importantes para alcançar a estabilidade do processo e a melhoria de sua capacidade.
Muitas características de qualidade não podem ser representadas convenientemente por meio
de números. Nesses casos, classificam-se usualmente cada item inspecionado como conforme ou não
conforme, de acordo com as especificações dessas características de qualidade. Taguchi e outros (1989)
propuseram um método econômico para monitorar em tempo real características da qualidade, tanto
de variáveis, quanto de atributos. Esse método é conhecido como modelo de Taguchi para controle on-
Metodologia
Cadeias de Markov
As cadeias de Markov são usadas como modelos probabilísticos para uma variedade de situações
em biologia, administração, engenharia, física e outras áreas. Esse modelo é usado para descrever um
experimento que é repetido da mesma maneira muitas vezes, sendo que o resultado de cada repetição
do experimento pode ser um dentre alguns resultados possíveis e previamente especificados. Além
disso, supõe-se que o resultado de cada ensaio só depende do ensaio imediatamente anterior (Lay,
1999).
Considere uma sequência de variáveis aleatórias {Xn}, n = 1, 2, ..., supondo-se que o conjunto
dos valores possíveis dessas variáveis seja E = {1, ..., R}. A cada passo n, as transições possíveis entre os
estados da cadeia atendem a propriedade markoviana, ou seja, a probabilidade de transição do estado
i para o estado j em um passo da cadeia é dada por Pij = P{xn+1 = j | xn = i,...,x0 = i0} = P{xn+1 = j|xn = i}.
Nesse trabalho, considera-se que as probabilidades de transição não dependem de n, dizendo-se assim
que a cadeia é homogênea no tempo.
A matriz P = [Pij]RxR é a matriz de probabilidades de transição da cadeia de Markov. Salienta-se
que a soma de qualquer linha da matriz P é 1. Assim, conhecendo-se a distribuição de probabilidades
Modelo probabilístico
Seja um processo que produz itens individuais e independentes a cada unidade de tempo. Ele
inicia operando sob controle, possuindo uma fração de itens não conformes p0. Ele passa à condição
fora de controle em algum instante aleatório, devido à causa especial. Nesse trabalho, a duração do
processo sob controle é medida por meio da quantidade de itens produzidos antes da mudança de
estado do processo (tempo de falha discreto). Para garantir que a produção opere sob controle, a
regra de monitoramento estabelece as situações em que se ajusta o processo, assegurando assim seu
retorno à condição inicial. O objetivo é o estudo do comportamento a longo prazo desse processo,
primordialmente o custo unitário por item produzido e enviado ao mercado. Esse trabalho considera
que o processo passa à condição fora de controle, devido à causa especial, em algum instante aleatório,
assumindo que, a cada item produzido, a probabilidade q de o processo sair de controle é constante,
0 < q < 1. Após a falha, o processo torna-se fora de controle, com fração de itens não conformes
p1, p1 > p0. A proporção de itens não conformes retorna a seu valor inicial, p0, somente após uma
intervenção para ajuste do processo produtivo. Para monitoramento do processo, inspeciona-se um
único item de acordo com o seguinte critério: se a peça inspecionada for não conforme, o processo
produtivo é considerado fora de controle, sendo instantaneamente paralisado e ajustado para retornar
ao estado inicial de produção sob controle, após o que se produz novamente uma sequência de m
itens até a próxima inspeção, repetindo-se o procedimento. A Figura 1 apresenta o fluxograma do
monitoramento do processo.
As probabilidades de transição entre os estados são denotados por P(wi-1,si-1),(wi,si) em que (wi,si)
é o estado da cadeia na conclusão do i-ésimo ciclo de monitoramento. A matriz de probabilidades
de transição é dada por P = [P(wj, sj), (wk, sk)], para todo (w, s) ∈ E. Para ilustrar, P(1,1), (1,0) representa a
probabilidade de que o processo seja ajustado no próximo ciclo [estado (1,0)], dado que não ocorreu
mudança do processo no ciclo atual.
Após ajuste do processo, ele retorna à sua condição inicial e o próximo ciclo de monitoramento
é iniciado operando sob controle. Por outro lado, a probabilidade de ocorrer mudança no estado do
processo durante o ciclo atual é j(m). Assim as probabilidades de transição dos estados (0, 0), (1, 0) e
(1, 1) para os estados (0, 0) e (0, 1) são, respectivamente:
Além disso, a probabilidade de o processo permanecer sob controle, dado que o ciclo iniciou-se
nessa situação é 1 – j(m). Assim, as probabilidades de transição dos estados (0, 0), (1, 0) e (1, 1) para
os estados (1,0) e (1, 1) são, respectivamente:
A partir do estado (0, 1), situações em que o ciclo atual está fora de controle durante a amostragem
e o item inspecionado é conforme, são possíveis transições unicamente para os estados (0, 0) e (0, 1).
As probabilidades dessas transições são, respectivamente:
P(0,1),(0,0) = p1 (6)
P(0,1),(0,1) = 1- p1 (7)
Não é possível transição do estado (0, 1) para os estados (1, 0) e (1, 1), ou seja, P(0, 1), (1,0) = P(0, 1), (1,1) = 0.
A matriz P é ergódica e, portanto, há distribuição estacionária que é denotada por p’ = [ p(w, s); (w, s)
∈ E ]. Esse vetor é a solução do sistema de equações lineares p’ = p’P, com a restrição de que ∑p(w,s)=1. Sua
(w,s)∈E
solução é:
A probabilidade p(w, s) pode ser considerada como a proporção de tempo que o sistema de
monitoramento visita o estado (w, s) após uma quantidade suficientemente grande de inspeções.
Considerando um grande número de inspeções, pode-se obter, por exemplo, P{Xn‑1 = (1, 0) | Xn =
(0, 0)} que indica a proporção de vezes em que os ciclos do estado (0, 0) foram imediatamente precedidos
por ciclos do estado (1, 0). Sua expressão é:
P{Xn=(0,0)|Xn-1=(1,0)}P{Xn-1=(1,0)}
P{Xn-1=(1,0)|Xn=(0,0)}= (9)
P{Xn=(0,0)}
P{Xn = (0, 0) | Xn-1 = (1, 0)} é a probabilidade de transição do estado (1, 0) para o estado (0, 0),
P(1, 0),(0, 0). Por outro lado, considerando que o processo de produção opera há muito tempo, podemos
aproximar as probabilidades incondicionais da expressão (9), por suas equivalentes na distribuição
estacionária, ou seja, P{Xn‑1 = (1, 0)} = p(1,0) e P{Xn = (0, 0)} = p(0,0). Dessa maneira, temos que:
P(1,0),(0,0)p(1,0)
P{Xn-1=(1,0)|Xn=(0,0)}= (10)
p(0,0)
As expressões de P{Xn‑1 = (1, 0) | Xn = (0, 0)} e P{Xn‑1 = (1, 0) | Xn = (0, 0)} são obtidas de maneira
similar. Assim, considerando um grande número de inspeções, a proporção de vezes em que ciclos de
monitoramento associados ao estado (0, 0) são iniciados com o processo sob controle, pc(0,0) é:
pc(0,0) = P{Xn-1=(1,1)∪Xn-1=(0,0)|Xn=(0,0)}
P p(1,1)=P(0,0)(1,0)p(1,0)+P(0,0)(0,0)p(0,0)
= (0,0)(1,1) (11)
p(0,0)
pc(0,0) = p1
A estrutura de custos considerada é similar àquela adotada por Bessegato e outros (2011),
Para a composição do custo do sistema de monitoramento são considerados três de seus aspectos:
inspeção, ajuste e envio de itens não conformes ao mercado. Supõe-se que os itens inspecionados são
descartados. Adotamos a seguinte notação: cinsp, é o de custo de classificação e descarte de um item
inspecionado; cnc, é o custo de item defeituoso que segue para o consumidor final ou para as próximas
etapas do processo; ca, é o custo de ajustar o processo. Além disso, denota-se por C(w, s) o custo médio
do estado (w, s).
Quando o processo está fora de controle durante a amostragem [estados (1, 0) e (1, 1)], há duas
situações a serem consideradas para a determinação do custo médio de itens defeituosos enviados ao
mercado. O primeiro caso refere-se aos ciclos que são iniciados com o processo de produção fora de
controle, em que o número médio de itens não inspecionados defeituosos é p1(m – 1). A segunda
situação refere-se aos ciclos durante os quais o processo tornou-se fora de controle (aumentou a fração
de não conformes do processo). Nessa situação, é razoável admitir que o processo, em média, saiu de
controle na metade do ciclo. A quantidade média de itens defeituosos enviados ao mercado é então
(p0 + p1)(m – 1)/2. Empregando (11), o custo esperado dos ciclos de monitoramento associados aos
estados (0, 0) e (0,1) são, respectivamente:
C(0,0) = cinsp+cnc(m-1)
[ pc(0,0)
(p0+p1)
2 ]
+pF(0,0)p1 +ca (14)
C(0,1) = cinsp+cnc(m-1)
[ pc(0,1)
(p0+p1)
2
+pF(0,1)p1
] (15)
C(m)
Cu(m)= (17)
m-1
Não se pode obter uma expressão explícita para (17) e a solução é alcançada computacionalmente.
Busca-se m0, o valor de m que minimiza Cu(m).
Aplicação e resultados
O exemplo descrito nesta seção se baseia em Bessegato e outros (2011). A escolha foi motivada
pela simplicidade e pela facilidade de ajuste para outras aplicações. Geralmente, qualquer processo de
alta precisão que utilize controle automático fundamentado na coleta de observações individuais pode
ser aprimorado pelo procedimento discutido neste trabalho.
Dados históricos permitem adotar p0 = 0,001 como a fração de itens de itens não conformes
do processo de produção (processo sob controle) e a mudança para um processo fora de controle
Conclusão
O presente trabalho apresenta algumas das características do planejamento econômico de
procedimento de controle on-line por atributo, compreendendo a busca do parâmetro ótimo de
planejamento (intervalo entre amostragens, m) e de seu correspondente custo unitário ótimo [Cu(m0)].
Salienta-se a simplicidade do método e sua aplicabilidade em uma ampla gama de situações. O
uso da planilha eletrônica mostra-se uma importante ferramenta na análise rápida dos resultados,
principalmente quanto à observação de seu comportamento quando da alteração de parâmetros
probabilísticos ou de custo (dados de entrada do modelo). O uso de propriedades de cadeias de Markov
facilita a modelagem e a compreensão do problema.
Em trabalhos futuros, pode-se estudar a sensibilidade dos resultados em relação a variações de
dados de entrada, bem como a análise dos efeitos decorrentes da incorporação de erros de classificação
no modelo.
Agradecimentos
Referências
BESSEGATO, L. F. Extensão para Controle On-line por Atributo com Erros de Classificação:
Intervalo de Inspeção Variável, Amostragem Não-Unitária, Horizonte Finito e Infinito. 2009,
180 p. Tese (Doutorado em Estatística), EST/Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizon-
te, 2009.
BESSEGATO, L.; QUININO, R.; HO, L. L. E DUCZMAL, L. Variable interval sampling in eco-
nomical designs for on-line process control for attributes. Journal of the Operational Research
Society, v. 62, p. 1365 – 1375, 2011.
BESSEGATO, L. F.; QUININO, R. C.; DUCZMAL, L. H.; HO, L. L. On-line process con-
trol using attributes with misclassifications errors: an economical design for short-run production.
Communications in Statistics – Theory and Methods, v. 41, p. 1813 – 1832, 2012.
BORGES, W.; HO, L. L.; TURNES, O. An analysis of Taguchi’s on-line quality monitoring pro-
cedure for attributes with diagnosis errors. Applied Stochastic Models in Business and Industry,
v. 17, n. 3, p. 261 – 276, 2001.
TRINDADE, A. L. G.; HO, L. L.; QUININO, R. Controle on-line por atributos com erros de
classificação: uma abordagem econômica com classificações repetidas. Pesquisa Operacional, v. 27,
p. 105 – 116, 2007.
QUININO, R.; COLIN, E. C.; HO, L. L. Diagnostic errors and repetitive sequential classifications
in on-line process control by attributes. European Journal of Operational Research, v. 201, n. 1,
p. 231 – 238, 2010.
RESUMO
O Oxigênio molecular é um dos principais componentes da atmosfera terrestre. Assim, proces-
sos que envolvem colisões entre Oxigênio atômico e molecular são de interesse na físico-química
atmosférica e da combustão. Tais colisões podem ser estudadas com ajuda de uma superfície de
energia potencial para o sistema O3 (1A1). Com esse objetivo, a superfície de energia potencial
do sistema O3 (1A1) será aqui estudada. A fim de fornecer uma representação para tal potencial,
formas funcionais baseadas no método Double Many-Body Expansion (DMBE) foram propos-
tas, proporcionando um correto ajuste para os pontos ab initio. Os cálculos relativos aos valores
de energia foram realizados com o auxílio do programa GAMESS, valendo-se do nível de cálcu-
lo Multi-Reference Second-Order Moller-Plesset Perturbation Theory (MRMP2), juntamente
com as bases aug-cc-pVXZ (X=D, T).
Palavras-chave: Superfície de energia potencial. Cálculos ab initio.
1. Introdução
Uma superfície de energia potencial, dentro da aproximação de Born-Oppenheimer, modelo
no qual os elétrons ajustam suas posições instantaneamente para acompanhar qualquer movimento
do núcleo (MURRELL et al., 1984), é, em síntese, uma função que fornece a energia eletrônica em
função das coordenadas nucleares.
Tal superfície pode ser obtida por meio do ajuste de uma função contínua a um conjunto de
pontos ab initio e/ou dados experimentais, sendo o termo ab initio utilizado na descrição de métodos
que procuram calcular as propriedades moleculares a partir do início, isto é, resolvendo a equação de
Schrödinger sem utilizar nenhum dado experimental (STONE, 1996).
O presente trabalho irá apresentar a superfície de energia potencial do sistema O3 (1A1). Para
a elaboração dessa superfície, foi necessário construir a curva de energia potencial para o sistema O2
2. Metodologia
2.1. Cálculos ab initio
Os cálculos ab initio para a obtenção dos valores de energia utilizados na elaboração das
superfícies de energia potencial foram realizados com o auxílio do programa GAMESS (SCHMIDT,
1993), utilizando o nível de cálculo Multi-Reference Second-Order Moller-Plesset Perturbation
Theory (MRMP2) com as bases aug-cc-pVXZ (X=D, T) (sistema O3 (1A1)) e aug-cc-pVXZ (X=D, T,
Q) (sistema O2 (X3∑g-)) (KENDALL et al., 1992; DUNNING, 1989).
Foram calculados 87 pontos ab initio em cada uma das três bases para a curva de energia potencial
do sistema O2 (X3∑g-) e 352 pontos ab initio em cada uma das duas bases para a construção do termo
que representa a interação de três corpos da superfície de energia potencial do sistema O3 (1A1).
0.10
Energia na Base AVDZ
Energia na Base AVTZ
Energia na Base AVQZ
0.05
0.00
E (Hartree)
-0.05
-0.10
-0.15
-0.20
2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00
RO-O (Bohr)
Etot=E∞+Bexp[-(X-1)]+C[-(X-1)2]
onde X assume os valores 2, 3 ou 4 de acordo com a base utilizada, isto é, X = 2, se a base for aug-cc-
pVDZ, X = 3, se a base for aug-cc-pVTZ e X = 4, se a base for aug-cc-pVQZ.
Esse método busca realizar uma extrapolação separada das energias Hartree-Fock e de correlação
dinâmica, de modo que, depois de somadas as duas energias extrapoladas, é possível obter a extrapolação
para a energia total. Nesse contexto, duas expressões foram utilizadas:
onde X assume valores conforme já explicado. Ainda é preciso destacar que, com o intuito de facilitar
a utilização de tal método, foi realizada uma aproximação do expoente de A3, fazendo 1.25 ≃1.
Método 3 (FELLER, 1993; WOON & DUNNING, 1993; FELLER & PETERSON, 1998;
HELGAKER, 1997)
Energia Hartree - Fock:
0.10 0.10
Energia na Base AVDZ Energia na Base AVDZ
A Energia na Base AVTZ
Energia na Base AVQZ C Energia na Base AVTZ
Energia na Base AVQZ
0.05 Energia Extrapolada 0.05 Energia Extrapolada
0.00 0.00
E (Hartree)
E (Hartree)
-0.05 -0.05
-0.10 -0.10
-0.15 -0.15
-0.20 -0.20
2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00
RO-O (Bohr) RO-O (Bohr)
0.10 -0.170
Energia na Base AVDZ Energia Extrapolada - Metodo 1
B Energia na Base AVTZ
Energia na Base AVQZ D Energia Extrapolada - Metodo 2
Energia Extrapolada - Metodo 3
0.05 Energia Extrapolada -0.175
0.00 -0.180
E (Hartree)
E (Hartree)
-0.05 -0.185
-0.10 -0.190
-0.15 -0.195
-0.20 -0.200
2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00 2.10 2.20 2.30 2.40 2.50 2.60
RO-O (Bohr) RO-O (Bohr)
Fig. 2 - A- Extrapolação de energia com o Método 1. B- Extrapolação de energia com o Método 2. C- Extrapolação de energia com
o Método 3. D- Comparação dos resultados obtidos com os Métodos 1, 2 e 3 na região de equilíbrio.
3. Resultados
3.1. Curva de energia potencial para o sistema O2 (X3∑g-)
A construção da curva de energia potencial para o sistema O2 (X3∑g-) foi realizada por meio do
ajuste de uma forma funcional adequada aos pontos ab initio calculados e posteriormente extrapolados.
A forma funcional utilizada baseia-se no método Double Many-Body Expansion (DMBE), que será
explicado com mais detalhes na seção 3.2. A necessidade de uma boa qualidade no ajuste dos pontos
ab initio fez com que a expressão apresentada na sequência fosse utilizada.
V=Vdc+VEHF
O ajuste da forma funcional foi realizado com auxílio do programa GNUPLOT. É necessário
ressaltar que n, na equação de longo alcance, assumiu os valores 6, 8, 10 e 12, e, na função de curto
alcance, foi feito n = 7.
Os valores encontrados para os coeficientes da função que fornece a curva de energia potencial
do sistema O2 (X3∑g-) estão inseridos na Tabela I.
0.15 20.00
Energia Extrapolada Erro
V
15.00
0.10
10.00
0.05 5.00
0.00
E (Hartree)
0.00
E (cm-1)
-5.00
-0.05
-10.00
-0.10 -15.00
-20.00
-0.15
-25.00
-0.20 -30.00
2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00 10.00 2.00 2.50 3.00 3.50 4.00 4.50 5.00
RO-O (Bohr) RO-O (Bohr)
Fig. 3 - Curva de energia potencial para o sistema O2 (X3∑g-) comparada com os pontos de energia extrapolados (gráfico à esquerda)
e gráfico de erro entre a forma funcional ajustada e os valores de energia extrapolados (gráfico à direita).
Na construção da superfície de energia potencial para o sistema O3 (1A1) foi utilizado o método
Double Many-Body Expansion (DMBE). Este, em resumo, consiste em descrever o potencial de
interação de n corpos através da expressão:
V=∑Va +∑Vabc+...+∑Vabc-n
onde Va representa a energia potencial de um único átomo, Vab representa a interação de dois corpos,
Vabc representa a interação de três corpos e Vabc-n representa a interação de n corpos.
Essa divisão da interação total é o que se denomina Many-Body Expansion (MBE). Após essa
separação na descrição da interação total de n corpos, busca-se dividir a forma funcional em duas:
uma representando a região de curto alcance e outra representando a região de longo alcance. Isso
completa a metodologia do Many-Body Expansion, dando origem ao método Double Many-Body
Expansion.
Para o sistema aqui estudado, no qual n=3, o termo que representa as interações de dois corpos
foi obtido através da curva de energia potencial para o sistema O2 (X3∑g-). Assim, para completar a
construção da superfície de energia potencial para o sistema O3 (1A1), foi necessário apenas modelar o
termo que representa a interação de três corpos.
A obtenção do termo que representa a interação de três corpos foi realizada por meio do ajuste
de uma forma funcional aos valores de energia extrapolados. Para o sistema O3 (1A1), a forma funcional
utilizada no ajuste do termo de dois corpos é a mesma utilizada na elaboração da curva de energia
potencial do sistema O2 (X3∑g-), uma vez que esse termo é a própria curva de energia potencial desse
V=P(R)T(R)
onde P(R) é um polinômio em função das coordenadas R e T(R) é uma função denominada “range
function”, que garante que o termo de curto alcance de três corpos é exatamente zero na região de longo
alcance.Para a função P(R), foi escolhida a seguinte expressão utilizando coordenadas de simetria:
2 2 2
P(S1,S2,S3)=a0+a1S1+a2S 1 +a3(S 2 +S 3 ) +a4S 13 +a5S1(S 22 +S 32 )+
onde V(3)(R1,R2,R3) é o valor ab initio 3de energia calculado para a configuração do sistema na qual as
distâncias interatômicas são R1,R2,R3; ∑V(2)(Rn) é o valor assumido pela superfície de energia potencial
n=1
do sistema O3 (1A1) quando esta contém apenas os termos de dois corpos; e Eref=-224.603 Hartree é a
energia de dissociação do sistema.
Os valores encontrados para a função que ajusta o termo de três corpos estão indicados na Tabela II.
Com o intuito de representar a superfície de energia potencial para o sistema O3 (1A1), foram
elaborados dois gráficos de contorno. Tais gráficos serão apresentados na sequência.
A 10.0 0.0
B 10.0 0.0
V (Hartree)
3.0
2.0
2.0
1.0 0.0
1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0
R1 (Bohr) x (Bohr)
Fig. 4 - A - Contornos da superfície de energia potencial para configurações do sistema nas quais o ângulo a foi mantido fixo e igual
a p/3radianos e as distâncias R1 e R2, dadas em Bohr, variam de 1 até 10. B- Contornos da superfície de energia potencial para confi-
gurações do sistema estudado nas quais uma distância interatômica entre dois átomos de Oxigênio é mantida fixa e igual a 2.2932
Bohr e o terceiro átomo teve suas posições variando no primeiro quadrante. O gráfico associa os valores de energia às coordenadas
do terceiro átomo.
Apêndice de tabelas
Tab. I - Coeficientes (em unidades atômicas) encontrados para a curva de energia potencial do sistema O2 (X3∑g-).
a1 0.921473091222182 C6 0.9685078817988
a2 -0.741427362966936 C8 0.995408043293381
a3 1.60138495509237 C10 0.999599100892957
a4 -1.49964884060562 C12 0.999979229249834
a5 1.3362485694066 y0 0.453680622279274
a6 -0.798753523634405 y1 5.82630914379119
a7 0.196644022997513 y2 0.320365092473095
R0 1.05295186966499 D 0.44746064267568
Tab. II - Coeficientes (em unidades atômicas) encontrados para o termo de três corpos da superfície de energia potencial do sistema O3 (1A1).
a1 -0.55866093 a6 -0.583069909
a2 0.984086923 a7 -0.336473758
a3 0.800038065 a8 -0.62199774
a4 -0.369933217 a9 0.866403338
a5 -0.0319789427 a10 -0.68745523
a0 0.0703417891
Tab. III - Análise de algumas propriedades extraídas das superfícies de energia potencial.
O2(X3∑g-) Distância de Equilíbrio (Bohr) Frequência (cm-1)
Dados Experimentais* 2.2818829 1580.193
Resultados Obtidos 2.2890358 1566.022
O 3( A 1)
1
Distâncias Internucleares (Bohr) Frequência (cm-1)
2.7541 723.75
Valores ab initio** 2.7541 725.35
2,7542 1000.49
Agradecimentos
Ao Laboratório de Simulação Computacional do Departamento de Física da UFJF pelo suporte
técnico. À FAPEMIG (CEX APQ 00895/11) e à Propesq UFJF pelo suporte financeiro.
Referências
MURRELL, J. N. et al. Molecular potential energy functions. 1. ed. Chichester: John Wiley &
Sons, 1984.
STONE, A. J. The Theory of Intermolecular Forces. 1. ed. Oxford: Clarendon Press, 1996.
BALLESTER, M. Y. A theoretical study on the HSO2 molecular system. 2008, 162p. Tese (Dou-
torado – Química Teórica), Universidade de Coimbra, Coimbra, 2008.
SCHMIDT, M. W. et al. General Atomic and Molecular Electronic Structure System. Journal of
Computational Chemistry, v. 14, n.11, p. 1347-1363, 1993.
KENDALL, R. et al. Electron affinities of the first‐row atoms revisited: Systematic basis sets and
wave functions. The Journal of Chemical Physics, v. 96, n. 9, p. 6796-6806, 1992.
FELLER, D. The use of systematic sequences of wave functions for estimating the complete basis
set, full configuration interaction limit in water. The Journal of Chemical Physics, v. 98, n. 9, p.
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WOON, D. E.; DUNNING, T. H. Jr. Benchmark calculations with correlated molecular wave
functions. I. Multireference configuration interaction calculations for the second row diatomic
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HELGAKER, T. et al. Basis-set convergence of correlated calculations on water. The Journal of Che-
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PETERSON, K. A. et al. Benchmark calculations with correlated molecular wave functions. IV. The
classical barrier height of the H+H2→H2+H reaction. The Journal of Chemical Physics, v. 100, n.
10, p. 7410-7415, 1994.
KARTON, A.; MARTIN, J. M. L. Comment on: “Estimating the Hartree–Fock limit from finite
basis set calculations” [Jensen F (2005) Theor. Chem. Acc. 113:267]. Theoretical Chemistry Ac-
counts, v. 115, n. 4, p. 330-333, 2006.
RESUMO
A tuberculose é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Mycobacterium, entre
elas o M. bovis. Esses bacilos penetram no organismo principalmente pela via respiratória, sendo
fagocitados pelos macrófagos alveolares. A infecção desencadeia uma cascata de moléculas infla-
matórias, que visa a eliminação do patógeno. A citocina fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α)
tem um papel importante no desenvolvimento da tuberculose por induzir potente resposta in-
flamatória, além de regular a apoptose. O TNF-α atua por meio de dois receptores de superfície
celular, o receptor 55-kDa (TNFR1) e o receptor 75-kDa (TNFR2). Esses receptores são inicial-
mente sintetizados como proteínas ancoradas na membrana celular, mas podem ser clivados por
proteólise originando os receptores solúveis sTNFR-1 e sTNFR-2, que podem competir com os
TNFRs pela ligação com o TNF-α. O objetivo desse trabalho foi analisar, in vitro, a expressão
de TNFRs na superfície macrófagos J774.A1 infectados com o M. bovis BCG, além de investi-
gar a presença de sTNFRs e TNF-α nos sobrenadantes de cultura. Os resultados mostram uma
produção significativa de TNF-α e maior expressão de TNFR1 nas culturas infectadas com M.
bovis, em comparação ao controle não infectado. Na presença de M. bovis as células apresentaram
uma diminuição significativa na expressão do TNFR2, o que correlacionou com maior detecção
de sTNFR2. Estes dados indicam que a infecção de macrófagos J774.A1 com o M. bovis induz
um aumento significativo na produção de TNF-α que correlaciona com uma maior expressão de
TNFR1 na superfície das células cultivadas. Os níveis de sTNFR2 foram maiores após a infec-
ção com M. bovis e podem influenciar no acesso do TNF-α ao TNFR1, modulando a atividade
biológica do TNF-α.
Palavras-chave: Mycobaterium bovis. TNF-α. Macrófago. Receptores de TNF-α.
Metodologia
Macrófagos (J774A.1) foram cultivados em estufa a 370 C e atmosfera contendo 5% de CO2, em
meio RPMI 1640 suplementado com 1% penicilina/estreptomicina e 5% de soro fetal bovino. Após
5 dias de cultura as células foram lavadas, distribuídas em placas de 24 poços (105/poço) e incubadas
por 24h antes da infecção.
Resultados e discussão
O TNF-a é uma citocina proinflamatória essencial na resposta imune frente a infecções causadas
por micobactérias. O TNF-a está envolvido em quase todas as fases da resposta inflamatória induzida
após a infecção, englobando a migração de leucócitos através dos vasos sanguíneos, sua retenção e
ativação no local da infecção (SAUNDERS et al., 2005).
Muitas evidências indicam que a sinalização através dos receptores de TNF (TNFR) exerce
importante papel protetor na infecção contra micobactérias, relacionado com as inúmeras funções
que o TNF-a desempenha na resposta imune contra o Mycobacterium. O TNF-a possui receptores
capazes de mediar tanto sinais de sobrevivência como sinais de morte celular (TNFR1), e receptores
que irão mediar apenas sinais de sobrevivência (TNFR2) (IHNATKO e KUBES, 2007). Este trabalho
avaliou a produção de TNF-a por macrófagos J774.A1 após infecção com M. bovis BCG, investigando
também a expressão de receptores de superfície (TNFRs) e receptores solúveis de TNF-a (sTNFR).
A análise da produção de TNF-a no sobrenadante das culturas previamente infectadas com M.
bovis mostrou que houve um aumento significativo em sua produção quando comparado ao controle
não infectado (Fig. 1). O aumento na produção de TNF-a pode ser relacionado com uma resposta da
célula infectada visando aumentar sua capacidade microbicida. Foi observado também um aumento na
expressão de TNFR1 nas células cultivadas com M. bovis (Fig. 2A). Sendo o TNFR1 o principal receptor
de superfície responsável pela sinalização do TNF-a na maioria dos tipos de celulares (GUICCIARDI
e GORES, 2009), o aumento da expressão do TNFR1 nas células infectadas com o M. bovis pode
favorecer uma melhor sinalização induzida pelo TNF-a nessas células, possibilitando uma melhor
resposta ao TNF-a e consequente combate à infecção.
A formação de receptores solúveis de citocinas, como os sTNFRs, é induzida através de um
processo de clivagem dos receptores de membrana (conhecido em inglês como “ectodomain shedding”),
processo que resulta na redução do número de moléculas dos receptores de TNF na superfície celular e
que pode transitoriamente dessensibilizar as células frente a ação do TNF-a. Além disso, essas formas
solúveis de receptores liberados (sTNFR) podem competir com os receptores de superfície celular pela
ligação com o TNF-a e assim bloquear a atividade dessa citocina (ADERKA, 1996; XANTHOULEA
et al., 2004). Neste trabalho não foi observado aumento na liberação do receptor solúvel sTNFR1,
indicando que os receptores TNFR1 de superfície não são clivados de forma significativa após a infecção
dos macrófagos com o M. bovis BCG (Fig. 3A)
Quando analisamos a expressão do receptor de superfície celular TNFR2, percebemos que houve
uma diminuição significativa deste receptor nas culturas contendo M. bovis, quando comparado com
Conclusões
O presente trabalho mostra que a infecção de macrófagos J774.A1 por M. bovis induz um
aumento significativo na produção de TNF-a que correlaciona com uma maior expressão de TNFR1
na superfície das células cultivadas. Os níveis de sTNFR2 foram maiores após a infecção com M. bovis
e podem influenciar no acesso do TNF-a ao TNFR1, modulando a atividade biológica desta citocina.
Agradecimentos
Este trabalho teve apoio do CNPq, CAPES e FAPEMIG.
Figuras e legendas
Controle
3200 BCG
*
2800
2400
*
2000 *
TNF (pg/ml)
1600
1200
800
400
Fig. 1 - Produção de TNF-a por células infectadas com M. bovis. Macrófagos J774.A1 foram distribuídos em placas de 24 poços
(105/poço) e posteriormente infectados com M. bovis BCG (cepa Moreau) na proporção de 10:1 micobactérias por macrófago (MOI
10:1). Células J774.A1 infectadas (barras escuras) ou não infectados (barras claras) foram cultivadas a 37oC, em 5% CO2, por 24, 48
e 72h. As concentrações de TNF-a nos sobrenadantes das culturas foram mensuradas por ELISA. Valores representam a média e o
erro padrão. * = p < 0.05 versus grupo controle não infectado.
200 Controle *
BCG
150
*
TNFR1 (MFI)
100
*
50
600
400
TNFR2 (MFI)
* *
*
200
Fig. 2 - Expressão de TNFR1 e TNFR2 em células J774.A1 infectadas com M. bovis BCG. Macrófagos J774.A1 foram cultivados
com M. bovis BCG por 24, 48 e 72 horas (barras escuras). Após a cultura as células foram marcadas com anticorpos anti-CD120a-
-FITC (TNFR1) (A) ou anti-CD120b-PE (TNFR2) (B) e analisadas por citometria de fluxo. Cada barra representa a média e o
erro padrão, referente à intensidade de fluorescência. * = p < 0.05 versus grupo controle não infectado (barras claras).
1200
Controle
BCG
1000
800 *
sTNFR1 (pg/ml)
600 *
400
200
B
1600 *
*
1200
sTNFR2 (pg/ml)
800
400
Fig. 3 - Detecção de sTNFR1 e sTNFR2 em culturas de células J774.A1 infectadas com M. bovis. Macrófagos J774.A1 foram
cultivados com M. bovis BCG a 37ºC, em 5% de CO2, por 24, 48 e 72 horas (barras escuras). Os sobrenadantes de cultura foram
testados quanto a presença dos receptores solúveis sTNFR1 (A) e sTNFR2 (B) através do método de ELISA. * = p < 0.05 versus grupo
controle não infectado (barras claras).
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Resumo
Investigou-se o efeito do bloqueio dos receptores AT1 para angiotensina II no núcleo paraven-
tricular do hipotálamo (PVN) sobre ajustes termorregulatórios durante o estresse térmico. As
temperaturas corporal interna (Tc) e da cauda foram registradas em ratos Wistar após injeção
bilateral de salina (n=6) ou losartan (n=4) no PVN antes da exposição ao calor (42 °C, 30 min).
O estímulo térmico induziu aumento rápido da Tc após ambos os tratamentos. No entanto, a
variação da Tc foi superior nos animais tratados com losartan no PVN a partir de 20 minutos
de estresse térmico até o final da exposição ao calor (p<0,05). A temperatura da cauda também
se elevou nos animais de ambos os grupos, indicando que mecanismo autonômico de dissipa-
ção de calor foi ativado. Entre os minutos 15 e 18, os animais do grupo losartan apresentaram
menor variação da temperatura da cauda, porém, ao final do estímulo térmico, a temperatura
da cauda atingiu valores superiores nesses animais em comparação com os controles (p<0,05).
Apesar disso, o tratamento com losartan não interferiu no estabelecimento do limiar térmico
para vasodilatação da cauda. Os dados indicam que o bloqueio dos receptores AT1 no PVN
induz aumento da taxa de aquecimento corporal, que rapidamente produz hipertermia. Sugere-
-se que o sistema angiotensinérgico atuando no PVN induz ajustes termorregulatórios durante
a exposição ao calor, prevenindo níveis altos de acúmulo de calor e protegendo o cérebro da
hipertermia excessiva.
Palavras-chave: Hipertermia. Temperatura corporal interna. Losartan. Atividade simpática.
Metodologia
Animais:
Foram utilizados ratos Wistar adultos (330 ± 8 g), provenientes do Centro de Biologia da
Reprodução da Universidade Federal de Juiz de Fora (CBR/UFJF). Após os procedimentos cirúrgicos,
os animais foram mantidos em gaiolas individuais, com fotoperíodo de 12h luz/12h escuro, sob
temperatura ambiente de 23 ± 2° C, tendo livre acesso à ração para ratos (Nuvilab) e água.
Todos os procedimentos foram submetidos à comissão de Ética em Experimentação Animal da
Universidade Federal de Juiz de Fora (CEEA) e foram executados de acordo com o regulamento do
Comitê.
Os animais foram submetidos à cirurgia para implante de cânulas guia (18 mm de comprimento
x 0,5 mm de diâmetro interno) bilateralmente no PVN. Para tal, os ratos foram anestesiados com mistura
de cetamina (72 mg/kg de peso corporal) e xilazina (8 mg/kg de peso corporal, via intraperitoneal) e
adaptados em estereotáxico para roedores (Insight EFF 331, Riberirão Preto, Brasil). Foram obedecidas
as coordenadas estereotáxicas estabelecidas pelo atlas de Paxinos e Watson (1986) cujos parâmetros
para o PVN são: -1,5 mm posterior ao bregma (ântero-posterior), -0,4 mm a partir da linha mediana
(látero-lateral) e -7,8 mm a partir da dura mater (vertical). O correto posicionamento das cânulas foi
verificado através de análise histológica. As microinjeções localizadas nos arredores do PVN foram
consideradas efetivas.
Durante o mesmo ato cirúrgico de canulação do PVN, o sensor de temperatura (G2 E-Mitter,
Mini Mitter, Sun River, OR) foi implantado na cavidade intraperitoneal, através das camadas
musculares, por meio de pequena incisão na linha Alba de aproximadamente 2 cm.
Ao término das cirurgias, os animais receberam antibiótico (48.000 U - Pentabiótico Veterinário
Pequeno Porte®, Fort Dodge; 2,0 ml/Kg via intramuscular) e analgésico/anti-inflamatório (Banamine
injetável®, Schering-Plogh; 1,0 mg/Kg, via subcutânea). Foi permitido aos animais um período de
recuperação de, no mínimo, uma semana antes de serem submetidos aos experimentos.
Exposição ao calor
A Tc foi medida por telemetria através do sensor implantado intraperitonealmente. Para determinação
da temperatura da cauda, um termistor de cauda (Yellow Springs Instruments, 409-B) foi fixado sobre a
pele com esparadrapo, cerca de 10 mm de distância da base da cauda. Este termistor foi conectado a um
leitor digital (Yellow Springs Instruments, 4600 Precision Thermometer). A temperatura ambiente foi
controlada por meio de termômetro digital fixado no local do experimento (Minipa, ET-1400).
Protocolo experimental
Cálculos:
Análise estatística:
Resultados
Como ilustrado na Fig. 1, durante a exposição ao calor houve elevação da Tc em ambos os grupos
experimentais. Entretanto, a partir do vigésimo minuto do início do estresse térmico, os animais tratados
com losartan apresentaram variação maior da Tc (1,65 ± 0,17 salina vs 2,10 ± 0,18 losartan; p<0,05).
Ao final da exposição ao calor, os animais tratados com losartan apresentaram valores superiores de Tc
em relação aos animais tratados com salina (2,52 ± 0,11 salina vs 3,54 ± 0,14 losartan; p<0,05).
A temperatura da cauda (Fig.2) aumentou em ambos os grupos ao longo da exposição ao calor,
o que demonstra a ativação de mecanismo de dissipação de calor. Entre os minutos 15 e 18, os animais
do grupo losartan apresentaram aumento menos intenso da temperatura da cauda (p<0,05). Essa
diferença não se manteve entre os minutos 18 e 27 de estresse térmico. Porém, a partir do vigésimo
oitavo minuto até o final do experimento, os animais tratados com losartan apresentaram aumento
mais acentuado da temperatura da cauda em comparação com os animais controles (4,86 ± 0,38 salina
vs 6,35 ± 0,21 losartan; p<0,05).
O cálculo do limiar térmico para vasodilatação cutânea (Fig. 3) demonstrou que o valor da Tc
limite para desencadeamento da vasodilatação da cauda durante o estresse térmico não foi afetado pelo
tratamento com losartan no PVN (0,6 ± 0,13 salina vs 0,75 ± 0,26 losartan; p<0,05).
Para avaliar os efeitos térmicos da exposição ao calor, foram calculadas as taxas de aquecimento
corporal e de acúmulo de calor (Fig. 4). Os valores para tais taxas foram 50% e 39,1% maiores nos
animais tratados com losartan, respectivamente (p<0,05).
Discussão
No presente estudo, o bloqueio dos receptores AT1 para angitensina II no PVN durante a
exposição ao calor produziu aumento da Tc, a qual se associouà elevação das taxas de aquecimento
corporal e de acúmulo de calor. Esses dados sugerem que as vias centrais mediadas pela angiotensina II
no PVN modulam o balanço térmico durante o estresse térmico.
A hipertermia é um estímulo potente para a ativação do sistema autonômico simpático
(MORRISON, 2001). Este contribui para a manutenção da Tc ao alterar seletivamente o padrão de sua
atividade de acordo com o leito vascular específico, modificando de modo distinto o fluxo sanguíneo de
Conclusão
Os dados indicam que o bloqueio dos receptores AT1 no PVN induz aumento da taxa de
aquecimento corporal, que rapidamente produz hipertermia. Sugere-se que o sistema angiotensinérgico
atuando no PVN induz ajustes termorregulatórios durante a exposição ao calor, prevenindo níveis altos
de acúmulo de calor e protegendo o cérebro da hipertermia excessiva.
Figuras
4
SALINA
**
Temperatura corporal interna (ºC)
LOSARTAN **
**
**
3
**
*
2
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo (min)
Fig. 1 - Efeito da microinjeção bilateral no PVN de salina (n=6) ou losartan (n=4) sobre a variação da temperatura corporal interna
durante o estresse térmico. Os valores estão expressos como média±E.P.M. *Diferença entre grupos, p<0,05.
8
SALINA
* **
LOSARTAN
Temperatura da cauda (ºC)
*
** *
0
-2
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo (min)
Fig. 2 - Efeito da microinjeção bilateral no PVN de salina (n=6) ou losartan (n=4) sobre a variação da temperatura da cauda durante
o estresse térmico. Os valores estão expressos como média±E.P.M. *Diferença entre grupos, p<0,05.
60 0,20
HSR (SALINA)
Taxa de aquecimento corporal (°C.min )
-1
HSR (LOSARTAN)
Taxa de acúmulo de calor (cal.min )
-1
50 BHR (SALINA)
BHR (LOSARTAN)
0,15
40
* *
30 0,10
20
0,05
10
0 0,00
Fig. 3 - Efeito da microinjeção bilateral no PVN de salina (n=6) ou losartan (n=4) sobre a taxa de acúmulo de calor (HSR) e a taxa
de aquecimento corporal (BHR) durante o estresse térmico. Os valores estão expressos como média±E.P.M. *Diferença entre grupos,
p<0,05.
1.0
0.8
0.6
0.4
0.2
0.0
Fig. 4 - Efeito da microinjeção bilateral no PVN de salina (n=6) ou losartan (n=4) sobre o limiar térmico para vasodilatação cutânea.
Os valores estão expressos como média±E.P.M.
Referências
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Resumo
Em ruminantes, fatores metabólicos individuais influenciam na composição dos protozoários
ruminais. Objetivou-se caracterizar, quantificar e determinar o efeito do animal sobre protozo-
ários no rúmen de 22 ovinos. Foram observadas variações na densidade dos gêneros (P<0,05)
em função do animal. O presente estudo faz o segundo registro de Enoploplastron triloricatum
(DOGIEL, 1925) em ovinos no Brasil, apresentando a caracterização da infraciliatura e detalha-
mento morfológico desta espécie.
Palavras-chave: Ciliophora. Protozoários ruminais. Carbonato de prata. Ruminantes.
Introdução
No Brasil, estudos sobre ciliados ruminais concentram-se predominantemente na região sudeste,
havendo pouca informação sobre as populações de tais organismos nas demais regiões brasileiras,
sendo estes, essencialmente em nível genérico. Desta forma, são escassos os dados nacionais sobre a
composição específica da ciliatofauna ruminal.
Material e Métodos
Foram utilizados 22 ovinos Morada Nova, mantidos em baias individuais no Setor de Caprino-
Ovinocultura, Departamento de Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Os animais
foram distribuídos em blocos casualizados e receberam dietas à base de feno de Tifton 85 (Cynodon
dactylon) com níveis crescentes de concentrado (20, 40, 60 e 80%) composto por milho, farelo de soja
e óleo vegetal.
Amostras de conteúdo do rúmen foram obtidas manualmente do centro da massa ruminal na
ocasião do abate dos animais. Cada amostra consistiu de 20 mL de conteúdo fixadas em igual volume
de formalina 18,5% (DEHORITY, 1984).
A identificação e quantificação genérica dos ciliados ruminais foram realizadas conforme
OGIMOTO & IMAI (1981) e D’AGOSTO & CARNEIRO (1999). Para avaliar os efeitos individuais
dos animais sobre a densidade dos protozoários ruminais, os números médios totais dos gêneros
identificados foram comparados entre animais em cada um dos tratamentos, por meio do Teste T de
Student, desta forma excluindo o fator dieta.
A morfometria foi feita a partir de 20 espécimes de E. triloricatum corados com solução de
Lugol (D’AGOSTO & CARNEIRO, 1999) em microscópio Olympus BX-51 e analisadas por meio
do software Image Pro-Plus 6.0. Os termos de orientação foram descritos conforme DOGIEL (1927)
e a identificação da espécie baseada em descrições propostas por DOGIEL (1925, 1927); KOFOID
& MACLENNAN (1932) e GÖÇMEN e outros (1999). A impregnação das bandas infraciliares foi
obtida por meio da técnica de impregnação pelo carbonato de prata amoniacal com piridina (ITO &
IMAI, 2006). O termo policinécia refere-se às bandas infraciliares compostas por cinécias numerosas,
pequenas e paralelas (ITO & IMAI, 1998; FERNANDEZ-GALIANO et al., 1985).
Resultados e Discussão
Composição e densidade genérica de protozoários ciliados do rúmen de ovinos
Foram observados ciliados das famílias Isotrichidae (Isotricha STEIN, 1859 e Dasytricha
SCHUBERG, 1888) e Ophryoscolecidae [Entodiniinae: Entodinium STEIN, 1859; Diplodiniinae:
Diplodinium SCHUBERG, 1888, Enoploplastron (DOGIEL, 1925), Eudiplodinium (DOGIEL, 1927),
Metadinium AWERINZEW & MUTAFOWA, 1914, Eremoplastron KOFOID & MACLENNAN,
1932, Eodinium KOFOID & MACLENNAN, 1932, Diploplastron KOFOID & MACLENNAN,
1932, Elytroplastron KOFOID & MACLENNAN, 1932].
Tab. II - Números médios e desvio padrão da média dos gêneros de ciliados/mL de conteúdo ruminal (x104) em ovinos Morada Nova
alimentados com dietas à base de feno moído de capim-tifton 85 com níveis crescentes de concentrado (20, 40, 60 e 80%)
20% 40% 60% 80%
Animal Média DP Animal Média DP Animal Média DP Animal Média DP
1 28,72a 108,6 4 11,18ab 28,77 11 32,92a 129,55 16 26,12a 97,76
2 19,01ab 69,31 5 13,01a 49,62 12 13,47b 55,14 17 10,17b 38,81
3 13,93b 44,21 6 6,18b 23,57 13 5,33c 19,89 18 16,22b 56,08
7 4,87b 11,77 14 5,87c 21,57 19 15,44b 54,64
8 13,82a 48,38 15 8,51c 31,38 20 6,06c 22,88
9 14,92a 54,69 21 4,25d 13,02
10 10,15ab 35,46 22 5,61d 20,8
Médias seguidas por letras distintas na coluna diferem significativamente (P<0,05)
PA
PD PV
VC
Mi Mi
PE
Ma CP
Ma
PD
PV PA
Fig. 1– Enoploplastron triloricatum (DOGIEL, 1925) em microscopia óptica. A- espécime sob a técnica de coloração pela solução de Lugol.
B-C- espécimes sob a técnica de impregnação pelo carbonato de prata. PA: policinécia adoral. PV: policinécia vestibular. PD: policinécia
dorsal. CP: cinécias paralabiais. Ma: macronúcleo. Mi: micronúcleo. VC: vacúolos contráteis. PE: placas esqueléticas. Barra: 20µm.
Tab. III – Morfometria (média, desvio-padrão, máximo e mínimo, n=20) da espécie Enoplaplastron triloricatum (Dogiel, 1925)
em diferentes hospedeiros.
Morfometria (µm) Turquia/Ovinos1 Rússia/Bovinos2 Brasil/ Ovinos3
115,89 ± 15,27 95,69 ± 6,67
Comprimento do corpo 60-112
(85-142,5) (87,84-111,79)
68,07 ± 9,59 63,65 ± 4,56
Largura do corpo 37-70
(50-92,50) (56,64-71,84)
58,56 ± 10,85 48,33 ± 5,38
Comprimento Macronúcleo 50
(31,25-80) (40,31-59,67)
4,61 ± 0,95
Diâmetro do Micronúcleo - -
(3,07-7,61)
Distância entre Micronúcleo e a extre- 23,04 ± 3,07
- -
midade anterior do Macronúcleo (17,9-29,02)
Comprimento corpo/ 1,71 ± 0,18 1,50 ± 0,06
-
Largura do corpo (1,42-2,06) (1,31-1,73)
Comprimento Macronúcleo/ 0,51 ± 0,05
- -
Comprimento Corpo (0,36-0,61)
Largura no ponto de fusão entre as 34,05 ± 3,08
- -
Placas (24,67-38,56)
1
GÖÇMEN et al., (1999); 2DOGIEL (1925); 3presente estudo.
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Resumo
O aumento do número de veículos circulando em centros urbanos, como observado em Juiz
de Fora, pode gerar diversos problemas para o município, tais como a degradação da qualidade
do ar e consequentes danos à saúde da população. O presente estudo visa estimar, de acordo
com a metodologia apresentada pela CETESB e MMA, as emissões de poluentes gasosos pelos
veículos automotores no município durante o ano de 2011. Com base nos fatores de emissão
dos poluentes, em informações detalhadas sobre a frota circulante na cidade e no consumo de
combustível anual, foram encontradas as seguintes emissões: 594.048,2 t de CO2; 156,8 t de
CH4; 71,2 t de N2O; 5.712,5 t de CO; 8.285,2 t de NOx; e 1.844,7 t de compostos orgânicos
voláteis não metano.
Palavras-chave: Inventário de emissões atmosféricas. Fontes móveis. Poluição do ar.
Introdução
O setor de transportes tem contribuição majoritária na emissão de poluentes atmosféricos em
centros urbanos, sendo responsável por aproximadamente 9% das emissões equivalentes de dióxido de
carbono no Brasil (MCT, 2006). Trata-se de um problema que tende a agravar-se devido, principalmente,
ao desenvolvimento desordenado dos espaços urbanos e ao aumento da necessidade de deslocamento
da população, o que leva ao aumento dos níveis de tráfego. A cidade de Juiz de Fora se localiza na Zona
da Mata mineira, com uma população de 516.247 habitantes (IBGE, 2010) e uma frota de 193.333
1. Metodologia
1.1. Caracterização da Frota
a) A frota
Para a determinação da frota veicular circulante na cidade em 2011 (CETESB, 2011), fez-se
necessário saber quantos veículos foram emplacados por ano e por tipo nos últimos cinquenta anos,
ou seja, desde 1961. Aplicando-se uma taxa de sucateamento a cada veículo emplacado (item b),
determina-se o número de veículos de cada ano que ainda estão em circulação no ano de estudo.
Foram fornecidos pelo DETRAN/MG (2011) dados referentes ao emplacamento de veículos
em Juiz de Fora para o período de 1991 a 2011. Para suprir a lacuna de dados para os anos anteriores,
foram comparadas as curvas de emplacamento anual da frota municipal e nacional (ANFAVEA,
2011), entre 1991 e 2011. Observou-se uma boa correlação entre o número anual de emplacamentos
de veículos no município e no país para o período conhecido, o que permitiu a estimativa da frota
anual emplacada em Juiz de Fora para o período de 1961 a 1991, aplicando-se para o município
a mesma variação interanual do emplacamento da frota nacional. A Fig. 1 apresenta o número de
automóveis emplacados por ano obtido por essa metodologia, lembrando que da mesma forma
foram obtidos os números para comerciais leves, ônibus, caminhões e motocicletas em Juiz de Fora.
Ressalta-se que, a frota estimada para esses 30 anos, já considerando o sucateamento dos veículos,
representa apenas 5% da frota circulante em 2011, o que diminui a margem de erro associada a essa
extrapolação.
1.500.000 5.000
4.000
1.000.000
3.000
2.000
500.000
1.000
0 0
1960 1970 1980 1990 2000 2010
Não foi possível a categorização da frota de caminhões por peso bruto total (PBT), pois não
há disponibilidade dessas informações para o período de estudo na cidade. Optou-se por não utilizar
o percentual apresentado pela ANFAVEA (2011), uma vez que ele representa a frota nacional de
caminhões, ou seja, engloba aqueles que circulam nas cidades e nas rodovias (incluem os veículos
pesados de maneira significativa). O presente estudo abrange a circulação veicular no perímetro urbano
e, segundo MAIA (2008), 80% da frota urbana de caminhões é composta por veículos leves e médios.
Assim, adotou-se o cenário de uma frota urbana composta somente por caminhões leves, visto não
ser possível a separação dessas duas categorias. Com relação à frota de ônibus, assumiu-se a proporção
apresentada pelo MMA (2010) de que 10% dos ônibus novos licenciados por ano são rodoviários, e
90% são urbanos. As motocicletas foram caracterizadas como movidas gasolina em sua totalidade,
apesar da entrada do tipo flex no mercado nacional a partir de 2009, por não se saber ainda sua
participação percentual no total da frota municipal.
De acordo com o MMA (2010), a introdução do conversor catalítico no mercado nacional teve
início em 1992, e, em 1997, todos os veículos fabricados já vinham com essa tecnologia de controle de
poluição. Adotou-se nesse estudo que todos os veículos fabricados anteriormente a 1994 não possuíam
conversor e todos fabricados após 1994 já haviam sido equipados (CETESB, 2011).
b) Sucateamento
j-50
Fj= ∑ Vn ±S(t) (Eq. 1)
n=j
1 1
S(t)= + (Eq. 3)
(1+e ) (1+e
(a+(t-t0))
)
(a+(t+t0))
Onde t é a idade do veículo e a, b, e to são constantes que dependem do tipo de veículo, e podem
ser obtidas no inventário da CETESB (2011).
Para motocicletas adotou-se o estudo feito pela SINDIPEÇAS (2008) que apresenta o percentual
de motocicletas sucateadas anualmente com base em suas idades, para motor com deslocamento
volumétrico de até 200 cc: até 5 anos, 6% de sucateamento anual; de 6 a 8 anos, 7%; de 9 a 10 anos,
8%; e mais de 11 anos, 10%. Contudo, esses percentuais foram assumidos para todos os motores, por
falta de informações mais específicas sobre suas cilindradas.
Dessa forma, utilizando-se o percentual apresentado pela ANFAVEA (2011) para determinação
do tipo de combustível utilizado por automóveis e comerciais leves e aplicando-se as equações acima,
calculou-se a frota circulante em Juiz de Fora em 2011: 24.193 automóveis a gasolina, 1.999 a álcool
e 40.056 flex; 3.258 comerciais leves a gasolina, 193 a álcool, 3.950 flex e 2.747 a diesel; 23.054
motos a gasolina; 1.423 ônibus urbanos a diesel; e 2.924 caminhões a diesel. Nos cálculos da frota não
foram considerados os ônibus rodoviários, visto que alguns parâmetros da metodologia de cálculo de
suas respectivas emissões dizem respeito à circulação estadual, o que acarretaria em um erro em nível
municipal.
a) Emissões de CO2
O cálculo da emissão de CO2 é feito em duas etapas (CETESB, 2011). Primeiramente, é estimado o
consumo de combustível por tipo de veículo e combustível, levando-se em consideração a intensidade de
uso e o consumo médio de combustível por quilômetro rodado. Em seguida, multiplica-se este resultado,
para cada tipo de veículo e combustível, pelo fator de emissão de CO2 correspondente. As emissões de
CO2 por biocombustível não devem ser contabilizadas no setor de transporte por serem consideradas
carbono neutro. Estas devem ser citadas separadamente para que não sejam contadas duas vezes, uma
vez que são tratadas nos setores de Agricultura, Silvicultura e de Outros Usos do Solo (CETESB, 2011).
As emissões desses gases requerem cálculos com um maior grau de detalhamento, pois seus fatores de
emissão dependem do tipo de tecnologia de controle de poluição do veículo (para os automóveis e comerciais
leves do ciclo Otto), do combustível utilizado e das características de operação (CETESB, 2011). A emissão final
de cada gás é ainda função da frota, por tipo de veículo e combustível, e da sua respectiva intensidade de uso.
A emissão de Compostos Orgânicos Voláteis Não Metano (NMVOC) é formada pela soma das emissões
de Hidrocarbonetos Não Metano que saem pelo escapamento do veículo (NMHCescap) e pelas emissões
evaporativas (NMVOCevap) (CETESB, 2011). As emissões referentes aos NMVOCevap foram calculadas
considerando-se o número de dias de emissão evaporativa por veículo, a emissão evaporativa durante o dia
e o número de viagens por veículo, conforme metodologia aplicada pela CETESB (2011). As emissões de
NMHCescap foram calculadas com as mesmas equações utilizadas para as emissões de CH4 e N2O.
Para calcular as emissões dos gases CO, NOx e NMHCescap para os automóveis e comerciais leves
do Ciclo Otto foi considerado um incremento no fator de emissão, de acordo com a quilometragem
percorrida acumulada. Os veículos foram divididos em: com conversor catalítico (depois de 1994)
e sem conversor catalítico (antes de 1994). No primeiro caso adicionou-se ao fator de emissão de
veículos zero- km um incremento a cada 80.000 km percorridos, para cada poluente, considerando-se
o tipo de combustível (CETESB, 2011). No segundo caso, considerou-se que, ao atingir 160.000 km
rodados, o fator de emissão zero km é incrementado de 20% do seu valor inicial e que, após atingir
os 160.000 km, o fator de emissão permanece constante. Para o estudo do NOx, os veículos sem
conversor catalítico foram considerados sem deterioração (CETESB, 2011).
2. Resultados e Discussões
Os resultados obtidos permitem uma avaliação do cenário das emissões de gases poluentes no
município, sendo estes apresentados na Tab. I e na Fig. 2. Analisando os valores, percebe-se que a frota
de automóveis é a maior responsável pela emissão de CO2, CH4, N2O, CO e NMVOC, correspondendo
a mais de 50% das emissões totais desses gases. O NOx não segue o mesmo padrão, pois 66% de sua
emissão é oriunda da frota de ônibus urbanos. Essa participação mais significativa dos ônibus na
Tab. I - Emissões de poluentes atmosféricos pela frota veicular de Juiz de Fora em 2011.
Emissões em [t] CO2 CH4 N 2O CO NMVOC NOx
Gasolina 93.037,8 33,2 12,3 1.307,1 607,3 525,3
Etanol Anidroa 15.748,1
Etanol Hidratadob 16.235,4 15,4 0,8 1.045,2 325,7 208,1
Automóveis Flex Gasolina 165.558,9 27,7 26,4 646,7 146,2 128,6
Flex Etanol Anidro a
28.023,4
Flex Etanol Hidratado b
44.998,2 6,9 2,1 471,6 302,6 294,8
Total da categoria 363.601,7 83,2 41,5 3.479,6 1.281,8 1.156,8
Gasolina 14.860,7 7,3 1,8 132,6 60,6 58,6
Etanol Anidro a
2.515,4
Etanol Hidratadob 1.421,1 1,6 0,1 104,5 30,9 19,7
Flex Gasolina 17.948,6 2,7 2,6 62,0 13,6 11,9
Comerciais Leves
Flex Etanol Anidro a
3.038,1
Flex Etanol Hidratadob 4.869,2 0,7 0,2 44,1 27,6 26,8
Diesel 12.920,1 0,7 4,1 55,1 14,5 313,5
Total da categoria 57.572,3 12,9 8,8 398,3 147,1 430,5
Ônibus Urbanos Diesel 108,235,6 18,8 9,7 494,3 124,1 5.511,8
Gasolina 15.658,5 21,5 0,7 1.155,5 138,5 51,3
Motocicletas
Etanol Anidroa 2.659,4
Caminhões Diesel 42.352,7 20,4 10,6 193,9 53,2 1.134.8
Total 590.072,3 156,8 71,2 5.712,5 1.844,7 8.258,2
a
Etanol anidro refere-se ao percentual de álcool adicionado na gasolina.
b
Etanol hidratado refere-se ao álcool combustível puro.
(a) 7%
(b) 13%
(c) 15%
18%
12%
14%
Emissão de CO2 Emissão de CH4 Emissão de N2O
3% 53%
2% 1% 58%
62% 14% 6%
8%
0% 6%
8%
3%
(d) 9% 7% 3% 14% 14%
(e) 7%
(f)
1% 4%
1%
1%
20% 7%
Emissão de CO Emissão de NMVOC Emissão de NOx
61%
1%
6%
75%
66%
Fig. 2 - Emissões percentuais de (a) CO2, (b) CH4, (c) N2O, (d) CO, (e) NMVOC, (f ) NOx.
Conclusões
Representando 64% da frota veicular de Juiz de Fora, os automóveis são os maiores responsáveis
pelas emissões de CO2, CH4, N2O, CO e NMVOC. Este fato coloca em pauta a questão do transporte
público urbano, tal que um aumento de sua qualidade possa estimular a população a reduzir o uso do
transporte individual. Contudo, é necessário que também se leve em conta as emissões provenientes
dos ônibus urbanos, os quais têm uma grande contribuição na emissão de NOx, por exemplo, e na
emissão de outros gases e materiais particulados não inventariados nesse trabalho.
A identificação dos setores do transporte que mais impactam a qualidade do ar em Juiz de
Fora pode contribuir para o desenvolvimento de planos de ação que avaliem os problemas atuais e
contribuam para a melhoria da qualidade ambiental do município. Trata-se de um primeiro passo na
direção da identificação de medidas a serem tomadas pelos órgãos ambientais e outros segmentos da
sociedade, com o objetivo de reduzir e controlar as emissões atmosféricas, promovendo um incremento
na qualidade de vida da população. Fica clara a necessidade de se repensar o sistema de transporte
público coletivo, avaliando não só a qualidade do serviço prestado à população, como também as
tecnologias de controle de poluição empregadas e a possibilidade do uso de combustíveis menos
poluentes pela frota de ônibus urbana.
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Resumo
Mini-implantes são comumente usados para ancoragem ortodôntica, e seu desempenho varia de
acordo com seu posicionamento, inclinação e carregamentos aplicados. O objetivo deste artigo
é integrar um algoritmo genético e métodos computacionais de análise tensões com o intuito de
resolver o problema de orientação de um mini-implante visando à minimização de tensões no
sistema mini-implante, osso da maxila e dentes. A metodologia proposta permite determinar o
posicionamento que resulta no menor nível de tensões, e pode assistir o especialista no desenvolvi-
mento do tratamento ortodôntico.
Palavras-chaves: Otimização. Mini-implante ortodôntico. Método dos elementos finitos. Algo-
ritmos genéticos
1. Introdução
O uso de implantes é uma alternativa aos métodos tradicionais de ancoragem ortodôntica,
especialmente em casos de pequena quantidade ou baixa qualidade dos elementos dentais, na
impossibilidade de uso de aparelhos extra-orais ou dificuldade de cooperação do paciente. Nos últimos
anos, os implantes com finalidade ortodôntica têm evoluído no seu desenho e reduzido suas dimensões,
2. Metodologia
A determinação de uma possível solução para a orientação do mini-implante, passa pela análise
da distribuição de tensões em razão da aplicação de uma carga. Para isso, um modelo computacional da
maxila deve ser criado. A maxila é então tratada como uma estrutura solicitada por um carregamento no
implante, e submetida a um processo de análise estrutural. De acordo com (CORSO L.L.; MARCZAK
R.J.), casos como o aqui estudado dispensam o uso de modelos numéricos globais da mandíbula, visto
que os efeitos significativos da tensão ocorrem somente na região próxima ao local da carga aplicada
em torno do implante. Nesta condição de carregamento, será gerado um modelo local, obtido com
seccionamento da maxila na região de interesse próxima ao implante. A malha de elementos finitos
para o sistema mini-implante ortodôntico-maxila é mostrada na Figura1.
Após definido o modelo de simulação, foi feita a implementação do AG. O primeiro passo
consiste em codificar todas as variáveis em um cromossomo. Cada indivíduo é codificado como um
vetor com coordenadas reais. O passo seguinte é gerar aleatoriamente uma população inicial. As soluções
candidatas têm então calculado um valor de função objetivo, e os melhores indivíduos têm maiores
chances de serem selecionados como genitores. O material genético contido nos cromossomos dos
genitores é recombinado e sofre mutação pela aplicação dos operadores de recombinação e mutação,
dando origem uma nova geração de indivíduos. Este processo é repetido para um determinado
número de ciclos, chamados de gerações. O fluxograma de um AG é mostrado na Fig. 3.
A função objetivo a ser minimizada é a tensão máxima de Von Mises que ocorre no sistema mini-
implante, osso da maxila e dentes. As soluções que apresentarem interpenetração do mini-implante
e dos dentes foram consideradas soluções inviáveis. Para cada solução inviável foi estabelecido uma
função objetivo de 105 MPa. A Tab. II mostra os parâmetros usados no AG.
3. resultados e dIsCussão
Ao final da execução do AG, obteve-se como a melhor orientação a angulação de α = +26º na
horizontal (mesial-distal) e β = +25º na vertical (cortical-apical), obtendo como tensão máxima de
Von Mises do sistema o valor de 14,23 MPa. O tempo total de execução do AG foi de 175 minutos.
As simulações foram executadas em um computador Intel com processador Intel Core I5 com 4GB de
memória RAM.
Após encontrada a melhor solução fornecida pelo AG, foi feito um refinamento dos resultados
nesta orientação, com o objetivo de encontrar uma melhor aproximação do modelo analisado. Esta
última análise, realizada com 160000 elementos finitos. A solução gerada com a malha refinada com
suas respectivas tensões é mostrada na Fig. 4. A variação dos valores das tensões é detalhada conforme
na legenda.
A Fig. 5 mostra a distribuição das tensões no mini-implante e em uma seção do osso cortical,
na orientação do mini-implante de 26º mesial-distal e 25º na apical-cortical. As maiores tensões no
mini-implante ocorrem próximo à sua cabeça, devido à flexão da região de aplicação da força. No
osso cortical, há uma concentração de tensões na interface com o mini-implante. Esta região deve ser
analisada pelo especialista, pois é crucial para a adequada ancoragem do ortoimplante.
A mesma metodologia pode ser empregada em outros casos similares encontrados na ortodontia,
inclusive com a aplicação de outras cargas. Embora possua limitações, as simulações computacionais
permitem uma análise de sistemas ortodônticos complexos que podem ser facilmente modificados
4. Conclusão
A metodologia proposta pode trazer grandes avanços no conhecimento das diferentes situações
que ocorrem na cavidade bucal, bem como identificação de patologias. Entretanto, é fundamental
a análise clínica do impacto para o paciente, de forma a obter o melhor resultado em uma futura
aplicação do mini-implante ortodôntico.
5. Referências
CORSO L.L.; MARCZAK R.J. Orientação ótima de um implante mandibular osseointegrado – um
estudo na orientação de um implante para minimização de tensão no osso utilizando algoritmos
genéticos. In Mecánica Computacional, volume XXV, pages 795–805, Santa Fe, Argentina, 2006.
AMAR H.H. et al. Three-dimensional modeling and finite element analysis in treatment planning
for orthodontic tooth movement. American Journal of Orthodontics & Dentofacial Orthope-
dics Vol 139(1) , Pages e59-e71, 2011
CATTANEO P.M. et al. Strains in periodontal ligament and alveolar bone associated with ortho-
dontic tooth movement analyzed by finite element. Orthod Craniofac Res. 2009;12:120–128
POLLEI J.K. et al. Stress comparison between orthodontic mini002Dscrews using finite element
analysis. Metro Toronto Convention Centre Exhibit Hall D-E. 2008
UNEMI T. A design of genetic encoding for breeding short musical pieces. In ALife VIII Workshop
Proceedings, pages 25–30, 2002.
GAO Y. al. Surrogate-based process optimization for reducing warpage in injection molding. Jour-
nal of Materials Processing Technology, 209(3):1302–1309, 2009.
GOLDBERG D.E. Genetic Algorithms in Search, Optimization and Machine Learning. Addi-
son-Wesley Publishing Co., 1989. Reading, Mass., USA.
RESUMO
O presente trabalho analisa diferentes métodos existentes para o cálculo da dimensão fractal da
Bacia Hidrográfica do Ribeirão Marmelo. Difundido por Mandelbrot (1977), o conceito de
fractais tem o intuito de estimar o grau de complexidade, auto‑afinidade e auto-similaridade
de objetos que estão associados a elementos da natureza que não se enquadram na geometria
Euclideana clássica. A avaliação de características geomorfológicas de uma bacia hidrográfica,
através de conhecimentos de geometria fractal e conceitos de hidrologia, constitui um elemento
de grande importância, já que está ligada ao comportamento hidrológico da rede de drenagem.
O estudo da fractalidade da bacia hidrográfica do Ribeirão Marmelo foi realizado através do ma‑
nuseio de mapa do IBGE, com o auxílio de réguas, compassos e planímetros a partir de quatro
métodos: Razões de Horton, Método da Distribuição da Probabilidade de Excedência do Com‑
primento de Canais, Método do Box‑Counting e Método de Richardson. Os resultados obtidos
foram pertinentes ao limiar da faixa de valores encontrados na literatura, concluindo-se assim
que redes de drenagem podem ser vistas como objetos fractais.
Palavras-chaves: Dimensão fractal. Redes de drenagem. Bacias hidrográficas.
Introdução
Desde sua consolidação, a hidrologia – ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência,
circulação e distribuição, suas propriedades físicas e químicas, e sua relação com o meio ambiente
(Tucci, 2002) – vem evoluindo significativamente em face da necessidade crescente de utilização
Fig. 1 - Ordenação dos canais de uma rede de drenagem segundo Strahler (http://www.hidrotec.ufv.br/metodologia_resultados.html)
Além da ordenação das redes de drenagem de uma bacia hidrográfica, Horton (1945 apud
Vestena, 2010) deduziu a Lei do Número de Canais (RB) e a Lei do Comprimento dos Canais (RL),
representadas, respectivamente, pela estrutura geológica (razão de bifurcação) da rede e pela estrutura
geométrica (razão de comprimento). Continuando o trabalho de Horton, Smart (1972 apud Vestena,
2010) propôs a Lei da Área de Drenagem (RA), que é a razão de área. As três leis podem ser escritas no
seguinte formato:
NXi-1
RB≅ N (2)
xi
Lxi
RL≅ (3)
LXi-1
Axi
RA≅ (4)
Axi-1
Os resultados encontrados devem pertencer a faixas de valores de: 3 a 5 para a razão de bifurcação;
1,5 a 3,5 para a razão de comprimento; e 3 a 6 para a razão de área, segundo Strahler (1952 apud
Araujo et al., 2011).
Segundo Mandelbrot (1977 apud Gomes, 1997), para compreender a dimensão fractal pode-se
assumir Ne esferas n-dimensionais de diâmetros d para cobrir certo objeto no espaço n-dimensional.
Ne e d relacionam-se na seguinte equação:
Ne(d)≈d-D (1)
A dimensão fractal não quantifica a forma de um objeto fractal, apenas a sua complexidade, e as
dimensões dos objetos são valores contínuos entre as dimensões euclidianas, assim, pode-se pensar na
irregularidade com um aumento na dimensão, (SILVEIRA, 2006).
Segundo Serra e Karas (1997) apud Silveira (2006), os fractais possuem alta complexidade e
estão relacionados com o espaço que a figura ocupa. Segundo os autores, as dimensões fractais são
valores fracionários entre um e dois.
Christofoletti e Christofoletti (1994) apud Araujo (2011) afirmaram que bacias hidrográficas
que representam estruturas bidimensionais, apresentam dimensão fractal Df entre 2 e 2,99. E para La
Barbera e Rosso (1989) apud Gomes (1997), a dimensão fractal para as redes de drenagem, em função
das razões de Horton, não tende a um valor constante, porém está compreendida no intervalo entre
1,5 e 2,0.
Metodologia
O objetivo do estudo visa à análise e comparação da dimensão fractal por diferentes métodos
existentes e à consequente verificação das características geomorfológicas e hidrológicas da região.
O estudo foi realizado com base em mapas fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística - IBGE (1981), na escala de 1:50.000. A bacia hidrográfica estudada foi a bacia do
Ribeirão Marmelo, que está localizada no município de Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira,
no domínio geológico Complexo de Juiz de Fora (PDJF, 1996). De acordo com Marques e outros
(2012), a região possui o relevo montanhoso e mais acidentado em determinadas regiões, e apresenta
Fig. 2 ‑ Mapa da região na escala 1:50.000 fornecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 1981).
Foram utilizados quatro métodos para o cálculo da dimensão fractal: cálculo através das Leis
de Horton e três métodos gráficos – Método da Probabilidade de Excedência do Comprimento de
Canais, Método Box‑Counting e Método de Richardson.
Com o intuito de estabelecer uma relação entre a dimensão fractal e as razões de Horton foram
feitos vários estudos com parâmetros que caracterizam as bacias hidrográficas. Para isso, La Barbera
e Rosso (1989) consideraram as leis de número de canais e comprimento de canais invariáveis para
diversas escalas (GOMES, 1997). O cálculo da Dimensão Fractal pode ser obtido a partir das Leis de
Horton segundo as equações:
logRB
D= ,R >R (5)
logRL B L
D=1,RB≤RL (6)
p=Prob[comprimento>l]≈1‑D (7)
m
P= n+1 (8)
Onde m é a ordem de um canal em uma lista ordenada do mais longo ao mais curto e n é o
número total de canais da rede de drenagem.
A dimensão fractal é dada pela inclinação da reta ajustada aos pontos no gráfico da probabilidade
de excedência em função do comprimento dos canais.
O segundo método gráfico utilizado, Método Box-Counting, proposto por Lovejoy e outros
(1987) apud Silveira (2006), consiste em cobrir toda a rede de drenagem com uma malha de quadrículas
de diferentes escalas e contabilizar as quadrículas que possuem canais. Mediante a construção de um
gráfico do tamanho das quadrículas em função do número de quadrículas, pode-se obter a dimensão
fractal através do coeficiente angular da reta.
O número de quadrículas N(r) necessário para cobrir a rede de drenagem é dado pela seguinte
equação:
N(r)∽(1/r)D (9)
A dimensão fractal também foi determinada através do Método de Richardson, proposto por
Tarboton e outros (1988), em que todos os canais da rede de drenagem são medidos através do número
de passos com o auxílio de um instrumento de medida, o compasso. Quanto menor for o tamanho do
passo, maior a exatidão.
Relacionando o número de passos com o tamanho de cada passo, em um gráfico log-log, uma
inclinação i é observada. A dimensão fractal é dada por:
L≈r1-D (10)
Resultados e Discussões
A bacia do Ribeirão Marmelo foi classificada com grandeza de 4ª ordem, de acordo com o
sistema de classificação de redes de drenagem proposto por Strahler (1952) apud Araujo e outros
(2011).
As Razões de Horton calculadas foram: RL=2,93; RB=4,68; e RA=5,93, cujos valores encontram-
se dentro dos limites estabelecidos pela literatura. Para cálculo da dimensão fractal por meio das Razões
de Horton foi utilizada a equação 5. O valor encontrado para dimensão fractal Df igual a 1,44 (Tab. I)
é coerente com aqueles encontrados na literatura para redes de drenagem naturais.
Nas figuras 3, 4 e 5 são apresentadas as curvas geradas pelos métodos método da Probabilidade
da Excedência do Comprimento de Canais, método de Box-counting e método de Richardson,
respectivamente. A dimensão fractal Df foi obtida para esses três métodos através da determinação
inclinação da reta tangente ajustada ao conjunto de pontos utilizados em cada método. Esses valores
encontram-se reunidos na Tab. I, e estão, também, em conformidade com aqueles encontrados na
literatura.
Fig. 4 – Dimensão fractal obtida pelo Método Box-counting para a Bacia do Ribeirão Marmelo
Fig. 5 – Dimensão fractal obtida pelo Método de Richardson para a Bacia do Ribeirão Marmelo
Probabilidade de Excedência do
2,01
Comprimento de Canais
Conclusão
Os resultados obtidos demonstram que, independente do método aplicado, a bacia do Ribeirão
Marmelo possui um padrão de ramificação que cobre toda a área de drenagem e confirmam o
pressuposto de Tarboton e outros (1988), o qual afirma que a dimensão fractal igual a 2 indica que a
rede de drenagem cobre todo o espaço. Além disso, pode-se notar uma ligação entre a dimensão fractal
e as razões de Horton. Os resultados obtidos podem fornecer subsídios importantes para a hidrologia
quantitativa.
Agradecimentos
As autoras agradecem a Pró-Reitoria de Pesquisa da UFJF, pela bolsa de iniciação científica
concedida e ao Núcleo de Análise Geo-Ambiental do Departamento de Transporte da Faculdade de
Engenharia da UFJF pelos mapas e informações fornecidos.
Referências
ARAUJO, C. S.; MARQUES, L. S.; BORTONI, S. F.; SILVEIRA, V. A.; GOMES, M. H. R. “De-
terminação da dimensão fractal de uma rede de drenagem brasileira.” in Congresso Nacional
Del Agua Chaco, Resistencia, Argentina, 2011.
MANDELBROT, B. B. “Fractals: Form, Chance and Dimension”, Freeman and Company. New
York, 1977.
TARBOTON, D. G.; BRAS, R. L.; ITURBE, I. R. “The Fractal Nature of Networks”.Water Re-
sources Research. v. 24, n. 8. p. 1317-1322, 1988.
RESUMO
O experimento ATLAS no CERN, localizado na Suíça, é um detector capaz de identificar partí-
culas provenientes da colisão de feixes de prótons produzidas pelo LHC. Este detector conta com
sistemas de seleção de eventos que identificam as partículas de decaimento relevantes para as pes-
quisas realizadas pela Colaboração ATLAS. Um dos algoritmos mais relevantes destes sistemas
é responsável pela identificação de elétrons. O presente trabalho apresenta dois algoritmos de
discriminação, um linear, baseado no Modelo Linear Generalizado, e outro não-linear, baseado
em Redes Neurais Artificiais, implementados na UFJF. Dados de simulação de Monte Carlo do
experimento são utilizados para avaliação dos dois algoritmos a partir de uma comparação com
o algoritmo atualmente empregado pelo experimento, conhecido como eGamma.
Palavras-chave: ATLAS. Calorímetros. Identificação elétron/jato.
1. Introdução
O CERN (do francês Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire) é um dos principais
laboratórios de colaboração internacional, composto por inúmeros países (CERN, 2012). Dentro de
seu âmbito, inúmeros experimentos físicos são realizados. A busca por novos conhecimentos levou à
construção do acelerador de partículas LHC (do inglês Large Hadron Collider) (Evans, 2008), com
o objetivo de comprovar experimentalmente mecanismos e teorias desenvolvidas na área de física de
partículas. O LHC pode colidir pacotes de prótons com até 14 TeV de energia de centro de massa.
2. Metodologia
O sistema de filtragem do ATLAS deve ser capaz de separar, de forma eficiente e rápida, a
física de interesse (decaimentos do bóson de Higgs, por exemplo) da massa de dados já conhecida,
que funciona como ruído de fundo do experimento. Para isto, foi concebido um sistema de filtragem
(ATLAS Trigger and Data Acquisition Collaboration, 2000) dividido em três níveis (Figura 2).
O primeiro nível de trigger, que realiza a seleção online dos eventos, possui um tempo de latência
máxima de 2µs e a maior taxa de filtragem de eventos. Assim, seu processamento é feito todo em
hardware de alta velocidade, basicamente com FPGA (do inglês Field Programmable Gate Array),
utilizando somente informação de câmaras rápidas de múons e de calorimetria com granularidade
menos fina, obtida pela soma de células de deposição de energia. Este nível é responsável, também,
por selecionar as regiões do calorímetro onde houve deposição significativa de energia, as chamadas
Observando as RoI de elétrons e jatos típicos do segundo nível de trigger, nota-se que as sutis
diferenças entre os dois padrões de deposição de energia se encontram no espalhamento da deposição
de energia e nas relações dos picos energéticos. Com base nessas diferenças entre elétrons e jatos,
foi desenvolvido um algoritmo para extração da informação de calorimetria baseado na construção
de anéis concêntricos (Torres, 2010), onde a célula de maior energia é o anel central. A informação
referente a este anel é a energia armazenada na célula. Os anéis posteriores contêm a soma da energia
das células adjacentes exteriores ao anel anterior.
Este processo irá se repetir até que uma região pré-determinada seja completamente preenchida.
O processo de anelamento é realizado para todas as camadas dos calorímetros hadrônicos e
eletromagnéticos. A Tabela I exibe o número de anéis extraídos para cada camada, totalizando 100
anéis. Estes anéis são usados como características para a identificação elétron/jato.
Tab. I - Quantidade de anéis por camada dos calorímetros.
Camadas eletromagnéticas Camadas hadrônicas
OS 1a 2a 3a 1a 2a 3a
N° de Anéis 8 64 8 8 4 4 4
Os eventos utilizados neste trabalho são provenientes de simulações de Monte Carlo produzidas
pela Colaboração ATLAS. Como sinal, foram gerados elétrons isolados com energias entre 7 GeV e 80
GeV, e como ruído, jatos que possuem ao menos uma componente eletromagnética, que podem ser
classificados erroneamente como elétrons. A colaboração ATLAS utiliza hoje um algoritmo chamado
de eGamma (ATLAS Collaboration, 2010) desenvolvido para a identificação de elétrons utilizando
apenas os detectores de calorimetria. Os resultados que mostraremos nesse documento usam como
referência a saída do eGamma. Este algoritmo permite selecionar três níveis de cortes para a classificação
de elétrons: Loose: com este nível espera-se uma maior taxa de erros de classificação de elétrons, ou
seja, que um maior número de jatos seja classificado erroneamente como elétron, porém o números de
elétrons classificados como jato é minimizado; Tight: neste nível, espera-se que um número maior de
elétrons seja classificado erroneamente como jatos, porém o número de jatos classificados como elétrons
é minimizado, fazendo com que a seleção de elétrons seja menos contaminada com eventos falsos; e
Medium: que tenta conciliar ambas as características. Quando os dados são aprovados por quaisquer dos
cortes, entende-se que ele é classificado como elétron, logo, a expressão “jatos aprovados” significa que
Para o classificador linear, os dados de Treinamento e Teste (da RNA) foram utilizados para
calcular os pesos do classificador garantindo assim que os mesmos dados fossem utilizados, tanto na
parte de cálculo dos parâmetros como na parte de medida de desempenho, pelos dois classificadores.
Além dos conjuntos que foram utilizados para o treinamento dos classificadores, os outros
conjuntos formados pelos cortes feitos pelo sistema de filtragem na seleção de dados foram também
classificados pelos dois métodos.
Esses conjuntos para jatos são:
• Aprovados pelo critério Loose (001), no total de 72.811 eventos;
• Aprovados pelo critério Medium (011) no total de 9.750 eventos;
• Aprovados pelo critério Tight (111) no total de 1.131 eventos.
E para os elétrons:
• Reprovados por todos os critérios (000) no total de 5.964 eventos;
• Aprovados pelo critério Loose (001) no total de 9.576 eventos.
50 20
Variância (%)
Variância (%)
40
15
30
10
20
5
10
0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 10 20 30 40 50 60
Fig. 3 - Comparação entre anéis sem pré-processamento e Fig. 4 - Comparação entre anéis sem pré-processamento e
com PCA para elétrons. com PCA para jatos.
Baseado no processo de Bernoulli (Peebles, 1987) que envolve experimentos para os quais apenas
duas saídas são possíveis, representadas no espaço amostral por {0, 1}, temos que: p(y=1) = hθ(x) e p(y=0)
= 1-hθ(x). Onde hθ(x) é a média φ da distribuição de Bernoulli e representa a probabilidade que, dado
x, y seja igual à classe {1}. Essas duas relações podem ser consideradas em uma única equação, dada por:
p(y|x;θ)=hθ(x)y(1-hθ(x))1-y
Logo, p(y|x;θ) representa a probabilidade de y dado x parametrizado por θ. Note que a função
p(y|x;θ) pode ser escrita em sua forma exponencial:
p(y|x;θ)=exp 1n {( )hθ(x)
1-hθ(x)
y+1n(1-hθ(x))
}
Formulando a distribuição de Bernoulli como uma distribuição da família exponencial, temos que
o parâmetro natural da equação exponencial p(y|x;θ) é dado por η = ln[hθ(x)/(1- hθ(x)]; Logo, se y|x;θ
~ Bernoulli(φ), então φ = 1/(1+e-η) e E[y|x;θ] = φ. Baseando-se no Modelo Linear Generalizado (MLG)
(Nelder, 1972), η é representado por uma combinação linear entre as características do evento e os seus
pesos de forma que η = θTX = ∑Nk=0θkxk, sendo que x0=1. Assim encontramos a nossa hipótese hθ(x):
1 -ƞ
hθ(x)= 1+e
Assumindo que os dados, xki e yki (os i’s se referem às várias medidas e os k’s às várias características
do evento), empregados para achar os parâmetros θk, sejam gerados independentemente, podemos
escrever a equação de verossimilhança dos parâmetros L(θ) como:
m
L(θ)=p( →
i
y |X;θ)= ∏ (hθ(xi))y (1-hθ(x))1-yi
i=l
Temos então que: maximizar L(θ) é o mesmo que minimizar a derivada de ℓ(θ) = ln{L(θ)}, o que
nos leva a seguinte equação:
∂
ℓ(θ)=(y-hθ(x))xk
∂θk
Podemos usar então o algoritmo LMS (do inglês Least Mean Square) para encontrar os parâmetros
θk que levam à máxima verossimilhança.
Usando todos os 77.280 dados (sem normalização) disponíveis para achar os parâmetros θk,
definimos completamente a nossa função hθ(x). Como parâmetro de avaliação do desempenho desta
fase de treinamento usou-se o produto SP, dado por:
Pe + Pj
SP = 100 × Pe × Pj × ( )
2
A fim de quantificar este estudo definimos eficiência como a porcentagem de eventos classificados
corretamente em relação ao número total de eventos, da seguinte forma: Eficiência = (Hit / All) * 100%,
onde Hit representa os eventos classificados corretamente e All representa todos os eventos classificados
de cada respectivo conjunto. Por fim encontramos as seguintes eficiências para os classificadores:
Nesta seção percebemos a concordância entre os métodos e ainda verificamos o quanto os classificadores
têm coerência com o algoritmo da colaboração, pois os eventos selecionados pelos critérios mais exigentes
(pelo eGamma) são classificados mais facilmente e como ponto positivo desta análise verificamos que os
eventos classificados erroneamente (pelo eGamma) obtiveram eficiências relativamente altas.
Classificador Linear
Os resultados de todos os conjuntos são apresentados nas Figuras 5 e 6:
5
Histograma(Classificador Linear) - Elétrons 6
Histograma(Classificador Linear) - Jatos
10 10
Single 011/111 (Val) = 19320 Jatos 001 - 72811
Single 001 = 9576 Jatos 000(Val) - 142834
5
4 Single 000 = 5964 10 Jatos 111 - 1131
10
Jatos 011 - 9750
log(Número de Elétrons)
log(Número de Jatos)
4
10
3
10
3
10
2
10
2
10
1
10 1
10
0 0
10 10
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
Classificação Classificação
Classificador Neural
Os resultados de todos os conjuntos são apresentados nas Figuras 7 e 8 abaixo:
5
Histograma(RNA) - Elétrons 6
Histograma(RNA) - Jatos
10 10
Single 011/111 (Val) = 19320 Jatos 111 = 1131
Single 001 = 9576 Jatos 011 = 9750
5
4 Single 000 = 5964 10 Jatos 001 = 72811
10
Jatos 000(Val) = 142834
log(Número de Elétrons)
log(Número de Jatos)
4
10
3
10
3
10
2
10
2
10
1
10 1
10
0 0
10 10
-1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 -1 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
Classificação Classificação
Nos quatro histogramas anteriores percebemos a disposição dos eventos classificados corretamente
e erroneamente para cada conjunto, ao atentarmos para a escala logarítmica no eixo Y percebemos o
quão eficientes são os dois métodos em foco.
Fig. 9 - Histograma de comparação para o conjunto de valida- Fig. 10 - Histograma de comparação para o conjunto de vali-
ção dos elétrons. dação dos jatos.
3. Conclusão
Este artigo apresentou a comparação entre dois métodos de classificação que nos possibilitam
fazer a identificação de elétrons e jatos, um linear e outro não linear, aplicados aos dados de Monte
Carlo gerados pelo experimento ATLAS com o intuito de classificar elétrons e jatos que atingem os
detectores de calorimetria.
Foram feitas comparações entre as eficiências dos dois classificadores baseadas em cada um
dos critérios (medium, loose e tight) utilizados pelo algoritmo eGamma. Nota-se que as classificações,
referenciadas no eGamma, obtiveram uma eficiência alta, o que demonstra com clareza a tendência
dos dois algoritmos a classificar corretamente os eventos validados pelo eGamma. Podemos traduzir de
uma forma quantitativa as afirmações ao analisarmos as eficiências do conjunto de elétrons classificados
pelos dois métodos. No Classificador Linear o conjunto de validação obteve uma eficiência de 99.43%,
na Rede Neural essa eficiência chega a 99.76%, ou seja, existe uma concordância entre os resultados
do eGamma e os dois métodos em relação ao conjunto de elétrons. Análogo a esses resultados são os
obtidos para o conjunto de validação dos jatos, onde o Classificador Linear conseguiu uma eficiência
de 99.22% e a Rede Neural obteve 99.48%.
A escolha entre a utilização dos métodos depende da necessidade da aplicação e a natureza dos
dados, tendo em vista que uma implementação do Classificador Linear requer um menor esforço
computacional, necessitando, porém, de uma quantidade suficiente de eventos para treinamento. Já o
Classificador Neural consegue uma eficiência melhor, porém demanda um maior esforço computacional.
4. Referências
ATLAS Collaboration (2010) Performance of the electron and photon trigger in p-p collisions at a
centre of mass energy of 900 GeV Tech. Rep. ATLAS-CONF-2010-022 CERN.
BERGE D., AIELLI G., ANDREI V. et al. (2007) Nucl. Instrum. Methods Phys. Res. A 581 476
CERN, European Center for Nuclear Research. www.cern.ch, acessado em 10 de março de 2012.
CHENG, T.P., LI L.F. (2006). Gauge theory of elementary particle physics. Oxford University
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NELDER, J.; WEDDERBURN, R. (1972). “Generalized Linear Models”. Journal of the Royal
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PEEBLES, P. Z. Jr. (1987) Probability, Random Variables, and Random Signal Principles. 2ª ed.:
McGraw-Hill.
TORRES, R. C. (2010) Sistema Online de Filtragem em um Ambiente com Alta Taxa de Eventos e
Fina Granularidade, Rio de Janeiro, UFRJ/COPPE, 2010.
RESUMO
Introdução: Desde meados do século XX, foi possível a redução da mortalidade e a cura de
várias doenças infecciosas devido à descoberta dos antimicrobianos. No entanto, desde o
início do seu uso o aparecimento da resistência se tornou um grande desafio para os médicos.
Objeto: Verificar a adequação do preenchimento da Ficha de Requisição de Antimicrobianos,
identificar o perfil das infecções comunitárias e como elas foram tratadas. Método: Trata-se de
um estudo transversal, quantitativo de delineamento exploratório. Foi montado um banco de
dados no software Microsoft Access 2007 com informações colhidas na Ficha de Requisição de
Antimicrobiano. Resultados: As fichas do período de julho de 2010 a junho de 2011 totalizaram
2481 fichas. Dessas, 1021(41%) estavam descritas como infecções comunitárias, no entanto,
apenas 502 fichas foram analisadas, o restante foi excluído devido ao mau preenchimento. Dentre
as analisadas (302), 60% estavam distribuídas em apenas três sítios: infecções respiratórias;
urinárias e infecções do trato gastrointestinal. Foram identificados apenas 31 antimicrobianos
diferentes, sendo que a Ciprofloxacina, o Ceftriaxone, a Amoxicilina/Clavulanato e Metronidazol
eram responsáveis por 53,4% de todas as prescrições. Observou-se ainda que havia prescrição de
antimicrobianos tipicamente indicado para tratamento de infecções hospitalares no tratamento
de infecções comunitárias, correspondendo a cerca de 16% das prescrições. Deve-se ressaltar
que apenas 52 antibiogramas (10,3%) foram realizados. Conclusão: O trabalho revela o mau
preenchimento da ficha, poucos antibiogramas realizados e alerta para o uso de determinados
antimicrobianos no tratamento das infecções comunitárias. Apesar dessas deficiências, houve
congruência entre os principais diagnósticos e as prescrições e a evidência da necessidade de
procedimentos de educação continuada na prescrição de antimicrobianos.
Introdução
Desde meados do século XX, a medicina entrou em uma nova era, graças à descoberta de
substâncias com atividade antibacteriana que podiam combater um grande número de doenças
infecciosas. A primeira droga com essa propriedade foi a sulfa, descoberta em 1935. Posteriormente,
descobriram-se penicilinas, tetraciclinas, estreptomicinas e outras (MURRAY et al, 2006).
A importância dos antimicrobianos pode ser conferida historicamente. No contexto do século
XX no Brasil, as doenças infecciosas eram responsáveis por cerca de metade das mortes (IBGE, 2009).
Segundo dados do IBGE atualizados até 2009, essas doenças são responsáveis por menos de 10% dos
óbitos (IBGE, 2009). O uso dos antimicrobianos, associado a melhores condições de saneamento e
habitação, é um dos grandes fatores responsáveis pela diminuição global da mortalidade no século
passado (Waldman 2000).
No entanto, surgiram desde o início dificuldades no tratamento de algumas doenças infecciosas
devido ao aparecimento da resistência bacteriana. Essa resistência se desenvolve naturalmente por seleção
de cepas que intrinsecamente são resistentes ou após exposição a um determinado antimicrobiano.
Os mecanismos podem ser mantidos dentro de espécies ou mesmo transmitidos entre várias espécies
bacterianas. A utilização dos antimicrobianos em larga escala, com indicação correta ou não, aumenta
a exposição dos microrganismos e acaba por gerar uma pressão seletiva, acelerando esse processo de
aparecimento de resistência (TAVARES, 2007).
O tema alcançou tamanha relevância que a Organização Mundial da Saúde (OMS) programou
o dia sete de Abril, em 2011, como dedicado à divulgação da questão da resistência bacteriana.
A dificuldade está em obter resposta satisfatória ao tratar doenças infecciosas comuns utilizando
antimicrobianos até então eficazes. Para obter êxito, torna-se frequente o emprego de outros
antimicrobianos, fenômeno que se torna cada vez mais comum e que representa uma grande ameaça
à saúde pública (OMS, 2011). Diminuir a progressão dessa resistência é um dos desafios da medicina
neste século XXI e o uso racional dos antimicrobianos é uma das melhores estratégias a ser empregada
(SILVEIRA, 2006).
Desde 2010, no Brasil, por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA),
é obrigatória a apresentação de receituário médico à farmácia para obtenção de antimicrobianos
(ANVISA 2010). No Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU/UFJF), o
médico, ao solicitar um antimicrobiano junto à farmácia, precisa preencher uma ficha de solicitação
contendo algumas informações. Esse documento é a Ficha de Requisição de Antimicrobiano (FRA).
Tendo em vista esse contexto, o trabalho teve o objetivo de realizar um levantamento do
preenchimento da FRA, identificando o perfil das infecções comunitárias e se elas eram preenchidas
adequadamente.
Resultados
As fichas dentro do período de estudo totalizaram 2481. Dessas, 1021(41%) estavam
descritas como infecções comunitárias. Conforme os critérios de exclusão previamente definidos
foram descartadas 511(21%) fichas descritas como infecções hospitalares, 640 (26%) destinadas à
profilaxia cirúrgica e 309 (12%) excluídas por não especificarem o tipo de infecção, comunitária ou
hospitalar.
Dentre as 1021 fichas preenchidas como infecção comunitária, ainda foram excluídas 519
(21% do total, 50,8% das comunitárias): 485 por não constarem a patologia a que se destinou a
prescrição do antimicrobiano e 34 por incongruências entre a data de início e final do tratamento.
Restaram, então, apenas 502 fichas elegíveis para análise, o que representava 21% das 2481 iniciais.
A análise das 502 prescrições para infecções comunitárias revelou que 60% delas estavam
distribuídas entre três sítios principais: 33,5% infecções respiratórias; 16,5%, urinárias e 10% infecções
do trato gastrointestinal. Ainda foram registrados 7,8% de infecções em pacientes com AIDS; 7,2%
de infecção de pele e partes moles; 5,6% de sepses; 4% de infecção de fígado e vias biliares; 3,2% de
infecção do sistema esquelético; 2% de infecção do sistema nervoso e outras 10,4% que não foram
agrupadas em nenhum grupo específico por estarem em número muito pequeno.
Na análise, foram encontrados 31 antimicrobianos diferentes. Observou-se, porém, que apenas
quatro antimicrobianos representam mais da metade (53,4%) de todas as prescrições. Ciprofloxacina
(20,5%), Ceftriaxone (16,3%), Amoxicilina/Clavulanato (9,4%) e Metronidazol (7,2%) foram os mais
usados. Observaram-se ainda antimicrobianos indicados para tratamento de infecções hospitalares
sendo utilizados no tratamento de infecções comunitárias em aproximadamente 16% das prescrições
analisadas (Tab. I).
Tab. I - Antimicrobianos indicados para tratar infecções hospitalares usados no tratamento de infecções comunitárias.
Antimicrobiano % das prescrições
Cefepime 5,6%
Vancomicina 3,4%
Piperaciclina + Tazobactam 3,0%
Gentamicina 2,0%
Meropenen 1,0%
Imipemen 0,6%
Teicoplanina 0,4%
Total 15,9%
Vale ressaltar o baixo número de solicitações de antibiograma, apenas 52 dentre as 502 prescrições. Os
casos de infecção urinária foram os que mais tiveram pedidos de antibiograma com o total de 27 amostras.
Com base nos resultados encontrados, torna-se necessária a discussão de três pontos:
preenchimento da ficha, prescrição dos antimicrobianos conforme diagnóstico clínico e microbiológico,
e utilização do antibiograma.
A primeira constatação do estudo foi o mau preenchimento das fichas, pois 33% das FRA
foram excluídas por estarem incompletas e mal preenchidas. Dentre as assinaladas como infecção
comunitárias, foram excluídas 50,8%. Esse mau preenchimento da FRA comprometeu o segmento da
análise e os objetivos iniciais do trabalho, pois não foi possível correlacionar diretamente os diagnósticos
com as prescrições devido à grande variedade de diagnósticos e à falta de um padrão no preenchimento.
Apesar de não ser o foco, foram levantadas algumas hipóteses para explicar o mau preenchimento
das fichas, como o fato de os médicos estarem em regime de plantão, as intercorrências ou excesso de
trabalho a que estão submetidos e a falta de conhecimento sobre a importância desses dados. Contribui
para isso a inexistência de um mecanismo de retorno das informações para os médicos do corpo
clínico, que não conseguem constatar a utilização efetiva dos dados produzidos por eles. No entanto,
esses fatores não justificam a omissão de informações tão relevantes para o controle das infecções
hospitalares. Além disso, o mau preenchimento de formulários e prontuários pode indicar uma má
qualidade da assistência (MAGALHÃES; CARVALHO, 2003).
Apesar da limitação enfrentada devido ao grande número de fichas excluídas, um segundo
achado importante foi a correlação entre os antimicrobianos mais usados, ciprofloxacina, ceftriaxone,
amoxicilina/clavulanato, metronidazol, (53,4% das prescrições) e as três principais infecções
diagnosticadas: infecções respiratórias, urinárias e do TGI, somando 60 % das infecções comunitárias.
A Ciprofloxacina é usada no tratamento de diarreias infecciosas e infecções do trato urinário
(MCPHEE et al, 2011). Os Beta-lactâmicos, como o ceftriaxone e amoxicilina/clavulanato, estão
indicados no tratamento empírico de infecções respiratórias não graves (CORRÊA, 2009). Metronidazol
está indicado em infecções por microrganismos anaeróbios e nas diarreias com o uso prévio de
antimicrobianos (colite pseudomembranosa), portanto relaciona-se a infecções de TGI (MCPHEE et
al, 2011). Esses dados mostram uma coerência com orientações técnicas sobre antimicrobianos a serem
prescritos para esses tipos de infecções.
Abordando ainda as prescrições e os diagnósticos, percebe-se o uso de antimicrobianos de amplo
espectro no tratamento de infecções comunitárias somando quase 16% das prescrições. O uso desses
antimicrobianos está indicado no tratamento empírico de infecções hospitalares (PINA et al, 2010) ou
quando existe relato de uso muito recente ou de casos de transferência de outros hospitais onde ocorreu
uso de algum tipo de antimicrobiano. O uso destes em infecções comunitárias sem uma justificativa
como as mencionadas pode, e muito, contribuir para o processo de desenvolvimento de resistência
bacteriana (SANTOS et al, 2010).
Como terceiro e último ponto, o número de pedidos de antibiogramas é muito baixo.
Considerando que se trata de um hospital de ensino deveria haver maior controle epidemiológico,
visto que o antibiograma é essencial para identificar os padrões de sensibilidade dos microrganismos
e traçar terapêuticas mais precisas utilizando as drogas mais adequadas (LÁZARO & FREIRE 2012).
Conclusão
É evidente que o grande número de fichas mal preenchidas e incompletas, comprometeu o
trabalho, mas possibilitou uma reflexão sobre o assunto de uma maneira ainda mais profunda. Além
Introduction: Since the mid-twentieth century, it was possible to reduce mortality and cure of
various infectious diseases due to the discovery of antibiotics. However, since the initial use of
antimicrobial, the emergence of resistance has become a major challenge for physicians. Objective:
The aim of this work was to verify the filling up adequacy of the antimicrobial requisition form
and to identify the patterns of the community based infections and how these infections were
treated in University Hospital of UFJF. Methods: This is a cross-sectional, quantitative design
exploration. It was assembled a database in Microsoft Access 2007 software with information
collected on Antimicrobial Requisition Form. RESULTS: There were 2481 forms from 2010
July to 2011 June. From these, 1021(42%) were described as community infections, however just
502 could be analyzed, the remainders were eliminated because incorrect filling. From among
these forms analized, (302) 60% of the infections were represented by only three infections
sites: respiratory, urinary and intraabdominal infections. There were find 31 different types of
antimicrobials, but only 4 types were used to treat more than 50% of prescriptions. These were
Ciprofloxacin, Ceftriaxone, Amoxicillin/ Clavulanate and Metronidazole. It was also observed
that there was prescription antimicrobial typically indicated for treatment of nosocomial infections
in the treatment of community-acquired infections, corresponding to approximately16% of
prescriptions. It is important to note that it was realized only 52 antibiograms. Conclusion: The
study results indicated that the forms were improperly filled , only few antibiograms were done
and warn for the use of some antimicrobials used on the based infections treatment. Despite
these shortcomings, there was congruence between the main diagnosis and prescriptions and
the evidence of the necessity of continuing education procedures in prescribing antimicrobials.
Keywords: Hospital Records. Drug Resistance. Microbial. Anti-Bacterial Agents. Microbial
Sensitivity Tests.
Referências
ANVISA. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como anti-
microbianos, de uso sobre prescrição médica, isoladas ou em associação e dá outras providências.
Resolução n. 44, de 26 de outubro de 2010. Lex: Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 de out.
CORRÊA, R.A., et al. Diretrizes brasileiras para pneumonia adquirida na comunidade em adultos
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MCPHEE, S. J.; PADAXIS, M. A.; RABOW M. W.; CUCINA R.; Current medical diagnosis e
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SILVEIRA, G. P., et al. Estratégias utilizadas no combate à resistência bacteriana. Revista Química
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TAVARES, W. Antibióticos e quimioterápicos para o clínico. 1. ed. revista e atualizada. São Pau-
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WADMAN, E. A.; o controle das doenças infecciosas emergentes e a segurança sanitária, Revista do
Direito Sanitário, São Paulo, v.1, n.1, p. 89-106, 2000.
RESUMO
Estudo descritivo de natureza qualitativa, desenvolvido junto aos adolescentes participantes de
um projeto de extensão universitária com interface na pesquisa denominado. Este projeto partiu
da criação de um jogo de tabuleiro no qual os temas relacionados à saúde do adolescente pude-
ram ser abordados e investigados. Os objetivos de nosso estudo foram: descrever um instrumen-
to lúdico criado para subsidiar atividades de educação em saúde realizada no Projeto Adolescer,
compreender as implicações do bullying na vida cotidiana do adolescente escolar e compreender
a vulnerabilidade dos adolescentes às infecções sexualmente transmissíveis. A coleta de dados foi
realizada utilizando a observação participante e técnica de grupo focal para atingir o primeiro e
segundo objetivos e o método da associação livre de ideias direcionadas ao terceiro objetivo. A
análise dos dados se baseou na técnica da análise temática ou categorial utilizada por Bardin, sen-
do construídas três categorias de análises. Os estudos desenvolvidos neste projeto nos permitiram
ratificar a importância do lúdico, representado pela aplicação do jogo, como uma possibilidade
de estabelecer comunicação efetiva com os adolescentes. O bullying, como uma forma de vio-
lência, está presente na vida dos alunos, embora na maioria das vezes ele apareça de forma velada
nos depoimentos dos sujeitos que o vivenciam. Na interpretação dos discursos identificamos
que o modelo educacional vivenciado por eles não é esclarecedor sobre o tema saúde sexual e
Introdução
O desenvolvimento deste estudo iniciou-se a partir de uma atividade prática da Disciplina de
Enfermagem em Saúde da Criança e do Adolescente, em que foi proposto o desenvolvimento de
atividades de educação em saúde para adolescentes de uma escola do município, e, assim, um grupo de
acadêmicos criou o jogo Adolescer. De acordo com Castro e outros (1998), a educação em saúde deve
deixar de lado a forma metódica e clássica tal como são apresentados nos programas, buscando tornar
este momento algo prazeroso, criativo, trabalhando o desenvolvimento das potencialidades de crianças
e adolescentes, de modo a estimular a aprendizagem das orientações fornecidas.
Durante os momentos de descontração proporcionados pelo jogo, percebemos o quanto o bullying
era praticado e/ou sofrido pelos alunos em questão, e esta forma de violência estava acontecendo em
sala de aula, o que, na maioria das vezes, não era percebido pela escola e família dos envolvidos. A escola
é um local onde se dão as representações daquilo que acontece efetivamente na sociedade, tornando-se
também um local de geração de violência, devido à diferença cultural, econômica, entre outros fatores,
de seus frequentadores (ABRAPIA, 2003; EYNG et al, 2009; MARTINS, 2011).
A partir do desenvolvimento do projeto, o tema sexualidade chamou a atenção, pois muitos
adolescentes sentiam-se envergonhados quando o assunto era abordado, outros levavam na brincadeira,
mas em geral a motivação em querer falar sobre o assunto era algo evidenciado nas turmas, principalmente
quando o assunto era as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), que estão entre os problemas de
saúde pública mais comuns no Brasil e em todo mundo. Atualmente, são consideradas como principal
fator facilitador da transmissão sexual do vírus da AIDS (AYRES et al.,1998; BRASIL, 2006).
A partir do contato com estes adolescentes, durante o desenvolvimento do Projeto Adolescer,
delimitou-se como objeto de estudo o conhecimento sobre as percepções dos adolescentes escolares
sobre o jogo Adolescer, as implicações do bullying no cotidiano de cada um deles, bem como o
conhecimento do estado de vulnerabilidade em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis dos
adolescentes participantes do Projeto Adolescer.
Os objetivos deste estudo foram: identificar a percepção que os adolescentes tiveram sobre o jogo
ADOLESCER; descrever as implicações do bullying na vida cotidiana do adolescente escolar; e, por
fim, compreender a vulnerabilidade dos adolescentes às infecções sexualmente transmissíveis.
2. Metodologia
Para a realização desta pesquisa, optou-se por um estudo descritivo de natureza qualitativa. Nosso
cenário do estudo foi a Escola Municipal Gabriel Gonçalves da Silva localizada no bairro Ipiranga, zona
sul da cidade de Juiz de Fora, e os sujeitos foram adolescentes matriculados nas três turmas do nono
ano e com faixa etária compreendida entre 13 e 16 anos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética
Quando estas situações eram identificadas, os pesquisadores interferiam de forma positiva frente
às atitudes negativas, relacionando-as com o dia-a-dia dos adolescentes. Ao mesmo tempo em que
advertiam os demais alunos quanto a não desejar para o outro o que não se quer para si. No grupo
focal, os adolescentes descreveram os fatos mais marcantes da experiência de jogar e correlacionaram
situações do jogo com suas realidades, o que é ilustrado nos depoimentos:
O que foi mais marcante é que no jogo fala sobre tudo o que acontece no dia-a-dia da gente. (F, 16)
Eu gostei do jogo e o que foi mais marcante para mim foi que o jogo ajuda a gente aprender mais
sobre a adolescência.(F, 15)
Segundo os depoimentos, aduzimos que o objetivo central do jogo foi alcançado, visto a ótima
aceitação do mesmo pelos alunos. Os depoentes, ao correlacionarem os temas guias com seu cotidiano,
mostraram a aplicabilidade do material lúdico.
O fenômeno do bullying pode ser entendido como atos de violência física ou psicológica, intencionais
e repetidos, praticados por um indivíduo (bully) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou
agredir outro indivíduo (ou grupo de indivíduos) incapaz de se defender. O bullying pode gerar para
seus envolvidos sérios problemas de saúde, principalmente psicológicos, como traumas sociais, revoltas e
fobias. Sendo que os envolvidos podem participar como autores – quem pratica as agressões –, alvos – as
vítimas das agressões – e os alvos/autores que ora praticam e ora sofrem as agressões (MARTINS, 2011).
Através das falas dos alunos sujeitos, evidenciou-se o quanto as formas de manifestações desta
violência são variadas, sendo comuns reações que vão desde o retraimento da vítima até à agressão
de outras pessoas que estão próxima ao agredido, gerando também atitudes de medo, revolta, baixa
autoestima e isolamento por parte de quem sofre o ato.
[…] Ficam triste, revoltados, sentem medo, não chegam perto de pessoas, não tem amigos,
andam sozinhos […] (F, 14)
Ficam com medo de ir à escola quando alguém lhe ameaça ou lhe agridem, sofrem problemas
psicológicos, eles ficam com trauma emocional. (M, 15)
Os adolescentes que são vítimas de violência têm como característica um comportamento social
inibido, passivo ou submisso. Além de sentirem-se vulneráveis, com medo ou vergonha intensa e uma
Têm jovens que querem se matar, que começam a usar drogas (F, 15)
Eles se tornam jovens agressivos, rebeldes e revoltados tornando-se drogados ou até mesmo
entram na prostituição […] (M, 14)
[…] Ele pode ficar com maldade no coração e matar alguém por causa daquela violência que ele
sofreu […] (F, 15)
Um fato que contribui para a continuação deste tipo de violência é com relação ao local da escola
onde geralmente ocorrem os atos de bullying, pois são áreas onde a presença ou supervisão de pessoas
adultas é mínima ou inexistente, reforçando a tendência das escolas de não admitirem a ocorrência
do bullying entre seus alunos, por desconhecerem o problema ou por se negarem a enfrentá-lo (DIAS,
2011).
Hoje é notável a existência de um novo perfil dentro das relações amorosas. O termo “ficar” tem
se tornado cada vez mais comum entre os jovens que, ao serem questionados, dizem que é uma maneira
de se relacionar com alguém sem ter um compromisso ou responsabilidade com tal pessoa, é uma
forma de ter prazer sem os esforços devidos para se manter um relacionamento. Este tipo de relação
ocorre comumente em locais públicos, onde a atração dos indivíduos leva a um contato corporal
imediato, sem vínculo entre os parceiros, que frequentemente separam-se sem a perspectiva de se ver
novamente (TAQUETTE, 2009).
A maioria dos adolescentes definiu este tipo de relacionamento fazendo alusão à palavra ”beijar”,
porém confessaram que, por vezes, a relação chega a uma intimidade maior, até mesmo ao sexo, como
podemos evidenciar nas falas a seguir:
Ficar é melhor que namorar, enquanto alguém namora só com uma, o outro fica com várias, é
mais lucrativo. (F, 14)
Ficar é beijos, sentir prazer, namorar, abraços e sexo. (M, 15)
O que se pode notar em uma conversa aberta com os jovens em relação a isto, é que a nova prática
está ligada principalmente ao desejo físico por outra pessoa o que, consequentemente, faz com que o
sentimento seja deixado em segundo plano. Este tipo de relação pode ser perigoso, afinal, a margem
entre o uso do discernimento e do juízo para encontrar as melhores alternativas para a satisfação das
necessidades e desejos sexuais e o risco de contrair uma IST têm se tornado extremamente estreita
entre os jovens, que, diante da alternativa de transar ou não transar, muitas vezes, na relação afetiva
denominada como ficar, acabam se entregando ao parceiro sem proteção, o que leva a um estado de
vulnerabilidade às DST/AIDS (JUSTO, 2005, TAQUETTE, 2009; PACHECO, 2010).
A estrutura familiar tem um papel fundamental na construção do caráter e princípios dos
indivíduos, é fator crucial na determinação e na organização da personalidade, além de influenciar
Meu pai foi bater na minha mãe e minha mãe cortou a mão do meu pai. (M, 13)
O fator social influencia ativamente na vida dos jovens. Sendo assim, o trabalho por uma formação
de indivíduos responsáveis, que serão cidadãos conscientes e que têm total condição de autocuidado
deve abranger não só a temas específicos, mas, sim, esforços para que socialmente estes jovens tenham
uma vida melhor (TRAVERSO-YEPEZ, 2002). Todos os trabalhos de educação em saúde devem
considerar a realidade na qual o público alvo está inserido. Muitas vezes, o desequilíbrio familiar,
a pobreza e as dificuldades do dia-a-dia influenciam atitudes de risco, como o sexo desprotegido, a
promiscuidade, o uso de drogas, alcoolismo, e a violência.
Conclusão
Apesar dos avanços nos estudos e pesquisas sobre essa etapa do desenvolvimento humano que é a
adolescência, ainda se evidencia uma imagem um pouco distorcida do adolescente perante a sociedade,
isto se deve, principalmente, ao fato de tratar-se de uma fase de intensas transformações no qual se dá,
simultaneamente, um processo de desconstrução e reconstrução. Este estudo aponta o instrumento
lúdico como uma possibilidade de estabelecer uma comunicação efetiva com o adolescente, permitindo
que os temas transversais da adolescência permeiem as iniciativas de educação em saúde desse grupo
populacional.
A realização deste estudo evidenciou o quão presente é, no cotidiano dos adolescentes, o fator
violência e como é constante a manifestação desse comportamento deletério no âmbito escolar. Tal
realidade se traduz pelo bullying, violência velada muitas vezes por motivos diversos. Por outro lado,
discorrer sobre esse assunto levanta um agravante sério, o bullying é um problema social e de saúde pública,
de fato, um ato violento disseminador de mais violência, inclusive violências futuras. Por vez, existem
ainda as correlações desse tipo de violência com o uso de drogas, prostituição ou mesmo transtornos
mentais e sociais relevantes na faixa etária da adolescência, estendendo suas consequências à fase adulta.
Consoante os resultados alcançados neste estudo reforçam o conceito de complexidade para
promover a saúde e a formação dos adolescentes, o que demanda a participação da família, dos
profissionais da saúde, da educação, da sociedade e do Estado na elaboração de ações voltadas para um
atendimento de qualidade que promova a saúde dos mesmos. Neste processo, o emprego do lúdico se
configura como uma importante estratégia de abordagem, em especial para a Enfermagem que atua
com esse adolescente, tanto em âmbito do cuidar assistencial como educativo.
O jogo Adolescer propiciou a criação de espaços de discussão e compreensão sobre saúde sexual e
reprodutiva, autocuidado e conhecimento do próprio corpo pelos adolescentes que dele participaram.
A escola, enquanto espaço social, se mostrou um cenário propício para a educação em saúde, pois
além de ser um local onde os estudantes passam grande parte da vida, é um espaço de descobertas
individuais e relacionais, inclusive referentes à sexualidade e às atitudes que os colocam vulneráveis às
infecções sexualmente transmissíveis e sobre como preveni-las. Ficou claro que o combate às IST não
deve ser uma ação isolada, já que a vulnerabilidade do jovem envolve questões de cunho familiar, social
e econômico.
Referências
CASTRO A.P.R.; GONÇALVES A.F.; CAETANO F.H.P.; SOUZA L.E.J.X. Brincando e aprenden-
do saúde. Texto & Contexto Enferm. Santa Catarina, v.7, n.3, p. 85-95, 1998.
EYNG, A.M.; GISI, M.L.; ENS, R.T. Violências nas escolas e representações sociais: um diálogo
necessário no cotidiano escolar. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 9, n. 28, p. 467-480, 2009.
HESS, R.; WEIGAND, Gabriele. A escrita implicada. In: Cadernos de Educação, n°. 11, 2000.
MCKINLAY, J.B. Health promot ion throug healthy publicpolicy: the contribution of complemen-
tary research methods. Can J Public Health, v.83, supl.1, p.11-9, 1992.
TAQUETE, S.R. Aids e juventude: gênero, classe e raça. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2009.
RESUMO
Este artigo é um recorte de um Relatório Técnico-Científico da pesquisa Grandes Projetos Urba-
nos Em Juiz De Fora: Mapeamento E Estudo Comparativo, em que analisou 4 grande projetos
na cidade. A administração municipal busca através dos chamados grandes projetos urbanos,
aumentar a competitividade em relação a outros municípios e consolidar-se como pólo da Zona
da Mata Mineira. Podemos notar que esse processo reflete um quadro no qual as leis urbanas
encontram-se defasadas e os planos elaborados pontualmente, levaram à valorização da terra e
expansão das fronteiras urbanas, sem um real entendimento de planejamento urbano. A presente
pesquisa buscou avaliar os impactos objetivos e simbólicos dos GPU’s no município num mo-
mento de inflexão na produção de políticas urbanas e a adoção de políticas competitivas (de 1992
a 2006). Através de uma metodologia baseada em análises multidimensionais e na observação
de pontos de ruptura em diferentes dimensões do espaço, objetivou-se um melhor entendimento
do processo em pauta e de sua contribuição para o debate sobre a teoria e os métodos do planeja-
mento urbano e regional.
Palavras-chave: Grandes projetos urbanos. Planejamento por projetos. Planejamento urbano
Introdução
Os chamados Grandes Projetos Urbanos (GPU’s) constituem-se em uma das tendências do
empresariamento urbano (HARVEY, 1996), evidenciando uma maneira de conceber a cidade através
da ação pública-privada e do marketing urbano (SÁNCHEZ, 1997). A partir dos anos 90 com o
processo de globalização tomando conta do cenário mundial, observou-se a disseminação das regras de
livre mercado, passando a economia a ser progressivamente isenta do controle político.
1 Professora orientadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia - UFJF. Av. José Lourenço
Kelmer s/n. Campus Universitário da UFJF. Bairro Martelos. Faculdade de Engenharia. Galpão 4. Arquitetura e Urbanismo.
Sala 221.
2 Bolsista do Programa PROBIC/FAPEMIG/UFJF.
Metodologia
Os projetos urbanos de grande porte implicam em reestruturações nas diversas dimensões do
espaço social, desencadeando a mobilização de atores diversos. Além disso, são capazes de redesenhar
os espaços urbanos, atingindo efeitos para além de sua circunscrição imediata, implicando ainda, em
uma reafirmação ou produção de novas centralidades.
O trabalho tem por princípio uma análise multidimensional que supõe a observação de pontos
de ruptura em diferentes dimensões do espaço, permitindo, ainda, a sistematização e comparação de
dados em futuras pesquisas com outros projetos urbanos.
Resultados e discussão
O mapeamento compreendeu a identificação e caracterização de experiências que permitiram
uma visão panorâmica das principais práticas e tipos de GPUs no município de Juiz de Fora. Baseados
em informações secundárias, o mapeamento foi enriquecido com estudos de casos aprofundados,
selecionados com base nos seguintes critérios:
• Situação geográfica;
• Atendimento de um amplo espectro de objetivos que o projeto;
• Análise de um amplo espectro de tipologias
• Visibilidade do empreendimento
• Verificação preliminar das fontes de informação disponíveis.
Estudo comparativo
GPU’S
DIMENSÕES Duplicação da Hospital Loteamento
Independência Shopping
Av. Deusdedith Salgado Monte Sinai Estrela Sul
- Parceria público-privada. - Associado à imagem da - Parceria público- - Parceria público-pri-
gestão “promotora de de- -privada. vada.
senvolvimento”.
- Parcerias entre diferentes
Sóciopolítica
níveis de governo.
- Investimentos públicos e
retornos exclusivamente pri-
vados.
- Envolvimento do poder - Gestão do projeto ficou - Envolvimento do - Envolvimento do po-
publico e da iniciativa pri- para o Estado de Minas Ge- poder publico e da der público e da inicia-
vada, através de medidas rais, cabendo à Prefeitura de iniciativa privada, tiva privada, através de
compensatórias. Juiz de Fora as negociações através de medidas medidas compensató-
para as desapropriações das compensatórias. rias.
Institucional
áreas.
- Dependência dos recursos
federal e estadual e do capi-
tal privado, particularmente
do setor imobiliário.
OLIVEIRA, Fabrício Leal de; SÁNCHEZ, Fernanda; BIENENSTEIN, Glauco e LIMA JUNIOR,
Pedro de Novais. Grandes projetos urbanos: o que se pode aprender com a experiência brasileira?
Relatório Final. Lincoln Institute of Land Policy. Rio de Janeiro, 2006.
SÁNCHEZ, F. A reinvenção das cidades para um mercado mundial. Chapecó: Argos, 2003
TASCA, Luciane. As contradições e complementaridades nas leis urbanas de Juiz de Fora: dos
planos aos projetos de intervenção. Tese (doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, 2010.
Resumo
Neste artigo, apresenta-se uma pesquisa sobre o que é dito ou acontece entre alunos ouvintes e
surdos, intérprete de língua de sinais e professores. Para tanto, analisou-se a organização espacial
e a interação ocorrida na sala de aula. Os dados para este artigo provêm da observação partici-
pante em duas diferentes turmas: (1) uma turma com surdos de uma Escola Pública em Juiz de
Fora, Minas Gerais, durante o primeiro semestre de 2011 e (2) uma turma de surdos em uma Es-
cola Particular em São Paulo, São Paulo, durante o primeiro semestre de 2012. Percebeu-se que
um fator central na interação em sala de aula é a língua de sinais. Portanto, algumas discussões
são feitas com relação à organização espacial da sala de aula e as oportunidades de aprendizagem
e participação de alunos surdos em diferentes salas de aula.
Palavras-chave: Surdos. Sala de aula. Intérprete. Língua de sinais.
Introdução
“Os surdos e a surdez, sujeitos e temática, ignorados por séculos, atualmente constituem e
expressam um campo específico de saber, o qual tem sido significado e caracterizado por dimensões
e aspectos culturais, antes improváveis e impensáveis” (RODRIGUES, 2011, p.30). Hoje, os surdos
têm conquistado reconhecimento político e acadêmico na medida em que as concepções sociais e
antropológicas da surdez ganham visibilidade e se propagam (SKLIAR et al., 1995; SKLIAR, 1998).
Ao contrário da visão clínica – na qual que se propõe a medicalização, o tratamento terapêutico,
a reabilitação da pessoa com surdez –, na visão sócio-antropológica, compreende-se a surdez como
Trajetórias de investigação
Na pesquisa que resultou neste artigo, adotamos a lógica da abordagem etnográfica em educação
(GREEN et al., 2001), apoiada pelas perspectivas da sociolinguística interacional (GUMPERZ,
1982). Ancorados na observação participante (SPRADLEY, 1980) e direcionados pela perspectiva
interpretativista (CASTANHEIRA, 2004), integramos, durante determinado período, o cotidiano de
duas turmas específicas: uma turma com surdos e outra de surdos, com o intuito de compreender as
linguagens e as práticas presentes nesses espaços e, assim, entender a vida dessas diferentes salas de aula.
As pesquisas fundamentadas numa lógica etnográfica consideram que o processo de ensino-
aprendizagem, situado no espaço interacional da sala de aula, permeado por uma multiplicidade de
contextos, constitui-se por meio de processos discursivos e interpretativos dinâmicos que se desenvolvem
e sofrem alterações, à medida que os participantes desse contexto interagem. Assim, o contexto seria
construído através de processos discursivos e interpretativos estabelecidos entre os participantes da sala
de aula. Nessa perspectiva, entende-se que o processo de ensino-aprendizagem “não é simplesmente
um processo individual ou psíquico, mas também um processo coletivo e social que influencia o que
os estudantes têm oportunidade de aprender e como eles participam nos eventos cotidianos da sala de
aula” (GREEN & DIXON, 1994, p.1075, tradução nossa).
Consideramos que, na medida em que os participantes da sala de aula relacionam-se e convivem,
eles desenvolvem seu próprio modelo de cooperação e de interação criando, dessa forma, modos
A Turma de Surdos
A turma de surdos, observada em 2012, faz parte de uma escola privada e bilíngue na cidade de São
Paulo, São Paulo, onde todos os alunos da turma são surdos e fluentes em Libras, sendo que as demais
turmas da instituição também são compostas somente por alunos surdos. Essa turma, do primeiro ano
do Ensino Médio, é composta por 25 alunos e não demanda a presença de intérpretes educacionais de
Libras-Português para o estabelecimento da interação entre os participantes da sala de aula.
Percebemos que os professores apresentam um conhecimento relevante sobre a Educação de Surdos,
alguns deles com mais de vinte anos de experiência na área. Todos os professores, inclusive dois deles
surdos, são falantes de Libras e reconhecem sua importância como língua de instrução e não simplesmente
como um recurso para o ensino do Português e/ ou para o acesso aos conteúdos escolares. Desse modo, a
interação dos professores com os alunos ocorre de forma significativa já que partilham uma mesma língua.
Além disso, os funcionários da escola também utilizam a Libras para se comunicarem com os alunos.
Vale destacar que, por se sentarem em semicírculo, os alunos dessa turma interagem não só com
aqueles colegas que se sentam próximos, mas também com outros alunos da sala da aula, independente de
sua localização nesse espaço, visto que todos se mantêm no campo de visão uns dos outros. É importante
dizer que os alunos assumem, de certa maneira, uma posição contrária à convivência com ouvintes
numa mesma turma, por questões relativas ao contato estabelecido em Libras e à identificação cultural.
Durante o período de observação, vimos que a turma se comunica bem em Libras, sendo que a
identificação linguística e a cultural favorece significativamente a interação. Os alunos compreendem
bem e, consequentemente, participam das atividades coletivas e individuais propostas e explicadas em
sua língua, a Libras. Na mesma perspectiva apresentada por Rodrigues (2008, p.122, grifos do autor),
também notamos “uma língua na sala de aula e uma língua da sala de aula”, visto que alguns sinais
pareciam ter significados somente no interior do grupo, além de, em alguns momentos, os alunos
utilizarem um híbrido do Português com a Libras.
Vale mencionar que ao interagirem entre si, os participantes de um grupo constituem modos de
agir, avaliar e entender que direcionam suas atitudes e orientam suas ações, assim como a sua forma
de interpretar as ações dos demais participantes do grupo (COLLINS & GREEN, 1992; GREEN
& DIXON, 1994). Essas regularidades assumem certos padrões, os quais, segundo Corsaro (1981),
constituiriam padrões interacionais. Estes, além de alimentar determinadas posturas e direcionar certas
ações, tornam-se centrais nas relações estabelecidas no interior do grupo, sendo (trans)formados e (re)
significados de acordo com a consolidação de novas configurações, proporcionadas pela mudança das
condições de organização do grupo e de seus membros.
Encontramos na turma de surdos os seguintes padrões interacionais: (i) organização espacial da
sala em semicírculo como forma de viabilização da interação; (ii) uso da Libras como central para a
participação na turma, servindo como base para a interação e identificação cultural dos membros do
grupo; (iii) resistência a convivência com alunos ouvintes não-falantes de Libras na mesma turma, como
forma de afirmação linguística e cultural dos alunos. Ao abordar outras turmas de surdos, Rodrigues
(2008; 2010a; 2010b) e Rodrigues e Miranda (2012), encontram padrões similares, os quais concedem
à língua de sinais um lugar central na produção e na apropriação de oportunidades de aprender e
participar em turmas de surdos.
Considerações
Ao contrário do que se pode pensar, a turma de surdos reúne condições favoráveis ao processo
de ensino-aprendizagem de falantes de Libras e favorece o processo educacional desses alunos, ao se
apresentar como um espaço inclusivo que respeita a especificidade linguística e cultural, ao mesmo
tempo em que congrega a diferença e a diversidade, já que cada surdo é único. Todos os alunos têm a
possibilidade de interagir na língua de sinais entre si e, inclusive, com professores e demais membros
da comunidade escolar. Segundo Capovilla (2008, p.8),
É evidente que somente a turma de surdos e o uso da língua de sinais não dão conta da atual
proposta de Educação Bilíngue de/para/com Surdos, visto que para a efetivação da mesma não basta
apenas colocar os surdos no mesmo espaço físico. Faz-se necessário distinguir, assim como Fernandes
(2003, p.54), a diferença entre uma perspectiva bilíngue de “apenas incluir a língua de sinais brasileira
como agente redentor do processo educacional do surdo” e outra que “englobe a totalidade do indivíduo
em seu meio psicossociocultural”, ou seja, que considere o “bilinguismo na educação como um todo
nunca dissociado de um projeto educacional”.
Nesse sentido, uma educação bilíngue pressupõe uma profunda mudança nas organizações,
conceitos, diretrizes, metodologias, posturas e concepções educacionais (RODRIGUES & SILVA,
2010). Assim, para que a Educação de Surdos tenha sucesso, é importante que haja todo um projeto
educacional, fundamentado na diferença linguística e cultural desses alunos. Além disso, é importante
que se considere a heterogeneidade das pessoas com surdez e as diferenças entre os surdos, no sentido
cultural do termo, e as pessoas com deficiência auditiva, já que cada grupo exigirá uma estruturação
própria do processo educacional.
Algumas propostas inclusivas atuais de Atendimento Educacional Especializado, por exemplo,
podem se ajustar bem às demandas das pessoas com deficiência auditiva que têm o português como
língua materna e não são falantes de língua de sinais. Tais pessoas conseguem habituar-se melhor às
salas de ouvintes, embora também demandem adaptações para a acessibilidade. Entretanto, observa-
se que tal atendimento não se ajusta à Educação de Surdos, falantes de língua de sinais, os quais, em
condições similares às apresentadas na proposta educacional da escola bilíngue e da turma de surdos
desta reflexão, têm ampliadas suas possibilidades de sucesso escolar.
Em suma, os embates teóricos travados em cima de concepções e conceitos de educação especial
e/ ou inclusiva precisam ser superados em prol da construção de uma educação de qualidade acessível a
todos. Visões reducionistas que veem a turma de surdos limitada à antiga noção de educação especial,
colocando-a na contramão do atual movimento de inclusão e desconsiderando a realidade dos sujeitos
surdos em nome da mera imposição de crenças e concepções, estão cada vez mais ultrapassadas e devem
ser substituídas. Portanto, as políticas precisam tratar os alunos ouvintes como ouvintes, os surdos
como surdos e os com deficiência auditiva como alunos com deficiência auditiva, considerando as
especificidades do indivíduo e visando ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades.
Agradecemos às escolas, aos gestores, aos professores e aos alunos que, durante o período de
imersão e coleta de dados, nos acolheram como parte de sua vida cotidiana; e, também, à Universidade
Federal de Juiz de Fora, à Faculdade de Educação e ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação e
Diversidade pelo apoio concedido à realização da pesquisa.
Referências
CAPOVILLA, F. C. Principais achados e implicações do maior programa do mundo em avaliação
do desenvolvimento de competências linguísticas de surdos. In: SENNYEY, A. L; CAPOVILLA, F.
C; MONTIEL, J. M. (Org.), Transtornos de aprendizagem: da avaliação à reabilitação. São Paulo:
Artes Médicas, 2008. p.151-163.
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SHALL, H. (Ed.) Redefining Learning: Roots of educational restructuring. Norwood: NJ: Ablex,
1992.
CORSARO, W. A. Entering the child’s world: research strategies for field entry and data collection
in a preschool setting. In: WALLAT, C.; GREEN, J. L. Ethnography and language in educational
settings. Norwood: Ablex, 1981.
ERICKSON, F.; SCHULTZ, J. When is a context? some issues and methods in the analysis of social
competence. In: GREEN, J.; WALLAT, C. (Ed.). Ethnography and Language in Educational Set-
tings. New Jersey: Ablex Corporation, 1981. p. 147-160.
GREEN, J. L.; DIXON, C. N. The Social Construction of Classroom Life. In: International
encyclopedia of English and the Language Arts. v. 2. NY: A. C. Purves in collaboration with
Scholastic Press, 1994. p. 1075-1078.
RODRIGUES, C. H. A Sala de aula na Inclusão: refletindo sobre as turmas com surdos e de surdos.
In: VI Seminário Sociedade Inclusiva, 2010, Belo Horizonte. Os discursos sobre o outro e as prá-
ticas sociais. Belo Horizonte: PucMinas, 2010a.
RODRIGUES, C. H.; SILVA, G. M . Educação Inclusiva de Surdos: sala, escola ou educação bi-
língue?. In: I Seminário Nacional de Educação Especial/ XII Seminário Capixaba de Educação
Inclusiva, 2010, Vitória. Educação Especial/ Educação Inclusiva: conhecimentos, experiências e
formação. Vitória: UFES, 2010.
SKLIAR, C., et al. El acceso de los niños sordos al bilingüismo y biculturalismo. Madri: Infancia y
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SKLIAR, C. (Org). A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
Resumo
O foco desta abordagem centra-se, de forma mais intensa, sobre dois aspectos: em primeiro
lugar, salienta e auxilia a necessidade de se criar uma postura crítica frente aos textos filosóficos
da cultura indiana, os Upanisads, e, por esta via, elaborar um estudo que ofereça maior emba-
samento acerca da temática aí desenvolvida; em segundo lugar, por sua vez, pretende auxiliar
na elaboração de uma tradução com mais qualidade, além de oferecer a fundamentação para
a expansão de um campo ainda pouco explorado no meio acadêmico brasileiro. Além disso,
nesta perspectiva, esta análise estabelece a possibilidade de comparar o pensamento contido nos
Upanisads com as sistematizações elaboradas pela filosofia grega durante a antiguidade e, conse-
quentemente, aponta que houve no subcontinente indiano uma genuína e sistematizada postura
filosófica.
Palavras-chave: Postura crítica. Upanisádicos. Tradução. Cultura indiana. Filosofia grega.
“Se me perguntassem sob qual céu a mente humana (...) tem ponderado mais
profundamente acerca dos grandes problemas da vida e encontrado soluções
para alguns deles, que bem merecem atenção de quem estudou Platão e Kant
– eu apontaria para a Índia. E se eu perguntasse a mim mesmo de qual literatu-
ra poderíamos nós (que viemos nos alimentando quase que exclusivamente do
pensamento grego e romano, e de uma única raça semítica, a judaica) extrair o
corretivo que se faz necessário para tornar nossa vida interior mais perfeita, mais
abrangente, mais universal, na verdade, mais decididamente humana (...) eu
novamente apontaria para a Índia”
Friedrich Max Müller
Metodologia
A temática referente à tradução e estudo dos Upanisads consiste num projeto pioneiro e, por este
motivo, é sinônimo de dificuldades. Em primeiro lugar, não existe em português uma tradução dos
3 Termo originário do idioma sânscrito utilizado para se referir aos quatro conjuntos de tradições religioso-filosóficas
predominantemente orais e cujos mais antigos registros escritos datam de aproximadamente 1.500 a.C e correspondem ao
embasamento das escrituras consideradas sagradas para o hinduísmo, sendo avaliados como os mais antigos registros literários
dos povos indo-europeus. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vedas>. Acesso em: 23 de janeiro de 2012.
4 WITZEL, Michael. Vedas and Upanisads. In: FLOOD, Gavin (ed.). The Blackwell Companion to Hinduism. Oxford:
Blackwell Publishing, 2003, cap. 3, p. 83.
Discussão e resultados
Os Upanisads foram redigidos em sânscrito, a língua do conhecimento na Índia, e suas composições
podem variar entre alguns parágrafos, dezenas ou centenas de páginas. Diante de tal afirmação, podem
se apresentar tanto na forma prosaica quanto em versos ou em ambas as modalidades. A palavra
Upanisad denota uma característica marcante dos textos. Ela aponta para o caráter pedagógico que,
por sua vez, é muito semelhante ao modelo socrático da maiêutica tão difundido por Platão em seus
inúmeros diálogos; em acréscimo a esta característica, não se deve colocar de lado o caráter instrucional
do processo de aprendizagem aí ministrado. Trata-se de um diálogo instrutivo entre mestre e discípulo
No início havia a existência, apenas Um, sem segundo. Alguns dizem que no
início havia apenas a não existência, e que dela nasceu o universo. Porém, como
poderia ser tal coisa? Como poderia a existência nascer da não existência? Não,
meu filho, no início havia apenas a existência (ser) – somente um, sem que hou-
vesse outro. Ele, o Uno, pensou: Serei muitos, expandir-me-ei. Assim, projetou
o universo a partir de si mesmo, e entrou em cada ser, em tudo. Tudo o que
existe possui o seu ser somente nele. Ele é a verdade. Ele é a essência sutil de tudo
(...) (CHANDOGYA-UPANISAD, 1987, p. 46).
A palavras Upanisad é composta de três partes: o prefixo upa significa “junto a”, -ni- transmite
a ideia de “abaixo” e a raiz verbal sad significa “sentar” – literalmente, “sentar-se junto a” um mestre,
alguém acima de sua posição, a fim de aprender. É importante levar-se em conta o caráter didático dos
Upanisads: neles há um tema claro a ser tratado (a eliminação dos erros sobre a natureza de si mesmo e
a postulação da não-dualidade entre o micro e o macrocosmo); e uma metodologia própria para tratá-lo.
A matéria-prima da investigaçã upanisádica é, como já mencionado, a relação atman-brahman,
o Eu individual e o Eu Universal, a força imperecível e verdadeira por trás do mundo fenomênico e a
sua manifestação individual, oculta nas profundezas do coração humano. A versão escrita dos textos
subordina-se ao diálogo oral que contém, de forma definitiva, os ensinamentos a serem transmitidos. É
relevante que o leitor ocidental dos Upanisads tenha em mente que neles não se encontram esquemas
filosófico-racionais nos moldes iluministas ocidentais, mas, ao invés, reflexões que o impelem, num
sistema que promove a faculdade da intuição e a realização do que pertence ou não à realidade, do
permanente e do transitório, a uma transformação espiritual visando uma melhor condição da vida
e de felicidade. Esta perspectiva indiana de busca da felicidade como condição inerente à condição
humana é igualmente constatada na filosofia aristotélica. Por um lado, o autor grego ressalta que “se a
felicidade consiste na atividade conforme a virtude, será razoável que ela seja também uma atividade
em consonância com a mais alta virtude” (razão) (ARISTÓTELES, 2004, p. 228). Por outro, a tradição
filosófica indiana também postula que “com a ajuda da mente e do intelecto, impede que os sentidos
se apeguem aos objetos do prazer” (SVETASVATARA-UPANISAD, 1987, p. 72). Portanto, a Índia
não deve ser concebida como aquela que é em si mesma a estraga prazeres, o que ela propõe é uma
caminhada em concordância com as diretrizes do intelecto e, acima de tudo, a vivência do prazer a
partir do desapego e da emancipação da natureza humana em relação ao mundo no qual o homem
encontra-se localizado.
A inserção do intelecto no plano prático não consiste em afastar do indivíduo aquilo que lhe é
causa de prazer, seu objetivo é resolver o problema referente à causa do sofrimento, o apego excessivo.
Deste modo, ressalta-se que a proposta central é conhecer melhor as coisas que envolvem o ser humano
no decorrer de sua existência, de modo que, a partir do momento em que se inicia um processo
de compreensão mais intenso, passa-se a avaliar o mundo de forma mais profunda. Seria correto
afirmar que neste processo surge o conhecimento das essencialidades das coisas, a razão não deve ser
compreendida como aquela que afasta os objetos prazerosos, mas, sim, como a responsável por ensinar
acerca da natureza de cada um.
Conclusão
Tendo em vista o momento em que se trata da semelhança filosófica entre a Índia e a Grécia,
observa-se, consequentemente, por causa das convenções estabelecidas no decorrer da história,
justapostos frente a frente partes integrantes tanto do Oriente (Índia) quanto do Ocidente (Grécia).
Embora a relação ocidental-oriental seja marcada por uma herança conflituosa, ambas constituem
realidades muito próximas, tal como se observou no que tange ao aspecto racional. Contudo,
nesta perspectiva, é muito interessante evidenciar que o Oriente não é algo simplesmente situado
no espaço, muito pelo contrário, ele deve ser compreendido como algo que possui historicidade e
tradição de pensamento. É evidente que tanto a Grécia como a Índia não são capazes de traduzir em
si mesmas todas as manifestações culturais ocidentais e orientais, mas evidenciam o quão similar e não
antagônica pode ser tal relação. Além disso, a existência de uma porção geográfica ocidental só pode
ser reconhecida como tal tendo em vista a ocasião em que o Oriente passa a existir, ou seja, nessas
condições nota-se uma espécie de completude mútua. É nesta perspectiva que Edward Said constrói
a seguinte afirmação:
O oriente não é um fato inerte na natureza. Não está simplesmente lá, assim
como o próprio ocidente não está apenas lá. Devemos levar em consideração
a notável observação de Vico, segundo a qual os homens fazem a sua própria
história e que só podem conhecer o que fizeram e aplicá-la à geografia: como
entidades geográficas e culturais – para não falar em entidades históricas -, os
lugares, regiões e setores geográficos tais como o “oriente” e o “ocidente” são
feitos pelo próprio homem. Portanto, assim como o próprio ocidente, o oriente
é uma ideia que tem uma história e uma tradição de pensamento e imagística
e vocabulário que lhe deram realidade e presença no e para o ocidente. As duas
entidades geográficas, desse modo, apoiam e, em certa medida, refletem uma a
outra (SAID, 1990, p. 16-17).
Agradecimentos
A consolidação do presente projeto tornou-se realidade não por causa das facticidades que
compõem a existência humana, mas por razões que não poderiam deixar de ser ressaltadas. Diante
deste fato, gostaríamos de demonstrar nossos mais sinceros agradecimentos à PROPESQ (UFJF), ao
Conselho Nacional de Pesquisa (CNPQ) e, além disso, à Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas
Gerais (FAPEMIG). Cabe também gratidão àqueles que direta ou indiretamente contribuíram para
que este trabalho fosse concluído, de modo especial rendemos graças ao Professor e amigo Dilip
Loundo, aos doutorandos José Abílio Pérez e Gisele Lemos, uma vez que sempre estiveram presentes
no decorrer das atividades.
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2004.
FLOOD, GAVIN (Ed.). The Blackwell Companion to Hinduism. Oxford: Blackwell Publishing,
2003.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990.
UPANISADS. Tradução de Patrick Olivelle a partir da versão sânscrita. Oxford: Oxford Univerity
Press, 1997.
Resumo
O presente artigo tem por objetivo apresentar os resultados parciais da pesquisa intitulada “Bem
Estar Social, Saúde e Indústria Farmacêutica”. O estudo pretende analisar as relações entre a
indústria farmacêutica e o sistema de saúde, em países selecionados, com foco no impacto pro-
duzido pelas alterações no ambiente regulatório internacional, a partir da instituição do TRIPS.
Neste trabalho são expostos os resultados do levantamento sobre os sistemas de saúde do Brasil
e da Argentina em perspectiva comparada.
Palavras-chave: Sistemas de saúde. Proteção social.Brasil. Argentina
1. Introdução
Este artigo apresenta os resultados parciais da pesquisa coordenada pelo professor Ignacio José
Godinho Delgado, intitulada “Bem Estar Social, Saúde e Indústria Farmacêutica”. O projeto tem como
objetivo geral investigar as relações entre Sistemas de Saúde e a Indústria Farmacêutica no contexto
que se abre com a fixação, em 1994, do marco regulatório internacional TRIPS (Agreement on Trade-
Related Aspects of Intellectual Property Rights), que estabeleceu regras mais rígidas sobre propriedade
intelectual. A pesquisa investiga os casos do Brasil, Argentina e Inglaterra. Identificar os formatos
dos sistemas de saúde desses países é primordial para compreender as relações que estabelecem com
a indústria farmacêutica. Neste artigo, nos atemos apenas aos casos de Brasil e Argentina, esboçando
uma análise comparativa entre os sistemas de saúde dos dois países.
1 Professor orientador do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.
2 Bolsista do Programa PIBIC/CNPq/UFJF.
3 Bolsista do Programa BIC/UFJF.
3. Resultados e discussão
Numa perspectiva sintética de diferentes formulações, os sistemas de proteção social podem
ser classificados como universais, corporativos e liberais (Esping-Anderson, 1990; Rimlinger, 1977;
Titmus, 1958). Nos primeiros, predomina o acesso pleno dos cidadãos aos diferentes benefícios
e serviços, custeados por impostos gerais. Nos segundos, tem destaque a presença de mecanismos
ocupacionais na definição do acesso, com o custeio realizado através de contribuições compulsórias
de trabalhadores e empresários. Por fim, nos sistemas liberais, têm destaque os testes de meios para o
acesso da população mais carente ao sistema público, custeado por impostos, ao lado de significativa
oferta privada de diversos serviços. Na caracterização dos sistemas de saúde, os mecanismos de acesso
e a propriedade dos “fatores médicos de produção” têm sido considerados como elementos centrais
(Albuquerque & Cassiolato, 2000). Num extremo, aparecem os casos em que prevalece a rede hospitalar
pública, custeada por impostos, com garantia de acesso universal ao atendimento. Noutro, prevalece
a medicina liberal e os seguros privados, com predomínio da rede hospitalar privada. Numa posição
intermediária, aparecem sistemas em que o acesso aos serviços de saúde efetua-se através de seguros
de perfil predominantemente ocupacional, combinados à presença, maior ou menor, da propriedade
privada dos fatores de produção.
Os sistemas de saúde do Brasil e da Argentina surgiram com configurações similares, de acesso
definido por perfil ocupacional e custeio garantido por contribuições compulsórias de empregadores
e empregados (Delgado, 2001; Menicucci, 2007; Piola & Cavalcanti, 2006; Obras Sociales, S.D.) Os
institutos de previdência social brasileiros, criados na década de 1930, e os de obras sociais argentinas,
impulsionadas a partir da criação da Comision de Servicio Social na década de 1940, asseguravam
aos seus associados o atendimento à saúde segundo critérios diferenciados, conforme a categoria
profissional que representavam.
No caso brasileiro, contudo, uma série de mudanças foi definindo a construção de um sistema
público e universal, franqueado a todos os cidadãos, embora segmentos de renda média e alta prefiram
a utilização da medicina liberal e dos planos de saúde para o acesso à rede hospitalar privada, cujo peso
é superior à sua congênere argentina. Vale registrar a instituição da Lei Orgânica da Previdência Social
Na Argentina não se processou a unificação administrativa das obras sociais, tal como ocorreu no
Brasil com o INPS, apesar de esforços nesta direção terem sido verificados durante os governos militares
na década de 1980. Tampouco foi instituído um sistema público de acesso universal, embora a criação do
Instituto Nacional de Obras Sociales (INOS) e do Fondo de Redistribuicion, em 1970, tenham logrado elevar
a cobertura no atendimento à saúde a mais de 70% da população, sem, contudo, eliminar as desigualdades
derivadas dos recursos diferenciados de que dispõem as diversas obras sociais (Piola & Cavalcanti, 2006).
O atendimento no setor público, custeado por impostos, é uma atribuição precípua das províncias,
conquanto o governo central esteja presente com as delegacias e superintendências do Ministério de La
Salud, criado em 1949, além de outros organismos descentralizados e do Instituto Nacional de Serviços
Sociais para Aposentados e Pensionistas, cujo orçamento foi incorporado ao orçamento nacional. O setor
privado integra-se ao sistema através dos seguros médicos individuais, assim como do gerenciamento ou
prestação de serviços complementares oferecidos por algumas obras sociais.
Além das dificuldades financeiras das obras sociais, o grande dilema do sistema de saúde na
Argentina tem sido sua reduzida capacidade de coordenação (Maceira, 2003; Maceira & Cintia y
Olaviaga, 2010). Na ausência de um sistema efetivamente unificado, diversas iniciativas têm sido
tomadas para conferir certa homogeneidade ao atendimento, além do Fondo de Redistribuicion,
apontado acima. Pode-se nomear, dentre outros, o Programa Medico Obligatorio e o programa Remediar,
de 2002. O primeiro estabelece um patamar mínimo para o atendimento conferido pelas obras sociais,
enquanto o segundo objetiva garantir a provisão básica de medicamentos para a população mais
carente (Argentina, S.D.; BDO, 2008). De todo modo, a Argentina, em que pese a deterioração geral
das condições sociais desde o final da década de 1990, especialmente após a crise de 2001, apresenta
indicadores de saúde superiores à maior parte dos países latino-americanos.
No que toca à relação do sistema de saúde com a indústria farmacêutica, as agências mais
importantes nos dois países são a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e a Administración
Nacional de Medicamentos, Alimentos y Tecnología Médica (ANMAT). A primeira é responsável pela
avaliação, autorização e registro dos medicamentos lançados no mercado brasileiro, mas tem atribuições
muito mais amplas que suas congêneres em outros países. Ela é responsável, também, pela fiscalização
da rede de distribuição e venda de medicamentos e participa do controle de preços destes, uma vez
que dirige a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, organismo interministerial criado
em 2004 para definição de normas relativas à fixação dos preços dos medicamentos. Além disto, desde
1999, participa do processo de registro de patentes, atribuição precípua do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI). O dispositivo que regula esta última atribuição é a “licença prévia”,
regulada pela Medida Provisória nº 2.006/1999 e, posteriormente, pela Lei nº 10.196, de 2001, que
criam a exigência de autorização preliminar da ANVISA às patentes de produtos relacionados à área de
saúde que buscam registro no INPI.
A ANMAT, por seu turno, é responsável apenas pela avaliação, autorização e registro dos
medicamentos lançados na Argentina. O registro de patentes é feito no Instituto Nacional de La Propriedad
4. Conclusão
Os sistemas de saúde do Brasil e da Argentina surgiram com configurações semelhantes, porém
a trajetória histórica de cada um levou à formação de modelos diferenciados de atendimento a saúde,
mas que ainda guardam algumas semelhanças entre si. A participação dos provedores privados ao lado
do setor público aproxima o sistema de saúde brasileiro do argentino. Eles distinguem-se, contudo, no
acesso (universal no Brasil, ocupacional na Argentina), na coordenação (acentuada no Brasil, reduzida
na Argentina), na composição da oferta de serviços (no Brasil, não há um rede de seguros de perfil
ocupacional) e na estrutura do gasto com saúde, embora, neste caso, haja uma tendência à relativa
aproximação.
5. Referências
ALBUQUERQUE, E. e CASSIOLATO, J. E. As especificidades do sistema de inovação no setor
saúde: uma resenha da literatura como introdução a uma discussão do caso brasileiro. São Paulo:
FeSB, 2000.
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versity Press.1990.
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oscom.com.ar/www/home.htm. Acesso: 10/02/2011.
RIMLINGER, G.V. Welfare Policy and Industrialization in Europe, America and Russia. New
York: John Wiley and Sons, 1977.
TITMUS, R. Essays on the Welfare State. London: George Allen and Unwin Ltd, 1958.
RESUMO
Principal forma de acesso ao ensino superior, o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM –
modela os currículos do Ensino Médio, forjando não só os conteúdos, mas as práticas a serem
desenvolvidas na escola. Este trabalho investiga a adequação entre as práticas de letramento
literário escolar presumidas pela prova do ENEM e as orientações dos documentos oficiais para
a formação do leitor de literatura. Os dados foram recolhidos de todas as provas do ENEM –
aplicadas entre 1998 e 2011 – das quais foram selecionadas as questões relativas ao campo da
literatura. Procedeu-se à análise qualitativa e quantitativa dos dados que aponta para o seguinte
resultado parcial: a predominância de questões focadas na atividade interpretativa sinaliza a pos-
sibilidade de superação de um modelo de trabalho com a literatura voltado mais para o estudo
teórico e histórico do texto literário que para o desenvolvimento de habilidades de leitura e con-
tato efetivo e subjetivo com o texto. Por outro lado, há ainda equívocos na abordagem do texto
literário no referido exame, dentre os quais destacamos a persistente existência de questões que
desconsideram o texto selecionado para análise. São questões que atuam em prejuízo da compre-
ensão de que o texto deve estar no centro de qualquer prática de letramento literário e de que os
conhecimentos teóricos sobre o campo da literatura devem subsidiar as práticas de leitura. Ou-
tros tipos de questões que podem atuar em prejuízo do objetivo principal da literatura na escola
são aquelas que requerem a mera identificação de recursos do literário ou, ainda pior, aquelas
focadas na aferição de conhecimentos sobre a linguagem, permitindo-se que o texto literário
torne-se pretexto para a avaliação de habilidades gerais de leitura.
Palavras-chave: Letramento. Literatura. ENEM.
Os programas oficiais para o ensino da literatura têm caminhado numa direção interessante na
medida em que assumem a centralidade da leitura do texto literário nas aulas de literatura3. Embora
nos pareça bastante óbvio que para formar o leitor de literatura é preciso, principalmente, que se leia
literatura na escola, esse não tem sido o projeto assumido pelos professores. Algumas investigações
no campo do letramento literário têm sinalizado a persistência, na escola, de práticas centradas no
“estudo teórico da literatura” (GRIJÓ & PAULINO, 2005) e não exatamente na formação de leitores,
compreendida como o aprendizado de habilidades para ler e para gostar de ler literatura (BARBOSA,
2011). Por outro lado, o debate sobre o modelo de leitor de literatura “presumido” pelas provas do
Enem já ganhou espaço, inclusive, em jornais e revistas.
A compreensão do valor da Literatura, entendida como expressão artística, e o reconhecimento
de que o acesso a ela é um direito de todo cidadão (CÂNDIDO, 2004) parece-nos fundamental para
que se altere o trabalho com a Literatura hoje desenvolvido nas escolas. Enquanto representação da
experiência humana, a literatura, “nos permite entender quem somos e aonde chegamos” (CALVINO,
2004, p. 16). Cândido (2004), em texto que trata do tema “direitos humanos e literatura”, argumenta
também sobre o poder formador dos textos que trazem “livremente em si o que chamamos de bem e o
que chamamos de mal” (CÂNDIDO, 2004, p. 176) e, por isso, “humanizam”.
Ante o pragmatismo da escola, a Literatura tem a oferecer espaços formativos de reflexão e
exercício do pensamento e também espaços de fruição e experiência estética. Haverá, além disso, outros
motivos para ler literatura na escola: conhecer parte de nosso patrimônio cultural e artístico, conhecer a
história de nossa literatura, conhecer nossos grandes autores, refletir sobre um tempo histórico a partir
de suas manifestações artísticas e literárias... Alguns deles mais, outros menos justificáveis, dependendo
3 Estamos nos referindo aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio, bem como a
documentos complementares aos Parâmetros: os PCN+ (Ensino Médio) e as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio.
Metodologia
Para analisarmos a adequação dos itens6 (ou questões) do Enem ao objetivo do trabalho com
a literatura no Ensino Médio, selecionamos todas as “questões de literatura” de todos os exames
aplicados7. Foram consideradas questões de literatura aquelas que envolviam: i) a seleção de gêneros
literários (poemas, contos, romances, crônicas, etc.); ii) a seleção de textos de autores de literatura; ii)
a aferição de habilidades associadas ao domínio de recursos e estratégias do literário8.
Os dados foram organizados em cinco categorias, considerando-se o tipo de habilidade ou
domínio de conhecimento avaliado pelo item. Os itens foram, então, categorizados a partir dos
seguintes critérios:
i) Aferição da habilidade de compreensão textual – itens que envolvem, centralmente, a avaliação da
capacidade de construir sentido do texto, como um todo, ou de parte dele.
ii) Aferição da habilidade de compreensão textual apoiada em conhecimento teórico – itens que
envolvem a avaliação da capacidade de construção de sentido do texto e, ao mesmo tempo, o domínio
de algum conhecimento sobre literatura que deve ser mobilizado na atividade interpretativa.
resultados e dIsCussão
Considerando-se que o objetivo principal da Literatura no EM é o letramento literário dos
jovens e que, portanto, as práticas escolares devem centrar-se na leitura de textos e não em estudos
teóricos, os dados da pesquisa permitem avaliar positivamente, com algumas ressalvas, o tratamento
do literário no ENEM, como demonstra o gráfico I:
Gráfico 1
Grande parte das questões (43,36%) está voltada para a aferição da capacidade de compreensão
textual, ou seja, para a avaliação de habilidades de construção de sentido do texto em questão. As
principais habilidades aferidas referem-se à: i) produção do sentido global do texto; ii) produção de
uma inferência informacional: iii) relação entre partes do texto; iv) relação de sentido entre textos.
Gráfico 2
27,27%
9 A forma como esse conhecimento teórico atua na resolução do item deverá ser objeto de novas investigações.
Funções da linguagem
19,05% 19,05%
Tipologia/ gênero textual
19,05% Outras
Conclusão
Os resultados apresentados permitem assumir que o ENEM adequa-se aos objetivos da Literatura
no currículo do E. M., na medida em que predominam no exame questões focadas em atividades de
compreensão textual. A maior parte dessas questões não exige que os alunos dominem conhecimentos
complexos sobre a história de nossa literatura ou sobre teoria literária, mas espera que sejam bons
leitores. Outra parte situa os textos historicamente, valorizando a Literatura como produto cultural
socialmente determinado, ou aproxima o aluno da crítica literária, colocando-o em contato com
textos sobre literatura, sem prejuízo do foco na compreensão, num movimento que valoriza, mas não
superestima o conhecimento teórico nas aulas de literatura. Esse é um bom resultado, que sinaliza a
possibilidade de superação de um modelo de trabalho, de forte tradição no Brasil, voltado mais para
o estudo histórico do texto literário que para o desenvolvimento de habilidades de leitura e contato
efetivo e subjetivo com o texto.
Por outro lado, há equívocos que devem ser apontados. Um primeiro deles é a persistência de
questões que, envolvendo conhecimentos teóricos, chegam a desconsiderar o texto selecionado para
análise. Parece-nos, ainda, pouco relevante, para os propósitos da formação do leitor de literatura,
a elaboração de questões que avaliam a mera capacidade de identificação ou nomeação de recursos
da linguagem ou de conhecimentos sobre a linguagem (sobre gêneros textuais; sobre teoria da
Agradecimentos
Agradeço à Universidade Federal de Juiz de Fora e à FAPEMIG pelo investimento nesta pesquisa,
cujo propósito é oferecer uma contribuição à discussão em torno da formação para a leitura.
BARBOSA, B. T. Letramento literário: sobre a formação escolar do jovem leitor. Revista Educação
em Foco. Juiz de Fora. V.16, n. 1, p. 145- 167, 2011.
CALVINO, I. Por que ler os clássicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
CORREA, H. T. Entrevista sobre letramento literário. Juiz de Fora, 2013. Disponível em http://
www.ufjf.br/praticasdelinguagem/files/2013/01/90-99-Entrevista-com-Prof-H%C3%A9rcules1.
pdf. Acesso em 22-jan-2013.
GRIJÓ, A.A.; PAULINO, M. G. R.. Letramento literário: mediações configuradas pelos livros di-
dáticos. Revista da Faced/UFBA, Salvador, n.9, p.103, 2005.
SOARES, MAGDA B. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2006.
RESUMO
Tendo como pilares teóricos a Semântica de Frames (FILLMORE, 1982) e a Gramática das
Construções (GOLDBERG, 1995), este projeto tem por objeto a Construção de Quantificação
Indefinida com Determinantes Polilexêmicos no PB; uma construção que pode ser ilustrada por
instanciações do tipo: uma enxurrada de críticas, um mar de problemas, uma floresta de pin-
céis, uma enchente de mentiras, uma galáxia de gênios. A estrutura dessa Construção pode
ser assim esquematizada: UM(A) N1 DE N2; sendo N1 o núcleo da construção e N2 o objeto
quantificado. Este projeto é desenvolvido no âmbito da FrameNet Brasil, que vem construindo
(desde 2007) uma fonte de pesquisa lexical para o Português do Brasil (PB) baseada em frames
e sustentada por evidências de corpus. Uma das frentes de trabalho da FN-Br é a implementa-
ção de um Constructicon, que seria, simplificadamente, um repertório de construções do PB.
Pretende-se, portanto, que a rede de Construções de Quantificação Indefinida possa ser incluída
nesse repertório, a partir da pesquisa em curso.
Palavras-chave: Construções. Frames. Quantificação Nominal Indefinida
1. Introdução
Pouco trabalhada nas Gramáticas Tradicionais, a quantificação nominal indefinida no Português
do Brasil (PB) revela-se um campo frutífero para pesquisas. Isso porque, por um lado, existe um
1. Aos 40, 45, a maioria dos homens tem duas ou três ex-mulheres, um bando de filhos e vários anos de
divã.
2. Um protesto solitário já me teria satisfeito. Vi apenas uma penca de sorrisos.
3. Abriga em suas fileiras um punhado de tendências de posições francamente inconciliáveis.
4. Participam em Bringing it all Back Home uma galáxia de músicos e grupos importantes.
5. Desmoralizado por uma enxurrada de denúncias de corrupção.
6. Tinha uma montanha de papéis para assinar.
O projeto de pesquisa ora apresentado, está vinculado ao projeto Frames e Construções, que,
por sua vez, é uma das frentes do macroprojeto FrameNet Brasil (FN-Br). O Frames e Construções tem
o objetivo de implementar um Constructicon do Português do Brasil, o que, em termos simplificado,
representaria um repertório de construções do PB, eletronicamente acessível. A ideia central é, portanto,
descrever e analisar a rede de Construções de Quantificação Indefinida no PB, de modo que nossos
resultados possam ser usados para viabilizar a implementação do Constructicon, em parceria com os
outros pesquisadores do referido projeto, que investigam outras redes construcionais do PB.
Essa rede de Construções começou a ser desvelada por Regina Célia Brodbeck (2010), com a
análise do processo de gramaticalização das estruturas UM MONTE DE e UMA CHUVA DE. A
pesquisa realizada tem como fundamentação teórica central a Gramática das Construções (1995) e a
Semântica de Frames (1982), cujos pressupostos básicos são delineados nas duas subseções a seguir.
5 Exemplo retirado de BRODBECK, R. C. M. S. Um monte de problemas gera uma chuva de respostas: um estudo de caso
de desencontro na quantificação nominal em português. 2010. Tese (Doutorado em Linguística) – Faculdade de Letras,
Universidade Federal de Juiz de Fora.
2. metodologia
Nossa investigação parte da análise de dados reais de uso linguístico, tendo em vista, inclusive,
que um dos produtos do projeto ao qual estamos vinculados será um conjunto de sentenças anotadas
que represente os contextos de uso da Construção. Assim, seguimos uma tendência contemporânea
3. Resultado e discussão
A análise das ocorrências encontradas confirmou a produtividade do padrão sintático UM N1
de N2, instanciando uma Construção de Quantificação Indefinida. Nesse padrão, o elemento N1 é,
sintaticamente, o núcleo do sintagma nominal e, semanticamente, o quantificador. Já o N2 corresponde
ao objeto quantificado, conforme pode ser ilustrado pelos exemplos abaixo:
Todas as expressões marcadas em negrito quantificam uma entidade, seja ela massiva, (10) e (14),
ou individual (11), (12), (13).
Nesta fase inicial do estudo, foram registrados treze subtipos desta construção, além de uma
chuva de e um monte de, já analisados por Brodbeck (2010), atestando que esta é uma construção
15. Israel gosta de ser conhecido como um pequeno país... - cercado por um mar de árabes hostis.
16. A casa já era um mar de fogo
17. No dia anterior, houve uma enxurrada de dinheiro estrangeiro no mercado com a entrada de US$
400 milhões.
18. Ele prevê uma enxurrada de dólares no Brasil
Percebeu-se, ainda, que alguns subtipos da CQN apresentam uma frequência maior de ocorrência,
indicando-nos que existe uma gradação na cristalização destas estruturas: há aquelas que estão mais
convencionalizadas na língua, enquanto outras estão menos cristalizadas, essa diferença de frequência
está representada no gráfico abaixo.
Nossa análise mostrou também que existem restrições semânticas atuando na combinação da
instanciação da construção com o elemento que será quantificado:
4. Conclusão
A análise inicial das 969 ocorrências da construção indica a produtividade da Construção e
coloca para os investigadores envolvidos o desafio de compreender e formalizar as restrições semânticas
que definem a combinação de determinado subtipo da construção e o conjunto de elementos que
aquele subtipo pode quantificar. Em outras palavras, como explicar, em termos formais, o porquê de o
falante usar “uma chuva de informações”, mas não usar “uma chuva de prédios”.
Considerando o levantamento de um significativo número de subtipos da Construção e
o trabalho em andamento de descrever e analisar tais ocorrências em termos de suas propriedades
sintáticas, semânticas e discursivas, entendemos que este trabalho ajuda a preencher uma lacuna no que
diz respeito ao estudo da quantificação nominal indefinida no PB.
Além disso, a pesquisa contribui para o desenvolvimento do macroprojeto FrameNet-Br, na
medida em que estabelece as condições necessárias para a criação do frame de quantificação para
o PB, partindo dos frames relativos à quantificação já propostos pela FrameNet, mas respeitando
as particularidades do fenômeno da quantificação no PB. O estudo configura, ainda, importante
contribuição para o projeto de implementação do Constructicon do Português do Brasil, objetivo
maior do projeto Frames e Construções ao qual o projeto ora apresentado se vincula, tendo em vista o
avanço que este estudo representa para a descrição e análise da Construção de Quantificação Indefinida
com Determinantes Polilexêmicos no PB.
Agradecimentos
Agradecemos a toda equipe da FrameNet Brasil, pela colaboração e apoio, a Universidade Federal
de Juiz de Fora pelo apoio institucional, e a FAPEMIG pelo apoio financeiro.
Referências
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TORRENT, T. T. A hipótese da dupla origem para a construção de dativo com infinitivo: primeiras
incursões pelo Português Medieval. Abralin, v. 7, n. 2, p. 65-92, jul./dez. 2008.
O professor orientador deverá encaminhar o artigo a ser publicado para o email pesquisa.propesq@
ufjf.edu.br, assunto “Principia: artigo para publicação”, que será analisado pelo Conselho Editorial,
quanto ao cumprimento das normas.
O artigo deverá ser redigido em português, arquivo em word, formatado com fonte Arial tamanho
12, espaçamento 1,5, margens de 2cm, texto justificado, contendo no máximo 10 páginas, com a
seguinte sequência:
1. Título
2. Nome dos autores por extenso, com número sobrescrito indicando o Programa de IC envolvido,
e endereço profissional completo do professor orientador.
6. Keywords
FIGURAS E TABELAS
Fotos, desenho, gráficos e mapas serão denominados Figuras. As Figuras e Tabelas devem ser
numeradas, respectivamente, em algarismos arábicos, e serem chamadas no texto em ordem crescente,
abreviadas Fig. 1. Tab. I.
CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS:
No texto, as citações bibliográficas devem ser mencionadas no sistema AUTOR (ano) NBR
10520:2002, no caso de dois autores e et al.
180
REFERÊNCIAS
As citações devem ser apresentadas em ordem alfabética e conforme normas da ABNT - NBR:
6023:2002; espaçamento simples entre as linhas e 1,5 entre elas.
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fascículo, página inicial-final, ano.
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Autor entidade
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CAPÍTULOS DE LIVRO
AUTOR(ES) do capítulo. Título. In: SOBRENOME, Prenome (autor da obra no todo). Título.
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