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Cmte Hamilton

A corrida de 50 milhões.
Que eu venci!

São Paulo

2024

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Prefácio

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‘Voar é com os homens’
(Mário Schenberg)

A epígrafe contempla o tema fundamental do livro do Cmte Hamilton


já que ele faz da aviação seu mundo. Se o voo é natural aos pássaros,
evidente que aos homens essa ação, voar, é muito complexa.

Justamente, na obra, o Cmte aponta várias das etapas do voar, usando


as máquinas e absorvendo o que vai pela imaginação humana.

Apontar aqui um termo trabalha muito bem algumas das partes desta
obra. Trata-se de um biografema. De que trata o biografema? É um
misto de biografia, a história de uma vida, com os elementos semân-
ticos, marcas de vida, que nos percorrem, que se associam à narra-
tiva humana. No caso da obra do Cmte Hamilton, a relação é clara.
Quase uma metonímia de ser Hamilton, de ser piloto. Dizer Cmte
Hamilton já traz a marca dessa ação, voar.

Ao nos relatar sua infância, um dado chama a atenção. Olhar para


cima para de lá enxergar os pequenos e minúsculos seres abaixo.
O, então, somente Hamilton ousava sonhar e olhar um céu estrelado.

No sonho, ele via um futuro, ele ainda não sabia qual era, mas sua
visão já, sim, sabia exatamente. São muitas as passagens em que o
Cmte deixa claro que não são apenas os pássaros que voam. Pessoas
inteligentes aliam um sonho de olhar de cima e então constroem
máquinas que possam realizar a visão sonhada.

Nesse sentido, esta obra mostra a corrida de 50 milhões vencida pelo


Cmte. De uma infância difícil a uma carreira de sucesso fazendo exa-
tamente aquilo por que tanto sonhou: voar. Por sorte, a máquina já es-

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tava por aqui. O helicóptero, também ele, uma obra de um sonhador,
de vários sonhadores. Assim são vencidas as vicissitudes, elas nascem
de um sonho que precisa ser perseguido e estudado. ‘Foco’, como o
Cmte diz várias vezes ao longo da obra.

Nesta obra, o leitor encontrará uma narrativa de vida de um ídolo, mas


também acenos de como construir uma carreira, uma vida de sucesso.
Nada é muito fácil. São necessárias virtudes diárias pela alimentação,
pelo caráter, pela técnica e pelo amor ao que se quer conseguir.

E, para além da biografia, um biografema. Uma vida que se construiu


com um objetivo de se tornar alguém que fizesse a diferença com seu
trabalho. Mais ainda, um apêndice àqueles que apreciarão um voo
pleno em ação panorâmica. Um voo devidamente autorizado pela
torre. Boa viagem!

Roseli Gimenes
(Pós-doutora em Comunicação e Semiótica -PUCSP-,
doutora em Tecnologias da Inteligência e Design
Digital- PUCSP. Professora e coordenadora do curso
de Letras da UNIP. Professora e assistente de coorde-
nação do curso Semiótica Psicanalítica da PUCSP,
coordenadora do Projeto Cultura em Foco do Instituto
Legus, escritora de vários livros nas áreas do cinema,
da psicanálise, da inteligência artificial e da literatura,
entre outros temas.)

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Agradecimentos

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vá realizando ações que te levem ao
objetivo que deseja alcançar, sempre
com alegria e boas pessoas ao seu lado.

Agradecer é uma forma de expressar a gratidão por uma ajuda ou


suporte que recebemos nos momentos mais difíceis por que passamos
ou estamos passando. Esse apoio pode vir da nossa base que é a nossa
família ou no campo de batalha que enfrentamos diariamente.

Ter auxílio no momento certo foi fundamental na minha vida. Re-


fletindo sobre isso, a lição mais importante que aprendi foi a priori-
dade que devo dar às pessoas que me ajudaram nos momentos mais
importantes e significativos por que passei. O apoio tem seu momento,
se deixar passar não tem mais eficácia. Silvio M. foi um desses, perdi
o momento por acreditar que o problema que eu estava lutando para
resolver era mais importante que o de uma pessoa que me estendeu a
mão em um dos momentos mais difíceis que passei.

Hoje fico atento, liguei meus sensores para dar amparo no momento
certo, de forma rápida e eficaz como fizeram todos os que me ajuda-
ram a chegar aonde cheguei.

Citar o nome de todos que me apoiaram ocuparia muitas páginas,


portanto, mantenho constante em meus momentos de reflexão o agra-
decimento a todos em forma de geração de energia.

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É a energia que produz a
partícula, portanto nós somos
energia e partícula.

Tempestade

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Era uma tarde típica de verão, dia 13 de fevereiro de 2004, muito
calor, pressão baixa, sem vento. Eu estava sentado no esqui de um heli-
cóptero, bem próximo da porta do hangar e olhava para o céu, ana-
lisando como seria o temporal daquela tarde. As chuvas no começo do
verão estavam causando muitas enchentes e isso sempre dava muita
audiência para as emissoras de TV.

Eu havia acabado de fazer o pré-voo do meu guerreiro, Robinson


RH44 Newscopter. Aeronave que já havia me acompanhado em inú-
meras ocorrências, para o jornalismo, das várias emissoras em que eu
havia trabalhado.

Um mecânico veio na minha direção, me cumprimentou e pediu um


boné autografado para um parente que ele iria visitar no sul de Minas
Gerais. Peguei um boné reserva que eu tinha guardado no compar-
timento de bagagens da minha aeronave, autografei e entreguei. O
mecânico me agradeceu dizendo que o tio dele era meu fã e que as-
sistia ao programa só para ver o que eu mostrava na TV. Enquanto o
mecânico se afastava, pensei comigo: será que o parente dele sabia que
eu também tinha nascido em Minas Gerais? Se soubesse, com certeza
nem imaginava que eu havia nascido e morado, quando pequeno, em
uma casinha muito pobre próxima da cidade de São Francisco, no
sertão de Minas Gerais.

Eu continuava olhando o céu para descobrir onde a chuva seria mais


forte naquela tarde. Mais cedo eu havia recebido uma ligação da
TV pedindo para dar prioridade à chuva. Nessa época eu estava no
programa Brasil Urgente que ia começar antes das 17h00 na Rede
Bandeirantes - Band com o apresentador José Luiz Datena, o Datena.

Comecei a pensar na minha infância enquanto continuava olhando a


movimentação das nuvens no céu.

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Estava lembrando o quanto éramos pobres. Meu pai plantava milho,
algodão, amendoim, mandioca e feijão. Separava um pouco para nos-
so sustento e vendia o que sobrava. Ele também trabalhava em uma
serraria que ficava entre a cidade de Januária e Lontra, mais ao norte
de Minas, ia e voltava a cavalo. Eu ficava na porta da casa esperando
meu pai voltar no começo da noite. Antes de ele descer do cavalo, eu
já estava do lado esperando para procurar nos bolsos algumas balas e
doces que comprava para mim.

De repente, o céu começou a escurecer e a ventar forte, dei um salto,


levantei pedindo para os pistas (funcionários que cuidam dos heli-
cópteros no hangar) tirarem rápido o meu.

Distraí-me pensando na minha infância difícil e estava quase per-


dendo a chance de decolar, antes de o temporal chegar. Tiraram o
aparelho rapidamente, dei partida. Enquanto o motor aquecia, vi o
tamanho da nuvem preta que estava vindo da direção norte para a
grande São Paulo, era muito grande. Concluí que ela faria estragos e,
pela coloração um pouco esverdeada, ia cair granizo também. Voan-
do na chuva, aprendi que tinha que ficar sempre atrás do temporal,
na frente era muito perigoso. E essa tempestade que estava chegando
era muito grande. Graças à eficiência e bons resultados que eu havia
obtido ao longo dos anos voando para TV. Na Band também tinha
autonomia para decolar ou pousar a qualquer momento em busca do
melhor conteúdo para o programa.

Avisei o que ia fazer para o Maurício Staut, excelente profissional de


televisão, que sempre acompanhava o Datena e coordenava tudo que
entrava ao vivo durante o Brasil Urgente. Decolei uns 40 minutos an-
tes de o programa começar, fui na direção de Sorocaba, chacoalhando
muito por causa do vento forte. Só consegui passar por trás do bloco

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de nuvens depois da cidade de Itu.

Segui na direção da cidade de Jundiaí, queria ficar sempre atrás da


parte mais escura e tenebrosa da nuvem, senti que ela estava muito
carregada e haveria chuva de granizo quando atingisse o ponto de
maturação e começasse a despejar seu conteúdo na direção do solo.

Atrás da nuvem, o voo estava ficando cada vez mais liso, mas na frente
estava tudo escuro e as condições atmosféricas eram terríveis com ventos
fortes e indicação de gelo no interior do bloco de nuvens que continuava
seguindo na direção da cidade de São Paulo. Eu a fui seguindo. Quando
chegou próximo do lado leste do Pico do Jaraguá a nuvem parou e tudo
ficou complicado e tenebroso. Dava para ver o chão começando a ficar
branco, era a chuva de granizo! O Datena começou o programa e já en-
trou direto com o helicóptero, me chamou, eu fui mostrando a chuva de
granizo usando o zoom da câmera, porque não dava para chegar perto,
se fosse atingido pelo granizo o prejuízo seria enorme para a aeronave,
além do risco de cair, porque era muito gelo. A camada de gelo no chão
foi subindo rapidamente, em pouco tempo as ruas ficaram brancas e a
camada atingia mais de 1 metro de espessura em alguns pontos. Só eu
mostrava imagens aéreas, ou seja, só a Band estava mostrando aquela
imagem da chuva. A tempestade era muito grande e impedia que os
pilotos das outras emissoras decolassem. Se tivessem decolado, seriam
atingidos pelo granizo. Para piorar, havia rajadas de vento muito fortes
que estavam derrubando árvores pela cidade. E eu estava tranquilo,
porque estava atrás do temporal. Os pilotos da Globo e Record estavam
sendo pressionados para decolarem e me chamaram no rádio querendo
saber como eu tinha conseguido decolar no temporal, se eu havia sido
atingido pelo granizo etc. Expliquei o que tinha feito, e que o melhor
era eles tomarem cuidado para não pegar a chuva de frente, o risco era
grande.

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Fiquei mais de 1 hora sozinho mostrando o estrago com o Datena,
depois chegaram os outros pilotos das outras emissoras e alguns com
fotógrafos da mídia impressa. Foi a maior chuva de granizo que já
peguei e sem dúvida uma das maiores que já atingiu São Paulo.

Eu havia conseguido imagens nunca vistas, porque peguei flagran-


tes do momento em que a tempestade estava começando a despejar
grandes quantidades de gelo sem que isso afetasse o nosso voo. Era
como se eu estivesse no centro da tempestade. Mas só consegui graças
aos recursos de zoom da câmera que entrou no meio da tempestade
nos mantendo onde o pior já havia passado e sem risco de ser atingi-
dos por alguma pedra de gelo.

Mas o que fazia com que eu conseguisse coisas que outros não con-
seguiam foram as barreiras que eu venci quando criança. Aprendi que
tinha que me esforçar mais do que os que estavam ao meu lado, tinha
que ir além do meu limite. Isso fez com que eu, antes de o programa
começar, ficasse atento às mudanças atmosféricas. Se realmente ia
chover e onde iria chover. Vi previsões meteorológicas dos aeroportos
próximos, olhei o movimento das nuvens, pressão atmosférica, mu-
danças de temperatura e antecipei minhas decisões, isso me deu prob-
abilidades e margens de erro de que precisava para decidir qual seria o
melhor momento para decolar e dar a volta por trás da tempestade, e
mostrar na TV o estrago sem ser atingido. Foi como se esconder atrás
de um gigante enfurecido sem ser visto.

Além do granizo, houve inundações em vários bairros da região norte


de São Paulo. Muita gente perdeu tudo que tinha, pensei nas crianças
que tiveram suas casas inundadas, provavelmente perdendo o pouco
que possuíam. Brinquedos, material escolar e até sonhos foram leva-
dos pela água e lama.

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Toda ocorrência com criança sempre me chateou. A criança depende
muito do apoio dos adultos para conseguir vencer na vida. Toda vez
que vejo uma criança em apuros, imagino o que deve estar passando
na cabecinha dela e em que isso irá afetá-la no futuro.

Provavelmente seja pelo que passei na infância, principalmente depois


que saí do sertão de Minas Gerais e vim para São Paulo com meus
pais. Digo depois que saí de Minas, porque, por mais difícil que fosse
no sertão, as lembranças que tenho na memória são muito boas. As
festas juninas eram muito animadas com doces e comidas típicas de
Minas. Minha avó materna plantava melancias que comíamos em-
baixo de uma árvore. Eu também tinha uma enxada pequena para
capinar feijão e amendoim com meus pais.

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Energia é tudo aquilo que
produz movimento. Sem
movimento não há vida

Uma nova vida

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Eu sou filho único e nasci no sertão de Minas Gerais no dia 24 de
julho de 1956.

Minha mãe chamava-se Amélia, era uma mulher muito bonita, alta,
pele clara, olhos verdes, cabelos compridos, levemente encaracolados,
dentes bem feitos, sorriso bonito, corpo esbelto, cintura fina, porte ele-
gante e descendência portuguesa. Ela desenhava, pintava, gostava de
ler e escrevia bem, também tocava acordeom. Tinha um olhar in-
teligente e firme, não poupava palavras, sempre tinha uma resposta
pronta e, como diziam, não levava desaforo para casa. Mas isso não
tirava a beleza e o porte elegante que possuía.

Meu pai chamava-se Onofre, era moreno claro, olhos verdes, um pou-
co mais baixo do que minha mãe, tinha descendência portuguesa com
índio. O avô de meu pai era português e tinha sido casado com uma
índia. Ele era o típico homem do interior, sempre ouvia dos adultos
que o meu pai era respeitado por todos por ser um homem justo e cor-
reto, não gostava de coisa errada. Ainda lembro de frases como: “Se
o Compadre Onofre falou, ele cumpre”, “Homem de palavra”, “Não
gosta de macaquices, ele é sério”. Meu pai era analfabeto, não sabia
escrever nem o próprio nome, mas tocava muito bem o acordeom que
ele chamava de sanfona. Sempre era convidado para tocar em festas,
quando morava em Minas Gerais. Quando mudou para São Paulo
trouxe a sanfona, mas só tocava em casa.

Falaram-me que uma vez meu pai acabou com uma festa, porque
alguém mexeu com minha mãe. Sacou o revólver que gostava de ter
consigo, deu um tiro para o alto e disse: “o baile acabou”. Meus tios
dizem que todos saíram correndo do local. Sabiam da fama do meu
pai, quando ficava irritado. Eu gostava de ouvir essas histórias. Ele era
sério, observador, falava pouco, pessoa que respeitava e exigia respeito.

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Mesmo assim, olhando para o meu pai, não dava para imaginá-lo
acabando com uma festa e botando todo mundo para correr.

Meus pais foram maravilhosos na minha educação, porque eram bons


exemplos de conduta e idoneidade, neles me espelhei. Meu pai era do
tempo dos acordos firmados pelo “fio do bigode”, e minha mãe seguia
a mesma linha. Quando alguém oferecia algo usado para vender, mi-
nha mãe queria saber a origem e se tinha comprovante de pagamento
etc. Se houvesse dúvida, não comprava, meus pais diziam que quem
comprava coisa roubada era tão culpado quanto quem roubou.

Depois de adulto descobri que a minha alimentação foi muito saudá-


vel e rica em proteínas. Minha mãe fazia biscoito de polvilho, curau,
pamonha, farinha de mandioca, queijo e outras comidas típicas da
região. Usava fogão e forno a lenha, panelas e tachos de ferro para
fazer as refeições que continham maxixe, pequi, ora pro nobis, fava,
mandioca, milho, feijão. Tudo era plantado próximo de casa, chamá-
vamos de roça. Também havia muita fruta. Depois cheguei a passar
fome, mas só quando já estava morando em São Paulo.

Como eu era filho único, aprendi a brincar sozinho desde pequeno,


brincava muito na mata próxima em que havia um riacho de água
cristalina cujo leito era cheio de pedras. Às vezes, também brincava
em um açude barrento que havia próximo de casa. Meu brinquedo
favorito eram alguns boizinhos de barro que eu mesmo fazia.

Gostava do cheiro da mata e à noite como não havia poluição e nem


luz elétrica o céu ficava estrelado. De vez em quando um brilho risca-
va o céu. Minha mãe falava que era uma estrela cadente.

Eu sempre tinha uma agradável sensação no peito quando via o céu


estrelado, sentia que meu lugar era lá no céu, e não na terra em que

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estava pisando.

Muitas vezes sonhava que estava voando acima da minha casa, nesses
sonhos o céu era brilhante e estrelado. Os sonhos pareciam reais e eu
acordava com uma mistura de emoção e alegria pela liberdade e sen-
sação de voar acima do chão.

Nós morávamos em uma casa de pau a pique, também conhecida


como “casa de taipa de mão “, que é uma técnica antiga de cons-
trução, feita por caules finos de árvores fincadas no chão na vertical e
amarradas por cipó. As paredes ficam com vãos que são preenchidos
por barro. O barro é colocado à mão. O ruim desse tipo de construção
é que cria espaço para insetos viverem, entre eles o mosquito do Bar-
beiro, causador da “Doença de Chagas “.

Aos poucos as coisas foram mudando em casa, minha mãe passou a fi-
car mais tempo na cama. Minha avó materna, chamada Conrada,veio
ajudar e não saía mais da nossa casa. A minha mãe foi ficando cada
vez mais debilitada, mais tarde soube que ela havia sido picada pelo
mosquito do Barbeiro e contraiu a Doença de Chagas.

Logo que completei 6 anos, minha vida mudou de repente. Em busca


de tratamento para minha mãe, meu pai precisou vender tudo que
tínhamos. Pegamos um trem e viemos para São Paulo.

Nessa época, a malha ferroviária brasileira estava no seu auge. Tinha


mais de 38 mil quilômetros de ferrovias espalhados pelo Brasil.

Eu nunca tinha visto, nem mesmo em fotografia, de um trem na mi-


nha vida. Tudo para mim era fascinante. As pessoas andavam pelos
vagões rindo e falando. Senti que o trem era sinônimo de coisa boa ou
que levava a algo melhor. Deve ser nessa época que o mineiro incorpo-
rou a expressão “trem” ao seu vocabulário, porque até hoje usa a ex-

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pressão “trem bom “, “Que trem é esse? Tira esse trem daqui “. “Uai,
que trem é esse? “ etc. Mas lembro que os meus pais não estavam tão
felizes quanto os outros passageiros, talvez pela incerteza do destino
ou por terem sido obrigados a deixar para trás tudo que tinham para
vir a São Paulo em busca de tratamento para minha mãe debilitada.

Quando descemos na Estação Ferroviária no centro de São Paulo


parecia que eu estava em outra dimensão, muita gente andando para
todos os lados, falando ao mesmo tempo, muitos carros, buzinas. Até
aquele momento eu só conhecia carro de boi, carroça e cavalos como
veículos de transporte. De vez em quando via algum caminhão com
bancos de madeira na carroceria para transporte de pessoas.

Foi uma espécie de enxurrada de novidades. Nesse dia, andei de car-


ro pela primeira vez na vida. O carro era um táxi que nos levou até
a favela do Vergueiro, atual bairro Chácara Klabin, próximo à Vila
Mariana, onde o irmão de minha morava. Além dele, ela tinha mais
3 irmãos, todos homens que moravam em Minas Gerais e que, com
o passar dos anos, acabaram vindo para São Paulo em busca de me-
lhores condições de vida.

O impacto para mim foi tão grande que só fui perceber o mau cheiro
do esgoto e a sujeira da favela depois de alguns dias.

Moramos alguns dias na casa do meu tio até que meu pai conseguiu
arrumar um barraco para nós morarmos.

Em pouco tempo, minha mãe foi internada no Hospital das Clínicas


e meu pai arrumou emprego como servente em uma construtora de
prédios residenciais em bairros próximos de onde morávamos.

Eu ficava sozinho trancado no barraco, passava a maior parte do tem-


po deitado, observando a grande quantidade de partículas que exis-

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tiam no ar. Elas apareciam através das frestas das tábuas quando a luz
do sol batia do lado de fora do quarto.

Sempre que algumas crianças passavam rindo e gritando perto do


barraco eu corria para vê-las através das frestas das tábuas. Meu pai
deixava comida e água para mim, mas eu geralmente esperava meu
pai voltar para comer.

De vez em quando meu tio, que fazia bicos para sobreviver, me pega-
va no barraco e me levava para pedir dinheiro e comida nas casas da
Vila Mariana próximas à favela.

Ele me ensinou a tocar a campainha das casas. Eu tocava e ficava


mudo olhando com cara de medo para a pessoa que me atendia. Ti-
nha a impressão de que alguém ia sair da casa bravo e correria atrás
de mim para tocar a campainha. Mas isso felizmente nunca aconte-
ceu, era sempre uma mulher amável que vinha ao portão, me olhava
e voltava com algo para comer. Algumas vezes me dava até dinheiro,
que eu entregava junto com o lanche para o meu tio. Ele ficava na
esquina fumando e me olhando de longe ou fazendo sinais, insistindo
para eu tocar a campainha das casas.

Meu tio guardava o dinheiro e dividia o lanche comigo. Isso me dava


uma sensação de vergonha e medo. Vergonha de pedir e medo do
meu pai descobrir. Para piorar, meu tio me fazia prometer que não
contaria para meu pai. Isso confirmava que eu estava fazendo coisa
errada.

Mas pedir esmola era normal para muitos na favela. Existiam os


profissionais em pedir esmolas, não trabalhavam e tinham dinheiro,
barracos alugados e até carro. Um deles tinha as pernas tortas e os
pés virados para dentro. Para se deslocar era carregado por alguém

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ou usava uma cadeira de rodas velha, tinha apelido de “Aleijadinho“,
possuía um fusca e um motorista que o levava para pedir esmolas no
centro de SP. Ele era uma pessoa de aparência má, que até dava medo;
com isso, ninguém mexia com ele. Lembro de um outro pedinte que
tinha a parte da canela escura, provavelmente porque colocava um
pedaço de carne fedida na perna e amarrava com pano branco sujo
de sangue.

Enquanto jogava bilhar e bebia no bar da favela, ele falava alto so-
bre como ganhava dinheiro dos ricos que tinham nojo da perna dele.
Não lembro o apelido, porque na favela poucos não tinham apelidos.
Muitos, logo que começavam a andar já eram rebatizados pelo povo.
Sebastião, virava “Tião”, e por aí vai, nenê, fubá, bola, baiano, ceará,
pernambuco, bahia, tonho, nega, chulé, negão, azedo, cabrita, galega,
galizé, piolho, esses são alguns de que me lembro.

Minha mãe nunca dava esmola, também não emprestava e não pedia
dinheiro emprestado, ela falava que se quer dinheiro tem que traba-
lhar. E se não tem dinheiro, não compra. Na época, achava que era
exagero dela, mas com o passar dos anos entendi o quanto ela estava
correta.

Juntando o que minha mãe pensava com o que aprendi ao longo da


vida, concluí que, se desejamos ajudar, não podemos dar esmolas, isso
vicia ou estraga a chance de o pedinte evoluir. Enquanto ele estiver
ganhando sem produzir, ele continuará pedindo. E nem sempre quem
pede é quem irá usufruir, principalmente no caso de crianças usadas
por adultos para pedir esmolas.

Se quiser ajudar alguém, ajude a pessoa a se fortalecer por meio do


estudo ou de um trabalho que lhe dê dignidade e auto-valorização.
O bom dinheiro só vem por meio de um bom trabalho realizado.

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Mais importante do que o dinheiro é sempre o trabalho realizado para
adquiri-lo.

Minha mãe continuava no hospital e devia estar muito preocupada


comigo sozinho na favela. Coração de mãe sente quando algo não
está bem com o filho. Conversando com uma madre que fazia serviço
social no Hospital das Clínicas, conseguiu que ela arrumasse uma
família para cuidar de mim.

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Neutralize o mal que
possa atingir você ou seus
dependentes.

O melhor caminho
não é o mais fácil

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Em uma tarde ensolarada de domingo, meu pai me deu banho, colo-
cou a melhor roupa que eu tinha e me levou até a igreja de madeira que
existia na favela. Após a missa, uma freira sorridente e uma senhora,
que descobri mais tarde ser a Dona Antônia Bastos, vieram falar com
meu meu pai. Depois de conversarem, elas me levaram para o carro,
uma Rural Willys onde estavam outras madres vestidas de branco.

Ver o meu pai triste de pé na frente da igreja, enquanto o carro se


afastava comigo, foi uma das piores sensações que já tive na vida. Pen-
sei que nunca mais fosse ver meu pai e minha mãe. Até hoje lembro da
imagem do meu pai olhando para o carro que se afastava levando seu
único filho. Deve ter sido uma decisão dolorosa para ele e para minha
mãe, mas essa decisão foi muito importante para meu futuro.

Me levaram direto para um convento que ficava próximo do Museu


do Ipiranga. Eu estava o tempo todo encolhido como um filhote de
animal assustado. Deram-me uma sopa e um pedaço de pão, tentei
comer, mas não sentia sabor e o pão descia com dificuldade, porque
eu queria chorar, mas não conseguia. Fiquei calado, choro engasgado
na garganta.

Depois que terminamos o jantar, as madres falaram comigo, não me


lembro o que falaram, eu só pensava se ainda iria ver meu pai e a
minha mãe. Dona Antônia pegou na minha mão, saímos do convento
e pegamos um ônibus para a casa da irmã dela, Dona Benedita, cujo
apelido era Dita. Entramos na casa, colocaram-me na sala onde havia
uma televisão preto e branco ligada. Era a primeira vez que eu via
uma TV. Foi tão espantoso, que até hoje lembro o que estava passan-
do, era um faroeste americano, “O Homem de Virgínia”, patrocinado
pelo desodorante Avanço.

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Acabei me distraindo com a TV e nem percebi o olhar crítico de
3 meninos que estavam na casa. Era o Osvaldinho, filho da Dona
Antônia, e seus dois sobrinhos.

Depois seguimos para casa da Dona Antônia, que era caseira de uma
escola estadual, situada até hoje no começo da Avenida do Cursino,
bairro Vila Gumercindo. Na época, o nome era Grupo Escolar Anto-
nio Alcantara Machado, atendia crianças até o 4º ano primário.

Foi uma sequência de choques. Primeiro sair do interior, pegar um


trem, algo que eu nunca tinha visto na vida, chegar a uma estação
cheia de gente falando e rindo alto, carros, buzinas. Depois ir para
uma favela com gente mal humorada, com brigas frequentes, tiros
e gritos, cheiro de esgoto e outras coisas ruins. E, por último, perder
meu pai e minha mãe, indo morar com uma família desconhecida.
Minha base de segurança ruiu, me senti flutuando e inseguro.

A primeira semana foi a mais difícil, mas aos poucos fui me acostu-
mando, brincava de bola com o Osvaldinho e já ajudava na limpeza
das salas de aula com a tia Antônia, que foi a forma que comecei a
chamá-la, a pedido dela.

Alguns dias depois, meu pai foi me visitar, abracei ele e pensei que ele
tivesse vindo me buscar, mas era só uma visita, só não chorei, porque
vi que meu pai ficaria muito triste, engoli o choro mais uma vez. Em
pouco tempo, ele arrumou um emprego de ajudante geral em uma
fábrica de borrachas para o setor automobilístico, o nome era Saad
do Brasil, que ficava a menos de 200 metros da escola onde eu estava
morando. Com o passar dos anos, entendi o motivo da mudança de
trabalho, ele queria ficar perto de mim.

Meu pai ia me ver todo dia na hora do almoço. Sentava ao lado dele

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e ficávamos conversando. De vez em quando, lembro do cheiro de
borracha que vinha do seu macacão. Essa fábrica soltava uma fuligem
preta que forrava as calçadas Os operários ficavam cobertos de pó
preto. Isso fez muito mal para os pulmões do meu pai. Ele faleceu
com 87 anos e sofreu muito nos últimos dias de vida por causa do mal
causado aos pulmões pelo pó da borracha que inalava na fábrica.

A Dona Antônia era casada com o “Seu” Osvaldo, que era taxista
e também fazia pequenos serviços de eletricista e encanador. Eles ti-
nham dois filhos, o Oswaldo, que era 2 anos mais novo do que eu, e
o Valter, filho do primeiro casamento dela. Ele trabalhava no Banco
Bradesco e era casado com a Lenira. Eu gostava muito dela, sempre
me tratava com carinho e atenção e foi de quem ganhei meu primeiro
brinquedo, uma perua kombi de plástico. Mas, de forma geral, todos
eram muito amáveis comigo.

Aos domingos, eu vendia sapatos e chinelos na feira. Durante a sema-


na, era ajudante geral em uma farmácia e nas férias escolares ajudava
o “Seu” Osvaldo. Trabalhar desde os meus 6 anos de idade foi muito
bom, aprendi o valor de ser útil e, principalmente, a valorizar o pouco
tempo livre que tinha para brincar.

Nessa época, era comum crianças trabalharem e nunca achei ruim;


aliás, agradeço, pois aprendi muito mais começando com pouca idade.

Quando estava morando com Dona Antônia, eu ia de vez em quando


à Favela do Vergueiro. Ficava com meu pai e visitávamos minha mãe
no hospital. Enquanto estava na favela, eu não saia de perto do meu
pai. Isso porque sentia que todos ficavam me olhando como se eu
fosse uma criatura estranha. Provavelmente era por causa da roupa
limpa e cabelo bem penteado. Meus primos estavam sempre sujos e

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mal arrumados, faziam xixi e coco em qualquer lugar, isso me deixava
chocado. Para me distrair, ficava desenhando ou lendo alguma coisa.
Era comum ouvir até alguns adultos falando, “pensa que é filho de
rico, só pensa em estudar”. Os comentários me deixaram chateado e
cada vez mais sozinho.

Quando não estava brincando ou varrendo as salas de aula da es-


cola, eu ficava horas na biblioteca devorando livros. Isso fortalecia a
minha mente e imaginação, levando-me a todas as partes do mundo
em diferentes épocas.

O que mais gostava eram as fotos e informações sobre aeronaves.


Quando via uma foto aérea, ficava imaginando que eu estava voando
sobre o lugar da foto. Estava sempre desenhando aviões ou paisagens
vistas de cima. À noite, continuava sonhando que estava voando sobre
as cidades igual aos personagens que voavam em filmes e desenhos.
Gostava de imitar o personagem de um filme japonês “Nacional Kid”
porque ele voava esticando os braços para frente.

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Você é um bilhete premiado,
porque conseguiu nascer.

Descobrindo
a corrida dos
50 milhões

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Ler um livro também é aprender com a experiência ou com a trans-
ferência de conhecimento passado pelo escritor. Eu sempre gostei de
ler livros em locais silenciosos, dessa forma absorvia melhor o conheci-
mento que é transferido.

Eu lia de tudo, livros de ficção, geografia, história, curiosidades, revista


Seleções, enciclopédia Barsa, revista Conhecer etc. Os livros e revistas
foram uma espécie de sopro na minha chama interior, aumentaram
minha capacidade de raciocínio, foco e imaginação.

No ano em que completei 9 anos de idade, atrás de um livro, veio a


primeira grande descoberta que ajudou a mudar a minha vida. Lem-
bro com clareza desse dia e o que senti.

Era uma tarde ensolarada. Depois de terminar as minhas tarefas, eu es-


tava procurando algo para ler na biblioteca da escola. Ficava folheando
os livros em busca de figuras e textos que prendessem minha atenção.
Nesse dia vi uma informação que mudou minha vida. Aliás acredito
que a energia divina que nos guia ou simplesmente Deus manda reca-
dos e ajuda por meio de pessoas e também por meio de sinais. Por isso,
temos que ficar atentos para captar esses sinais e avisos, eles passam
rápido. Se não pegar, perdeu para sempre.

O que li nesse livro despertou em mim a vontade de vencer com deter-


minação e garra qualquer problema ou dificuldade que surgisse desse
dia em diante.

O texto era sobre a reprodução do ser humano. Descobri que, para


uma criança nascer, tudo começa com uma grande competição de em
média 50 milhões, mas poderia chegar até 300 milhões de gametas
masculinos na direção de um único gameta feminino (óvulo).

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Nessa competição, só tem um vencedor que, além de ser rápido, pre-
cisa ser muito bom. Nem sempre quem chega primeiro é o ganhador,
e sim o que for o melhor entre todos os competidores. Uma batalha
que desafia qualquer probabilidade matemática ou sorte, e para ser
vencida precisa de algo acima de qualquer compreensão. Isso significa
que todo ser humano chega ao mundo como um grande vencedor.

Deve ser por isso que toda criança é bonita e muita ativa, chega com
muita energia a este mundo. Essa energia é irradiada no rosto e gestos
de todo bebê, não tem como não olhar para um bebê e não ficar en-
cantado e sorridente.

O processo é mágico. Durante apenas 2 dias no mês o óvulo está pron-


to para receber um gameta masculino. Ele vence muitas barreiras,
nada contra o fluxo do fluido que traz o óvulo e força entradas. Na
reta final, os poucos que chegam ao óvulo lutam desesperadamente,
só um conseguirá entrar. Quando consegue, o óvulo imediatamente
fecha qualquer chance de passagem para os outros gametas mascu-
linos por meio de uma reação bioquímica que altera sua composição
externa.

O processo inicial de um ser humano é a prova de que no campo


energético nada é impossível. Para evoluir mais seria só criar nos-
sas crianças usando metodologias e ensinamentos que fossem uma se-
quência da corrida inicial da vida, ou seja, reconhecer e valorizar mais
a energia do que a matéria, em outras palavras, “o ser” valer mais do
que “ o ter “.

O Fato de o ser humano chegar ao mundo através de um processo tão


bonito, nos faz questionar, por que essa energia não se mantém ativa
ao longo da vida após o nascimento ?

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Estudando toda trajetória de uma pessoa desde que é concebida até
o dia da sua partida deste mundo, é possível tirar várias possibilidades
para uma resposta “do porquê” . Embora a maioria não tenha o
menor interesse por uma resposta .

Ao longo da história da humanidade, só alguns poucos seres humanos


descobriram que, além de evoluir a parte física e material, deveriam
evoluir a parte mental e energética que todo ser humano possui.

Ou seja, após o nascimento, manter dentro de si a energia de vencer


qualquer obstáculo e se unir a maior célula que existe no corpo hu-
mano que é o óvulo.

Os poucos que descobriram a força existente na criação do ser hu-


mano guardaram para si a informação ou repassaram com dificul-
dade, devido ser muito pouco os que desejam obter o real conheci-
mento. Ilusão muitas vezes é mais prazerosa para os 5 sentidos do
corpo humano .

Essa característica humana facilita o domínio que muitos líderes exer-


cem sobre a massa. Foram incentivando cada vez mais o crescimento
material e físico da raça humana, mostrando que o grande mérito
e sucesso neste mundo é ter riquezas, luxo e beleza, sempre valores
físicos, e não espirituais e energéticos. As ações executadas através dos
anos pela parte dominante da raça humana foi aos poucos encobrindo
a energia inicial da vida, a ponto de ela só servir para gerar um novo
ser humano. O grupo dominante permitiu que a massa humana
fosse renovada, mas conseguiu que o processo poderoso de vencer
que existe no gameta masculino e o poder de escolha do melhor que
o gameta feminino possui começasse a ser inibido logo após o nasci-
mento do bebê.

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Isso porque logo que o bebê nasce é recepcionado por pais preocupa-
dos, cuja grande maioria deseja dar o melhor que pode para os filhos.
Querem que tenham fama, sucesso e dinheiro, mas tudo sempre vol-
tado para o mundo material.

Mas não é culpa dos pais, eles ficam travados pelo formato social im-
plantado lá no passado. Não possuem referências para dar continui-
dade ao desenvolvimento da energia poderosa que vem com o filho
desde o momento em que os gametas masculinos iniciaram a corrida
da vida, que é uma espécie de Big Bang da criação de um novo ser
humano.

Sem referências do passado voltadas para o desenvolvimento ener-


gético, os pais do novo bebê ficam presos ao fenômeno psicológico
descoberto pelo psicólogo inglês Peter Wason chamado “viés de con-
firmação”, que é a tendência que toda pessoa tem de só acreditar em
informações que confirmem suas próprias crenças e valores e tende a
ignorar tudo que as contradizem.

Para os líderes do mundo manterem o domínio, só têm que fazer com


que a grande massa continue a receber, aceitar e executar o que de-
sejam. O mais importante para os líderes é fazer com que a grande
massa humana continue acreditando que o que fazem para ela é o
melhor para todos.

Esse doutrinamento ficou mais fácil com a globalização das comuni-


cações e o controle da narrativa que isso permite. Usando os grandes
veículos de comunicação de massa por meio de notícias e da indústria
do entretenimento ficou mais fácil moldar mais gente. Hoje determi-
nam como as pessoas devem se vestir, o que devem comer etc. De
modo geral definem como as pessoas devem viver e pensar.

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Por muito tempo, toda vez que ia à biblioteca pegava o livro e lia sobre
a corrida dos 50 milhões de competidores. Na época, não percebi que
isso estava despertando a minha mente, ou melhor, estava sempre rea-
tivando dentro de mim o espírito de luta e vontade de vencer.

Essas leituras e reflexões me ensinaram a entender o processo da vida


neste mundo. Para que a máquina mundo funcione é preciso que cada
ser humano esteja constantemente realizando uma função ou ocupan-
do uma vaga. O tempo de ocupação de uma vaga pode ser curto ou
de longa duração.

Exemplos de curta duração:

O motorista jovem ganha o carro do pai, leva os amigos em uma bala-


da, bebem e na volta em alta velocidade batem o carro e caem dentro
de um rio. O resultado: motorista tem o pé esmagado, os outros com
fraturas nas pernas e braços.

O acidente ocupou várias vagas para manter o funcionamento do


serviço de resgate, policiais, seguradoras, serviço de guincho, hospital
e funcionários etc.

Exemplo de longa duração:

Para o cargo de CEO de uma multinacional é estudado o perfil dos


melhores do mercado, geralmente são os formados em Engenharia
com pós-graduação voltada para o segmento empresarial, falam dois
ou mais idiomas.

Entendi que estamos constantemente preenchendo vagas. O sistema


precisa que as vagas sejam preenchidas a todo instante. Existem vagas
boas e vagas ruins. As nossas atitudes e forma de viver é que nos ca-
pacitam ou determinam que vagas iremos ocupar.

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Isso acontece com todo ser vivo. Diariamente os animais morrem para
alimentar outros animais. Isso faz parte da evolução das espécies. É a
forma de viver e morrer de todo ser que habita nosso planeta.

Cada um deve escolher que tipo de vaga quer ocupar neste mundo.
Se não fizer a escolha, alguém a fará por nós. Fora os nossos pais, nin-
guém fará boas escolhas para nós.

As vagas ocupadas a cada instante vão desde os que morrem aos que
atingem sucesso espiritual e material (dinheiro, fama etc).

Aprendi que tinha que escolher qual seria a minha vaga, e nunca dei-
xar que escolhessem para mim.

Essa linha de pensamento me fez entender que acidente não acontece


por um acaso. Acontece porque em determinado momento, por erro,
distração ou por confiar em alguém, preenchemos os pré-requisitos
necessários para sofrer o acidente e preencher a vaga de acidentado
do dia.

Passei a ficar atento e a observar lá na frente as probabilidades das


ações que estou realizando.

A minha dica é, comece agora, veja qual o perfil da vaga que deseja
ocupar e vá fazendo o necessário para se habilitar à vaga. Vista-se, leia
livros, veja filmes, estude o vocabulário, faça tudo que for relacionado
ao perfil da vaga. Tudo começa na mente, por meio dos pensamentos,
a materialização ou realização acontece em seguida, dentro do tempo
normal de maturação.

Adquirir consciência de quem sou e o que devo fazer me fez acreditar


que podia vencer qualquer dificuldade e conquistar qualquer coisa
que desejasse, só tinha que manter o foco, garra e determinação. Pen-

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sava comigo: sou competitivo, cheguei ao mundo vencendo e eu quero
e vou continuar sendo sempre vencedor em tudo que fizer. Não vou
ficar parado esperando ou dependendo de ninguém para conseguir o
que desejo, vou usar o que tenho disponível e partir para cima com
muita vontade. Vou ser sempre o melhor candidato para ocupar a
vaga que desejo para mim, farei escolhas e determinarei sempre o
meu destino com o mínimo de interferências possíveis.

Aprendi a levantar a cabeça e olhar lá na frente. Aos poucos, fui trei-


nando minha mente e meu corpo para trabalharmos juntos.

O treinamento de luta marcial - Karatê - também me ajudou muito.


Primeiro consegui um livro que ensinava alguns golpes, mais tarde
consegui entrar em uma academia - Nihon Karate Kyokai.

Queria fazer o máximo de coisas possíveis de forma rápida e com


alegria. Sentia que a alegria me dava uma boa sensação, meu trabalho
ficava prazeroso. Os adultos percebiam e geralmente me retribuíam
com uns trocados, porque tudo que me pediam eu fazia bem feito,
rápido e alegre.

Sentia que lá no sertão eu estava parado no tempo e agora em São


Paulo tinha que correr muito para recuperar o tempo perdido. Fazia
tudo depressa, queria agilidade em tudo que fazia, rapidez e perfeição.
A minha mente foi ficando cada vez mais exigente, não aceitava falhas
e queria sempre o melhor.

Eu não conseguia ficar sentado conversando horas sobre assuntos sem


conteúdo como ficavam os meus amigos. Também não gostava de
nenhum passatempo como jogos de bilhar, dominó ou baralho. Gos-
tava de atividades físicas, como futebol, porque melhoravam a perfor-
mance e resistência do corpo. Nunca bebi e fumei, porque sabia que

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isso faria mal. Também nunca gostei de festa ou noitadas. Tudo para
mim sempre tinha necessidade de ser útil e eficaz. Ou seja, sempre
aplicando os princípios que havia descoberto, nesse caso, questionan-
do “Pra quê? e Por quê? Ou qual o benefício?

Tenho comigo desde pequeno a característica de ser um bom obser-


vador e analisador de situações e pessoas, provavelmente seja pelo fato
de gostar de desenhar. Para desenhar paisagens ou pessoas, precisamos
observar a cena como um todo e entender o movimento. Entendendo
o movimento, acabamos prevendo probabilidades ou cenários futuros
para o que estamos observando e analisando. Essa característica me
ajudou a sair da favela e seguir um caminho que me transformou no
que sou hoje.

Essa interpretação e aprendizado do livro sobre o início da vida de


um ser humano deu o direcionamento de tudo que passei a fazer na
minha vida, e me ajudou nos momentos mais importantes e decisivos
que enfrentei. Passei a usar meu tempo para produzir algo; até para
brincar queria brincadeiras que pudessem me deixar mais ágil ou em
melhor condição física.

Inclusive, esse livro mudou até a minha forma de ler, já não lia mais
para passar tempo ou por simples curiosidade. Mudei e até hoje sem-
pre busco algo bom em tudo que leio para aplicar ou para evitar na
minha vida. Dos bons livros que li, os melhores para mim foram:
Grande Sertão- Veredas, de Guimarães Rosa. Esse livro foi um mer-
gulho de volta a Minas Gerais. Os Sertões, de Euclides da Cunha;
Capitães de Areia, de Jorge Amado; O Guarani, de José de Alencar; O
Alienista, de Machado de Assis; O Encontro Marcado, de Fernando
Sabino; O Macaco Nu, de Desmond Morris; Quebrando o Encanto,
de Daniel C. Dennett; Pilares da Terra, de Ken Follett Vol. 1 e 2; Uma

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breve história da humanidade, de Yuval Noah Harari; The Utility of
Force, de Rupert Smith, Genghis Khan, de Michel Hoang; Xogum,
de James Clavell e Musashi, Vol. 1 e 2, de Eiji Yoshikawa.

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Abasteça o banco de dados da
sua mente, com bons exemplos
a serem seguidos e os maus
exemplos que devem ser evitados.

A favela, a família
e o futuro

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Fiquei cinco anos morando com a família adotiva. Nesse período, es-
tudei até terminar o curso primário; depois, entrei no Ginásio Vis-
conde de Mauá no Bairro da Saúde

A melhora em minhas atitudes foi significativa depois da mudança


da minha consciência motivacional ocorrida na Biblioteca. A Dona
Antônia deve ter percebido a minha constante busca pelo melhor em
tudo que fazia. E começou a buscar uma escola melhor para mim. Ela
descobriu a Escola Técnica Antarctica, hoje Escola Técnica Walter
Belian, que ainda está situada no Cambuci.

Saí do Colégio Visconde e iniciei um curso preparatório para con-


seguir passar no teste. Estudei bastante e consegui passar na disputada
seleção para fazer o ginásio industrial. Isso foi minha salvação, con-
segui estudar e ter referências melhores para alcançar. Foi minha
grande janela de oportunidade para uma vida melhor.

A escola pertencia à Fundação Antonio e Helena Zerrenner. Era um


casal de alemães, donos da fábrica de guaraná e cerveja Antártica.
Eles gostavam do Brasil e de ajudar brasileiros. Davam todo apoio
aos funcionários, fornecendo escola para os filhos, assistência médica
e dentária, além de remédios, uniformes, passes escolares para o ôni-
bus, tudo gratuito. Também ofereciam oportunidade para crianças
que não eram filhos de funcionários por meio de um teste anual onde
eram escolhidos os melhores alunos para preencher as vagas que so-
bravam e para completar uma turma.

Foi graças à benevolência desse casal de alemães que eu consegui a


oportunidade necessária para ter um destino melhor do que o das
crianças do meu bairro pobre.

Cantávamos o hino nacional toda segunda-feira na quadra de es-

50
portes. A disciplina da escola era rígida e a respeitávamos. Quem
repetisse duas vezes o mesmo ano era expulso da escola. Havia um
barbeiro na escola para manter nossos cabelos sempre curtos. Ganhá-
vamos o nosso uniforme que era composto por calça e paletó cinza,
camisa branca e gravata cinza.

Tinha sempre vistorias na escola para ver se o cabelo estava cortado,


o uniforme limpo e os sapatos pretos engraxados. Por isso nos dias de
chuva eu enrolava os sapatos com sacos plásticos para andar nas ruas
sem asfalto do meu bairro, eu tinha vergonha de usar sapatos sujos,
pois no ônibus sempre cheios eu poderia sujar a calça das pessoas em
que tocasse. Eu trabalhava nas férias para poder comprar os sapatos
pretos, pois a escola não os fornecia. Sapatos antigos tinham sola de
couro e calcanhar de madeira pregado na sola e muitas vezes não
duravam o semestre e furavam embaixo. Eu usava papelão para tapar
os buracos que apareciam na sola e vivia martelando os pregos que
diversas vezes furavam o meu pé perto do calcanhar.

Nas oficinas onde aprendíamos profissões, usávamos macacão na cor


cinza. Na escola, havia um setor feminino e masculino, só tínhamos
contato de longe ou por meio de bilhetes com as meninas. Elas tinham
profissões como secretariado, pintura e culinária.

O objetivo e metodologia do ensino eram preparar bons profissionais


e bons cidadãos para o mercado de trabalho e para a vida que iriam
enfrentar fora da escola. O estudo era integral e à noite ainda tinha a
lição de casa, que eu fazia sob a luz de lamparina a querosene porque
a energia elétrica demorou para chegar a nossa rua, assim como a
água encanada.

Só os amigos mais próximos sabiam onde eu morava. O Marcos Ser-

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ralheiro (Marcos Serra), Luiz Antônio e Nelson Breanza. O resto nem
imaginava onde eu morava e que eu pegava 2 ônibus e um metrô,
demorando mais de 1h30 minutos para chegar à escola.

Quando minha mãe melhorou com o tratamento no Hospital das


Clínicas eu já estava com 11 anos e voltei para casa dos meus pais. Era
o ano de 1970 e eu já estava estudando na Escola Técnica Antarctica.
Nesse ano, o Brasil havia conquistado a Copa do Mundo, havia no ar
um clima de vitória e alegria contagiante, todos os brasileiros só fala-
vam em futebol, tudo era verde e amarelo; afinal de contas, o Brasil
era o primeiro país tricampeão de futebol. Eu também estava muito
contente, além do futebol eu estava voltando para casa dos meus pais,
começando uma nova etapa na minha vida, tudo isso me deixava com
muita esperança e motivação.

Eu cheguei ao barraco querendo mudar tudo, porque via nas revistas


que no Estado do Paraná e em Santa Catarina existiam muitas casas
de madeira bonitas e bem construídas. Outra grande diferença era a
limpeza e a higiene. Consegui que meu pai cimentasse o chão e pas-
sasse um pó chamado vermelhão no cimento. O piso ficou vermelho
e bonito. Agora era possível encerar o piso e até colocar tapete para
pisarmos.

Também tapamos as frestas que existiam nas tábuas do barraco. Mi-


nha mãe tinha algumas ervas para chá e temperos plantados no chão
do lado de fora do nosso barraco. Fiz uma jardineira suspensa. Dentro
do barraco coloquei gravuras e pôster nas paredes da sala, na verdade
era uma sala e cozinha ao mesmo tempo.

Como o chão ficou bonito, minha mãe passou a exigir que limpassem
os pés antes de entrar. Tentei dar sugestões para as pessoas terem mais

52
higiene e casas mais adequadas, mesmo sendo barracos. Mas isso não
foi bem aceito. Muita gente dizia que nós éramos “pobres metidos a
rico”! Esses comentários e jeito com que as pessoas olhavam a minha
intenção de ter uma condição melhor de vida mesmo em uma favela
mostrou-me que é muito difícil mudar a maneira de pensar das pes-
soas à nossa volta.

Minha mãe veio com suas tiradas: “Não adianta você querer deixar
um chiqueiro limpo e cheiroso, porque os porquinhos ficarão infe-
lizes”, “Porco gosta de lama e mal cheiro”. Eram palavras duras, mas
me faziam refletir.

Aprendi que na minha corrida devo olhar para frente e fazer o meu
máximo sempre. Olhar para quem está correndo do nosso lado só nos
atrasa ou nos faz tropeçar. Devo sempre apoiar quem pedir ajuda, mas
agarrar pelo braço ou chacoalhar para ver se desperta nem sempre é
a melhor solução.

Morando com meus pais, eu sempre ia visitar a família da Dona


Antônia, eles sempre eram maravilhosos para mim, tratavam-me
muito bem, davam-me presentes no aniversário e no Natal. As visitas
que eu fazia ajudavam a matar a saudade da condição de uma vida
melhor que eu tinha deixado para trás para morar com os meus pais.

O cenário da favela era bem definido, existiam pessoas que gostavam


de morar lá e pessoas que não gostavam.

Muitos não se incomodavam com o cheiro do esgoto a céu aberto e


do odor causado pela falta de higiene corporal. Gostavam dos vícios
como jogos de azar, entorpecentes, bebidas alcoólicas, sentiam prazer
em fazer o mal para outra pessoa, roubar e até matar. Para quem gos-
tava de desenvolver o lado ruim que existe dentro de todo ser humano,

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era o local perfeito para suas ações. Conseguiam dinheiro, prestígio e
tinham suas ações protegidas pela lei do silêncio que existia.

Quem escolhia o caminho do mal vivia sempre fugindo da polícia, era


preso, se feria em brigas ou morria em confrontos. Estava sempre em
situação financeira difícil porque o que vem fácil, vai fácil.

Os que seguiam pelo caminho do bem, estavam sempre procurando


uma forma de melhorar de vida com o pouco que conseguiam. Geral-
mente iam à igreja católica ou protestante que lá existia, frequentavam
escolas e aos poucos evoluiam, social e profissionalmente.

Mas o que me chocava eram atitudes que muitos tinham, eram pes-
soas de má índole. Essas pessoas viviam culpando o mundo pelos fra-
cassos que tinham. Não se esforçavam para vencer e não reconheciam
os méritos e conquistas de outras pessoas. Lembro que uma vez estava
sentado lendo um livro, enquanto havia duas mulheres próximas fa-
lando alto.Chamou-me atenção quando ouvi uma delas dizendo que
cuspiu na panela antes de servir os donos da casa em que ela traba-
lhava. O motivo era porque os patrões não queriam mais emprestar
dinheiro para ela, só porque ela estava devendo bastante. Ela dizia
revoltada, “esses ricos jogam dinheiro fora, mas não dão pra nós que
somos pobres, odeio essa gente”.

Essa divisão clara do caminho do bem e do mal que existia naquele


ambiente facilitou a minha escolha sobre qual caminho eu deveria
seguir. Sou grato por isso!

Muitos queriam sair de lá. Meu pai era um exemplo desse tipo de
pessoa, ele fazia horas extras e economizava cada centavo possível
para comprar um terreno e ter sua casa própria em um lugar melhor
para mim e para minha mãe.

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A escritora já falecida, Maria Carolina de Jesus, viveu na década de
60 na favela do Canindé. Em seu livro, “Diário de uma favelada”,
podemos ver como é a vida nesse lugar. Ela foi descoberta por um jor-
nalista que leu seus diários. Foram publicados e muita gente até hoje
lê essa e outras de suas obras. Carolina tirou a aprendizagem desse
período. Eu também.

A violência estava sempre presente no dia a dia dos moradores. Era


comum a chegada da polícia e uma sequência de correria e tiros que
depois virava assunto nos bares e rodinhas onde todos acabavam sa-
bendo o que aconteceu e quem teria sido preso ou morto.

Eu sempre aplicava o conceito da “Corrida dos 50 milhões” em tudo


que fazia ou ia fazer. Era só escolher o objetivo (óvulo) que pretendia,
evitar distrações e manter o foco para não perder de vista o alvo, o
resto seria apenas questão de tempo.

Para mim muitos vizinhos sem direcionamento eram como gametas


perdidos, dando cabeçadas uns nos outros, não sabiam o que deve-
riam fazer ou não sabiam que direção tomar, estavam envolvidos em
distrações pelo caminho e nunca atingiriam suas metas.

Essas pessoas eram simplesmente uma parte da massa de manobra


usada por gananciosos que exploram os mais humildes para conseguir
com facilidade atingir seus objetivos.

Nas eleições, por exemplo, votavam em qualquer candidato. A prefe-


rência era por aqueles que dessem alguma coisa, camiseta, bonés,
pente, calendário etc. Agora se desse um óculos ou dentadura, o
candidato conquistava um cabo eleitoral provisório e teria inclusive
votos da família e amigos que pudessem ser influenciados. Que me
lembre, minha mãe era a única pessoa que escolhia o candidato pelo

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currículo, sempre sabia quem era, o que fazia; e, se fosse reeleição,
sabia se “prestava” como dizia ela. Esse descaso que o brasileiro tem
na escolha de seus representantes na política é o principal motivo pelo
qual o nosso povo não consegue usufruir das riquezas naturais que o
Brasil possui.

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Evite atrito.Atrito desgasta os
dois lados, apenas o ganhador
perde menos do que o perdedor.

Fim da favela
do Vergueiro

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A favela do Vergueiro era a maior de São Paulo, composta na sua
maioria por pessoas muito pobres vindas de Minas Gerais e estados
do norte do Brasil.

Vinham em busca de uma vida melhor na capital paulista, eram mo-


tivados pelas cartas que recebiam de parentes que já estavam em São
Paulo ou quando alguém voltava para visitar a família ostentando
roupas boas e dinheiro no bolso.

Em 1969, começou a sua desapropriação. Foram rigorosos, primeiro


fechando os bares. Os moradores foram na sua maioria para a cidade
de Diadema ou na divisa com a cidade de São Paulo onde na época
não tinha nada, ruas de barro em que os primeiros barracos foram
erguidos. Essa foi uma falha de quem simplesmente a transferiu para
outro ponto. Se tivesse havido um plano diretor em que as pessoas
tivessem orientação e ajuda para construírem boas moradias, mesmo
que fossem de tábuas, a população teria sido melhor assistida. Exis-
tem boas casas de madeira, exemplo dos EUA e região sul do Brasil.
O que precisa é orientação e principalmente cuidados com limpeza
e higiene. Os barracos foram construídos seguindo o mesmo padrão
anterior, uns colados nos outros, poços artesianos perfurados próximos
das fossas sanitárias contaminando a água que bebiam.

O meu pai foi um dos últimos moradores a sair de lá, a demora foi
porque ele estava procurando um terreno para comprar mais próximo
de onde houvesse hospital para minha mãe.

Ele conseguiu comprar um terreno em Americanópolis, bairro da pe-


riferia de São Paulo. Fez um barraco com tábuas boas que ganhou
do dono da fábrica Saad onde trabalhava, cimentou o piso, cercou o
terreno, construiu um pequeno galinheiro para que tivéssemos ovos

60
frescos e fez uma horta para temperos e verduras.

Eu não tinha o mesmo conforto da casa da Dona Antônia, afinal de


contas estava morando em um barraco, não tinha chuveiro, o banho
era em uma bacia, o banheiro era um buraco pequeno em cima da
fossa. O cheiro era muito ruim, minha mãe jogava creolina em volta
para amenizar um pouco o odor. A rua era sem asfalto e cheia de valas
feitas pela chuva.

As pessoas que saíram da favela do Vergueiro foram para Diadema


e bairros próximos à divisa de São Paulo com Diadema, Americanó-
polis, Vila Clara, Vila Campestre, Cidade Ademar, Pedreira e Vila Fa-
chini. Eram terrenos comprados com longas prestações em ruas sem
asfalto e sem saneamento básico.

Como havia mais espaço para os novos migrantes que chegavam em


grandes quantidades de Minas Gerais e do Norte do Brasil, era co-
mum os barracos ficarem lotados com a chegada de grandes famílias
que traziam os pertences em malas e sacos de farinha. Dormiam no
chão até conseguirem um local para morar. Os terrenos foram ficando
lotados, muitos faziam barracos de 2 andares para poderem alugar
mais quartos para os recém-chegados.

Em pouco tempo, todos os problemas que existiam antes foram trans-


feridos para os novos bairros, muitos barracos, muitas crianças des-
calças pisando no esgoto, ruas esburacadas, muitos bares, brigas e
mortes constantes.

O pior eram os jovens sem orientação, indo para a vida do crime.


Primeiro roubavam carteiras, toca-fitas de carros em bairros melhores.
Alguns roubavam botijões de gás e outros objetos dos próprios vizin-
hos.

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Logo, a vida perdeu o valor. Sempre havia bailes na região. Em um
deles houve uma briga, uma pessoa atirou e acertou no peito do meu
primo que se chamava Miro, ele morreu. Outra vez, estávamos jogan-
do bola em um campo improvisado na rua, paramos para beber água
em uma bica próxima, eu deveria ter uns 12 anos no máximo. Perto
do gol improvisado com pedras, encostaram 3 jovens de no máximo
18 anos, ficaram conversando tranquilos, um deles era conhecido, já
havia cometido delitos (roubava) e estava sempre na rua jogando bola
ou conversando, os outros apareciam só de vez em quando, deviam
morar em outro bairro. Enquanto bebíamos água, ouvimos tiros, mas
como isso já era rotina, terminamos tranquilos de beber água e subi-
mos para o campinho improvisado, chegando lá só encontramos o
que conhecíamos melhor, estremecendo no chão com tiro na cabeça,
os outros 2 não estavam mais. Afastamos o gol do corpo dele e con-
tinuamos jogando bola, enquanto aumentava a roda de curiosos em
volta do corpo.

A morte não nos afetava mais, se alguém perguntasse, a resposta sem-


pre era: “Não vi nada” a lei do silêncio e os defeitos que existiam na
Favela do Vergueiro já estavam incorporados em um novo bairro que
crescia rápido.

Até as brincadeiras eram violentas, aprendi rápido que existiam dois


tipos, os que apanham e os que batem. Uma vez vi um homem em
um bar levando vários tapas no rosto, achei humilhante. Isso me mo-
tivou a buscar com urgência melhorar minha auto-defesa. Eu sempre
treinava tendo como referência os filmes a que assistia e 2 livros de
artes marciais que havia comprado. Mas realmente aprendi quando,
com dificuldade, consegui entrar na academia de Karatê do Mestre
Juichi Sagara. Aprendi muito estudando a cultura japonesa, princi-

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palmente a parte espiritual com os estudos dos ensinamentos de Buda
e da doutrina Seicho-No-Ie que são filosofias de vida, e não religião.
Com os japoneses aprendi a me defender, ter autoconfiança e equilí-
brio emocional para serem aplicados principalmente nos momentos
de muito stress.

O mais importante do aprendizado foi: por pior que fosse a situação,


não ser vítima, aceitar e enfrentar, porque o cheiro do medo atrai o
predador.

Tive momentos difíceis, mas aprendi que tudo começa pequeno. Ia


pra cima com tudo que podia, era como apagar um palito de fósforo
com um balde de água, dessa forma o outro lado entendia que errou
e servia de exemplo para quem estava pensando em me atacar. Na
minha concepção, um jacaré ou crocodilo, quando é filhote, pegamos
na mão e até brincamos com ele, mas quando cresce nos devora facil-
mente. Não podemos deixar o mal crescer, temos que acabar com ele
quando é pequeno, depois fica difícil ou até impossível destruí-lo.

Percebi que, se eu continuasse crescendo com as referências que


tinha no lugar onde vivia, em pouco tempo tudo isso pareceria nor-
mal para mim, porque o homem é o produto do meio. Apenas meu
corpo físico vivia no bairro, minha mente e meu foco estavam muito
além de onde eu morava. Estava em uma nova corrida para sair do
bairro pobre e conseguir um futuro melhor para mim e para as pes-
soas que dependiam de mim.

Continuava sempre aplicando o que aprendi sobre a “Corrida de


50 milhões”, distanciando-me das pessoas do local onde eu vivia
e passando a conviver mais com as pessoas ligadas à escola. Até
chegar ao ponto de eu sair de casa só para pegar o ônibus e sair do

63
bairro. Isso virou um hábito.

Alguns jovens da minha idade começaram a me olhar como um in-


truso no ninho. Uma noite quase me pegaram, a sorte que estava
preparado para esse momento, minha reação foi tão forte que acabei
surpreendendo-os. Se não tiver jeito, é melhor surpreender atacando
do que esperar e ser atacado. Escapei ileso, mas passei a andar como
um animal sempre alerta. À noite, andava pelos cantos escuros, sem-
pre atento para nunca ser surpreendido. Mas felizmente nunca mais
mexeram comigo.

Outro episódio que me marcou e mudou minha forma de ver e va-


lorizar cada momento da minha vida foi um tiro que quase levei na
cabeça durante um tiroteio. Estava sentado vendo um amigo brincar
com uma pipa, quando começou um tiroteio próximo. Senti o deslo-
camento de ar e o som da bala raspando meu ouvido. Na hora meu
corpo ficou mole, caí ao chão e pensei que a bala tivesse me acertado.
Lembrei que uma pessoa que levou um tiro me disse que na hora não
sente nada. Não sei quanto tempo fiquei sentado encostado em um
barranco. Aos poucos, fui olhando para ver se alguma bala havia me
acertado, estava em choque. Concluí que a vida pode ser muito difícil,
a qualquer momento. Depois desse episódio, tive algumas situações
em que passei perto da porta de saída deste mundo, mas não era mais
um novato, havia me preparado para o momento. Se vim ao mundo
chorando, não ia sair chorando.

Não sei se tem alguma relação psicológica ou influência na mente das


pessoas, mas observava que em determinadas épocas a violência era
maior no meu bairro. Dava para sentir antes que algo ruim acontece-
ria. Havia um bar vizinho a minha casa, onde geralmente no final de
semana ocorriam brigas violentas, principalmente quando chovia.

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Tinha uma vizinha que também brigava com o marido a ponto de
machucá-lo bastante. Uma vez deu uma facada na barriga dele,
só não morreu porque não atingiu nenhum órgão vital. Deu sorte,
porque facadas na barriga geralmente são fatais.

Esses acontecimentos me despertaram a curiosidade para estudar an-


tropologia e também sobre as influências do campo magnético da ter-
ra na vida das pessoas, estudei muito sobre a ressonância Schumann,
campos magnéticos e radiações, posições de algumas construções
como as pirâmides, assim como o efeito da lua, sol e outros astros so-
bre nós. Depois virou um hábito estudar sempre o terreno ou todas as
probabilidades e cenários antes de entrar em algo novo.

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66
Ninguém é obrigado a prometer,
só é obrigado a cumprir o que
prometeu.

Decolando para
a vida adulta

67
Terminei o ginásio e fui para o colégio técnico em que havia mecânica,
química e elétrica. Escolhi a elétrica e me formei como eletrotécnico.

Na época da escola eu me imaginava no futuro ganhando muito di-


nheiro, comprando um avião para ver o mundo de cima ao som das
melhores músicas da época.

Então, chegou o último ano de colégio e eu sairia da proteção da


Fundação Antonio e Helena Zerrenner. Teoricamente eu estava pron-
to para seguir minha vida, estava acabando a fase do jovem sonhador,
e entrando na fase do adulto realizador.

O coração começou a apertar, eu já era maior de idade, o ano estava


terminando e eu estava me sentindo como um filho que seria jogado
pelos pais na rua sem saber para onde ir. A escola era uma grande
família, éramos unidos como irmãos, não foi fácil, senti muita falta, foi
uma versão menor do que senti quando saí da casa de meus pais para
viver com outra família. No fundo era o medo de perder a conexão
com o “mundo melhor” que existia fora do estilo de vida das pessoas
de onde eu morava.

A minha reação foi entender que estava na hora de andar com mi-
nhas próprias pernas e ir atrás do que desejava, mesmo que tivesse
que trabalhar dia e noite para construir meu próprio ambiente; um
local onde meus filhos e descendentes tivessem uma chance de ter um
futuro melhor, longe das dificuldades que eu tive.

Cogitei ir direto para aviação, as opções eram: piloto militar ou piloto


de linhas aéreas. Após um estudo das nossas forças armadas, vi que a
estrutura era muito pequena comparada aos EUA e outros países do
primeiro mundo, vi que a chance de pilotar um caça bonito igual o das
fotos que via nas revistas de aviação, que comprava, seria impossível,

68
essas máquinas maravilhosas jamais viriam para o Brasil. Provavel-
mente passaria mais tempo em um quartel do que voando em uma
aeronave. A outra opção seria trabalhar para uma companhia aérea,
para isso teria que gastar muito dinheiro na formação; como dinheiro
eu não tinha, achei que era melhor trabalhar em outro segmento até
conseguir dinheiro suficiente para entrar na aviação.

Trabalhei muito, foram inúmeras tentativas e decepções. Algumas


muito fortes, senti que as portas não se abririam mais para mim.
Cheguei a ficar sem uma simples moeda no bolso, mas eu não de-
sisti; abri uma empresa de instalação elétrica e eletromecânica, pintei
quadros, vendi fogos de artifício, comprei e vendi motos. Ia sempre no
limite de tudo que começava, mas não conseguia resultado satisfatório.

Em determinado momento conclui que as coisas estavam dando er-


rado porque eu não estava cumprindo o meu propósito de vida. Per-
cebi que, por algum motivo, provavelmente distrações e falta de foco,
eu não estava aplicando a minha primeira Lição de Vida, que era o
que aprendi lendo sobre a “Corrida dos 50 Milhões”. Ou seja, se meu
objetivo era ser piloto, então eu tinha que ir direto para esse objetivo.

Já sabia que primeiro eu deveria me tornar um piloto dentro de mim,


para isso era só seguir os passos necessários para convencer o campo
energético que nos envolve de que eu era um piloto. Só tinha que
concentrar toda minha força e determinação em tudo que fosse ligado
à aviação; e, aos poucos, primeiro me convencendo mentalmente de
que já era um piloto, na sequência fui em busca da materialização que
é tirar a licença de piloto.

Passei a frequentar o Campo de Marte, um dia ajudei um piloto a


levar um Papai Noel até uma festa de final do ano. Fiquei fascinado

69
com o helicóptero, me matriculei em uma escola de aviação chamada
ESA para fazer o curso teórico de piloto privado de helicóptero (PPH).

Eu trabalhava em uma produtora fazendo vídeos institucionais para


empresas e sempre dava um jeito de colocar imagens aéreas para con-
seguir voar com o duplo comando que normalmente o piloto deixava
instalado para eu pilotar um pouco nos deslocamentos até o local de
gravação.

As provas teóricas para piloto na época eram aplicadas pelo DAC


(Departamento de Aviação Civil), uma divisão do Ministério da Ae-
ronáutica. Essas provas eram aplicadas apenas 3 vezes por ano. Não
tive dificuldade para passar. Apenas Navegação e Meteorologia que
exigiram um pouco mais de estudo. As outras matérias foram Regula-
mentos, Teoria de Voo e Conhecimentos Técnicos, eram mais fáceis.

A parte prática deu um pouco mais de trabalho porque as horas de


voo são muito caras. Fui fazendo à medida que sobrava um dinheiro
até conseguir as 35 horas necessárias para fazer o exame prático com
um oficial da aeronáutica denominado, checador. Fui aprovado e
em seguida, fiz a prova teórica para Piloto Comercial de Helicóptero
(PCH), passei.

A próxima etapa foi concluir as 100 horas de voo necessárias para


fazer o teste prático de PCH. Confesso que a vontade e determinação
era tamanha que até consegui uma aeronave para voar, trabalhando,
mesmo sendo um piloto privado. Isso me ajudou a concluir rapida-
mente as horas necessárias para solicitar o teste prático e me tornar
um piloto profissional.

Entrei com muita determinação na Aviação de Helicópteros, em pou-


co tempo montei uma escola de pilotagem, era a Aero Alpha Heli-

70
cópteros, tinha curso teórico e prático com um Robison R22, montei
também uma empresa de Táxi Aéreo para atender a produtoras de
vídeo e cinema e também passageiros. Tornei-me instrutor e acumulei
muitas horas de voo em pouco tempo, voava todos os dias da semana,
quando não estava voando no táxi-aéreo estava dando instrução na
escola.

O meu maior rendimento continuava sendo as grandes produtoras de


comerciais para agências de publicidade, elas pagavam bem, porque
tinham os melhores orçamentos.

Escola de aviação
Ensinando e aprendendo

O que torna a aviação segura é a transferência de conhecimento.


Todo bom profissional da aviação tem isso consigo. A minha colabo-
ração foi montar uma escola de aviação.

A escola ficava em Alphaville- Barueri (SP) e era a única que tinha


a sua própria área de treinamento prático com uma pista de grama
com 300 metros de comprimento por 20 metros de largura, além de
um quadrado cimentado para o aluno sentir a diferença do pouso na
grama e no cimento, terreno inclinado etc.

O helicóptero é uma aeronave de asa ro-


tativa com muitas peças móveis e, devido
a sua complexidade, exige cuidados es-
peciais para um voo seguro, por isso o
treinamento era intensivo e formamos
ótimos profissionais.

Quando ele tem uma emergência em

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voo, exige rápida intervenção do piloto (apagamento do motor, que-
bra do rotor de cauda, perda de potência etc.) por isso desenvolvi uma
técnica que batizei de Lei dos 3 segundos, em que as chances de su-
cesso da manobra são:

A) Reação do piloto em até 1 segundo: 70%

B) Reação do piloto em até 2 segundos: de 70% a 40 %

C) Reação do piloto em até 3 segundos: De 40% a 10 %

D) Reação acima de 3 segundos as chances são de 10% até 0%.

As observações são baseadas em um piloto que possui experiência e


treinamento no aparelho em que está voando, ou seja, tem a máquina
na mão. Caso o piloto não tenha experiência no tipo de aeronave du-
rante a emergência em voo, o tempo-resposta geralmente aumenta e
as chances caem drasticamente.

Essa teoria se aplica a tudo que envolve risco de vida, a regra pode ser
aplicada ao policial ou piloto de corridas etc.

Eu criei um método de avaliação para descobrir quem tinha aptidão


para ser piloto e quem não tinha.

Lembro de um empresário que ficou chateado comigo porque eu não


quis ensiná-lo. Eu sempre fazia uma avaliação antes de começar a
dar as aulas práticas. Pela minha metodologia de avaliação, ele não
mostrou segurança para assumir o comando de uma aeronave. O
problema é ter capacidade de sair ileso se houver emergências. Notei
que ele não tinha essa qualificação. Ele foi aprender em outra escola.
Depois, comprou um helicóptero e em um dia indo para o litoral se
perdeu com o mau tempo na serra, chegou a avisar no rádio que es-

72
tava pousando na mata por falta de visibilidade. O resgate devido às
condições meteorológicas só aconteceu alguns dias depois do acidente,
mas já era tarde, ele não resistiu. Se eu tivesse cedido à pressão e o en-
sinado, ele, sem dúvida, teria comigo esse trauma do acidente e perda
de uma vida.

Ensinar é gratificante! É indescritível a sensação de ver a energia e


alegria de um aluno descobrindo o prazer de aprender a voar, mas
também é uma responsabilidade muito grande!

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74
A toda ação corresponde
uma reação igual e contrária
(Isaac Newton)

Ação e reação

75
Se pudesse ainda teria uma escola, mas na época Brasil estava com al-
tos índices de inflação, todo nosso custo era em dólar americano, que
estava cada vez mais alto. Isso foi elevando muito o custo operacional
até tornar inviável continuar.

Fechar a escola foi um momento triste. Mas não adianta ficar lamen-
tando ou questionando algo que não deu certo, segue em frente; afinal
de contas, tudo tem tempo de vida, ou seja, começo, meio e fim.

Nunca reclamei do sofrimento e dificuldade, porque sempre vejo bar-


reiras como algo que potencializa o aprendizado e o bom resultado
final. As derrotas são apenas formas difíceis de aprender algo muito
importante ou bom que iremos receber se mantermos o foco e a de-
terminação até atingir o objetivo.

Quando era criança tinha resposta para várias perguntas, mas sentia
que os adultos me enrolavam com respostas como “é assim mesmo”,
“só Deus sabe”, “isso é coisa de Deus”, “um dia você vai saber” etc.
Quando tinha uns 15 anos, resolvi buscar minhas respostas e me fixei
em: Quem somos? E por que estamos aqui?

Analisei o projeto do corpo humano como uma máquina, posição


dos braços, olhos, ouvidos, reações químicas etc. E principalmente a
sua parte mental. Li muitos livros de filosofia, antropologia, ficção.
De cada um tirava algo para montar o quebra-cabeça e ter a resposta
para meu questionamento. A conclusão a que cheguei é que fomos
projetados para ajudar outro ser humano por meio de ações diretas
ou indiretas.

Em pouco tempo para tudo que eu ia fazer, questionava antes: Para


quê? e por que? Dependendo da resposta, não fazia, ou seja, não per-
dia tempo e seguia em frente. Queria sempre fazer o que atendia ao

76
projeto pelo qual o ser humano foi projetado, ou seja, fazer só o que
pudesse de alguma forma beneficiar alguém.

Outro detalhe que me chamou atenção foi a relação entre positivo e


negativo. Negativo é tão importante quanto o positivo. Isso significa
que as coisas negativas ou ruins que existem no mundo são tão impor-
tantes quanto as coisas positivas que aqui existem. As coisas têm o seu
propósito e nada foi colocado neste plano por acaso.

Um bom exemplo é uma lâmpada. Para acender ela precisa de um


polo positivo e um negativo como todas as coisas. Tudo que conhe-
cemos é binário, tem luz e sombra, certo e errado, macho e fêmea,
positivo e negativo, etc. Quem criou o que aqui existe sabia muito bem
o que estava fazendo.

O ser humano segue o mesmo padrão de construção ou criação,


nasce, vive e morre, precisando sempre fazer uma ação para obter
algo por meio de uma reação. Como principais seres do planeta te-
mos os braços e toda parte sensorial voltada para frente para facili-
tar fazer algo para os outros. Desde o momento em que nascemos
até morrermos estamos sempre fazendo ações para obter reações de
forma consciente ou inconsciente. O bebê, quando nasce, faz a ação
de chorar para receber a reação da mãe que é verificar se ele está com
fome.

Em resumo, toda ação provoca uma reação. E ação e reação é movi-


mento, a vida só existe no movimento.

Essa ação também é binária e cabe a cada um fazer a sua própria


escolha, é o livre arbítrio que recebemos do Criador.

Todo ser humano já nasce com o dispositivo que o estimula a realizar

77
ações. É como um computador que já vem com determinado tipo de
programa pré-instalado de fábrica para funcionar.

Quando uma ação é realizada, ela produz uma reação carregada de


energia que pode ser boa ou má; sempre proporcional ao resultado
produzido sobre uma ou muitas pessoas. Artistas, cientistas, religiosos,
escritores, empresários ficam ricos e famosos porque impactam muitas
pessoas.

Grandes ações acabam tendo mais resultado energético que se mate-


rializa em mais dinheiro, fama e satisfação pessoal. Um bom exemplo
é um artista de sucesso, que com apenas uma ação que é cantar uma
música, consegue receber a reação de milhões de pessoas e se torna
uma pessoa rica e famosa.

Isso acontece porque o artista não se apresenta para si próprio. Ele só


se beneficia fisicamente ou espiritualmente da reação produzida pela
suas ações, e isso só é possível quando houver uma pessoa ou mais. Por
isso ele precisa de platéia para receber as reações que provoca; caso
contrário, ele se apresentaria para um espelho.

Tudo isso veio à minha mente quando comecei os voos para produtoras
de TV. Era hora de usar a Lei da ação e reação no que eu estava fazendo
para que eu tivesse sucesso. Tinha que ajudar e ser desejado. Ninguém
compra o que não deseja. Quanto mais úteis, mais desejados somos.

A minha aplicação direta da “Lei da Ação” nos voos para produto-


ras foi buscar formas de ajudar o cinegrafista e o diretor a realizarem
um bom trabalho. Nessa busca fui a várias feiras de equipamentos de
televisão e rádio nos EUA (NAB - National Association of Broadcas-
ters) para entender as necessidades e também a linguagem e termos
técnicos dos profissionais de vídeo e cinema. Percebi logo que tudo

78
estava na mão do cinegrafista, uma cena gravada errada ou se não
fosse gravada poderia trazer um prejuízo enorme para a produtora.

Comecei a desenvolver técnicas e também comprar equipamentos


que ajudassem o cinegrafista a realizar um bom trabalho.

O equipamento mais importante que comprei foi um monitor peque-


no que eu fixava no painel do helicóptero. Conectava na câmera do
cinegrafista e pedia para ele apenas segurar a câmera e deixar que eu
fizesse todos os movimentos com o aparelho.

Para isso, antes de decolar eu fazia uma reunião com o diretor geral
e com o diretor de fotografia que às vezes era o próprio cinegrafista.
Eles me explicavam as cenas, a maioria tinha um storyboard (desenho
das cenas a serem gravadas). Eu fazia as manobras necessárias para
gravar o que o diretor queria e depois eu fazia alguns takes extras,
manobrando muitas vezes de forma mais agressiva para garantir os
melhores takes.

Os clientes adoravam o trabalho e principalmente por eu me envolver


como um profissional de televisão ou cinema, e não como um sim-
ples piloto. Isso me fez ficar conhecido no meio artístico e aumentar a
procura pelo meu trabalho. Rodei o Brasil fazendo gravações para as
melhores produtoras.

Em uma das viagens para Los Angeles vi que os pilotos de helicópte-


ro voavam em cima das Freeway (avenidas) informando aos ouvintes
das rádios sobre o trânsito. Guardei isso comigo para um dia usar
no Brasil.

Aos poucos fui cada vez mais ingressando no mundo da aviação


captando imagens aéreas para cinema e televisão.

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Nunca deixe nada para
amanhã.Você pode não acordar
no dia seguinte.

Nasce o caçador
de imagens

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Nessa busca de realizar melhor o meu trabalho, fui a várias feiras de
equipamentos de televisão e rádio nos EUA (NAB - National Asso-
ciation of Broadcasters) para entender as necessidades e também a
linguagem e termos técnicos dos profissionais de vídeo e cinema. Per-
cebi logo que tudo estava na mão do cinegrafista, uma cena gravada
errada ou se não fosse gravada poderia trazer um prejuízo enorme
para a produtora.

Comecei a desenvolver técnicas e também comprar equipamentos


que ajudassem o cinegrafista a realizar um bom trabalho.

O equipamento mais importante que comprei foi um monitor peque-


no que eu fixava no painel do helicóptero. Conectava na câmera do
cinegrafista e pedia para ele apenas segurar a câmera e deixar que eu
fizesse todos os movimentos com o aparelho.

Para isso, antes de decolar eu fazia uma reunião com o diretor geral
e com o diretor de fotografia que às vezes era o próprio cinegrafista.
Eles me explicavam as cenas, a maioria tinha um storyboard (desenho
das cenas a serem gravadas). Eu fazia as manobras necessárias para
gravar o que o diretor queria e depois eu fazia alguns takes extras,
manobrando muitas vezes de forma mais agressiva para garantir os
melhores takes. Os clientes adoravam o trabalho, principalmente
por eu me envolver como um profissional de televisão ou cinema e
não como um simples piloto.

Em uma das viagens para Los Angeles vi que os pilotos de helicóptero


voavam em cima das Freeway (avenidas) informando aos ouvintes das
rádios sobre o trânsito. Guardei isso comigo para um dia usar no Brasil.

Aos poucos fui cada vez mais ingressando no mundo da aviação


captando imagens aéreas para cinema e televisão.

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Muito bem, consegui o que queria, tornei-me um piloto de helicópte-
ro, estava fazendo voos panorâmicos e para produtoras. Voava várias
horas por dia de segunda a segunda e rapidamente acumulei muitas
horas de voo em pouco espaço de tempo. Estimulado por elogios pelas
manobras que fazia nas gravações, estava me sentido fera no voo, um
grande piloto!

Aí, mais uma vez, o destino entrou em cena. Tomei um susto muito
grande que me colocou de volta no meu lugar de aprendiz. Porque
ninguém é melhor do que ninguém e precisamos manter a humildade
de saber que estamos sempre aprendendo.

Eu estava pilotando um Robinson R22, voando sem portas para o


cinegrafista poder filmar (nessa época usávamos câmera de cinema).
Fizemos várias cenas da camionete Fiorino da Fiat subindo e descen-
do a estrada para Campos do Jordão e ao terminarmos o diretor do
comercial pediu para eu dar carona a uma amiga dele, que trabalhava
na agência de publicidade.

Decolamos, fui na direção de São José dos Campos e segui pela verti-
cal da Dutra na direção de SP. Quando estava passando do lado de
Jacareí, ouvi um barulho forte na cauda da aeronave, reduzi a veloci-
dade, o helicóptero começou a entortar para a esquerda, a correção
é usar o pedal direito. Quando pisei nos pedais, vi que eles estavam
completamente soltos e o barulho aumentou. Concluí que o eixo que
faz girar o rotor de cauda havia quebrado, mergulhei para ganhar
velocidade, isso evitou que ele girasse descontrolado.

O rotor de cauda mantém o helicóptero voando reto e controlado


em baixa velocidade ou no voo pairado. Sem ele, o aparelho gira no
próprio eixo, sem controle.

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A moça da agência que estava comigo, olhou-me assustada, ela disse
depois que, para acalmá-la, eu repetia: “está tudo ok, vou pousar, não
se assuste”.

Mas sinceramente devia ser minha boca falando sozinha, porque só


lembro de mergulhar na direção de um campo de futebol, na cidade
de Jacareí, olhar o marcador de velocidade que ficou entre 60 e 70 kt
(um kt equivale a 1.850m), o resto do painel parecia preto. Eu pre-
cisava manter velocidade para executar as manobras de auto rotação
e pouso corrido necessárias para esse tipo de emergência. Entrei no
campo de futebol, por sorte não atingi nenhuma criança que estava
jogando bola na hora em que eu toquei o chão de terra e sai fazendo
manobras instintivas para não capotar, até parar alguns metros perto
da trave do gol. Desci e ainda tinha uma nuvem de poeira causada
pelo trajeto que percorri até parar, as crianças olhavam de longe as-
sustadas, as pessoas foram chegando para ver o que tinha acontecido.

Eu me sentia tranquilo, até perceber que minha mão direita estava


tremendo muito, tive que colocá-la no bolso para que ninguém per-
cebesse.

O aparelho voltou de caminhão para São Paulo, nunca mais tive con-
tato com a moça da agência de publicidade. Não sei se ela entrou em
algum helicóptero depois desse episódio.

Depois desse acidente, eu voltei a colocar os pés no chão, me conscien-


tizei de que nunca somos bons o suficiente, a qualquer momento pode
surgir algo inesperado que nos conduz de volta ao banco de “Aprendiz
do Mundo”.

Comecei a dar mais atenção à segurança de voo e manutenção das


aeronaves e nunca mais deixei o ego me acompanhar. Erros na avia-

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ção sempre produzem desde pequenos incidentes a grandes acidentes.
Qualquer coisa que precise ser reparada na aviação custa caro. Mas se
envolver vidas o prejuízo é incalculável, não existem metais preciosos
ou numerários que paguem ou reponha uma vida humana.

Nascemos e iremos morrer um dia. Enquanto estiver vivo, enfrente


tudo com determinação e valentia, usando o medo como alerta de
segurança e não como inibidor de suas ações.

Lembre-se, chegamos chorando ao mundo, então vamos sair dele sem


choro, vamos sair de cabeça erguida e com a certeza de que fizemos o
nosso melhor enquanto aqui estivermos.

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Quem planta laranja,
colhe laranja.

Um paraquedas
na minha vida

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Estava indo bem, quando o Gugu apareceu e me ofereceu a oportuni-
dade de me tornar um piloto de helicóptero para a televisão, jogando
paraquedinhas premiados no programa Domingo Legal que iria es-
trear ao vivo pelo SBT.

Era mais uma janela de oportunidade que surgia. O começo de uma


nova etapa na minha vida.

Adorei a ideia, ele era muito inteligente e sabia fazer conteúdo para
televisão e de cara imaginei a alegria das pessoas quando pegassem os
paraquedinhas com um prêmio. Depois de me deixar muito animado,
ele me disse que não havia verba para pagar os voos e que eu teria
que buscar um patrocinador para essa despesa. Bom, achei que seria
fácil e topei. Mas não foi, porque as grandes empresas não queriam
associar o produto ao programa que estava começando, achavam que
ia estragar a imagem deles.

Consegui apenas pequenos patrocinadores e o dinheiro não pagava as


horas que eu gastava usando duas aeronaves para fazer os voos, era
um para gravar e outro para jogar os paraquedinhas.

Por motivos de segurança os paraquedinhas precisavam cair em local


seguro, longe de avenidas, rios, lagos e fiação elétrica. Até conseguir
obter um formato ideal, foram muitos testes e alterações. Mas valeu
a busca pela perfeição, porque consegui desenvolver um modelo que
caísse exatamente nos locais que eu queria, onde as pessoas pudessem
pegá-los com segurança.

Jogávamos 4 por domingo. Como o dinheiro não dava, eu tinha que


aumentar a quantidade de voos panorâmicos para conseguir pagar os
voos do programa.

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O quadro foi um sucesso! A audiência subiu e começou a chamar
atenção do meio publicitário, foi quando começaram a surgir os bons
patrocínios.

Um dia, fazendo o quadro nas praias do Rio de Janeiro, o Silvio San-


tos viu da janela do apartamento como estava a comoção e alegria do
povo quando joguei os paraquedinhas, decidiu tirar os patrocinadores
e deixar só SBT e “Gugu “ na lateral do helicóptero, assumindo todo
o custo.

Os paraquedinhas me deram notoriedade e também muito problema


com o DAC (Departamento de Aviação Civil) que na época regula-
mentava a atividade aérea no Brasil.Era um órgão formado só por
militares da aeronáutica. A partir de 2005, essa atividade passou a ser
feita pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) passando a ser
composta por civis.

Eu cheguei a ser o piloto com mais multas na época por causa dos
paraquedinhas. Por mais que eu procurasse justificar, sempre achavam
uma forma de me punir. Até hoje não sei porque tinham tanta bronca
do que eu fazia, talvez porque na época era uma nova forma de usar o

91
helicóptero. Enfim, não gostavam nem um pouquinho de ver a aero-
nave, no dizer deles, “fazendo graça na TV”.

Até que em uma das trocas de comando apareceu um Coronel que


conversou comigo e foi muito correto. Estudou o meu caso, mandou
um sargento colher informações de como era a minha operação. Com
isso ele entendeu que tudo era feito com segurança e consegui final-
mente trabalhar em paz.

Acabei ficando muito amigo do Gugu, ele era um excelente profis-


sional de televisão, não tinha ego exacerbado, estava preocupado em
fazer um bom programa de TV e isso fez com que conquistasse a ad-
miração e o respeito de todos que trabalhavam no programa. Viramos
uma espécie de família “ Domingo Legal“. Graças a forma como o
Gugu liderava o programa, todos nós acabamos criando uma grande
corrente de união a favor dele. Nós nos uníamos com alegria e deter-
minação para fazer o melhor programa e conseguimos rapidamente
ser líderes de audiência, tirando o sono e tranquilidade da concor-
rente, a Globo.

Houve uma gratificação extra por todo meu esforço. O prêmio espe-
cial foi ser o primeiro piloto-jornalista da televisão no Brasil. Isso na
época chamou atenção de emissoras da Alemanha e Austrália que
vieram fazer matérias para mostrar como era o meu trabalho.

Para manter a liderança de audiência mesmo nas férias, o Gugu dei-


xava gravados os programas que seriam exibidos em janeiro, com
janelas em que eu entraria ao vivo no quadro “Notícias Urgentes“.
Era um bloco de aproximadamente 10 minutos em que eu gravava
duas ou três matérias com o que tivesse acontecido de mais impor-
tante. Durante o domingo, quando o programa começava eu decolava

92
do SBT, sobrevoando algum ponto de SP para mostrar que estava ao
vivo. Isso mantinha a tradição conquistada em que todos sabiam que
se algo acontecesse de importante o Domingo Legal mostraria.

O helicóptero estava cada vez mais se tornando uma grande estrela


do programa, sempre fazendo algo diferente. Fazíamos loucuras, entre
elas, malabarismo com uma artista de circo pendurada no aparelho
com uma corda de 60 metros de comprimento sobre a represa de
Guarapiranga em dia de vento forte; auto rotação - pouso sem motor
no campo de futebol do SBT para mostrar que era possível pousar se
o motor parasse em voo; passeio sobre o SBT com um artista de Las
Vegas pendurado pelo cabelo, enfim foram muitas...

Em um dos programas, decolamos em uma noite com chuva fina até


a Zona Leste onde havia uma imagem de uma santa que chorava. O
Gugu estava a bordo e as luzes da câmera dentro do helicóptero piora-
vam a visibilidade, mas conseguimos chegar lá mantendo as imagens
ao vivo no ar o tempo todo.

Quando pousamos, ele continuou ao vivo com a equipe de solo que


estava conectada ao SBT. Quando voltou, eu já estava com o motor
ligado e continuamos ao vivo até pousar no SBT. Essa foi uma das
participações mais tensas, porque o Gugu estava a bordo ao vivo em
rede nacional no programa líder de audiência no horário, nada podia
dar errado, somado à pressão da TV, tinha o risco de voar à noite com
pouca visibilidade.

O SBT foi a minha grande escola de TV e o Gugu um grande mes-


tre. Um excelente profissional que visava entregar o melhor conteúdo
possível para o telespectador do outro lado da tela. Tinha uma sen-
sibilidade incrível em captar e como mostrar o que o público queria,

93
ele ia do entretenimento ao jornalismo com maestria. Estava sempre
ligado em tudo que acontecia e sua preocupação com resultados levou
o programa a ser um sucesso na TV brasileira.

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Se você quer ganhar milhões,
você tem que atender milhões.
Ou fazer coisas para milhões.

Mas nem todos os


domingos eram legais

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O domingo do dia 12 de janeiro de 2003 foi um dos maiores exemplos
da ousadia e determinação que tínhamos no Domingo Legal. Nesse
dia foi o enterro de Jorge Lafond, conhecido no mundo artístico por
Vera Verão, que trabalhava no programa de humor “A praça é nossa”
do SBT.

Tudo começou no sábado dia 11 de janeiro quando o Dirlan que era


um dos diretores do programa me ligou informando que o Jorge La-
fond havia falecido e perguntou se eu conseguiria entrar ao vivo direto
do enterro no Rio de Janeiro. Liguei para o Rodrigo Mason me ajudar
nessa missão. Ele foi o meu primeiro operador de sistema de captação
e transmissão durante o voo. O Rodrigo sempre foi rápido e um ótimo
profissional, contatamos uma empresa no Rio de Janeiro para instalar
um microondas para receber o sinal do helicóptero no morro do Cor-
covado e reenviar para o receptor no morro do Sumaré e depois man-
dar para o SBT em São Paulo. Isso foi feito às pressas, normalmente
demoraria uns 3 dias para instalação e testes. O maior problema de
comunicação seria com o diretor geral Roberto Manzoni - Magrão -
que estava comandando o programa lá da sede do SBT em SP.

A comunicação era difícil, o Magrão, que estava em São Paulo, por


telefone passava orientações para um técnico da filial do SBT no
Rio de Janeiro que, por sua vez, repassava por rádio as informações
para nós. Por causa da dificuldade de comunicação, havíamos com-
binado que a entrada seria rápida. O objetivo era só mostrar para
o telespectador que o programa Domingo Legal estava de olho em
tudo que acontecesse, mesmo no período de férias.

No domingo, saí cedo, cheguei ao aeroporto Santos Dumont por


volta das 10 h. Para dar mais dinamismo à transmissão, conseguimos
um repórter que estaria no cemitério narrando a cena e seu áudio

98
era captado pelo nosso microondas. Logo que chegamos, testamos a
transmissão do sinal para São Paulo, áudio do repórter, estava tudo
ok. Aí era só esperar para decolar na hora do enterro, coincidente-
mente seria na hora em que o programa estivesse ao vivo. Quando
o programa começou, decolei do Santos Dumont, chamei a torre do
aeroporto do Galeão, responsável pelo controle do espaço aéreo na
região do Cemitério do Irajá, pedi permissão para entrar na área e
informei sobre o sobrevoo em cima do cemitério. Até aí, tudo tran-
quilo, o sinal estava chegando a São Paulo, o programa Domingo
Legal gravado entrou no ar, começou a cerimônia de enterro do
Lafon “Vera Verão”, era só esperar o diretor geral Magrão escolher
o momento da nossa entrada em que ele cortaria a programação e
colocaria no ar o vídeo do Gugu nos chamando com a vinheta do
quadro “Notícias Urgentes “.

Em determinado momento, o técnico nos avisou por rádio que en-


traríamos ao vivo em 1 minuto. Avisei o repórter embaixo, veio a
vinheta, Gugu chamou, eu entrei dando a notícia da morte e chamei
o repórter que estava acompanhando o enterro por meio do sistema
que chamávamos de “motolink“que recebia no helicóptero as ima-
gens e som dele.

O técnico entrou no rádio e disse que era para não devolver o progra-
ma, pediu para segurar até o diretor avisar, eu fiz sinal para o Rodrigo
fechar meu áudio e perguntei quanto tempo seria, para eu me ajustar,
porque a minha responsabilidade era muito grande, afinal de contas o
programa Domingo Legal era o melhor programa do SBT na época,
eu não podia errar, e o pior, eu não estava preparado para segurar
mais do que 10 minutos.

O técnico falou com SP e nos avisou que a resposta foi um palavrão

99
seguido de “a audiência está subindo, se vira e só devolve quando eu
avisar “. O coração apertou, porque foi uma sequência de “corta pra
mim”, eu já não sabia mais o que falar, ficava improvisando, o opera-
dor da torre do Galeão devia estar assistindo na tv ao enterro, porque
se divertia em ficar me chamando, eu tinha que cortar meu áudio e
responder rápido. Lá embaixo teve tumulto, pessoas pisaram em tam-
pas de túmulos que cederam, o repórter lá embaixo ficou em apuros,
fiquei mais de uma hora no ar ao vivo direto, sem trégua, foi um dos
dias mais difíceis por que já passei.

Mas consegui segurar até aparecer a gravação do Gugu no meu


monitor, pegando o programa de volta. Encerramos, voltei para o
aeroporto Santos Dumont, arrumei um hotel e agradeci a Deus pela
força que me deu e “apaguei”. Não estava em condições seguras
para voltar pilotando para São Paulo no mesmo dia. Toda essa lou-
cura acabou revertendo em audiência e ganhamos mais uma vez do
programa do Faustão.

Na terça-feira, fui reclamar com o Magrão, ele não deu atenção e


respondeu: “Parabéns!, ganhamos da Globo”. Saí da sala dele e en-
tendi mais uma vez o porquê do Domingo Legal ser o melhor da TV.
Era um programa ousado, ia “pra cima” sem medo, e essa mensagem
vinha de cima, vinha do Gugu.

Outro momento desafiador, foi quando levei a Hebe Camargo do


SBT para uma gravação do Teleton em São Bernardo do Campo.
Ela sempre alegre me chamava de “Lindinho” e falava brincando
que o meu olho verde não era de verdade, eu ria muito com as brin-
cadeiras dela.

Quando me aproximei do campo de futebol onde ela ia desembarcar,

100
uma multidão de pessoas, fotógrafos, cinegrafistas, correu para cima
da aeronave, eu decolei para que ninguém se machucasse no rotor
de cauda do helicóptero. Girei em volta do campo e combinei com
a Hebe que fosse bem rápida na descida e para isso seria auxiliada
pelo operador que gravou o voo durante o trajeto. Ele só tinha que
tirar o fone de ouvido e soltar o cinto dela rapidamente. Perguntei a
eles se haviam entendido, confirmaram que sim. Aproximei rápido,
jogando vento em cima do pessoal, que se afastou. Ela desceu rápido
e eu iniciei a minha decolagem antes que o público chegasse perto
da aeronave. Nisso, vi o Hamilton Regis Policarpo, que na época
era empresário do cantor Daniel, correr na minha direção fazendo
sinal com as mãos. Senti que tinha algo errado e parei a decolagem
uns 3 a 4 metros de altura, perguntei para o operador se ele sabia o
que estava acontecendo e ele não respondeu, olhei para trás, cadê
ele? Vi a porta de trás aberta, olhei na imagem da nossa câmera e o
vi pendurado no esqui do helicóptero parecendo um coco maduro
balançando para cair.

Desci até 1 metro do chão, com apoio do Hamilton Policarpo que


afastou as pessoas e depois ajudou o rapaz, que estava assustadíssimo e
não largava do esqui mesmo próximo do chão. Assim que ele se soltou
e entrou na aeronave eu decolei.

De cima, eu vi que a equipe do “A tarde é Sua” estava gravando tudo e


chegando ao SBT liguei para o Elias Abrão, que era o diretor daquele
programa, apresentado pela Sonia Abrão, pedindo que ele não colo-
casse no ar as imagens do ocorrido, porque isso me renderia mais uma
multa do DAC (Departamento de Aviação Civil).

Ele foi muito legal comigo, pois para não me prejudicar deixou de exi-
bir imagens do operador pendurado, o que, sem dúvida, daria muita

101
audiência. Nunca esqueci dessa ajuda.

Depois, devido ao sucesso na TV captando notícias do alto, fui pres-


sionado pelo sindicato dos jornalistas, por narrar as notícias. Consegui
obter o certificado com base no trabalho já realizado, mas mesmo as-
sim entrei em uma universidade e me formei como jornalista.

Sempre houve desafios, mas foi graças à ótima escola que foram os
anos de trabalho no Domingo Legal que me especializei para televisão.

COBERTURAS DE EVENTOS
QUE MARCARAM A HISTÓRIA DO PAÍS

Nunca vi algo como a morte de Ayrton Senna no dia 1 de maio de


1994. O corpo chegou no dia 4 de maio ao Aeroporto Internacional
de Guarulhos. Todos os helicópteros disponíveis em São Paulo foram
contratados por revistas, jornais e emissoras de TV. Eu fui um de-
les. Havia cerca de 18 equipes aéreas acompanhando o cortejo que
saiu do Aeroporto em direção à Marginal Tietê, depois Avenida Ti-
radentes, Av. 23 de maio, até a Assembleia Legislativa no Ibirapuera
para o Velório.

Nesse dia, eu estava voando com um fotógrafo da Revista Veja. Era


um voando em cima do outro, havia aeronaves nas minhas laterais,
embaixo, acima, todos próximos porque todos os fotógrafos de revis-
tas e jornais e cinegrafistas das emissoras de TV queriam ficar o mais
próximo possível do carro do corpo de bombeiros que transportava o
caixão do Ayrton Senna. Para dificultar, tínhamos que ficar pratica-
mente parados no ar porque o cortejo tinha dificuldades no desloca-
mento. Era um dia da semana, mas as escolas não conseguiram segu-
rar os alunos nas salas de aula. De cima, via crianças e adolescentes

102
uniformizados acompanhando a multidão, trabalhadores e hospitais
iam parando ao longo do caminho.

O Brasil parou para se despedir dele. Foi a manifestação popular es-


pontânea mais forte e marcante que eu vi nesses anos de trabalho
para veículos de comunicação. Essa foi a forma de o povo brasileiro
agradecer o jeito como ele levantava a bandeira brasileira nas corridas
que vencia. Era sua maneira de mostrar para o mundo que a nossa
bandeira representa o Brasil e seu povo, e não ideologias ou forma de
expressão política.

No adeus a Ayrton Senna, um piloto voando próximo do outro sem


que houvesse um acidente só foi possível graças à conexão e foco de
todos que se uniram no mesmo objetivo. Essa operação jamais seria
realizada se tivesse que ser autorizada por alguma autoridade aer-
onáutica, porque o risco de acidente foi grande.

Outra cobertura que parou o país foi no domingo dia 3 de março de


1996. Eram pouco mais de 7 horas da manhã, eu tinha acabado de
pousar no Rio de Janeiro para jogar 4 paraquedinhas premiados nas
praias da cidade para o programa Domingo Legal. Quando religuei
o celular, já tinha mensagem na caixa postal do Gugu e quando liguei
de volta, ele me disse que o avião do grupo musical Mamonas Assas-
sinas havia se acidentado e que eu deveria voltar imediatamente a São
Paulo para acompanhar as buscas.

Peguei um avião até o aeroporto de Congonhas, onde na época fi-


cava guardado o helicóptero que eu usava no Domingo Legal, era um
AS350 B . Enquanto preparava a aeronave para decolar, ia recebendo
mais informações do acidente . Lembro que fiquei muito chateado,

103
porque era difícil acreditar que o grupo que animava o palco do nosso
programa havia morrido de maneira tão trágica. Eles eram alegres
e brincalhões dentro e fora do palco, faziam uma bagunça nos bas-
tidores, nós adorávamos os dias em que eles vinham no programa
Domingo Legal. Quando apareciam no programa, permaneciam por
muito tempo porque o Ibope subia rapidamente. Eram muito disputa-
dos por todas emissoras de TV, todos os programas queriam os Ma-
monas, eles sempre eram sinônimo de boa audiência.

O meu telefone não parava de tocar, queriam que eu fosse urgente


para o SBT, desliguei o celular para não cometer erro no preparo
do helicóptero, pois sabia que seria um dia difícil e longo. A aviação
permite agilidade mas não perdoa pressa. Terminei, abasteci e decolei
para o SBT.

Toquei no heliponto do SBT, sem desligar, embarcou um cinegrafista


e um repórter. Fomos para o local do acidente na Serra da Cantareira.

Chegando lá, a imagem era assustadora, o avião cortou as árvores


como se fosse um disco de serra circular. O triste cenário mostrou que
ele colidiu tão rápido que quem estava a bordo não sentiu nada, foi
uma morte instantânea.

Não é nada fácil fazer esse tipo de cobertura, o grupo estava no auge,
além do fato do bom relacionamento que eu tinha com eles.

A morte trágica e repentina de todo o grupo Mamonas Assassinas


gerou comoção nacional e esse episódio despertou no Gugu o inter-
esse em ter sempre jornalismo no programa.

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Para ter sucesso é
preciso ser desejado.

O céu não
tem limites

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Há uma frase que diz ‘sobre o céu não ter limites’. Para mim isso era
um fato.

Prestei serviço para todas as grandes redes de televisão do Brasil:


SBT, Rede Globo, Band, Record, TV Gazeta, Rede TV, TV Cultura.

Houve momentos muito alegres como a visita do ator Van Damme


ao Brasil, ele voou comigo nos compromissos que tinha e ainda par-
ticipou do Programa Viva Ação que eu apresentava na Rede TV. É
uma pessoa muito alegre, fizemos uma boa amizade.

O programa dava bons índices de audiência e recebeu muitos ar-


tistas como Bruno e Marrone, Daniel, Banda Calypso, Gian e Gio-
vani, Netinho, entre outros. Era feito basicamente com o helicóptero
voando ou no hangar, gravado por uma equipe muito enxuta e edi-
tado pelo meu filho, Cmte Uan.

Mas algo de que gostei muito de ter feito foi uma gravação na
Amazônia. Fiquei espantado com a beleza e riqueza natural da
região. Apenas o que me entristeceu foi a grande quantidade de
enormes árvores cortadas e áreas devastadas por queimadas.

Houve também momentos de muita pressão como, por exemplo,


quando o quadro Notícias Urgentes começou a dar muita audiên-
cia, deixando o SBT em primeiro lugar nas medições do Ibope.
Apareceu o Sindicato dos Jornalistas para me pressionar por eu não
ser jornalista. Consegui o registro de repórter por serviço prestado.
Foi boa essa pressão porque me matriculei em uma faculdade e me
formei em jornalismo.

Sou até hoje o único profissional que trabalhou em 4 programas de


TV ao mesmo tempo. E o melhor, em 3 emissoras diferentes.

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1- Domingo Legal no SBT aos domingos.

2- Sonia Abrão no SBT de segunda a sexta.

3- Repórter Cidadão na Rede TV de segunda a sexta.

4- Brasil Urgente na Band de segunda a sexta.

Até hoje não sei como consegui essa proeza. Na semana, quando tinha
algo grande que durava a tarde inteira, como uma enchente ou outra
notícia que interessava a todos, eu encerrava a Sonia Abrão às 16h00
e já virava a chave do transmissor para a frequência de transmissão da
Rede TV, que ia até as 18h00, então mudava novamente e começava
a transmitir para a Band. Houve dias em que eu simplesmente pas-
sava de uma emissora para outra e continuava a matéria que havia
encerrado no programa anterior. Muita gente falava que ia pulando
de canal em canal para ver a continuidade do assunto. Isso refletia
sempre no aumento de audiência que eu ia carregando comigo. Para
não perder tempo, várias vezes cheguei a reabastecer sem desligar o
motor. Por mais que tivesse cuidado, de vez em quando eu errava e
trocava o nome do apresentador. Em um domingo chamei o Gugu, de
Datena, durante uma transmissão ao vivo.

Foram mais de 25 anos totalmente voltados ao jornalismo. Para me-


lhorar ainda mais, acabei criando o meu próprio sistema de captação
de notícias. Éramos invencíveis. Em muitos casos chegávamos antes
da polícia nas ocorrências. Pegamos ao vivo cenas cinematográficas
que hoje estão em vários vídeos nas redes sociais e podem ser aces-
sadas a qualquer momento.

O helicóptero parecia ter vida própria. Muitas vezes dizíamos que ele
achava as notícias sozinho. Várias vezes cobrimos assaltos, incêndios e

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acidentes enquanto voávamos sobre a grande São Paulo.

Mas o que definiu o sucesso do meu trabalho no jornalismo foi o co-


nhecimento. Sempre tentava ir além da informação, procurando fazer
algo que ajudasse alguém de forma mais direta e consciente.

Como o Corpo de Bombeiros acompanhava a TV eu fornecia du-


rante o jornal detalhes e informações que pudessem ajudá-los a en-
tender o que estava acontecendo nas ocorrências de acidente, incên-
dios e alagamentos.

Mais de uma vez ajudamos a salvar vidas. Lembro de uma senhora


na Zona Leste de São Paulo que estava no fundo de uma casa tentan-
do subir em uma edícula com água pela cintura, avisei o helicóptero
da polícia e ela foi resgatada; 30 minutos depois o local estava quase
coberto de água.

Outro caso foi o de um homem sequestrado na Zona Norte de São


Paulo. Passei em cima bem no momento em que ele era colocado
em um carro e acompanhamos o veículo até a polícia chegar para
libertá-lo. Estavam ameaçando matá-lo se não desse o dinheiro e ele
disse depois que estava apavorado e rezando para não ser morto pelos
sequestradores.

Também vi uma casa sendo alagada com um cachorro amarrado em


uma corrente e iria se afogar, consegui avisar o corpo de bombeiros
que foi até lá com um barco inflável e retirou o cão que estava muito
assustado. Foram várias ocorrências em que voltei para casa com a
sensação do dever cumprido.

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Estude você, descubra de
que gosta e qual é o motivo
por você ter nascido.

Meus filhos

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Eu vim ao mundo graças ao meu pai e minha mãe que me deram essa
oportunidade, tenho muita gratidão. Agradeço sempre pela educação
e sacrifício que fizeram para eu conseguir me tornar o que sou hoje.
Mas o melhor foram os exemplos de atitudes nas quais me espelhei e
que procuro seguir até hoje.

Na minha concepção, eu tinha que retribuir ao universo a oportu-


nidade para outros seres também poderem vir ao mundo. Tenho 3
filhos: Uan, Ian e o Vitor.

Criar filhos não é nada fácil, às vezes eles resistem às nossas orien-
tações desde pequenos. Mesmo mostrando que algo vai dar errado,
eles insistem, se dão mal e voltam “murchos’”, com cara de “pai, me
ajuda”. E por mais que as vezes damos broncas, nós, pais, acabamos
cedendo, ajudando e sofrendo junto. Eu sempre procuro ser neutro
e deixá-los livres para seguir o caminho deles, só vou protegendo
como um pai que corre atrás, apoiando a bicicletinha, quando o filho
começa a pedalar sem as rodinhas. Dei oportunidade para os meus
filhos serem pilotos de helicóptero, mas cada um teve a liberdade de
escolher o seu caminho.

O Uan com 12 anos entrou para valer na aviação, saía da escola, não
tinha paciência de esperar um adulto levá-lo para o hangar, pegava
o skate e ia sozinho. Realizava de tudo, e sempre procurando fazer
bem feito. Embora não gostasse da parte administrativa, controlava
até venda de combustível, eu notava que ele se esforçava ao máximo
para ficar próximo da aviação.

Com 15 anos eu o deixei preparado para voar e ele fez o seu voo
solo antes de completar 16 anos. Isso porque foi aos EUA, onde é
permitido voar sozinho com essa idade. Foi para a casa de um amigo,

114
o Bob, na Califórnia, para frequentar uma escola no aeroporto de
Van Nice. Estudou tanto que tirou a melhor nota no curso teórico,
recebendo uma menção no quadro de avisos de lá. Aprendeu a voar
com os ventos fortes que sopram nos desertos da Califórnia e depois,
quando completou 18 anos, tirou as habilitações de piloto profissional
no Brasil. Tornou-se aviador antes de se formar em Engenharia Me-
catrônica, o que ajuda muito no gerenciamento da manutenção dos
helicópteros. Uan sempre foi mais sério e direto, não gosta de coisas
erradas, lembra um pouco minha mãe.

O Uan pegou com muita facilidade o formato do helicóptero na TV


e em uma época que eu atendia novelas e programas de praticamente
todas as emissoras, ele me ajudou muito. Conseguíamos atender com
o mesmo nível de qualidade mais de um cliente ao mesmo tempo.

O Ian, quando era pequeno trabalhava comigo no hangar, foi opera-


dor do sistema do helicóptero. Os técnicos da Band chamavam-no de
“Micro Câmera”, porque era praticamente uma criança, mas era o
melhor, muito ágil para operar a câmera e superava todos os nossos
operadores adultos. Começou a aprender a pilotar, mas decidiu fazer
o curso de direito e hoje é um excelente advogado com seu próprio
escritório. Quando converso com clientes dele, sempre elogiam sua
capacidade. É inteligente, alegre e comunicativo, características de um
excelente profissional e pessoa.

Aliás, meus filhos Uan e Ian, me ajudaram muito. O Uan pilotava


o helicóptero Robinson RH44 e o Ian operava os equipamentos de
captação e transmissão de imagens . Eles atendiam o plantão da
manhã que era das 06h00 até as 12h00, nesse período atendiam ao
jornalismo e à produção dos programas do SBT . Eu e mais um op-
erador fazíamos o plantão da tarde, que era das 12h00 até as 20h00.

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Os dois sempre foram responsáveis e excelentes no que faziam e fazem,
mas confesso que ficava preocupado. Queria que eles trabalhassem e
adquirissem experiência. Mas eram dois filhos juntos em uma ope-
ração que não permite erros, isso sempre me deixava preocupado, era
um alívio quando terminavam o plantão.

O Vitor é o filho mais novo. Muito inteligente e rápido para aprender,


desde pequeno convive com o helicóptero e já trabalhou com o irmão
mais velho Uan nos jornais da manhã da Record como operador. Tem
habilidade para idiomas, gosta de matérias exatas e sempre foi um
bom observador e analisador de espaço e pessoas, isso o faz ser muito
comunicativo e cortês com todos com quem conversa. Essas carac-
terísticas são natas e poderão ajudá-lo muito no futuro. Terminou o
colégio bilíngue e escolheu cursar Engenharia.

Procuro não interferir nas decisões que toma, apenas mantenho vig-
ilância para ajudá-lo a manter o foco e fazer a melhor escolha.

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Escolha bem o lado em que deseja
ficar neste mundo, o lado positivo
ou negativo é determinado pelo
tipo de ação que executamos.

A energia da vida

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Em abril de 2020 no Zimbabwe, sul da África, Maurina Musisinyana
pula em cima de um crocodilo para arrancar de sua boca o filho de
3 anos que estava sendo levado. Ela conseguiu salvá-lo e enquanto
lutava com o animal teve apenas a mão direita ferida.

Naquele momento não pensou em nada além de tirar o filho da boca


do animal selvagem, por isso teve sucesso. É só de que precisamos
para ativar nossa energia, foco, motivação, acreditar no resultado que
desejamos e tudo acontece.

Esse é apenas um dos muitos exemplos do uso de uma força desconhe-


cida e sobrenatural utilizada pelos seres humanos em diferentes situa-
ções, é como se fosse uma explosão energética em um momento deci-
sivo entre a vida e morte de alguém. Uma espécie de última chance;
se não acontecer, alguém muito querido perde a vida. Na maioria das
vezes são os pais fazendo algo inexplicável para salvar um filho.

Mas de onde vem essa força? Eu aprendi a chamar essa força desco-
nhecida de Energia da Vida.

Pelo nível de dificuldade que o gameta masculino enfrenta para che-


gar até o óvulo, tudo leva a crer que essa força vem dentro dos game-
tas masculinos, ganha quem fizer melhor aproveitamento dela. Essa
energia encontra o óvulo feminino e inicia o milagre da multiplicação
de células até a formação de um bebê. Seguindo essa linha de racio-
cínio conclui-se que a energia está em todo corpo humano e pode ser
ativada a qualquer momento, só ter consciência de sua existência e
usá-la.

Passei a treinar minha mente por meio de meditações e outras técni-


cas para usar minha energia. Para acessá-la é só querer e pedir que
entre em ação. O difícil no dia a dia é manter o foco, isso exige treino,

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porque somos bombardeados diariamente por uma enxurrada de dis-
trações e ilusões.

Quando surgia uma dificuldade eu agia como uma criança que não
vê limites e nem barreiras impossíveis. Tratava como uma etapa a ser
superada e lutava até vencê-la.

Para isso, criei para mim uma base de princípios que chamo de as 3
lições, que vou descrever a seguir.

1ª. Lição
A corrida dos 50 milhões
Quando escolhi ser um piloto, era muito pequeno e não tinha ca-
pacidade de ver as dificuldades que existem para conseguir fazer o
curso, principalmente as aulas práticas que são caríssimas. Um piloto
profissional para se formar precisa de no mínimo 100 horas, para ter a
cobertura do seguro, ou seja, para conseguir o comando de qualquer
aeronave precisa ter no mínimo 500 horas de voo. Se não tivesse re-
cebido essa carga de dificuldades, provavelmente teria desistido antes
de começar. Quer dizer, as dificuldades por que passei ajudaram-me a
sair à frente na corrida por essa profissão.

Eu já havia vencido a grande corrida dos 50 milhões, talvez tendo com


minhas dificuldades na infância obstáculos e barreiras, acabei sendo
largado mais longe do que os outros competidores. As dificuldades
me capacitaram para assumir o que conquistei, mas isso foi graças à
descoberta da mensagem que estava contida naquele livro sobre re-
produção humana já citado.

Repito, para um gameta masculino fecundar um óvulo ele poderá ter


de 50 milhões até 300 milhões de concorrentes. Ou seja, quem con-

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seguiu nascer é muito bom, mas não sabe. Se não sabe, não usa. Ler
sobre isso naquela obra abriu meu olhar a buscar conhecimento e
aprimorar minha corrida.

Confesso que consegui no máximo 10% desse conhecimento adquirido.


Isso porque, sempre que tentava falar em energia e poder além do físi-
co, ficava isolado, não tinha com quem conversar. Não existe hábito de
explorar os poderes além da normalidade cotidiana e material. Desde
pequeno, a curiosidade sobre energia era uma constante. As respostas
dos adultos levavam em conta temas religiosos e ritualísticos. Não eram
essas as minhas dúvidas. Concluí, vou em frente, mesmo sem referên-
cias. Mantive o foco e, todas as vezes que encontrava dificuldades, vol-
tava para dentro de mim mesmo, e fazia como um engenheiro que reav-
alia os projetos, faz os ajustes e volta para concluir. Os projetos da nossa
vida estão dentro da nossa mente, projetamos e realizamos.

Quando não estiver bem, volte para a mente e reprograme o seu pro-
jeto. No fundo, sem saber, seguia os ensinamentos de Buda, para mui-
tos essa aprendizagem é espiritual: “A solução está dentro de nós”.
A energia da realização está sempre dentro de nós, só precisamos
acioná-la com nossa mente. Para acionar é só se afastar das distrações
e ilusões e acionar o dispositivo: eu quero!

Isso serve para qualquer profissão, porque cada um nasce para fazer
algo neste mundo. Só temos que descobrir o que é. As dificuldades
para conseguir são apenas o preparo, os melhores profissionais são
aqueles que encontraram as maiores barreiras até a conquista.

Todas as profissões ou atividades são importantes, algumas têm mais


destaque e popularidade, mas isso não as torna melhores ou piores.
Em uma empresa, o CEO é tão essencial ou importante quanto quem

122
limpa o banheiro, a diferença entre eles é que o CEO está mais ex-
posto e tem responsabilidades e obrigações para manter o bom funcio-
namento e eficiência da empresa. Mas como ser humano são iguais,
porque um vírus, quando ataca, não escolhe padrão ou título social,
ataca corpos humanos.

Seja estrategista, faça uma auto análise, conheça a si próprio, resolva


primeiro você e depois o resto. Comece de dentro para fora, porque
nada segura uma pessoa determinada e bem intencionada. A boa
intenção é importante, porque traz ajuda externa para atingirmos o
nosso objetivo.

Escolha bem o lado em que deseja ficar neste mundo, o lado positivo
ou negativo é determinado pelo tipo de ação que executamos.

Procure desenvolver e sentir sensações acima dos 5 sentidos. Já foi pro-


vado por experiências científicas que somos ondas e partículas ao mes-
mo tempo. Eis a energia de que falamos porque o ser humano não
enxerga ondas, só enxerga partículas. O olho humano é limitado. Sinta
o mundo e tudo que aqui existe, veja além do que seu olho vê.

Não gaste energia lamentando ou desejando mal para alguém que te


prejudica ou prejudicou, todos são importantes para nós.

Agradeça sempre quem te ajuda e quem te prejudica e siga em frente,


foco no objetivo e ele virá até você mais rápido.

Não viemos ao mundo a passeio ou a lazer, viemos para produzir ou


aprender, aqui é uma grande escola.

Como acima citei, a energia está na ação de olharmos para dentro de


nós mesmos e, assim, a solução virá, eis a 1a. lição que vem desde a
concepção.

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2ª. Lição

Ação e Reação

A lei da Ação e Reação foi a minha conclusão de que o corpo humano


foi projetado para fazer coisas. Ou seja, ele faz algo e recebe algo. Faz
a ação e tem para si a reação de forma consciente ou inconsciente.
Todos nós, desde o nascimento até a morte, vivemos no processo con-
tínuo de fazer para receber. Primeiro faz e depois recebe. Esse é o
nosso formato, fomos projetados para funcionar dessa forma. Não há
outro jeito, somos como uma máquina, só operamos nessa função, faz
para receber.

Essa é a metodologia ou formato, e é aplicada para tudo que existe


aqui na terra ou no nosso plano existencial. A vida só existe no movi-
mento e esse movimento é o de ação e reação; quando esse processo
cessa, nada acontece e, ao cessar, pode explicar a morte ou encerra-
mento de algo.

O que aprendi durante os meus anos de vida, precisa ser ensinado


para ajudar outros a conseguirem vencer também, principalmente
nossas crianças e adolescentes.

As boas ações que me ajudaram, então, foram recebidas como en-


ergia. Para dar a outros essa ação, portanto uma reacão, criei uma
coleção de revistas educacionais para serem distribuídas nas minhas
visitas e palestras em escolas. Dar e receber. Aprender e ensinar.

A aprendizagem dada a uma criança, que é como um computador


novo e precisa de cuidados com hardware (corpo) e da inserção de
bons programas na parte de software (mente), é fundamental. Uma
criança se molda com bons exemplos, educação e saúde. Essas revistas

124
e palestras a crianças são minha contribuição pelo tanto que também
recebi de educadores como já falei nos relatos sobre as escolas que
frequentei.

Sabemos que uma sociedade ou país só evolui quando tem como


prio-ridade o investimento em suas crianças. Isso garante lá na frente
um país melhor para todos os seus habitantes. A minha vida deu
uma grande virada com a ajuda que recebi por ter boas escolas. En-
tão, por isso, sempre gostei de ajudar e proteger as crianças, lembro
que mesmo quando eu era criança cuidava e protegia os mais novos.
Criança pra mim é uma espécie de anjo recém chegado a esse mundo.
Os primeiros anos de vida vão definir o tipo de adulto que a criança
será no futuro. Só teremos um país bom para todos brasileiros viverem
quando a prioridade dos investimentos públicos for para formação de
nossas crianças.

Minha oportunidade com o programa Domingo Legal, aumentou


minha relação com as crianças. Elas vinham de outros estados para
conhecer o piloto do programa do Gugu. Não sei se foi por causa
do helicóptero ou a ação de jogar paraquedinhas com prêmios que
chamou tanta atenção do público infantil. Com certeza também era a
energia da ação e reacão de que venho falando.

Dessa relação, nascia então a Turma do Cmte Hamilton. Escrevi 12


revistas educativas em quadrinhos, abordando temas importantes de
comportamento, segurança, meio ambiente e outros. Temas de que,
como morador de uma favela, vi bem de perto.

Distribuí essas revistas nos últimos 20 anos para crianças e adolescentes


nas visitas e palestras que realizei em escolas pelo Brasil. É pouco, mas
tenho certeza de que consegui ajudar várias delas a terem foco e con-

125
seguirem um destino melhor para elas com minhas histórias e apoio
nas escolas. Em algumas em que havia espaço eu levei o helicóptero,
as crianças ficaram muito felizes, e isso é sem dúvida gratificante.

Durante minhas visitas e palestras para crianças, sinto no brilho do


olhar e nos gestos a força da energia gerada pelas crianças. Nossas
crianças só querem atenção, proteção e apoio dos adultos. As me-
lhores energias que já recebi de reações das minhas ações foram em
escolas; quanto mais pobre e simples é a escola, maior é a energia
produzida pelas crianças, sinto que a muitos eu consegui ajudar a
mudar o destino por meio de minhas palestras e revistas educativas
que entreguei.

Eis a 2a. lição: você recebe, como recebi das madres, da Dona Anto-
nia, das boas escolas, e dentro de sua possibilidade você reverte bons
ensinamentos a outros..

3ª. Lição
Energia da Vida
A Energia que nos fez vencer a corrida dos 50 milhões ainda está den-
tro de nós, provavelmente acessa todas as partes do corpo humano.

O comando para acionar essa Energia está dentro da nossa mente,


não existe no corpo humano nenhum lugar mais apropriado para ter
acesso ao controle de algo tão poderoso. Muita gente nasce e morre
sem usá-la; outros a usam, mas de forma inconsciente, dando dife-
rentes nomes para ela, força de vontade, motivação, querer é poder
etc. Embora o nome não tenha importância, mas sim a consciência de
que temos dentro de nós um poder ilimitado.

É ilimitado, limitada é a parte física, ou seja, o corpo humano, assim

126
como os nossos cinco sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar).
É preciso mais.

O corpo humano está preparado para viver e realizar atividades ape-


nas na superfície do planeta Terra, não sobrevive sem equipamentos
dentro da água ou no ar. Um exemplo prático disso é a dificuldade que
os astronautas enfrentam para voar no espaço. E veja que eles apenas
ficam girando em volta do planeta Terra como mosquitos em volta de
uma fruta. O que parece limitação é uma corrida para a superação,
para aprendizagem científica, para ativar nossa mente. Agora a mente
humana ainda é um mistério, ela possui poderes que ainda nos sur-
preendem.

Há muitas teorias a respeito da mente muito por conta da inteligên-


cia artificial. Seriam as máquinas inteligentes? Teriam, então, mente,
consciência e até inconsciente? Algumas teorias trabalham nesse sen-
tido justamente para entender as máquinas. Bem, essas teorias estão
em vários livros pesquisados por Lucia Santaella, Dora Kaufman,
Roseli Gimenes, entre outros. Elas ajudam a pensar as questões mais
poderosas da mente como tentarei mostrar abaixo.

Quanto mais pesquiso sobre a mente humana, mais certeza tenho de


que ela guarda algo muito especial, um poder que nos foi dado para
vencer e superar qualquer barreira que surja na nossa vida. Só precisa-
mos querer acionar o sistema operacional e dar início ao processo de
materialização ou realização do que desejamos. Muitos seres humanos,
ao longo dos séculos, foram apontando aprendizagem sobre a mente.

Esse poder parecer estar adormecido, são poucos os que conseguem


atingi-lo ou ter consciência de sua existência. Assim como treinamos
nossos músculos para ter mais eficiência e força física, também pre-

127
cisamos exercitar a nossa mente para que ela ative a nossa Energia da
Vida. Como?

Sabemos que a mente humana viaja no tempo e no espaço com ve-


locidades instantâneas. Nossa mente é um gerador poderosíssimo.
Nada neste plano existencial supera a força da mente humana. Só pre-
cisamos usar com sabedoria para não despertar a ira de outros seres
humanos que não conhecem a força da mente e nunca terão acesso
a esse poder. A maioria da população está focada em viver e absorver
apenas o que vier por meio dos cinco sentidos do corpo humano: a
visão, audição, olfato, paladar e tato. Para a liderança do planeta não
interessa haver pessoas despertas, quanto mais materialistas ou aliena-
das melhor para serem controladas. Muitos diriam que essa energia é
a inteligência e que ela pode ser indesejada porque com ela os seres
não são manipulados com facilidade.

Apontei na 2a. lição que toda ação gera reação, por isso na ação há
necessidade de haver o desejo, ou seja, as ações que geram desejo po-
dem ter mais chances de reações positivas.

Se a ação não for desejada, não terá efeito. Veja o exemplo dos pais
que fazem de tudo para um filho e não obtém reconhecimento. Mui-
tas vezes o filho até se irrita com a ajuda. A paternidade cria um desejo
de realização porque há a necessidade de bons resultados.

Não é diferente de almejar o sucesso. Como o sucesso vem? Vem da


ação que contém desejos, por isso, é preciso criar algo que seja desejado.

Essa regra serve para qualquer segmento, quando mais desejado


for um produto ou serviço, mais sucesso ele terá. Veja exemplo dos
grandes artistas e empresários através dos anos, quanto mais fãs ou
consumidores impactaram, mais sucesso tiveram ou ainda têm.

128
Desperte o desejo, deixe que venham até você e queiram muito o
que você oferece. O produto ou serviço oferecido promove a ação e
a receptividade do consumidor ou pessoa impactada, provoca uma
reação. A energia da reação é materializada de várias formas: fama,
sucesso financeiro e satisfação espiritual etc. A quantidade de energia
gerada na reação é proporcional ao benefício causado pela ação.

No caso das ações que causam mal a uma ou mais pessoas, a reação
vem também proporcional ao número de pessoas atingidas. Nesse
caso, também, a quantidade de energia gerada é proporcional ao mal
causado pela má Ação.

Eis a 3a. lição: partindo da 1a. lição que é a própria corrida que você
vence ao nascer, criamos com a 2a. lição ações que provocam reações
porque desenhamos desejos que podem ser bem aproveitados e que
se transformam em energia de vida, de sucesso, de aprendizagem,
de amor.

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Busque dentro de si as
soluções e força para vencer.

Agindo para
o sucesso

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VISUALIZAÇÃO

Antes de levantar da cama, acordo, fecho os olhos e planejo o meu


dia. Faço uma sequência mental, escolhendo a melhor rota até o mo-
mento em que estarei deitado novamente para dormir. Se tenho algo
muito importante para fazer, dou mais atenção, vejo na mente o pro-
blema ou obstáculo sendo resolvido da melhor forma. Fazer na mente
é como desenhar a planta de uma casa. Com um bom projeto fica
mais fácil construir ou materializar. Durante o dia, procuro manter na
mente a sequência que imaginei. Normal ter desvios e muita dificul-
dade, quando comecei essa prática, foi difícil porque as distrações e
tentações são sempre muitas.

FOCO E RESILIÊNCIA

Para mim o que define o sucesso e a conquista de um objetivo é o foco


e a determinação, o resto é consequência. Quanto maior for o obstá-
culo, maior será o prêmio ou resultado após sua superação.

DESCUBRA O OBJETIVO E FAÇA O SEU MELHOR

Coisas boas são difíceis de se conseguir, como ouro e o diamante. Se


fossem fáceis de achar não teriam valor.

Aprendi a buscar coisas valiosas sem olhar para as dificuldades porque


conseguir o melhor ou o “mais ou menos” dá quase o mesmo trabalho.

Sei que as derrotas que surgirem apenas irão me fortalecer, pois elas
são um sinal de que não estou pronto para o que estou buscando,
significa que estou sendo moldado ou preparado para suportar o peso
ou responsabilidade do que irei conquistar.

Um grande troféu exige força e habilidade para segurá-lo. E isso só

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se adquire por meio da superação das dificuldades encontradas no
caminho para uma vitória. Quem nos fortalece e melhor nos ensina é
um obstáculo. Nunca reclame! Aceite-o e o absorva, agradeça por ele
surgir na sua vida. É o seu combustível para vencer, use-o a seu favor.

POR QUÊ ? PRA QUÊ?

Quando era criança, como já disse antes, não tinha resposta para
várias perguntas, sentia que os adultos me enrolavam com respostas
como “é assim mesmo”, “só Deus sabe”, “isso é coisa de Deus”, “um
dia você vai saber” etc. Quando tinha uns 15 anos, resolvi buscar mi-
nhas respostas e me fixei em: Quem somos? Por que estamos aqui? Li
muitos livros de filosofia, antropologia, ficção etc e de cada um tirava
algo para montar o quebra-cabeças.

Tudo que faço, questiono antes: Por quê? Para quê? dependendo da
resposta, não faço, não perco tempo e sigo em frente.

Escolho primeiro dentro da minha mente o cargo ou função que


desejo exercer neste mundo. O grande aprendizado e acúmulo de
experiência será a descoberta dos caminhos que me levarão ao meu
objetivo. Portanto sou senhor do meu destino e nunca deixo que al-
guém escolha o que eu devo fazer ou como deveria ser.

DISTANCIAMENTO DO PROBLEMA
Olhar de cima

Sempre que tenho algo a resolver, decolo mentalmente e me afasto até


conseguir enxergar tudo que envolve o objeto ou assunto a ser anali-
sado. Giro em volta observando com calma todos os ângulos possíveis
para compreender como os outros envolvidos podem estar vendo a
questão.

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É uma forma de conseguir harmonia e tranquilidade para ter sucesso
em algo que envolva a decisão ou trabalho de outras pessoas porque
não existe forma errada de ver algo, apenas pontos de vista diferentes.

Busco tomar uma decisão que seja justa e correta sem me importar
com o resto. Quem age com retidão não tem o que temer e nem o que
justificar.

Tento descobrir se é realmente o melhor para mim e se estou preparado


para assumir o que pretendo. É importante saber se estamos no tempo
certo para concretizar algo. Nesse plano em que vivemos, é muito im-
portante e nada acontece antes ou depois do momento correto.

ABSORÇÃO DO CONHECIMENTO

O dia é como um grande copo de liquidificador. Tudo que captamos


por meio dos nossos cinco sentidos são jogados nele e a noite, quando
dormimos, o que foi processado é transferido para nossa mente.

As coisas boas e más que ingerimos vão moldando a nossa forma de


ser e viver enquanto estamos aqui. Baseado nesse fato, escolha o que
você ingere.

Tudo que você faz ou presencia, por menor que seja, interfere no re-
sultado final. Consuma bons filmes, livros, boas músicas, imagens e
selecione veículos de comunicação confiáveis. Cuidado com as falsas
narrativas.

Seguindo esse raciocínio e forma de viver, entrei no novo formato de


comunicação de massa que são as redes sociais. Elas trouxeram liber-
dade de expressão e a quebra do monopólio da informação que exis-
tia.

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O povo brasileiro está nas redes sociais e eu gosto muito de estar junto
com ele, porque eu sou fruto dele.

SEJA FLEXÍVEL PARA NÃO QUEBRAR

É necessário movimento para que haja vida, mas muitas vezes ele é
brusco e inesperado. Gera impacto e se for forte pode nos tirar do chão
ou trazer danos irreversíveis. Por isso é importante sermos flexíveis,
a exemplo de um bambu que não se quebra por mais forte que o
vendaval seja, ele flexiona e se adapta às condições. Mesmo conceito
japonês de usar a força do inimigo a nosso favor.

Ser maleável de forma prática é se adaptar a cada alteração que hou-


ver. Não perder tempo reclamando ou questionando o porquê o desti-
no lhe fez algo. Se foi merecido ou não, isso não importa e não ameni-
za o efeito sobre você. Receba como uma nova realização ou situação
a ser resolvida, use o que tiver à disposição como arma ou defesa, reaja
com determinação e vontade, busque dentro de si as soluções e força
para vencer. Com o tempo isso cada vez mais se tornará um hábito na
sua vida, tornando-o um vencedor

A vinda para São Paulo me fez aprender que tudo pode mudar de
forma repentina, No meu caso, isso ocorreu quando eu tinha apenas
6 anos e no começo não entendia o que estava acontecendo, chorei
muitas vezes sem que ninguém visse. Com o passar do tempo com-
preendi a necessidade de me adaptar à nova vida sem meus pais e de-
pois disso nunca mais tive dificuldade em enfrentar mudanças bruscas
na minha vida, por pior que fossem. Perda de emprego, contratos, pes-
soas, enfim, aprendi a aceitar tudo rapidamente e tomar as decisões
necessárias para obter o melhor resultado, usando o problema como
combustível para realizações.

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A soma dessas experiências moldou quem sou hoje. Aliás, o Cmte
Hamilton também moldou o Hamilton, como já disse acima.

AUTOPRESERVAÇÃO
Em momentos difíceis, sigo o conceito: primeiro resolva você; depois,
se preocupe em ajudar quem está ao seu lado.

Como em casos de emergência em aviões, primeiro coloque a sua


máscara de oxigênio, depois você ajuda a colocar a de quem estiver ao
seu lado. Isso não é egoísmo, mas a melhor forma de garantir a nossa
sobrevivência e dos que dependem de você.

Não tente carregar ninguém, ajude sempre, mas nunca assuma as res-
ponsabilidades do outro. Você é como um pássaro, pode até ajudar,
mas não pode voar com outro pássaro nas costas.

Escolha boas companhias para seu convívio, fuja de pessoas que que-
rem roubar a sua alegria e motivação.

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Bons pensamentos e as boas
frequências têm impacto
direto na nossa saúde física.

Vida e Corpo

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Eu gosto da teoria da física quântica em que a vida não teria fim e
sim mudanças de fase ou planos existenciais. Como tudo tem começo,
meio e fim, vivenciamos o mundo material por meio de um corpo
humano que nasce, cresce e morre. A morte seria só o abandono do
corpo humano para seguir para outro plano, equivalente à evolução
espiritual de cada um.

Seguindo esse raciocínio, cada um já chega ao mundo com sua viagem


pré-programada. O grande desafio e aprendizado estão em seguir o
planejamento sem ser afetado pelos desvios e armadilhas que surgem
no caminho. Portanto, vá à sua essência, conheça o verdadeiro eu que
está dentro de você, ele lhe indicará o que fazer para cumprir a sua
missão da melhor forma possível.

As tentações e distrações são muitas, é como entrar em Las Vegas e


não jogar, porque há caça-níqueis até nos banheiros. Assim como essa
cidade foi construída para fazer você participar de algum jogo, o pla-
neta Terra foi montado para não deixar você vencer com facilidade.
Se não fosse dessa forma, não haveria aprendizado. Aqui é escola da
vida ou campo de batalha. Ninguém veio a passeio, veio para lutar e
cumprir seu propósito. Fuja das distrações e ilusões materiais.

Nascer não é fácil, tem uma fila enorme de seres querendo vencer a
difícil disputa do nascimento que tem entre 50 milhões até 350 mi-
lhões de competidores. E nós que aqui estamos vencemos essa batalha.
Não podemos desperdiçar essa oportunidade, ela é muito valiosa, faça
valer cada minuto da sua vida!

Descubra qual é a sua missão. Essa descoberta está associada a uma


sensação de prazer e bem - estar. Siga os sinais e descubra qual é o seu
propósito de vida.

142
Cumprir a jornada que foi pré-programada antes do nascimento
realmente não é nada fácil. Quem falha, volta para a longa fila ini-
cial de ingresso neste plano, virá em condição pior, com mais desa-
fios para vencer e vai repetindo tentativas até conseguir e seguir para
um nível acima.

Nada é por acaso, tudo tem propósito e justificativa de ser como é.

Em pleno século 21, o conhecimento está disponível para todos por


meio do mundo globalizado da informação. As dicas e orientações são
para todos os níveis de compreensão. Acabou a desculpa, é só querer.
Inclusive, isso é um sinal claro de que estamos em uma espécie de final
de curso em que a escola fornece todas as chances para o aluno que
deseja passar o ano. Só repete quem realmente não quer passar ou
quem não adquiriu o aprendizado necessário para o degrau acima.

FREQUÊNCIA ELEVADA
Como já foi comprovado por vários experimentos na física quântica,
seres humanos são formados por energia e partículas, isso significa
que os bons pensamentos e as boas frequências têm impacto direto na
nossa saúde física.

Portanto, para ter uma boa saúde, é fundamental se afastar de tudo


que nos deixe tristes ou deprimidos.

Procure contatos com a natureza, suas frequências e vibrações são ele-


vadas e nos puxam para cima. Pise descalço no chão pelo menos 2 ou
3 vezes por semana. Coloque a mão nas árvores sempre que puder,
principalmente após uma reunião tensa de negócios ou discussões.
Lembre-se, somos energia, o contato com a natureza descarrega a
energia negativa que está dentro de nós.

143
No fundo, somos como uma espécie de computador, refaça sua pro-
gramação, definindo aonde quer chegar e vá realizando ações que
te levem ao objetivo que deseja alcançar, sempre com alegria e boas
pessoas ao seu lado.

SAÚDE

Quando comecei na aviação, a primeira coisa que fiz foi o exame mé-
dico obrigatório para piloto de helicóptero e avião. Na época, era feito
no Hospital da Aeronáutica, com duração de três dias. Eles eram mui-
to exigentes. Vi pessoas sendo reprovadas por problemas de audição,
de visão e outros precisaram fazer operação para corrigir desvio do
septo nasal. Isso despertou em mim a preocupação por manter uma
ótima condição física para sempre ser aprovado.

Atualmente, os exames são realizados em clínicas médicas autorizadas


pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). São anuais até 60
anos de idade e depois passam a ser semestrais para pilotos profis-
sionais.

Todo helicóptero para ser homologado, ou seja, para receber as certi-


ficações necessárias para voar, precisa ter um manual do piloto e um
de manutenção que é usado pelo mecânico da aeronave. Os manuais
vão sendo atualizados sempre que surgem correções ou alterações.

Na aviação existe um manual específico para cada modelo de aeronave.

Exatamente o que acontece com o ser humano, o que é bom para um


nem sempre é bom para o outro. Nesse caso, é que entram os profissio-
nais da saúde para ajudar na montagem de um programa individual.

Usando como referência o manual da aeronave, criei um manual

144
de saúde para o meu corpo físico. Ao longo dos anos, fui adaptando
exercício físico e alimentação ideal para o momento que estava vi-
vendo ou trabalho que estava realizando.

Apenas como referência e principalmente para despertar no leitor a


vontade de se cuidar e talvez até montar o seu próprio programa de
saúde, vou descrever alguns itens do meu.

LIMÃO

Ingerir limão em jejum é recomendado pela medicina hindu e tem


como principal benefício aumentar a imunidade e ativar o metabolis-
mo. Logo que acordo, espremo um limão e tomo com um um canudo
para jogar o suco direto na garganta, sem tocar nos dentes, porque
pode prejudicar o esmalte dos dentes, podendo gerar cáries e hiper-
sensibilidade.

ÁGUA

Alguns minutos depois de ingerir o limão, tomo dois copos de água


mineral com PH acima de 9 na temperatura de 25ºc. Durante o dia,
bebo de 2,5 litros de água mineral com PH acima de 9. É bom agitá-la
antes de tomar, o movimento dá mais energia para a água. Lembre-se,
a vida está no movimento!

A água é o principal elemento desse plano em que vivemos. 75% do


nosso planeta é água. Uma pessoa que pesa 65 kg tem em média 45
kg de água no corpo. Isso porque ¾ do corpo humano é água. Uma
pessoa consegue ficar 28 dias sem comer, mas apenas três dias sem
beber água.

145
ALIMENTAÇÃO
A partir de 2019, para aumentar a minha imunidade, passei a conge-
lar limão e com um ralador, raspo a casca dele e bato no liquidifica-
dor junto com água de coco natural, proteína vegetal, mais uma fruta
que vou variando entre abacate, banana e mamão, bato tudo por um
minuto e tomo com 2 fatias de torrada.

Quanto à alimentação em geral, sempre procuro comer alimentos


de fácil digestão e que façam bem para a saúde. Fujo de alimentos
industrializados que têm apenas sabor e cheiro gostoso, mas que não
são saudáveis.

CHECK UP E VITAMINAS
Estou sempre atualizando os meus exames médicos para saber que
vitaminas ou suplementos devo tomar para manter a minha máquina,
corpo humano, sempre em boas condições operacionais. Indepen-
dente da idade, o ideal é fazer um check up completo uma vez por
ano sempre no mesmo médico.

No helicóptero, eu tenho o hábito de ter o meu mecânico de con-


fiança; na saúde faço o mesmo. Dessa forma, o médico, que já me
conhece, me indica, sempre baseado nos
meus exames, as vitaminas que devo
tomar com regularidade para manter a
imunidade elevada e manter a boa forma.

EXERCÍCIO FÍSICO
Ao longo da minha vida, fui alternando
minhas atividades físicas. Quando era

146
criança, corria muito, depois
passei a jogar futebol e fazer
algumas escaladas, subia em
tudo que podia. Adolescente,
pratiquei Karatê, para auto-
defesa e controle das minhas
emoções. Após os 20 anos,
a corrida foi o meu desafio,
corria quilômetros, com o passar dos anos veio a natação. Atualmente,
para evitar desgaste, eu estou nadando, fazendo caminhadas e pilates.

Cada um tem um tipo de exercício que lhe faz bem, geralmente cami-
nhada é o mais adequado para a maioria das pessoas. O importante
é fazer algo, comece devagar, faça com prazer. O começo sempre é
difícil, mas aos poucos o corpo vai aceitando e mais tarde ele passa a
exigir de forma prazerosa os exercícios constantes.

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A diferença entre chefe e líder é
o poder que um líder possui de
unir todos no mesmo propósito.

Ninguém voa
sem um bom apoio
em terra

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Desde o dia em que saí de Minas Gerais até hoje, sempre tive um
apoio e ajuda para todas as minhas conquistas. Muitos que me
ajudaram, provavelmente nem sabem que me ajudaram. O apoio
pode vir de forma direta ou indireta. O fato é que aprendemos muito
com as outras pessoas, o importante em um aprendizado é saber o
que podemos aproveitar e o que devemos evitar. Douglas Tavolaro
foi um dos grandes líderes que conheci na televisão, fez o departa-
mento de jornalismo da Rede Record ser o melhor e mais ágil do
Brasil com filiais nos pontos mais importantes do mundo. A dife-
rença entre chefe e líder é o poder que o segundo possui de unir to-
dos no mesmo propósito, isso o Douglas fez com maestria enquanto
esteve na Record. No dia 14 de janeiro de 2019, deixou a Record
para montar a CNN Brasil em que atuou como sócio-fundador e
CEO. Em março de 2021, Douglas Tavolaro deixou a CNN para se
dedicar a projetos editoriais no exterior.

Vou destacar mais três profissionais de conhecimento público que,


fora o Gugu, me ensinaram muito nos meus vários anos de televisão.

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DATENA

Datena (José Luiz Datena) é o co-


municador que melhor soube usar
o helicóptero, acompanhava as
imagens transmitidas pela nossa
câmera em um monitor que ficava
de frente para ele no estúdio. Sa-
bendo disso, eu trabalhava atento a
tudo que acontecia. Toda vez que tinha algo interessante eu dirigia
o meu operador para fazer uma sequência de imagens que mostrava
para o Datena o que estava acontecendo e o que poderia acontecer.
Datena, mesmo apresentando outro assunto durante o programa,
olhava e entendia o recado. Isso fez com que mostrássemos ao vivo
imagens que marcaram o jornalismo no Brasil. O telespectador perce-
bia o dinamismo e devolvia em audiência para o programa.

Com o Datena, é possível fazer um programa só com imagens aéreas e


ele no estúdio narrando porque possui uma incrível capacidade de im-
proviso, segura brincando horas no ar só com o que captamos em voo.

Gosto também das tiradas dele, não perdoava meus erros, me zoava
legal no ar. Uma vez foi em uma perseguição no começo da rodovia
Presidente Dutra. No calor do momento, quando pegaram os crimi-
nosos, somado à confusão dos rádios no meu ouvido, som da TV, eu
falei que o refém estava preso no porta- luvas ao invés de falar porta-
malas. Outra vez, em uma enchente no zoológico eu disse que a água
estava afogando as girafas, ao invés de dizer que estava alagando o
compartimento delas. O nosso entrosamento era muito bom e descon-
traía a tensão da notícia que eu presenciava.

153
MARCELO REZENDE
Comecei com Marcelo Rezende
na Rede TV, fazíamos o programa
Repórter Cidadão. Demos muita
audiência nessa rede com entradas
do helicóptero e principalmente
por conta do gênio Engo Alfonso
Aurin que me ajudou a montar um
sistema de transmissão chamado “Mochila Link“. Com esse sistema
na aeronave eu conseguia receber imagens e áudio do repórter Toni
Castro que corria no meio das comunidades junto com os policiais nas
operações de caça a criminosos que ocorriam no horário do jornal.
O principal concorrente era a TV Record que também tinha uma
motolink. Só transmitia com uma câmera conectada em uma moto.
Não tinha a nossa mobilidade que era uma mochila nas costas do
cinegrafista com uma câmera pequena na mão correndo junto com
o repórter e os policiais por locais difíceis de a moto conseguir chegar.

Depois voltei a trabalhar vários anos com o Marcelo Rezende no Ci-


dade Alerta da Record.

O relacionamento pessoal com Rezende sempre foi bom. Ele brincava


muito comigo. Com todos os repórteres do programa sempre fazia
uma brincadeira engraçada.

154
LUIZ BACCI
Bacci, uma grande revelação do
jornalismo da Record, profissional
dedicado.

É a nova geração de comunica-


dores de massa, é o melhor no uso
da rede social junto com a TV. Mas
não consegui trabalhar com o Bacci
como gostaria de ter feito. Com a saída de Douglas Tavolaro e Lean-
dro Cipoloni do jornalismo da Record, quem ficou responsável pelas
imagens aéreas fez um corte no meu sistema de apuração de notícias.
Como não era o departamento de jornalismo que cuidava do contrato
do helicóptero, não queriam os grandes flagrantes que eu estava acos-
tumado a fazer, queriam apenas uma gravação normal como havia
nas outras emissoras.

Foi o encerramento do meu ciclo no jornalismo ao vivo, não nasci


para fazer o óbvio, era hora de mudar, por isso saí da Record e fui para
o SBT, meu primeiro emprego na televisão.

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Esse é o grande segredo, determinação
para vencer e sabedoria para escolher
o melhor objetivo

Conclusão

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Escrever um livro foi uma viagem no tempo, o mais difícil foi selecio-
nar o conteúdo e deixá-lo de fácil entendimento para leitores e pessoal
que entende de aviação e de helicóptero.

Enquanto escrevia, fui relembrando o quanto a Dona Antônia foi


importante na minha vida, com ela descobri um mundo melhor do
aquele em que eu vivia na favela. Quando deixei a casa dela, e voltei
a morar no barraco com meus pais, percebi o quanto foi bom ter vi-
vido em um lugar acima das condições de vida que o meu pai poderia
me dar. Agora tinha uma referência e um propósito de vida, queria
voltar a ter aquela vida, mas queria conquistar com meu próprio es-
forço. Mantive o foco no que queria e fui em busca do meu objetivo.
Foi como um alpinista que tem uma montanha difícil para escalar,
fui buscando o melhor lado dela para subir, escorreguei várias vezes,
voltando alguns metros para baixo, fui tentando diferentes lados e
técnicas para seguir, mantendo sempre na mente o pico da montanha
como objetivo. Alguns alpinistas me ajudaram, outros me sabotaram,
aliás aprendi e tornei-me mais forte do que os que me sabotaram, por
isso agradeço a todos que encontrei na minha escalada.

Outra coisa que me ajudou muito foram as janelas de oportunidades


que se abriram em momentos decisivos da minha vida.

Mas não adianta aparecerem aberturas, quando somos crianças, se as


pessoas responsáveis por nós não as veem, não as usam em benefício
de uma criança. Foi o caso do meu pai e minha mãe que, mesmo com
dor no coração, porque não é nada fácil entregar seu filho único para
outra família, fizeram, porque viram que era uma oportunidade para
o filho, foram racionais, e não emocionais. E depois a segunda grande
oportunidade que surgiu foi usada pela Dona Antônia Bastos para
me ajudar: a Escola Técnica Antarctica e sua metodologia de ensino

160
baseada em disciplina, capacitação profissional e principalmente no
ótimo currículo escolar.

Uma vez somaram minhas horas de voo e elas passaram de 25 mil


horas. Esse longo tempo no ar mostrou-me o quanto somos peque-
nos e frágeis. Quando estou voando, olho para baixo e só vejo pon-
tinhos pequenos andando. Independente de quanto poder ou dinhei-
ro uma pessoa tem, se é feio ou bonito, continua sendo um ínfimo
ser. São apenas seres pequeninos em atividade no solo. Quanto mais
subo, mais pequeno e insignificante fica o pontinho. Imagine para
o universo o que representa uma pessoa andando no chão, mesmo
que ele tenha um relógio no braço de ouro e diamantes, será apenas
um grãozinho.

Primeiro planta e depois colhe. Esse é o “modus operandi “de tudo


que aqui existe. Não há milagre e nem fórmula mágica para mudar
isso.

A descoberta dessa lei, da ação e reação, aumentou a eficácia do meu


trabalho e a forma de ver tudo que aqui existe.

Como a vida está em movimento, quanto mais ações, mais reações e


mais vida, é assim que tudo acontece.

O que me faz acordar cedo e buscar sempre novos caminhos e trilhas


para desbravar é a certeza de que viemos ao mundo para realizar algo,
ou seja, o trabalho para o qual fomos projetados.

Esse é o grande segredo, determinação para vencer e sabedoria para


escolher o melhor objetivo.

161
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Obstáculo é o seu
combustível para vencer,
use-o a seu favor.

Diário de bordo
BRASIL - EUA - BRASIL

163
Uma das coisas mais importantes que aqui existe é o tempo. Para ter
eficiência em nossas ações, é muito importante respeitá-lo. Ele está
diretamente ligado a tudo que fazemos. É algo que tem um efeito di-
reto sobre tudo que fazemos. Como ele não está diretamente ligado a
nossa percepção sensorial, nós não damos muita atenção a ele. Aliás,
sofremos os efeitos, mas nem todos sabem que são constantemente
afetados pelo tempo.

Vamos entender melhor isso: o olho enxerga objetos, o ouvido ouve


o som, o nariz sente o cheiro, a língua sente o paladar, o tato iden-
tifica a textura. A principal função dos 5 sentidos é identificar tudo
que é perigoso para o corpo humano. Como ele está diretamente
ligado à sobrevivência, todo ser humano normal já nasce com os 5
sentidos ativos. Mas o ser humano possui outras formas de percep-
ção sensorial que só funcionam se forem desenvolvidas. Entre elas
está a percepção do tempo. Ele é tão importante que a cada instante
podemos alterar totalmente o nosso destino através das infinitas lin-
has que podemos seguir.

Exemplo para melhor entendimento: se saímos de casa e vamos di-


reto a um banco, encontramos no caminho pessoas diferentes das que
encontraríamos se parássemos alguns minutos vendo um arranhão
novo que aparece no carro. A mesma coisa acontece no banco, as
pessoas que estarão em posições diferentes ou não estariam mais no
banco. Para deixar isso mais claro, você entra no banco no momento
de um assalto com tiros e correria. Se tivesse chegado alguns minutos
mais tarde, teria visto a confusão e teria ido embora. Entender a im-
portância do tempo ajuda a obter os melhores resultados em tudo que
fazemos. O que elaboramos hoje vai aumentando o efeito através do
tempo, a somatória das pequenas atitudes vai determinar o que somos

164
e consequentemente o que aprendemos. Por isso que dizemos, a vida
está nos detalhes ou nas pequenas coisas.

Quando um ladrão rouba algo seu, ele está roubando o tempo que
você levou para obter esse objeto. Respeitar a passagem temporal dos
outros nos capacita para vencer e evoluir.

Assim que aprendi a importância do tempo para nossas ações, pro-


curei fazer tudo com agilidade. Ela não está presa. Ser apressado leva
a erros, ser ágil gera eficiência. Gosto da aviação porque ela é medida
em tempo, peças têm validade temporal assim como todas as revisões.
O que vale em uma aeronave é a disponibilidade de horas, e não sua
idade. Por isso procuro me manter em forma para estar sempre dis-
ponível para trabalhar, faço atividade física, alimentação balanceada
(bom combustível para o corpo). Procuro ser como uma aeronave,
sempre em boas condições operacionais, considero o corpo humano
uma máquina perfeita e procuro usar tudo que for possível.

Dei mais de 8 mil horas de instrução, aprendi algo novo em cada hora
de voo em que instruí aprendizes. Aliás, aprendi a voar mesmo depois
de ser instrutor..

A minha aprendizagem tinha como objetivo despertar o voo natu-


ral ou instintivo no aluno. Assim como um dia aprendemos a andar,
o meu aluno aprendia a voar por instinto. Isso é fundamental para
quando houver uma emergência, ele usa mais natureza do que lógica,
dessa forma não é enganado por erro de instrumentos ou qualquer
outra interferência.

Nas primeiras horas fazia com que o aluno se conectasse com a aero-
nave, usando o aparelho como uma extensão do seu próprio corpo. A
mesma coisa que um deficiente faz com um par de muletas, usando-a

165
como complemento para andar. O helicóptero vira um dispositivo que
permite voar, e não uma máquina que voa. Ser humano e máquina
conectados como se fossem um só corpo. Com esse entendimento, o
aluno começava com o trabalho de solo, que é voar a baixa altura,
rente ao chão para aprender primeiro a dominar pedais, depois cole-
tivo e por último cíclico. Pedais controlam a cauda, o coletivo controla
as pás do rotor principal fazendo o aparelho subir e descer e o cíclico
controla a atitude de ir para frente, para trás e para os lados. Os alunos
na fase inicial voavam de 18 a 30 minutos. Usando essa metodologia,
conseguia deixar um estudante com o helicóptero na mão, voando
sozinho com menos de 10 horas. O meu filho, Cmte. Uan, foi o mais
rápido na aprendizagem, aprendeu a voar com 3h12 minutos. Tirei
uma foto com ele pilotando e eu do lado de fora apoiado no esqui.
Nessa foto ele tinha cerca de 6 horas de voo e já havia feito manobras
de emergência, auto rotação e pane de baixa.

Bons resultados em pouco espaço de tempo exigem foco e consciência


do presente e do que queremos atingir lá na frente.

Outra coisa que o helicóptero ensina é que em aviação “graça sai


caro”. Vários acidentes foram causados por atos de exibicionismo em
que o piloto acabou quebrando a aeronave e ferindo pessoas.

As minhas viagens para outros países sempre me ensinaram muita


coisa, principalmente a valorizar as riquezas naturais e as belezas que
existem aqui no Brasil.

Pela experiência adquirida nos voos e pela riqueza de detalhes das


paisagens, sem dúvida, as melhores viagens foram as realizadas de
helicóptero. Comparado ao avião, o helicóptero voa mais baixo e
com menos velocidade; graças a essa característica, é possível ver

166
melhor tudo que estiver no trajeto.

A seguir, relato de viagem ida e volta de helicóptero entre o Brasil e


EUA, passando pelas Ilhas do Caribe.

167
Relato detalhado de

EUA - Brasil
óptero
de Helic

cóptero
m p ara levar um heli
Viage
.
o B rasil p ara os EUA
d

168
viagem: brasil - eua

Maio de 200
9
Motivo: In
stalação d
e equipam
de captaçã entos
o e transm
issão de
imagens.
Empresa: R
ecord TV
Helicópter
o: PR REC
15 de maio

São Paulo (S
IAV) - SBGL
(Rio de Jane
iro)
SIAV - SBG
L
11h30- 13h2
4 = 1.9 (01h54min)
Mau tempo
no trajeto
Inspeção na
Receita Fede
ral para sair
do Brasil.
169
15 de maio V)
Ja n eiro ) -São Paulo (SIA
de
SBGL (Rio
06)
6h1 5 -18h2 1 = 2.1 (02h
1
l
to ria n a Receita Federa
is
Realizada v
no trajeto.
Mau tempo

17 maio
to
Ribeirão Pre
São Paulo -
P
SIAV - SBR
)
1h48 = 01h18min (1.3
10H25 -1

17 de maio
ão Preto - Anápolis
Ribeir
NS
SBRP -SW
in)
06 = 2.5 (02h30m
h
12h32 -15
to.
m no traje
Tempo bo

170
17 de maio

Anápolis-
Gurupi
SWNS - SW
GI
15h25 -17
h46 = 2.3 (02h1
8min
Tempo bo
m no trajeto.
17 de maio

Gurupi - M
arabá
SWGI-SBM
A
18h00 -21
h06 … (03h06
min)
Tempo co
meça a m
chegamos udar no fi
com temp nal do voo
o encober ,
pôr do so to e com
l às 21h0
Marabá. 9min. Per
noite em

171
18 de maio

Maraba - Ma
capá
SBMA-SBMQ

10h50 - 13h5
1 = 3,0 (03h0
0)
Saída com te
mpo encober
ft (450 metr to, teto 1.500
os). Muitos
chuva isolad pontos com
a no caminh
desvios de ro o, com algun
ta. Últimos 1 s
voo com chu 0 minutos de
va forte, des
e muita difi vios de rota
culdade nos
minutos. Voe últimos 04
i a 200 ft (6
altura com p 0metros) de
ouca velocid
da visibilida ade por caus
de. Cheguei a
Zulu (hora à s 1 3 h51 min
internaciona
equivalente l d a a viação)
a 10h51min
abriu, perno loc al. Tempo
ite em Macap
á.

172
19 de maio ara
a do em M acapá até p
fech Gol
Aeroporto n to s, aviões da
str u m e
voos por in v ia d os para Belém
.
am d es
e Tam for h otel aguar
dando
m o s n o
Permanece d içõ es atmosfé
ricas
as c o n
melhora d c on tinuou ruim
em
Tem p o
na região. u ita chuva e ba
ixa
com m
toda região o Caribe e Fló
rida.
, in c lu in d
visibilidade

20 de maio ao
a c a pá c om destino
de M os
Decolando in u tos de voo tivem
pós 20 m
Suriname a s e guir para a
Guiana
d e r o ta e
que mudar s ív el chegar lá
após
ó fo i p o s
Francesa, s a o m au tempo. De
pois
ios de v id o
vários desv , o te m po melhoro
u
Franc es a
da Guiana eção da
m o e sta v a forte na dir
e o vento co a c a bou aumenta
ndo a
licó p te r o
cauda do he l, ch e gamos a ma
rcar
idad e re a
nossa veloc /h).
ais de 14 0 KT (280km
m

173
21 maio de 2009
rológico
A imagem do satélite meteo
sar na
mostra porque fui obrigado a pou
Granada
Republica Dominicana. Saí de
s para
com destino a Nassau e parada
e Puerto
reabastecimento em Tortola
Plata.
caminho,
O tempo mudou no meio do
a e com
segui para Dominica depois Tortol
a Puerto
muita dificuldade chegamos
. Sem
Plata na República Dominicana
a missão
condições seguras, encerramos
de não
do dia. Chove muito e a visibilida
icóptero
permite um vôo seguro. O hel
sumiu
está ok, de diferente apenas con
pletei.
lata de óleo do motor que eu com
lavar o
Devo chegar amanhã à Flórida,
nia. 22
helicóptero e seguir para Califór
maio de 2009

174
de 2009
22 maio h 30min lo
cal)
zu lu ( 08
s 12h30 ta).
Decolei à a n a (P uerto Pla
inic uito
blica Dom aram m
da Repú cais d e m o r
au t o ridades lo s 1 h 0 0 de voo o
A s o. Ap ó
liberaçã , foi pelo
na no s s a
s ob r e o mar
cou ruim e nos
tempo fi te m p o ruim qu
de au, o
h30 min ra Nass
menos 1 dir e to p a
s
a seguir x uma, ma
obrigou a ilh a d e E
o
o ss o d e stino era b r e a ilha. Com
n l so
tempora o, havia
ha via u m
p la n ejament
m bom egar
havia u n te p ara ch
ficie ndo
ível su ompleta
combust a Na s sa u c
o
urança muito n
com seg C h o v eu
8 m in de vôo. a ju d ou muito
,
3h 4 to for te
as o ven fosse
tra je to , m
t n o tr ajeto. Se
K gar
s até 150 sível che
atingimo ão s e ria p o s
ra
frente n para out
vento de s qu e se g u ir
N a ss au , teriamo
a
aribe.
ilha do C

Depois de cu
mprir no Aer
Nassau as exig oporto de
ências finais d
americano par o governo
a nossa entrada,
com tempo ru seguimos
im para Fort L
completando m auderdale
ais 1h18 min d
19h15 zulu (o e vôo. Às
u 15h15min h
o vento contin ora local),
uou muito fort
todo o trecho. A e durante
lfândega de en
EUA realizada trada nos
no Aeroporto
Lauderdale. P de Forte
ernoite e lav
compressor do agem do
helicóptero PR
Edwards Hanga REC na
r.
175
aio
23 de m a d o da Flori
da
todo es t e
em p o r uim em e p a r t a mento d
T ao d
fo r m e consulta T e n te i seguir
co n EUA .
t er e o lo gia dos to da aer
onave
me on a m e n
ort
após aci e de F
viagem; , a T o r r
de
ecolagem ximação
para d mou a a p r o
o
au d er d ale infor s s o a fa stament
L de no da
C B n o setor a o norte
um p a r
ssa rot
a guir
(na no se lh o u a não se
on no
e nos ac e fiquei
Flórida) a v i a g e m
não
Abortei ras que
viagem. ando m e lh o
o
er o p o r to esper p e r m a neceu n
a REC
am. PR tarei
ac o n t e c er
L a u d e r dale. Ten
rt
to de Fo
Aeropor
cedo.
amanhã o o meio ma
is
ua s e n d
o contin a e tem
A a v ia ç ã
n ã o t em press
ara quem .
rápido p m o p rioridade
nça c o
a segura

176
24 de
maio
5h30
min,
para prepa
seguir ração
ao na viagem da a
scer , iníci erona
d o ve
viagem o sol às d a viag
com t 6h20 em
a saíd empo min,
a da F r uim e t se gui
duran lórida eto ba
te o v . M elhoro ixo até
Missis oo no u um
sipi s e stado p ouco
desvio e Lo s do A
s de fo u isiana la b ama,
metad rmaçõ com
e do T es de vários
voo n exas. chuva
o dia. Foram (C B) até
Winck Parad 12h30
eler n a par min d
o esta a per e
do do n oite e
Texas m
.

177
25 de m
aio
Decola
gem p
chegan ela m
do a anhã
W de Wi
de voo h itman nckler
. Como com 7 ,
helicóp era fer h36mi
tero n iado, d n
entreg o pátio eixam
a no d do aer o s o
ia segu oporto
Sr. Arm inte pe p ara
en Var la man
tanian hã ao
26 de m da Hel
aio it en d er Inc.
Pela m
anhã,
entreg o helic
ue aos óptero
cuidad PR RE
Sr. Ar os da C foi
men m H e
coloca andou litende
rem o os fun r.
hanga helicópte c io n ários
r. ro de
ntro
do

178
179
em dos
Viag rasil
U A -B
E
a
d as sobre
ha
çõ e s detal dos E
UA
r m a Y R E
fo R
Segu
em in
lic óp tero P trativ
as.
h e ilus
m do om fo
tos
viage s il c
o Bra
para
A
: AS 350 B
ro -
Helic
ópte
ito pesada
u
e r o n ave m e la ção ao
e: A m r
r fo r manc c id a de co
Pe lo
a V S (ve
pou c ao
re lação
solo) om
3 h 00 c
(+
a Zulu a):
H o r
d e B rasíli
io
horár 09
a io de 20
:m
Data:

180
26 de maio

O helicóptero PT YRE es
tava no pátio
da Rotorcraft Support In
c – Van Nuys
– CA e tudo indicava qu
e estava há
bastante tempo. Quem fez
a entrega foi
o presidente da compan
hia, sr. Phillip
G. Di Fiore. Tive dificulda
de em achar
as peças (duplo comando…
). As 3 latas
de óleo de motor 254 Mo
bil que RAM
de reserva não foram ac
hadas. No pré-
voo, verifiquei que a ba
teria estava
sem carga. Como não ho
uve apoio da
Rotorcraft, liguei para a
Helitender que
nos enviou um mecânico
de carro com
uma bateria.

Depois
do pré
realize -voo e
i um v troca
ôo de da bat
aeropo 12 mi eria,
rto Wit nutos
o helic h m an (He até o
óptero litende
coloqu es tava s r) . Como
ei 50g em co
antes l (1 89 litr m b ustível
da dec os) em
YRE fo o lagem. V an Nuys
i levad O helic
para a o para óp tero P
revisã dentro T
averig o de 100 do h angar
uações horas
volta p ne c essária e todas
ara o B s para
rasil. o vôo d
e

181
io
27 de ma a H elitender
,
tenç ã o n
T Y R E em manu b a lanceam
ento
P io d o
para iníc erminar
em
terminou ç ã o e ra t
. A inten . A cidad
e
às 14h00 ra P h o e n ix
seguir pa o nevoeir
o pela
1 hora e e m m u it
ngeles t em.
de Los A n d o a decolag
ificu lta
manhã d rre infor
mou
en t o , a t o
o acionam hado até
às
Depois d o es t a v a fe c
aço aére o motivo
é
que o esp 27 d e m a io ,
al do dia e.
8h00 loc a e st á na cidad
bam
r esidente O .
q ue o p
um d ia de atraso
mais
Teremos

io
28 de ma de princ
ipal
o R ot or
mento d a vibra
ção,
Balancea m u it
ero com no tab
(helicópt ex e r a m
ente m a Rotocr
aft).
provavelm a s pá s n
tiraram aída
quando n a H e litender. S
l
gem fina gs logo a
pós
Pré – via S p r in
para Palm Helitend
er.
às 17h00 rviç o s d a
o dos se Springs
com
o términ a P la m
eles par al 1h 1
8min;
Los Ang m p o to t
ento, te no Arizo
na
muito v ra P h o e n ix
rings pa uito ven
to
Palm Sp oo) c o m m
IN de v elicópter
o
(2H12M ulên c ia . O h
e e turb envolver
boa
de frent d e s
não conseguiu a s o; de Ph
oenix
E l P
ance até minutos
de
perform am 2 h 24
Paso for huva for
te.
para El l Pas o c om c
gada a E
voo. Che so
em El Pa
Pernoite
182
29 de maio

Saída às 5h00 da ma
nhã (12h00
zulu) com bom tempo até
Kinkler no
Texas; 01h 36 minutos)
Kinkler para
Brownwood (22h12min) Br
ownwood até
Tallahassee para pernoite
com melhora
na performance da aeron
ave. PT YRE
manteve a média de 105
KT. Tempo
excelente.

30 de maio

Tallahassee- sa
ída às 5h30
(10h20 zulu min local
) direto pa
(02h06min), ra Sebring
abastecimento
e mais 1h06 rápido
min. Muita n
e nevoeiro u vem baixa
até Fort L
Preparação pa auderdale.
ra saída dos E
autoridades a UA junto às
mericanas. Pre
kit de viagem paração do
(tanque reserv
bote etc). Saíd a, coletes,
a de Fort Laud
Bahamas às erdale para
15h50 zulu, m
e tempo ruim uita chuva
até Nassau (1
voo). Helicópte h36min de
ro não passav
pouso em Ste a de 90kt,
lla Maris (Bah
reabastecimen amas) para
to. Em segu
direto para P ida, fomos
uerto Plata n
Dominicana co a República
m mais 3h36
voo, tempo ru minutos de
im. Chegamos
combustível n com 20% de
o tanque e tem
30 minutos an po ruim até
tes do pouso q
minutos depoi ue ocorreu 4
s do pôr do sol.
Pernoite.
183
31 de maio

Saída às 6h00
hora local; o co
não deixou d ntrolador
ecolar 15 min
do nascer do utos antes
sol. Direto pa
com 3h42 min ra Tortola
utos de voo.
com 25% de Chegamos
combustível.
performance d Melhora na
a aeronave co
de altitude, te m 4.500 ft
mpo excelente
poucas nuven , céu azul
s e vento de 10
kts de proa.
Reabastecimen
to em
pagamento Tortola,
de taxas
Abastecedor co demorado.
locou muito co
deixou vazand mbustível,
o no tanque. T
Martinique, sa ortola para
ímos com su
2500 ft de altit bida para
ude, perto da Il
Serrat subimo ha Monte
s para 7.500
poeira do vulc ft devido à
ão que é extr
prejudicial à emamente
turbina do h
Mantivemos elicóptero.
7500 até 1
chegar a Mart h00 para
inique.

184
3h
ar tin iq ue foram
para M ita dem
ora
Tortola v e m u
tos, hou Martiniq
ue
18 minu en t o . D e
bastecim mora
para rea o ba g o . Devido à de
para T possível
seguimos e n t o , não foi
stecim obago.
no reaba e r n oite em T
gem . P
seguir via al:
p ar a voo visu
ia
eis do d
Horas út
11h30min utos
o d o d ia :8h06min
o
Total de v

Tempo de trab
alho no solo
reabastecimento para
,pagamento de
atendimento taxas,
das exigências
autoridades loca das
is: 2h00.
Tempo restante
em Tobago não
suficiente para é
chegar à Guiana
(Georgetown), Inglesa
nossa próxima
que estava estim parada,
ada em 3h12 m
inutos.
Tobago é muito
ruim,mas não tí
outra opção, Gra nhamos
nada é melhor
seguro, porém n e mais
ão teríamos auto
para chegar à G nomia
uiana. Mal aten
no aeroporto, dimento
esperamos duas
para abastecer, horas
mais de uma
para sermos libe hora
rados pela alfân
hotéis de má qu dega e
alidade, não co
nada, pois os re memos
staurantes a qu
perto do aeropo e fomos
rto eram muito
sujos.
185
01 de junho
muito
a o a eroporto
Chegamos am anhecer, co
m
d o d ia
cedo, antes imos uma
pessoa
e co n s e gu
dificuldad te s da equipe
que
n d e u a n
que nos ate c hegada. Sa
ímos
a n os sa
dificultou u to s no aeropo
rto.
e 3 0 m in
depois de 1h o m 3 5 minutos de
ou ru im c
O tempo fic uiana Ingle
sa com
o s até a G
voo, voam v io s. Vento m
uito
a e d e s
muita chuv . O atendimento
rb u lê n c ia
forte e tu r ge tw on (Guian
a
em G e o
foi rápido os sair an
tes da
c o n s eg u im
Inglesa), ngiu o aerop
orto.
q u e a ti
chuva forte fo r te até cheg
ar à
e v e n to
Mais chuva te m po melhoro
u
nce s a . O
Guiana Fra s an tes do pous
o.
5m in u to
um pouco 1 tecedor
e n to d e m orado, abas
Abastecim combustíve
l para
m u it o
derramou a da antena
que
iu e m c im
fora que ca

186
estava no esqui do helicóptero do lado
do tanque. Saída da Guiana Francesa
para Marabá com chuva forte e
nevoeiro, desvio na direção da costa
marítima aumentando o nosso tempo
de voo, quase fomos obrigados a pousar
(2 vezes) devido à má visibilidade.
Chegada a Macapá com chuva forte na
cidade, só havia um espaço com pouca
visibilidade que formava um corredor
entre duas formações (CHUVA FORTE).
Fomos recebidos pela Rita, agente da
Infraero e da Polícia Federal, que nos
aguardava.

187
02 junho

Chegada ao aeroporto às 8h00


conforme pré-marcado com o fiscal
da Receita. O fiscal chegou depois das
9h30; foi ao helicóptero, fez a inspeção
que terminou pouco antes das 10h00.
Marcou com a Rita às 11h00 na
Receita para liberação, nós ficamos
aguardando no aeroporto. Rita chegou
depois das 16h00 com liberação, não
havia mais condições para decolagem,
fechamos o helicóptero e retornamos
para o hotel. Perdemos a melhor opção
meteorológica para sair da região
norte do Brasil. Se o fiscal tivesse
liberado 30 minutos antes, teríamos
tempo suficiente para sair do trecho
de maior previsão de chuva na região
que vai até Marabá.

03 de junho

Mau tempo chegou


por volta da meia
noite na região de M
acapá, decolamos
às 06h15 minutos co
m 500ft de teto;
depois de 40 minutos
e alguns pequenos
desvios, o tempo fech
ou e seguimos com
chuva e nevoeiro at
é o voo se tornar
inseguro.

188
s
u m a v ila d e poucas casa
Pousamos em tempo
des n a ilh a de Marajó, o
humil decolar
ou u m p ou co , conseguimos
melhor de
m d ifi cu ld a d e ao aeroporto
e chegar co centro Brasília
in fo rm a r ao
Breves, para
.
do nosso pouso
epois
m d e B re v es à baixa altura d
Decolage orto.
m in d e es p era no aerop
de 1h30 ixa altura
m os p or m eia hora à ba
Voa ), depois
a da s á rv or es da floresta
(acim do de
b iu e co n ti n uamos desvian
o teto su bá.
(c h u v a ) a té chegar a Mara
formações de cauda) e
ju d ou (v en to
O vento a 0 Kt.
gu im os m an ter mais de 10
conse
em
M a ra b á co m chuvas fortes
Saindo d e po
re s; a p ós v oa r 1hora, o tem
vários seto uva até chegar
ou v e m a is ch
abriu e não h dando
a s. O v en to continuou aju
a Palm S).
1 1 0 K t d e v el ocidade real (V
103 até

O objetivo era seguir para


pernoite em
Brasília ou Uberlândia, qu
ando saímos
de Macapá, mas devido ao
mau tempo
depois de Palmas, só foi po
ssível chegar
a Minaçu, situado na
rota à 1h00
de Brasília. Minaçu foi
o único lugar
possível de chegar antes
do pôr do sol.
Tempo bom com teto alt
o de Palmas
até Minaçu. Pernoite no
aeroporto de
Minaçu (SBMC).

189
04 de junh
o
Saída pouc
o antes do
direto par nascer do
a Brasília. sol, voo
da BR Avia Pouso no
tion, excele hangar
Saída de n te atendimento.
Brasília à
seguindo s 8 h00 (loca
direto par l)
Ribeirão p a R ib eirão Preto
ara São .
Helipark p Paulo, pou
ara lavage so no
m da aeron
ave.
O trecho
final foi
desempenh o de me
o do helicó lhor
de cauda d ptero com
esde Mina vento
com velocid çu até São
ade de até Paulo
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190
Algumas considerações:

- Em função da limitação de peso a bordo, foi necessária a troca do


tanque reserva, bote salva vidas e kit de selva, isso aumentou os custos
da viagem, mas essa troca foi vital para a viagem de volta ao Brasil.

- A troca do piloto americano por um brasileiro foi importante na


selva mau tempo sobre a ilha de Marajó), Rodrigo manteve a calma e
o espírito de equipe necessário para o momento.

- Na próxima viagem, vamos tentar homologar no FAA o kit tanque


reserva. Pouco antes de chegar a Minaçu, fomos informados por um
avião de que havia no aeroporto uma equipe de inspetores da ANAC
(Agência Nacional de Aviação Civil). Tivemos que pousar alguns
minutos antes no mato para desconectar o tanque. Quando chegamos,
3 pessoas da ANAC vieram me receber, tiraram fotos e viram os
documentos. Como eles gostavam do meu trabalho na TV, só olharam
de forma descompromissada os documentos e nem olharam dentro do
helicóptero, acabaram não vendo o kit de combustível.

- O rádio 2 sofre interferência quando a luz dos instrumentos é ligada.

- Apareceu nas últimas 20 horas finais um pouco de óleo na bandeja


embaixo do motor.

- Embora esteja pesado, o helicóptero está em excelentes condições op-


eracionais; em resumo, um bom helicóptero.

- Viagem difícil devido às características da aeronave e condições


meteorológicas na época do ano em que ocorreu a viagem.

191
192
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193
Nessa viagem do Brasil para os EUA, no
primeiro trecho, foi comigo o experiente
Cmte Sérgio, um carioca com cidadania
americana que mora na Flórida, especializado
em traslados de helicópteros dos EUA para o
Brasil.

No trecho de Fort Lauderdale para Los


Angeles foi comigo Bob Lima, um amigo que
mora na Califórnia, possui um avião e queria
muito fazer esse trecho em minha companhia.
O Bob trouxe para viagem muitos mapas e
cartas aeronáuticas do trajeto que iríamos
fazer. A sorte é que eu usava um bom GPS,
porque houve um pouco de dificuldade em ele

194
se acertar com o monte de papel que trouxe,
sentiu também que a viagem de helicóptero
é bem diferente da do avião que ele possuía.
Depois, demos muita risada da confusão dos
mapas do Bob.

Na volta para o Brasil, pediram-me para


levar o Braian, um piloto americano que
estava iniciando na aviação e desejava obter
experiência de voo. Concordei porque ajudar
é sempre bom. Mas o americano não aguentou
o ritmo. Nas minhas viagens eu quero sempre
completar o percurso o mais rápido possível,
não vou a passeio. Dessa forma, acordo antes

195
do nascer do sol, voo o dia inteiro, as paradas
são para ir ao banheiro, reabastecer e decolar
o mais rápido possível. Quando cheguei a Fort
Lauderdale, o americano estava esgotado e
desistiu de seguir para o Brasil.

Tive sorte e consegui o Cmte Rodrigo, um


brasileiro que morava com a mãe nos EUA. Fui
transferindo um pouco do meu conhecimento
do AS350 para ele. Rodrigo foi uma ótima
companhia, sempre rápido e eficiente nas
paradas pelo Caribe, além de aguentar fácil o
ritmo forte do trajeto.

Para conseguirmos completar os trechos,


instalamos um tanque auxiliar de 200
196
litros que fica em cima dos assentos de trás
da aeronave. O combustível começa a ser
transferido por uma bomba elétrica depois de
1 hora de voo. Uma mangueira sai do tanque
pela janela lateral e vai por fora até a boca
dele. No trecho Suriname - Macapá, a bomba
de transferência de combustível parou de
funcionar, estávamos voando em cima da
floresta, não tinha onde pousar. Ainda bem
que eu estava com o Cmte Rodrigo, ele passou
para a parte de trás e conseguiu arrumá-la.

197
Sumário

198
Prefácio 4
Tempestade 10
Uma nova vida 18
O melhor caminho não é o mais fácil 28
Descobrindo a corrida dos 50 milhões 36
A favela, a família e o futuro 48
Fim da favela do Vergueiro 58
Decolando para a vida adulta 66
Ação e reação 74
Nasce o caçador de imagens 82
Um paraquedas na minha vida 88
Mas nem todos os domingos eram legais 96
O céu não tem limites 106
Meus filhos 112
A energia da vida 118
Agindo para o sucesso 132
Vida e Corpo 140
Ninguém voa sem um bom apoio em terra 150
Conclusão 158

Apêndice

Diário de bordo 162


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