Você está na página 1de 10

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.

381-390, 2015 381


ISSN: 1517-8595

ISOTERMAS DE SORÇÃO E HISTERESE EM PIMENTA VARIEDADE BICO IN


NATURA E PROCESSADA EM DIFERENTES TEMPERATURAS

Camila de Souza Paglarini1, Fabrício Schwanz da Silva2, Alexandre Gonçalves Porto3,


Guilherme de Figueiredo Furtado4, Philipe dos Santos5

RESUMO

O alto teor de umidade da pimenta bico a torna um produto altamente perecível, sendo
essenciais estudos que informem melhores condições de processamento, armazenamento e
embalagem para tal produto. Para processos de secagem e armazenagem, o conhecimento da
relação entre a umidade do material e a umidade relativa do ar é essencial, visto que as
isotermas de sorção (adsorção e dessorção) ajudam a estabelecer o teor de água final no
produto. O objetivo deste trabalho foi determinar e analisar as curvas de sorção da pimenta bico
inteira e em pasta, nas temperaturas de 20, 30, 40 e 50ºC, bem como calcular a área da histerese.
As isotermas de sorção foram determinadas pelo método gravimétrico estático, com o uso de
soluções ácidas e ajustados por diferentes modelos matemáticos aos dados experimentais, por
análise de regressão não linear. O modelo que melhor se ajustou as isotermas de sorção da
pimenta inteira e em pasta foi o de GAB. Em seguida, pelo método de integração foi calculada a
área das curvas de dessorção e adsorção e a área da histerese foi calculada pela diferença entre
as curvas. De acordo com os resultados obtidos observou-se que a histerese foi menor para as
isotermas de sorção da pimenta bico em pasta e a área da histerese das isotermas de equilíbrio
da pimenta bico inteira reduziu 55% e da pimenta em pasta reduziu 36%, entre as temperaturas
de 20ºC e 50ºC.

Palavras Chave: Adsorção, dessorção, modelagem.

SORPTION ISOTHERMS AND HYSTERESIS PEPPER VARIETY BICO IN NATURA


AND PROCESSED AT DIFFERENT TEMPERATURES

ABSTRACT

The high moisture content of pepper makes it a highly perishable product, being necery studies
to inform better conditions of processing, storage and packaging for this product. For drying and
storage, knowledge of the relationship between the moisture of the material and the relative
humidity is essential since the sorption isotherms (adsorption and desorption) help to establish
the final water content in the product. The objective of this study was to determine and analyze
the curves of sorption of pepper whole and in paste, at temperatures of 20, 30, 40 and 50ºC, and
calculate the area of the hysteresis. The sorption isotherms were determined by static method
using acid solutions and adjusted different mathematical models to the experimental data by
nonlinear regression analysis. The model that best fit the sorption isotherms of whole pepper
and pasta was the GAB model. Then, by the method of desorption and adsorption curves
integration area and the hysteresis area was calculated by the difference between the curves.
According to the results it was observed that the hysteresis was smaller for the sorption

Protocolo 16 2014 37 de 05/02/2015


1
Mestranda em Tecologia de Alimentos – Universidade Estadual de Campinas. Rua Monteiro Lobato, 80 – Cidade
Universitária Zeferino Vaz CEP:13083-862 Campinas – SP, Brasil. E-mail: camilaspaglarini@gmail.com.
2
Professor – Departamento de Engenharia de Produção Agroindustrial – Universidade do Estado de Mato Grosso Rua A, s/nº
- Bairro São Raimundo - Cx. Postal 92 CEP:78390-000 Barra do Bugres – MT, Brasil. E-mail: fabricio@unemat.br.
3
Professor – Departamento de Engenharia de Alimentos – Universidade do Estado de Mato Grosso Rua A, s/nº - Bairro São
Raimundo - Cx. Postal 92 CEP:78390-000 Barra do Bugres – MT, Brasil. E-mail: agporto@hotmail.com.
4
Doutorando em Engenharia de Alimentos – Universidade Estadual de Campinas. Rua Monteiro Lobato, 80 – Cidade
Universitária Zeferino Vaz CEP:13083-862 Campinas – SP, Brasil. E-mail: furtado.gf@hotmail.com.
5
Doutorando em Engenharia de Alimentos – Universidade Estadual de Campinas. Rua Monteiro Lobato, 80 – Cidade
Universitária Zeferino Vaz CEP:13083-862 Campinas – SP, Brasil. E-mail: philipe.dsn@hotmail.com.
382 Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al.

isotherms of pepper paste, and the equilibrium isotherms hysteresis area of whole pepper
decreased 55% and pepper paste reduced by 36%, between temperatures of 20ºC and 50ºC.

Keywords: Adsorption, desorption, modeling

INTRODUÇÃO subsequente (Caurie, 2007). Kapsalis (1981)


relata que esse fenômeno tem importantes
A pimenta bico é da espécie Capsicum aplicações teóricas e práticas. Como aplicação
chinense, não é picante e é muito valorizada por teórica tem-se a irreversibilidade do processo
quem gosta de pimenta, devido seu aroma de sorção para a questão da validade das
característico (BONTEMPO, 2007; LOPES; funções termodinâmicas. As aplicações práticas
OKURA, 2005). De acordo com Markus et al. são relacionadas a deterioração química e
(1999) as pimentas são excelentes fontes de microbiológica. Caurie (2007) ainda ressalta
vitaminas A e C e carotenóides como β- que a histerese pode ser utilizada como índice
caroteno, capsantina, capsorubina e β- de qualidade alimentar, uma vez que o aumento
cripitoxantina. da histerese indica a redução da estabilidade e a
Devido ao alto teor de umidade da redução ou ausência da histerese indica melhor
pimenta, os dados de atividade de água (aa) estabilidade dos produtos armazenados.
tornam-se indispensáveis nos estudos do De acordo com Kapsalis (1987) a
processamento deste fruto, uma vez que, quanto histerese é influenciada pela temperatura, em
maior a atividade de água de um produto, mais alguns alimentos, ela pode ser eliminada com o
propenso ele estará ao ataque de aumento da temperatura e para outros,
microorganismos (Kouhila et al., 2001). Por permanecer constante e até aumentar com o
meio dos valores de aa podem ser previstas aumento da temperatura. Já Damodaran et al.
reações químicas e bioquímicas (isto é, a (2010) relatam que a altas temperaturas esse
oxidação de lípidos, enzimáticos e reações de fenômeno quase não ocorre, tornando-se mais
Maillard) e o potencial de crescimento evidente a baixa temperaturas.
microbiano, além disso, serve como parâmetro O objetivo deste trabalho foi determinar e
para predizer a vida de prateleira do produto analisar as curvas de sorção da pimenta bico na
(Lomauro et al., 1985). forma inteira e em pasta, nas temperaturas de
As isotermas de sorção de umidade 20, 30, 40 e 50ºC, bem como calcular a área da
representam a relação entre a umidade de histerese.
equilíbrio e atividade de água em condições
constante de temperatura e pressão (Kaymak- MATERIAIS E MÉTODOS
Ertekin; Gedik, 2004). O efeito da temperatura
nas isotermas de equilíbrio tem sido relatado O presente trabalho foi desenvolvido no
em vários estudos (Yan et al., 2008, Tarigan et Laboratório de Engenharia e Processamento
al., 2006, Kaleemullah; Kailappan, 2004, Agroindustrial, pertencente ao Centro
Kaymak-Ertekin; Sultanoğlu, 2001). Tecnológico de Mato Grosso (CTMAT), do
As curvas de equilíbrio são ferramentas Campus Universitário Deputado Estadual Renê
importantes no dimensionamento do processo Barbour na Universidade do Estado de Mato
de secagem de alimentos e na determinação de Grosso-UNEMAT, em Barra do Bugres, Mato
condições de embalagem e armazenamento, e Grosso.
são obtidas a partir de dados de adsorção A matéria prima utilizada foi a pimenta
(ganho de umidade) e dessorção (perda de variedade bico produzida e comercializada no
umidade), respectivamente, mas podem ser município de Barra do Bugres.
preditas através de modelos matemáticos Para determinação das isotermas de
classicamente utilizados com essa finalidade, dessorção, as pimentas inteira e em pasta foram
amplamente encontrados na literatura imersas em solução de benzoato de sódio a 20%
(Assunção & Pena, 2007). A diferença entre as por um período de 1 hora, com a finalidade de
curvas de dessorção e adsorção é denominada conservar as características da matéria-prima
histerese (Rahman, 1995). durante a realização do experimento, evitando a
A histerese é o fenômeno pelo qual um ação de microrganismos. Já na adsorção, as
adsorvente a um determinado nível de aa e pimentas inteiras e em pasta foram desidratadas
temperatura contém uma quantidade menor de em secador de bandejas a 50 °C até atingir o
umidade durante um processo de adsorção do equilíbrio termodinâmico.
que durante um processo de dessorção

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al. 383

As amostras foram colocadas em Cada recipiente contendo soluções ácidas


recipientes cilíndricos de vidro hermeticamente específicas, para garantir a umidade relativa do
fechados, com 8 cm de diâmetro e 13 cm de ar constante dentro do recipiente. O método
altura (Figura 1). utilizado para a obtenção das isotermas é o
gravimétrico estático, o mesmo utilizado por
Bellagha (2008).
Os experimentos foram realizados
utilizando onze soluções de ácido sulfúrico com
concentrações que variavam de 20% a 70%,
com as correspondentes atividades de água na
faixa de 4,3% a 88,8% e nas temperaturas de
20, 30, 40 e 50 ºC. O aparato permaneceu em
estufa incubadora com temperatura controlada
até atingir massa constante.
Após atingirem o equilíbrio
termodinâmico, as amostras foram submetidas
ao método da estufa, (105±2)ºC até peso
Figura 1. Aparato experimental utilizado para constante para a determinação da umidade
determinar as isotermas de equilíbrio de polpa (IAL, 2008). Posteriormente, os resultados
de manga manteiga foram ajustados aos diferentes modelos
matemáticos, Tabela 1, por análise de regressão
não linear mediante análise estatística.

Tabela 1. Principais modelos matemáticos utilizados para descrever isotermas de equilíbrio de


alimentos
Designação do Modelo Modelo
Xm C K aw
Xe =
GAB (1-K aw )(1-K aw +C K aw ) (1)

aw b
Oswin Xe =a ( ) (2)
1-aw
[(𝑋𝑚 𝐶𝑎𝑤 )[1 − (𝑛 + 1)𝑎𝑤 𝑛 + 𝑛𝑎𝑤 𝑛+1 ]]
BET 𝑋𝑒 = [ ] (3)
(1 − 𝑎𝑤 )[1 + (𝐶 − 1)𝑎𝑤 − 𝐶𝑎𝑤 𝑛+1 ]
1
1 C
ln ( )
Henderson e Thompson 1-aw (4)
Xe = [ ]
a (T+b)
1
Henderson 1 1 C
(5)
Xe =[a ( ) ln ( )]
T 1-aw
-1
Halsey 1 C (6)
Xe =a [T ln ( )]
aw
1 ln aw
Chen e Clayton Xe = ( D ) ln( -b Ta )
(7)
-CT
a
Xe =
Luikov 1 (8)
1+b T ln ( )
aw
Em que: T - temperatura (ºC); Xe- umidade de equilíbrio, b.s; aw- Atividade de água; K = a*exp^((E/T)); Xm - umidade na monocamada,
b.s.; a, C, b, D, E - parâmetros de ajuste.

Para calcular a área das curvas de A histerese foi calculada pela diferença
dessorção e adsorção, foi utilizado o método de de área entre as curvas de dessorção e adsorção
integração como uso do modelo matemático das isotermas de equilíbrio obtidas para a
que melhor se ajustou as isotermas. pimenta variedade bico inteira e em pasta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
384 Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al.

Na Figura 2 estão apresentadas as pimenta bico na forma pasta, utilizando


isotermas de sorção da pimenta bico na forma soluções ácidas nas temperaturas de 20, 30, 40
inteira e na Figura 3 as isotermas de sorção da e 50 °C.

(a) (b)
Figura 2. Isotermas de adsorção (a) e dessorção (b) da pimenta bico inteira para as temperaturas
20, 30, 40 e 50ºC

(a) (b)
Figura 3. Isotermas de adsorção (a) e dessorção (b) da pimenta bico em pasta para as temperaturas 20,
30, 40 e 50ºC

Observa-se nas Figuras 2 e 3 que para temperaturas e formas utilizadas neste estudo.
atividade de água constante, os valores de Como pode ser observado na Tabela 2, o
umidade de equilíbrio diminuíram com o modelo de GAB se ajustou melhor aos dados
aumento da temperatura, seguindo a mesma experimentais das isotermas de pimenta bico na
tendência observada para a maioria dos forma inteira e em pasta, pois apresentou
produtos agrícolas. De acordo com maiores valores dos coeficientes de correlação
Kaleemullah e Kailappan (2004) isso ocorre (R²) e menores valores do erro médio estimado
porque o aumento da temperatura aumenta a (SE). De acordo com Prothon; Ahrné (2004) o
pressão de vapor de umidade no interior da modelo de GAB apresenta a vantagem de
pimenta e acelera a transferência de umidade da descrever bem as isotermas de sorção para
pimenta para o ambiente. O mesmo resultado produtos que possuem atividade de água menor
foi observado por Machhour et al. (2012); que 0,9. Alguns autores também obtiveram o
Kaleemullah e Kailappan (2004). melhor ajuste pelo modelo de GAB em seus
A Tabela 2 apresenta os valores dos dados experimentais ao trabalharem com
coeficientes de correlação (R²) e o erro médio alimentos (Machhour et al., 2012; García-Pérez
estimado (SE), para os modelos matemáticos, et al., 2008; Goula et al., 2008).

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al. 385

Nas Tabelas 3 e 4 encontram-se os pimenta variedade bico na forma inteira e em


valores dos parâmetros obtidos para o modelo pasta, respectivamente, nas temperaturas de 20,
de GAB, para as isotermas de sorção da 30, 40 e 50 °C.

Tabela 2. Coeficientes de correlação (R²) e erro médio estimado (SE) para os modelos matemáticos,
nas diferentes temperaturas e formas da pimenta bico
Dessorção Adsorção
Inteira Pasta Inteira Pasta
Modelo Temperatura (ºC)
R2 (%) SE (%) R2 (%) SE (%) R2 (%) SE (%) R2 (%) SE (%)
20 98,80 3,394 97,07 2,531 99,23 0,937 93,65 2,127
30 97,77 3,495 97,29 2,138 98,89 1,076 94,01 2,038
GAB
40 96,69 4,009 95,05 2,206 98,58 0,978 92,51 2,193
50 98,21 1,716 97,69 1,367 97,78 1,088 96,55 1,204
20 94,39 6,845 91,12 4,093 95,74 2,063 87,42 2,776
30 91,92 6,173 91,24 3,569 94,88 2,154 88,02 2,583
Oswin
40 90,54 6,294 89,13 3,033 95,83 1,572 90,26 2,380
50 95,41 2,573 93,38 2,156 94,63 1,580 93,64 1,529
20 93,75 7,650 83,44 5,809 88,61 3,311 60,89 4,810
30 89,60 7,386 82,34 5,249 88,47 3,178 66,97 4,440
BET
40 88,70 7,261 70,60 5,026 87,45 2,668 66,28 4,323
50 84,51 4,870 81,06 3,744 85,79 2,511 75,75 3,018
20 90,91 9,160 85,05 5,544 91,33 2,910 80,28 3,616
Henderson e 30 86,94 8,217 85,24 4,836 90,33 2,924 83,34 3,304
Thompson 40 85,18 8,238 82,23 4,039 91,80 2,181 81,50 3,345
50 90,69 3,838 87,72 3,070 89,67 2,163 88,22 2,177
20 90,91 8,637 85,05 5,227 91,33 2,910 80,28 3,409
30 86,94 7,747 85,25 4,560 90,33 2,924 83,34 3,115
Henderson
40 85,18 7,767 82,23 3,808 91,80 2,181 81,50 3,154
50 90,69 3,619 87,72 2,894 89,67 2,163 88,22 2,052
20 96,83 5,174 95,22 3,036 98,44 1,256 92,94 2,109
30 95,29 4,753 95,44 2,603 97,80 1,423 93,97 1,927
Halsey
40 93,88 5,107 94,07 2,269 98,21 1,035 92,62 2,052
50 98,07 1,678 96,95 1,476 97,43 1,101 96,92 1,074
20 84,02 12,746 85,60 5,826 91,58 2,870 85,61 3,350
Chen e 30 83,42 9,811 86,29 4,997 90,11 2,956 87,50 3,094
Clayton 40 81,63 9,708 86,08 3,861 92,67 2,067 85,66 3,185
50 92,40 3,732 89,90 2,994 90,57 2,072 91,51 1,993
20 96,10 5,734 90,47 4,235 94,75 2,284 77,56 3,354
30 93,32 5,638 90,31 3,745 94,20 2,288 84,32 3,030
Luikov
40 92,03 5,798 85,03 3,522 94,27 1,835 82,57 3,070
50 92,76 3,209 90,69 2,539 92,41 1,868 89,04 1,984

Tabela 3. Parâmetros de ajuste (GAB) das isotermas de dessorção e adsorção da pimenta bico inteira.
MODELO T (ºC) C Xm K
20 3509761 0,082 1,012
30 22439456 0,073 0,999
GAB dessorção
40 3663945 0,06 1,013
50 3200923 0,073 0,877
20 4295713 0,051 0,922
30 2797733 0,045 0,94
GAB adsorção
40 1904409 0,044 0,895
50 1474211 0,035 0,912

Tabela 4. Parâmetros de ajuste (GAB) das isotermas de dessorção e adsorção da pimenta bico em
pasta.

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
386 Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al.

MODELO T(ºC) C Xm K
20 3319866 0,065 0,942
30 10416449 0,062 0,932
GAB dessorção
40 7262602 0,062 0,872
50 1316397 0,051 0,881
20 7346056 0,063 0,83
30 2157912 0,06 0,841
GAB adsorção
40 6197021 0,055 0,848
50 3400315 0,046 0,83

Nas Tabelas 3 e 4, estão demonstrados os valor no qual um alimento é o mais estável.


parâmetros do modelo de GAB e podem ser Prado et al. (1999) relatam que o valor de Xm
observados também os valores estimados do diminui consideravelmente com o aumento da
teor de umidade de monocamada (Xm), que temperatura, devido a redução de número de
variaram entre 0,35 e 0,82 g água / g (b.s.) para zonas ativas, como resultado de mudanças
a pimenta inteira e 0,46 a 0,63 g água / g (b.s.) físicas e/ou químicas induzidas pela
para a pimenta em pasta. Observa-se também temperatura.
que os valores de Xm são maiores na dessorção Na Figura 4, está demonstrado a histerese
do que na adsorção. O valor da monocamada é das isotermas de sorção da pimenta na forma
de extrema importância, uma vez que indica a inteira paras as temperaturas de 20, 30, 40 e 50
quantidade de água que é fortemente adsorvido °C.
a locais específicos e é considerado como o

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4. Histerese das isotermas de sorção da pimenta bico inteira nas temperaturas de 20 (a), 30 (b),
40 (c) e 50 °C (d)
pasta, para as temperaturas de 20, 30, 40 e 50
Na Figura 5, é apresentado a histerese °C. Nas Figuras 4 e 5, pode ser observado o
das isotermas de sorção da pimenta bico em efeito de histerese para a pimenta bico na forma

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al. 387

inteira e em pasta, de acordo com Vega-Gálves responsáveis por causar esse efeito. O que se
et al. (2008) este fenômeno ocorre porque sabe é que os principais fatores que afetam a
alimentos frescos retem mais umidade do que histerese são: a composição do produto, sua
alimentos secos em todo o intervalo de aa, temperatura, tempo de armazenamento,
provavelmente devido aos danos celulares temperatura de secagem, entre outros. Yan et al.
provocados em alimentos que foram (2008), Tarigan et al. (2006), Ariahu et al.
desidratados. Diversos autores tem encontrado (2006), Moreira et al. (2005) Kaleemullah;
o fenômeno de histerese em alimentos, dentre Kailappan (2004), Kaymak-Ertekin; Sultanoğlu
eles pode se destacar: Iguedjtal et al. (2008), (2001), Chen (2000) também encontraram uma
Samapundo et al. (2007), Toğrul; Arslan redução da histerese com o aumento da
(2007), Yazdani et al. (2006), Arslan; Toğrul temperatura ao trabalharem com banana, candle
(2005) ao trabalharem com batata, milho, noz, nut, lagosta, nabo, pimentão vermelho, pimenta,
pistache e pimentão, respectivamente. amendoim.
Ainda nas Figuras 4 e 5 está demonstrado Nas Tabelas 5 e 6 podem ser observadas
que a histerese reduziu com o aumento da as áreas da histerese encontradas para isotermas
temperatura. De acordo com Henderson (1970) de sorção de pimenta variedade bico inteira e
diversas teorias têm sido formuladas para em pasta nas temperaturas estudadas,
explicar o fenômeno da histerese, no entanto utilizando-se dos parâmetros obtidos pelo
nenhuma pode afirmar quais mecanismos são modelo de GAB.

(a) (b)

(c) (d)
Figura 5. Histerese das isotermas de sorção da pimenta bico em pasta nas temperaturas de 20 (a), 30
(b), 40 (c) e 50 °C (d)

Tabela 5. Histerese encontrada para isoterma de sorção de pimenta inteira variedade bico nas
temperaturas estudadas.
Temperatura (ºC) Área dessorção Área adsorção Área histerese
20 0,1741740 0,0894841 0,0846898

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
388 Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al.

30 0,1469300 0,0801875 0,0667421


40 0,1274070 0,0735486 0,0538581
50 0,0998272 0,0617301 0,0380971

Tabela 6. Histerese encontrada para isoterma de sorção de pimenta em pasta variedade bico nas
temperaturas estudadas.

Temperatura (ºC) Área dessorção Área adsorção Área histerese


20 0,1182390 0,0962712 0,0219676
30 0,1020000 0,0857601 0,0171363
40 0,1089130 0,0861031 0,0142879
50 0,0853915 0,0714401 0,0139514

Nas Tabelas 5 e 6, verifica-se que foi  Os valores estimados do teor de umidade


encontrada uma maior área para as isotermas de de monocamada (Xm) de GAB variou
dessorção do que de adsorção, resultado entre 0,35 e 0,82 g água / g (b.s.) para a
encontrado por diversos autores, dentre eles pimenta inteira e 0,46 a 0,63 g água / g
pode-se destacar Melo et al. (2011); (b.s.) para a pimenta em pasta;
Kaleemullah e Kailappan (2004); Kaymak-  O efeito de histerese para a pimenta bico
Ertekin e Sultanoğlu (2001), ao determinarem na forma inteira e em pasta reduziu com o
as isotermas de sorção de buriti, pimentão aumento da temperatura;
vermelho e pimentas, respectivamente.  A área da histerese se comportou de forma
Conforme as Tabelas 5 e 6, a área da inversa a temperatura para a pimenta
histerese se comportou de forma inversa a inteira e em pasta, ou seja, de 20 para 50
temperatura para a pimenta inteira e em pasta, ºC essa área reduziu cerca de 55% para a
ou seja, de 20 para 50ºC essa área reduziu cerca pimenta inteira e 36% para a pimenta em
de 55% para a pimenta inteira e 36% para a pasta;
pimenta em pasta. Picelli et al., (2009) e Wolf  A histerese foi menor nas isotermas de
et al. (1972) ao trabalharem com embaúba e sorção da pimenta em pasta,
maçã, respectivamente, também encontraram
uma redução da área da histerese com o AGRADECIMENTOS
aumento da temperatura.
A partir das Tabelas 5 e 6 pode-se avaliar A equipe executora deste trabalho agradece ao
que para a pimenta em pasta a histerese foi Conselho Nacional de Desenvolvimento
menor com relação a pimenta inteira, e de Científico e Tecnológico - CNPq pela bolsa
acordo com Rahman (1995) a histerese é concedida e a Fundação de Amparo à pesquisa
influenciada pelas mudanças na estrutura física do Estado de Mato Grosso – FAPEMAT pelo
do material. Iguedjtal et al. (2008) ao auxílio financeiro.
determinarem isotermas de batata seca e
texturizada, encontraram uma maior histerese REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
para a batata desidratada, segundo eles
provavelmente devido a batata texturizada ter Ariahu, C. C.; Kaze, S. A.; Achem, C. D.
superfície livre de forças capilares. Moisture sorption characteristics of tropical
fresh water crayfish (Procambarus clarkii).
CONCLUSÕES Journal of Food Engineering, v.75, p.355–
363, 2006.
De acordo com a pesquisa realizada,
pode-se concluir que: Arslan, N.; Toğrul, H. Moisture Sorption
Isotherms for Crushed Chillies. Biosystems
 Os valores de umidade de equilíbrio Engineering, v.90, p.47–61, 2005.
diminuíram com o aumento da
temperatura; Assunção, A.B. E Pena, R.S. Comportamento
 O modelo de GAB se ajustou melhor aos higroscópico do resíduo seco de camarão-
dados experimentais das isotermas de rosa. Ciência e Tecnologia de Alimentos,
pimenta bico na forma inteira e em pasta; v.27, n.4, p.786-793, 2007.

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al. 389

Bellagha, S.; Sahli, A.; Ben Zid, M.; Farhat. Kaleemullah, S.; Kailappan, R. Moisture
Desorption isotherms of fresh and Sorption Isotherms of Red Chillies.
osmotically dehydrated apples (Golden Biosystems Engineering, v.88, p.95–104,
delicious). Revue des Energies 2004.
Renouvelables SMSTS’08 Alger , p.45-52,
2008. Kapsalis, J. G. Influences of hysteresis and
temperature on moisture sorption
Bontempo, M. Pimenta e seus benefícios à isotherms. In: water activity: Theory and
saúde. Editora Alaúde Editorial Ltda. São applications to food (edited by L. B.
Paulo – SP, 2007. 110p. Rockland and L. R. Beuchat), Marcel
Dekker, 1987.
Caurie, M. Hysteresis phenomenon in foods.
International Journal of Food Science and Kapsalis, J.G. Moisture sorption hysteresis.
Technology, v. 42, p.45–49, 2007. In: Water Activity: Influences on Food
Quality (edited by L.B. Rockland and G.F.
Chen, C. A Rapid Method to determine the Stewart). New York: Academic Press. P.
Sorption Isotherms of Peanuts. Journal of 143-177, 1981.
Agricultural Engineering Research, v.75,
p.401 408, 2000. Kaymak-Ertekin, F., E Gedik, A. Sorption
isotherms and isosteric heat of sorption for
Damodaran, S.; Parkin, K. L.; FENNEMA, O. grapes, apricots, apples and potatoes.
R. Química de alimentos de Fennema. 4. Lebensmit-tel-Wissenchaft und
ed., Porto Alegre: Artmed, 900 pp. 2010. Technology, v.37, p.429–438, 2004.

García-Pérez, J.V.; Cárcel, J.A.; Clemente, G.; Kaymak-Ertekin, F.; Sultanoğlu, M. Moisture
Mulet, A. Water sorption isotherms for sorption isotherm characteristics of peppers.
lemon peel at different temperatures and Journal of Food Engineering, v.47, p.225-
isosteric heats. Food Science and 231, 2001.
Technology (LWT), v.41, p.18–25. 2008.
Kouhila, M.; Belghit, A.; Daguenet, M.;
Goula, A. M.; Karapantsios, T. D.; Achilias, D. Boutaleb, B. C. Experimental determination
S.; Adamopoulos, K. G. Water sorption of the sorption isotherms of Mint (Mentha
isotherms and glass transition temperature of viridis), Sage (Salvia officinalis) and
spray dried tomato pulp. Journal of Food Verbena (Lippia citriodora). Journal of
Engineering, v.85, p.73–83, 2008. Food Engineering, New York, v. 47, n. 4, p.
281-287, 2001.
Henderson, S. M. Equilibrium moisture content
of small grain hysteresis. Transsactions of Lomauro, C.J.; Bakshi, A.S.; Labuza, T.P.
ASAE, v.13, p.762-64, 1970. Moisture transfer properties of dry and
semimoist foods. Journal of food science,
IAL - Instituto Adolfo Lutz. Normas Analíticas v.50, n.2, p.397-400, 1985.
do Instituto Adolfo Lutz. São Paulo, IMESP,
4ª ed e 1ª ed. digital, 2008. p.1020: métodos Lopes, E. V. E Okura, M. H. Estudo de vida-de-
químicos e físicos para análise de alimentos. prateleira e análise sensorial de conserva e
molho da pimenta. FAZU em Revista ,
Iazdani, M.; Sazandehchi, P.; Azizi, M.; Uberaba , n .2, p .97 -106 , 2005.
Ghobadi, P. Moisture sorption isotherms and
isosteric heat for pistachio. European Food Markus, F.; Daood, H. G.; Kapitany, J.; Biacs,
Research and Technology, v.223, p.577– P. A. Change in the carotenoid and
584, 2006. antioxidant content of spice red pepper
(paprika) as a function of ripening and some
Iguedjtal, T.; Louka, N.; Allaf, K. Sorption techonological factors. Journal of
isotherms of potato slices dried and agricultural and Food Chemycal, v.47,
texturized by controlled sudden p.100-107, 1999.
decompression. Journal of Food
Engineering, v. 85, p.180–190, 2008. Machhour, H.; Idlimam, A.; Mahrouz, M.; El

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015
390 Isotermas de sorção e histerese em pimenta variedade bico in natura e processada em diferentes temperaturas Paglarini et al.

Adrami, I.; Kouhila, M. Sorption isotherms


and thermodynamic properties of Rahman, M. S. Food Properties Handbook. 1
peppermint tea (Mentha piperita) after ed. CRC Press, Boca Raton, 1995.
thermal and biochemical treatment. Journal
of Materials and Environmental Science, Samapundo, S.; Devlieghere, F.; Meulenaer, B.
v.3, n.2, p.232-247, 2012. D.; Tukwase, A.; Lamboni. Y.; Debevere, J.
M. Sorption isotherms and isosteric heats of
Melo, H. S.; Pena, R. S.; Rodrigues, A. M. C.; sorption of whole yellow dent corn. Journal
Silva, L. H. M. Hygroscopic behavior of of Food Engeneering, v. 79, p.168-175,
buriti (Mauritia fexuosa) fruit. Ciência e 2007.
Tecnologia de Alimentos, v.31, n.4, p. 935-
940, 2011. Tarigan, E.; Prateepchaikul, G.; Yamsaengsung,
R.; Sirichote, A.; Tekasakul, P. Sorption
Moreira, R.; Chenlo, F.; Vázquez, M. J.; isotherms of shelled and unshelled kernels
Cameán, P. Sorption isotherms of turnip top of candle nuts. Journal of Food
leaves and stems in the temperature range Engineering, v.75, p.447–452, 2006.
from 298 to 328 K. Journal of Food
Engineering, v.71,p.193–199, 2005. Toğrul, H.; Arslan, N. Moisture sorption
isotherms and thermodynamic properties of
Picelli, R. M.; Arrieche, L.S.; Sartori, D. J. M. walnut kernels. Journal of Stored Products
Histerese de isotermas de adsorção e Research, v.43, p.252–264, 2007.
dessorção de umidade de equilíbrio para
sementes de embaúba. In: In: XVII Vega-Gálvez, A.; Palacios, M.; Lemus-
Simpósio Internacional de Iniciação Mondaca, R. Moisture sorption isotherms
Científica, São Carlos. Anais ... São Paulo : and isosteric heat determination in chilean
USP, 2009. papaya (Vasconcellea pubescens). Química
Nova, v.31, n.6, p.1417-1421, 2008.
Prado, M. E. T.; Alonso, L. F. T.; Sales, A. F.;
Park, K. J. Isotermas de sorção de tâmaras: Wolf, M.; Walker, J. E.; Kapsalis, J. G. Water
Determinação experimental e avaliação de vapor sorption hysteresis in dehydrated
modelos matemáticos. Ciência e Tecnologia food. Journal of Agricultural and Food
de Alimentos, v.19, p.143-146, 1999. Chemistry, v.20, p.1073-1077, 1972.

Prothon, F.; Ahrné, L.M .Application of the Yan, Z.; Sousa-Gallagher, M. J.; Oliveira, F. A.
Guggenheim, Anderson and De Boer Model R. Sorption isotherms and moisture sorption
to Correlate Water Activity and Moisture hysteresisof intermediate moisture content
Content During Osmotic Dehydration of banana. Journal of Food Engineering,
Apples’. Journal of Food Engineering, v. v.86, p.342–348, 2008.
61, n. 3, p. 467 - 470, 2004.

Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.17, n.4, p.381-390, 2015

Você também pode gostar