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All content following this page was uploaded by Juliana Tasca Tissot on 24 April 2015.
RESUMO
O estudo consiste em uma análise dos postos de trabalho dos funcionários de uma peixaria localizada no
Mercado Público da cidade de Florianópolis/SC. A pesquisa tem caráter qualitativo e a avaliação do
ambiente é feita sob a ótica da ergonomia, utilizando métodos de observação e entrevista. Diversos
problemas foram constatados, sendo prioritários os relativos ao layout. Recomendações gerais e
específicas foram efetuadas para a peixaria avaliada.
ABSTRACT
The study consists in an analysis of the workstation of employees in a fish market located in the Public
Market at the city Florianópolis/ SC. The research has qualitative character and searches for an
environmental evaluation from the ergonomics’ perspective. Several problems were identified, however,
priority one´s concerns of layout design. New proposals and general recommendations for fish markets
were suggested.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste em uma análise dos postos de trabalho dos funcionários de uma
peixaria, localizada no Mercado Público de Florianópolis/SC. A maior parte das atividades
realizadas exige que os funcionários fiquem constantemente na postura de pé e em contato
com balcões frigoríficos, que emitem ar frio constantemente.
Há queixas de constrangimentos tanto em relação ao ambiente físico quanto organizacional.
Além disso, a profissão não está regulamentada pela CBO (Classificação Brasileira de
Ocupações). Essa pesquisa tem por objetivo um melhor planejamento do espaço físico com
foco no layout para, assim, melhorar as condições ambientais de realização das tarefas.
A seguir será apresentado o objeto de estudo, métodos e técnicas adotadas na pesquisa,
resultados alcançados e as recomendações para a peixaria analisada.
2. OBJETO DE ESTUDO
A peixaria avaliada nesta pesquisa possui dois pavimentos numa área de 37m². O pavimento
inferior, com 17 m², (Figura 4) funciona para atendimento ao público, limpeza e armazenamento
de peixes e caixa para pagamento. O pavimento superior (Figura 5), com 20 m², possui um
banheiro para funcionários, depósito e câmara fria.
Nesse comércio trabalham nove funcionários, sendo 08 balconistas e 01 limpador de peixe.
Funciona de segunda a sexta-feira, das 07 às 19 horas; sábado das 07 às 14 horas; e domingo
das 07 às 12 horas.
Figura 4 - Planta baixa pavimento inferior. Figura 5 - Planta baixa pavimento superior.
Fonte: Autores. Fonte: Autores.
3. MÉTODOS E TÉCNIAS
4. RESULTADOS
Os resultados, a seguir, estão organizados segundo a relação usuário X atividades x ambiente,
independentemente do método que possibilitou a obtenção dos dados.
4.1 Usuários
Através das entrevistas com clientes, obtiveram-se as seguintes informações:
Faixa etária: entre 40 e 60 anos;
44% mulheres e 56% homens;
86% moradores da cidade e 14% turista.
Os clientes foram questionados sobre sua percepção a respeito do espaço físico da peixaria.
A maioria dos entrevistados considerou o ambiente agradável, sendo a única reclamação a falta
de organização nos atendimentos em dias de maior movimento.
Os dados dos funcionários, juntamente com suas funções, também foram obtidos através das
entrevistas e são apresentados no Quadro 1.
Quadro 1: Funcionários da Peixaria em estudo
FUNCIONÁRIOS
Tempo de trabalho na Turnos (Manhã
função (anos) ou tarde = 06
População Idade Altura Função Peixaria Outras horas ou Integral
(anos) (m) Nelson peixarias = 08 horas)
Santos
P1 31 1,75 02 08
P2 36 1,73 02 20
P3 38 1,89 0,5 02 Manhã
P4 28 1,80 01 11
P5 22 1,72 Balconistas 01 06
P6 59 1,83 30 -
P7 34 1,74 1,5 25 Tarde
P8 36 1,71 03 15
Limpador
P9 38 1,65 De peixe 02 13 Integral
Fonte: Autores.
Os funcionários trabalham uniformizados. O limpador de peixe utiliza jaleco, calça, bota e
avental branco (Figura 6); os balconistas utilizam apenas botas, calças e jalecos brancos
(Figura 7). A única diferença entre as vestimentas dos funcionários é o avental que impede que
o limpador de peixe se molhe. Este acessório, para os balconistas, se torna dispensável pois
não tem contato direto com água.
FUNCIONARIOS X TAREFAS
Tarefas
Função Turno Carregar Montar Vender Embalar Receber Desmontar
mercadorias balcão pagamento balcão
Balconista Manhã X X X X X
Balconista Tarde X X X X X
Limpador Integral X X
De peixe
Fonte: Autores.
Os funcionários relataram constrangimentos por contas das tarefas realizadas. O Questionário
Nórdico (Kuorinka, 1987) ajudou a identificar estes problemas e conclui-se pela predominância
de queixas na região lombar e nos membros inferiores, no caso dos balconistas, conforme
Figura 8.
No caso do limpador de peixe (Figura 9), as queixas dizem respeito à região lombar e membro
superior esquerdo, por ele ser canhoto e repetir o mesmo movimento inúmeras vezes durante
seu expediente.
Para as análises antropométricas, consideramos apenas o posto de trabalho do balconista. O
relato do limpador de peixe é que seu posto de trabalho está adequado para a realização de
sua tarefa. Ao observar, nota-se que os constrangimentos estão relacionados à forma como sua
tarefa é organizada e não com o espaço físico. Essa atividade quase não possui pausas e os
movimentos são repetitivos. Neste caso, o indicado seria uma análise ergonômica na
organização da tarefa, não sendo o foco desta pesquisa.
Para as análises antropométricas, utilizamos os balconistas de menor e maior estatura (1,71 e
1,89 m), onde as dificuldades mais recorrentes e críticas observadas são relacionadas ao
balcão expositor.
O funcionário de menor estatura (Figura 10) tem problemas em visualizar, conversar com os
clientes e alcançar a balança, ficando geralmente na ponta dos pés e esticando os braços, o
que resulta em uma sobrecarga nos membros superiores e inferiores.
O funcionário de maior estatura (Figura 11) não tem problemas de alcance na balança ou de
visualizar os clientes, conforme simulação estática. Seu ponto crítico refere-se ao braço, pelo
movimento repetitivo de pesar os pescados, após a escolha dos clientes.
O acesso às mercadorias, que ficam dentro do balcão expositor, geram constrangimentos aos
balconistas. Como o balcão é muito profundo e a abertura é pequena, o funcionário de maior
estatura (Figura 12) se inclina para alcançar os produtos, e como realiza este movimento
diversas vezes ao dia, o problema se intensifica. O balconista de menor estatura (Figura 13)
não sofre tantos constrangimentos para realizar esta tarefa. Os dois funcionários repetem os
movimentos constantemente, o que gera desconforto.
5. AMBIENTE
O balcão expositor (Figura 16) está mal conservado e sem manutenção. O piso de
cerâmica é coberto com grelhas plásticas (Figura 17) para isolar o contato da água - que
cai dos balcões - com os pés dos funcionários, porém devido ao mau dimensionamento
destas grelhas, isso não ocorre. Ambos os casos, enquadram-se na categoria produtos
do uso devido ao desgaste tanto do balcão quanto das grelhas, produzidos pelos
usuários.
Não há armários para guardar materiais de limpeza, isopor e jornais (Figuras 18 e 19)
obrigando os funcionários adaptar locais para este fim. Enquadram-se na categoria
adaptações ao uso. Observa-se a colocação dos materiais acima da câmara fria e
também sacos de jornais no piso por não ter um espaço adequado para guardá-los.
Suporte Social:
Não há espaço para descanso de funcionários.
Distrações positivas:
Ausência de som ambiente ou televisores.
Controle do ambiente
No inverno os funcionários devem agasalhar-se para se proteger do frio dissipado pelos
balcões.
Fluxos:
No pavimento inferior (Figura 22), para o acesso à loja, o elevador dificulta a circulação,
passando apenas uma pessoa por vez. A mesa onde os peixes são embalados
atrapalha a circulação, tendo os balconistas que se revezar para realizar esta tarefa.
Esses conflitos de fluxo geram produtos relacionados ao uso, como por exemplo, o
desgaste da pedra próxima à entrada da loja do balcão expositor.
No pavimento superior (Figura 23), não foram identificados conflitos de fluxo visto que
sobe um funcionário por vez pelo elevador.
7. RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES
Após as análises e tabulação dos dados, foram propostas recomendações para a melhoria do
posto de trabalho do balconista e realização da tarefa. As sugestões e queixas por parte dos
usuários foram confirmadas pelos pesquisadores através das observações. É importante
destacar que a boa relação entre os funcionários colabora para que a rotina não seja tão
exaustiva. Pelo ponto de vista dos pesquisadores, mesmo num espaço físico restrito, a
alteração do posicionamento de equipamentos e a otimização da circulação, tornaria o espaço
mais agradável e mais funcional para os balconistas. As alterações relativas ao layout são
apresentadas nas Figuras 24 e 25. O Quadro 4 relaciona os problemas encontrados com as
soluções propostas. Ressalta-se que algumas diretrizes propostas para este espaço também
servem para projetos futuros de outras peixarias.
Figura 24 - Alteração pavimento inferior. Figura 25 - Alteração pavimento superior.
Fonte: Autores. Fonte: Autores.
- Peixaria não oferece local para descanso e para - Colocação de mesa e cadeira no pavimento
refeições. superior para os funcionários (16).
- Banheiro sem privacidade. - Instalação de porta e chuveiro (17).
- Espaço inadequado para troca de roupa dos - Instalação de um trocador de roupa com
funcionários. armários para os funcionários (18).
- Mesa de embalagem atrapalha circulação entre os - Substituição da mesa (19).
balconistas.
Sobre ergonomia:
- Dificuldade para leitura dos preços das mercadorias. - Instalação de novas placas com números
maiores e padronizados.
Fonte: Autores.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi desenvolvida com foco principal na análise das atividades do balconista de
peixaria, identificando possíveis problemas na realização das tarefas devido ao ambiente físico.
Mesmo que durante as entrevistas os funcionários demonstraram, de forma geral, satisfação; as
observações realizadas permitiram descobrir vários problemas e solucioná-los com a
remodelação do layout e instalação de equipamentos novos.
Os métodos mais eficazes utilizados na pesquisa foram as entrevistas e as observações.
Através das entrevistas, feitas com o apoio de um formulário, compreendeu-se a organização
da peixaria e identificaram-se as rotinas e tarefas. As observações comprovaram o que foi
relatado, além de aproximar os pesquisadores do objeto de estudo, como por exemplo,
identificar os constrangimentos aos quais estão relacionados, sendo neste caso o balcão
expositor o principal problema.
As observações dos traços físicos segundo Zeisel (2006) contribuíram para identificar a
usabilidade dos espaços e pensar nas possíveis mudanças projetuais baseadas em como os
funcionários estavam utilizando o espaço. Conseguiu-se identificar os problemas e fazer
recomendações para que o espaço se adapte às necessidades dos usuários.
Essa pesquisa serviu para levantar questionamentos sobre o posto de trabalho dos balconistas,
oferecendo novas possibilidades projetuais para peixarias com base nas avaliações ambientais.
Dada à importância do Mercado Público como um local atrativo, recomenda-se que futuras
pesquisas analisem as áreas de circulação geral dos clientes nessa edificação.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo. Edgar Blucher, 2005.