Residência para Migrantes e Refugiados

2022 / 2023
“O Desenhador desenha-se”
“(...) ao fazer um desenho, a minha identidade contida na maneira
dos meus gestos, está impressa em cada traço e em cada mancha.
Ao usar o verbo de forma reflexa, desenhar-se, pretendo impor dire-
tamente esta ideia de identidade contida no ato de desenhar. Digo
de mim, em desenhos, porque posso querer fazê-lo – ato conscien-
te – mas desenho-me sempre, tanto quanto essa Acão tem como
resultado final um objeto que é o seu vestígio – ato com caracterís-
ticas mais vegetativas do que subconscientes. (…)
O objeto desenho, não existe anterior a nós, ele é um resultado quer
da nossa relação espacial e fenomenal com o mundo, quer um re-
sultado direto da nossa vontade e capacidade de ação, neste caso
do desenhar (...)
A quase organicidade do desenhar, neste sentido de vestígio de
nós mesmos, é um dos aspetos fundamentais para entender a sua
Introdução 15 importância como método de investigação e registo
do mundo que nos envolve, bem como de nós próprios, tanto quan-
to permite estabelecer uma relação direta entre a coisa a perceber,
a perceção e o registo de como foi percebido. Um registo que não
só faz sentido para nós próprios, como é também imediatamente
compreensível por quem olhar o desenho.” (Rodrigues 2003)
Memória Descritiva
A implantação do projeto é baseada no conceito de simpli-
cidade, a sua realização é fruto de uma investigação sobre
o local e de uma articulação que se mostra expressiva e
viável de acordo com o lote, delimitado por edifícios de di-
ferentes cotas, mas com potenciais expressivos, e com um
desnível de aproximadamente 3,5metros.
O projeto consiste na criação de uma Residência para Mi-
grantes e Refugiados “que permita redefinir uma área urba-
na em transformação – requalificar o espaço residencial e
trabalhar a sua relação com a envolvente”.
Contudo, interpretadas dificuldades do programa e do en-
torno das formas urbanas próximas, foi optado a criação
de dois volumes abstratos semelhantes a dois paralelepí-
pedos, que se assumem perante a envolvente, mas que não
chocam em termos de proporções com os restantes edifí-
cios próximos.
Ciente da estratégia de implantação que se resume numa
atitude morfológica simples, surgiram espontaneamente
questões que dizem respeito com a ocupação e a função
do restante espaço urbano. A resposta passou pela conce-
ção de um generoso espaço publico, que concede um des-
tacamento ao edifício, através da manipulação da topogra-
fia existente, fazendo a integração com a restante cidade e
espaços envolventes, principalmente a proximidade a Rua
Pinto Bessa, estação de comboio e metro de Campanhã.
O projeto, por isso, manifesta uma intenção obvia de po-
tencializar o caracter publico, que conduz ao desenho do
espaço exterior com a mesma preocupação do desenho do
seu interior.
No desenho do espaço publico, a intenção de privilegiar
uma livre deambulação de pessoas pela cidade, conferindo
uma maior permeabilidade e enfase ao volume edificado.
Para decifrar o organigrama do projeto, a organização ca-
racteriza-se principalmente em uma série de planos que
limitam as diferentes áreas do programa, na generalidade
amplas. A caracterização do projeto resume-se em termos
espaciais por um conjunto de planos longitudinais e trans-
versais, que para alem de estruturais controlam a circula-
ção espacial resultante da organização do programa.
Um dos aspetos mais estimulantes a resolver sem ser a
relação entre as diferentes cotas da envolvente foi as dife-
rentes escalas dos espaços interiores, tentando a criação
de um projeto flexível.
Um plano longitudinal continuo nos três pisos possibilita a
criação de um obstáculo físico entre espaço publico e es-
paço privado. O programa está dividido em dois edifícios
de escala semelhante. No piso térreo de ambos está loca-
lizado o espaço publico, que é potenciado através de uma
transparência entre espaços, a continuidade entre o exte-
rior e o interior, com a abertura de pátios que possibilitam a
criação de “ambientes” e uma forma diferente de viver cada
espaço do programa
A representação do exterior do edifício, relaciona-se com os
edifícios da envolvente, bem como tenta se destacar pela
sua expressividade. Em síntese, a conceção de uma facha-
da cortina composta por molduras de vidro disfarçadas pela
estrutura, foram os princípios adotados para solucionar o
problema existente das relações compositivas entre o novo
edifício, a nova forma e os edifícios antigos pré-existentes.