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Al Nakba:
São Paulo
2023
São Paulo/SP
2023
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SILVA, Júlia Soares. Al Nakba: A Catástrofe Palestina Orquestrada pelo Ocidente. 2023.
Disciplina: História da Palestina Moderna II – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo.
Reflexões sobre a história da região denominada atualmente como Palestina a partir da leitura
do livro History of modern Palestine; One land, two people por Ilan Pappe, que propôs um
novo caminho epistemológico para escrever a história dos povos que dividem o território que
hoje é reconhecido como Israel e Palestina. Ilan Pappe trouxe este novo ponto de partida
teórico porque, enquanto ensinava na Universidade de Haifa, se deparou com
questionamentos de seus alunos palestinos, que se indignavam diante da visão exclusivamente
pró-israelense da academia. Pappe, então percebeu que eram abundantes os livros que
tratavam da região, entretanto, a narrativa era hegemônica por conta da dominância da teoria
da modernização do Oriente Médio nesses estudos, a partir de um olhar eurocêntrico que
atendia à curiosidade do mundo sobre o assunto, sem o intermédio de historiadores
humanistas, mas sempre a partir de visões muito ligadas às religiões dos povos que
protagonizam esse conflito.
1. Introdução
2. Palestina Histórica
5. A partir de 1948
Introdução
1 MARX, Karl. O Capital, Capítulo XXIV, p. 341. “ Assim, o movimento histórico, que transforma os
produtores em trabalhadores assalariados, aparece, por um lado, como sua libertação da
servidão e da coação corporativa(...) Por outro lado, porém, esses recém-libertados só se
tornam vendedores de si mesmos depois que todos os seus meios de produção e todas as
garantias de sua existência, oferecidas pelas velhas instituições feudais, lhes foram roubados.
E a história dessa sua expropriação está inscrita nos anais da humanidade com traços de
sangue e fogo.”
conhecida sob o mandato britânico no século XX, não formava uma unidade geográfica e
política). Isso porque, segundo Ilan Pappe, “Muitos deles (o povo palestino) estão
intimamente ligados à terra onde vivem ou escolheram instalar-se. Agarram-se à terra ou à sua
propriedade não por um imperativo nacional de proteger a pátria, a entidade, mas por razões
muito mais triviais e, simultaneamente, mais humanas” (2004. p. 35). Tais razões triviais são
oriundas do sentimento de comunidade, característicos da cultura árabe, mas principalmente
porque a terra era seu instrumento de manutenção da vida. O povo palestino cultivava uma
relação recíproca de cuidado com a natureza ao semear as plantações que garantiam a
manutenção da vida para as grandes famílias árabes.
Sobre esse assunto, vale relembrar a questão dos campos de oliveiras. A oliveira é uma
espécie de árvore típica da região da Palestina histórica, cujas origens milenares se
comprovam a partir de textos sagrados para a religião judaica e cristã. No Alcorão, a árvore
aparece:
“E uma árvore, que brota do Monte Sinai: ela produz azeite, e tempero para que
comeis” (Suratu Al-Muuminun 23:20). O azeite, um de seus produtos, liga a ninguém menos
que o próprio Criador, como demonstra o seguinte versículo: “Deus é a luz dos céus e da terra.
O exemplo de Sua luz é como o de um nicho, em que há uma lâmpada. A lâmpada está em um
cristal. O cristal é como se fora astro brilhante. É aceso pelo óleo de uma bendita árvore olívia,
nem de leste nem de oeste; seu óleo se ilumina, ainda que o não toque fogo algum. É luz sobre
luz. Deus guia a Sua luz a quem quer. E Deus propõe, para os homens, os exemplos. E Deus de
todas as coisas é Onisciente” (Suratu An-Nur 24:35).
O território da Palestina, entre 1831 e 1840, foi governado por Muhammad Ali do
Egito, que respondia ao Sultão Otomano, que havia anexado também a Síria. Neste período,
em 1934 revoltas populares aconteceram contra a ocupação egípcia, que vinha acompanhada
do aumento dos impostos, de excessiva intervenção militar e da obrigatoriedade da entrega
das armas de fogo dos camponeses ao governo 2. A região permaneceu sob domínio otomano
até meados de 1876. Durante esta época, cerca de meio milhão de pessoas que falavam a
língua árabe viviam lá, desses, a maioria era muçulmana, porém havia cerca de 60.000
cristãos, 20.000 judeus, além de 50.000 soldados otomanos e 10.000 soldados europeus. Este
território era subdividido em quatro regiões delimitadas pelas características naturais do
relevo administradas pelo sanjac otomano: Nablus, Acre, Hebron e Jerusalém, onde a
população era composta majoritariamente por trabalhadores rurais, portanto, era comum que,
para se defender de possíveis invasores ou convidados indesejados, os moradores possuíssem
armas de fogo. A vida girava em torno da família e era governado por hamulas, uma espécie
de clã que podia se estender como liderança de uma ou duas vilas. Havia um sistema comunal
de rotação de terras chamado de Musha, que garantia que cada agricultor pudesse, em
determinado período, se beneficiar das partes mais férteis do solo. Na porção rural do
território palestino, as boas colheitas, principalmente nos campos algodão, milho ou de
oliveiras, significavam abundância coletiva e motivo de comemoração. A situação
habitacional era a questão social mais emergente 3. Cada conjunto de vilas formava uma sub-
província otomana, liderada por um Sheik, que tinha o papel de coletor de impostos e conciliar
conflitos4. “Porém, ao final do século XIX, a maioria dos líderes rurais caíram, vítimas dos
esforços de centralização dirigidos pelos reformistas em Istanbul” (“By the end of the
nineteenth century, however, most of the rural leaders had fallen prey to centralization efforts
directed by the reformers in Istanbul.) (Ibidem). A partir de 1840, os otomanos se esforçaram
para reorganizar o território, a partir do desejo de governar Damasco e Beirut em um estado
moderno aos moldes da centralidade francesa.
Sobre a questão feminina, Pappé reconhece haver divisão do trabalho que se diferencia
de vila para vila, a depender da cultura cultivada em seu terreno. Onde crescia trigo, por
exemplo, as mulheres trabalhavam ao lado dos homens nos campos, porém, onde o milho era
Entretanto, entre 1853 e 1856, ocorreu a guerra da Criméia, onde o Reino Unido, França
de Reino de Sardenha se uniram com o Império Otomano para derrotar o Império Russo.
Neste momento, os europeus conseguiram se aproximar politicamente das elites árabes e criar
uma rede de interesses que, segundo Alan Pappe “criou uma base comum para o futuro
nacionalismo árabe”7. Com o final da guerra, o Congresso de Paris abriu o Oriente Médio
para a exploração europeia, ao permitir que estrangeiros comprassem terras e títulos na região,
o que atraiu investidores e banqueiros que buscavam lucro fácil, e acelerou o processo de
secularização da sociedade sob a justificativa da modernização da elite palestina 8. Esses ideais
liberais que diziam respeito ao suposto progresso oriundo da tecnologia e ideologias
européias, foram impulsionados desde meios políticos, até através de escolas abertas na
segunda metade do século XIX, onde missionários estadunidenses ensinavam para a futura
elite do país ideais de nacionalismo, democracia e liberalismo 9. Essas transformações foram
como “sombras sob o céu azul da Palestina rural” 10 ao passo que transformaram
profundamente os modos de produção e o modo de vida da população. A instauração do
modelo de vida europeu, gerou maior necessidade de crédito e empréstimos, o que foi suprido
através da inauguração de bancos, pertencentes principalmente por cristãos da Grécia
Ortodoxa e outros estrangeiros, o que tornou os gregos um pilar importante da economia da
então Palestina, atualmente ocupada por Israel 11. Tais movimentos econômicos empoderaram
5 Ibidem, p. 17.
6 Ibidem, p. 20.
7 Ibidem, p. 4, “created a common base for the future Arab nationalism”.
8 Ibidem, p. 21.
9, Ibidem, p. 4, “Americans missionaries teaching in schools opened in the second half of the
nineteenth century. Through these schools, the future leader of Palestinian nationalism were
introduced to nationalism, democracy and liberalism”
10 Ibidem, p. 21, “This latter process hung like a shadow over the clear skies of rural
Palestine.”
11 Idem.
esses povos ao sentimento de protagonistas da terra em contraposição a visão dos
muçulmanos como o “outro” e podem ser associadas ao processo de acumulação primitiva
que permitiu a posterior expropriação da região pelos sionistas. Esse entrelaçamento da
economia local com a economia mundial acarretou numa Palestina profundamente
dependente da Europa em diversos sentidos. A importação de produtos manufaturados e a
exportação de insumos agrícolas, tornou-se comum. A região era também interessante aos
assuntos europeus, pois era uma rota facilitada para outras regiões no interior do continente.
Em 1858, leis a respeito do uso da terra criminalizam o sistema de rotação Musha, entre
outras coisas, o que acarreta na profunda transformação do uso da terra e da relação desta com
os pequenos produtores. Os primeiros sionistas chegaram à região em 1882, após adquirirem
títulos de grandes porções de terra.
Segundo Ilan Pappe, a presença e a política imposta pelos europeus, por um lado, e por
outro os planos e ambições sionistas, influenciaram a comunidade arábe na Palestina a se
unificar sob uma liderança tradicional, encabeçada por Amin al-Husayni 12. Ele também afirma
que esses agentes externos foram os principais atores de transformação da Palestina, ao
contrário da narrativa tradicional que atribui essa responsabilidade à elite local 13, que cresceu
12 Ibidem, p. 5, “The British Mandate after World War One consolidated European influence
in Palestine, and was the last modernizing factor in the narrative of pre- Palestine. It was due
to its presence and policies on the one hand, and Zionist plans and ambitions on the other, that
the Arab community in Palestine regrouped under traditional leadership, headed by Amin al-
Husayni, and became a new national Palestinian movement.”
13 Ibidem, p. 6.
em número e em qualidade de vida. Para Pappe, a nacionalização da palestina foi processo
essencial para o advento da ocidentalização 14 da região, consolidada mais tarde pela ocupação
Israelense. Além disso, afirma que a importância dada à escolha do nome da região só
aconteceu por motivos políticos a partir do século XIX, porque, até então, para os moradores
da região, o que os unia era o apego pela terra, pela comunidade, e a eles pouca diferença
fazia como a terra se chamava. Os únicos sujeitos que disputavam a nomeação do estado eram
aqueles pertencentes às elites, que possuíam interesses extraordinários aos interesses da
população que ocupava aquela terra.
14 Idem
15 Ibidem, p. 36, “They wrote in the ancient Hebrew language, and retold the stories of the
biblical kingdom of Solomon and the last Jewish republic of the Hasmoneans”
determinadas comunidades judaicas por toda a Europa. Ao final do século XIX, muitos judeus
já haviam adquirido terras na Palestina e muitas outras lideranças ascenderam. Dentre estas,
Haim Weizmann, que liderava, o movimento Hovevei Zion (Amantes de Sião), possuía ideais
“misturados entre nacionalismo romantizado e socialismo” a serem colocados em prática em
território palestino16, foi extremamente impulsionado pelas políticas anti-semitas contra os
judeus que viviam na Polônia e na Rússia. Esses judeus eram vítimas de perseguição política,
tanto pela sua organização territorial, quanto por seus ideais socialistas, eram constantes alvos
de preconceitos e estereótipos degradantes, e foram acusados até de participarem no
assassinato do Czar Alexandre II em 1881, por seu sucessor, que liberou uma onda de extrema
violência contra essa população. A partir deste momento, o êxodo judaico começou. Enquanto
algumas famílias fugiram para os Estados Unidos da América, outras compraram as primeiras
porções de terra na Palestina. Estes foram denominados Primeiro Aliá, título honroso que
implicava na ascensão desses sujeitos à terra sagrada, e se consideravam haluzim (pioneiros),
comparando-se com os primeiros colonizadores a chegarem ao norte da América alguns
séculos antes17. Nem todos esses sujeitos permaneceram na Palestina, mas construíram a base
tática para a chegada dos próximos colonizadores. Alguns se tornaram agricultores e outros
abriram negócios nos centros urbanos, porém, ao se depararem com dificuldades financeiras,
recorriam ao Barão de Rothschild, o judeu mais rico da Europa, que não havia apoiado os
planos de Herzl a principio, mas que cedeu ajuda após os primeiros assentamentos judaicos
nascerem. Rothschild providenciou ajuda tecnológica além da financeira. Em 1899 duas
novas colônias foram criadas, independentes do Barão. Seu apoio foi substituído pela “Zionist
Organization for the Settlement of the Land of Palestine.” (Organização sionista para a
colonização do território palestino)18. O governo otomano tentou frear a colonização judaica,
mas logo a influência britânica revogou essas tentativas. Os colonizadores judaicos
encontraram, além da população nativa, colonizadores cristãos. O que eles tinham em comum
era o compromisso com a modernização da terra e desprezo pela população nativa. Além
disso, a terra representava uma possibilidade para a expansão da acumulação do capital,
portanto, todos os interesses de qualquer governo interessado em conquistar a Palestina pouco
se preocupava com a população originária, que eram vistos ora como empecilhos, ora como
16 Ibidem, p. 38, “Known as the ‘territorial Zionists’, they were inspired by a mixture of
romantic nationalism and socialist revolutionary ideology to be enacted in the land of
Palestine.”
17 Ibidem, p. 39.
18 Todas as traduções presentes neste projeto são independentes.
algo a ser expropriado, seja pela contratação da sua força de trabalho a baixíssimos salários,
seja expulsando-os de suas terras por meios violentos e terroristas.
Até 1908, a Palestina foi governada por Abdul Hamid. O período foi marcado pela
expansão da estrutura ferroviária, pela taxação direta, pelas ideologias conservadoras (anti
reformistas) e pela ideia da cidadania otomana de Hamid. Quando a ideia foi rejeitada, ele
buscou a sua abrangência através do emprego da força, o que causou um impulso extra à
entrada da Palestina na economia global. Este impulso foi sentido pelas elites locais como
muito proveitosas, já que os permitia acúmulo de riquezas, o que fortalecia os ideais
nacionalistas iminentes19. Entretanto, esses ideais não eram amplamente aceitos pela
majoritária população árabe daquela região até então.
Enquanto isso, Herzl buscava de várias maneiras conseguir apoio britânico para o
estabelecimento da Palestina como o estado judeu, entretanto, suas propostas foram
seguidamente rejeitadas. Ele tentou, inclusive, negociar o território da Uganda, porém este
plano não foi rejeitado apenas pelos europeus, como também pelos outros sionistas, que viam
este método como um desvio do verdadeiro objetivo, sendo considerado como anti-patriótico.
A partir de 1904, os palestinos passaram a protestar mais amplamente contra o expansionismo
sionista, porém, o processo expansionista continuou a crescer até o final da Primeira Guerra
Mundial.
19 Ibidem, p. 45.
20 Ibidem, p. 52.
21 FINKELSTEIN, Norman G. Imagem e Realidade do Conflito Israel-Palestina. 2ª Edição.
Record, 2005, p. 60.
nos centros urbanos, estes, viam com maus olhos o sionismo, e o atribuíam a heresias. Os
sionistas nacionalistas, com o apoio do Barão de Rothschild, inauguraram Tel-Aviv em 1907.
Tel-Aviv era o antagonismo da idealização socialista judaica camponesa. Logo, se fez claro
que esta era uma cidade construída para os judeus, através das ações políticas constrangedoras
aos árabes e aqueles judeus que ousassem tecer relacionamentos, seja empregatícios ou não
com estes sujeitos.
Em 1909, Abdul Hamid foi deposto através da revolta organizada pelos Jovens Turcos,
que forçaram Hamid a reverter sua decisão de suspender o parlamento otomano. Os Jovens
Turcos representavam o sonho de uma nação árabe unificada. Até o final da Primeira Guerra,
porém, eles não tinham direito de participar de partidos políticos. Este período foi marcado
também pelo aparecimento das primeiras organizações nacionais palestinas 22. A era “pós-
otomana” foi disputada por diversos grupos, como os cristãos, islâmicos, turcos e etc. Esse
movimento, porém, criou nos centros urbanos uma nova dinâmica, especialmente empolgante
para as jovens elites. Novas estruturas e ideias estavam surgindo, em meio à toda discussão
acerca da guerra. Mas não apenas as elites participavam, pelo contrário, esse processo trouxe
cidadãos comuns para o debate político, o que fomentou uma juventude palestina que mais
tarde lutaria com ideais nacionais contra o expansionismo sionista e britânico.
28 Idem.
exército para resistir ao movimento sionista nos anos 1940 estava faltando” e Ilan Pappe diz
que “é justo dizer que a partir de 1939 não houve uma liderança palestina na prática”. Em
1939 uma conferência no palácio de St. James em Londres, o Reino Unido declarou que havia
cumprido suas obrigações de estabelecer as bases para a formação de um estado judeu na
Palestina, neste momento o braço judeu do exército britânico constitu o exército de Haganah,
com sua própria força aérea, tanques e armas pesadas. Além disso, o plano Dalet, um sistema
de aquisição de dados e planejamento de expulsão compulsória de palestinos, havia mapeado
todo o território, e obtiam informações sobre todas as vilas e seus aspectos políticos e
naturais, o que permitia que os sionistas escolhessem as mais vantajosas para expropriar.
A partir de 1948
Entre 1947 e 1949 aproximadamente 800 mil árabes saíram da Palestina. Entretanto,
no começo de 1948, “palestinos árabes constituíam mais de dois terços da população do país.
Eram maioria em quinze dos dezesseis subdistritos e possuíam 90% da terra” 30. A versão
israelense que tenta justificar esta incongruência é que os palestinos saíram por ordem das
lideranças (que haviam sido aniquiladas antes de 1940), ou que foram “inelutável efeito
29 Idem.
30 CLEMESHA, Arlene. Palestina, 1948-2008, 60 Anos de Desenraizamento e
Desapropriação. Fórum, 2008, p. 171.
colateral da guerra de 1948-49”31. Entretanto, segundo Rashid Khalidi, “os ataques decisivos à
coesão da sociedade palestina foram produzidos ainda antes de 15 de maio, no início da
primavera de 1948”32, antes dos árabes participarem do conflito.
Em 29 de novembro de 1947, judeus não possuíam mais que 5% das terras palestinas,
porém a Assembleia Geral das Nações Unidas, através da UNSCOP (United Nations Special
Committee on Palestine), aprovou a Resolução 181, que partia o território do Mandato
Britânico da Palestina em dois estados, um judeu e um palestino, sendo 55% do território
atribuído aos 700 mil judeus, e 45% aos 1 milhão e 400 mil árabes 33. Essa decisão foi
fortemente motivada como recompensa pelo sofrimento que os judeus haviam passado com o
Holocausto, entretanto, vinha às custas de vidas árabes inocentes. A resolução da ONU
deliberadamente ignorou a palavra “Palestina” de seu texto oficial e tornou “o
estabelecimento de um estado Árabe impossível, já que Jaffa estava separada do resto do
estado e Gaza estava separada de suas terras agrícolas”34
O Plano Dalet foi o principal passo para o planejamento da expulsão sistemática dos
palestinos árabes, através do mapeamento dos vilarejos, ideia de Ben-Zion Luria e realizado
31 Ibidem, p. 175.
32 KHALIDI, Rashid, 2007, p. 13.
33 «Palestine question/Establishment of UN Special Committee on Palestine (UNSCOP) –
GA first special session – Resolution» [Questão da Palestina/Estabelecimento do Comitê
Especial da ONU sobre a Palestina (UNSCOP) – primeira sessão especial da AG –
Resolução]. Organização das Nações Unidas. 15 de maio de 1947.
34 ALJAZEERATALK. Al Nakba Portuguese Subtitle (2/2). Youtube, 29 de julho de 2012.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-M9Hm49sS7Y
35 CLEMESHA, Arlene. Palestina, 1948-2008, 60 Anos de Desenraizamento e
Desapropriação. Fórum, 2008, p. 176.
36 Idem.
pelo Fundo Nacional Judeu (FNJ-KKL), permitiu com que o recém proclamado Estado de
Israel obtivesse informações sobre a qualidade da terra, aspector físicos e naturais dos
vilarejos, além do “nível de hostilidade ao sionismo”, quantidade de homens e suas idades, até
quantar frutas as árvores rendiam, filiações políticas e tudo que se podia saber sobre os
vilarejos. Em 1947 esses arquivos foram utilizados para criar uma lista de procurados de cada
vilarejo, estes, muitas vezes homens em idade de combate, eram constantemente fuzilados no
local, “entre os critérios para inclusão na lista, além da participação em ações contra
britânicos e sionistas, havia o envolvimento no movimento nacional palestino (o que poderia
se aplicar a vilarejos inteiros) e, principalmente, com o líder do movimento, o Mufti Hajj
Amin Al-Husayni”37.
37 Ibidem, p. 177-8.
38 Sepal, s.d.p, p. 13.
39 CLEMESHA, Arlene. Palestina, 1948-2008, 60 Anos de Desenraizamento e
Desapropriação. Fórum, 2008, p. 182.
A Liga Árabe era, então, um grupo dividido internamente que não representava
unidade politicamente que, “Curiosamente, permaneceu obstinadamente contrária a deixar
que os palestinos assumissem o controle de seu próprio destino” 40. Ainda, segundo Clemesha
“nota-se em que medida a luta foi local e segmentada para os palestinos, enquanto
centralizada e nacional para os sionistas” 41. O General John D’arcy, quando questionado sobre
a situação militar da Palestina após a retirada do exército britânico, afirmou que “o Haganah
poderia tomar toda a Palestina. Eles podem defendê-la contra todo o mundo árabe” 42. Segundo
Ilan Pappe, “um grupo de líderes sionistas e comandantes militares se encontrava
semanalmente, de fevereiro de 1947 até fevereiro de 1948 planejando a limpeza étnica da
Palestina (...) e a cada semana foram se convencendo de que esta era a melhor maneira de
avançar”43. Eles desenvolveram lança-chamas para tornar a destruição de vilas mais prática.
Ben Gurion escreveu em suas memórias: “Em cada ataque um golpe decisivo deverá ser
aplicado, resultando na destruição de casas e expulsão da sua população” 44. Um mês antes da
declaração do Estado de Israel, as tropas britânicas começaram a se retirar do país, deixando
para os sionistas os tanques de guerra e outros equipamentos, assim como os edifícios e bases
militares que utilizavam. Glubb Pasha chamou a guerra de 1948 de “a guerra falsa”.
da Palestina (OLP), buscaram estabelecer uma estrutura para a paz, concedendo à Autoridade
Palestina certos poderes e uma administração limitada sobre partes da Cisjordânia e da Faixa
decepcionantes. Alguns argumentam que esses acordos trouxeram benefícios iniciais, como o
Cisjordânia e da Faixa de Gaza. No entanto, Arlene Clemesha observa que essa criação de um
proto-governo agiu mais como beneficiador para Israel do que para os palestinos, além disso,
51 Idem
Questão dos Refugiados: Os acordos não abordaram de forma abrangente a situação dos
refugiados palestinos, uma questão central para os palestinos que foram deslocados
durante os conflitos anteriores.
Falhas nas Negociações Posteriores: As negociações subsequentes não conseguiram
resolver questões fundamentais, levando a impasses contínuos e ao aumento das
tensões na região.
Conclusão
Israel segue seu plano de genocídio e limpeza étinica até hoje. De 7 de outubro até 31
de dezembro de 2023, Israel matou mais de 20 mil palestinos. A Nakba jamais teve fim. Ela
continua, graças ao lobby que Israel tem nos Estados Unidos, que o garante apoio das Nações
Unidas e cobertura midiática tendencionista. A catástrofe palestina teve inicio no século XIX
e continua. O ocidente não tem interesse em parar o genocídio, porque não possui interesses
economicos com os palestinos.