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O SAX-TENOR

Diziam que a sonoridade do jazz moderno foi “tenorizada” – desde Lester Young; na
segunda metade dos anos 60, ela foi “guitarrizada” e, por fim, “eletronicizada”.

Coleman Hawkins (foto)

Foi o músico que iniciou essa história e o que é fascinante para os tenoristas em
Hawkins é sua sonoridade grade, forte e volumosa. Até o fim de 1930, a execução do sax-tenor
no jazz direcionava-se a ele: dramáticos percursos melódicos, sonoridade volumosa e
improvisações rapsódicas (muito emocionais).
Todo aluno de tenor da época era aluno de Hawkins e desses, o que mais chegou
próximo a ele foi Chu Berry (foto), tendo outros como Arnett Cobb, Ben Webster, Illinois
Jacquet, buddy Tate, Don Byas, Lucky Thompson, Frank Wess, Benny Golson e muitos outros.
Hawkins também foi muito requisitado na Europa. Quando se pensava em um sax-tenorista se
pensava em Coleman Hawkins.
Um dos seus solos mais populares foi “I don’t Stand a Ghost of a Chance”(vídeo). 1:26 min

Coleman Hawkins antecipou-se Bud Freeman(foto) em termos de impacto, mas foi Bud
Freeman, o tenor do estilo Chicago que influenciou Lester Young em seu período inicial.

Don Byas (foto) Seu estilo é marcado pelo seu uso flexível da harmônia, herdado de seu
ídolo, o pianista Art Tatum. “Naquela época, não havia nenhum tenor que se inspirasse nos
pianistas; ou seja, eu estava a frente de todos.” (Don Byas).
Iliinois Jacquet, antecipou-se aos tenores do free jazz, ele conseguiu dilatar sua
extensão sonora até a região do flageolet (espécie de falsete).

Lester Young (foto)

Hershel Evans (foto) era rival de Lester Young na banda de Count Basie. Evans disse a
Lester, zombando “Porque você não toca alto? Você tem sonoridade de alto”. Lester,
apontando para sua cabeça, disse: “Há coisas rolando aqui dentro. Alguns de vocês são só
estômago.”
Basie, achou tão interessante o contraste entre Lester e Evans que depois, ele buscou
repetir o formato e posteriormente o contraste foi corporificado pelos “two franks”: Frank
Foster(foto) sendo mais moderno, e Frank Wess (foto) representante de Hawkins.

O que os fascina em Lester são suas linhas líricas e sinuosas.


Nos de 40-50, Lester Young(foto) se tornou o nome mais representativo do sax-tenor;
mas a tensão entre “F.Hawk” e “F.Pres”, tornou viva a tradição de Hawkins entre os
saxofonistas da escola de Sonny Rollins.

Poucos sax-tenoristas eram considerados músicos bebop, pois a influência de Lester


Young era imbatível, onde suas linhas melódicas se contrapõem ao que era feito no bebop. Até
os anos 50, a influência de Lester Young tornou-se cada vez mais forte entre o sax-tenoristas
do que a de Parker.

Logo a história do sax-tenor permeia entre ao som de Hawkins e a linha melódica e


Lester. “You're Driving Me Crazy”(vídeo)

Surge então um grupo de sax-tenoristas na escola de Lester que manifesta tendência a


sonoridade de Hawkins.
Gene Ammons(foto) é a figura mais importante. Membro da orquestra de Woody
Herman no fim dos anos 40 ele se torna conhecido por meio das battles de sax-tenor com
Sonny Stitt(foto) (na época, os músicos de jazz adoravam duelar). Ele possuía a maior e mais
poderosa sonoridade entre os músicos que não eram da escola de Hawkins.
De resto classificam-se os tenoristas de Lester, da seguinte forma: de um lado estão os
que uniram as ideias dele ao bebop; e do outro, os que se reportando menos ao bebop. Os
mais importantes de “Lester + Bop” são Wardell Gray, James Moody, Budd Johnson e Frank
Foster.

As batalhas de sax-tenor que Wardell Gray(foto) e Dexter Gordon estão até hoje entre
as mais excitantes da história do Jazz. “The Chase, Wardell Gray”(vídeo).

Em 1947, surgiu a sonoridade “Four Brother” (Cálida e Aveludada, ela simboliza a


sonoridade ideal do cool jazz. Criada por Gene Roland(foto) e Jimmy Giuffre(foto), surgindo a
partir dos quatro saxofones tenores da banda de Tony de Carlo, e foi modificada
posteriormente por Woody Herman, que trocou um tenor por um barítono. Utilizada por
Miles Davies em “The Capitol”(vídeo), ela se tornou a sonoridade típica de ensemble mais
almejada pelos jazzistas da época.

Até aqui pode ter ficado a impressão de que a contraposição entre Hawkins e Young ao
desenvolvimento do sax-tenor tenha resultado na vitória do Young, pois a influência de Young
é como se fosse uma herança biológica que passa pelas gerações. Mas Isso muda quando
Sonny Rollins(foto) (improvisador) se torna tão importante quando Miles Davis. Seu estilo é
uma mistura de Parker e Hawkins, mas com uma leve influência de Young, da qual
praticamente nenhum sax-tenorista posterior a ele podia escapar.
“Os sucessores de Charlie Parker tocam sax-tenor”, era a principal manchete de uma
revista de jazz francesa nos anos 50, quando a influência de Rollins atinge seu ápice.

Dexter Gordon(foto) pulsava uma calma em sua sonoridade conseguindo sempre tocar
um pouco atrás do beat (laid back). “Blowing the Blues Away”(vídeo) 1:15 min

Gordon fundou, ao lado de Gene Ammons, a moda de battles e chases, “caçadas” musicais.

Apesar disso, Sonny Rollins é o maior representante das improvisações motívicas: seus
solos são elaborações e desdobramentos geniais de motivos temáticos. Ele estabelece uma
relação livre com a harmonia sobre o improviso.

Eddie Harris foi criativo e original que já nos anos 60 experimentou eletrificar a
sonoridade do sax-tenor.

John Coltrane (foto) “A LOVE SUPREME”(vídeo)


Influenciou e continua influenciando diversos tenoristas, incluindo músicos de outros
instrumentos e podemos classificar esses “alunos” em dois grupos:

Os que atuam dentro e os que atuam fora dos limites da tonalidade (tonalismo livre).

No primeiro, a influência de Coltrane é mais perceptível, já no segundo, o impulso de


Coltrane se faz notar pelo papel “libertador”, incisivo para a criação de uma própria
personalidade.

Ao primeiro grupo temos nomes como, Joe Henderson, Charles Lloyd, Billy Harper e
outros.

Charles Lloyd(foto), nos anos 60, dirigiu um grupo que está entre os precursores do jazz
rock. Lloyd não toca, mas canta o saxofone. Ele tornou lírica e romântica a herança de
Coltrane. Um crítico escreveu: “A energia espiritual de Coltrane parece estar conservada na
sonoridade Lloyd como num tabernáculo.”

Ao Grupo ligado à vanguarda do “tonalismo livre”, estão os músicos Archie Shepp,


Albert Ayler, Dewy Redman, David Murray e outros.

Vem ai o jazz pós-moderno, que tem a contribuição de David Murray(foto). Murray


tentou revitalizar a sonoridade clássica do sax-tenor da linha Hawkins-Webster-Rollins, se
abrindo para as sonoridades do energy playing.
Outros sax-tenoristas buscavam mandar a herança do free jazz no âmbito das
execuções tradicionais, alguns são Chico Freeman, George Adams, John Purcell e outros. Todos
mantêm ligação com a música de Coltrane; mas, depende da individualidade deles de como
refletir e integrar, um pano de fundo chamado Coltrane a uma pluralidade de outros mestres.
No mesmo período temos os músicos “inside-outside”, onde inside significa estar
vinculado a tradição e outside quer dizer adentrar ao campo da sonoridade livre.

Bennie Wallace(foto) foi um dos poucos nos anos de 1980 e de 1990 a desenvolver um
modo próprio de tocar independente da influência de Coltrane. Indo das regiões mais agudas
até as mais graves, uma execução em zigue-zague, numa mistura de Hawkins-Byas-Lockjaw e o
som rouco.
Apenas poucos saxofonistas foram tão longe quanto Christof Lauer(foto) ao europeizar
a herança de Coltrane. Fundindo os elementos de tensão do sax-tenor negro aos melos
europeu.

Michael Brecker(foto) Michael Brecker solo - Pick up The Pieces Montreux


1977 – 1:28 min
Reformulou tão bem a tradição de Coltrane que desenvolveu uma execução singular e
inconfundível. Um hábil estilista do pós-bop, Coltrane+pressão do rock: eletric bebop, foi
como ele chamou sua música. George Duke, afirmou que Brecker sempre foi o gênio melódico,
capaz de juntar coisas e produzir sons que nenhuma outra pessoa podia imaginar. Sua
sonoridade era dura, metálica e brilhante.
Desde 1990, Brecker é o mais influente sax-tenorista branco. À força de seu estilo
aumento ao ponto que músicos saem do jazz rock para o neo-hard bop, muitos desses sax-
tenoristas buscam inspiração nele, assim, mantêm viva a herança de Coltrane.

Quando a influência de Coltrane estava no auge, entrou em cena um novo elemento


em contraparte a execução de Joe Lovano(foto), que traz um somo quase operístico de bel
canto, terno e amadeirado, à execução pós-Coltrane.

A partir dos anos 90, muitos sax-tenoristas incluíram elementos de Lovano em sua
execução, sensibilizados pela sonoridade “humana” e terna dele.

Desde os anos 80, o sucesso de Wynton Marsalis(foto) impulsionou vários sax-


tenoristas a dialogar com a tradição do que era o jazz e a herança de estilos do sax-tenor.
Branford Marsalis(foto) é o mais versado e inteligente, além de trazer várias contribuições ao
hip-hop jazz.

Ao lado de Marsalis, Joshua Redman(foto) se torna o mais importante sax-tenoristas do


novo jazz acústico. Ninguém desde Wynton Marsalis se despertou mais interesse na mídia e
teve mais sucesso comercial que Redman.
Em 1990 a comercialização de cursos de jazz torna a identidade pessoal da nova
geração quase inexistente, muitos sax-tenoristas tinha a técnica mas, não sabiam o que fazer
com ela, tanto Marsalis quanto David Murray criticavam essa nova geração, chamada de
young lions.
Só que por outro lado, no campo do pós-bop se pôde provar uma vastidão de
sonoridades diferentes, os young lions redefiniram o padrão de medida do jazz. Entram em
contradição, não resolvida.

Em nenhum outro instrumento a intemporalidade da tradição negra se torna mais


convincente que no sax-tenor. A mais de quatro décadas os sax-tenorista se alimentam da
herança de Coltrane; no entanto, é sempre impressionante, e impensável, a profusão de
individualidades.
Mais do que qualquer outro instrumento, o sax-tenor manifesta uma grande propensão
à individuação do som, com sua pluralidade de timbres ele se torna um instrumento jazzístico
por excelência. Suas possibilidades de diálogo e reflexão parecem ilimitadas, tanto que
Wynton Marsalis pôde dizer: “O sax-tenor é o instrumento do ser humano pensante.”

“O sax-tenor é um instrumento tão expressivo, que cada saxofonista extrai dele


um somo diferente!” (Michael Brecker).

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