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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO EM DIREITO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Assim caminha a humanidade…

e as organizações:
uma visão sócio-histórica e cultural da constituição da
governança e da responsabilidade socioambiental.
Emanuelle Castro
Nelson Rezende Junior
Michele Silva Pires
Raquel Helena Ferraz e Silva
É possível identificar na história do desenvolvimento da humanidade,
elementos, eventos e fatores relacionados com a necessidade de
estruturação de modelos de Governança e com a construção de políticas e
programas de Responsabilidade Socioambiental?
EVOLUÇÃO: Transformação e mudança contínua, lenta e gradual em que certas
características ou estados mais simples tornam-se mais complexos, mais desenvolvidos e
aperfeiçoados; desenvolvimento, progresso. Surgimento de algo, produto de técnica ou saber,
que se aperfeiçoou

REVOLUÇÃO: Ato ou efeito de realizar mudanças abruptas, profundas ou radicais;


revolucionamento, revolvimento. Transformação radical dos conceitos artísticos, dos padrões
culturais e sociais e dos paradigmas científicos dominantes em determinada época.

Charles Darwin Yuval Harari Klaus Schwab Urich Beck


Charles Darwin

A evolução comportamental como produto da interação viva com o ambiente, prontidão e


plasticidade
As grandes revoluções humanas - Harari

1 - Revolução Cognitiva:

➢ Desenvolvimento da Linguagem
➢ Cooperação em Grande Escala
➢ Criação de Mitos e Ficção
➢ Dominação do Planeta
➢ Capacidade de Imaginação e Colaboração
➢ Impactos Contínuos

A Revolução Cognitiva, assim denominada por Harari, foi a evolução da capacidade cognitiva dos seres
humanos, especialmente a linguagem e a capacidade de compartilhar informações complexas. Tal
capacidade permitiu a cooperação em grande escala, a criação de sociedades complexas e o
desenvolvimento da cultura humana, desempenhando um papel fundamental na ascensão da humanidade
como a espécie dominante na Terra.
Revolução Cognitiva:

“Desde a Revolução Cognitiva, não existe um único estilo de vida natural para os
sapiens. Há apenas escolhas culturais, dentro de um conjunto assombroso de
possibilidades.”

“...o caçador-coletor médio tinha conhecimentos mais abrangentes, mais profundos e


mais variados de seu meio imediato do que a maioria de seus descendentes modernos.
Hoje, a maioria das pessoas nas sociedades industriais não precisa saber muito para
sobreviver.”

(Harari, 2020)
Quais são, contemporaneamente, os motivadores da
nossa evolução?
“Há alguns indícios de que ,o tamanho médio do cérebro de um sapiens efetivamente diminuiu
desde a era dos caçadores-coletores. A sobrevivência naquela época requeriria de cada
indivíduo habilidades mentais sofisticadas. Quando a agricultura e a indústria surgiram, as
pessoas puderam contar cada vez mais com as habilidades de outros para sobreviver, e se
abriram novos nichos para “ignorantes”.”

A inteligência atual, mais do que individual, seria coletiva?

“Na época da Revolução Cognitiva, o planeta abrigava cerca de 200 gêneros de grandes
mamíferos terrestres pesando mais de 50 quilos. Na época da Revolução Agrícola, restavam
apenas cem. O Homo sapiens levou à extinção cerca de metade dos grandes animais do planeta
muito antes de os humanos inventarem a roda, a escrita ou ferramenta de ferro.”

O homo sapiens já causou as primeiras tragédias ecológicas há milhões de anos atrás?


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R o la
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Agr
As grandes revoluções humanas

Revolução Agrícola:
➢ Transição de Caçadores-Coletores para Agricultores
➢ Domesticação de Plantas e Animais
➢ Sedentarização
➢ Surto Demográfico
➢ Impactos Sociais e Econômicos
➢ Desafios e Consequências

Direcionamento de tempo e esforços no sentido de manipular e dominar o curso da vida de espécies de


plantas e animais, fazendo com que as sociedades nômades de caçadores se organizassem como
sociedades agrícolas sedentárias.

Nova organização obrigou o ser humano a construir uma rede de relacionamentos sociais mais complexa:
além de compartilhar ideias e pensamentos surge a necessidade de organizar e compartilhar os meios de
produção e os produtos gerados.
Revolução Agrícola - Pontos importantes:

- Construção, manipulação, posse e uso de artefatos como indicador da mudança


(caçadores coletores possuíam pouquíssimos artefatos).

- De pequenos bando exclusivamente humanos (com exceção dos cachorros) até


agrupamentos mais numerosos que incluíam diversos animais domesticados.

- Dos deslocamentos em busca de alimentos, com movimentos influenciados pela


mudança das estações, pela migração anual de animais e pelo ciclo de crescimento das
plantas, para organizações de territórios cultiváveis e manejo de animais.

- Da dieta completa e variada, da semana de trabalho relativamente curta e da raridade


de doenças infecciosas para dietas mais restritas às culturas sazonais, organização e
ampliação do tempo de trabalho e aumento das doenças infecciosas, incluindo
zoonoses.
Revolução Agrícola

A Revolução Agrícola marcou uma mudança


significativa na forma como a humanidade obtinha
sua subsistência e organizava sua vida em
sociedade. Ela permitiu o crescimento populacional,
a formação de comunidades sedentárias e o
desenvolvimento de civilizações, mas também
trouxe desafios e consequências importantes para a
humanidade.
ignoramus

A ciência moderna se baseia na sentença latina ignoramus –


“nós não sabemos”. Presume que não sabemos tudo. O que é
ainda mais crucial, aceita que as coisas que achamos que
sabemos podem se mostrar equivocadas à medida em que
adquirimos mais conhecimento. Nenhum conceito, ideia ou
teoria é sagrado e inquestionável.

A Revolução Científica não foi uma revolução do conhecimento. Foi,


acima de tudo, uma revolução da ignorância. A grande descoberta que
deu início à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos
não têm as respostas para suas perguntas mais importantes.
(HARARI, 2014. Pg. 261)
CRESCIMENTO DO PODERIO HUMANO NOS ÚLTIMOS 500 ANOS

MUNDO EM 1500 MUNDO HOJE AUMENTO

HOMO SAPIENS 500 MILHÕES 7 BILHÕES 14 VEZES

BENS E $ 250 BILHÕES $ 60 TRILHÕES 240 VEZES


SERVIÇOS (TOTAL) (ANO)

ENERGIA 13 TRILHÕES 1,5 QUATRILHÃO 115 VEZES


(CAL./DIA)

FONTE: Harari, Sapiens. Pg. 257.


Quarta Revolução Industrial (Klaus SCHWAB)

A Quarta Revolução Industrial é uma forma de descrever um conjunto de transformações em


curso e iminentes dos sistemas que nos rodeiam; sistemas que a maioria de nós aceita como
algo que sempre esteve presente.
A quarta Revolução Industrial - Klaus Schwab

● Velocidade: ritmo exponencial e não linear;


● Amplitude e profundidade: mudanças de paradigma,
modifica o “o que” e “como” fazemos as coisas e também
“quem somos”;
● Impacto sistêmico: grandes transformações envolvendo
simultaneamente múltiplos contextos e atores.
Klaus SCHWAB
Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico
Mundial, compreende a quarta revolução industrial com dois
grandes diferenciais em relação às revoluções anteriores:

1º) as transformações tecnológicas estão em andamento ao


mesmo tempo que se discute sua especificidade
(as revoluções anteriores só foram estudadas e analisadas após a efetuação de
suas transformações);
Klaus Schwab

2º) a fusão entre as diversas tecnologias a diferencia das anteriores, bem como sua interação entre
os domínios físicos, digitais e biológicos
(a nanotecnologia, o sequenciamento genético, novas máquinas, computação quântica, energias renováveis são exemplos
deste movimento, tendo como marco inicial a virada do século XXI com uma onda de novas descobertas e tem como base o
avanço da tecnologia digital).
Segundo Schwab, o aumento da capacidade de
armazenamento e do processamento das informações
irá transformar radicalmente a forma que a sociedade se
organiza em seus diversos aspectos, tudo acontecendo ao
mesmo tempo em que estão surgindo ou se reformulando
os modelos de negócio, os padrões de consumo, as
formas de se produzir e trabalhar, bem como enquanto
outros processos estão sendo descontinuados. Apesar
desse momento de inflexão ter tanto um potencial tanto
promissor quanto perigoso, Schwab acredita que a
tecnologia não é uma força externa, logo pode ser
(*) Schwab ignora a luta de classe ao
controlada. Também afirma que o conhecimento pressupor que a tecnologia pode ser
compartilhado é o caminho para moldar um futuro coletivo controlada para o bem comum, pois sabemos
que hoje a tecnologia e o conhecimento são
que reflita o bem comum.(*)
consideradas medidas para diminuir os custos,
aumentar a produtividade e gerar mais lucro.
O autor também aponta para alguns desdobramentos da quarta
revolução industrial sobre a economia, o negócio, o governo, os
países, a sociedade e os indivíduos.

● As taxas de natalidade estão em trajetória de queda em


diversas partes do globo.

● Considera o envelhecimento um desafio econômico


(diminuição da força de trabalho, do consumo sobre alguns
produtos)
● A revolução tecnológica poderia contribuir com o aumento
da produtividade (trabalhar de forma mais inteligente e não
mais intensamente)
IMPACTO NO EMPREGO

A substituição do trabalhador pela máquina não é só em


razão dos algoritmos, robôs e outras formas de ativos.
Existe o movimento das empresas buscarem a
“simplificação do trabalho”, que é terceirizar, criar
off-shores e permitir trabalho virtual. Enfatiza que “as 10 maiores
novas tecnologias mudarão drasticamente a natureza do e-commerces
trabalho em todos os setores e ocupações. A incerteza do Brasil

fundamental tem a ver com a quantidade de postos de


trabalho que serão substituídos pela automação. Quanto
tempo isso vai demorar e aonde chegará?”( p. 42).
Fonte:
https://www.conversion.com.br/blog/ranking-ecommerces/
ECONOMIA SOB DEMANDA X REL. TRABALHO
As plataformas de nuvem classificaM os
trabalhadores como autônomos e ficam livres de
pagar salários mínimos, tributos e benefícios
sociais. (Embora a nuvem humana esteja no início – já há
evidência de uma terceirização internacional silenciosa)

Considerando as plataformas e a nova configuração


do mercado de trabalho (com contratos em regime
temporário precários e sem garantias trabalhistas) é
possível haver regulação mantendo a proteção social
https://www.youtube.com/watch?v=_K1tqDyN4xE do trabalho vigente em cada país?
GOVERNANÇA
Outro impacto desta nova revolução é sobre como as
empresas são lideradas, organizadas e administradas.
Hoje em dia, as empresas possuem uma expectativa de
vida menor, com rápida dominação dos mercados
(Facebook levou 6 anos para alcançar receita de U$ 1 bilhão/ano.
O Google apenas 5).

TRANSPARÊNCIA
A 4ª RI tem o potencial de trazer transformações
consideráveis na estrutura dos governos. As novas
tecnologias ‘empurram’ os governos a serem mais
prestadores de serviço, com uma estrutura mais
descentralizada de poder, considerando a necessidade
de ampliar a transparência com a era digital.
COMPLIANCE
O Estado, como uma entidade conservadora, muitas vezes contraria as mudanças como as
que estão em curso. Mas para que sobreviva precisa se adaptar às novas exigências,
fortalecendo a colaboração entre os demais atores da sociedade. Suas responsabilidades,
para esse momento, apontam para a criação de regras que mantenham “a justiça, a
competitividade, a equidade, a propriedade inclusiva, a segurança e confiabilidade” (p. 75).
4 tipos diferentes de inteligência:
● contextual*;

O CAMINHO A SEGUIR
O CAMINHO A SEGUIR

● emocional (a mente);
● inspirada (a alma);
● física (o corpo).

A inteligência contextual diz respeito à necessidade de antecipação de


tendências e da rápida condição de se adaptar a elas. Para isso é necessária
uma dinâmica de trabalho mais colaborativa entre as empresas, governos e
sociedade civil (que incluem religiosos e acadêmicos)**, com uma perspectiva
holística dos acontecimentos.

A abordagem a problemas, questões e desafios deve ser…


HOLÍSTICA, FLEXÍVEL E ADAPTÁVEL
“(...)nossas decisões
civilizacionais envolvem
consequências e perigos
globais que contradizem
radicalmente a
linguagem
institucionalizada do
controle(...)”
Ulrich Beck
Produção social da riqueza produção social de riscos.

Sociedade Industrial Clássica Sociedade Industrial de Risco

u j e i t os e
o m oss r u p t ura
S ma
t os d e u
i n t erior
obje orre no de
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que o modernid
da
Irresponsabilidade organizada:

● Políticos dizem que não estão no comando, que eles no máximo regulam a
estrutura para o mercado.
● Especialistas científicos dizem que meramente criam oportunidades
tecnológicas: eles não decidem como elas serão implementadas.
● Gente de negócios diz que está simplesmente respondendo a uma
demanda dos consumidores.
A sociedade tornou-se um laboratório sem nenhum responsável pelos
resultados do experimento.
Governança: Governança corporativa é um sistema formado por princípios, regras, estruturas e
processos pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, com vistas à geração de valor
sustentável para a organização, para seus sócios e para a sociedade em geral. Esse sistema
baliza a atuação dos agentes de governança e demais indivíduos de uma organização na busca pelo
equilíbrio entre os interesses de todas as partes, contribuindo positivamente para a sociedade e
para o meio ambiente. (IBGC, 2023)

Princípios da Governança: Compliance: Com vistas a materializar o princípio da integridade, o


compliance é a busca permanente de coerência entre aquilo que se espera de
uma organização – respeito a regras, propósito, valores e princípios que
● Integridade
constituem sua identidade – e o que ela, de fato, pratica no dia a dia. O programa
● Transparência de compliance de uma organização deve abranger um conjunto de mecanismos
e procedimentos, políticas, diretrizes, código de conduta, canal de
● Equidade denúncias e demais instrumentos com o objetivo de prevenir, detectar e sanar
desvios de conduta, fraudes, atos de corrupção, lavagem de dinheiro, atos
● Responsabilização
ilícitos praticados contra a administração pública, dentre outras questões.
● Sustentabilidade Além disso, deve alinhar a atuação de todos na organização com os princípios,
valores e propósito dela e promover uma cultura de integridade. (IBGC, 2023)
Quem dominou, quem domina e quem dominará o mundo?

A mão que balança o berço é a mão que


governa o mundo”
William Ross Wallace, 1865

“Quem controla os dados controlará não só a humanidade, mas o futuro da


própria vida. Da vida como um todo, muito além da espécie humana.”
José Antônio de Sousa Neto
“O berço”, 1872, Berthe Morisot.
"A crise geral da humanidade é a crise da As grandes linhas da nova Via
humanidade que não consegue se tornar político-ecológico-econômico-social
humanidade(...) Porque todos os processos que imposta pela crise inédita que vivemos
conduziram essa humanidade a se reunir em um são guiadas pela necessidade de
mesmo destino comum, são, ao mesmo tempo, regenerar a política, de humanizar a
processos que nos conduzem a catástrofes futuras." sociedade e de ter um humanismo
Mas existem caminhos, existe esperança: (...) "É regenerado. Essa nova Via comporta:
preciso se desenvolver e se envolver" (...) em um
● uma política nacional;
processo dialético e comprometido com o Bem pois
(...) "Tudo está ai para ser mudado, transformado, ● uma política civilizacional;
reformado" (...) "Estamos em um mundo no qual as ● uma política da humanidade;
forças de transformação estão ativas, mas cabe a
● uma política da Terra;
nós saber quais são as que nos levam a destruição e
quais, ao contrário, podem nos trazer esperança." ● um humanismo regenerado.

Edgar Morin, 2011 Edgar Morin, 2021.


A governança e a responsabilidade
socioambiental a serem assumidas e
exercidas por indivíduos e organizações,
diante dos dilemas e crises atuais devem estar
pautadas na ética e na bioética, orientando
para caminhos que comportem a diversidade, a
complexidade e a outridade (Leff, 2012) como
elementos legítimos de uma equação que
busca equilibrar e garantir a equidade na
coexistência justa e cooperativa das diversas
formas e modos de vida em uma cultura
(humana, organizacional e planetária) da
sustentabilidade; enfim, uma cultura de paz.
MATERIAIS DE REFERÊNCIA:

A Quarta Revolução Industrial - Klaus Schwab, 2021

Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa - Instituto Brasileiro de Governança


Corporativa, 2023.

Sapiens, uma breve história da humanidade - Yuval Noah Harari, 2011

Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. - Ulrich Beck, 2011

O caminho para o futuro da humanidade - Edgar Morin, 2011 dispnível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=V3t7UFTpDHE>

É hora de mudarmos de via: as lições do coronaviris - Edgar Morin e Sabah Abouessalam, 2021

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