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Para tal, num total de 3 (três) capítulo, o autor apresenta-nos um trabalho de carácter
hermenêutico bibliográfico, começando por fazer uma retrospectiva histórica da temática do
senso comum com recurso a argumentos de diversos filósofos que no decurso da história do
conhecimento fizeram aceno à temática em causa: Heráclito, Aristóteles e Platão.
Num segundo momento o autor examina o senso comum pedagógico que, segundo ele,
apresenta-se na cultura científica escolar de diferentes modos: no processo de ensino e
aprendizagem, no uso do material didáctico, na avaliação; levando a escola a observar
transformações conflituantes que, em algum momento, geram a ideia generalizada de que a
escola é incapaz de lidar com as mudanças culturais e sociais que estão ocorrendo.
Já no terceiro e último capítulo, o autor propõe uma pedagogia científica de Gaston Bachelard,
e conclui tratando de mostrar como a actualidade do pensamento de Gaston Bachelard pode
servir como fundamento para uma pedagogia da vigilância.
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Mestrando em Educação/Currículo pela Universidade Save – Massinga (Mz); Graduado em Ensino de Português
com habilitação em Ensino de Inglês pela Universidade Pedagógica – Maxixe (Mz); Professor na Escola
Secundária 04 de Outubro – Inhambane (Mz). e-mail: chirute.osvaldo@outlook.com Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3652745982383298
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Gregório Zacarias Costume Vilanculo é Mestre em Investigação Pedagógica e Consultoria Educacional (UniBG-
Itália); Doutor em Educação e Interculturalidade (Portugal). É autor de vários livros e manuais instrucionais; é
consultor pedagógico e educacional. Pesquisa nas áreas de Correntes Contemporâneas da Educação, Teoria da
Educação, Pedagogia da Família, Pedagogia Geral, Pedagogia da Infância, Etnopsicologia e Epistemologia. Seus
interesses de investigação estendem-se à Filosofia da Formação, Filosofia das Imagens, Educação e
Interculturalidade.
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bibliográfico que se apresenta estruturado em duas partes essenciais: (i) o resumo, onde estão
colocadas as principais ideias expostas nos três capítulos que constituem a obra objecto da nossa
análise; (ii) análise reflexiva, onde se tenta deduzir todas as possíveis formas de dinamizar e
aperfeiçoar cada vez mais a actividade docente através das ideias expostas na obra.
2. Resumo
Suportando as suas ideias, numa primeira fase, em Beniccá e Comte, D’Costumes inicia
o primeiro capítulo desvendando os usos to termo senso comum e este afirma que o
termo é muito presente na literatura escolar para designar questões pedagógicas
generalistas, mal formuladas ou mal compreendidas, sendo que em várias ocasiões se
fala sobre a necessidade de se superar o senso comum por este ser um núcleo de
conhecimentos ultrapassável.
A obra não explicita nenhum consenso sobre o significado deste termo, muito menos
sobre o conteúdo que este representa. Entretanto, D’Costumes chama atenção para o
facto de que também pertence ao senso comum a afirmação segundo a qual este senso
deve ser superado, uma vez que tal afirmação é geral.
Gamsci é mais um nome citado na obra que, contrariamente a Comte que defende a
superação do senso comum, afirma não existir um e único senso comum, mas muitos e,
em estado de permanente transformação e redefinição. Após se mencionar a doxa e
epistimé de Platão, bem como a empiria e sabedoria de Aristóteles, D’Costumes
socorre-se em Bachelard (a opinião pensa mal; traduz desejos em conhecimentos) para
sentenciar que o senso comum não deve ser superado, mas sim transformado numa
concepção crítica e reflexiva.
Heráclito é convocado por D’Costumes nesta primeira secção para falar-nos do logos
como sendo o princípio inteligente e vital de tudo e todos, que precisa ser seguido para
evitar que vivamos como se estivéssemos dormindo. Este pensador afirma ainda que
todos os homens são ignorantes porque mesmo depois de iniciarem com a reflexão,
contentam-se com o simples início à escuta do logos, apresentando o falso como
verdadeiro; a parte como um todo; o início como o fim; o particular como universal; etc.
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Na medida em que o homem tem sempre a possibilidade de estar entre a vigília e o sono,
Heráclito clarifica que a fase a ser superada é a da ignorância da multidão dos
irreflectidos, e a nova fase a ser conquistada é aquela da convivência com o logos.
Platão é convocado neste debate para expor a sua comparação das dicotomias doxa vs
epistemé e a opinião vs. Intelecto. Para Platão, a opinião só tem acesso às aparências,
enquanto o intelecto procura ver as coisas para além das aparências e as modifica.
Por sua vez, Kant e o sensus communis desassocia o senso comum das experiências e
nega que este seja a fonte e raiz do saber prático e do conhecimento primeiro,
vinculando, portanto, este conceito à faculdade do juízo. Kant evidência a posição de
oposição entre o conhecimento dos sentidos e aquele que resulta de um esclarecimento.
Por último, D’Costumes convoca Gramsci para nos entregar um outro ângulo de análise
do senso comum, e este começa alertando para necessidade de nos libertarmos dos
preconceitos que pertencem a este senso. Para este autor, todos os homens são filósofos.
Trata-se de uma filosofia espontânea peculiar a todo o mundo que, para D’Costumes,
podemos chamar a esta filosofia universal de senso comum (a filosofia dos não filósofos;
o senso comum vulgar).
Para encerrar o capítulo, D’Costumes “balbucia” numa tentativa de busca das razões de
prevalência do senso comum pedagógico, e o seu discurso desagua na possibilidade de
existência de uma classe dominante da sociedade que está interessada em manter um
status quo em muitos aspectos da vida social e cultural. No caso específico da educação,
o já referido status quo seria o senso comum pedagógico que, para o autor, é usado como
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A problematização aludida acima abre espaço para uma outra faceta da pedagogia
bachelardiana – a pedagogia do diálogo e da interação. Nesta pedagogia sugere-se que
os professores estimulem a interação com os estudantes e, especialmente, entre os
estudantes, na medida em que o ambiente jovem é mais formador que o velho e os
colegas mais importantes que os professores. Acrescenta-se ainda nesta abordagem que
a discussão torna a turma um laboratório de reflexão e descobertas e permite a
compreensão de como funciona o processo de produção do conhecimento, o que nos
leva à pedagogia científica ou da investigação.
Em forma de conclusão, que ao nosso ver tende a uma consolidação das múltiplas
facetas da pedagogia bachelardiana, D’Costumes socorre-se da metáfora do homem
diurno para introduzir o conceito de pedagogia de vigilância. Na sua dissertação, o autor
desperta-nos para uma urgência de uma vigilância crítica no confronto do senso comum
(pedagógico). Trata-se de um racionalismo aberto que protege o Homem da filosofia
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Até nos estudos mais superficiais da linguística é perfeitamente normal ter de lidar com
terminologias como: norma padrão; nível culto da linguagem; “erro linguístico”;
desvio à norma culta, entre outras. Estas terminologias aqui arroladas traduzem a ideia
da existência de uma verdade absoluta sobre a forma como uma determinada língua deve
ser falada, e esta ideia é ainda reforçada pela existência de gramáticas que são uma
espécie de “leis ou textos normativos” que regulam a “única” forma correcta de se
realizar uma língua, e que a sua produção é geralmente controlada por uma elite
minoritária pertencente a uma região minúscula que se considera detentora do poder de
determinar os padrões de realização linguística a nível mundial.
Ora, já lemos em D’Costumes que o Homem é filósofo por natureza e este sofre quando
não muda. Deste modo, sendo a língua uma forma de materialização da linguagem
humana, é perfeitamente natural que esta esteja sujeita à mudança com o passar do
tempo, apesar da nossa tentativa, condenada ao fracasso, de normatizar e padronizar a
forma como a língua é falada. De forma concreta, as variações diacrónicas e sincrónicas
da língua (dialetos, socioletos, idioletos, acordos ortográficos, etc) são a prova
inequívoca de que a língua vai sempre sucumbir à natureza filosófica ininterrupta e
insaciável do Homem.
questionada, e porque estabelece regras, o professor de línguas vê-se num senário de ter
que ensinar de forma expositiva as normas de realização linguística que deverão ser
memorizadas cumulativamente pelo aluno, já que as regras são, por predefinição do
próprio senso comum, inegociáveis.
Por exemplo, mais do que o professor explicar de forma expositiva o campo semântico
do verbo “dormir”, seria produtivo partir da problematização da seguinte construção
frásica:
4. Considerações finais
Lida e analisada a obra objecto de estudo deste trabalho, pode-se concluir que o senso
comum é uma forma de conhecimento essencialmente resultante da experiência e que é
útil para a ciência, na medida em que o espírito científico encontra no conhecimento do
senso comum um terreno (in)fértil para se enraizar. Na maioria das vezes é graças ao
conhecimento do senso comum que deixamos de julgar os aprendizes como tábulas
rasas, e a ciência encontra nos conhecimentos do senso comum as estruturas cognitivas
que irá restruturar. Na verdade, o limite entre o senso comum e a ciência está em
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propriedades como o absolutismo e conformismo, por isso que mais do que acabar com
o senso comum, D’Costumes propõe a sua transformação, porque o conhecimento do
senso comum não é ao todo inútil e descartável.
5. Referência bibliográfica