Você está na página 1de 16

REPÚBLICA VELHA (1889 – 1930)

Resumo:

A República Velha, ou Primeira República, é o nome dado ao período compreendido


entre a Proclamação da República, em 1889, e a eclosão da Revolução de 1930.

Usualmente, a República Velha é dividida em dois momentos: a República da Espada


e a República Oligárquica.

A República da Espada abrange os governos dos marechais Deodoro da Fonseca e


Floriano Peixoto. Foi durante a República da Espada que foi outorgada a Constituição
que iria nortear as ações institucionais durante a Primeira República. Além disso, o
período foi marcado por crises econômicas, como a do Encilhamento, e por conflitos
entre as elites brasileiras, como a Revolução Federalista e a Revolta da Armada.

A República Oligárquica foi marcada pelo controle político exercido sobre o governo
federal pela oligarquia cafeeira paulista e pela elite rural mineira, na conhecida “política
do café com leite”. Foi nesse período ainda que se desenvolveu mais fortemente o
coronelismo, garantindo poder político regional às diversas elites locais do país.

A velha República divide-se em três períodos:


1889-1898 – Consolidação;
1898-1921 – institucionalização da política oligárquica;
1921-1930 – decadência e fim da Primeira República com a Revolução de 1930.
As práticas políticas desse período compreendiam:
- por parte dos governadores com o Presidente Campos Sales (1898-1902) a política de
troca de favores;
- a política do café com leite, onde as oligarquias se reuniam com o objetivo de escolher
presidentes de São Paulo (café) e Minas Gerais (leite);
- predominava o coronelismo com o voto de cabresto e o clientelismo com o voto em
troca de favores.
A Constituição de 1891 previa:
- o Federalismo que concedia autonomia aos Estados;
- o Presidencialismo com o Presidente como Chefe do Executivo com mandato de 4
anos;
- o Sistema Eleitoral previa o sufrágio universal masculino;
- o Estado laico, onde separou-se o Estado e a Igreja.
As principais revoltas desse período foram:
- Guerra dos Canudos (1896-1897);
- Revolta da Vacina (1904);
- Revolta da Chibata (1910);
- Guerra do Contestado (1912-1916);
- Tenentismo e a Coluna Prestes (1922-1926);
- Cangaço – Lampião (auge entre 1920 e 1930).

O período marca também a ascensão e queda do poder econômico dos fazendeiros


paulistas, baseado na produção do café para a exportação. Além disso, os capitais
1
acumulados com a exportação do produto garantiram o início da industrialização do
país, ao menos na região Sudeste.

Essa industrialização proporcionou mudanças na estrutura social brasileira, com a


formação de uma classe operária e o crescimento do espaço urbano. As mudanças
políticas e sociais, também conhecidas pelo termo modernização, resultaram ainda em
agudos conflitos sociais, tanto no campo, como no caso da Guerra de Canudos, quanto
nas cidades, como a Revolta da Vacina e as greves operárias na década de 1910.

A crise das oligarquias rurais e a crise econômica mundial, atingindo profundamente a


produção cafeeira, representaram a agonia da República Velha. A insatisfação com a
eleição de Júlio Prestes, em 1930, deu à elite os motivos para derrubar os fazendeiros
paulistas que estavam no poder, através da Revolução de 1930. Era o fim da República
Velha e o início da Era Vargas.

1. Proclamação da República

O movimento militar de 15 de novembro de 1889 foi bem sucedido, destronando o


imperador D. Pedro II. Atitudes como aquelas eram previstas, no Código Criminal de
1830, como crime grave, caso não tivessem êxito:

"Art. 87. Tentar via correio, e por fatos, destronizar o Imperador; privá-lo em todo ou
em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão.
Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: penas
de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos
no grau médio; e por dez anos no grau mínimo."

Os republicanos da atualidade, como aqueles que haviam fundado o Partido


Republicano Carioca, foram, a partir de 15 de novembro, chamados de Republicanos
históricos. Os políticos que aderiram à república, somente depois de ela ter sido
proclamada, passaram a ser conhecidos como os Republicanos do dia 16 de novembro,
sendo que o mais conhecido destes foi Ruy Barbosa.

O Diário Popular de São Paulo publicou, em 18 de novembro, artigo do jornalista


Aristides Lobo nomeado ministro do interior do Governo Provisório, e que fora
testemunha ocular da proclamação da república. Neste artigo de grande repercussão, é
mostrado que o movimento foi essencialmente militar, não havendo participação
popular na proclamação da república:

“Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi
deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo
chorou com aquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que
significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!”

2. Primeira República Brasileira

2
A Primeira República Brasileira, também conhecida como República Velha (em
oposição à República Nova, período posterior, iniciado com o governo de Getúlio
Vargas), foi o período da história do Brasil que se estendeu da proclamação da
República, em 15 de novembro de 1889, até a Revolução de 1930 que depôs o 13º e
último presidente da República Velha Washington Luís. Nesse período o Brasil foi
nomeado de Estados Unidos do Brasil, o mesmo nome da constituição de 1891, também
promulgada nesse período.

A República Velha é dividida pelos historiadores em dois períodos. O primeiro período,


chamado de República da Espada, foi dominado pelos setores mobilizados do Exército
apoiados pelos republicanos, e vai da Proclamação da República do Brasil, em 15 de
Novembro de 1889, até a posse do primeiro presidente civil, Prudente de Moraes. A
República da Espada teve viés mais centralizador do poder, em especial por temores da
volta da Monarquia, bem como para evitar uma possível divisão do Brasil.

O segundo período ficou conhecido como República Oligárquica, e se estende de 1894


até a Revolução de 1930. Caracterizou-se por dar maior poder para as elites regionais,
em especial do sul e sudeste do país. As oligarquias dominantes eram as forças políticas
republicanas de São Paulo e Minas Gerais, que se revezavam na presidência. Essa
hegemonia paulista e mineira denomina-se política do café com leite, em razão da
importância econômica da produção de café paulista e de leite mineiro para a economia
brasileira da época.

O primeiro partido republicano no Brasil foi o Partido Republicano Paulista (PRP),


criado na Convenção de Itu, em 1873. O PRP era um partido legalizado, apesar de o
Brasil ser uma monarquia. O PRP conseguiu eleger apenas três deputados na
Assembleia Geral de Deputados, durante o Império do Brasil (1822-1889), porém
conseguiu infiltrar-se no meio militar, o que foi decisivo para a queda da monarquia
constitucional brasileira e, portanto, do imperador Dom Pedro II. Mesmo com o
desenvolvimento econômico no segundo Império, após a abolição da escravatura, os
fazendeiros, antes fiéis a Dom Pedro II, se voltaram contra a monarquia e traíram o
sistema ali vigente, tornando-se republicanos, por causa da não indenização pela
liberação dos escravos.

3. República da Espada

Com a vitória em 15 de novembro de 1889 do movimento republicano liderado pelos


oficiais do exército, foi estabelecido um "Governo Provisório", chefiado pelo Marechal
Deodoro da Fonseca, no qual todos os membros do ministério empossados no dia 15 de
novembro eram maçons.

3
Primeira Bandeira Republicana, criada por Rui Barbosa, usada entre 15 e 19 de
novembro de 1889.

Durante o governo provisório foi decretada a separação entre Estado e Igreja; foi
concedida a nacionalidade brasileira a todos os imigrantes residentes no Brasil; foram
nomeados governadores para as províncias que se transformaram em estados.

A família imperial brasileira foi banida do território brasileiro, só podendo a ele retornar
a partir de 1920, pouco antes do falecimento, em 1921, da Princesa Isabel, herdeira do
trono brasileiro, e pouco antes do centenário da independência do Brasil, que foi
comemorado em 1922. O decreto 4120 de 3 de setembro de 1920 revogou o banimento
da família real.

O "Governo Provisório" terminou com a promulgação, em 24 de fevereiro de 1891, da


primeira constituição republicana do Brasil, a constituição de 1891, passando, a partir
daquele dia, Deodoro a ser presidente constitucional, eleito pelo Congresso Nacional,
devendo governar até 15 de novembro de 1894. Deodoro, apoiado pelos militares,
derrotou o candidato dos civis, Prudente de Morais.

Foi criada uma nova bandeira nacional, em 19 de novembro de 1894, com o lema
positivista "Ordem e Progresso", embora o lema por inteiro dos positivistas fosse "O
amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim". Foram mantidas as cores
verde e amarela da bandeira imperial, pois o decreto nº 4, que criou a bandeira
republicana, nos seus considerandos diz que: "as cores da nossa antiga bandeira
recordam as lutas e as vitórias gloriosas do exército e da armada na defesa da pátria, e
que essas cores, independentemente da forma de governo, simbolizam a perpetuidade e
integridade da pátria entre as outras nações".

Em 23 de dezembro de 1889, o decreto 85A cria a primeira lei de imprensa republicana,


segundo a qual uma junta militar poderia processar e julgar sumariamente abusos da
manifestação do pensamento; esse decreto ganhou o apelido de decreto-rolha e foi
reforçado e ampliado pelo decreto 295 de 29 de março de 1890. Foi a primeira vez que
se censurava a imprensa desde o Primeiro Reinado de D. Pedro I. Esses decretos
estabelecendo censura à imprensa foram revogados em 22 de novembro de 1890 pelo
decreto 1069.

4. Constituição de 1891

No início de 1890, iniciaram-se as discussões para a elaboração da nova constituição,


que seria a primeira constituição republicana e que vigoraria durante toda a República

4
Velha. Após um ano de negociações com os poderes que realmente comandavam o
Brasil, a promulgação da Constituição Brasileira de 1891 aconteceu em 24 de Fevereiro
de 1891. O principal autor da constituição da República Velha foi Rui Barbosa. A
Constituição de 1891 era fortemente inspirada na Constituição dos Estados Unidos.
Outro elemento relevante nesse contexto é a influência do Positivismo, corrente
filosófica formulada na França por Auguste Comte. De acordo com VALENTIM:

“Com sua influência ampla e profunda na sociedade brasileira, principalmente na elite


militar e política, o Positivismo foi a base fundamental da compilação do texto da
Constituição de 1891 e também da implantação da República pelos militares em 1889”
(VALENTIM 2010. p. 41).

Também, segundo o mesmo autor: "Uma das maiores e mais complexas transformações
políticas e sociais que essa corrente filosófica proporcionou [por ser a mentalidade
norteadora da cúpula militar na pessoa de Benjamim Constant principalmente] foi a
separação entre o Estado e a Igreja no Brasil." VALENTIM 2010. p. 41.

Somente em 21 de abril de 1993 o povo brasileiro pode livremente escolher, através de


um plebiscito nacional, o sistema de governo (presidencialismo ou parlamentarismo). A
escolha popular por ampla maioria de 84% dos votos válidos foi pela república
presidencialista.

No início da república, muito se temeu, especialmente no meio militar, uma restauração


monárquica, que se aproveitaria da fragilidade do novo regime republicano.
Manifestações a favor da volta da Monarquia eram reprimidas.

5. Governo de Deodoro da Fonseca

O Marechal Deodoro da Fonseca foi o primeiro presidente do Brasil, governando 1 ano


e 3 meses no "Governo Provisório" e 9 meses como presidente eleito pela Assembleia
Nacional Constituinte em 25 de fevereiro de 1891, ainda na chamada "República da
Espada". Seu governo foi marcado por crises econômicas e movimentos contra a sua
forma autoritária de governar.

O presidente, buscando solucionar os problemas econômicos do Brasil e industrializar


realmente o país, optou pela continuidade do processo de liberalização da economia,
apelidado de encilhamento, iniciado ainda durante a monarquia, sob o último ministro
da fazenda imperial, o Visconde de Ouro Preto, e continuada por Rui Barbosa, que
consistia em permitir crédito livre a indústrias que desejassem instalar-se em território
nacional. Essa política econômica permitia que os bancos emitissem moeda sem
qualquer exigência de lastro em ouro. Essa política econômica deveria fazer com que as
empresas pudessem pagar seus operários e, aumentando o mercado consumidor,
estimular a indústria. O que aconteceu, porém, foi que a inflação elevou-se de modo
exagerado. Os lançamentos de ações na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro se davam
livremente, até por empresas fantasmas, agravando ainda os efeitos negativos e a
credibilidade do processo.

5
Em 22 de agosto de 1891, o Congresso Nacional exibiu um conjunto de leis que visava
à redução de poder do presidente da república Deodoro da Fonseca, que, então, aplicou
um golpe de estado com o Golpe de Três de Novembro, no dia 3 de novembro de 1891.
Seus decretos assinados neste dia (dissolução do legislativo e estado de sítio) foram
frustrados por resistências espalhadas por todo o país. Após a pressão dos militares, que
apontaram canhões para o Rio de Janeiro, Deodoro da Fonseca renunciou ao cargo, em
23 de novembro de 1891, deixando Floriano Peixoto, vice-presidente, em seu lugar.

Porém, o governo de Floriano Peixoto foi considerado inconstitucional porque entendia


que Deodoro da Fonseca não cumprira ainda dois anos de mandato, como dizia artigo
42 da Constituição de 1891, devendo se pois proceder-se a nova eleição para presidente
e vice-presidente:

O artigo 42 da constituição de 1891 dizia: "Se, no caso de vaga, por qualquer causa, da
Presidência ou Vice-Presidência, não houver ainda decorrido dois anos do período
presidencial, proceder-se-á nova eleição".

Floriano Peixoto entendia, porém, que Deodoro da Fonseca fora empossado na


presidência da república em 15 de novembro de 1889, portanto havia mais de 2 anos, os
quais se completaram em 15 de novembro de 1891, oito dias antes da renúncia de
Deodoro da Fonseca.

6. Governo de Floriano Peixoto

Floriano Peixoto, governando no lugar de Deodoro da Fonseca, que havia renunciado,


podia ficar no poder por apenas três meses, após isso eleições seriam promovidas para
eleger um novo presidente. A Constituição de 1891, no seu artigo 42º, dizia que se, "por
qualquer causa", ficasse vago o cargo de presidente, não havendo decorrido, ainda, dois
anos de mandato do titular, seriam realizadas novas eleições para presidente. Assim o
mandato de Floriano Peixoto como presidente, que se estendeu de 23 de novembro de
1891 a 15 de novembro de 1894, foi considerado, pelos seus adversários, como sendo
inconstitucional, pois Deodoro da Fonseca governou como presidente constitucional
somente a partir da data da promulgação da Constituição de 1891, 24 de fevereiro de
1891, portanto Deodoro não havia cumprido ainda dois anos de mandato.

Durante seu governo, Floriano Peixoto, buscando apoio popular, tomou medidas para
melhorar as condições de vida da população do Brasil, que após um governo de crises
econômicas, encontrava-se em situação pouco privilegiada. O presidente buscou reduzir
os impostos dos produtos de primeira necessidade, chegou até a zerar o imposto sobre a
carne, mesmo assim, não recebeu muito apoio para permanecer no poder e contra seu
governo enfrentou a Revolução Federalista e a Revolta da Armada. Floriano Peixoto foi
sucedido pelo vencedor das eleições, Prudente de Morais, marcando o final da
"República da Espada" com a eleição de uma pessoa não militar e iniciando a República
Oligárquica, marcada pela política do "café-com-leite".

7. Retomada do período: 1889-1930


Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca decretou o fim do
período imperial em um golpe militar de Estado sob a forma de uma quartelada quase
sem força política e nenhum apoio popular, e o início de um período republicano
6
ditatorial, destituindo o último imperador brasileiro, D. Pedro II, que teve de partir em
exílio para a Europa. O nome do país mudou de Império do Brasil para Estados Unidos
do Brasil. A primeira constituição da República do Brasil foi feita dia 15 de novembro
de 1890. Após 4 anos de ditadura com um caos e várias mortes de federalistas, negros
lutando por seus direitos, entre outros, iniciou-se a era civil da República Velha, com a
chamada República Oligárquica.

O Visconde de Ouro Preto, presidente do conselho de ministro deposto em 15 de


novembro, entendia que a proclamação da república fora um erro e que o Segundo
Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu livro "Advento da ditadura
militar no Brasil":

“O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio


século manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império
converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte
nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em
todo o mundo civilizado. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu
a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem,
segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais em
país algum. Quais as faltas ou crimes de D. Pedro II, que em quase cinquenta
anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma
ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e
beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e
exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a
veneração de seus concidadãos? A República brasileira, como foi
proclamada, é uma obra de iniquidade. A República se levantou sobre os
broqueis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se
por meio de um atentado sem precedentes na História e terá uma existência
efêmera!”

Conflitos

O período foi marcado por inúmeros conflitos, de naturezas distintas. Externamente


destacam-se apenas 2: a Revolução Acreana, que foi o processo político-social que
levou à incorporação do território do atual estado do Acre ao Brasil; e o envolvimento
do país na I Guerra Mundial, na qual apesar da participação militar do país ter sido
insignificante para o resultado geral do conflito, tendo se restringido basicamente ao
envio de uma esquadra naval para participar da guerra anti-submarina no noroeste da
África e mediterrâneo, em 1918; a mesma deu ao Brasil o direito a participar da
conferência de Versalhes em 1919.

Já no plano interno, este 1º período republicano foi marcado por graves crises
econômicas, como a do encilhamento, que contribuíram para acirrar ainda mais a
instabilidade geral. No âmbito político-social, por exemplo, entre 1891 e 1927
ocorreram várias revoltas e conflitos no país, tanto militares como (por exemplo): a 1ª
Revolta da Armada em 1891, a 2ª Revolta da Armada em 1893, a Revolução Federalista
entre 1893-95, Revolta da Chibata em 1910, a Revolta dos tenentes em 1922, a Revolta
de 1924 que se desdobrou na Coluna Prestes; quanto civis, como (por exemplo): a

7
Guerra de Canudos 1893-97, a Revolta da Vacina em 1904, a Guerra do Contestado
entre 1912-16 e os movimentos operários de 1917-19.

Também neste período, ocorreu o auge do cangaço, tendo sido seu expoente mais
famigerado Virgulino Ferreira da Silva, popularmente conhecido como "Lampião".

Embora todos esses eventos tenham sido controlados pelo governo central e a maioria
fosse de caráter localizado, o acúmulo dessas tensões sociais e econômicas foi pouco a
pouco minando o regime, o que somado aos efeitos causados pelas crises da depressão
de 1929 e das eleições federais de 1930, acabaram levando ao movimento de 1930 que
pôs um fim a este primeiro período da república no Brasil.

República do Café com Leite

Entre 1889 e 1930, o governo foi oficialmente uma democracia constitucional e, a partir
de 1894, a Presidência alternou entre os estados dominantes da época, São Paulo e
Minas Gerais. Como os paulistas eram grandes produtores de café, e os mineiros
estavam voltados à produção leiteira, a situação política do período ficou conhecida
como Política do Café-com-Leite.

Esse equilíbrio de poder entre os estados, foi uma política criada pelo presidente
Campos Sales, chamada de Política dos Estados ou Política dos governadores. A
República Velha terminou em 1930, com a Revolução de 1930, liderada por Getúlio
Vargas, um civil, instituindo-o "Governo Provisório", até que novas eleições fossem
convocadas.

Sobre sua política, Campos Sales disse:

“Outros deram à minha política a denominação de "Política dos


Governadores", Teriam acertado se dissessem "Política dos Estados". Esta
denominação exprimiria melhor o meu pensamento!”

E esse seu pensamento foi definido assim por ele:

“Neste regime, disse eu na minha última mensagem, a verdadeira força política,


que no apertado unitarismo do Império residia no poder central, deslocou-se
para os Estados. A Política dos Estados, isto é, a política que fortifica os
vínculos de harmonia entre os Estados e a União é, pois, na sua essência, a
política nacional. É lá, na soma destas unidades autônomas, que se encontra a
verdadeira soberania da opinião. O que pensam os Estados pensa a União!”

8. Principais características desse período:


Coronelismo
Nesse período, surgiu a figura do coronel, quando o governo resolveu conceder
títulos de alta patente para os grandes fazendeiros que financiavam a Guarda Nacional.
O poder conferido ao coronel permitiu que esses latifundiários formassem milícias que
8
deveriam manter a ordem interna reprimindo toda espécie de levante popular. Com o
passar do tempo, a patente militar se transformou em claro sinônimo de poderio
político.
Utilizando das armas e soldados que tinha à sua disposição, um coronel poderia
perseguir os seus inimigos políticos ou impor seus interesses à população local. Na
passagem do Império para a República, o poder político do coronel foi ampliado com a
proteção e as oportunidades de trabalho oferecidas por esses grandes proprietários.
Dessa forma, os camponeses e trabalhadores livres de uma região se viam enlaçados em
uma rígida relação de dependência.
Afrontar o interesse econômico e político de um coronel poderia significar a
exposição do indivíduo ao mais amplo leque de punições, que poderiam ir da perda do
trabalho ao homicídio. Com isso, ao dominar os moradores de uma região pela força do
dinheiro e das armas, o coronel estabelecia um “curral eleitoral” subordinado às suas
decisões no tempo das eleições. Nessa época, o coronel indicava qual o candidato cada
um de seus “apadrinhados” deveria votar.
Essa prática, mais conhecida como “voto de cabresto”, era também
acompanhada por outra série de fraudes eleitorais. Quando julgava necessário, um
coronel poderia alterar o resultado de uma eleição fraudando a contagem dos votos ou
incluindo o voto de pessoas que não existiam ou já estariam mortas. Através desse
conjunto de ações, uma mesma família poderia manter-se durante anos seguidos no
controle político de uma região.
Em troca de favores políticos, esses coronéis garantiam a eleição de
representantes que controlavam o cenário político nacional. Sem maiores dificuldades, o
resultado das eleições executivas ou a hegemonia do poder legislativo poderiam ser
manipulados pelo interesse particular dessa pequena elite de proprietários. Dessa forma,
pontuando uma forte contradição da nossa democracia, o coronelismo perpetuava uma
cultura política autoritária e permissiva no país.

Tenentismo
A partir da década de 1920, um movimento de caráter político-militar começou a
se organizar no interior dos exércitos do Brasil. Jovens militares que ocupavam as
patentes de oficial, tenente e capitão começaram a expressar o seu descontentamento
frente aos desmandos do governo das oligarquias. Representando em parte os anseios
dos setores médios da população brasileira, esses militares pregavam a moralização e o
fim da corrupção no âmbito das práticas políticas da nação.
Entre outros pontos, os tenentes defendiam a instauração do voto secreto e o fim
da corrupção eleitoral. Em certa medida, eram defensores de um regime político calcado
na ordem democrática e liberal. No entanto, parte desses oficiais do Exército também
via que a situação de urgência do país buscava a constituição de um governo forte e
centralizado.
Uma das primeiras revoltas organizadas por esses militares começou a se
organizar no ano de 1921, realizando oposição ao processo eleitoral da época. Os oficias
eram contrários à eleição de Arthur Bernardes, que viria a se tornar presidente. Visando
repreender as críticas desses oficiais ao novo governo, Arthur Bernardes ordenou o
fechamento do Clube Militar. Inconformados com o decreto autoritário, uma guarnição
do forte de Copacabana bombardeou a cidade e exigiu a renúncia do novo presidente.
A rebelião motivou uma violenta reação do governo que acabou desarticulando a
maioria de seus participantes. Apenas um pequeno grupo, noticiado pelos jornais da
época como “Os Dezoito do Forte”, resistiram às forças oficiais saindo em marcha pelo
litoral carioca. As tropas fiéis ao presidente saíram à procura desse grupo resistente,

9
executando a maioria dos envolvidos. O evento acabou potencializando a ocorrência de
novas rebeliões militares.
Na data de 5 de julho de 1924, um novo grupo de tenentes paulistas tomaram das
armas para enfrentar o governo. Ao longo de quase um mês, o grupo comandado pelo
general Isidoro Dias Lopes entrou em confronto com as tropas governamentais. Em
pouco tempo, novos levantes tenentistas viriam a se espalhar por outros cantos do
Brasil. Uma parte dos militares envolvidos no levante em São Paulo, se refugiaram em
Foz do Iguaçu, onde se encontraram com um grupo de tenentes gaúchos.
A união desses militares possibilitou a formação da chamada Coluna Prestes.
Esse grupo de guerrilheiros, de origem militar e civil, era liderado por Luís Carlos
Prestes pregando mudanças por todo o território brasileiro. Ao longo de três anos, os
participantes da Coluna Prestes percorreram mais de 24 mil quilômetros fugindo da
perseguição dos oficias legalistas e convocando outras pessoas a fazer parte do
movimento.
A falta de apelo popular de seus líderes acabou enfraquecendo o movimento, que
se dissipou na Bolívia, no ano de 1927. Os participantes do movimento encerraram a
sua luta. Alguns dos integrantes, entre eles Luis Carlos Prestes, resolveram militar pelas
vias partidárias ao se aproximar do Partido Comunista do Brasil. Mesmo não obtendo
resultados concretos, o tenentismo dava sinais de desgaste sofrido pelas teias de
dominação estabelecidas pelo regime das oligarquias.

Coluna Prestes
Em 1924, o movimento tenentista ganhou força com os vários levantes
organizados contra a hegemonia política das oligarquias. No estado de São Paulo a
mobilização dos militares ganhou enorme força chegando até mesmo a obrigar a fuga de
milhares de pessoas da capital. Paralelamente, outras revoltas de menor porte
aconteceram no Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará, Amazonas e Sergipe. Contudo,
a superioridade das tropas oficiais conseguiu contrapor-se à manifestação desses
militares.
No caso da revolta paulista, os militares participantes resolveram sair do estado
empreendendo novos focos de resistência estabelecidos nas cidades paranaenses de
Guaíra, Foz do Iguaçu e Catanduvas. Nesse meio tempo, Juarez Távora e João Alberto,
participantes da resistência paulista, partiram para o Rio Grande do Sul com o intuito de
auxiliar nos preparativos de uma nova revolta militar a ser consumada no 1º Batalhão
Ferroviário, na cidade de Santo Ângelo.
Um dos principais líderes locais dessa nova revolta tenentista foi Luis Carlos
Prestes, que, com o auxílio de seus comandados, partiu com destino à Foz do Iguaçu.
Essa primeira ação tinha como objetivo engrossar as fileiras da coluna paulista, que se
encontrava na mesma região. No mês de abril de 1925, os militares gaúchos concluíram
seu plano após sofrer várias perdas nos confrontos com as tropas oficiais. A partir de
então, estaria formada a chamada Coluna Prestes.
Entre suas primeiras ações, a nova coluna decidiu organizar um destacamento
comandado por Isidoro Dias Lopes, que iria para a Argentina liderar os militares
sulistas. Enquanto isso, os remanescentes da Coluna Prestes concluíram a travessia do
rio Paraná e seguiram para o Mato Grosso passando pelo território paraguaio. Depois
disso, passaram por Goiás, Minas Gerais e retornaram para o território goiano. No final
daquele ano, partiram para a região nordeste passando pelo Maranhão, Piauí e Ceará.
No ano seguinte, os participantes da Coluna partiram mais uma vez para a região
sul do país atravessando o Rio Grande do Norte e a Paraíba, estado onde travaram um
violento conflito contra o padre Aristides Ferreira da Cruz. Dando prosseguimento aos

10
seus planos, os revoltosos atravessaram os territórios pernambucano e baiano, até
atingirem a região norte de Minas Gerais. Chegando lá, a Coluna Prestes sofreu uma
violenta perseguição que obrigou os militares a retornarem à região Nordeste.
A coluna partiu para a Bahia, chegou ao Piauí e retornou à região Centro-Oeste
até chegar ao Mato Grosso, em outubro de 1926. Nesse momento, os líderes da coluna
tinham como opção lutar até o fim ou partir para o exílio. No ano seguinte, parte da
coluna atravessou a região do Pantanal e exilou-se no Paraguai. Os demais participantes,
já desgastados com a perseguição governamental, decidiram encerrar sua luta
revolucionária com o exílio na Bolívia.
Durante os três meses que percorreram por vários estados brasileiros, os
membros da Coluna Prestes andaram mais de 25.000 quilômetros. No período em que
atravessou várias cidades do país, tentou mobilizar as populações locais a se voltarem
contra a opressão política das oligarquias. No entanto, a ausência de um projeto político
mais claro impossibilitou a formação de um movimento suficientemente forte para
derrubar as autoridades estabelecidas.
Luis Carlos Prestes saiu conhecido do conflito como o “cavaleiro da esperança”
e, tempos depois, mudou-se para a Argentina. Nessa época, consolidou uma orientação
política mais bem definida ao filiar-se ao Partido Comunista Brasileiro. Pouco tempo
depois, com a agitação que marcou a Revolução de 1930, parte dos tenentes que
integraram a coluna concederam apoio ao governo capitaneado por Getúlio Dornelles
Vargas.

11
1. Era Vargas: Governo Provisório (1930-1934)

Governo Provisório é a forma como é chamado o período inicial em que Getúlio Vargas
governou o Brasil. O Governo Provisório iniciou-se em 1930, quando Getúlio Vargas
foi nomeado presidente logo após a Revolução de 1930, e estendeu-se até 1934, quando
Vargas foi reeleito em eleição indireta, dando início ao Governo Constitucional.

1.1. Revolução de 1930

A subida de Getúlio Vargas à presidência do Brasil foi o resultado final da Revolução


de 1930, responsável por destituir Washington Luís do poder e por impedir a posse do
presidente eleito em pleito presidencial daquele ano, o paulista Júlio Prestes. A
Revolução de 1930 foi fruto da crise que atingiu a política brasileira no final da
Primeira República.

Essa crise aconteceu em decorrência da entrada de novos atores nos quadros da política
brasileira – como os tenentistas – e das disputas que começaram a surgir entre as
oligarquias que controlavam a política do país. Essa dissidência teve seu auge na eleição
presidencial de 1930, quando o presidente Washington Luís passou por cima do acordo
com Minas Gerais e lançou um candidato paulista na disputa pela presidência: Júlio
Prestes.

Em decorrência da quebra do acordo entre paulistas e mineiros, foi lançada a Aliança


Liberal, em que os representantes das oligarquias de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e
Paraíba, aliados com os tenentistas, lançaram Getúlio Vargas como candidato à
presidência do Brasil. Vargas havia sido deputado federal entre 1923 e 1926, ministro
da Fazenda entre 1926 e 1927 e era o então governador do Rio Grande do Sul.

A candidatura de Vargas, porém, não conseguiu mobilizar a quantidade de votos


suficientes e foi derrotada no pleito por Júlio Prestes. Com a derrota, parte da Aliança
Liberal partiu para a conspiração contra o governo estabelecido, e essa conspiração
levou a um levante militar que teve como estopim o assassinato de João Pessoa, vice de
Getúlio Vargas.

Após o assassinato de João Pessoa, que foi motivado por questões políticas, regionais e
passionais, iniciou-se um levante contra o governo de Washington Luís em diferentes
partes do país. A revolta foi iniciada em 3 de outubro e, no dia 24 do mesmo mês,
Washington Luís foi deposto do cargo de presidente. Nos dias seguintes, foi formada
uma junta militar que governou o Brasil por alguns dias e depois nomeou Getúlio
Vargas como presidente provisório do Brasil em 3 de novembro de 1930.

12
1.2. Governo Provisório

Como o próprio nome sugere, o primeiro momento de Getúlio Vargas no poder tinha
como objetivo organizar a nação visando a formar uma Assembleia Constituinte que
elaborasse uma nova Constituição (a Carta de 1891 havia sido anulada) para que, a
partir daí, uma eleição presidencial fosse organizada no país. Essas ideias eram
partilhadas, principalmente, pelos liberais constitucionalistas que haviam apoiado a
Revolução de 1930.

Getúlio Vargas, no entanto, tinha outros planos para o Brasil, que eram a centralização
do poder em sua figura, postura apoiada pelos tenentistas que defendiam a implantação
de um modelo republicano autoritário. A ideia de Vargas era, a princípio, reformar todo
o modelo político brasileiro, pois temia que as oligarquias tradicionais retomassem o
poder, caso fossem convocadas novas eleições de imediato.

Sendo assim, uma das marcas do governo de Vargas, já manifestada no Governo


Provisório, foram as medidas centralizadoras. Entre essas medidas centralizadoras,
destacam-se: a dissolução do Congresso Nacional e das Assembleias Legislativas
estaduais e municipais e a substituição dos governadores de Estado por interventores
nomeados pelo próprio Vargas.

As ações de Vargas no sentido de retardar a elaboração de uma nova Constituição e a


realização de uma nova eleição presidencial começaram a gerar fortes insatisfações
entre a elite política, sobretudo no estado de São Paulo, a partir de 1932. Para conter
essas insatisfações, foi promulgado, em fevereiro de 1932, um novo Código Eleitoral
que possuía determinações consideradas bastante modernas para a época.

Algumas das determinações desse novo Código Eleitoral foram:

 criação da Justiça Eleitoral;


 adoção voto secreto;
 imposição da obrigatoriedade do voto;
 concessão do direito de voto e do direito de se candidatar às mulheres maiores
de 21 anos.

1.3. Revolução Constitucionalista de 1932

O decreto do novo Código Eleitoral teve uma repercussão muito modesta. A


insatisfação dos paulistas com o governo era bastante evidente e, como forma de
acalmar os paulistas, Vargas decretou, em março de 1932, a convocação de eleição para
formação de uma Assembleia Constituinte para 1933.

A nova ação de Vargas também não conseguiu manter os paulistas satisfeitos. Além de
exigirem uma nova Constituição e uma nova eleição de imediato, os paulistas também
estavam insatisfeitos com os interventores nomeados por Vargas para o estado. Eles
exigiam que o interventor de São Paulo fosse um “paulista e civil”. Por fim, havia a

13
questão do café: havia uma insatisfação pelo governo ter federalizado o controle da
política do café com a criação do Conselho Nacional do Café, em maio de 1931.

Todos esses fatores contribuíram para fomentar um desejo de revolta com caráter
separatista, em São Paulo. Isso levou ao que ficou conhecido como Revolução
Constitucionalista de 1932, iniciada em 9 de julho de 1932. Essa revolta transformou-se
em uma guerra civil que se estendeu por dois meses.

Houve mobilização parcial da sociedade paulista, fábricas foram adaptadas para


produção de equipamentos bélicos, joias foram arrecadadas entre a elite paulista com o
objetivo de reverter os valores obtidos para compra de armamentos e soldados foram
mobilizados em massa para a luta. Os paulistas, porém, lutaram sozinhos e não foram
páreo para as forças do governo.

A rendição dos paulistas aconteceu, oficialmente, em 1º de outubro de 1932. Logo em


seguida, Vargas: “prendeu os rebeldes, expulsou oficiais do Exército, cassou os direitos
civis dos principais implicados no levante, despachou para o exílio as lideranças
políticas e militares do estado, mandou reorganizar a Força Pública e reduzi-la ao status
de órgão policial”.

Vargas também partiu para a negociação com os paulistas e nomeou Armando Salles
para interventoria de São Paulo, assim como garantiu a realização da eleição para 1933
para que uma assembleia fosse formada e uma nova Constituição, redigida.

1.4. Constituição de 1934

O Governo Provisório teve fim quando a nova Constituição foi aprovada e quando
Vargas foi reeleito presidente em 1934. A nova Carta do Brasil foi elaborada por
deputados eleitos na eleição de maio de 1933. A Constituinte formada com essa eleição
realizou o debate e escreveu uma nova Constituição para o Brasil nos moldes da
Constituição alemã da República de Weimar.

2. Retomada do período do Governo Provisório (1930-


1934)
A Constituição de 1934 foi promulgada em 14 de julho de 1934 e ficou caracterizada
por ser bastante moderna. Para insatisfação de Vargas, ela reduzia os poderes do
Executivo e estipulava o mandato presidencial para quatro anos, sem possibilidade de
reeleição. Um dia depois da promulgação, Getúlio Vargas foi reeleito presidente em
votação indireta realizada na Assembleia Constituinte.

A instauração da segunda fase do período republicano ocorreu com a ascensão do


Governo Provisório de Getúlio Vargas, em 3 de novembro de 1930. A Aliança Liberal,
que promoveu a candidatura de Getúlio Vargas, foi composta por forças políticas
bastante diversas. De antigos próceres oligárquicos (como o presidente do Estado de
Minas Gerais Antônio Carlos e o ex-presidente da República Artur Bernardes), a uma
geração de jovens políticos (como Oswaldo Aranha e Francisco Campos), e militares do
movimento tenentista (como Juarez Távora e Góis Monteiro). A diversidade de forças

14
políticas poderia gerar a dissolução da Aliança, antes mesmo de concluir a tomada do
poder. A liderança de Getúlio Vargas foi importante, pois se tornou exímio mediador
das distintas forças políticas agregadas na Aliança Liberal, possibilitando a instituição
do novo governo.

O Governo Provisório perdurou até 1934 e se constituiu por um período de transição


política em que o poder Legislativo foi concentrado no Executivo, e houve a redução
dos poderes dos Estados. As medidas excepcionais promovidas nesse período
pretendiam ser estendidas para pôr fim ao regime oligárquico e ao federalismo
associados à Primeira República. Apesar das Forças Armadas atravessarem um período
de instabilidade com o risco de ruptura com a hierarquia por conta das revoltas de base
no Exército, a instituição estava favorável a continuidade do governo Vargas.

O Clube 3 de Outubro, órgão representante do tenentismo, também estava a favor da


perpetuação das forças que compuseram o Governo Provisório, defendendo a seguinte
pauta: a instalação de uma indústria básica (com especial foco na siderurgia),
nacionalização de minas, energia, transporte e comunicação, centralização do poder e
unificação dos Estados. O Governo Provisório concretizou o fortalecimento do Estado,
a criação de organismos centralizadores na economia cambial para resolução da crise do
café, e aliança entre Estado e Igreja Católica.

Economicamente o Governo Provisório promoveu a contenção do declínio do comércio


do café pelo Conselho Nacional do Café (1931), renomeado em 1933 de Departamento
Nacional do Café, por meio da compra de sacas de café e de sua queima, porém não
perpetuou a preponderância do setor cafeicultor no Brasil. O financiamento externo à
produção cafeeira termina na década de 1930, e esse investimento passa a ser feito com
capitais estatais internos.

As políticas do governo varguista de regulação das taxas cambiais e do controle da


instalação de fábricas concorrentes propiciaram o crescimento da produção industrial
entre os anos 1933-1936, com crescimento em 14,1%, o maior desde 1917. A proteção
estatal à produção cafeeira continuou em voga por meio da proteção alfandegária na
década de 1930, contudo, o predomínio econômico do café para a exportação tornou-se
inócuo após a crise de 1929. A industrialização para substituição de importações passou
a ser a tônica da economia nacional.

As reestruturações econômicas e políticas no país acompanharam as mudanças sociais.


Dentre essas últimas esteve a otimização do trabalho e o discurso da valorização do
trabalhador. Cabe ressaltar que a criação, em 26 de novembro de 1930, do Ministério do
Trabalho, Indústria e Comércio foi um dos primeiros empreendimentos do primeiro
governo Vargas, designado “Ministério da Revolução” teve influência preponderante
politicamente no Governo Provisório. O primeiro ministro do trabalho foi Lindolfo
Collor que permaneceu no cargo até 1932. A implementação de leis trabalhistas em
curso nas décadas de 1920 e 1930 sofria a influência da Revolução Russa de 1917. As
Greves Gerais iniciadas no Brasil no ano de 1917 também foram fundamentais para a
conquista desses direitos.

A criação e oficialização de sindicatos consistiram na principal forma de atuação desse


Ministério. A concessão de benefícios restritos aos sindicatos oficiais e a imposição de
representatividade de sindicato único, contiveram a influência dos grupos de esquerda

15
nas lutas dos trabalhadores. Os impedimentos da atuação de grupos de esquerda e a
centralização estatal dos sindicatos permitiram a Vargas sua ascensão política em torno
da criação do discurso do trabalhismo, e posteriormente o sucesso do golpe do Estado
Novo (1937).

Apelos em comícios e na imprensa, no ano de 1932, em São Paulo exigiam a


constitucionalização e, transitoriamente, a nomeação de um interventor paulista e civil.
Em fevereiro desse mesmo ano foi decretado, pelo governo federal, a nomeação de um
interventor paulista e um Código Eleitoral válido para todo o país instituindo o sufrágio
feminino e o voto secreto. Vargas aliava-se às oligarquias locais, para não haver
embates resultantes de uma possível eliminação dessas. Em São Paulo, essa tática não
foi bem-sucedida, os setores oposicionistas ampliavam-se e os interventores eram
constantemente substituídos. As reformas do decreto federal não apaziguaram os
ânimos paulistas e, em nove de julho de 1932, iniciou-se a guerra civil. O Partido
Democrático e o Partido Republicano Paulista aliaram-se na Frente Única Paulista.

Apesar de derrotada, a insurreição paulista influenciou a convocação da Assembleia


Nacional Constituinte, em 1933. A Constituinte foi concluída em 1934, e teve a
inovação da inclusão transitória da representação classista de empregados,
empregadores, profissionais liberais e funcionários públicos, no Congresso Nacional.
Getúlio Vargas foi eleito pela Constituinte por meio do voto indireto, em 17 de julho de
1934, dando início ao Governo Constitucional (1934-1937).

16

Você também pode gostar