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Ultrassonografia intervencionista em cães e gatos: aplicações, benefícios e

considerações

Sylvia Venâncio Ribeiro Leite de Carvalho¹


Samantha Juliana Manusell²
Rachel Barretto Prado³

Resumo
Com os constantes avanços na medicina veterinária, a necessidade de diagnósticos
mais precisos e rápidos tem aumentado. Nesse cenário, a ultrassonografia
intervencionista se destaca como uma técnica de diagnóstico por imagem com ampla
utilidade na prática clínica de cães e gatos. A justificativa para o estudo centrou-se na
oportunidade de mostrar a ultrassonografia intervencionista como uma técnica
diagnóstica valiosa na medicina veterinária. O objetivo deste trabalho foi realizar uma
revisão bibliográfica sobre ultrassonografia intervencionista em cães e gatos,
seguindo procedimentos que envolvem o levantamento, a análise e a leitura do
material teórico encontrado em publicações referentes ao assunto em questão. A
metodologia aplicada foi a revisão sistemática de literatura realizada por meio de
pesquisa bibliográfica, utilizando as base de dados: Google Scholar, ResearchGate,
ScienceDirect, VetMed Resource, Wiley Online Library, e periódicos: Archives of
Veterinary Science, Agrarian Academy, Journal of Small Animal Practice, Journal of
the American Animal Hospital Association, PUBVET (Publicações em medicina
veterinária e zootecnia), Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice,
The Veterinary Journal, com descritores nos idiomas português e inglês, considerando
publicações realizadas entre os anos de 2001 a 2021. Conclui-se que a compreensão
e a aplicação apropriada da ultrassonografia intervencionista, juntamente com a
qualificação profissional necessária para sua execução, desempenham um papel
fundamental na garantia de diagnósticos precisos e na promoção do bem-estar e
saúde canina e felina.

Palavras-chave: Ultrassonografia guiada. Diagnóstico por imagem. Pequenos


animais.
1 Pós-graduanda em Ultrassonografia de Pequenos Animais. E-mail: sylvia.vrlc@gmail.com
2 Pós-graduanda em Ultrassonografia de Pequenos Animais. E-mail: vet.maunsell@gmail.com
3 Pós-graduanda em Ultrassonografia de Pequenos Animais. E-mail: rachelbprado@hotmail.com
2

Abstract
With constant advances in veterinary medicine, the need for more accurate and faster
diagnoses has increased. In this scenario, interventional ultrasound stands out as an
imaging diagnostic technique with wide utility in the clinical practice of dogs and cats.
The rationale for the study centered on the opportunity to showcase interventional
ultrasound as a valuable diagnostic technique in veterinary medicine. The objective of
this work was to carry out a bibliographical review on interventional ultrasound in dogs
and cats, following procedures that involve the survey, analysis and reading of
theoretical material found in publications relating to the subject in question. The
methodology applied was a systematic literature review carried out through
bibliographic research, using the database: Google Scholar, ResearchGate,
ScienceDirect, VetMed Resource, Wiley Online Library, and periodicals: Archives of
Veterinary Science, Agrarian Academy, Journal of Small Animal Practice, Journal of
the American Animal Hospital Association, PUBVET (Publications in veterinary
medicine and zootechnics), Veterinary Clinics of North America: Small Animal
Practice, The Veterinary Journal, with descriptors in Portuguese and English,
considering publications published between the years of 2001 to 2021. It is concluded
that the understanding and appropriate application of interventional ultrasound,
together with the professional qualification necessary for its execution, play a
fundamental role in ensuring accurate diagnoses and promoting canine and feline well-
being and health.

Key words: Ultrasound-guided. Imaging diagnosis. Small animals.

1. Introdução

A medicina veterinária contemporânea tem sido enriquecida por avanços


notáveis na qualidade de cuidados e tratamentos de animais de estimação,
proporcionando diagnósticos mais precisos e intervenções terapêuticas mais eficazes
(STIEGER-VANEGAS, 2021).
Entre as inovações cruciais encontra-se a ultrassonografia intervencionista,
uma modalidade de diagnóstico por imagem que oferece uma visualização detalhada
e em tempo real das estruturas internas e órgãos em cães e gatos durante o
procedimento a ser realizado (MATOON et al., 2021; STIEGER-VANEGAS, 2021).
3

Nos últimos anos, a ultrassonografia intervencionista tem se estabelecido como


uma ferramenta valiosa na prática veterinária, oferecendo aos profissionais uma
maneira abrangente e minimamente invasiva de diagnóstico por imagem (Nyland e
Mattoon, 2004).
Neste artigo, objetivou-se explorar em detalhes as aplicações, benefícios e
considerações fundamentais associadas à ultrassonografia intervencionista em cães
e gatos.
Mediante uma revisão literária abrangente das aplicações clínicas, discussão
dos benefícios e análise crítica das considerações éticas e práticas, este artigo fornece
uma visão aprofundada dessa técnica, destacando seu papel crescente na medicina
veterinária contemporânea.
Compreender a importância e o potencial da ultrassonografia intervencionista
é crucial na constante busca por promover a saúde e o bem-estar canino e felino.

2. Fundamentação teórica

A ultrassonografia é uma modalidade diagnóstica que consiste na emissão e


detecção de ecos de ondas sonoras para a geração de imagens, sendo uma
modalidade de diagnóstico por imagem que não recorre à radiação eletromagnética
(THRALL, 2019; CARVALHO, 2014).
O aparelho de ultrassom emite ondas sonoras de alta frequência através de
uma sonda, que penetram nos tecidos e órgãos do animal e são refletidas de volta
para a sonda (THRALL, 2019; CARVALHO, 2014). Os tempos de retorno e a
intensidade desses sinais refletidos são convertidos em imagens em tempo real no
monitor, permitindo uma visualização detalhada das estruturas internas, explica
Stieger-Vanegas (2021).
Na medicina veterinária, a ultrassonografia se consolidou como uma
ferramenta indispensável na análise morfológica e funcional de vários órgãos
(CARVALHO, 2014).
Embora a ultrassonografia possa ser empregada na detecção de
irregularidades em órgãos e tecidos, é importante ressaltar que, exclusivamente com
base na imagem, não é possível distinguir entre lesões malignas e benignas, conforme
explana Carvalho (2014). A fim de atingir um diagnóstico preciso, podemos realizar
exames complementares intervencionistas. As biópsias citológicas representam um
4

complemento essencial à ultrassonografia abdominal sempre que uma lesão é


detectada, exemplificam Turner et al. (2021).
A ultrassonografia intervencionista em cães e gatos é baseada nos mesmos
princípios da ultrassonografia convencional. A distinção chave está na natureza
"intervencionista" da técnica, que, conforme mencionado por Carvalho (2014), implica
na introdução de dispositivos ou instrumentos perfurocortantes diretamente no corpo
do animal, para drenar líquidos, coletar amostras ou realizar biópsias, ou seja, com
finalidade terapêutica ou diagnóstica.
A utilização do ultrassom proporciona aos veterinários a capacidade de
alcançar os órgãos e tecidos em tempo real e com maior precisão e segurança durante
o procedimento (MATOON et al., 2021; STIEGER-VANEGAS, 2021).
A ultrassonografia tem sido amplamente empregada, principalmente, na
orientação de procedimentos intervencionistas como cistocentese, drenagem de
efusões peritoneais, pleurais e pericárdicas, além de desempenhar um papel
essencial na coleta de materiais, como citologia aspirativa e biópsias (CARVALHO,
2014).
Pós-procedimento a ultrassonografia pode ser executada com o propósito de
acompanhar a ocorrência de hemorragia (GREEN, 1996).

2.1. Aplicações Clínicas

A ultrassonografia intervencionista tem sido uma ferramenta valiosa em várias


aplicações clínicas para melhorar a saúde de cães e gatos. Dentre as aplicações mais
comuns desta técnica estão as biópsias, cistocentese, drenagem de efusões e cistos,
e os procedimentos terapêuticos.

2.1.1. Orientação de Biópsias e Amostragens

Uma das aplicações primordiais da ultrassonografia intervencionista é a


orientação de biópsias e amostragens de tecidos e órgãos. Esta técnica permite aos
veterinários direcionar precisamente as agulhas ou instrumentos para coletar
amostras representativas de áreas suspeitas.
De acordo com Nyland e Mattoon (2004), é um procedimento rápido, seguro e
geralmente considerado pouco invasivo que, como afirmam os autores Bigge et al.
5

(2001) e Mattoon et al. (2021), proporciona uma elevada taxa de amostras


diagnósticas de qualidade excepcional. Isso é fundamental para o diagnóstico de
doenças, como tumores, inflamações e outras condições médicas complexas, sem a
necessidade de cirurgia.
Biópsias guiadas por ultrassonografia possuem maior probabilidade de
sucesso, pois a agulha específica será direcionada exatamente para o órgão alterado
e mais precisamente para a lesão, evitando assim atingir áreas de tecidos sadios,
grandes vasos e áreas que não são de interesse (PRADO et al., 2014; KANAYAMA,
2014).
Diversas técnicas de biópsia estão disponíveis, e a seleção de uma delas
depende da patologia em questão, do órgão de interesse, da experiência do
ultrassonografista e das características do animal (MANNION, 2010; MATTOON et al.,
2021).

2.1.2. Cistocentese

É realizada essencialmente para coletar amostra de urina diretamente da


bexiga, para realização de exames laboratoriais, explica Carvalho (2014). A técnica
minimiza o risco de contaminação bacteriana, assegurando que a amostra seja mais
representativa do estado real do trato urinário. É um procedimento rápido e
relativamente simples que, quando o animal é colaborativo, não requer anestesia
geral.

2.1.3. Drenagem de Efusões

É um método que utiliza a ultrassonografia para guiar e monitorar a remoção


de acúmulos anormais de líquido intracavitário. O procedimento é realizado de forma
controlada e gradual para evitar complicações (CARVALHO, 2014).
Esta técnica tem indicação em casos de derrames pleurais, ascite e efusões
pericárdicas, conforme exemplificado por Carvalho (2014). Uma amostra do líquido
drenado pode ser submetida à análise laboratorial a fim de determinar sua composição
e a causa subjacente da efusão.
6

2.1.4 Drenagem de Cistos

Em situações em que é necessário aspirar ou drenar conteúdo cístico com


precisão, seja no intuito de obter amostras para análises diagnósticas ou para aliviar
o desconforto do animal, a ultrassonografia guia o direcionamento e a inserção de
uma agulha ou cateter.

2.1.5. Procedimentos Terapêuticos Guiados por Ultrassom

A ultrassonografia intervencionista também é usada para orientar


procedimentos terapêuticos, como a administração de anestesia local e a aplicação
de medicação diretamente em uma área específica, por exemplo. Essas abordagens
terapêuticas têm diversas aplicações, incluindo o alívio ou bloqueio da dor, tratamento
de lesões musculoesqueléticas e controle de processos inflamatórios.
Na medicina veterinária, as pesquisas sobre bloqueios guiados por ultrassom
são relativamente recentes, indicando um crescente interesse científico no uso dessa
técnica (WAGATSUMA, 2013).

2.2. Benefícios e Vantagens

A ultrassonografia intervencionista proporciona uma série de benefícios e


vantagens na prática veterinária que aprimoram a qualidade dos cuidados e
tratamentos para cães e gatos, tais como precisão no diagnóstico, maior segurança
em procedimentos terapêuticos, menor invasividade, redução do tempo de
recuperação, monitoramento em tempo real e uma ampla gama de aplicações
clínicas.

2.2.1. Precisão Diagnóstica Aprimorada

A visualização das estruturas a serem biopsiadas, bem como dos locais com
líquido a ser aspirado ou drenado, proporciona diagnósticos mais assertivos. A
ultrassonografia permite aos veterinários o acompanhamento em tempo real antes,
durante e após os procedimentos, o que é especialmente valioso em casos
complexos.
7

Em um estudo vasto realizado da década de 90, os autores BIGGE et al. (2001)


afirmaram que a biópsia por agulha, geralmente ecoguiada, obtém tecido suficiente
para diagnóstico histopatológico em aproximadamente 92-96,3% dos casos.

2.2.2. Procedimentos Terapêuticos Mais Seguros

O uso da ultrassonografia intervencionista durante procedimentos terapêuticos


permite guiar com precisão as agulhas e instrumentos, reduzindo o potencial de danos
às estruturas circundantes.
Na rotina anestésico-cirúrgica, a implementação da ultrassonografia na
anestesia locorregional superou várias dificuldades e obstáculos associados à
realização de bloqueios anestésicos, aumentando o êxito e a segurança de várias
técnicas de bloqueios regionais, aponta Credie (2018).

2.2.3. Menor Invasão e Tempo de Recuperação

Os procedimentos intervencionistas guiados ultrassonograficamente


geralmente requerem incisões menores ou nenhum corte, resultando em menor
invasão e tempo de recuperação mais curto para os pacientes. De acordo com Nyland
e Mattoon (2005), com o auxílio do ultrassom é possível estabelecer menor distância
até a lesão ou área de interesse.

2.2.4. Monitoramento em Tempo Real

A capacidade de monitorar em tempo real durante procedimentos é uma das


maiores vantagens da ultrassonografia intervencionista. Isso permite que os
veterinários façam ajustes instantâneos durante a intervenção, garantindo um
tratamento personalizado e preciso (STIEGER-VANEGAS, 2021).

2.2.5. Ampla Aplicação Clínica

A ultrassonografia intervencionista é aplicável em uma variedade de cenários


clínicos, desde diagnósticos até procedimentos terapêuticos (WAGATSUMA, 2013;
8

SANTOS et al., 2012). Sua versatilidade a torna uma ferramenta valiosa para
veterinários em várias especialidades e áreas da medicina veterinária.

Esses benefícios ressaltam a importância e o potencial da ultrassonografia


intervencionista na melhoria dos cuidados de saúde oferecidos a cães e gatos. No
entanto, é fundamental ponderar cuidadosamente as considerações éticas e de bem-
estar animal ao empregar essa técnica avançada.

2.3. Considerações Importantes

Embora a ultrassonografia intervencionista ofereça benefícios substanciais,


sua aplicação requer alguns cuidados importantes para garantir a segurança e eficácia
dos procedimentos. As seguintes considerações são fundamentais ao realizar
procedimentos guiados por ultrassom:

2.3.1. Qualificação e Treinamento Profissional

A realização de procedimentos intervencionistas exige um alto nível de


habilidade e treinamento dos veterinários ultrassonografistas, que devem passar por
formação especializada e adquirir experiência prática antes de realizar essas técnicas
em pacientes. É imprescindível ter amplo conhecimento de anatomia, técnicas de
imagem e interpretação dos achados.

2.3.2. Sedação e Anestesia Adequadas

Para realização de algumas técnicas intervencionistas é preciso sedar ou


anestesiar o paciente, no intuito de mantê-lo imóvel e confortável durante o
procedimento.
Previamente à anestesia, é mandatória a estabilização do paciente
(BARCELOS et al., 2021). Isso envolve avaliar o estado de saúde do paciente, tratar
quaisquer condições médicas subjacentes e garantir que ele esteja nas melhores
condições possíveis antes de ser anestesiado.
9

A segurança do paciente é prioritária, sendo assim, a preparação, a escolha


adequada de protocolos anestésicos e a monitoração rigorosa são essenciais para
evitar complicações.
Da mesma forma que a ultrassonografia intervencionista, a sedação e
anestesia precisam ser realizadas e acompanhadas por médicos veterinários
devidamente habilitados para tal função, com o consentimento explícito do tutor do
paciente. O tutor precisa ser informado sobre os riscos inerentes à anestesia
(BARCELOS et al., 2021), para poder decidir se autoriza que seu cão ou gato sejam
submetidos a tal prática.

2.3.3. Ética e Bem-Estar Animal

É importante que os procedimentos de ultrassonografia intervencionista sejam


realizados considerando o bem-estar e os princípios éticos.
Para tanto, sua execução deve ser feita por ultrassonografistas capacitados e
devidamente treinados. Da mesma forma, a sedação e anestesia precisam ser
realizadas e acompanhadas por profissionais habilitados para tal função, com o
consentimento informado do tutor do paciente.
Os médicos veterinários devem seguir as normas éticas para assegurar
tratamento adequado aos animais, além de contribuir para a integridade e a
credibilidade da profissão como um todo, pontua Dallari Júnior (2021).
A ética médica veterinária se estende a questões como o tratamento
humanitário dos animais, o respeito à legislação e regulamentações relacionadas e a
responsabilidade perante a sociedade (DALLARI JÚNIOR, 2021).
Os ultrassonografistas e anestesistas são responsáveis por seus paciente
antes, durante e após a execução do procedimento intervencionista.

2.3.4. Escolha de Candidatos Adequados

Nem todos os cães e gatos são candidatos ideais para passar por procedimento
intervencionista. Cada situação deve ser avaliada cuidadosamente para poder
determinar se a técnica é apropriada, se o score corporal e as condições de saúde do
paciente permitem sua execução, principalmente nos casos em que há necessidade
de sedação ou anestesia.
10

Outro ponto que deve ser observado é o estado da pele do paciente. Como
mencionado por Vignoli e Saunders (2010), lesões ou preparo inadequado da pele
podem resultar em uma janela acústica inadequada para a formação da imagem.
Sob a mesma ótica, a biópsia guiada por ultrassom torna-se inviável quando a
presença de gás ou osso impede a visualização da região alvo, conforme pontuam os
autores Mattoon et al. (2021).

2.3.5. Treinamento Contínuo e Atualização

Com o constante avanço da tecnologia e das práticas em medicina veterinária,


é essencial que os profissionais que executam ultrassonografia intervencionista
busquem educação contínua e mantenham seu treinamento atualizado para oferecer
um serviço de qualidade.

As considerações citadas acima garantem que a ultrassonografia


intervencionista seja realizada com segurança e eficácia, com o bem-estar do paciente
em mente. Ao seguir diretrizes rigorosas, os veterinários podem aproveitar ao máximo
essa valiosa ferramenta diagnóstica e terapêutica em benefício de seus pacientes.

2.4. Estudos de caso

A aplicação da ultrassonografia intervencionista é relativamente pouco


explanada na literatura por estudos de caso. Foi encontrada uma pequena quantidade
de trabalhos que demonstram utilizações deste procedimento na pesquisa científica,
e uma quantidade um pouco maior é descrita na rotina clínica de cães e gatos.
Foram selecionados alguns exemplos da utilização da ultrassonografia guiada
para fins terapêuticos, diagnósticos e anestésicos locorregionais.

2.4.1. Aplicação de células-tronco mesenquimais guiada por ultrassom

Santos et. al (2012), relataram o caso de cão macho de um ano de idade foi
submetido a tratamento com fisioterapia e acupuntura após cirurgia para corrigir
fraturas em seu membro esquerdo. Apesar de alguma melhora, o animal ainda
apresentava problemas de sensibilidade e propriocepção. Decidiu-se então realizar
11

terapia celular utilizando células-tronco mesenquimais (CTMs) obtidas da medula


óssea. Após a aplicação das CTMs na região perineural do nervo radial, o animal
continuou com acupuntura e fisioterapia, recuperando 90% da função do membro
após 8 meses.

2.4.2. Biópsia aspirativa em trato gastrointestinal guiada por ultrassom

Campos et al. (2013) demonstraram em seu estudo a aplicabilidade da


ultrassonografia intervencionista como auxílio no diagnóstico de linfoma alimentar.
Dois gatos e um cão que apresentavam imagens ultrassonográficas sugestivas de
neoplasias gastrointestinais foram submetidos a biópsia aspirativa ecoguiada. Após
análise citológica da amostra coletada foi confirmada a suspeita.

2.4.3. Remoção de sonda guiada por ultrassom

Jarretta et al. (2013) descreveram o caso de uma cadela da raça Beagle, de 8


anos, que apresentou hepatomegalia, fígado hiperecogênico e mucocele. Realizou
colecistectomia. Duas semanas após a cirurgia, desenvolveu ascite biliar, também
diagnosticada ultrassonograficamente. Foi corrigida cirurgicamente com a inserção de
uma sonda uretral no ducto biliar para drenagem. Após três semanas de recuperação,
a sonda foi removida com sucesso, guiada ultrassonograficamente.

2.4.4. Bloqueio anestésico guiado por ultrassonografia em cães

O estudo da autora Wagatsuma (2013) visou padronizar o bloqueio peribulbar


guiado por ultrassonografia em cães. A primeira fase envolveu a utilização de cães
eutanasiados para mapear as estruturas orbitárias e oculares afetadas pela injeção
de azul de metileno. Na segunda fase, realizou-se uma comparação entre os
bloqueios convencionais e a técnica guiada por ultrassom em 15 cães saudáveis,
utilizando ropivacaína a 1%. Os resultados revelaram semelhanças nos bloqueios
sensitivo e motor, com intercorrências oftálmicas comparáveis, com exceção de uma
maior incidência de hemorragia conjuntival no método convencional. Conclui-se que
o bloqueio peribulbar guiado por ultrassom é aplicável em cães, oferecendo precisão
na deposição do anestésico e preservando as estruturas oculares.
12

3. Material e método

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre o tema


“Ultrassonografia Intervencionista em Cães e Gatos” utilizando as base de dados:
Google Scholar, ResearchGate, ScienceDirect, VetMed Resource, Wiley Online
Library, e periódicos: Archives of Veterinary Science, Agrarian Academy, Journal of
Small Animal Practice, Journal of the American Animal Hospital Association, PUBVET
(Publicações em medicina veterinária e zootecnia), Veterinary Clinics of North
America: Small Animal Practice, The Veterinary Journal, aplicando as palavras-chave:
ultrassonografia guiada, diagnóstico por imagem, pequenos animais, nos idiomas
inglês e português, reunindo e comparando os diferentes dados encontrados nas
fontes de consulta e listando os principais relacionados ao tema.
Referente ao período de coleta de dados, foram consideradas para a pesquisa
publicações realizadas no período de 2001 a 2021. A amostra inicial contou com uma
somatória de 35 artigos, e para a elaboração deste estudo foram selecionados 13
estudos, nas línguas portuguesa e inglesa. Complementarmente, obras literárias e
trabalhos acadêmicos e websites que tratavam de dados oficiais no Brasil e no exterior
também foram consultados.

4. Discussão

A ultrassonografia intervencionista é uma ferramenta extremamente valiosa na


medicina veterinária. Suas principais contribuições incluem o aumento da exatidão
diagnóstica, que possibilita, através das amostras coletadas, identificar doenças em
estágios iniciais e melhorar os prognósticos dos pacientes (ESPÍNDOLA, 2014).
Além disso, torna os procedimentos mais seguros, reduzindo os riscos
associados à cirurgia aberta e outros métodos invasivos, resultando em menos
complicações e recuperação mais tranquila.
O monitoramento em tempo real durante procedimentos oferece aos
veterinários a flexibilidade de fazer ajustes imediatos, assegurando uma abordagem
personalizada e precisa (STIEGER-VANEGAS, 2021).
Segundo Espíndola (2014), a ultrassonografia intervencionista é considerada
indispensável em diversas especialidades veterinárias devido à sua versatilidade e
ampla gama de aplicações clínicas.
13

Na rotina anestésico-cirúrgica a orientação por imagem pode ser altamente


benéfica durante a execução de bloqueios anestésicos locais (WAGATSUMA, 2013;
CREDIE, 2018).
A ultrassonografia intervencionista se destaca em termos de visualização direta
e orientação precisa, mas outras técnicas, como radiografia, tomografia
computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), também têm suas aplicações
específicas.
A radiografia é útil para visualizar estruturas ósseas e avaliar a presença de
gás ou líquidos no corpo. No entanto, não oferece a mesma capacidade de
visualização detalhada de órgãos internos que a ultrassonografia intervencionista.
A TC e a RM são excelentes para a visualização detalhada de tecidos moles e
órgãos internos, mas geralmente requerem anestesia e estão associadas a custos
mais elevados. Elas podem ser complementares à ultrassonografia intervencionista
em situações clínicas específicas.
Apesar de suas vantagens significativas, a ultrassonografia intervencionista
também apresenta desafios e considerações importantes.
Por exemplo, conforme afirmam por Vignoli e Saunders (2010), biópsias
realizadas com agulhas Trucut, exigem sedação ou anestesia, pois o diâmetro da
agulha, juntamente com a remoção de fragmentos, poderia causar muita dor ao
paciente.
A necessidade de sedação ou anestesia pode aumentar os riscos associados
ao procedimento, conforme apontado por Barcelos et al. (2021), tornando essencial
que a administração seja conduzida por profissionais experientes com protocolos de
segurança adequados.
Não estudos amplos sobre as complicações dos procedimentos realizado sob
orientação ultrassonográfica publicados (MANFRED et al., 2018).
A realização bem-sucedida das técnicas ultrassonográficas intervencionistas
exige um alto nível de treinamento e habilidade por parte dos veterinários
ultrassonografistas, que devem passar por formação especializada para adquirir as
competências necessárias.
Também é importante destacar que a aquisição e manutenção de
equipamentos de ultrassonografia intervencionista podem representar um
investimento substancial, tanto para clínicas veterinárias, quanto para profissionais
autônomos
14

5. Considerações finais

A ultrassonografia intervencionista em cães e gatos representa uma revolução


na medicina veterinária, proporcionando uma abordagem diagnóstica e terapêutica
mais precisa e com maior segurança com o passar dos anos e evolução dos aparelhos
de ultrassom.
Este artigo abordou a ultrassonografia intervencionista como uma técnica
diagnóstica valiosa na medicina veterinária. Foram discutidas suas aplicações
clínicas, benefícios diagnósticos e terapêuticos, bem como as considerações
essenciais envolvidas na realização desses procedimentos.
A técnica guiada por ultrassom permite que veterinários identifiquem doenças
e condições médicas em estágios iniciais, e possam intervir de forma mais eficaz e
proporcionar resultados melhores para os pacientes.
Além disso, a capacidade de orientar procedimentos terapêuticos em tempo
real minimiza riscos e complicações, resultando em recuperações mais rápidas e
menos desconforto para os animais de estimação.
No entanto, é importante reconhecer que o uso da ultrassonografia
intervencionista exige cuidadosa consideração ética e de bem-estar animal. A
avaliação criteriosa da aptidão do paciente ao procedimento necessário, a sedação e
anestesia adequadas, juntamente com um treinamento profissional sólido, são
essenciais para garantir que os procedimentos sejam realizados com segurança e
com o mínimo de desconforto para os pacientes.
À medida que a medicina veterinária continua a avançar, é evidente que a
ultrassonografia intervencionista desempenhará um papel central na melhoria dos
cuidados de saúde para cães e gatos. A pesquisa e o desenvolvimento contínuos têm
potencial para aprimorar ainda mais essa técnica, expandindo suas aplicações e
otimizando sua eficácia.
Concluiu-se que a compreensão e uso adequado dessa modalidade
ultrassonográfica, bem como a qualificação profissional para executá-la, são
essenciais para fornecer diagnósticos precisos e para promover a saúde e o bem-
estar de cães e gatos.
15

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