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A MENTE MODERNA E A RESSURREIÇÃO

INTRODUÇÃO

A morte e a ressurreição de Cristo foram o cumprimento de um propósito


definido. Os evangelhos sinópticos mostram que, a morte e a ressureição estavam
presentes nos discursos de Cristo desde a primeira fase do seu ministério (Mt 9:15; Mc
2:19,20). Ambas são parte de uma obra predita no AT, e partilhada pelos escritores do
NT (Sl 22; Hb 2:14).
Nos escritos do NT, a morte na cruz e a ressurreição são proclamadas juntas –
“Como se fossem o próprio coração do evangelho” 1 - demostrando que a obra que
Cristo veio fazer não se limitou ao sacrifício expiatório na cruz. Por mais central,
suficiente e completo que isso fosse, “[...] sem a ressureição não poderíamos ter a
certeza de que Cristo havia concluído vitoriosamente Sua divina missão sobre a terra” 2.
Por esta razão, os escritores do NT nos convidam a avançar para além da cruz, afim de
conhecer o significado e a importância teológica da ressureição (At 2:32; 4:10; Rm 4:24,
1Co 15:53).
Nos dias atuais, tem havido um desequilíbrio entre as crenças pascais da morte
na cruz e a ressureição de Cristo. Há uma ênfase na morte, e a crença da ressureição
física de jesus, tem sido pouco explorada – “em geral insuficientemente compreendida” 3
- e em alguns casos, rejeitada.

SIGNIFICADO E IMPORTÂNCIA TEOLÓGICA

Na teologia cristã, a ressureição tem um papel crucial. É uma crença definidora


do Cristianismo. “Esta é a doutrina que subverteu o mundo no primeiro século, que
ergueu o cristianismo acima do judaísmo e das religiões pagãs do mundo
mediterrâneo”4. Logo, o entusiasmo pela ressureição de Jesus não deve se limitar
apenas à uma vez por ano, na época da Páscoa. Em todos os dias deveríamos refletir
sobre o que aconteceu naquela manhã de domingo.
A crença da ressurreição assevera a divindade de Jesus, um poderoso ato
declaratório de que; Jesus é o filho de Deus (Rm 1:4), o Senhor e Cristo (At 2:29-36), o
Salvador (At 5:31), Glorificado (At 3:13), Juiz do mundo (At 10:42), Autor da vida (At
2:24), que venceu a morte (Ap 1:8,17, 18). “As palavras de Cristo “Eu sou a
ressurreição e a vida” só poderiam ser ditas “pela Divindade” 5. Além de, confirmar a
divindade de Jesus, a ressurreição também autenticou Suas próprias afirmações de
que Ele ressuscitaria no terceiro dia (Marcos 8:31; 9:31; 10:34), e legitimou o AT que,
contem profecias que prediziam o Seu sofrimento, morte e ressurreição.
A Ressurreição de Cristo é também a garantia da nossa ressurreição. Na
manhã de domingo não foi apenas cristo que ressuscitou. “... os túmulos se abriram, e
muitos corpos de santos já falecidos ressuscitaram; e, saindo dos túmulos depois da
ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos” (Mt 27:52-53).
Estes “formavam a multidão de cativos que ascendeu com Ele, como troféus de Sua
vitória sobre a morte e o sepulcro” 6, e confirmando a promessa da ressureição final dos
justos (1Ts 4:16). O apóstolo Paulo caracteriza a Cristo como “as primícias” dos que
dormem (1Co 15:20). Esta é uma alusão as festas das primícias (Lv 23:10-11), em que,
um molho da colheita – as primícias – eram apresentadas ao sacerdote e movidas
diante do Senhor, como promessa de uma grande colheita. “O molho das primícias da
colheita tipificava Cristo, as “primícias”, ou promessa, da grande colheita que se seguirá
quando todos os justos mortos forem ressuscitados na segunda vinda de Jesus (ver ICo
15:23; lTs 4:14-16)”7. Como uma relação de causa e efeito, Paulo declarou: “se cristo
não ressuscitou também nós não ressuscitaremos” (1Co 15:12-19). Tal garantia resulta
em um grande cântico de triunfo; “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó
morte, o teu aguilhão?” (1 Co 15:55). A ressureição de Jesus trouxe alegria para o ser
humano, alegria em vista da vida eterna.
Por causa da ressurreição, podemos ter a certeza de que Jesus voltará
pessoalmente para julgar, resgatar, e governar o mundo. Após quarenta dias
ressuscitado, Jesus foi assunto ao céu. No momento em que some entre as nuvens,
dois anjos aparecem e declaram; “Homens da Galiléia, por que vocês estão olhando
para as alturas? Esse Jesus que foi levado do meio de vocês para o céu virá do modo
como vocês o viram subir” (At 1:11). Assim como a ressureição e ascensão, a segunda
vida de cristo será literal e pessoal, e não como uma entidade meramente espiritual.
A ressurreição de Cristo tem um impacto na missão da igreja. Ela une cada
cristão ao poder vivificante de Deus, que está disponível para nos transformar, equipar
e capacitar para missão. O Cristo ressurreto, recebeu toda autoridade (Mt 28:18), e nos
comissionou a fazer discípulos, batizar (Mt 28:19), e por fim, prometeu que estará
conosco até o fim dos tempos (Mt 28:20). “Para os primeiros cristãos, a ressureição foi
o começo e não o fim da história, uma espécie de pedra angular da fé cristã” 8.
“Sabemos de vários outros movimentos judaico-messiânicos antigos deste período,
mas nenhum deles sobreviveu à morte de seu fundador”9. A ressurreição foi a razão
pela qual a proclamação do evangelho do Reino não morreu com o seu fundador. Sem
ela não teria havido igreja alguma. Assim, como o túmulo está vazio, e Jesus está no
santuário celestial, precisamos continuar proclamando que, Ele vive, e em breve
voltará. Essa foi a base da pregação dos apóstolos; (At 2:32; 1Jo 1:1-2).

A MENTE MODERNA E A RESSURREIÇÃO

Ao longo da história, céticos têm feito esforços para negar a ressurreição física
de Jesus. “Aos ouvidos modernos – sintonizados com a frequência do materialismo
ateísta – a afirmação de que Jesus ressuscitou dos mortos soa ridículo” 10 . Sem dúvida
a ressureição física de Jesus “é enfaticamente uma questão-tese da qual depende a
genuinidade ou a falsidade da religião cristã. Ela é o maior milagre ou o maior engano
registrado pela história”11.
A mensagem apostólica da ressurreição provocou escárnio por parte de uns (At
17:32), agressividade, e rejeição por parte de outros (At 4:2). Isso não mudou nos dias
atuais. Há, ainda, um grupo considerável que não acreditam. Tal perspectiva lhes
parece irracional, não palpável, não testificáveis, portanto, irreal. Como desdobramento
desse ceticismo, surgiram diversas teorias para tentar explicar a história da
ressurreição; quero destacar apenas três das mais comuns.
A Teoria do Desmaio. Acredita que, o choque gerado pela dor e perda de
sangue fez Jesus desmaiar de exaustão. Dessa forma, ao ser colocado no túmulo, Ele
ainda estava vivo. E, após várias horas, retornou à consciência. Existem algumas
razões que demostram que esta teoria é insustentável. Primeiro, Os envolvidos na
crucificação de Jesus – guardas romanos (Mt 27:62-66), Pilatos (Mc 15:42-45), e o
Sinédrio (Jo 19:31-37) - estavam todos satisfeitos e convencidos da sua morte.
Segundo, poderia alguém que passou pelas agonias, espancamentos e a crucificação
ter removido a pedra do túmulo? Lutado com os guardas do túmulo? e caminhado onze
quilômetros na estrada de Emaús? Terceiro, nas aparições de Cristo pós-crucificação,
seu corpo mostrava-se em um estado glorioso e vívido. Três dias não seriam o
suficiente para recuperar o seu estado físico.
Teoria da remoção ilegal do corpo. Alega que, os discípulos removeram o
corpo de jesus, e mentiram acerca da ressurreição. A presença dos soldados romanos,
o selo sobre a pedra que fechava o túmulo, tornou inviável a probabilidade de que
discípulos tímidos, assustados, e dispersos, roubassem o corpo. Além do mais, Jesus
ressurreto foi visto por mais de 500 testemunhas oculares (1Co 15:6), que viveram
numa época em que qualquer tentativa de enganar poderia ter sido facilmente
descoberta.
A Teoria da Ressurreição Espiritual. Os defensores desta teoria, afirmam que, a
ressurreição de Jesus foi apenas espiritual e não física. E que, o que os discípulos
viram durante 40 dias, foi apenas um espirito. No entanto, os evangelhos deixam claro
que, Jesus foi visto fisicamente (1Co 15:6; At 1:3), foi tocado (Jo 20:24-29), comeu (Lc
24:36-43), e caminhou (Mt 28:5-7). Ele mesmo declarou; “Vejam as minhas mãos e os
meus pés, que sou eu mesmo. Toquem em mim e vejam que é verdade, porque um
espírito não tem carne nem ossos, como vocês estão vendo que eu tenho” (Lc 24:39).
De acordo com Smith12 existem algumas evidências que fortalecem a afirmação
da ressureição física; 1) Os relatos estão próximos dos eventos. 2) Os relatos são
baseados em depoimentos de testemunhas oculares. 3) Os relatos incluem detalhes
embaraçosos – o que não configura característica de uma propaganda. 4) Os primeiros
cristãos estavam dispostos a morrer pela sua afirmação. “Como escreveu certa vez o
teólogo judeu Pinchas Lapide: “Se o grupo derrotado e deprimido de discípulos
pudesse, da noite para o dia, mudar para um movimento vitorioso de fé, baseado
apenas na auto-sugestão ou no auto-engano – sem uma experiência de fé fundamental
– então este seria um milagre muito maior do que a ressurreição em si”13.
CONCLUSÃO

‌ Não foi a igreja que, manteve viva a história da ressurreição; em vez disso, a
ressureição manteve viva a história da Igreja. A ponto de um pequeno grupo de
discípulos na Palestina Romana, se tornarem um movimento de bilhões de seguidores
espalhados por todo o mundo. Apesar do ceticismo atual, as evidências da ressurreição
de Jesus são notavelmente fortes. “A ressurreição de Jesus, portanto, continua a ser a
melhor explicação histórica para a razão pela qual o “movimento de Jesus” continuou
mesmo depois da sua crucificação”14.
1
Tratado de teologia: Adventista do Sétimo Dia. Ed. Raoul Dederen; tradução José Barbosa
da Silva. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011). p. 206
2
Nisto Cremos: As 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Org. Associação Ministerial da
Igreja Adventista do Sétimo Dia. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2018). p. 145
3
Tratado de teologia: Adventista do Sétimo Dia. Ed. Raoul Dederen; tradução José Barbosa
da Silva. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011). p. 206
4
Wilbur M. Smith. Twentieth-Century Scientists and the Resurrection of Christ. Christianity Today, 15 de Abril de
1957, p. 22
5
Fortin, Denis. Enciclopédia Ellen G. White. Editores: Wellington Barbosa… [et al.]. Tatuí, SP: Casa Publicadora
Brasileira, 2018. p. 1229
6
Ellen G. White. Cristo Triunfante p. 280
7
Nichol, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014. v. 6. p.884
8
Tratado de teologia: Adventista do Sétimo Dia. Ed. Raoul Dederen; tradução José Barbosa
da Silva. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011). p. 206.
9
Smith, Murray. History’s Biggest Hoax? The Question of the Resurrection. BIBLE & THEOLOGY. (tradução
nossa). https://au.thegospelcoalition.org/article/historys-biggest-hoax-the-question-of-the-resurrection/
10
Ibid.
11
Philop Schaff. History of the Christian Church (Grand Rapids: Eerdmans, 1962), v.1 p. 173
12
Smith, Murray. History’s Biggest Hoax? The Question of the Resurrection. BIBLE & THEOLOGY. (tradução
nossa). https://au.thegospelcoalition.org/article/historys-biggest-hoax-the-question-of-the-resurrection/
13
Lapide, Pinchas. The Resurrection of Jesus: a Jewish Perspective. Minneapolis: Augsburg, 1983, 126.
14
Smith, Murray. History’s Biggest Hoax? The Question of the Resurrection. BIBLE & THEOLOGY. (tradução
nossa). https://au.thegospelcoalition.org/article/historys-biggest-hoax-the-question-of-the-resurrection/

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