Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/354418739
CITATIONS READS
0 128
1 author:
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Luiz Henrique Hungria on 19 May 2023.
Com o objetivo de achar as leis que governam as várias mudanças que acontecem nos
corpos conforme o tempo passa, devemos ser capazes de descrever estas mudanças e ter
alguma maneira de registrá-las. A mudança mais simples que pode ser observada em um
corpo é a aparente mudança de posição com o tempo, que chamamos de movimento [1.2].
𝑠 = 𝑓(𝑡)
Notar que a trajetória seguida pelo corpo não é necessariamente retilínea. Observar,
ainda, que os deslocamentos de todos os pontos de um corpo, durante o movimento, são
iguais entre si. Assim, pode-se tratar um corpo como uma partícula, porque, descrevendo-
se o movimento de um dos seus pontos, estaremos descrevendo o movimento de todo o
corpo.
1.1.2 Velocidade:
Velocidade de um corpo é a razão segundo a qual sua posição varia com o tempo
[1.3].
Considerando um deslocamento infinitesimal e um intervalo de tempo também
infinitesimal e fazendo a razão entre eles, teremos a velocidade instantânea:
∆𝑠 𝑑𝑠
𝑣 = lim = 𝑑𝑡
∆𝑡→0 ∆𝑡
1
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧
𝑣𝑥 = ; 𝑣𝑦 = ; 𝑣𝑧 = (1.3)
𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡
Se os resultados de todas as equações (1.3) forem uma constante, o corpo estará sob
a lei da inércia, permanecendo em velocidade constante se não for perturbado por alguma
força.
𝑑𝑠
|𝑣| = = √𝑣𝑥2 + 𝑣𝑦2 + 𝑣𝑧2 (1.4)
𝑑𝑡
1.1.3 Aceleração:
Aceleração de um corpo é a razão segundo a qual sua velocidade varia com o tempo
[1.3].
𝑑𝑣
|𝑎| = = √𝑎𝑥2 + 𝑎𝑦2 + 𝑎𝑧2 (1.6)
𝑑𝑡
𝑣²
𝑎= (1.7)
𝑅
1.1.4 Força:
𝑑𝑠
𝑝=𝑚 =𝑚∙𝑣 (1.8)
𝑑𝑡
Esta equação quer nos dizer o seguinte: Quanto mais massivo for um corpo mais
difícil é modificar sua velocidade para uma mesma quantidade de movimento.
2
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝑑𝑝 𝑑𝒗 𝑑²𝑠
F = 𝑑𝑡 = 𝑚 𝑑𝑡 = 𝑚 𝑑𝑡² = 𝑚 ∙ 𝑎 (1.9)
𝑑²𝑥 𝑑𝑣𝑥
𝐹𝑥 = 𝑚 𝑑𝑡² = 𝑚 = 𝑚𝑎𝑥
𝑑𝑡
𝑑²𝑦 𝑑𝑣𝑦
𝐹𝑦 = 𝑚 𝑑𝑡² = 𝑚 = 𝑚𝑎𝑦 (1.10)
𝑑𝑡
𝑑²𝑧 𝑑𝑣𝑧
𝐹𝑧 = 𝑚 𝑑𝑡² = 𝑚 = 𝑚𝑎𝑧
𝑑𝑡
𝑑𝑣
|𝐹| = 𝑚 = √𝐹𝑥2 + 𝐹𝑦2 + 𝐹𝑧2 (1.11)
𝑑𝑡
A figura 1.1 mostra os efeitos gerados a partir de cada componente da força total.
Figura 1.1: Componentes da força total nos três eixos do sistema cartesiano.
A conclusão a que queremos chegar é que forças surgem quando temos problemas de
manutenção em via permanente, no material rodante e em condução do trem, por falta de
cumprimento dos procedimentos operacionais específicos.
Considerando que a massa de um trem de carga (Mt) é muito elevada, o surgimento
de uma pequena variação de velocidade, irá gerar uma aceleração, que, multiplicada por
esta massa, irá criar uma força de elevada magnitude.
Esta força será aplicada no centro de massa do material rodante criando um momento
tombante e aumentando, em consequência, a tendência ao descarrilamento do trem.
3
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
⃗⃗
𝑑𝑣
Referencial de inércia: 𝑣⃗ = 𝑐𝑡𝑒 => 𝑎⃗ = =0
𝑑𝑡
𝑑𝑣
Referencial acelerado: frenagem 𝑎= <0
𝑑𝑡
𝑑𝑣
arrancada 𝑎= >0
𝑑𝑡
𝑣²
curva 𝑎⃗ = −𝑤 2 𝑟 𝑒⃗𝑟 = − 𝑒⃗𝑟
𝑟
Seja agora (A) um referencial acelerado que se move com aceleração 𝑎⃗𝐴/𝐼
relativamente a um referencial (I) que é de inércia. E ainda, se um corpo se desloca
relativamente a (A) com aceleração 𝑎⃗𝐴 , então, relativamente ao referencial (I), a
aceleração 𝑎⃗𝐼 do mesmo corpo é, por soma vetorial:
Temos que juntar às forças físicas (reais) as forças fictícias (de inércia):
4
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝐹⃗𝑓𝑖𝑐𝑡 = − 𝑚𝑎⃗𝐴/𝐼
Exemplo 1.1 [1.5]: Um TGV (Train à Grande Vitesse é um trem que atinge velocidades
da ordem dos 350 km/h) depara-se, de repente, com um trem Alfa deslocando-se a 150
km/h, no mesmo sentido, o que o obriga a fazer uma frenagem durante 30 segundos, até
igualar sua velocidade à do Alfa (condição para não colidir). Qual é a força de inércia
sentida por um passageiro de peso médio m = 80 kg?
1. Cálculo da desaceleração:
2. Força de inércia:
𝑚 𝑘𝑔𝑓
𝐹𝐼 = 𝑚𝑎𝑡 = 80 ∙ 1,85 (𝑘𝑔 ∙ 𝑠2 ) = 148 𝑁 (9,81 𝑁) = 15 𝑘𝑔𝑓
Figura 1.2: Acelerômetro (a) velocidade constante (b) referencial inercial S (c) referencial
acelerado S’.
5
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
⃗⃗ + 𝑚𝑔⃗ = 𝑚𝐴⃗
Em S: 𝑇
Em S’: o pêndulo está em equilíbrio sob ação do peso mg, da tensão do fio T e da força
de inércia –mA:
⃗⃗ + 𝑚𝑔⃗ − 𝑚𝐴⃗ = 0
𝑇 (1.12)
Dado que produzem os mesmos efeitos, qual é, em última análise, a diferença entre
forças de inércia (fictícias) e forças físicas (reais)?
A única diferença fundamental é que as forças de inércia não resultam da interação
com outros sistemas físicos, ao contrário das forças físicas. Em particular, não obedecem
ao princípio da ação e reação: não há reação a uma força de inércia. Notar que as forças
de inércia sobre um corpo são sempre proporcionais à massa inercial do corpo, e podem
ser inteiramente explicadas pela aceleração do referencial em que aparecem, com respeito
a um referencial inercial 𝑎𝐴/𝐼 .
Exemplo 1.2: Calcular o ângulo θ que o pêndulo faria e sua direção para as seguintes
situações:
a) Trem sendo acelerado a 0,065 m/s² (eixo x).
b) Trem sendo freado a 0,23 m/s² (eixo x).
c) Trem entrando em curva sob uma aceleração centrífuga de 0,497 m/s² (eixo y).
𝐴
Resposta: 𝜃 = 𝑎𝑟𝑐 𝑡𝑔 9,81
6
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝑅𝑇 = (𝑅𝑛𝐿 + 𝑅𝑐𝐿 + 𝑅𝑔𝐿 ) + (𝑅𝑛𝑣𝑐 + 𝑅𝑐𝑣𝑐 + 𝑅𝑔𝑣𝑐 ) + (𝑅𝑛𝑣𝑣 + 𝑅𝑐𝑣𝑣 + 𝑅𝑔𝑣𝑣 ) (kgf) (1.14)
Resistências são forças contrárias ao movimento do trem e são dadas em “kgf”. Mas
é preferível trabalhar com resistências unitárias que são dadas em “kgf/t”. Esta unidade é
força dividida por massa (F/m) e, portanto, uma unidade de aceleração.
Cada massa Mi é dada pela massa unitária do veículo ferroviário multiplicada pelo
número de veículos semelhantes:
𝑀𝑖 = 𝑛𝑖 ∙ 𝑃𝑖 (t) (1.16)
Sendo Pi o peso médio unitário do veículo ferroviário. Substituindo (1.16) em (1.15):
𝑅𝑇 = 𝑛𝐿 ∙ 𝑃𝐿 ∙ (𝑅𝑛′ + 𝑅𝑐′ + 𝑅𝑔′ )𝐿 + 𝑛𝑣𝑐 ∙ 𝑃𝑣𝑐 ∙ (𝑅𝑛′ + 𝑅𝑐′ + 𝑅𝑔′ )𝑣𝑐 + 𝑛𝑣𝑣 ∙ 𝑃𝑣𝑣 ∙ (𝑅𝑛′ + 𝑅𝑐′ + 𝑅𝑔′ )𝑣𝑣 (1.18)
Locomotivas Vagões carregados Vagões vazios
7
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Sendo:
Como queremos obter as resistências normais em kgf/t e entrar com peso em tonelada,
velocidade em km/h e área em metros quadrados, teremos de ajustar os coeficientes
numéricos das fórmulas (1.19) e (1.20) para valores que permitam entrar com as unidades
desejadas e obter o valor em kgf/t.
Cada parcela das equações (1.19) e (1.20) serão denominadas da seguinte forma:
𝑙𝑏𝑓
𝑃1 = 1,3 (𝑡𝑜𝑛)
𝑃2 = 29 (𝑙𝑏𝑓)
𝑙𝑏𝑓 𝑙𝑏𝑓
𝑃𝐿3 = 0,03 𝑉 (𝑡𝑜𝑛) 𝑒 𝑃𝑣3 = 0,045 𝑉 (𝑡𝑜𝑛)
𝑃 𝑃𝑖 4
𝑅𝑛′ 𝑖 = 𝑃1 + 𝑃2 + 𝑃𝑖3 + sendo i = L, v
𝑒 𝑃𝐵
Ajuste:
𝑙𝑏𝑓 0,4536 𝑘𝑔𝑓 1,1 𝑡𝑜𝑛 𝑘𝑔𝑓
𝑃1 = 1,3 ∙ ∙ ≅ 0,65
𝑡𝑜𝑛 𝑙𝑏𝑓 𝑡 𝑡
0,4536 𝑘𝑔𝑓
𝑃2 = 29 𝑙𝑏𝑓 ∙ ≅ 13,16 𝑘𝑔𝑓
𝑙𝑏𝑓
8
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝑘𝑚 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎𝑠 𝑘𝑔𝑓
𝑃𝐿3 = 0,015 𝑉 ∙ ≅ 0,00938 𝑉 [ ]
ℎ 1,6 𝑘𝑚 𝑡
1 𝑘𝑔𝑓
𝑃𝑣3 = 0,045 𝑉 ∙ 0,4536 ∙ 1,1 ∙ 1,6 ≅ 0,013995 𝑉 [ ]
𝑡
𝑘𝑔𝑓
𝑃𝐿4 = 0,0024 𝐴𝑉 2 𝑙𝑏𝑓 ∙ 0,4536 ≅ 0,001088 𝐴𝑉² [𝑘𝑔𝑓]
𝑙𝑏𝑓
Porém, “A” está em ft² e “V” em milhas/h e queremos entrar com m² e km/h:
𝑘𝑚 2 𝑓𝑡 2 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎𝑠2
𝑃𝐿4 = 0,001088 𝐴𝑉 2 𝑚2 ∙ ( ) ∙ (0,3048 𝑚)2
∙ (1,60934 𝑘𝑚)2
≅ 0,00452 𝐴𝑉 2 [𝑘𝑔𝑓]
ℎ
1 1
𝑃𝑣4 = 0,0005 𝐴𝑉 2 ∙ 0,4536 ∙ 0,0929 ∙ 2,59 ≅ 0,000943 𝐴𝑉 2 [𝑘𝑔𝑓]
Assim, as fórmulas que usaremos para o cálculo das resistências unitárias normais ao
movimento serão:
Locomotiva:
Vagão:
Sendo:
9
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
500 ∙ 𝐵𝑣
Para vagões: 𝑅𝑐′ = (kgf/t) (1.26)
𝑅
Sendo:
br: base rígida do truque da locomotiva (m).
Bv: bitola da via permanente de centro a centro do boleto do trilho (m).
R: raio de curvatura (m).
No sistema métrico, as curvas são designadas em grau 20 por se referir a uma corda
de 20 m ou pelo raio de curvatura da via, em metros. Um grau 20 é equivalente a um raio
de 1.146 m [1.8]. Ver tabela 1.3. A resistência unitária de 1° é 0,6 kgf/t.
360 ∙ 𝑙 (360°) ∙ 20
Grau 20 => corda de l = 20 m => 𝑅 = = = 1.146 𝑚
2𝜋𝛼 2𝜋(1°)
10
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Na área de atuação da AAR, 1° (um grau) equivale a uma curva de 5.728 ft de raio
(1.746 m). Ver tabela 1.4. A resistência unitária de 1° é 0,8 lb/ton, para uma bitola de
1,435 m [1.8].
360 ∙ 𝑙 (360°) ∙ 30,48
Corda de l = 100 ft = 30,48 m => 𝑅 = = = 1. 746 𝑚
2𝜋𝛼 2𝜋(1°)
a) Equação (1.26):
500 ∙ 𝐵𝑣 500 ∙ 1,435 𝒌𝒈𝒇
𝑅𝑐′ = = = 𝟐, 𝟓
𝑅 286 𝒕
b) Grau 20:
1.146 1.146 𝑘𝑔𝑓 𝒌𝒈𝒇
𝛼= 𝑅
= 286
= 4° => 𝑅𝑐′ = 0,6 𝑡 ∙𝑔𝑟𝑎𝑢
∙ 4° = 𝟐, 𝟒 𝒕
11
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
c) Sistema americano:
1.746 1.746 𝑙𝑏
𝛼= = = 6,1° => 𝑅𝑐′ = 0,8 ∙ 6,1° = 4,9 𝑙𝑏/𝑡𝑜𝑛
𝑅 286 𝑡𝑜𝑛 ∙𝑔𝑟𝑎𝑢
d) Conclusão:
Todos os resultados são semelhantes (2,5 ≈ 2,4 ≈ 2,43 kgf/t), razão pela qual iremos
usar as equações (1.25) e (1.26) para o cálculo da resistência de curva.
Exemplo 1.4: Calcular as resistências de Davis, de curva e de rampa para uma locomotiva
e um vagão, segundo os dados abaixo, primeiro utilizando as equações que dão em lb/ton
e convertendo as unidades para kgf/t e depois, utilizando as equações que dão em kgf/t e
comparar os resultados.
Dados:
73
Peso da locomotiva: PL = 73 t => 𝑃𝑒 = = 18,25 𝑡.
4
Área frontal da locomotiva: AL = 10,6 m².
Base rígida do truque: br = 2,44 m.
76
Peso do vagão: Pv = 76 t => 𝑃𝑒 = = 19 𝑡.
4
Área frontal do vagão: Av = 10 m².
Número de eixos (locomotiva e vagão): 4.
Bitola da via: Bv = 1,065 m.
Raio de curvatura: R = 250 m.
Rampa máxima: i = 3,1 %.
Velocidade do trem: V = 22 km/h.
22 𝑘𝑚 𝑚𝑖
𝑉 = 1,60934 ( ℎ
∙ 𝑘𝑚) = 13,7 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎𝑠/ℎ
10,6 𝑓𝑡²
𝐴𝐿 = (𝑚² ∙ 𝑚² ) = 114,1 𝑓𝑡²
0,3048²
a.1) Davis:
29 0,0024 𝐴𝑉² 𝑙𝑏
𝑅𝐷′ 𝐿 = 1,3 + + 0,03 𝑉 + (𝑡𝑜𝑛)
𝑃𝑒 𝑃𝐿
12
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
a.2) Rampa:
a.3) Curva:
1.746 𝑙𝑏
∝= = 6,98° ∴ 𝑅𝑐′ = 0,8 ∙ 6,98 = 5,59
250 𝑡𝑜𝑛
𝑘𝑔𝑓
𝑅𝑐′ = 5,59 ∙ 0,49896 = 2,79 𝑡
22 𝑘𝑚 𝑚𝑖
𝑉 = 1,60934 ( ∙ 𝑘𝑚) = 13,7 𝑚𝑖𝑙ℎ𝑎𝑠/ℎ
ℎ
10 𝑓𝑡²
𝐴𝑣 = (𝑚² ∙ 𝑚² ) = 107,6 𝑓𝑡²
0,3048²
b.1) Davis:
29 0,0005 𝐴𝑉² 𝑙𝑏
𝑅𝐷′ 𝑣 = 1,3 + + 0,045 𝑉 + (𝑡𝑜𝑛)
𝑃𝑒 𝑃𝑣
b.2) Rampa:
b.3) Curva:
1.746 𝑙𝑏
∝= = 6,98° ∴ 𝑅𝑐′ = 0,8 ∙ 6,98 = 5,59
250 𝑡𝑜𝑛
𝑘𝑔𝑓
𝑅𝑐′ = 5,59 ∙ 0,49896 = 2,79 𝑡
c.1) Davis:
13,16 0,00452 𝐴𝑉² 𝑘𝑔𝑓
𝑅𝐷′ 𝐿 = 0,65 + + 0,00938 𝑉 + ( )
𝑃𝑒 𝑃𝐿 𝑡
13
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝑘𝑔𝑓
𝑅𝑔′ = 10 ∙ 3,1 = 31 𝑡
(2,44+1,065+3,8)∙100 𝑘𝑔𝑓
𝑅𝑐′ = 0,2 + = 3,12
250 𝑡
d.1) Davis:
13,16 0,000943 𝐴𝑉² 𝑘𝑔𝑓
𝑅𝐷′ 𝑣 = 0,65 + + 0,013995 𝑉 + ( )
𝑃𝑒 𝑃𝑣 𝑡
𝑘𝑔𝑓
𝑅𝑔′ = 10 ∙ 3,1 = 31 𝑡
e) Comparação:
Tabela 1.6: Valores das resistências unitárias obtidas por unidades diferentes.
Os valores das resistências não diferem muito. Apenas as resistências de curva
apresentam uma diferença apreciável porque adotamos fórmulas diferentes, procurando
14
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Se o trilho estiver com sua superfície seca, o coeficiente de atrito será de 0,33,
portanto, bem superior à aderência de uma locomotiva CC que é de apenas 0,21.
As locomotivas modernas possuem motores de tração em corrente alternada e podem
atingir níveis elevados de aderência, bem acima de 0,33. Para se conseguir níveis
superiores ao coeficiente de atrito roda/trilho, deve-se:
15
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
A aderência varia com a velocidade [1.7]. Quanto maior for a velocidade, menor será
a aderência e menor o esforço trator necessário, o que está de acordo com a potência da
locomotiva: 𝑃 = 𝐸𝑡 (↓) ∙ 𝑉(↑) = 𝑐𝑡𝑒. Portanto, é na arrancada do trem ou em baixas
velocidades, que aparecem problemas relativos à patinação de rodas em virtude da alta
exigência de aderência, neste momento.
𝑓
𝑜
𝑓(𝑉) = (1 + 0,01∙𝑉) (1.27)
Sendo:
fo: aderência inicial (V = 0).
f (V): aderência na velocidade do trem.
V: velocidade em km/h.
𝐸
𝑓𝑜 = 𝑃𝑡 (1.28)
𝐿
Sendo:
fo: aderência inicial.
Et: esforço trator (kgf).
PL: peso bruto da locomotiva em kgf.
16
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
A equação (1.28) pode também ser interpretada como a relação entre força (N) e
massa (kg = numericamente igual a kgf), e assim, a aderência pode ser considerada como
sendo uma aceleração (m/s²), a máxima que ainda garante o movimento sem patinar.
Pelo gráfico 1.1, podemos verificar que, a partir de velocidades superiores a 20 km/h,
a aderência fica abaixo do coeficiente de atrito roda/trilho não trazendo maiores
problemas de contato roda/trilho. Porém, abaixo de 20 km/h e, principalmente na
arrancada, é fundamental a adição de areia para a obtenção da aderência necessária para
transmissão do torque gerado pelos motores de tração sobre os rodeiros.
Tabela 1.9: Aderência em função da velocidade, tendo cada coluna um determinado fo.
17
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Rc vi = 0 v f > vi
RD
Fi FT
Figura 1.3: Trem em nível, parado (i), partindo até atingir vf (f).
É importante observar que o esforço trator a ser usado para movimentar o trem deverá
atender à condição de aderência:
Figura 1.4: Trilho desgastado pela patinação das rodas da locomotiva. As rodas giram,
mas não rolam, por falta de aderência no contato roda/trilho.
No gráfico 1.2 podemos ver quatro retas que mostram a aderência variando com a
velocidade. A reta superior é quando se obtém o máximo de aderência para esta
locomotiva. O trilho deve estar seco e recebido areia para aumento da aderência. Com
isto, é possível se obter o máximo de esforço trator desenvolvido pela locomotiva, pois a
curva do esforço trator está abaixo da reta superior.
Se o trilho estiver levemente contaminado (leve garoa e sujeira sobre o trilho), entre
0 a 20 km/h, a locomotiva não conseguiria desenvolver todo o seu esforço trator. Teria de
jogar areia sobre o trilho para recuperar parte da aderência necessária.
Contaminado (0,13)
Gráfico 1.2: Aderência (%) versus velocidade (km/h). A curva é a aderência necessária
para uma locomotiva desenvolver todo o seu esforço trator. As retas são os coeficientes
de atrito do contato roda/trilho (μrt).
Gráfico 1.3: Curva do esforço trator (kgf) versus velocidade (km/h) [1.9].
19
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
O esforço trator é a força necessária para tracionar um trem que tem resistência ao
movimento dada pela equação (1.18).
Na figura 1.5 vemos estes dados retirados do manual da locomotiva Dash 9 BB (bitola
métrica).
)
Figura 1.5: Exemplo de dados do esforço trator tirados do manual da locomotiva [1.9].
Exemplo 1.5: Considerando que a locomotiva Dash 9 BB tem 168 t, calcular a aderência
necessária para se conseguir o esforço trator contínuo e o de partida.
1.3.4 Potência:
20
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Uma locomotiva é especificada pela potência que é gerada em seu sistema propulsor
diesel-elétrico.
𝑃 =𝐹∙𝑣 (1.30)
Quando o trem estiver em oitavo ponto, não deverá trafegar abaixo da velocidade
mínima contínua, pois o esforço trator aumentará, exigindo que os motores de tração
operem em uma intensidade de corrente elétrica superior à máxima projetada. Se ficar
muito tempo neste regime poderá haver falha nos motores de tração, devido ao
superaquecimento a que ficará exposto.
Precisamos adequar a equação (1.31) às unidades usuais. A potência é dada em “HP”,
o esforço trator em “kgf” e velocidade em “km/h”:
𝑚
𝑘𝑚 9,81 𝑁 𝑠 𝐻𝑃 𝐸𝑡 ∙ 𝑉
𝑃𝑢 = 𝐸𝑡 (𝑘𝑔𝑓) ∙ 𝑉 ( )∙ ∙ 𝑘𝑚 ∙ 746 𝑊 = (𝐻𝑃) (1.32)
ℎ 𝑘𝑔𝑓 3,6 274
ℎ
A equação (1.32) dá a potência útil. Para obter a potência bruta (PT), deve-se dividir
pelo rendimento do sistema (η):
𝑃𝑢 𝐸𝑡 ∙ 𝑉
𝑃𝑇 = = (HP) (1.33)
𝜂 274 ∙ 𝜂
Exemplo 1.6: Calcular o esforço trator contínuo de uma locomotiva com as seguintes
características:
Potência bruta: 3.000 HP.
Velocidade mínima contínua: 15,28 km/h.
Rendimento do sistema: 77,2 % = 0,772.
Peso da locomotiva: 172 t = 172.000 kgf.
Se o coeficiente de atrito entre roda e trilho for de 0,21, a locomotiva conseguirá avançar?
b) Cálculo da aderência:
41.549
De (1.28): 𝑓 = 172.000 = 0,24 > 0,21
21
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Sendo:
Ff′ : força de frenagem de um vagão (lbf).
Fc: força do cilindro de freio (lbf).
Ra: relação de alavancas da timoneria.
e: eficiência da timoneria (0,65).
pc: pressão no cilindro de freio (psi).
Ac: área do cilindro de freio (in²).
O coeficiente de atrito da sapata (μ) é uma função da velocidade. Pode ser dado pela
tabela 1.10 ou pelo gráfico 1.4:
Roda
Sapata
𝜇 = −𝑎 ∙ 𝑙𝑛 𝑉𝑖 + 𝑏 (1.37)
Sendo:
“a” e “b”: valores obtidos da tabela 1.11.
Vi: velocidade do trem (início do intervalo) em km/h.
22
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝜇 = −0,052 ln 𝑉 + 0,5111
Para 0 ≤ V ≤ 60 km/h
Quando o trem estiver descendo uma serra com inclinação superior a 2% e a operação
se fizer por meio de aplicações e alívios de freio pneumático durante toda a descida,
haverá necessidade de se manter um “resíduo” de ar no interior do cilindro, a fim de
manter “armado” o freio o tempo todo. Por “armado” queremos dizer que as sapatas
ficarão encostadas sobre as rodas, mas sem exercer força. Para esta situação usaremos a
seguinte fórmula:
23
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Para uma pressão do EG de 110 psi, a pressão de equilíbrio é de 84,87 psi. Como se
pode notar, a pressão do cilindro de freio quando se aplica 13 psi corresponde a 50% da
pressão máxima que o cilindro pode ter.
A lotação do trem (massa de vagões) é calculada para que o maquinista só precise
aplicar, no máximo, 13 psi. O restante vem do freio dinâmico. Se o maquinista precisar
de mais do que 13 psi é porque existe alguma anormalidade no trem.
Da equação (1.35) podemos verificar que a força de frenagem é dada pela força do
cilindro multiplicada pela relação de alavancas, além da eficiência da timoneria devido
às perdas por atrito entre os pinos e buchas da timoneria.
Na tabela 1.12 vemos os valores mais comuns para a relação de alavancas dos vagões
da bitola métrica, em função da manga de eixo.
Tabela 1.12: Relação de alavancas mais típicas dos vagões da bitola métrica.
Na tabela 1.13 vemos os valores mais comuns para a relação de alavancas dos vagões
da bitola larga, em função da manga de eixo. Dada a necessidade de alta taxa de frenagem
para a descida de serra, a relação de alavancas dos vagões manga T foram sendo elevadas.
Tabela 1.13: Relação de alavancas mais típicas dos vagões da bitola larga.
Para evitar deslize de roda, a demanda de aderência deve ser inferior ao coeficiente de atrito
roda/trilho.
24
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
O ideal é que a demanda fique, pelo menos, entre os dois valores acima. Considerando uma
locomotiva com 120 tf de peso bruto e uma força do freio independente de 13.200 kgf, teremos:
𝐹𝑟 ∙ 100 13.200 𝑘𝑔𝑓 ∙ 100
𝐷𝑎 = = = 𝟏𝟏 %
𝑃𝐿 120.000 𝑘𝑔𝑓
As tabelas 1.14 e 1.15 dão, aproximadamente, os valores para a força do freio independente das
locomotivas da bitola métrica e larga. Consideramos uma demanda de aderência de 11 % para as
locomotivas CC e 15 % para as CA.
25
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Gráfico 1.5: Força do freio dinâmico versus velocidade de locomotiva de corrente contínua.
O trem em alta velocidade dispõe de baixa força no freio dinâmico. À medida que a
velocidade vai sendo reduzida, a força do freio dinâmico vai aumentando, até um máximo e
depois volta a cair novamente até zero.
O trem deve descer rampas acentuadas na velocidade onde se obtém o máximo da força
do freio dinâmico.
A força do freio dinâmico de uma locomotiva de corrente alternada é muito elevada desde
0 km/h até determinada velocidade. Acima desta velocidade, a força começa a cair. Ver
gráfico 1.6.
Exemplo 1.7: Escrever as equações a serem utilizadas no cálculo da força do freio dinâmico
de uma AC 44 em toda a faixa de velocidade:
26
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Deve-se obter as equações para a força do freio dinâmico a partir do gráfico fornecido
pelo fabricante para cada locomotiva.
Tabela 1.16: Parâmetros para o cálculo da força do freio dinâmico de locomotivas da bitola
larga. Ponto 8.
A locomotiva G22-1 sofreu uma alteração no freio dinâmico passando a ter os seguintes
parâmetros:
𝑘𝑚
𝑉𝐷 = 22 ; 𝑎 = 602 ; 𝑏 = 291.543
ℎ
27
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Tabela 1.17: Parâmetros para o cálculo da força do freio dinâmico de locomotivas da bitola
métrica. Ponto 8.
a) Condição Fc = Py
𝑚𝑣² ℎ 𝐵𝑣 ∙ 𝑣²
= 𝑚𝑔 ∴ ℎ= (1.40)
𝑅 𝐵𝑣 𝑔∙𝑅
Isolando a velocidade:
𝑅∙𝑔∙ℎ 𝑉 2 9,81 ∙ 𝑅 ∙ ℎ
𝑣² = ∴ (3,6) =
𝐵𝑣 𝐵𝑣
Sendo a velocidade dada em “km/h” e o raio em “m”, desde que h e Bv tenham a mesma
unidade:
ℎ
𝑉 = √127 ∙ 𝑅 ∙ 𝐵 (1.41)
𝑣
b) Condição Fc > Py
Fazendo a diferença a fim de obter a resultante:
𝐹𝑖 = 𝐹𝑐 − 𝑃𝑦
𝑃 ∙ 𝑉2 𝑃∙ℎ
𝐹𝑖 = − (1.42)
127 ∙ 𝑅 𝐵𝑣
28
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
𝑃 (𝐻+ℎ)
𝐴 = − 𝐹𝑖 ∙
2 𝐵𝑣
𝑃 𝐻
𝐵 = + 𝐹𝑖 ∙
2 𝐵𝑣
Isolando “V”:
ℎ 𝑣𝐷𝐵
𝑉𝑚á𝑥 = √127𝑅 [ + (2𝐻+ℎ)] (1.46)
𝐵𝑣
c) Condição Fc < Py
𝐷 ∙ 𝑃 ∙ 𝐵𝑣 𝑃∙ℎ 𝑃 ∙ 𝑉2
= −
(2𝐻 + ℎ) 𝐵𝑣 127 ∙ 𝑅
Isolando “V”:
𝑣 ℎ 𝐷𝐵
𝑉𝑚í𝑛 = √127𝑅 [𝐵 − (2𝐻+ℎ)] (1.47)
𝑣
Para esta condição a equação (1.47) dá o valor para a velocidade mínima permitida
em função do raio de curva, da superelevação, da altura do CG do vagão para um dado
limite de desbalanceamento.
Exemplo 1.8: Calcular a velocidade máxima e mínima para um trem com os seguintes
dados:
29
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Via:
Trem:
Velocidade: V = 19 km/h
Vagão:
Solução:
𝑃∙ℎ 80.000 ∙ 75
- Componente transversal: 𝑃𝑦 = = = 5.633 𝑘𝑔𝑓
𝐵𝑣 1.065
𝑘𝑚
𝑉𝑚á𝑥 = √16.510 ∙ (0,0704 + 0,0485) = 44,3 ℎ
𝑘𝑚
𝑉𝑚í𝑛 = √16.510 ∙ (0,0704 − 0,0485) = 19 ℎ
e) Conclusão:
O trem estava na velocidade mínima da faixa que poderia estar. Pode-se afirmar que o
vetor do peso bruto está exatamente no limite do terço médio da bitola.
30
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
0,075
De (1.41): 𝑉 = √127 ∙ 130 ∙ 1,065 = 34 𝑘𝑚/ℎ
𝑘𝑚 𝑘𝑚
21,3 < 𝑉𝑡 < 43,2 sendo que a velocidade ideal é de: 34 km/h
ℎ ℎ
“No caso (a) é o leito da estrada que serve como corpo de referência [K], no caso (b)
o corpo de referência é o carro [K’]. Quando se trata apenas de constatar ou descrever o
movimento, em princípio é indiferente a que corpo de referência o movimento está
relacionado”.
“Primeiramente, partimos da suposição de que existe um corpo de referência [K] em
um estado de movimento tal que, em relação a ele, é válido o princípio fundamental de
Galileu (inércia)”.
“Mas, além de [K], também devem ser privilegiados neste sentido todos aqueles
corpos de referência [K’] que, em relação a [K], executam um movimento retilíneo,
uniforme e isento de rotação, os quais, no tocante à formulação das leis da natureza, são
perfeitamente equivalentes a [K]”.
31
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Bibiliografia:
[1.1] Segurança Operacional de Trens de Carga, Luiz H. Hungria, 2017.
[1.2] Lições de Física – Volume 1, Richard P. Feynman, 1963.
[1.3] Física I-1, Resnick–Halliday, 1978.
[1.4] Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, Sir Isaac Newton, 1687.
[1.5] Introdução à Física, Jorge Dias de Deus e demais autores, 2000, IST.
[1.6] Curso de Física Básica 1, Mecânica, H. Moysés Nussenzveig, 2007.
[1.7] Estradas de Ferro 2, Helvécio Lapertosa Brina, 1983.
[1.8] Teoria da Tração e da Frenagem, Leopoldo C. Roza, Tratado de Estradas de Ferro
Material Rodante, 2000.
[1.9] Manuais de Operação de Locomotivas GE.
[1.10] A Teoria da Relatividade Especial e Geral, Albert Einstein, 2003.
Simbologia:
A, a: aceleração (m/s²; kgf/t)
A: área frontal do veículo (m²; ft²)
A: reação sobre o apoio A (kgf)
Ac: área do pistão do cilindro de freio (in²)
B: reação sobre o apoio B (kgf)
br: bitola rígida do truque (m)
Bv: bitola da via entre centros dos boletos (m)
D: desbalanceamento de carga
Da: demanda de aderência (%)
e: eficiência da timoneria de freio
er: vetor unitário no sentido radial
f: aderência
32
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
Subscritos e sobrescritos:
(‘): unitário
A: referencial acelerado
B: bruto
c: curva
D: Davis
e: eixo
33
Capítulo 1 Conceitos Básicos Hungria
f: final
fict: fictícia
I, in: referencial inercial
i: inicial
i: índice (L, vv, vc, v)
L: locomotiva
t: tangencial
T,t: trem
vc: vagão carregado
vV: vagão vazio
x, y ,z: relativo aos eixos do sistema cartesiano
Letras gregas:
Δ: variação
ϴ: ângulo entre o fio e a vertical
μrt: coeficiente de atrito entre roda e trilho
η: rendimento do motor
μ, μs: coeficiente de atrito da sapata de freio
Revisão: 18/05/2023
34