Desafios do seguro rural: notas sobre obstáculos a
superar e soluções possíveis
Mesmo em anos de colheitas excepcionais, o cenário do
agronegócio brasileiro tem sido marcado por uma série de adversidades que impactam diretamente a estabilidade financeira dos produtores. O seguro rural emerge como uma ferramenta crucial para atenuar os desdobramentos da diminuição abrupta de renda, favorecendo o equilíbrio e a sustentação das atividades. Faz-se útil discutir os desafios enfrentados pelo setor, e também providências para promover uma adoção mais efetiva do seguro rural, especialmente entre os pequenos produtores.
Ao longo deste século, o agronegócio brasileiro enfrentou notáveis
adversidades. Em 2001, geadas no Sul e Sudeste prejudicaram a cultura de milho; em 2003 houve aumento abrupto dos preços da ração de aves e suínos.
Em 2004, 2007 e 2011 houve oscilações cambiais dignas de nota,
prejudicando cadeias produtivas inteiras. Em 2005, 2008, 2012, 2018 e 2020 a estiagem em diversos estados prejudicou as culturas da soja, milho, arroz e algodão, entre outras; nesse mesmo ano, a febre aftosa provocou o embargo das exportações brasileiras.
Em 2014, a estiagem prejudicou gravemente as culturas de café,
cana, milho e cítricos em São Paulo. No ano seguinte houve forte estiagem na Região Nordeste. Em 2017 ocorreu queda intensa nos preços de vendas de grãos e de bovinos. Em 2020, ciclones prejudicaram culturas do Paraná e de Santa Catarina.
Apesar dos benefícios expressivos oferecidos pela atividade
seguradora — especialmente em anos desafiadores — o mercado de seguro rural no Brasil ainda enfrenta desafios consideráveis. Os pequenos produtores, em particular, deparam-se com inúmeros obstáculos, desde a imprevisibilidade climática até a difícil acessibilidade a crédito para contratar seguros. A falta de conscientização, custos elevados e a complexidade do processo de contratação limitam a adoção desse instrumento de proteção. Dados do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) dão conta da baixa representatividade da área segurada em diferentes culturas. Muitos pequenos produtores não estão cientes dos benefícios do seguro rural, nem compreendem como ele pode proteger suas colheitas e garantir estabilidade financeira em face de adversidades. Além disso, com frequência as apólices de seguro rural apresentam custos proibitivos para os pequenos agricultores, limitando a capacidade de adquirir cobertura adequada para seus cultivos.
Outro aspecto a considerar é que por vezes a burocracia e a
complexidade do processo de contratação afastam os agricultores que têm limitado conhecimento técnico e recursos. Elementos como estes apontam para a necessidade de que autoridades e órgãos de apoio contribuam para a existência de condições favoráveis de acesso aos instrumentos de seguro e a meios de financiamento da aquisição de seguros, em medida suficiente e sob condições que estejam ajustadas às necessidades dos produtores.
Algumas soluções para os desafios do seguro rural, aplicadas em
diversos países (e isso inclui o Brasil, onde a escala das providências poderia ser maior e o direcionamento melhor), têm sido as seguintes:
Educação e conscientização: implementação de programas
educacionais para informar os pequenos produtores sobre os benefícios do seguro rural, destacando como a proteção contra riscos climáticos pode salvaguardar seus meios de subsistência.
Ampliação de programas de subsídios e incentivos: introdução,
manutenção e ampliação de subsídios governamentais ou parcerias público-privadas para reduzir os custos das apólices, tornando o seguro rural mais acessível para os agricultores de menor porte.
Simplificação do processo: desenvolvimento de plataformas
simplificadas e acessíveis para a contratação de seguros, utilizando tecnologias digitais para facilitar o processo e aumentar a participação dos pequenos produtores.
Cooperação entre setores: estímulo à colaboração entre
empresas de seguro, órgãos de apoio, agências governamentais e instituições financeiras para criar soluções abrangentes que atendam às necessidades específicas dos pequenos produtores.
Abordar os desafios do seguro rural para pequenos produtores no
Brasil requer uma abordagem integrada que combine educação, apoio financeiro e inovação tecnológica. Ao superar esses obstáculos, será possível não apenas proteger os meios de subsistência dos agricultores de pequena escala, mas também fortalecer a base agrícola do país, contribuindo para a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável.
José Luís Neves é profissional da área de controladoria e
planejamento. Economista e administrador com mestrado em Administração pela USP, possui mais de 25 anos de experiência em empresas de consultoria e serviços, onde tem sido responsável por atividades de gestão financeira, orçamentação, contabilidade e custos. Reside em São Paulo (SP).
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