Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Karl Marx - A Crítica Desapiedada Do Existente - Nildo Viana
Karl Marx - A Crítica Desapiedada Do Existente - Nildo Viana
KARL MARX:
A CRÍTICA DESAPIEDADA DO EXISTENTE
© by Nildo Viana
Coedição:
GPDS
Grupo de Pesquisa Dialética e Sociedade.
Universidade Federal de Goiás, Campus II, FCS –
Caixa Postal 131 – CEP: 74.001-970.
Conselho editorial:
Dr. Cleito Pereira dos Santos
Dr. Edmilson Marques
Dr. Lucas Maia
Dr. Nildo Viana
Dra. Veralúcia Pinheiro
Ficha Catalográfica
VIANA, Nildo.
Karl Marx: A Crítica Desapiedada do Existente/Nildo Viana. Florianópolis, Bookess, 2016.
506 p.
ISBN: 9788580452198
1. Karl Marx. 2. Marxismo - Teoria. 3. Materialismo Histórico. 4. Dialética Marxista. 5. Teoria Marxista.
6. Capitalismo.
CDD 300-320
07 – Introdução
497 – Referências
6
INTRODUÇÃO
1
A ideologia do “corte epistemológico” entre “jovem Marx” e “Marx
da maturidade” foi produzida por Louis Althusser (1979) e visava
com isso se adequar à hegemonia estruturalista (o estruturalismo
como ideologia dominante nas ciências humanas e na filosofia), além
de manter seu compromisso com o PCF – Partido Comunista
Francês, de forte influência stalinista, reinterpretando Marx e
colocando-o como anti-humanista, científico, entre outras
características que são adequadas ao estruturalismo e stalinismo, mas
não ao pensamento de Marx. Outros se utilizaram de tal divisão para
defender o “jovem Marx”, humanista e teórico da alienação
(conceito interpretado geralmente de forma equivocada), como os
religiosos que queriam se apropriar do seu pensamento.
11
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Uma discussão sobre o conceito de crítica e suas raízes filosóficas,
pode ser vista em Assoun e Raulet (1981), apesar de alguns
problemas interpretativos.
13
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
A concepção marxista de proletariado será expressa adiante e a
necessidade de recordar isto é apenas devido ao fato das
deformações do pensamento de Marx também gerou a deformação
de seus conceitos, inclusive o conceito de proletariado.
14
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
18
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
20
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
A erudição enciclopédica é a daqueles que conhecem e memorizam
diversos autores, concepções, fatos, etc. Uma erudição significativa é
a daqueles que que memorizam e conhecem o que é significativo, ou
seja, inserido numa percepção totalizante da realidade que permite
entender o significado particular dos fenômenos e sua inserção na
totalidade.
21
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
O desenvolvimento de análises sobre obras, questões, etc. específicas
com maior profundidade podem ser encontradas em outras obras.
Sobre a questão metodológica, desenvolvemos um trabalho que
aprofunda alguns aspectos aqui apontados (VIANA, 2007a), sobre
sua concepção de classes (VIANA, 2012a), etc.
22
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
23
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
24
NATUREZA HUMANA E HUMANISMO
“Jeremias Bentham é um
fenômeno puramente inglês. Mesmo sem
excetuar nosso filósofo, Christian Wolf,
em nenhum tempo e em nenhum país o
lugar-comum mais comezinho jamais se
instalou com tanta autossatisfação. O
princípio da utilidade não foi invenção de
Bentham. Ele só reproduziu, sem espírito,
o que Helvetius e outros franceses do
século 18 tinham dito espirituosamente.
Se por exemplo, se se quer saber o que é
26
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
“Nenhum dia sem um traço”, afirmação atribuída ao pintor grego
Apelles, para justificar a regra de trabalhar todos os dias em seus
quadros, mesmo que minimamente.
27
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Natureza humana e essência humana são as mesmas coisas. O que é
essencial é universal, logo, presente em todos os casos singulares.
Assim, não se trata de uma concepção biologista de natureza, embora
29
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
32
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
A abstração dialética é a que descobre a essência do fenômeno e suas
múltiplas determinações e a abstração metafísica é aquela que toma a
aparência como essência (VIANA, 2007a). Marx não fez essa
distinção terminológica, mas em seus escritos se nota as duas formas
de conceber abstração (VIANA, 2007b), tal como abordaremos no
capítulo sobre método dialético.
34
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
36
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
37
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
No original alemão está “ato histórico”, assim como em outras
traduções.
38
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
Cooperação significa agir em conjunto, ação coletiva, ou seja,
associação para determinado fim. A associação é um termo
40
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
A palavra cooperação se presta a equívocos e por isso “associação”
parecer ser mais adequada e passa a ser usada posteriormente por
Marx. A nosso ver, o termo “socialidade” expressa melhor essa
necessidade e potencialidade humana, já que evitar mal entendidos
no processo de compreensão da essência humana.
42
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
45
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
No processo de trabalho a
atividade do homem efetua, portanto,
mediante o meio de trabalho, uma
transformação do objeto de trabalho,
pretendida desde o princípio. O processo
extingue-se no produto. Seu produto é um
valor de uso, uma matéria natural
adaptada às necessidades humanas
mediante transformação da forma. O
trabalho se uniu com seu objetivo. O
trabalho está objetivado e o objeto
trabalhado. O que do lado do trabalhador
aparecia na forma de mobilidade aparece
agora como propriedade imóvel na forma
do ser, do lado do produto. Ele fiou e o
produto é o fio (MARX, 1988b, p. 144).
Assim, essa atividade vital consciente é expressão da
natureza humana, permite o desenvolvimento das forças
físicas e mentais do ser humano. Ela é uma necessidade
46
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
48
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Marx toma a associação como elemento fundamental em sua teoria
do comunismo e esse trecho merece ser reproduzido: “quando
artesãos comunistas formam associações, o ensino e a propaganda
são seus primeiros objetivos. Mas sua própria associação cria uma
necessidade nova – a necessidade da sociedade –, o que parecia ser
um meio torna-se um fim. Os resultados mais notáveis desse
desenvolvimento prático podem ser vistos quando operários
socialistas franceses se reúnem. Fumar, comer, beber não mais são
meios de congregar pessoas. A sociedade, a associação, o
divertimento tendo também como fito a sociedade, é suficiente para
eles; a fraternidade do homem não é a frase fazia, mas a realidade, e
a pobreza do homem resplandece sobre nós vinda de seus corpos
fatigados” (MARX, 1983a, p. 134).
50
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
Em algumas passagens dos Manuscritos de Paris e em A Ideologia
Alemã, Marx usa as expressões “empírico” ou “empiricamente” de
forma positiva, mas com significado distinto do uso comum pelas
ciências naturais e humanas e, posteriormente, abandonou o uso
dessas palavras e passou a utilizar a expressão “concreto”, tal como
colocaremos no capítulo sobre dialética materialista.
51
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
O humanismo abstrato é positivo e benéfico no sentido que rompe
parcialmente com a consciência coisificada e com o individualismo
(também com o egoísmo), mas acaba caindo numa concepção
ingênua dos indivíduos e das relações sociais. Marx questionou
Feuerbach por seu humanismo abstrato e em seu lugar constituiu um
humanismo concreto, que tem uma base semelhante à de seu
antecessor (o que permite interpretações e apropriação do seu
pensamento por parte de humanistas abstratos), mas que vai além e
reconhece as determinações sociais e históricas e, principalmente, a
divisão social, especialmente a de classes sociais, e a luta de classes
derivada daí e, portanto, não pensa como o socialismo utópico que a
emancipação humana poderá ocorrer através da filantropia, por
52
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
Uma crítica às concepções indutiva e dedutiva, nas ciências
naturais, abordando também este problema metodológico nas
ciências humanas, e uma comparação com o método dialético pode
ser visto em: Viana, 2002.
54
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
58
ALIENAÇÃO, ALHEAMENTO E FETICHISMO
1
Muitos autores se manifestaram sobre isso, alguns sustentando um
“corte epistemológico” entre o jovem Marx e o Marx da maturidade,
tal como Althusser (1979), colocando apenas o último como
marxista. Esta é a tendência estruturalista e stalinista, anti-humanista.
Outros priorizam o jovem Marx e esquecem o Marx da maturidade e
a luta de classes e crítica ao capitalismo. São duas concepções
equivocadas, pois o pensamento de Marx é uma totalidade e tiveram
desdobramentos, mudanças, aprofundamentos, mas manteve os
aspectos iniciais com algumas modificações e desenvolvimentos,
como se vê nos seus próprios escritos. Isso pode ser visto em: Viana,
2007c. Uma interpretação correta do pensamento de Marx só é
possível analisando a totalidade do seu pensamento e
compreendendo sua preocupação fundamental (humanismo, luta por
emancipação humana) e desdobramentos necessários (luta de classes
e revolução proletária). Fora disso o que se realiza é deformação e
não interpretação.
60
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Segundo Mészáros, haveria três palavras que em alemão que
manifestaria alienação: entäusserung, entfremdung e veräusserung
(MÉSZÁROS, 2006). Porém, Mészáros não aprufunda essa
discussão e nem compreende que isto depende de interpretação (a
tradução não é “neutra”). Se tais palavras são, no pensamento de
Marx, a mesma coisa ou coisa distinta e, no último caso, o que
significaria cada uma, isso só pode ser compreendido através de uma
análise rigorosa de sua exposição, o que Mészáros não fez. Além
disso, existem outros elementos complicadores que Mészáros não
leva em consideração (outros termos, o que leva ao problema da
objetivação, exteriorização, etc.) e sua interpretação de Marx é
pseudomarxista, ao distinguir formas de alienação (política,
econômica, etc.) partindo muito mais de uma “doutrina dos fatores”
do que do materialismo histórico, o que só poderia resultar em
confusões.
64
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
65
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
Essa é a concepção pré-marxista da filosofia alemã e também a
desenvolvida pelas representações cotidianas e pela psiquiatria, o
que recorda o nome antigo fornecido ao psiquiatra, “alienista”,
aquele que trata daqueles que são “alienados”. Obviamente que a
alienação gera processos que atingem a consciência e esta mesma
pode ser alienada, mas não é esse o elemento essencial e sim o
trabalho alienado.
4
O título mais comum nas traduções é Manuscritos Econômico-
Filosóficos. Porém, este título não foi fornecido por Marx e sim
pelos organizadores e tradutores, e permite equívocos por uma
atribuição problemática, já que a obra não é de economia e nem se
pretende ou afirma ser de filosofia. Outros dois títulos menos
problemáticos são atribuídos ao mesmo: Manuscritos de 1844 e
Manuscritos de Paris.
5
Não discutiremos aqui o uso de diversos termos, em idioma alemão,
por Marx, nem discutir a bibliografia e posição assumida diante disto
pelos diversos intérpretes. A questão é que há muita confusão em
torno destes termos e tal confusão é gerada pela dificuldade do texto
de Marx e qualidade das traduções, mas, muito mais do que isso,
pelo problema das interpretações deformadoras promovidas sobre
esse texto, interessadas muito mais em inaugurar uma filosofia
(pretensamente ortodoxa e marxista, mas que, no fundo, se revela
uma deformação do pensamento de Marx). Deixaremos isso para
66
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
No original alemão, Marx usa entäusserung e entfremdung, em
revezamento e às vezes os dois (ou seja, Marx usa um termo e entre
vírgulas o outro). Nessa tradução, assim como em outras, aparece
apenas a palavra alienação. Na edição francesa isso é justificado
através do argumento, feito pelo tradutor, que há uma indistinção, o
que não é verdadeiro (mesmo porque, se as duas palavras
significassem a mesma coisa, o autor não usaria ambas, uma após a
outra para não explicitar nada além do que está escrito, a não ser que
fosse para explicar que são sinônimos, como fizemos com
objetivação e práxis, o que não é o caso). Veja: “Wir haben bisher
die entfremdung, die entäusserung des arbeiters nur nach der einen
seite bin betrachtet, nämlich sein verhältnis zu den produkten seiner
arbeit. Aber die entfremdung zeigt sich nicht nur im resultat, sondern
im akt der produktion, innerhalb der produzierenden tätigkeit selbst.
Wie würde der arbeiter dem produkt seiner tätigkeit fremd
gegenübertreten können, wenn er im akt der produktion selbst sich
nicht sich selbst entfremdete? Das produkt ist ja nur das resümee der
tätigkeit, der produktion. Wenn also das produkt der arbeit die
entäusserung ist, so muß die produktion selbst die tätige
entäusserung, die entäusserung der tätigkeit, die tätigkeit der
entäusserung sein. In der entfremdung des gegenstandes der arbeit
resümiert sich nur die entfremdung, die entäusserung in der tätigkeit
der arbeit selbst”. Aqui, tal como desenvolveremos em outra obra,
Marx se refere à alienação e também ao alheamento (o que alguns,
equivocadamente traduzem como “estranhamento”, permitindo a
confusão entre um termo que remete a uma relação social para outro
que remete à instância da consciência, apesar da ambiguidade do
termo). Todas as versões alemãs das obras de Marx que citamos
nessa obra foram retiradas do site
68
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
72
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
Ou seja, partimos do conteúdo para entender a forma, ao contrário
das traduções arbitrárias que partem da forma ou escolhem a forma
que desejam para depois determinar o conteúdo, já pré-determinado
por esta escolha formal, tal como aqueles que traduzem “trabalho
alienado” por “trabalho estranhado”, algo sem sentido, mesmo
linguístico (cf. VIANA, 2012b).
75
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
“Assim como o trabalho alienado transforma a atividade livre e
dirigida pelo próprio indivíduo em um meio, também transforma a
vida do homem como membro da espécie em um meio de existência
física” (MARX, 1983a, p. 97). O trabalho alienado transforma a
práxis em meio para satisfazer outras necessidades, deixando de ser
realização de uma necessidade humana, e também transforma a vida
social como meio. Assim, o trabalhador só sente livre em suas
77
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
79
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
81
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
Há uma extensa bibliografia sobre a questão da alienação em Marx,
com posições distintas e até antagônicas. Não seria possível elencar
aqui todas estas concepções. Por isso, nos limitamos a indicar
algumas obras: Konder, 1965; Astrada, 1968; Mészáros, 2006;
Santos, 1982; Schaff, 1979.
82
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
11
“O roubo dos bens da Igreja, a fraudulenta alienação dos domínios
do Estado, o furto da propriedade comunal, a transformação
usurpadora e executada com terrorismo inescrupuloso da
propriedade feudal e clânica em propriedade privada moderna, foram
outros tantos métodos idílicos da acumulação primitiva” (MARX,
1988a, p. 264-265).
83
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
12
Em A Ideologia Alemã, Marx fala da supressão do trabalho
(alienado) no comunismo: “a revolução comunista, ao contrário, é
dirigida contra o modo de atividade anterior, ela suprime o trabalho e
85
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
13
Isso é observável em diversos autores que transformam a questão da
alienação em questão da consciência, alguns transformando ele em
idealista e hegeliano-feuerbachiano (SANTOS, 1982) em seus
primeiros escritos. Adam Schaff, para citar apenas mais um exemplo,
distingue entre dois tipos de alienação, alienação em geral e
alienação de si mesmo: “no primeiro dos casos – a alienação –
estamos diante de uma relação objetiva, no sentido que se alienam os
produtos do trabalho humano, portanto objetos determinados (no
sentido lato dessa palavra, isto é, não somente coisas), independente
do que o homem pense a respeito, ou de como se sinta, ou
experimente; no segundo dos casos – a alienação de si mesmo –
estamos ante uma relação subjetiva, no sentido que o homem se
aliena do mundo socialmente criado por ele, o do próprio eu, e a
alienação reside nos sentimentos, vivencias e atitudes do homem,
portanto em suas reações subjetivas, se bem que socialmente
condicionadas (no significado lato desta expressão, que compreende
muitos aspectos)” (SCHAFF, 1979, p. 93). Os dois tipos de alienação
em Schaff deixa de lado o essencial, o trabalho alienado. Só trata do
alheamento e não de sua fonte e depois da consciência, invertendo a
concepção de Marx e produzindo mais uma interpretação ideológica.
88
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
14
E não deixa de ser trágico, e ao mesmo tempo cômico, que o que
Marx critica e denuncia acaba sendo a forma dominante de
interpretação do seu próprio pensamento. Os ideólogos “marxistas”
89
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Nesse sentido, a comparação entre fetichismo e idolatria é
esclarecedora. Erich Fromm realizou tal comparação,
equivocadamente, com a alienação. Porém, como ela se encaixa na
ideia de fetichismo, vamos apresentá-la para esclarecer este último
conceito: “a essência do que era chamado de ‘idolatria’ pelos antigos
profetas não está em o homem adorar muitos deuses em vez de um
único. Está em os ídolos serem a obra das mãos do próprio homem –
eles são coisas, e no entanto o homem curva-se ante elas e as
reverencia; adora aquilo que ele mesmo criou. Ao fazê-lo, ele se
transforma em coisa. Transfere às coisas de sua criação os atributos
92
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
95
MATERIALISMO HISTÓRICO,
MODO DE PRODUÇÃO E LUTA DE CLASSES
1
“Engels apenas contribui com as primeiras páginas, como se sabe”
(DEBRITO, 1985, p. 41).
101
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
102
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
O uso da expressão “empírica”, em Marx, dá margem para alguns
intérpretes pouco rigorosos, chamá-lo de “positivista” (em sua forma
empiricista). Porém, tal tese não se sustenta, pois parte de um
verbalismo já criticado por Labriola (1979), retirando a palavra do
seu contexto e significado próprio no conjunto do pensamento de
Marx. Posteriormente, como mostraremos adiante, Marx usará o
termo concreto ao invés de empírico.
103
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
“Um modo de produção é uma combinação específica de diversas
estruturas e práticas que, em combinação, aparecem como instâncias
ou níveis, isto é, como estruturas regionais com uma autonomia e
dinâmica próprias, ligadas a uma unidade dialética. Um modo de
produção compreende três níveis ou instâncias: a econômica ou
infraestrutura, a político-jurídica e a ideológica. Estas duas últimas
constituem a superestrutura. Entende-se que se trata de um esquema
abstrato indicativo que é constituído para efeito de uma análise, e
que é possível adotar outro com diferentes
104
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
107
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
108
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
109
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
110
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
111
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
A isso Karl Korsch chamou de “especificidade histórica” (KORSCH,
1983), embora também englobe o conjunto da sociedade.
112
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
E aqui se mantém a tese dos Manuscritos de Paris e A Ideologia
Alemã, escritos anteriores, segundo a qual, é o trabalho que gera a
propriedade, tal como vimos no capítulo sobre trabalho alienado.
113
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
115
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Isso a partir do surgimento das sociedades classistas, pois antes
disso, as relações de produção são relações sociais igualitárias no
processo de produção e consumo.
116
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
Nesse sentido, os intérpretes realizam um recuo em relação a Marx e
retomam Proudhon, criticado por Marx justamente por isso: “Para o
Sr. Proudhon, a conexão entre a divisão do trabalho e as máquinas é
inteiramente mística. Cada um dos modos da divisão do trabalho
tinha seus instrumentos de produção específicos. De meados do
século 17 a meados do século 18, por exemplo, os homens não
produziam tudo à mão. Possuíam instrumentos, e instrumentos muito
complicados, como teares, alavancas, etc.” (MARX, 1989, p. 209).
Curiosamente, Marx não poderia prever o surgimento de pretensos
marxistas, na verdade, pseudomarxistas, “místicos”. Korsch já havia
alertado para isso: “O conceito marxista não tem nada de místico
nem de metafísico. ‘Força produtiva’ não é, aqui, nada mais que a
real capacidade de trabalhar dos homens vivos: a capacidade de
produzir por intermédio de seu trabalho e com a utilização de
determinados meios materiais de produção e em uma forma de
cooperação determinada por eles, os meios materiais para a
satisfação das necessidades sociais da vida, o que quer dizer, em
condições capitalistas, a capacidade de produzir ‘mercadorias’. Tudo
o que aumenta esse efeito útil da capacidade humana de trabalhar (e
portanto, em condições capitalistas, inevitavelmente também o lucro
de seus exploradores) é uma nova ‘força produtiva’ social”
(KORSCH, 1983, p. 211).
117
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
118
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
Marx usa o termo alemão Verkehr, que é bem mais amplo que
“comércio”, no sentido mercantil do termo, e é mais próximo de
“intercâmbio”, que quer dizer relação, troca, etc. Ele mesmo alerta
isso em uma passagem de sua Carta a Annenkov: “emprego aqui a
palavra comércio em seu sentido mais amplo, do mesmo modo que
empregamos em alemão o vocábulo Verkehr” (MARX, 1989, p.
207).
120
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
E desde os Manuscritos de Paris, sob forma mais abstrata, Marx
repete essa afirmação e por isso é tão difícil compreender que
intelectuais, especialistas no trabalho intelectual, pseudomarxistas
passem por cima de tantas afirmações antifetichistas transformando-
as em afirmações fetichistas.
121
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
11
No Manifesto Comunista, Marx e Engels diferenciaram entre as
sociedades divididas em classes sociais e as sociedades sem classes,
pré-históricas (cf. MARX e ENGELS, 1988).
123
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
12
Marx diz, em O Capital, que o modo de produção capitalista, “como
qualquer outro modo de produção determinado, pressupõe certo
nível das forças sociais produtivas e de suas formas de
desenvolvimento como sua condição histórica: uma condição que é,
ela mesma, o resultado e o produto históricos de um processo
anterior e do qual parte o novo modo de produção como sua base
dada” (MARX, 1988c, p. 293).
124
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
13
“As relações de distribuição são essencialmente idênticas a essas
relações de produção, sendo um reverso delas, de modo tal que
ambas partilham o mesmo caráter historicamente transitório”
(MARX, 1988c, p. 293).
14
Alguns intérpretes de Marx quiseram substituir o conceito de
sociedade pelo de “formação social”, sob pretexto de que este último
termo carregaria em si a ideia de historicidade. No entanto,
concordamos com Luporini, crítico da noção de formação social,
pois, segundo ele: “a contraposição da palavra ‘formation’, como
que um ‘nome de ação’ (e que denota portanto um conceito
‘dinâmico’), à palavra ‘Form’, como de um ‘nome de estado’ (e que
denota portanto um que de ‘estático’) me parece sem fundamento.
Parece-me evidente que a palavra ‘Form’ pode denotar uma forma
que se desenvolve, dinâmica, portanto, e a palavra ‘formation’ uma
125
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Um conjunto de intérpretes de Marx defenderam tais concepções,
sem maior fundamentação e demonstrando não entender o autor,
geralmente sem uma pesquisa mais profunda de suas obras, como a
128
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
130
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
16
Apenas numa má interpretação do Prefácio ao livro Contribuição à
Crítica da Economia Política (MARX, 1983b), e poderia pensar
nisso, mas ela não se sustenta a partir de uma leitura rigorosa.
131
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
132
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
17
No trecho citado acima, Marx coloca “condições de vida” e em
outros momentos “modo de vida”. Observando o original alemão,
condições de vida aparece 13 vezes e modo de vida 5 vezes.
Contudo, modo de vida aparece nos momentos mais significativos e
em uma passagem como sinônimo de modo de produção (conceito
ainda não estabelecido nessa obra, que usa, preferencialmente,
“formas de propriedade”). Em outras obras posteriores, modo de
vida é utilizado ao invés de condições de vida. Por isso consideramos
modo de vida um conceito e “condições de vida” um quase
sinônimo. Hoje preferimos utilizar modo de vida como conceito que
apontam os elementos comuns na vida de cada classe social e
condições de vida reservamos para diferenças no seu interior.
Exemplificando: o proletariado (como todas as classes sociais)
possui um modo de vida comum, mas distintas “condições de vida”.
No primeiro caso, todos os proletários produzem mais-valor, são
assalariados, etc. e no segundo, num nível maior de concreticidade,
podemos dizer que eles possuem diferenças em suas condições de
133
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
135
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
19
Um conjunto de pseudocríticos de Marx apelou para a concepção
leninista para tentar destruir sua concepção de classes e provocaram
infindáveis discussões sobre propriedade (no sentido jurídico) e
meios de produção ao invés de discutir as relações de produção,
mostrando desconhecer tal teoria que supostamente criticavam
137
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
21
Alguns aspectos aqui apresentados por Marx serão desenvolvidos e
aperfeiçoados, e outros perderam importância (tal como ser a classe
que é a maioria da população).
22
“No entanto, as forças produtivas que se desenvolveram no seio da
sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as condições materiais
para resolver esta contradição. Com esta organização social termina,
assim, a Pré-História da Humanidade” (MARX, 1983b, p. 25).
144
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
23
Althusser foi um dos autores que alertaram para a existência de uma
metáfora do edifício social, que tem a função de ilustrar o
pensamento (ALTHUSSER, 1986). Essa percepção de Althusser, no
entanto, tem sua origem na obra de Karl Korsch (1983). Portanto,
base e superestrutura são apenas expressões metafóricas que ilustram
a relação entre modo de produção e formas jurídicas, políticas,
ideológicas e intelectuais e não conceitos. Marx usou tal metáfora da
superestrutura poucas vezes e isso se tornou, nos seus epígonos, um
conceito, sendo reificado (VIANA, 2007b). Por isso propomos o uso
de formas de regularização das relações sociais (VIANA, 2007b) ou
simplesmente formas sociais ao invés de superestrutura.
146
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
148
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
24
Isso é bem diferente da deformação stalinista da concepção de
Marx, que produziu “leis da história”, na qual haveria a sucessão
necessária de cinco modos de produção: “comunista primitivo,
antigo, feudal, capitalista e comunista” (STÁLIN, 1982).
149
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Com o conhecimento da
realidade, a filosofia não tem mais um
meio para existir de maneira autônoma.
Em seu lugar, poder-se-á no máximo
colocar uma síntese dos resultados mais
gerais que é possível abstrair do estudo do
desenvolvimento históricos dos homens.
Essas abstrações, tomadas em si mesmas,
desvinculadas da história real, não tem
absolutamente nenhum valor. Podem
quando muito servir para a classificação
mais fácil da matéria histórica, para
indicar a sucessão de suas estratificações
particulares. Mas não dão, de modo
algum, como a filosofia, uma receita, um
esquema segundo o qual se possam
ordenar as épocas históricas (MARX e
ENGELS, 2002, p. 21).
De qualquer forma, Marx reconhecia que as
ideologias, as representações, as formas de consciência em
geral, produziam efeitos práticos e tinham um papel
atuante na história. Da mesma forma, o Estado e as formas
jurídicas, também fazem parte da totalidade que é a
sociedade e interferem, no sentido de reproduzir as
relações sociais existentes, principalmente as relações de
produção. Porém, no processo de transformação social, as
150
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
25
Alguns elementos da “superestrutura” ou das formas sociais,
existem em alguns modos de produção e não existem em outras. Nas
sociedades pré-classistas, por exemplo, não existia ideologia, Estado,
etc. Da mesma forma, na sociedade feudal não existia direito
propriamente dito. As formas sociais existentes são derivadas das
necessidades e processo de constituição de um determinado modo de
produção.
153
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
154
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
159
A CRÍTICA DA POLÍTICA:
SOCIEDADE CIVIL E ESTADO
1
A interpretação estatista do pensamento de Marx por supostos
marxistas tem sua grande fonte em Lênin, especialmente sua obra O
Estado e a Revolução (LÊNIN, 1987.).
162
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
163
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
O Estado funda-se na
contradição entre a vida pública e a vida
privada, entre os interesses gerais e os
particulares. A administração deve
limitar-se, portanto, a uma esfera de
atividade formal e negativa, pois o seu
poder termina no ponto onde começa a
vida civil com o trabalho dela. Em face
das consequências que brotam do caráter
insocial da vida da sociedade civil,
propriedade privada, comércio, indústria,
saque mútuo entre os diferentes grupos, a
impotência é a lei natural da
administração. Essas divisões, esse
rebaixamento e escravidão da sociedade
civil, são as bases naturais sobre as quais
repousa o Estado moderno, assim como a
sociedade civil foi o fundamento natural
da escravidão sobre a qual repousava o
166
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Aqui preferimos citar as passagens do livro de Bottomore e Rubel
por ser uma tradução melhor do que as existentes de sua obra A
Questão Judaica (MARX, 1978).
167
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
Às vezes Marx toma a sociedade civil como um fenômeno típico da
sociedade burguesa (quando, por exemplo, opõe Estado moderno e
sociedade civil em comparação com escravidão e Estado antigo), às
vezes como um processo social das sociedades de classes em geral,
como é o caso dessa citação. Nesta última concepção há uma maior
precisão conceitual. Claro que isto também tem a ver com a
emergência de uma sociedade civil organizada que realiza uma
mediação burocrática entre indivíduo e Estado, aspecto não
desenvolvido por Marx e que ajudaria a compreender a dinâmica da
sociedade capitalista. Porém, a análise desse processo fica para outra
oportunidade, já que aqui o objetivo é analisar o pensamento de
Marx.
169
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
170
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
Isto é mais visível em O Capital, embora o capítulo sobre Estado que
ele planejava acrescentar à obra não tenha sido redigido, mas se vê,
principalmente na parte dedicada ao sistema colonial e acumulação
primitiva, bem como ao processo de formação da sociedade
burguesa, o papel do Estado no processo de acumulação e
constituição do capitalismo.
173
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
174
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
175
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Marx inicia esse processo de crítica do Estado e da burocracia
através de sua crítica a Hegel, cujo espírito absoluto se realiza no
Estado: “a [sua – NV] sociologia da burocracia dirige-se ao processo
de toda burocracia, sobretudo da burocracia do Estado. Não se pode
aceitar como tal a racionalidade burocrática e muito menos
transportá-la ao absoluto. Porém sua crítica não se separa de dupla
crítica: a da filosofia e a do Estado” (LEFEBVRE, 1979, p. 109). A
crítica marxista do Estado, obviamente, desemboca num projeto
autogestionário: “seria necessário mostrar que, neste ponto, a crítica
radical da filosofia política, do Estado, da burocracia (crítica que
acompanha a análise sociológica destas racionalidades irracionais),
conduz, a uma práxis revolucionária: a autogestão democrática
generalizada, sem burocracia, sem Estado?” (LEFEBVRE, 1979, p.
108). Sem dúvida, não é possível concordar com a totalidade da
interpretação de Marx nessa obra de Lefebvre (nem em outras), mas
retirando as imprecisões conceituais e atribuição de caráter
“sociológico” ao pensamento de Marx, bem como aos equívocos de
conteúdo, ele apresenta aqui uma rara percepção crítica da
burocracia e do Estado em Marx e sua consequência lógica e
histórica: abolição do Estado e instauração da autogestão social. Esse
ponto será discutido adiante. Rubel, comentando o trecho citado de
O Dezoito Brumário, afirma: “Em sua gênese histórica, o Estado
moderno é inseparável da constituição e do desenvolvimento da
burocracia e do militarismo modernos” (RUBEL, 1976, p. 31). Aqui
se revela novamente a questão da ampliação da divisão social do
trabalho e burocracia como elementos característicos do Estado
(militarismo e burocracia).
176
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
178
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
O poder centralizado do
Estado, com os seus órgãos onipresentes:
exército permanente, polícia, burocracia,
clero e magistratura — órgãos forjados
segundo o plano de uma sistemática e
hierárquica divisão de trabalho – tem
origem nos dias da monarquia absoluta,
ao serviço da classe burguesa nascente
como arma poderosa nas suas lutas contra
o feudalismo. Contudo, o seu
desenvolvimento permanecia obstruído
por toda a espécie de entulhos medievais,
direitos senhoriais, privilégios locais,
monopólios municipais e de guilda e
constituições provinciais. A escova
gigantesca da Revolução Francesa do
século dezoito levou todas estas relíquias
de tempos idos, limpando assim,
simultaneamente, o terreno social dos
seus últimos embaraços para a
superestrutura do edifício do Estado
moderno erguido sob o primeiro Império,
ele próprio fruto das guerras de coalizão
da velha Europa semifeudal contra a
França moderna. Durante os regimes
subsequentes, o governo, colocado sob
controle parlamentar — isto é, sob o
controle direto das classes proprietárias,
não apenas se tornou um viveiro de
enormes dívidas nacionais e de impostos
esmagadores; com os seus irresistíveis
179
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Em outras palavras, quanto mais desenvolvido e especializado é uma
forma de pensamento, menos capaz é de entender a realidade. Esta é
uma primorosa crítica da especialização do trabalho intelectual. Se
notarmos que as ciências humanas e as ciências em geral passam por
um processo histórico de crescente especialização, então nota-se
também sua crescente incapacidade de expressar a realidade.
183
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
As ideologias políticas sobre democracia, cidadania, etc., incluindo a
ideologia do Estado “neutro”, “instrumento”, etc. (VIANA, 2015a),
que invade o pseudomarxismo, são totalmente antagônicas ao
pensamento de Marx, e consegue deformá-lo de tal forma que ele se
torna o contrário do que realmente é.
184
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
185
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
191
A TEORIA DA CONSCIÊNCIA E DAS REPRESENTAÇÕES
Karl Marx
1
Essa opacidade da totalidade das relações sociais é, ela mesma, um
produto social e histórico que, assume maior ou menor grau,
dependendo das relações sociais concretas de determinada época
histórica. No caso do capitalismo, a opacidade aumenta para a
consciência espontânea ou imediata e por isso a reflexão crítica
torna-se ainda mais necessária.
198
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
“A forma como os homens produzem esses meios depende em
primeiro lugar da natureza, isto é, dos meios de existência já
elaborados e que lhes é necessário reproduzir; mas não deveremos
considerar esse modo de produção deste único ponto de vista, isto é,
enquanto mera reprodução da existência física dos indivíduos. Pelo
contrário, já constitui um modo determinado de atividade de tais
indivíduos, uma forma determinada de manifestar a sua vida, um
modo de vida determinado. A forma como os indivíduos manifestam
a sua vida reflete muito exatamente aquilo que são. O que são
coincide portanto com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que
produzem como com a forma como produzem. Aquilo que os
indivíduos são depende portanto das condições materiais da sua
produção. Esta produção só aparece com o aumento da população e
pressupõe a existência de relações entre os indivíduos” (MARX e
ENGELS, p. 36).
3
O indivíduo também possui um processo histórico de vida, já que é
um ser concreto (mais adiante discutiremos esta categoria da
dialética), e assim ele não só é o que vive mas o que gera a partir
desse modo de vida, incluindo sua cultura, seus valores, sentimentos,
etc. que se acumula e influência o processo de desenvolvimento
posterior, tal como colocaremos adiante.
199
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
Apesar da tradução ter pontos problemáticos, fica claro que Marx
relaciona vida e consciência, ser e consciência mostrando sua
inseparabilidade, a não ser em concepções metafísicas de “vida”,
fora das relações sociais concretas. Claro está que “atividade
material” aqui não significa produção de bens materiais e sim “real”,
em oposição ao mundo das ideias, contexto do significado do
materialismo em oposição ao idealismo, bem como a expressão
“comércio” é uma má tradução, pois seria mais adequado
“intercâmbio”, ou, de forma mais exata, “relação”.
200
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
201
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
202
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
Para uma análise crítica dessas ideologias, cf. Viana, 2008a.
203
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Seja por nascer e viver como escravo, seja por, além disso, ainda ter
ouvido o discurso da classe dominante – como no caso de Aristóteles
– que afirma que a escravidão é natural e eterna. Da mesma forma,
quando um indivíduo afirma que o ser humano é egoísta por
natureza, apenas revela sua consciência falsa sobre os seres humanos
derivados de sua existência real e concreta numa sociedade
competitiva e conflituosa, que gera individualismo, etc., e que ele
mesmo pratica o egoísmo, ou seja, sua consciência falsa apenas
revela o que ele é e vive e, portanto, é a vida que determinou sua
consciência. O filósofo Thomas Hobbes jamais teria afirmado que “o
204
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Isto quer dizer que a consciência individual não é produto do
cérebro, da genialidade, do indivíduo como se este fosse um ser fora
da sociedade, ou seja, é uma consciência social, que possui sua
singularidade oriunda do processo histórico de vida particular de
cada indivíduo. As formas de consciência social são as diversas
consciências individuais em sua semelhança e que são
compartilhadas por que, em que pese as diferenças individuais,
expressam o mesmo modo de vida e, por conseguinte, o mesmo
conteúdo.
208
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
São ideologias e imaginários (no sentido de representações
cotidianas ilusórias).
9
“As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias
dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da
sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A
209
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
A posição de Engels é próxima da de Marx e, nesse caso, deixando
de lado os problemas conceituais (tal como o uso dos termos
“situação econômica”, “fatores”, etc.), a sua concepção mostra o
caráter ativo da consciência, ainda que de forma limitada. Sem
dúvida, há outros elementos problemáticos, tal como a discussão
sobre fatores – que será criticada por Plekhanov (1990) e
principalmente e de forma mais adequada por Labriola (1979), que
retoma a questão da totalidade, bem como, posteriormente a crítica
que Korsch (1977; 1983) faz das “interações”. A concepção de
alguns vulgarizadores e pseudocríticos de Marx preferiu apontar um
economicismo em seu pensamento ao invés de analisar suas
concepções. Isso também é comum em várias tendências do
pseudomarxismo. Labriola (1979) e Korsch (1977) foram exceções e
críticos dessa posição.
213
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
11
Esse é o caso de Rouanet (1978), que tenta, a partir da discussão das
posições de Althusser e Gramsci, mostrar a impossibilidade de
compreender a ideologia como saber ilusório e ao mesmo tempo
instrumento de poder. Obviamente que tal tese é, desde sua raiz,
infundada, pois seria necessário partir de Marx, de onde estes dois
autores dizem retirar sua concepção de ideologia, para depois de
refutar esta tese neste autor e depois realizar a refutação dos seus
epígonos. É sempre mais fácil refutar o representante mais fraco de
uma determinada concepção, mais ainda quando, no fundo, ele a
deforma e permite maiores questionamentos. Claro que esta questão
poderia ter sido colocada no capítulo seguinte, sobre ideologia,
porém, como esse autor confunde ideologia com imaginário
(representações ilusórias), então pode ser discutido aqui e vale
também para a questão da ideologia, cuja questão de sua eficácia é
discutida mais amplamente em: Viana, 2010.
214
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
216
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Os legitimistas e os orleanistas,
como dissemos, formavam as duas
grandes facções do partido da ordem. O
que ligava estas facções aos seus
pretendentes e as opunha uma à outra
seriam apenas as flores-de-lis e a bandeira
tricolor, a Casa dos Bourbons e a Casa
dos Orléans, diferentes matizes do
monarquismo? Sob os Bourbons
governara a grande propriedade territorial,
com seus padres e lacaios; sob os Orléans,
a alta finança, a grande indústria, o alto
comércio, ou seja, o capital, com seu
séquito de advogados, professores e
orados melífluos. A Monarquia
Legitimista foi apenas a expressão
política do domínio hereditário dos
senhores de terra, como a Monarquia de
Julho fora apenas a expressão política do
usurpado domínio dos burgueses
arrivistas. O que separava as duas facções,
portanto, não era nenhuma questão de
princípio, eram suas condições materiais
de existência, duas diferentes espécies de
propriedade, era o velho contraste entre a
cidade e o campo, a rivalidade entre o
capital e o latifúndio. Que havia, ao
mesmo tempo, velhas recordações,
217
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
12
Na ideologia da representação, há um discurso falso que um partido
político faz de representar os interesses do “povo”, “nação”,
“trabalhadores” e seus reais interesses, expressando uma ou outra
classe social efetivamente. A representação aqui é expressão efetiva
e é neste sentido que Marx aborda tal questão. A ideologia da
representação é apenas uma consciência ilusória da representação
que substitui a expressão real de determinados interesses por uma
suposta representação de outros interesses. Esse jogo ideológico é
determinado pelo processo eleitoral e por isso o discurso partidário é
manifesta um objetivo declarado e falso e oculta seu verdadeiro
objetivo (VIANA, 2013), para retomar a análise do sociólogo Etzioni
(1978).
220
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
13
Embora, posteriormente, a futura social-democracia efetivará o
mesmo processo, só que cada vez mais a primazia será da burocracia
e da intelectualidade e cada vez menos da pequena-burguesia e do
proletariado.
221
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
14
Aqui fica claro a distinção entre a real concepção de Marx e a que
lhe é atribuída por seus pseudocríticos, entre eles Bourdieu (1996),
ao tratar do caso de Flaubert (Cf. VIANA, 2011). Bourdieu julga
refutar a teoria marxista colocando que Flaubert expressava uma
classe que não era a qual pertencia. Aqui se abre espaço para a
ideologia pseudomarxista de Lucien Goldmann (1976), segundo a
qual há apenas homologia entre produção intelectual e classe social.
Porém, o que Marx quer dizer é que os representantes intelectuais de
uma classe social não necessitam ser pertencentes a ela, embora essa
224
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Infelizmente, no interior do marxismo, um estudo desse tipo não foi
feito nem sobre Marx nem qualquer outro autor, a não ser
superficialmente e de acordo com os parâmetros das ideologias
burguesas. Nem mesmo uma produção intelectual teórica sobre tal
relação foi produzida, tanto pelo caráter incompleto e pouco
conhecido da teoria das classes sociais em Marx quanto pela
deformação e simplificação de suas teses, principalmente pelos
pseudomarxistas, o que dificulta qualquer aprofundamento de
análises dialéticas sobre a realidade.
229
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
231
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
232
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
16
Esta é justamente a definição que Karl Korsch (1977) fornece ao
mesmo: expressão teórica do movimento revolucionário do
proletariado.
233
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
17
“À medida que tal crítica representa, além disso, uma classe, ela só
pode representar a classe cuja missão histórica é a derrubada do
modo de produção capitalista e a abolição final das classes – o
proletariado” (MARX, 1988a).
234
A CRÍTICA DAS IDEOLOGIAS
.
As primeiras obras de Marx foram voltadas para a
crítica da religião e das ideias. Num momento posterior,
após escrever A Ideologia Alemã, passa a tratar da crítica
da política e do modo de produção capitalista. Nesse
sentido, trata-se não de abandono da crítica, mas de
aprofundamento, num primeiro momento, e de prioridade
para análise das relações sociais concretas. Nosso objetivo
não é refazer esse itinerário intelectual, mas mostrar que a
crítica das ideologias é um dos elementos fundamentais do
marxismo e que ele não a abandonou em nenhum
momento, tão somente passou a colocá-la em segundo
plano, embora, às vezes, voltasse a primeiro plano, tal
como em A Miséria da Filosofia ou então na divisão do
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
Tornou-se popular a expressão “falsa consciência”, que, na verdade é
de Engels e não de Marx, como se fosse um termo usado por Marx.
236
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Tal concepção ideológica foi reproduzida pelo pseudomarxismo
(VIANA, 2007b). A chamada “teoria do reflexo” de Lênin, é um
bom exemplo disso, pois afirma que a consciência reflete a realidade
(LÊNIN, 1978).
239
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
241
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
A divisão do trabalho só se
torna efetivamente divisão do trabalho a
partir do momento em que se opera uma
divisão entre o trabalho material e o
trabalho intelectual. A partir desse
momento, a consciência pode de fato
imaginar que é algo mais do que a
consciência da prática existente, que ela
representa realmente algo, sem
representar algo real. A partir desse
momento, a consciência está em
condições de se emancipar do mundo e de
passar à formação da teoria ‘pura’,
teologia, filosofia, moral, etc. Mas,
mesmo quando essa teoria, essa teologia,
essa filosofia, essa moral etc. entram em
contradição com as relações existentes,
isso só pode acontecer pelo fato de as
3
Vimos anteriormente que a divisão social do trabalho é a mesma
coisa que as relações de propriedade, sendo que a primeira remete à
atividade e a segunda ao produto, resultado, dessa atividade. Da
mesma forma, observamos que as relações de produção (que as
relações de propriedade são apenas sua expressão jurídica) são
marcadas pela divisão social do trabalho, sendo manifestações dela e
que geram outras formas de divisão do trabalho e subdivisões.
242
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
No mundo ideológico, essa afirmação de Marx pode ser invertida e
passar a dizer o contrário do que está dito. Efetivamente, Althusser
(1985) afirmou que, para Marx, “a ideologia não tem história”,
transformando-a em algo acima da história, enquanto que a ideia
original era que ela não tinha história autônoma e independente.
243
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
245
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
248
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
Em termos marxistas, a concepção kautskista-leninista é uma
ideologia da burocracia, inclusive sua produção é voltada para criar o
partido, organização burocrática, que deve dirigir o proletariado e
chegar ao poder estatal.
249
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Nesse sentido, Karl Korsch é um autor cuja leitura é fundamental
para romper com essa ideologia, tal como se vê na sua própria
definição de marxismo, como expressão teórica do movimento
revolucionário do proletariado (KORSCH, 1977).
250
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Os pensamentos da classe
dominante são também, em todas as
épocas, os pensamentos dominantes; em
outras palavras, a classe que é o poder
material dominante numa determinada
sociedade é também o poder espiritual
dominante. A classe que dispõe dos meios
da produção material dispõe também dos
meios da produção intelectual, de tal
modo que o pensamento daqueles aos
251
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
253
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
254
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
255
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
256
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
257
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Alguns intérpretes, que valoram extremamente a ciência, produzem
uma interpretação ideológica ao inverter o que Marx quis dizer nessa
frase. Para tais intérpretes, os economistas são ideólogos, como
afirma o próprio Marx, e representantes científicos da burguesia e,
logo, para eles, a ideologia seria positiva, pois pode ser ciência.
Claro é que isso é uma inversão, pois o que Marx diz é que os
economistas são ideólogos da burguesia, seus representantes
científicos, o que significa não que a ideologia seja positiva por ser
ciência, e sim que a ciência é negativa por ser ideologia. Da mesma
forma, apesar de todas as evidências ao contrário, muitos epígonos
de Marx afirmam que não existem ideologias científicas, apesar de
Marx ter afirmado isso em relação à economia política, biologia,
historiografia, etc.
259
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
Não poderemos desenvolver aqui a crítica de Marx a Malthus e
Darwin, mas já fizemos uma análise introdutória disso em outros
textos (VIANA; 2006; VIANA, 2009b).
260
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
Da mesma forma, também não busca a prova racional efetivada pela
filosofia, também criticada por ele, tal como já colocamos no caso
específico de A Ideologia Alemã, mas presente em outras obras e
momentos.
262
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
McLellan acerta na questão de que a dialética não pode ser refutada
por referências aos fatos (no capítulo sobre a dialética materialista
isto será discutido de forma aprofundada), mas ao pensar em
“modelos”, usa um termo problemático que mostra desconhecer o
modo dialético de pensar a realidade, que não é indutivo-dedutivo,
como alguns já disseram, pois não parte do particular para o geral e
nem vice-versa. Quanto ao uso do termo “normativo” também é
problemático, já que Marx trabalhava em termos de necessidades,
possibilidades, tendências e projetos, quando se trata do futuro e não
de “normas”. Se as necessidades humanas não são satisfeitas, então
há insatisfação, desejo e luta para satisfazê-las, o que gera a sua
possibilidade e tendência de realização e projetos buscando o
mesmo. Por conseguinte, é com base na teoria da natureza humana
que Marx pensa as necessidades e elabora o seu projeto, que é o da
emancipação humana e não é criação dele, pois é apenas expressão
real de necessidades reais. No nível da análise da realidade, ele
observa como isso gera possibilidades, tendências e outros projetos
(inclusive utópico-abstratos), através de suas manifestações
263
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
concretas nas relações sociais e luta de classes. Mas isto tudo será
abordado de forma mais aprofundada mais adiante.
264
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
11
Hegel rompe com o empiricismo ao expressar que “não pode
determinar-se quantas das partes especiais venha a constituir uma
ciência particular, pois a parte, para ser algo de verdadeiro, não deve
ser apenas um momento isolado, mas em si mesma uma totalidade”
(HEGEL, 1988, p. 84).
267
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Os economistas têm
procedimentos singulares. Para eles, só
existem duas espécies de instituições, as
artificiais e as naturais. As instituições da
feudalidade são artificiais, as da burguesia
são naturais. Nisto, eles se parecem aos
teólogos, que também estabelecem dois
tipos de religião: a sua é a emanação de
Deus, as outras são invenções do homem.
Dizendo que as relações atuais – as
relação da produção burguesa – são
naturais, os economistas dão a entender
que é nestas relações que a riqueza se cria
e as forças produtivas se desenvolvem
segundo as leis da natureza. Portanto,
271
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
273
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
274
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
14
Um terceiro caminho, não abordado diretamente por Marx, o que
ficou conhecido como “doutrina dos fatores”, criticada por
Plekhanov (1990) e Labriola (1979), ou das “interações”, criticada
por Korsch (1983) e, em outro contexto, por ele (Korsch, 1977) e
Lukács (1989) através da crítica das ciências particulares. Esse
processo foi desenvolvido por diversos ideólogos sobre diversos
formas e se caracteriza pelo isolamento e depois re-união dos
aspectos isolados da realidade social, gerando “instâncias”, “fatores”,
etc.
275
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
277
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Aqui se trata de deixar bem claro a distinção entre a teoria marxista
das representações e da consciência com a ideologia das
representações sociais. Para uma crítica dessa última e discussão
sobre representações cotidianas, cf. Viana, 2008a; Viana, 2015b.
278
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
16
Não custa lembrar que Marx afirmou que na Alemanha, a
concepção idealista da história – uma forma de ideologia – reinava
devido a sua interligação “com a ilusão dos ideólogos em geral, por
exemplo, com as ilusões dos juristas, dos políticos (e mesmo, mais
279
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
17
O caso de Lênin (MOURA, 1978) e Gramsci (1989), que abordaram
ideologia como “visão de mundo” e por isso puderam postular a
existência de uma “ideologia proletária”, é exemplar das concepções
ideológicas e pseudomarxistas de ideologia, que podem ser somadas
a inúmeras outras, mas não abordaremos isso no presente livro,
deixando para outra oportunidade.
281
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
283
A DIALÉTICA MATERIALISTA
287
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
Marx não definiu o conceito de método, mas sua prática discursiva e
teórica aponta para esta compreensão. O seu texto principal sobre
método dialético, como mostraremos a seguir, expressa tal
compreensão. Quanto ao seu caráter heurístico, também está
288
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
290
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
Uma análise mais longa do método dialético pode ser encontrada em
outra obra (VIANA, 2007a), embora focalizando apenas sua parte
explicitada no pensamento de Marx, sem considerar sua gênese e os
desdobramentos necessários, o que foi iniciado em outra obra
(VIANA, 2007b), mas que merece ainda desdobramentos, tal como a
discussão sobre explicação e determinação (VIANA, 2001; VIANA,
2002).
292
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
293
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
294
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
“Há quase trinta anos, numa época em que ela ainda estava na moda,
critiquei o lado mistificador da dialética hegeliana. Quando eu
elaborava o primeiro volume de O Capital, epígonos aborrecidos,
arrogantes e medíocres que agora pontificam na Alemanha culta, se
permitiam tratar Hegel como o bravo Moses Mandelssohn tratou
Espinosa na época de Lessing, ou seja, como um ‘cachorro morto’.
Por isso, confessei-me abertamente discípulo daquele grande
pensador e, no capítulo sobre o valor, até andei namorando aqui e
acolá os seus modos peculiares de expressão. A mistificação que a
dialética sofre nas mãos de Hegel não impede, de modo algum, que
ele tenha sido o primeiro a expor as suas formas gerais de
movimento de maneira ampla e consciente. É necessário invertê-la,
para descobrir o cerne racional dentro do invólucro místico”
(MARX, 1988a, p. 27).
297
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
“... Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do
pensamento, que se concentra em si mesmo, se aprofunda em si
mesmo e se movimenta por si mesmo, enquanto que o método que
consiste em elevar-se do abstrato ao concreto é para o pensamento
precisamente a maneira de se apropriar do concreto, de o
reproduzir como concreto espiritual” (MARX, 1983b, p. 219).
298
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
299
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Aqui não se deve confundir com a abordagem ideológica (tal como
em Engels) segundo a qual a dialética é uma coisa que existe
objetivamente (através de suas leis) e sim é um método, uma
determinada forma de consciência, que existe realmente e se existe é
parte da realidade, assim como qualquer outra forma de consciência,
ideologia, teoria, etc.
7
Hegel já se propõe a superar o empiricismo e isto é visível em sua
distinção entre “representação” e “conceito”, que Marx retomará. O
empiricismo não ultrapassa o nível da representação: “o empirismo
tem, por um lado, esta fonte em comum com a metafísica, a qual,
para a autenticação das suas definições – dos pressupostos e do
conteúdo mais particular –, possui como garantia igualmente
representações, isto é, o conteúdo que provém diretamente da
experiência” (HEGEL, 1988, p. 101). Esse limite é reforçado por
outros, entre os quais, o isolamento do fenômeno, não precisando de
mais “nenhuma significação e validade do que a tirada da percepção,
300
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
e nenhum nexo deve ter justificação a não ser o que se pode provar
no fenômeno” e tem como consequência, além desse abandono da
totalidade, um igual abandono da historicidade, tanto sua gênese
deixa de ser importante quanto o dever ser, pois é um grande
princípio do empiricismo que “o que é verdadeiro deve existir na
realidade e existir aí para a percepção” (HEGEL, 1988, p. 101)
8
Obvio é que a concepção dialética e marxista rompe com as mais
arraigadas ideias e preconceitos burgueses, inclusive aqueles que
recusam a existência da verdade sob o manto ilusório do relativismo,
do indeterminismo, etc., da mesma forma que rompe com o par
antinômico que o pensamento burguês geralmente cria em
contraposição à si mesmo, o irracionalismo, o determinismo.
Obviamente que o pseudomarxismo, cai na armadilha ideológica
burguesa e isso não por ingenuidade e sim por seus vínculos com as
bases mentais da burguesia, além de interesses momentâneos, no
interior da sociedade capitalista, dos seres conscientes que o
produzem. Daí a maior parte do pseudomarxismo tomar partido do
materialismo, iluminismo, determinismo, etc., não desconfiando que
301
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
É necessário distinguir entre abstração dialética, um dos
procedimentos do método dialético, de abstração metafísica
(VIANA, 2007a), o que Marx não fez explicitamente, mas fez em
304
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Para a consciência – e a
consciência filosófica considera que o
pensamento que concebe constitui o
homem real e, por conseguinte, o mundo
só é real quando concebido – portanto, o
movimento das categorias surge como ato
de produção real – que recebe um simples
impulso do exterior, o que é lamentado –
cujo resultado é o mundo. E isto (mas
trata-se ainda de uma tautologia) é exato
na medida em que a totalidade concreta
enquanto totalidade-de-pensamento,
enquanto concreto-de-pensamento, é de
fato um produto do pensamento, da
atividade de conceber; ele não é pois de
forma alguma o produto do conceito que
engendra a si próprio, que pensa exterior e
superiormente à observação imediata e da
representação. O todo, na forma em que
aparece no espírito como todo-de-
pensamento, é um produto do cérebro
pensante, que se apropria do mundo do
único modo que lhe é possível, de um
modo que difere da apropriação desse
mundo pela arte, pela religião, pelo
espírito prático. Antes como depois, o
objeto real conserva a sua independência
fora do espírito; e isso durante o tempo
em que o espírito tiver uma atividade
meramente especulativa, meramente
teórica. Por consequência, também no
emprego do método teórico é necessário
que o objeto, a sociedade, esteja
310
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
311
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
“Os pressupostos de que partimos não são arbitrários, nem dogmas.
São pressupostos reais de que não se pode fazer abstração a não ser
na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições
materiais de vida, tanto aquela por eles já encontradas, como as
produzidas por sua própria ação. Estes pressupostos são, pois,
verificáveis por via puramente empírica” (MARX e ENGELS, 1991,
p. 26-27).
312
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
313
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
11
A concepção hegeliana da teoria como expressão da realidade é
retomada por Marx noutro sentido, bem como Korsch recupera essa
concepção, também de forma materialista. Em várias obras, como
em A Miséria da Filosofia, Carta a Annenkov e o próprio texto O
Método da Economia Política, Marx afirma que os conceitos são
expressão da realidade.
314
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
12
“Toda ciência seria supérflua se houvesse coincidência imediata
entre a aparência e a essência das coisas” (MARX,1988C).
318
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
321
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
13
O resenhista anônimo, obviamente, opta por uma linguagem
científica, ou seja, oriundas das ideologias burguesas. Como é um
autor russo e, portanto, dificilmente um conhecedor da filosofia de
Hegel, essa forma de expressar – que encontra alguns elementos na
própria obra de Marx, que usa a palavra lei em diversas
oportunidades, embora alertando que não se trata de leis no sentido
das ciências naturais e que devem ser entendidas como “tendências”
– é um tanto quanto limitada, mas seu aspecto negativo é
minimizado ao explicar que não se trata de leis da física ou química,
o que mostra seu caráter diferencial.
324
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
14
No caso do empiricismo, é o procedimento que se observa, por
exemplo, no risível Relatório Kinsey sobre sexualidade e no caso do
estruturalismo e funcionalismo, basta ver o extenso trabalho de
Malinowski (1978) para confirmar seu modelo com inúmeros fatos
recolhidos nas Ilhas Trobriand, bem como nas obras de Lévi-Strauss
e todos os estruturalistas, inclusive alguns que se dizem ou são
considerados “marxistas”, tal como no caso da obra de João
Bernardo, Os Labirintos do Fascismo, que deveria se chamar Os
Labirintos do Modelo Fascista.
326
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Como diz comicamente Darwin (1979) ao colocar que observou
muitos fatos e até conversou com jardineiros...
327
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
328
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
330
O CAPITAL:
TEORIA DO MODO DE PRODUÇÃO
CAPITALISTA
336
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
338
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
339
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
340
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
341
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
Certa vez, em uma palestra, um suposto crítico de Marx afirmou que
ele realizava o “fetichismo do mercado”. Curiosamente, o suposto
crítico depois de demonstrar que não havia entendido a teoria de
Marx, passou a afirmar que “o” mercado fazia isto e aquilo, etc.
tornando-o um agente, algo com vida própria. Eu perguntei para o
palestrante se o que ele fazia não é o que acusava em Marx,
fetichismo do mercado, e o que ele entendia por “mercado”. A
resposta evasiva foi a de que mercado não é a ir comprar verduras na
feira e sim uma “instituição”. Aqui se nota o alto nível dos críticos
de Marx, que se contentam em demonstrar ignorância de sua obra e
pseudocríticas aliado a concepções fetichistas que hipoteticamente
criticariam o fetichismo, explicando um fetiche (o mercado) por
outro (a instituição), e nunca expondo que são os seres humanos
reais e concretos que fazem o mercado e as instituições existirem.
342
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
344
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Obviamente que Marx explica que os proletários são apenas
juridicamente livres, ou seja, não são, como o escravo ou o servo,
constrangidos a trabalhar por uso da coerção física e sim por vontade
própria e assinando um contrato de forma livre, mas, são
constrangidos a fazê-lo já que não sendo possuidores de mais nada
além da força de trabalho e no capitalismo tudo se transformar em
mercadoria (inclusive os meios de sobrevivência, como alimentação,
vestuário, habitação, etc.) e sem possuir dinheiro não é possível obter
tais meios, o que obriga a vender a única mercadoria que possui, a
força de trabalho.
345
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
346
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
353
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
355
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
358
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
Seria possível pensar diferente. Algumas pessoas raciocinam como
se a chamada “livre inciativa” fosse acessível a todos, mas não é. O
mercado, ou seja, as relações de distribuição capitalistas, é dominado
por algumas empresas oligopolistas e elas destroem as pequenas e
médias e até mesmo outras que são grandes, seja através da
aquisição, fusão, etc. Esse processo, além do poder financeiro do
grande capital oligopolista e toda as suas estratégias (tal como o
capital transnacional que pode destruir um concorrente local,
nacional, abaixando o preço de suas mercadorias a um nível que
compromete a continuidade da produção, pois ele tem condições
para isso e atua em outros lugares que são outras fontes de lucro,
enquanto que o capital nacional passa a perder a competição, pois se
abaixar os preços não tem lucro e se não abaixar não vende...), tem
também a ação do poder estatal, atrelado ao capital oligopolista,
entre outras determinações.
359
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
Esses estágios do capitalismo foram analisados, posteriormente, por
diversas economistas, historiadores e sociólogos. Alguns cunharam o
termo regime de acumulação para explicitar tais fases, como os
adeptos da chamada “escola da regulação” e o geógrafo David
Harvey, entre outros. Nós também analisamos o desenvolvimento
capitalista e seus estágios através do conceito de regime de
acumulação, embora diferente em diversos aspectos do conceito
trabalhado pelos autores anteriormente citados. A evolução do
capitalismo seria, em nossa perspectiva, marcada por uma sucessão
de regimes de acumulação, que, após a acumulação primitiva, seriam
o regime de acumulação extensivo (época da revolução industrial),
intensivo (da segunda metade do século 19 até 1945), conjugado
(1945-1980) e integral (que se inicia em 1980 até os dias de hoje).
Essa tese foi desenvolvida em duas obras (VIANA, 2009; VIANA,
2015a) e alguns artigos.
360
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
“Lucro do capital (ganho empresarial mais juros) e renda fundiária
não são (...) nada mais que componentes específicos da mais-valia,
categorias em que esta é distinguida conforme ela recaía no capital
ou na propriedade fundiária, rubricas que, no entanto, não alteram
nada em sua essência. Somados, constituem o total da mais-valia
social. O capital suga o mais-trabalho, que representa a mais-valia e
o mais-produto, diretamente dos trabalhadores. Pode, portanto, nesse
363
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
No caso do lumpemproletariado Marx não é tão preciso quando na
abordagem de outras classes. Em certos momentos, ela aparece como
o conjunto do exército industrial de reserva e em outros aparece
como apenas os seus elementos mais empobrecidos. Sobre a teoria
das classes de Marx, em geral e no capitalismo, o
lumpemproletariado e outras questões derivadas, é possível consultar
A Teoria das Classes Sociais em Karl Marx (VIANA, 2012a) e
Braga (2013).
366
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
O direito foi mais abordado no seus escritos de juventude (2008).
10
A relação entre estado e acumulação de capital foi melhor
desenvolvida pela chamada “escola derivacionista” (MATHIAS e
369
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
Discutiremos essa concepção de forma mais aprofundada adiante.
374
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Engels expressa a posição dialética e materialista, apesar de sua
linguagem e ênfase em indivíduos, da seguinte forma: “a história se
faz ela mesma de tal maneira que o resultado final é sempre oriundo
de conflitos entre muitas vontades individuais, cada uma das quais,
por sua vez, é moldada por um conjunto de condições particulares de
existência. Existem inumeráveis forças que se entrecruzam, uma
série infinita de paralelogramas de forças que dão origem a uma
resultante: o fato histórico. Este, por sua vez, pode ser considerado
como o produto de uma força que, tomada em seu conjunto, trabalha
inconsciente e involuntariamente. Pois o desejo de cada indivíduo é
obstaculizado pelo de outro, e o que resultado disso é algo que
ninguém queria. Assim é que a história se realiza como se fosse um
processo natural e está sujeita, também, essencialmente, às mesmas
leis do movimento” (ENGELS, 1987a, p. 40-41). Sem dúvida, a
questão é mais das lutas de classes do que vontades individuais, que
são manifestações daquela, bem como outros problemas observáveis
na concepção engelsiana, mas, de qualquer forma, ela aponta para a
percepção de que não é a vontade individual nem apenas a ação
proletária que determina o processo histórico, pois este é resultado
de “múltiplas determinações”.
376
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
379
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
Obviamente que Marx aborda o concreto e não o empírico, tal como
já discutimos no capítulo dedicado ao método dialético. O empírico é
o “dado” e Marx observa o proletariado como determinado e lutando
contra sua determinação – que é o capital – e que possui uma
potencialidade, o que não se vê e nem se poderia ver numa
concepção pobre referente ao “empírico”.
381
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
Marx discutia, em parágrafos anteriores a citação que utilizamos, os
termos “vocação”, “destinação”, “tarefa”, “ideal”, atribuída ao
proletariado e afirma que poderia ser entendido sob várias formas, e
após elencar quatro possibilidades, apresenta uma crítica da
concepção metafísica de Max Stirner. Ao discutir a atribuição que a
classe burguesa e seus ideólogos podem realizar ao proletariado, cita
a palavra “missão” como um possível uso por tais ideólogos no
sentido de sua tarefa de aceitar a dominação.
384
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
Referência a Max Stirner, autor de O Único e sua Propriedade.
385
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
391
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
393
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
395
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
As condições econômicas,
inicialmente, transformaram a massa do
país em trabalhadores. A dominação do
capital criou para esta massa uma situação
comum, interesses comuns. Esta massa,
pois, é já, face ao capital, uma classe, mas
ainda não o é para si mesma. Na luta, de
que assinalamos algumas fases, esta
massa se reúne, se constitui em classe
para si mesma. Os interesses que defende
se tornam interesses de classe. Mas a luta
de classes é uma luta política (MARX,
1989, p. 159).
398
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Esta concepção é posteriormente sistematizada e desenvolvida pela
concepção por Karl Kautsky e Lênin. Isso será discutido adiante.
7
Em A Guerra Civil na França, Marx (1986) aborda a questão da
generalização do trabalho produtivo, ou seja, todos passam a ser
trabalhadores produtivos, o que significa a abolição das classes
400
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
402
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
403
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
Sem dúvida, existem outros textos de Marx que remete para essa
questão. Contudo, os textos marcados por conjunturas políticas e
circunstâncias específicas, além de que grande parte em certo
momento da vida do autor em que determinadas posições ainda não
estavam suficientemente claras, não devem ser consideradas como
mais importante do que os documentos programáticos e marcados
por uma reflexão mais ampla e geral ao invés de casos específicos.
Obviamente que muitas vezes, um pensador não consegue colocar
em prática alguns princípios, devido pressões, contextos, etc., mas o
que é definidor do seu pensamento é sua obra teórica. Nesse sentido,
não é necessário analisar todos os textos de intervenção política
direta de Marx, marcados por todos estes elementos, sendo
suficientes seus textos teóricos.
404
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
409
A SOCIEDADE COMUNISTA
413
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
414
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
Claro que aqui não se trata de pensar todas as possibilidades e
tendências de sociedade do futuro, mas tão-somente da sociedade
comunista, ou seja, de uma das tendências existentes e que faz parte
de nosso desejo e por isso se constitui também como um projeto e
este, inclusive, reforça sua tendência de realização.
416
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Embora essa seja em muitos pontos a melhor tradução portuguesa do
Manifesto Comunista, este trecho, especificamente, não ficou muito
bom. Em outra tradução podemos ler o seguinte: “a atividade social é
substituída por sua própria imaginação pessoal; as condições
históricas da emancipação, por condições fantasiosas; a organização
gradual e espontânea do proletariado em classe, pela organização de
uma sociedade pré-fabricada por eles. A história futura do mundo se
resume, para eles, na propaganda e na prática de sés planos de
organização social” (MARX e ENGELS, 1990, p. 105). A vantagem
aqui nesta tradução é que ao invés de seguir à risca o aspecto formal
se buscou captar o conteúdo e o termo “imaginação pessoal” deixa
mais claro o que Marx quis dizer e no original constava “ação
inventiva pessoal” e o fundamental aqui é a ideia de “invenção”,
mais adequada e precisa que “imaginação”. O uso da palavra
“espontâneo” também é de se destacar, pois Marx queria dizer da
própria classe, independente, e que está presente no original e que
simplesmente desaparece na tradução anterior. A primeira tradução é
realizada por Álvaro Pina, que inspira a tradução brasileira (de
Marco Aurélio Nogueira e Leandro Konder, intelectuais brasileiros
bastante conhecidos em seus vínculos políticos), sendo militante do
Partido Comunista Português e possuindo, portanto, determinada
mentalidade e concepções que determinam suas preferências no
processo de tradução.
419
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
422
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
423
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
424
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
“1. Expropriação da
propriedade fundiária e emprego da renda
da terra nas despesas do Estado.
2. Imposto fortemente
progressivo.
3. Abolição do direito de
herança.
4. Confisco da propriedade de
todos os emigrados e rebeldes.
5. Centralização do crédito nas
mãos do Estado, por meio de um banco
nacional com capital do Estado e
monopólio exclusivo.
6. Centralização dos meios de
transporte nas mãos do Estado.
7. Multiplicação das fábricas
nacionais e dos instrumentos de produção;
428
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
3
O próprio Marx, em sua Crítica ao Programa de Gotha, critica a
ideia de imposto progressivo: “O imposto sobre o rendimento
pressupõe fontes de rendimento diferentes de classes sociais
diferentes, pressupõe portanto a sociedade capitalista” (MARX,
1971, p. 31). Essa afirmação demonstra não somente a mudança no
pensamento de Marx como seu cuidado em distinguir capitalismo e
429
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
“Quando as diferenças de
classe desaparecerem no curso do
desenvolvimento e toda a produção
concentrar-se nas mãos dos indivíduos
associados, o poder público perderá seu
caráter político. O poder político
propriamente dito é só o poder organizado
de uma classe para a opressão de outra. Se
na luta contra a burguesia o proletariado é
forçado a organizar-se como classe, se
mediante uma revolução torna-se a classe
dominante e como classe dominante
suprime violentamente as antigas relações
de produção, então suprime também,
juntamente com essas relações de
produção, as condições de existência dos
antagonismos de classe, as classes em
geral e, com isso, sobre/sua própria
dominação de classe” (MARX e
ENGELS, 1988, p. 87).
Em nenhum momento Marx afirmou que seria um
partido ou grupo que tomaria o poder estatal, pois ele
sempre pensa em termos de classe (luta de classes,
431
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
432
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
4
“As revoluções burguesas, como as do século dezoito, avançam
rapidamente de sucesso em sucesso; seus efeitos dramáticos
excedem uns aos outros; os homens e as coisas se destacam como
gemas fulgurantes; o êxtase é o estado permanente da sociedade; mas
estas revoluções têm vida curta; logo atingem o auge, e uma longa
modorra se apodera da sociedade antes que esta tenha aprendido a
assimilar serenamente os resultados de seu período de lutas e
embates. Por outro lado, as revoluções proletárias, como as do século
dezenove, se criticam constantemente a si próprias, interrompem
continuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido para
recomeçá-lo outra vez, escarnecem com impiedosa consciência as
deficiências, fraquezas e misérias de seus primeiros esforços,
parecem derrubar seu adversário apenas para que este possa retirar
da terra novas forças e erguer-se novamente, agigantado, diante
delas, recuam constantemente ante a magnitude infinita de seus
próprios objetivos até que se cria uma situação que toma impossível
qualquer retrocesso e na qual as próprias condições gritam: Hic
Rhodus, hic salta! [Aqui está Rodes, salta aqui!] (MARX, 1987a, p.
21).
434
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
435
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
436
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
Esse foi o caso da Comuna de Paris e de todas as outras revoluções
proletárias, ou seja, de todos os momentos apontados por Marx,
apenas o último não se concretizou, ou seja, a destruição total das
relações de produção capitalistas e do Estado e, por conseguinte, a
instauração do comunismo, o que foi apenas esboçado e já está
contido no momento anterior parcialmente.
437
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
440
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Para uma análise da posição de Marx em relação à Comuna de Paris,
sugiro a leitura de meu texto Marx e a Essência Autogestionária da
Comuna de Paris (VIANA, 2011).
441
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
442
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Outras traduções colocam “bônus”, que é mais correta do que “vale”
(outros colocam “certificado”, que é a pior opção). Contudo,
infelizmente o livro com a tradução mais adequada estava
emprestado quando escrevemos esta parte. Mas como não existem
outros grandes problemas, então apenas este aviso resolve a questão.
445
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
O sistema de bônus foi utilizado, por exemplo, na Espanha durante a
guerra civil espanhola e a experiência autogestionária realizada lá e
em outros momentos históricos. No caso espanhol e, ao que tudo
indica, aqueles que efetivaram o uso do sistema de bônus não tinham
conhecimento da obra de Marx e isso apenas mostra que o
procedimento do vislumbre racional é um instrumento útil e
necessário para se pensar a sociedade comunista desde que
possuindo um embasamento teórico-metodológico.
9
No texto sobre a Comuna de Paris Marx coloca a necessidade de
generalização do trabalho produtivo, que deixa de ser um atributo de
classe e passa a ser atributo de todos (MARX, 2011).
446
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
449
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Na sociedade comunista,
porém, onde cada indivíduo pode
aperfeiçoar-se no campo que lhe
aprouver, não tendo por isso uma esfera
de atividade exclusiva, é a sociedade que
regula a produção geral e me possibilita
fazer hoje uma coisa, amanhã outra, caçar
da manhã, pescar à tarde, pastorear à
noite, fazer crítica depois da refeição, e
tudo isto a meu bel-prazer, sem por isso
me tornar exclusivamente caçador,
pescador ou crítico (MARX e ENGELS,
1991, p. 19).
Assim, com o comunismo se encerra a pré-história
da humanidade (MARX, 1983b) e a história consciente e
controlada pelos indivíduos livremente associados
substitui a história na qual os indivíduos são controlados
por outros, que aparecem como forças alheias. Desta
forma, a emancipação humana se concretiza via
autoemancipação proletária e o comunismo (também
chamado por Marx como “autogoverno dos produtores”,
“livre associação dos produtores”) é sua concretização.
Contudo, as ideias de Marx sobre o comunismo,
assim como todas as demais, foram deformadas,
simplificadas, etc. Os não-leitores e maus-leitores, sejam
adversários ou epígonos, devido sua perspectiva de classe
450
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
451
MARX, CRÍTICO DO PSEUDOMARXISMO
454
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
1
Nesse sentido, o marxismo não se reduz ao pensamento de Marx. Ele
representou o seu primeiro momento (e o mais profundo, inclusive
por ter lançado as bases do marxismo, bem como o mais importante,
devido ao aprofundamento e complexidade da teoria estabelecida e
que poucos indivíduos posteriores chegaram a ter um
desenvolvimento intelectual próximo ao dele). Claro que não se trata
de fazer apologia de Marx e nem de endeusá-lo, mas tão-somente
reconhecer não somente o que ele fez efetivamente (toda sua obra
teórica) como que, devido seu processo histórico de vida particular e
contexto em que isso ocorreu, reuniu condições que poucos
poderiam ter desenvolvido. Já abordamos isso no primeiro capítulo e
não retomaremos esta questão aqui.
455
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
2
Marx mantinha relações de amizade com Lassalle, embora lhe
contestasse politicamente, como mostraremos adiante.
457
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
“A concepção materialista da
história tem hoje em dia numerosos
amigos que a utilizam como desculpa para
não estudar história. Como Marx
costumava dizer, referindo-se aos
‘marxistas’ franceses dos fins dos anos
70: ‘tudo que sei é que não sou um
marxista’ (ENGELS, apud. MARX e
ENGELS, 1987c, p. 36).
Engels coloca “marxistas” entre aspas e cita a
afirmação de Marx que mostra seu descontentamento e
desacordo com o suposto “marxismo” existente na França.
Engels continua sua crítica:
4
Posteriormente se desenvolveria no pseudomarxismo a “doutrina dos
fatores”, que será criticada por Plekhanov (1990) e Labriola (1979),
tal como já colocamos anteriormente.
461
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
5
A posição de Marx sobre Darwin foi deformada historicamente até
pelos pseudomarxistas. Inclusive se popularizou, ao que tudo indica
devido a um mal entendido, a afirmação de que Marx havia
solicitado a Darwin um prefácio para O Capital. “O que ocorreu, na
verdade, foi uma carta de Edward Aveling, genro de Marx,
solicitando a autorização de Darwin para dedicar-lhe sua obra (e não
a de Marx) intitulada Darwin para Estudantes, de caráter
antirreligioso, e por isso houve a recusa do famoso naturalista, que
encaminhou a mesma para Marx e se encontrava junto com suas
correspondências e por isso não havia referência à qual obra se
referia o seu autor, o que permitiu a confusão estabelecida e que se
tornou a versão verdadeira da história até 1975” (VIANA, 2009b).
462
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
6
Engels, por sua vez, inseriu algumas das críticas de Marx (realizadas
por cartas), quase transcrevendo-as, em seu livro Anti-Düring
(ENGELS, 1990) e outros locais, sem fazer referência a quem
elaborou a ideia.
463
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
7
Como, posteriormente, as críticas que ele faz a Darwin são
encontradas quase ao pé da letra nas cartas enviadas a ele por Marx.
464
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
8
“Sigo lendo este Darwin, que é algo verdadeiramente sensacional”
(ENGELS, 1975, p. 21).
465
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
9
Isso significa, por exemplo, que Engels seria mais adaptado à esfera
científica do que Marx.
466
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
10
No interior do marxismo, diversos autores enfatizaram a oposição
entre Marx e Engels (LABRIOLA, 1979, MONDOLFO, 1956;
467
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
LUKÁCS, 1989).
11
Os lassallistas, discípulos de Lassalle, reproduziam as teses básicas
elaboradas por estes e que apontavam para um estatismo com apoio
popular (DRAPER, 2015), que mais tarde será encampado pela
social-democracia e bolchevismo. Marx já havia percebido isso e
era um crítico ferrenho de Lassalle (DRAPER, 2015) e da fusão
entre social-democratas e lassallistas (MARX, 1974).
468
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
12
“Se pessoas de outras classes se juntam ao movimento proletário, a
primeira exigência é a de que elas não tragam consigo nenhum tipo
de preconceito burguês, pequeno-burguês, etc., e sim que se
apropriem com franqueza da perspectiva proletária. Aqueles
senhores, porém, como ficou provado, estão completamente
dominados por representações burguesas e pequeno-burguesas”
(MARX, 2014, p. 228).
469
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
13
O Manifesto foi escrito em 1848 e os partidos políticos no sentido
atual da palavra, só surgiram algumas décadas posteriores, tal como
o Partido Operário Social-Democrata Alemão, que surge em 1869 e
um partido com nome “comunista” só vai surgir depois da Primeira
Guerra Mundial e o racha no interior dos partidos social-democratas
que geraria, posteriormente, os partidos comunistas.
14
Sobre isso, cf. Korsch (1977); Pannekoek (1973).
470
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
15
Marx não chegou a aprofundar isso, mesmo porque isso passou a ser
mais comum após a sua morte, mas Labriola (1979), Korsch (1977) e
o jovem Lukács (1989) criticaram tal procedimento.
472
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
16
A deformação ocorria até mesmo no uso das palavras, como o
próprio Marx observou na crítica que fez ao termo “social-
democracia” (BLUMENBERG, 1970). Marx adotou o nome
“comunismo” justamente para se distinguir dos demais socialistas de
sua época e o termo social-democrata significou um retrocesso para
não “assustar os trabalhadores”, segundo justificativa dos fundadores
da social-democracia.
473
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
17
Trata-se da lei de exceção contra os socialistas promulgada na
Alemanha em 21 de Outubro de 1878. Em virtude desta lei foram
proibidas todas as organizações do Partido Socialdemocrata, as
organizações operárias de massas, a imprensa operária, foi
confiscada a literatura socialista e perseguidos os sociais-democratas.
Por pressão do movimento operário de massas a lei foi abolida a 1 de
Outubro de 1890.
474
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
São os representantes da
pequena burguesia que se anunciam,
cheios de medo de que o proletariado,
18
Esse será um dos principais pontos da crítica do jovem Trotsky ao
leninismo, que ele caracteriza como “substitucionismo”,
transformando a luta de classes em “querelas de partido”
(TROTSKY, 1975).
476
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
Em todas as épocas, a
repartição dos objetos de consumo é
consequência do modo como estão
distribuídos as próprias condições da
produção. Mas esta distribuição é uma
característica do próprio modo de
produção. O modo de produção
capitalista, por exemplo, consiste em que
as condições materiais de produção são
atribuídas aos não-trabalhadores sob a
481
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
20
Todo o pseudomarxismo posterior enfatizará a questão da
distribuição ao invés da produção, do efeito e não da causa. Lênin,
por exemplo, defendia após a Revolução Bolchevique, que o
dinheiro era a “nata da sociedade” (LÊNIN, 1979) e, se antes da
tomada do poder estatal exigia a manutenção do salariato com a
palavra de ordem “todos devem receber salários iguais aos dos
operários (LÊNIN, 1987), após passou a defender salários superiores
para os técnicos e especialistas (LÊNIN, 1988). Isso tudo ao
contrário de Marx, que propunha, como vimos anteriormente, a
abolição do dinheiro e do salariato. Contudo, o programa de Gotha
era mais avançado do que a concepção leninista nesse aspecto, pois
propunha, também, a abolição do salariato.
482
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
21
Em outra oportunidade, Marx esclarece que as funções do estado
que permanecem no comunismo não são funções de governo e nem
483
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
485
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
22
Marx não aborda isso, por razões já apresentadas, mas este é o
interesse de toda burocracia: a burocratização, o que significa
486
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
23
Esse é o caso de Labriola, Korsch, Pannekoek, Rühle, Mondolfo,
Mattick, Guérin, Debord, Debrito e uma longa lista de autores.
488
CONSIDERAÇÕES FINAIS
491
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
495
REFERÊNCIAS
498
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
499
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
500
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
503
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
504
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
505
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
507
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
508
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
509
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
510
Karl Marx – A Crítica Desapiedada do Existente Nildo Viana
511