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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICO-TECNOLÓGICA - PAULO BRETAS –

TEXTO 2
I - Significado histórico do marxismo-leninismo
Introdução. Por que marxismo? Por que marxismo-leninismo?

1. Os fundadores: Marx & Engels / Lênin


 Marx (1818-1883) e seu colaborador, Engels (1820-1895) – Fundadores do marxismo (sistema de
pensamento que recebe esse nome em homenagem a seu expoente máximo: Marx). Na expressão
do próprio Engels:

“Seja-me permitido aqui um pequeno comentário pessoal. Ultimamente, tem-se aludido, com
freqüência, à minha participação nessa teoria; não posso, pois, deixar de falar algumas palavras
para esclarecer este assunto. Que tive certa participação independente na fundamentação e
sobretudo na elaboração da teoria, antes e durante os quarenta anos de minha colaboração com
Marx, é coisa que eu mesmo não posso negar. A parte mais considerável das diretrizes principais,
particularmente no terreno econômico e histórico, e especialmente sua formulação nítida e
definitiva, cabem, porém, a Marx. A contribuição que eu trouxe – com exceção, quando muito,
de alguns ramos especializados – Marx também teria podido trazê-la, mesmo sem mim. Em
compensação, eu jamais teria feito o que Marx conseguiu fazer. Marx tinha mais envergadura e
via mais longe, mais ampla e mais rapidamente que todos nós outros. Marx era um gênio: nós
outros, no máximo, homens de talento. Sem ele, a teoria estaria hoje muito longe de ser o que é.
Por isso, ela tem, legitimamente, seu nome”. (ENGELS, “Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia
clássica alemã”. In: Obras Escolhidas de Marx & Engels, vol. 3, p. 193 – nota 1.

 Lênin (1870-1924) - desenvolvimento da teoria marxista:


- Aspectos da filosofia - Materialismo X Idealismo;
- Mas, principalmente:
. Elaboração sobre as características do capitalismo de fins do séc. XIX / início séc. XX: o
Imperialismo,
. Teoria de Partido [Partido do Proletariado - Partido revolucionário de novo tipo].

2. Marxismo – sistema de pensamento mais avançado de nosso tempo


2.1. Significação histórico-científica do marxismo

a) Condições históricas – políticas, sociais, econômicas e teórico-ideológicas – do surgimento do


marxismo:
- Meados do séc. XIX - crise do capitalismo / crise do liberalismo [contraditoriamente: ao mesmo
tempo, “apogeu” do liberalismo];
- Avanço da ciência - 3 grandes descobertas foram decisivas:
. Estrutura celular dos organismos vivos,
. Conservação e transformação da energia,
. Evolução das espécies - Darwin;
- Análise da história do ponto de vista da ação de classes sociais;
- Manifestações operárias contra a situação de miséria e exploração.

b) Marx e Engels procuraram entender o mundo de seu tempo e atuar no sentido de transformá-lo.
Dedicam-se ao estudo teórico, aprofundando-se no que havia de mais avançado à sua época, no
âmbito da filosofia, da economia política e das teorias de sociedade:
- Filosofia clássica alemã,
- Economia política inglesa,
- Socialismo utópico e teorias sociais de revolucionários franceses.
2.2. Pilares essenciais da concepção marxista1

2.2.1. O Materialismo Filosófico – precedência da matéria em relação à consciência

“A grande questão fundamental de toda a filosofia [...] é a da relação entre o pensamento e o ser,
entre o espírito e a natureza [...] Que é primeiro: o espírito ou a natureza? Conforme respondiam de
uma maneira ou de outra a esta questão, os filósofos dividiam-se em dois grandes campos. Aqueles
que afirmavam que o espírito é primeiro em relação à natureza e que, por conseguinte, admitiam, em
última instância, uma criação do mundo de qualquer espécie... constituíam o campo do idealismo. Os
outros, que consideravam a natureza como campo primordial, pertenciam às diversas escolas do
materialismo.” (Engels)
“[...]o ideal não é senão o material transposto e traduzido no cérebro humano.” (Marx)
“[...] se se pergunta... o que são o pensamento e a consciência, e donde provêm, conclui-se que são
produtos do cérebro humano e que o próprio homem é um produto da natureza, o qual se
desenvolveu no seu ambiente e com ele; daí se compreende por si só que os produtos do cérebro
humano, que, em última análise, são igualmente produtos da natureza, não estão em contradição,
mas sim em correspondência com a restante conexão da natureza” (Engels) (Citações feitas por
LÊNIN. Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, pp. 7-9)

“O defeito essencial do ‘velho’ materialismo, incluindo o de Feuerbach:


1) [...] era ‘essencialmente mecanicista’ e não tomava em conta os progressos mais recentes da
química e da biologia [...];
2) [...] não tinha um caráter histórico nem dialético (era metafísico) ... não aplicava a concepção de
desenvolvimento de forma conseqüente e sob todos os aspectos;
3) [...] concebia a essência humana como uma abstração e não como o ‘conjunto de todas as
relações sociais’ [...] não fazendo mais do que ‘interpretar’ o mundo, enquanto aquilo de que se
tratava era de o ‘transformar’ [...] não compreendia a importância da ‘atividade revolucionária
prática’.” (LÊNIN, Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, p. 9)

2.2.2. A Dialética – Estudo dos fenômenos historicamente, na sua gênese e no seu desenvolvimento.
Princípios do movimento e da transição: desenvolvimento/transformação; avanços/recuos;
continuidade/ruptura; mudanças quantitativas/saltos qualitativos. Na natureza, na sociedade e no
próprio pensamento.

“... a dialética é ‘a ciência das leis gerais do movimento tanto do mundo exterior como do
pensamento humano’.” (Marx)
“... o mundo não deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas, mas como um
conjunto de processos em que as coisas, aparentemente estáveis, bem como os seus reflexos mentais
no nosso cérebro, os conceitos, passam por uma série ininterrupta de transformações, por um
processo de gênese e de perecimento...” (Engels)
“Nada há de definitivo, de sagrado para a filosofia dialética. Ela mostra a caducidade de todas as
coisas e para ela nada mais existe senão o processo ininterrupto do surgir e do perecer, da ascensão
sem fim do inferior para o superior, de que ela própria não é senão o simples reflexo no cérebro
pensante.” (Engels) (Citações feitas por LÊNIN. Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, pp. 9-10)

MATERIALISMO DIALÉTICO: o movimento de conceitos e representações reflete o movimento


da matéria e não o contrário.

“A unidade real do mundo consiste na sua materialidade [...] O movimento é o modo de existência
da matéria. Matéria sem movimento é impensável do mesmo modo que movimento sem matéria
[...]” (Engels)
“A natureza é a comprovação da dialética [...] as ciências modernas da natureza nos forneceram

1
LENINE, Vladimir Ilich. Obras Escolhidas. Volume 1, 3ª edição, São Paulo: Alfa-Omega, 1986.
materiais extremamente numerosos [...] cujo volume aumenta dia a dia, provando assim que, em
última análise, na natureza as coisas se passam dialeticamente e não metafisicamente.” (Engels)
(Citações feitas por LÊNIN. Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, pp. 7-9)

Desenvolvimento X Evolução
“[...] a idéia [...] de desenvolvimento, tal como a formularam Marx e Engels, apoiando-se em Hegel,
é muito mais vasta e rica de conteúdo do que a idéia corrente de evolução. É um desenvolvimento
que parece repetir etapas já percorridas, mas sob outra forma, numa base mais elevada (‘negação da
negação’); um desenvolvimento por assim dizer em espiral e não em linha reta; um desenvolvimento
por saltos, por catástrofes, por revoluções; ‘soluções de continuidade’; transformações de quantidade
em qualidade; impulsos internos do desenvolvimento, provocados pela contradição, pelo choque de
forças e tendências distintas agindo sobre determinado corpo, no quadro de um determinado
fenômeno ou no seio de uma determinada sociedade; interdependência e ligação estreita,
indissolúvel, de todos os aspectos de cada fenômeno (com a particularidade de que a história faz
constantemente aparecer novos aspectos), ligação que mostra um processo único universal do
movimento, regido por leis...” (LÊNIN, Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, p. 10)

2.2.3. A Concepção Materialista da História: aplicação do Materialismo Dialético ao estudo da


sociedade.

 Existência social / consciência social;


 Concepção dialética da sociedade X visão linear do desenvolvimento da humanidade;
 Papel do indivíduo na história;
 Papel do trabalho na formação e desenvolvimento do homem;
 Desenvolvimento continuado da forças produtivas (principalmente os instrumentos de trabalho);
 Determinação, em última instância:
a) das forças produtivas sobre as relações de produção,
b) do modo de produção em relação aos modos de repartição, circulação e consumo,
c) da base em relação à superestrutura;
 Luta de classes – Motor da história.
 A transformação da formação econômico social se dá por revolução social.
 Revolução social – Obra das massas, organizadas, dirigidas.
 Contradições do capitalismo:
Trabalho X Capital } Proletariado
Produção social X apropriação privada } X
Organização X anarquia } Burguesia

- Conceitos básicos: trabalho / objeto de trabalho / instrumentos de trabalho / força de trabalho /


meios de produção / forças produtivas / relações de produção / modo de produção (base,
estrutura) / superestrutura / formação econômico-social.

A concepção materialista de história (materialismo dialético-histórico) permite a análise científica


do modo capitalista de produção, o entendimento de como se dá a exploração do trabalho sob esse
regime e a demonstração da necessidade e possibilidade de sua superação.

“A concepção materialista da história parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos
produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela história,
a distribuição dos produtos e, juntamente com ela a divisão social dos homens em classes ou
camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz e pelo modo de trocar os seus
produtos. [...] Quando nasce nos homens a consciência de que as instituições sociais vigentes são
irracionais e injustas, de que a razão se converteu em insensatez e a bênção em praga, isso não é
mais que um indício de que nos métodos de produção e nas formas de distribuição produziram-se
silenciosamente transformações com as quais já não concorda a ordem social, talhada Segundo o
padrão de condições econômicas anteriores. E assim já está dito que nas novas relações de produção
têm forçosamente que conter-se – mais ou menos desenvolvidos – os meios necessários para pôr
termo aos males descobertos. E esses meios não devem ser tirados da cabeça de ninguém, mas a
cabeça é que tem de descobri-los nos fatos materiais da produção, tal e qual a realidade os oferece.”
(Engels – Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. In: Obras Escolhidas de Marx e Engels,
p. 320)

Dialética e Metafísica – Métodos de investigação da realidade


Dialética Metafísica
- análise de conjunto: fatos, fenômenos, - análise das partes: fatos, fenômenos, processos
processos em sua dinâmica, substancialmente estaticamente, isolados, como substâncias fixas,
variáveis (transições, concatenações, fluxos e (em ciclos estreitos, um após outro, como algo
refluxos); perene);
- pólos antitéticos, mas inseparáveis – penetram- - sim ou não, isto ou aquilo, é ou não é, positivo x
se mutuamente (algo é e não é ao mesmo tempo). negativo, causa x efeito.
Materialismo e Idealismo – Concepções de mundo, homem e sociedade
Materialismo Idealismo
- concebe as idéias como imagens mais ou menos - concebe as coisas e seu desenvolvimento como
abstratas dos objetos e fenômenos da realidade; projeções realizadas da idéia, que lhes antecede;
- explica a consciência do homem por sua - explica a existência do homem por sua
existência. consciência.
Concepção de História como movimento da sociedade – Análise dialética
Concepção materialista de história: Concepção idealista de história:
- em cada época, as idéias, crenças, - a produção e todas as relações econômicas só
conhecimentos e instituições jurídicas e políticas existem como elemento secundário dentro da
relacionam-se reciprocamente com a base “história cultural”.
econômica (relações de produção e de troca).

2.2.4. A Luta de Classes – contradições na vida social


- Diferentes interesses e aspirações  luta entre povos e sociedades e no próprio seio de cada
sociedade;
- “As aspirações contraditórias nascem da diferença de situação e de condições de vida das classes
em que se divide qualquer sociedade.” (LÊNIN, Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, p. 12)
- Formas da luta de classe (econômica, política e teórico-ideológica):
. A luta de idéias como forma de luta de classes,
. “Toda a luta de classes é uma luta política” (Marx, citado por LÊNIN, idem, p. 13);
- A teoria da luta de classes analisa a “complexa rede das relações sociais e dos graus transitórios de
uma classe para outra, do passado para o futuro [...] para determinar a resultante do desenvolvimento
histórico.” (LÊNIN, idem, idem).

“A história de toda a sociedade até agora existente – escreve Marx no Manifesto do Partido
Comunista (excetuando a história da comunidade primitiva, acrescentaria Engels mais tarde) – é a
história de lutas de classes. O homem livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o barão feudal e o
servo, o mestre de uma corporação e o oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em
constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, que
acabou sempre com uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio
comum das classes em conflito [...] A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade
feudal, não acabou com os antagonismos de classe. Não fez mais do que colocar novas classes,
novas condições de opressão, novos aspectos da luta no lugar dos anteriores. A nossa época, a época
da burguesia, distingue-se contudo por ter simplificado os antagonismos de classe. Toda a sociedade
está a cindir-se cada vez mais em dois grandes campos hostis, em duas classes em confronto direto: a
burguesia e o proletariado.” (Marx & Engels – Manifesto do Partido Comunista
Citado por LÊNIN, Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, pp. 12-13)
2.2.5 A Economia Política Marxista – “estudo das relações de produção de uma sociedade
historicamente determinada e concreta no seu nascimento, desenvolvimento e declínio” (LÊNIN, Karl
Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, p. 14).
Teoria do capital – Exame da essência do processo de acumulação no modo de produção capitalista: a
produção de mercadorias. Marx avança em relação aos economistas políticos ingleses,
desvendando o segredo da mercadoria e desenvolvendo a teoria do valor do trabalho.
 Duplo valor da mercadoria (de uso e de troca);
 Valor de troca como cristalização do trabalho social (tempo socialmente necessário para a
produção da mercadoria);
 Relações de trabalho no capitalismo – Compra e venda da força de trabalho (mercadoria singular,
que, ao consumir-se, engendra valor);
 Segredo da acumulação capitalista: extração da mais-valia (trabalho não pago);
 Exame essência do processo de acumulação no modo de produção capitalista: a produção de
mercadorias;
 Marx avança em relação aos economistas políticos ingleses, desvendando o segredo da mercadoria
e desenvolvendo a teoria do valor do trabalho.

“Para obter a mais-valia ‘seria preciso que o possuidor do dinheiro descobrisse no mercado uma
mercadoria cujo valor de uso fosse dotado da propriedade singular de ser fonte de valor’, uma
mercadoria cujo processo de consumo fosse, ao mesmo tempo, um processo de criação de valor. E
esta mercadoria existe: é a força de trabalho humana, O seu uso é o trabalho, e o trabalho cria valor.
O possuidor de dinheiro compra a força de trabalho pelo seu valor, que, como o de qualquer outra
mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção (isto
é, pelo custo da manutenção do operário e da sua família). Tendo comprado a força de trabalho, o
possuidor do dinheiro fica com o direito de a consumir, isto é, de a obrigar a trabalhar durante um
dia inteiro, suponhamos, durante doze horas. Mas em seis horas (tempo de trabalho ‘necessário’), o
operário cria um produto que cobre as despesas de sua manutenção, e durante as outras seis horas
(tempo de trabalho ‘suplementar’) cria um ‘sobreproduto’ não retribuído pelo capitalista, que
constitui a mais-valia.”
“A condição histórica para o aparecimento do capital reside, em primeiro lugar, na acumulação de
uma certa soma de dinheiro nas mão de certas pessoas num estádio de desenvolvimento da produção
de mercadorias em geral já relativamente elevado; em segundo lugar, na existência de operários
“livres” sob dois aspectos – livres de quaisquer entraves ou restrições para venderem a sua força de
trabalho, e livres por não terem terras nem meios de produção em geral – de operários sem qualquer
propriedade, de operários ‘proletários’ que não podem subsistir senão vendendo a sua força de
trabalho. (LÊNIN, Karl Marx. In: Obras Escolhidas, vol. 1, pp. 15-16. Sintetizando trechos de O
Capital, de Marx)

2.2.6. A Tática da Luta de Classe do Proletariado

- Marx e Engels – Esforço de compreensão das condições da ação revolucionária prática:


paralelamente aos trabalhos teóricos, dedicaram atenção contínua às questões da tática da luta de classe
do proletariado;
- Todas as suas obras, bem como a correspondência entre eles contêm inúmeros exemplos de
elaboração no sentido de apontar para o movimento necessário à superação da exploração capitalista;
- Aspectos referentes à luta de classes em suas formas econômica, política e teórico-ideológica;
- Organizações do proletariado (sindicatos e outras);
- Importância da classe operária constituir-se em seu partido próprio, com caráter revolucionário.
-
 O Marxismo, portanto, é SISTEMA DE PENSAMENTO [caráter totalizante]*
 É concepção e método;
 É perspectiva histórica - teoria do desenvolvimento social;
 É necessário: ler o marxismo do lugar e do tempo em que estamos - considerando-se:
- As mudanças sociais, econômicas, políticas, culturais... desde seu surgimento,
- As dificuldades devidas ao fracasso das experiências socialistas deste século;
 É ciência – teoria do capital;
 É política – teoria da revolução social.
* Tendências comuns de separação - a serem criticadas / evitadas:
- Encará-lo só como cosmovisão (valorizar a filosofia e desprezar outros aspectos);
- Só como economia / teoria do capital (aceitá-lo somente como explicação do capitalismo de sua
época);
- Só como método (dissociação do conteúdo);
- Eliminação da teoria da revolução;
- Nessas separações, presentes outras:
- Marx cientista X Marx filósofo,
- Marx político X Marx cientista X Marx filósofo,
- Marx jovem X Marx maduro,
- Subjetividade X objetividade,
- Lógico X histórico,
- Materialismo histórico X economia política.

IMPORTANTE:
 Ir à gênese da teoria – para compreendê-la em seus fundamentos, em seu desenvolvimento e poder
falar de sua atualidade:
- Nesta perspectiva, é possível distinguir a produção de Marx e Engels (por alguns denominada
“marxiana”) da produção marxista (de seus seguidores) - E analisar, aí, elementos de
continuidade/ruptura e de desenvolvimento da teoria.
 Ler o marxismo do lugar e do tempo em que estamos: Considerando-se as mudanças sociais,
econômicas, políticas, culturais... desde seu surgimento; entendendo-se e buscando-se superar as
dificuldades devidas ao fracasso das experiências socialistas deste século.

. “cosmovisão” ------- filosofia }


| | } MÉTODO [categorial, sistemático, histórico-crítico] - dialética
. teoria do capital ----- ciência }
| | } CONCEPÇÃO DE MUNDO - materialismo
. teoria da revolução --- política }

. . . . . . . . . . > MATERIALISMO HISTÓRICO < . . . . . . . . . . . . . . .

UNIDADE: ciência e política ao mesmo tempo, com procederes filosóficos – Explicação do real,
captando suas contradições, na perspectiva de sua superação (negação):
teoria do capital --- teoria da revolução  negação do capital

Marx – clássico e atual2

- Clássico: resiste ao tempo – mantém-se como referência para épocas ulteriores à da sua produção:
. Profundidade dos problemas tratados / forma paradigmática de abordá-los,
. Revela traços irrecusáveis da vida humana/fornece diretriz metodológica eficaz para enfrentamento
de problemas fundamentais.
- Atual: porque não foram superados os problemas do capitalismo, cujas contradições Marx captou
cientificamente, apontando as leis tendenciais de seu esgotamento e de sua necessária substituição pelo
socialismo.

2
Saviani, Dermeval. Marx, 110 Anos: Clássico e... Dramaticamente Atual. Revista Princípios, São Paulo: Ed. Anita
Garibaldi, (29): 44-46, maio, 1993.
1 - O método Materialista Dialético aplicado à economia

A – Marx inicia a análise do Modo de Produção capitalista pela análise da mercadoria. Para Marx “a
riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se ‘em uma imensa acumulação de
mercadorias’ e a mercadoria, isoladamente considerada é a forma elementar dessa riqueza. Por isso
nossa investigação começa com a análise da mercadoria”.

B - Categorias Explicativas Básicas da Economia Política Marxista:


Modo de Produção - É o conceito que explica a forma pela qual em cada época histórica os homens
se relacionam com a natureza e com outros homens para a produção dos bens necessários a sua
existência. Inclui-se também no conceito modo de produção a forma pela qual os homens tomam
consciência deste processo e o regulam. O conceito modo de produção é composto basicamente de três
níveis que englobam a totalidade da sociedade, os quais são os níveis econômico, político e ideológico.
O nível econômico constitui a base econômica ou infraestrutura da sociedade; o nível político e o nível
ideológico constituem a superestrutura da sociedade.
Forças Produtivas Materiais: É o conjunto de elementos que constituem a infraestrutura ou base
econômica da sociedade. São os instrumentos, as ferramentas, as técnicas e os objetos de trabalho
somados a força de trabalho.
Relações de Produção: São as relações que em cada época histórica os homens estabelecem entre si
no processo de produção da existência humana.
Superestrutura Social: É o conjunto de ideias e de instituições políticas, ideológicas, religiosas,
artísticas etc., que se erguem sobre determinada base econômica. Ao refletirem as relações de
produção dominantes, tais ideias e instituições são dominantes também.

C - As Teses Centrais do Materialismo Histórico: A Ideologia Alemã e o Prefácio à Contribuição à


Crítica da Economia Política.
TESE 03 - Os homens não realizam suas atividades produtivas de forma arbitrária, mas sim de um
modo determinado, definido, contraindo assim relações sociais de produção também definidas, que
mesmo sendo independentes de suas vontades, correspondem ao desenvolvimento alcançado pela
sociedade em uma determinada época histórica.
TESE 04 - O conjunto dessas relações sociais de produção constituem a estrutura econômica da
sociedade. A base concreta sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica e política e a qual
corresponde uma determinada forma de consciência social

2 - O método da Economia Política

O caminho adotado pelo método cientificamente correto: o concreto é concreto porque é síntese de
múltiplas determinações, isto é, unidade da diversidade e ainda por mostrar que o papel das
determinações abstratas é conduzir à reprodução do concreto, do real, por meio do pensamento.
A Categoria Trabalho - De onde advém a riqueza ou o valor.
Antigo sistema monetário - Fonte da riqueza na (circulação) do dinheiro;
Sistema manufatureiro - Fonte da riqueza no trabalho comercial;
Fisiocratas - Fonte da riqueza no trabalho agrícola;
Para Adam Smith - Fonte da riqueza é o trabalho puro e simples.
Adam Smith colocava o trabalho como um dos fatores de produção. David Ricardo apresentou os
outros: o capital e a terra e estruturou o seguinte esquema explicativo para a origem das riquezas:

FATORES DE PRODUÇÃO PRODUTO


Capital Lucros e juros
VALOR Trabalho Salário TRABALHO
Terra Renda

Ao final do processo, o Valor dos Fatores de Produção se igualariam ao Trabalho. Daí a abstração
máxima alcançada pela Economia Política clássica: VALOR = TRABALHO HUMANO.
Por que a Economia Política clássica só chegou à fórmula VALOR = TRABALHO, ou seja, percorreu
o primeiro caminho do método e não conseguiu efetuar o segundo, o caminho de volta?
Mercadoria é unidade de contrários e síntese de múltiplas determinações. É ao mesmo tempo valor de
uso e valor de troca. Na mercadoria estão incorporados o trabalho concreto e o trabalho abstrato. No
estudo da mercadoria destacam-se com toda a nitidez as relações dialéticas como concreto e abstrato,
particular e geral, aparência e essência, específico e universal. Com o estudo da mercadoria
desvendam-se as entranhas do modo de produção capitalista.

3 - A mercadoria como unidade de contrários e a lei do valor

“Uma economia produz mercadorias quando os bens produzidos são para troca, para serem vendidos
no mercado” – Engels.
Pré-condições para a produção de mercadorias: (1) Divisão da sociedade em classes sociais; (2)
Divisão social do trabalho e (2) Propriedade privada dos Meios de Produção.
Mercadoria: Conceito central para a compreensão do sistema capitalista de produção. É, antes de
tudo, um bem ou um objeto que satisfaz uma necessidade qualquer do homem e que pode ser trocado
por outro bem. A mercadoria possui dois valores: o valor de uso e o valor de troca.
Valor de Uso: É a utilidade que o bem possui para quem o vai consumir.
Valor de Troca: É a proporção pela qual determinados valores de uso trocam-se por valores de uso de
outras espécies. Também é a forma de manifestação do valor.
Lei do Valor: É a lei que explica a origem e a magnitude ou grandeza do valor das mercadorias. Sendo
a mercadoria fruto do trabalho humano e sendo o trabalho humano a fonte do valor, temos que o valor
de uma mercadoria é determinado pela quantidade ou tempo de trabalho socialmente necessário para a
produção de determinada mercadoria.
Preço - É a forma monetária do valor. É como o valor é visto pela sociedade. O preço encobre a
realidade do valor, pois ele oscila muito no mercado (lei da oferta e da procura ou da anarquia e da
concorrência, como dizia Marx).

4 - O duplo caráter do trabalho materializado na mercadoria

A mercadoria apresenta um duplo aspecto: ser ao mesmo tempo valor de uso e valor de troca (ou
valor). O trabalho, parte integrante da mercadoria também apresenta um duplo aspecto: ele é concreto
e abstrato.
Trabalho Concreto: É o trabalho que se destina a um determinado fim ou a produção de um valor de
uso qualquer. É o caráter útil do trabalho.
Trabalho Abstrato: Ao retirarmos dos produtos do trabalho o seu caráter útil, resta somente o
dispêndio humano de força de trabalho, o trabalho humano em geral ou trabalho abstrato, forma pela
qual o trabalho cria valor.
Esta propriedade, a do trabalho humano criar valor, é histórica e refere-se a um certo período do
desenvolvimento histórico. Quando Ricardo iguala VALOR= TRABALHO e não consegue “enxergar”
o duplo caráter do trabalho ele estava somente demonstrando a impossibilidade histórica da
burguesia compreender que o seu sistema social estava sujeito as mesmas leis que
caracterizavam os sistemas sociais anteriores. O modo de produção capitalista também não é
eterno.

Mercadoria Valor de uso Trabalho concreto Trabalho


Valor de troca Trabalho abstrato

DINHEIRO: UMA MERCADORIA MUITO ESPECIAL


 Rompe a troca direta entre mercadorias;
 É a representante (equivalente universal) das mercadorias;
 É meio de pagamento;
 É meio de circulação;
 É meio de entesiuramento;
 É a forma embrionária do capital.

5 - A exploração capitalista - A teoria da mais valia

A fórmula geral do capital ou como o dinheiro se transforma em capital:


O ponto de partida é o de “que a produção de mercadorias e o comércio, forma desenvolvida de
circulação de mercadorias, constituem as condições históricas que dão origem ao capital. Portanto a
circulação de mercadoria é o ponto de partida do capital.” Marx
Troca direta de mercadorias: M – M (Escambo).
Desenvolvimento da sociedade, evolução e complexidade das trocas, surgimento do equivalente
universal, apresentam como consequências:
Circulação do dinheiro: M -- D -- M – Vender para comprar – Reprodução simples;
Circulação do capital: D -- M – D’ – Comprar para vender – Reprodução ampliada.
D' = D + D onde  D é mais valor/mais valia.
A força-de-trabalho, como mercadoria que é no capitalismo, segue também a mesma regra para
atribuição do seu valor. Seu preço, o salário, gira em torno do seu valor - O necessário para manter e
reproduzir a capacidade de trabalho do trabalhador: alimentá-lo, abrigá-lo, treiná-lo etc. Este é o fator
básico que define os salários, embora estes sofram também a influência de outros fatores — como as
fases de expansão ou recessão econômica, a maior ou menor taxa de desemprego, e ainda a luta de
classe dos trabalhadores.
Ocorre que a força-de-trabalho é uma mercadoria de um tipo especial. Possui uma qualidade que
nenhuma outra tem. Quando o capitalista a consome — colocando o assalariado para fabricar sapatos,
por exemplo — ela cria valor. Transforma o couro, a sola, os pregos, fios, a tinta, em um sapato cujo
valor é maior do que o da matéria-prima e outros meios de produção, pois incorpora o valor criado
pelo operário sapateiro.
Força de Trabalho: É o conjunto de faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e na
personalidade viva do ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que produz valores de uso de
qualquer espécie. No modo de produção capitalista a força de trabalho transforma-se em mercadoria,
pois passa a possuir um valor de uso e um valor de troca.
Valor de Uso da Força de Trabalho: É a capacidade que a mesma possui de produzir valor de uso e
valor quando transforma a matéria prima em novos produtos úteis para a sociedade.
Valor de Troca ou Valor da Força de Trabalho: É a quantidade de tempo de trabalho socialmente
necessário para mantê-la e reproduzi-la, ou seja, o valor da força de trabalho é o valor dos meios de
subsistência necessários à manutenção e reprodução do trabalhador. O valor da força de trabalho é
representado pelo salário.
Trabalho Necessário: É o tempo de trabalho que o trabalhador necessita para a produção do valor
equivalente ao valor dos seus meios de subsistência.
Trabalho Excedente: É o tempo de trabalho em que o trabalhador produz gratuitamente para o
empregador ou patrão.
Mais Valia: É o valor adicional que a força de trabalho gera no processo de produção (trabalho
excedente) e que é apropriado pelo capitalista. A taxa de mais valia ou grau de exploração do trabalho
é dada pela razão entre trabalho excedente e trabalho necessário (taxa de mais valia = t.e./t.n.). A mais
valia é a lei econômica fundamental do modo de produção capitalista e a responsável pelas inúmeras
contradições antagônicas desse sistema, pois mostra que a produção e a acumulação capitalista se faz
por meio da exploração do trabalho assalariado pelo capital, ou seja, por meio da exploração do
proletariado pela burguesia. A força de trabalho produz mais valia, pois a magnitude do valor da força
de trabalho é menor do que a magnitude do valor que ela cria no processo de trabalho.
Mais Valia Absoluta: É o aumento da extração de mais valia através do prolongamento da jornada de
trabalho.
Mais Valia Relativa: É o aumento da extração de mais valia através do aumento da produtividade
(aumento da intensidade do trabalho e da consequentemente redução do tempo de trabalho necessário.
6 - Processo de produção capitalista: Capital Constante e Capital Variável

Processo de Trabalho: É todo o processo de transformação de um objeto determinado, seja este


natural ou já trabalhado, em um produto determinado, utilizando técnicas e instrumentos de trabalho
determinados.
Elementos do Processo de Trabalho: a) O objeto sobre o qual se trabalha ou a matéria prima; b) Os
meios de trabalho ou o instrumental do trabalho; c) A atividade adequada a um fim ou o próprio
trabalho; d) A atividade humana ou o próprio trabalho; e) O produto resultante do processo de
trabalho.
Capital Constante: É a parte do capital investido nos meios de produção (máquinas, instalações,
matérias primas e instrumentos), cujo valor transfere-se integralmente ou em parte para o produto
acabado (mercadoria).
Capital Variável: É a parte do capital (salários) investido na força de trabalho. O capital variável
aumenta durante o processo de trabalho.
MP MP

D -- M M -- D' C M -- D' -- C

FT FT

VALOR = C + V + MV  Lucro industrial; Juros bancários; Renda da terra; Lucro comercial; Fundo
de consumo não produtivo.

MV MV C
Taxa de mais valia ------ Taxa de lucro ------ Composição orgânica --------
V C+V C +V

Divisão da Produção Social: É a divisão do trabalho em diferentes ramos, esferas, níveis e setores.
Ex.: trabalhos agrícola, comercial e industrial.
Divisão Técnica do Trabalho: É a divisão do trabalho no interior de um mesmo processo de
produção, onde cada trabalhador realiza um determinado trabalho específico que corresponde a uma
parte do processo.
Divisão Social do Trabalho: É a repartição das diferentes tarefas que os homens e mulheres cumprem
na sociedade (tarefas econômicas, ideológicas ou políticas) e que se realizam em função da situação
dos mesmos na estrutura social. A principal divisão social do trabalho é a existente entre trabalho
manual e trabalho intelectual. Também é relevante a divisão do trabalho existente entre sexos.
Estrutura de Classes: É a articulação das diferentes classes ou frações de classe nos diferentes níveis
(econômico, político e ideológico) de uma dada formação social.
Classe Social: São grandes grupos de homens que se diferenciam entre si pelo lugar que ocupam em
um sistema de produção historicamente definido. Este lugar é determinado pela forma como esses
grandes grupos de homens se relacionam com os meios de produção existentes, pelo papel que
desempenham na organização social do trabalho e pela forma como estes grandes grupos de homens
percebem ideologicamente estas relações.
Consciência de Classe: Um indivíduo ou um grupo social tem consciência de classe quando está ou
estão conscientes dos verdadeiros interesses de sua classe.
Luta de Classes: É o motor ou impulsionador do desenvolvimento histórico desde os tempos mais
primitivos até os dias atuais. É o enfrentamento que se produz entre duas classes antagônicas quando
estas lutam por seus interesses.
Até hoje, a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da luta de
classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro,
numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, tem vivido uma guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da
sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.
Noções de teoria do valor, mais-valia. O caráter dinâmico do capitalismo

 O modo de produção capitalista é o primeiro essencialmente dinâmico na história da humanidade.


Seus antecessores sempre buscaram a estabilidade, a manutenção de um determinado status-quo. O
capitalismo, ao contrário, só existe e floresce na instabilidade. Já o Manifesto aponta: O que distingue
a época burguesa de todas as predecessoras é a incessante subversão da produção, o constante abalo
de todas as instituições sociais, em resumo, a permanência da instabilidade e do movimento.
(Manifesto do Partido Comunista)
 Este dinamismo provém da própria base da produção capitalista. Ela tem como pressuposto a
produção mercantil que se universaliza — daí ser chamada também economia de mercado. A força-
de-trabalho torna-se também uma mercadoria. Toda a sociedade assemelha-se a uma grande feira livre.
As mercadorias são trocadas por preços que giram em torno dos seus valores de mercadorias. O
valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário para
produzi-la.
 Tomemos o exemplo da indústria automobilística. Os números da Kombi de 1991 e 1999 foram
fornecidos pela seção do DIEESE no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Referem-se à média da
estrutura de preços das montadoras de automóveis:
 A parte azul representa os meios de produção empregados para fabricar, por exemplo, uma
Kombi: matérias-primas, autopeças produzidas por outras empresas, combustíveis e energia, o
desgaste das máquinas, tudo que é preciso para fabricar a Kombi. O valor da Kombi pronta encerra
estes custos. Se a Kombi vale, digamos 20.000 reais, os meios de produção representam 4.460 reais.
Na produção capitalista os meios de produção formam o que Marx chama capital constante —
constante porque não modifica seu valor, apenas incorpora-o ao carro pronto.
 A parte vermelha representa o salário, ou capital variável. E Marx chama-o capital variável
porque é ele que compra essa mercadoria “mágica”, a força-de-trabalho, a mercadoria-que-cria-valor.
Em troca do salário, os operários entregam ao patrão a força dos seus braços e cérebros por, digamos,
oito horas diárias. Eles prensam, fresam, torneiam, soldam, montam, pintam… E operam assim o
“milagre da produção”. Transformam aquele monte de matéria-prima numa Kombi zero, pronta para
rodar. O que antes valia 4.460 reais agora vale 20,000. Produzem a parte vermelha E a parte amarela.
Porém o patrão só lhes paga 2,8%, ou seja, 560 reais. E eles têm que aceitar o negócio, pois a força-de-
trabalho é a única mercadoria que possuem para ganhar o seu pão. Ocorre que, em uma jornada de oito
horas, eles reproduzem o valor dos seus salários em apenas 17 minutos e 18 segundos (o chamado
trabalho necessário). No resto do tempo — 7 horas e 42 minutos (o chamado sobre-trabalho), eles
produzem a mais-valia que o patrão embolsa.
 A parte amarela, a mais-valia, não fica apenas com os donos da montadora. Uma parte vai para os
revendedores. Outra gorda parte fica com os banqueiros que emprestaram capitais à empresa, sob a
forma de juros. Outra vai para o estado burguês, sob a forma de impostos. É como se fosse um
condomínio de vários burgueses, individuais e coletivos. Mas todos têm um ponto em comum: não
produzem, não apertam um parafuso. Ganham dinheiro apenas porque o sistema, baseado no mercado,
na propriedade privada e no trabalho assalariado, deixa com eles todo o sobre-trabalho, a força-de-
trabalho que o assalariado dispende depois de ter reproduzido o valor do seu trabalho.
 A taxa de mais-valia é a divisão da mais-valia (fatia amarela) pelo que os trabalhadores recebem
em troca (fatia vermelha). No caso de 1981, chega a 2.670%! Porém o que mais interessa ao capitalista
é a taxa de lucro: quanto ele ganha por cada real investido, seja em capital variável ou em capital
constante, ou seja, a fatia amarela dividida pela soma das fatias vermelha e azul.
 Agora, vamos comparar as fatias de 1991 e 1999. A parte azul aumentou, pois a tendência do
capitalismo é aumentar sempre mais a fatia investida em capital constante — sobretudo máquinas cada
vez mais modernas e caras, robôs, tornos computadorizados, etc. Assim, aumentou a produtividade da
força-de-trabalho e consequentemente a fatia vermelha diminuiu ainda mais. Isso não significa
necessariamente que o salário diminuiu; pode ter permanecido o mesmo, pode até ter aumentado;
porém como a produtividade subiu muito mais, a exploração aumentou. A taxa de mais-valia sobe
para assombrosos 4.570%. Porém a taxa de lucros cai. Era de 300% em 1991, passou para “apenas”
180% em 1999.
 Esta é uma contradição fundamental do capitalismo: cada burguês persegue dia e noite o lucro
máximo. Para isso, tem de concorrer com seus colegas de classe, abocanhando novas parcelas do
mercado, aumentando a produtividade da sua empresa, e, portanto investindo na modernização da
produção, ou seja, na fatia azul. O burguês que se adianta aos concorrentes nessa corrida tem enorme
vantagem: ao elevar a produtividade, eleva a taxa de mais-valia, reduz o custo e consegue uma
lucratividade maior. Porém logo os seus rivais adotam as mesmas inovações, eliminam aquela
vantagem passageira e equilibram outra vez a concorrência, só que com uma fatia azul mais grossa. O
resultado disso é a tendência declinante da taxa média de lucro (embora não uma tendência linear e
mecânica).
 Este mecanismo explica o dinamismo do sistema. O capitalista não pode se contentar apenas com a
reprodução simples, repetindo sempre o mesmo circuito produtivo e consumindo toda a mais-valia
para seu luxo e conforto. Ele é obrigado a buscar sempre a reprodução ampliada, elevar os
investimentos, aumentar a produção, alargar seus negócios, sob pena de perder a concorrência e
desaparecer. O sistema se assemelha a uma bicicleta, Se parar, cai.
 Porém este mesmo dinamismo impõe inevitavelmente as crises.

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